Contos do Corvo #11


- Deixa eu ver se entendi... Você simplesmente criou seu próprio Halloween e decidiu sair por aí vestida de fantasma? - perguntou o corvo, intrigado, analisando minuciosamente a fantasia que a menina exibia naquela. A data festiva em questão havia se passado há um bom tempo.

- Basicamente. - respondeu ela. - Representa o que sinto quando estou no meio daquelas pessoas... apenas um fantasma. - disse ela, esclarecendo um pouco mais.

A menina usava um vestido branco que arrastava na terra úmida do cemitério, além de uma maquiagem de mesma cor arrepiante, as órbitas dos olhos pintadas de preto e os cabelos despenteados e soltos.

- Hum... então você é carente de atenção. - disparou o corvo, sem dó.

- Vai bancar o psicólogo "sincero" dela agora é? - provocou o coveiro, indignado.

- Psicólogo? Do que você tá falando? Eu só fiz um comentário.

- Ah, que seja. - resmungou ele. - Não liga pra ele. - disse, voltando-se para a menina.

- Tudo bem, sem mágoa. - afirmou ela, mantendo a expressão calma.

- Por falar em fantasia... acabo de me recordar de uma história. - disse o corvo, dando uma risadinha em seguida.

- Ah não. - disse o coveiro, largando a enxada raivosamente.

- Vamos, admite logo de uma vez. Você adora elas. Nem se aguenta de curiosidade. - disse o corvo, pressionando.

- Manda ver. - disse ele, rendido.

- Bem... espero que não soe repetitivo... mas esta história também se passa no Halloween e obviamente envolve crianças... mas não tem nada a ver com aquele caso do duende... ocorreu mais recentemente e ainda durante minha temporada naquele país repleto de coisas sinistras escondidas...

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                                                                            KIDEATH

Em Iowa, mas precisamente em sua capital, a sociedade estava em polvorosa às vésperas do dia das bruxas. Escolas planejavam festas, os pais compravam doces para dar as crianças que bateriam em suas portas e os pirralhos conseguiam fantasias medianas para as festinhas que dariam em suas casas. Um deles foi Mike, um espevitado garoto de 8 anos, que fora convidado por uma bela menina de sua classe para participar de sua festa reservada apenas aos populares. Dois dias antes da data especial, ele e sua mãe passeavam em busca da fantasia perfeita. Tudo parecia perdido para o garoto após horas sem conseguir nada... até passarem em frente a uma loja de fantasias infantis, que, convenientemente, oferecia uma promoção especial para aquele Halloween. Mike, sem pestanejar, arrastou sua mãe para dentro da loja assim que viu uma das vitrines... ele já tinha escolhido sua favorita antes mesmo de entrar.

Sua mãe, Maggie, não soube explicar como ele se interessou tanto por uma fantasia tão estranha e colocada na vitrine mais afastada. Mas ela acabou cedendo à vontade do filho, no fim das contas. A fantasia, por fim, havia sido comprada e Mike mal podia esperar para vesti-la no dia. Maggie, logo ao sair da loja, parecia receosa, desconfortável, como se não houvesse aprovado o visual que o filho apresentaria na festa. Mesmo assim, ela se contentou ao ver o filho feliz.

A fantasia era a mais incomum e sombria dentre as outras, destoante aliás. Era inteiramente preta, de veludo, com "chifres" longos e finos, uma cauda e cobria todo o corpo da criança deixando somente o rosto à mostra. Eu segui eles até a casa... e fiquei a observa-los até chegar o dia.

Finalmente o grande dia chegara.

Num piscar de olhos, Mike já aparecia pronto, todo fantasiado com aquela coisa estranha, parecendo um diabinho. Maggie tentou lhe abraçar, mas recuou no mesmo instante. Inexplicavelmente, ela começou a chorar de modo angustiante e subiu as escadas. Até que ela não era de se jogar fora. Aquela pele branca e os cabelos pretos bem lisos, corpo bem malhado... enfim, vou acabar me excitando e desviando o foco. Continuando: Mike saiu de casa, sozinho, sem entender merda nenhuma do que foi aquilo. As outras crianças ficavam ligeiramente sérias quando viam sua fantasia... e logo corriam de medo. Por um momento, andando numa calçada, Mike tornou a olhar para sua sombra. Estava mais viva, por assim dizer... quase movendo-se por contra própria e mais negra do normal.

