Nem tudo é o que parece #22
Bem, eu estava sentada à mesa da cozinha corrigindo algumas provas (eu sou professora), quando, de repente, passei a ouvir a voz de minha filha se aproximando. Ela gritava pela casa, alarmada com alguma coisa. Já era por volta da meia-noite e eu gostaria muito de saber o que uma criança da idade dela (7 anos) fazia àquela hora acordada, mas estava impaciente e exausta demais pra encarar.
Deixei que ela viesse. Correu até mim como um foguete.
- Mamãe! Podemos adotar um cachorro? - ela parou bem perto da mesa.
- Adotar um cão!? Filha, a mamãe não está com condições de comprar nenhum anim...
- Não! Não é pra comprar... ele está no meu quarto! - ela parecia animada e meio assustada ao mesmo tempo.
Estranhei de início. Mas encarei como uma brincadeira normal mesmo.
- É mesmo é? E como ele é? - perguntei, sem levar a sério.
- Bem peludo, preto... e grande. Existem cães muito grandes, mamãe?
- Bem, sim... existem sim, aqueles que alcançam o tamanho... o tamanho desta mesa por exemplo.
Ela se desconfortou um pouco, mas depois voltou a falar.
- Ele está no meu quarto, é verdade. Consegue chegar ao tamanho do meu guarda-roupa e fica sumindo e aparecendo no escuro o tempo todo.
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Era mais um dia maçante naquela delegacia, e meus nervos estavam a ponto de explodir com tantos telefonemas e chamados dos meus colegas. Eu era Capitão de Polícia, trabalhando sob as ordens de um delegado carrancudo e soberbo. Naquele dia, um dos meus homens veio até mim correndo... estava mais pálido do que de costume.
- Capitão, ocorrência na rua 37!
- Que foi que houve?
- Uma menina, senhor! Ela carregava um monte de balões, parecia vir de um parque.
- E isso por acaso tem algum caráter realmente sério?
- Pois é, tem a ver com os balões... e ela saiu voando, foi o que me disseram.
- Ah, deixa eu adivinhar: Saíram pequenos gnomos assassinos, estriparam ela toda e o corpo saiu voando pelos céus? Foi isso? - zombei, sem dó.
Ele ficou me olhando com um cara ainda mais preocupada.
- Não, senhor. Temos suspeitas de que pode ter sido assassinato ou suicídio.
Eu perdi a paciência completamente.
- E o que foi que aconteceu, droga?
- A menina foi encontrada morta com a corda do balão presa no pescoço.
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Eu afirmo e incentivo: A escuridão faz bem para imergirmos nos nossos mundos mais profundos e sombrios que só nossos pensamentos criam.
Constatei a prova me trancando no meu quarto, apagando as luzes, caindo na minha cama e devaneando sozinho, deitado...
... escutando o som do meu silêncio... sentindo um ar frio subir...
... criando histórias na minha mente... personagens assustadores... a solidão indo embora...
... abrindo os olhos...
... ouvindo vozes...
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Cada um tem sua maneira de libertar seus piores monstros internos.
Alguns procuraram amigos próximos para desabafar.
Outros se consultam com psicólogos.
Com a vida que levo, eu não marco na minha lista de contatos nem amigos, nem psicólogos.
Mas sim exorcistas!
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Todos, a partir daquele dia, passaram a entender a razão pela qual ele odiava sempre aquilo que via no espelho.
Foi a tragédia que o fez ver o que seus olhos jamais conseguiram parar de enxergar.
Ele detestava o reflexo. Mas não o próprio. Via a sua irmã mais nova... que morreu cedo demais...
Pois ele a havia matado.
FIM... por enquanto!
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