Contos do Corvo #9
Naquela noite enevoada, o corvo viera algumas horas mais cedo para apreciar a brisa gélida e a névoa densa que se intensificava a cada minuto no cemitério. As nuvens robustas ocultaram as estrelas e a lua.
Ficara entediado pela lentidão do tempo... esperando pelos seus convidados de sempre.
O coveiro, para sua empolgação, surgira da névoa como um fantasma, passando pela lápide na qual o corvo estava.
- Nossa, que susto. - disse o corvo, fingindo surpresa. - Pensei que fosse um zumbi. - zombou ele.
- Ha-ha-ha, muito engraçado. - resmungou o coveiro, mal-humorado. - Não vem que hoje não tem.
Uma fria voz feminina e infantil se pôs entre os dois.
- Ah sim, hoje vai ter. - a menina aproximava-se com entusiasmo à eles.
- Garota, seus tios sabem que você sai de casa quase todas as noites? - questionou o coveiro, percebendo que expressara a dúvida um pouco tarde.
- Não, eles trabalham, e chegam praticamente meia-noite. - disse ela, alisando suas tranças. - O que temos pra hoje? - olhou para o corvo.
- Querem mais uma história envolvendo crianças?
- Meu voto é contra. - disse o coveiro, já querendo sair. - E como sou mais velho, eu ganho.
- Tem certeza que é mais velho? - indagou o corvo, inclinando-se para ele. - Não sabe nem a metade da minha origem. Mas vou partilhar algo interessante: Tenho quase 200 anos.
O coveiro virou a cara com desdém e rindo internamente da revelação aparentemente inverídica. A menina, por outro lado, ficara curiosa.
- Enfim, estão prontos?
- Sim, eu estou. - respondeu o coveiro. - Para dar o fora.
- Não, por favor, eu quero que o senhor fique. - pediu a menina, encarecidamente.
Suspirando, o coveiro cedeu ao pedido.
- Tá legal... manda aí.
- Por algum tempo eu vivi em um bairro dos EUA, mas ainda sem fazer parte de nenhum bando, onde ocorreu um caso que chamou minha atenção... na verdade, foram dois... o real e mais chocante e o que foi inspirado nele...
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O DUENDE DO DIA 31
Em uma cidade do Oklahoma, havia ocorrido uma tragédia inesperada, onde envolvia dois garotos de 10 anos. Aconteceu na noite no dia 31 de Outubro, que, como todos sabem, é a data onde se comemora o Halloween, as crianças se fantasiam, se entopem de doces e... ah, não, acabo de lembrar que tenho tendência a enrolar demais. Pois bem, continuando: A família destes pirralhos estava passando por maus bocados, com uma crise financeira de fazer arrancar os cabelos. Logo, não seria possível presenteá-los com as guloseimas daquele dia, nem mesmo com fantasias legais para impressionar os coleguinhas da escola.
Inconformados, eles passaram a "amaldiçoar" os pais... não apenas com palavras, mas com um elemento bastante conveniente. Contava-se, segundo os amigos do garoto que sobreviveu, que ambos recorreram a um antigo ritual destinado a dar vida a figuras inanimadas. Para isso, tiveram a corajosa ideia de unir um monte de terra úmida com fezes de cavalos e "esculpiram" um ser de orelhas pontudas e cabeça muito achatada que não media mais do que um metro e alguns poucos centímetros. Felizes com o resultado e ansiosos para darem início à "brincadeira", os garotos, então, pegaram o papelzinho que continha o "mantra" para despertar a criatura. Contudo, não esperavam por um terrível detalhe: O ritual, quando realizado por duas pessoas, exigia o sacrifício de um dos envolvidos para que a alma deste fosse fixada na escultura criada, só assim fazendo-a ganhar vida.
Os pobres pentelhos pensaram muito bem na decisão e acabaram se vendo sem escolha. O mais velho se voluntariou a morrer. Eles eram bem espertos para suas idades. Dizia-se que o irmão mais velho carregou um revólver do pai - que era policial - e atirou na própria cabeça, fazendo o sangue respingar na escultura do bicho feio que criaram. O mais novo, mesmo sofrendo com a perda, fez o ritual conforme instruía o papel. A criatura logo ganhou vida. Exalava um cheiro horrível.
Como o espírito do garoto estava repleto de ódio, a criatura matou os pais dos pequenos psicopatas com mordidas e facadas. A situação fugiu do controle do irmão mais novo, que pensou que seria responsabilizado pelo crime. O pequeno monstro, depois do assassinato, saiu pelas ruas com um fome voraz por doces, causando terror entre as crianças e adultos que se deparavam com ele.
