Incolor
Um dia me ocorrera a ideia de como seria minha instável vida retratada em uma única tela de pintura. Quantos rabiscos seriam necessários, quantos tons utilizaria, quão profunda seria a mensagem a transmitir?
Eu poderia optar por um vermelho escarlate, mesclando-o com um carmesim soturno, o que serviria para representar a época de sangue e desalento, da azáfama, da clemência dos injustiçados, dos brados dos tiranos, do nascimento da fúria e da morte da calma, da pouquidade de esperança, o despertar dos piores medos e a arrasadora passagem da lascívia sobre a mente dos incautos.
Alternativamente, eu também usaria tons de azul, associando-o ao preto em sua forma mais viva e penetrante, a fim de simbolizar o reflexo de uma era de corações gelados, dos invernos perdurantes e calmos, das noites onde a escuridão recai densamente e és sentida pelos que nela acreditam e se envolvem, a indiferença, os gélidos olhares de insensibilidade, onde sentimentos perderam seus significados e valores foram esquecidos.
Ou, com um pouco de boa fé, pincelaria esta tela com vivazes verdes, amarelos e laranjas entrelaçados em uma sincronia positiva em sua representação, na qual tem-se um tempo de simplicidade, da ressurgente paz de espírito, da intensidade experimentada a cada instante, os prazeres jubilosos, da infância que não morreu, da compaixão compartilhada, a honestidade em suas várias formas de disseminação.
Indeciso eu fico... sobre quais das três significam passado, presente ou futuro. O primeiro causa angústia, o segundo cansaço e o terceiro pessimismo.
Portanto, decidi permanecer indeciso... e deixar exatamente como está. Uma tela vazia expressando uma vida de torpor e sem vigor... puramente incolor.
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