Incolor
Um dia me ocorrera a ideia de como seria minha instável vida retratada em uma única tela de pintura. Quantos rabiscos seriam necessários, quantos tons utilizaria, quão profunda seria a mensagem a transmitir? Eu poderia optar por um vermelho escarlate, mesclando-o com um carmesim soturno, o que serviria para representar a época de sangue e desalento, da azáfama, da clemência dos injustiçados, dos brados dos tiranos, do nascimento da fúria e da morte da calma, da pouquidade de esperança, o despertar dos piores medos e a arrasadora passagem da lascívia sobre a mente dos incautos. Alternativamente, eu também usaria tons de azul, associando-o ao preto em sua forma mais viva e penetrante, a fim de simbolizar o reflexo de uma era de corações gelados, dos invernos perdurantes e calmos, das noites onde a escuridão recai densamente e és sentida pelos que nela acreditam e se envolvem, a indiferença, os gélidos olhares de insensibilidade, onde sentimentos perderam seus significados e valore