Já perto da casa da tal menina, ele passou por um carro... e viu de relance pelo vidro do automóvel uma faceta aterrorizante... ele parou subitamente e voltou-se para o carro. Levei o maior susto quando ele deu um grito de pavor quando viu um demônio encarando-o no vidro do carro... o reflexo dele. Entrevi olhos vermelhos e um rosto cinza...

Mike saiu correndo para a casa da garota, apavorado. Ele, curiosamente, parecia se metamorfosear... se transformar aos poucos em algo abominável.

A fantasia estava intacta, mas seu rosto estava pálido... adquirindo um aspecto monstruoso à medida que ia passando e esbarrando nas pessoas da festa. Muitas crianças presentes gritaram de horror quando viram Mike passar correndo por elas. Alguns se perguntavam se era um garoto fantasiado ou um monstro que havia invadido a festa.

A anfitriã foi a primeira a reconhece-lo quando passou por ela. Mike se encolheu numa parede, de costas para aquela pirralhada. Ele tremia bastante e tinha espasmos constantes. Àquela altura ele já tinha tornado-se o centro das atenções e um silêncio arrebatador se faz naquela sala.

Eu não sei o que havia comigo naquele dia, acho que eu estava sensível demais. Bem.., levei outro susto daquele garoto. Quase caí da janela quando ele voou para cima de uma das garotas e arrancou seus olhos com a boca cheia de dentes afiados. Um alarido de gritos desesperados dominou aquele lugar.

Mike subiu na mesa... rugindo feito uma fera, mas certamente não apresentava mais nenhum traço infantil, a não ser pelo tamanho. Todos gritavam, alguns querendo sair, outros correndo e olhando para ele. Sua boca estava suja de sangue e a pele estava enrugada e cinza. Os olhos estavam vermelhos e os braços parecem ter sido modificados... torcidos para ficar iguais as de um louva-deus.

Aqueles chifres pareciam antenas de uma barata gigante e bizarra.

Ele aproveitou a chance para pular em cima de uma multidão de crianças que corriam para fugir pela janela. Só o que vi antes de voar de volta para a árvore foi um verdadeiro monte de carne sendo jogado para todos os lados.

Duas horas depois a polícia havia chegado no local... Constatou-se que todas as crianças que participavam da festa foram brutalmente assassinadas e a perícia verificou todos os corpos trucidados e desmembrados. As paredes, o chão, tudo estava manchado de sangue, foi uma verdadeira chacina.

Os pais da menina anfitriã - que foi a única sobrevivente - tiveram de solicitar ajuda psicológica uma semana depois do ocorrido. A criatura... quero dizer, Mike ficou desaparecido... e quanto à sua mãe, Maggie, ficou depressiva com a suposta perda, já que ouvindo os relatos ela imaginou que tudo estivesse ligado à fantasia. 

Alguns dias depois, mais chacinas foram arquivadas e investigadas. Um ataque em uma creche em plena luz do dia. Mortes de crianças em aniversários. Até em bailes escolares.

A presença da criatura na cidade gerou repercussão na internet, principalmente entre os teóricos de lendas urbanas, dos mais intrigados aos mais paranoicos. Com base na descrição que atravessava as fronteiras da internet, eles nomearam o monstrinho matador de crianças de Kideath. 

O nome provém de uma junção de duas palavras em inglês: Kid = criança; Death = morte. Logo: Criança mortal ou criança da morte. 

Mais um tempo se passou e o Kideath ficou conhecido como o ceifeiro legítimo de crianças que ele julgava não merecerem viver uma vida adulta. 

Relatos de aparições enchiam as páginas de sites. Dizia-se que ele se escondia nas sombras das pessoas, se materializando através delas. Algumas de suas habilidades mais comuns eram invisibilidade e intangibilidade. 

Jamais se ouviu falar em outra fantasia como aquela... fortalecendo o mistério de quem a criou e para qual propósito. 

Desenho da criatura porcamente feito no Paint.
Foi o máximo que consegui produzir, não sou
expert em photoshop :)

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