Ordens do Ted


Enfim chegava o aniversário de Max. O serelepe garoto mal podia esperar pelo presente que iria receber, tamanha era sua ansiedade. A mãe, Jane, incentivava o filho a expandir sua imaginação sempre que o mesmo lhe pedia para brincar com seus mais diversos brinquedos. Preocupava-se com a maneira criativa com a qual tratava seus brinquedos, chegando até a pensar que tamanha criatividade pudesse faze-los criarem vida. Pensamentos enganosos e frutos de uma preocupação tola. Apenas queria ver o filho feliz naquele dia especial. Havia preparado bolo, salgados, brigadeiros, e até uma faixa com os dizeres: "Feliz aniversário Max", escrito com tinta vermelha. Sem esquecer, é claro, das bexigas, com as cores preferidas de Max: preto e cinza. Jane achava estranha a preferência do filho por cores tão mórbidas, a julgar pela sua idade. Ignorando isso, concentrou-se em ver sorrisos do filho assim que ele chegasse da escola. Era uma festa-surpresa, e seus pais e amigos estavam esperando-o, com as luzes da casa apagadas.

Quando Max chegou cantaram os parabéns, o mesmo logo perguntou se haviam presentes. O pai, Joe, lhe entregou o último dos presentes, e que estava em uma sacola de plástico velha. Era um urso de pelúcia, de tamanho médio e com as cores prediletas de Max. Orelhas e patas cinzas e o restante inteiramente preto. O bichinho de pelúcia continha um diferencial, que fascinou o garoto assim que o viu pela primeira vez. As crianças estranharam o presente, não por ser um urso de pelúcia um pouco grande, mas sim pela expressão que ele mostrava. Havia um sorriso enorme no rosto do urso e um olhar penetrante. O bichinho mostrava dentes um tanto pontudos em seu ardente sorriso. Max não conteve a alegria de receber algo tão diferente naquele ano.

- Obrigado. Vou chama-lo de Ted. - disse ele já nomeando seu novo amigo.

Jane e Joe orgulharam-se por oferecerem uma festinha agradável para Max, o esforço havia valido a pena.
As crianças haviam ido embora, e Max só tinha olhos para Ted. Nem sequer deu atenção para os convidados, Ted era o único convidado especial para ele. Como era o último dia de aula as férias já estavam sendo pensadas por Max. Seu pai havia viajado para trabalhar em uma filial de sua empresa no exterior, deixando Jane responsável por cuidar de Max durante o mês. O garoto passou dias apenas acompanhado de seu urso de pelúcia, almoçava e jantava com ele, assistia TV com ele, brincava no quintal apenas com ele... Max, enfim, havia encontrado o amigo para todas as horas. No entanto, sua mãe já não estava vendo isso mais como um simples apego exagerado pelo brinquedo e sim como uma obsessão. Após duas semanas Max pouco comunicava-se com sua mãe, o que causou certo desconforto para ela. Sentia-se mal por ser trocada por um simples urso de pelúcia. Durante a noite, quando Jane contava histórias para Max dormir, Ted ficava bem ao lado da cama. Jane não parava de olhar para o rosto daquele urso, aquele sorriso medonho a fazia parar a história na metade e sair daquele quarto o mais rápido possível. O olhar de Ted encarava Max dormindo todas as noites. Max afirmava para mãe que Ted lhe ajudava a dormir porque julgava as histórias que ele contava melhores do que as dela. Pontos de interrogação se firmaram em sua mente. Como assim Ted contando histórias? Max só tinha feito 8 anos, portanto Jane apenas ignorou isto e pensou ser pura imaginação fértil de uma criança apegada com seu brinquedo.

No dia seguinte, de manhã bem cedo, Jane viu Max carregar uma pesada pá, indo em direção ao quintal. Não tardou para que ela fosse pergunta-lo sobre o que iria fazer. Ted não estava com ele, se encontrava no quarto. Quando chegou ao quintal, Jane olhou para a janela do quarto de Max e lá estava Ted. A impressão que se teve foi de que Max o colocou ali para observar o que ele iria fazer com a pá, já que tratava o urso como sendo alguém da família.

- Max, o que vai fazer com essa pá? - perguntou Jane.

- Eu... só vou brincar de caça ao tesouro.

- Não, não vai mocinho. Me dê essa pá, é perigoso, você pode se machucar.

- Por favor, deixa. São ordens do Ted.

- Ted!? Ah, ele agora lhe dá ordens é!? - perguntou Jane ironicamente.

- Sim. Até mais mamãe. - disse Max apressado, correndo para o jardim.

Para espionar o que o filho faria em seguida, Jane ficou olhando da janela da cozinha. Cavando um profundo buraco no jardim, Max tirou de dentro um esqueleto de um gato. Tirou uma caixa de fósforos e riscou um ateando fogo no tal esqueleto. Ajoelhou-se e juntou as mãos, uma clara posição de estar rezando. Tudo aquilo fora completamente estranho para Jane, que não entendeu absolutamente nada. O dia seguiu normal. Pelo menos até anoitecer. Jane foi até a cozinha e viu na lata de lixo comida jogada fora. Logo teve que pedir explicações para Max, pois com certeza ele havia feito aquilo.