No dia seguinte, o irmão mais novo vendera por um preço justo a folha na qual o ritual estava escrito para um cara qualquer que cursava o ensino médio. Nesse mesmo dia, ele depôs na polícia afirmando não saber de nada do que aconteceu, mas por dentro parecia se sentir satisfeito por ter se livrado da avareza dos pais. A polícia iniciou uma busca pelo irmão mais velho que durou quase um mês, mas nenhum resultado foi obtido.
Contava-se, de acordo com aqueles que o viram no Halloween, que a criatura era baixa, meio gorda, as orelhas pontudas e longas, meio verde, marrom ou meio negro, tinha olhos esbugalhados e brancos e um boca larga que formava um sorriso. Além de que fedia bastante. Roubava os doces invadindo casas e tomando à força de crianças que passavam nas rua.
Após aquele dia ele jamais foi visto novamente. Nenhum novo relato de aparição surgiu, mas os do dia em questão foram vários, até publicados em sites de lendas urbanas.
Um ano, então, se passou. Fiquei naquele bairro para saber se algo bizarro ou estranho iria acontecer para não me deixar entediado só voando e comendo. E justo no Halloween daquele ano algo semelhante ao que ocorreu no ano passado apareceu.
Uma nova criatura, desta vez um pouco maior do que o anterior e mais aterrorizante, surgiu no bairro exatamente na noite daquele dia 31, roubando os doces. Só que havia um diferencial: Ele fazia joguinhos com as vítimas, dizendo que se não dessem os doces receberiam travessuras. As crianças, ingênuas, recusavam-se, pensando se tratar de uma brincadeira de alguém fantasiado. Acabaram mortinhas e tendo seus doces levados.
A minha suspeita já era óbvia: O espírito daquele cara do ensino médio que comprou a folha do ritual estava aprisionado naquele monstro feito de terra e cocô. Quando uma só pessoa realiza o ritual ela é quem deve se sacrificar, diferentemente de quando há duas, onde alguém se salva.
As descrições eram as mesmas, só diferenciando-se no tamanho e que este possuía até pelos e vestia um capuz. Ele podia ser visto correndo entre as árvores e jardins das casas carregando um saco para guardar os doces, com uma faca na mão. Andava de um jeito meio manco, bem sinistro.
Desde então, a criatura que sempre aparecia nos Halloweens daquela cidade passou a ser chamada pelos aficionados em lendas urbanas como o "Duende da Dia 31".
Muito tempo passou e o Dia das Bruxas foi abandonado na cidade, mas a criatura não deixava de surgir, seja para caçar doces ou para matar.
Olá, adorei o seu blog!!
ResponderExcluirQuero agradecer a sua visita ao meu blog, me senti honrada, li boa parte dos seus escritos e estou muito admirada, me arrepiei em várias partes! rs, você é bom nisso!!! Estou empolgada com os outros que faltam pra ler, rs...
Voltarei aqui em breve.
Ah!!! Já ia me esquecendo, coloquei o seu blog na minha lista de recomendados, não que isso seja alguma coisa, mas fico feliz em pensar que posso ajudar outras pessoas a encontrar esse cantinho maravilhoso e poder ter o mesmo prazer que eu tive em ler cada texto.
Até breve.
Beijos
Lady.
Olá, seja muito bem-vinda a este mundo sombrio hehehehe!
ExcluirFico muito grato que tenha gostado, e obrigado também por pôr o Universo Leitura na lista :)
Continue apreciando as histórias mirabolantes que eu crio rsrs, por vezes julgo como um simples hobby, mas quando me empolgo acabo levando um pouco a sério, acho que é isso que faz a coisa engrenar, você visar com mais seriedade aquilo que você deposita total dedicação, mesmo que no fundo pareça apenas uma diversão de horas vagas.
Espero vê-la mais vezes por aqui! Até mais ^^
Eu quero saber a história do corvo, começou a ficar curiosa a historia, empolguei, de repente reticências.... Kkkkk
ResponderExcluirVai demorar um pouco, eu acho hahahah.
ExcluirNa verdade, algumas respostas virão sobre ele no spin-off que estou preparando, cuja data de estreia irei revelar ainda neste mês. No decorrer desta série nova, alguns mistérios vão sendo relevados, mas é algo que o leitor precisa ter certa paciência pra acompanhar.
Que bom que gostou, espero que continue acompanhando a série :)
*Revelados
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