- Max, temos que conversar.

- O que foi mamãe?

- Porque você jogou sua comida fora? Você nunca fez isso, já te disse que é feio.

- Foram ordens do Ted. Eu juro.

Jane percebeu as paredes do quarto completamente rabiscadas, com desenhos e palavras que não dava para compreender. Alguns deles eram escritos com giz de cera vermelho e denotavam cenas brutais de assassinatos. Chocada, ela tentou de várias maneiras a convencer o filho de se livrar do urso, pois achava que Ted estava, de alguma forma, viciando-o e fazendo-o se afastar dela.

- Por favor filho, obedeça sua mãe. Você deve deixa-lo numa caixa ou em outro lugar, você tem tantos outros brinquedos. Podíamos passar mais tempo juntos. Não sente falta dos nosso passeios pela cidade?

- Não! Nunca vou enjoar do Ted, vamos ser amigos pra sempre! - gritou Max.

- Filho... espera...

- Pra sempre! Ted! Ted! Ted! Ted! Ted! - esbravejou o garoto descendo pela escada.

O urso estava sentado no sofá e logo veio Max para ver TV junto dele. Jane observava atenta todos os movimentos do filho, para ver se algo estranho aconteceria. Três horas passaram-se e nada. Jane dormiu na escada e Max no sofá junto de Ted. Assim que amanheceu, Jane foi surpreendida por Ted bem próximo do rosto dela. O susto não foi evitável. Ouviu-se a risada de Max em seguida. Aquele urso de pelagem negra e com sorriso arrepiante quase a matou do coração.

- Bom dia mamãe. Viu só? O Ted também quis dar bom dia para a senhora.

- Filho... eu pensei que você havia dormido na cama. E já disse pra se livrar dessa... coisa horrorosa aí!

- Não fala assim do Ted. Ele não gosta. Vai ficar muito magoado com a senhora.

- Nossa, tô morrendo de medo sabia!? Agora já pro banheiro pra escovar os dentes. Já! - disse Jane apontando o dedo indicador para o alto da escada.

Max obedeceu sua mãe pela primeira vez naquelas férias ao invés de seu melhor amigo. Jane tentou contactar seu marido para saber onde ele comprou o urso de pelúcia, porém, não obteve sucesso. Não sabia mais o que fazer para livrar seu filho do vício pelo brinquedo e nem conseguia entender o porque das tais ordens. Tudo aquilo tornara-se sério demais para se considerar apenas como imaginação de criança. Para ela, Max precisava de ajuda, urgentemente. Pela tarde, quando chegou da casa de uma amiga, Jane sentiu um intenso silêncio pela casa toda. No sofá, Ted encontrava-se largado.

- Estranho... Max ter deixado seu urso no sofá a essa hora não é normal. - pensou ela, desconfiada.

Aproximou-se lentamente do sofá. No carpete havia um bilhete dobrado. Pegou o pequeno papel e leu o que estava escrito: "Ele quebrou a promessa". Jane ficou ainda mais intrigada, e logo encontrou outro bilhete. Este segundo encontrava-se na pequena mesa próxima da estante. No segundo bilhete dizia: "Foi bom enquanto durou". O medo estava subindo à cabeça e a desconfiança só aumentava. Afinal, quem seria o autor de tais bilhetes? Pensava ela. Colocou a mão no queixo e deduziu ser um ladrão invasor de residências. Esta hipótese logo se tornaria inválida quando deu de cara com o terceiro bilhete, bem próximo à Ted, no qual dizia: "Diga adeus ao seu filho!". Jane lançou um grito estridente, e agindo por impulso atirou Ted pela janela, quebrando o vidro da mesma. Abriu a porta e olhou para o urso, caído na grama, horrorizada. Sua intuição não estava nem um pouco errada. Correu freneticamente pela casa, testando os limites de suas cordas vocais com gritos desesperadores á procura de Max.


Procurou por todos os cômodos, mas apenas esqueceu-se de um: o banheiro. Viu um líquido vermelho escorrer pelo chão que vinha direto do banheiro. Abriu a porta e viu a cena mais horripilante de sua vida. Max sentado no vaso sanitário com vários cortes profundos em todo o seu corpo, o sangue havia entupido o vaso e se misturado com a água contida nele, jorrando sem parar e inundando o banheiro. Em um ato de coragem e por amor incondicional ao seu filho, Jane foi andando lentamente para a cozinha, com uma expressão que ficara estampada em seu rosto e que mostrava-se inalterável, pegar uma arma que ficava na dispensa para atirar na própria cabeça. E assim o fez.

Enquanto isso, Ted estava largado na grama em frente à casa... esperando seu novo dono para continuar com a sua brincadeira favorita. 


Comentários

  1. Intrigante, assustadoramente envolvente. Vale cada arrepio. Muito bom! Parabéns pelo conto, continue se der...

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