Frank - O Caçador #80: "Sete Vidas de Azar"

Ao fim de um passeio de bicicleta com os amigos durante aquele aprazível fim da tarde, Emma, uma garota de 13 anos com cabelos castanhos meio ondulados prendidos, dobrava para um caminho ladeado de mato abundante que servia de atalho para a sua casa. Alguns deles não viram com olhares tranquilos a direção pela qual ela pretendia se enveredar. 

- Emma, tem certeza de que por aí não é muito perigoso? - perguntou Shelby, uma garota loira de óculos. 

- Quando eu pedalava com meus pais, a gente pegava um atalho pra casa por aqui. - respondeu Emma, despreocupada - Melhor irem rápido senão quiserem encarar um castigo dos brabos quando chegarem.

- Já ouço a voz da minha mãe berrando meu nome. - disse Damon com desconforto - Tchau, Emma. A gente se vê.

- Falou, até mais. Vamos marcar mais vezes as pedaladas secretas? Claro que só tem graça se não for desfalcado.

- Quando vão deixar de ser secretas? - perguntou Damon. 

- Quando tivermos idade suficiente pra provar aos nossos pais que podemos pedalar nas estradas perigosas. - disse Robert, um garoto meio gordinho - Talvez daqui à uns... seis anos. 

- Vamos torcer pra ninguém faltar por um bom motivo. - disse Shelby. 

Após se despedir deles, Emma prosseguiu segurando firmemente os guidões da bicicleta com detalhes rosados que ganhara dos pais desde os 10 anos. Olhava com certa preocupação para céu diminuindo seus tons de laranja e dando lugar ao azul do início noturno. Pedalou mais rápido pela estrada de terra. No entanto, reduziu a velocidade ao avistar um gato preto caminhando na direção oposta. Emma imediatamente sorriu com interesse súbito pelo corpulento gato de pelos negros. 

Parou a bicicleta, estacionando-a na beira da estradinha e dirigiu-se ao felino que desfilava balançando sua cauda longa.

- Oh, que gatinho mais lindo. - disse ela estendendo as mãos para pega-lo - Sem coleira nem nada... Ah, legal, você é todo meu, fofucho. - segurou-o como um bebê - Você é pesadinho hein. Vem com a mamãe pro seu novo lar. 

Emma levava seu novo animal de estimação para coloca-lo na cestinha da bicicleta. Mas enquanto era levado, o gato estava segurado com o rosto virado olhando para o lado oposto. Emitiu um forte brilho violeta de seus olhos, miando baixinho.

   ______________________________________________________________________________

CAPÍTULO 80: SETE VIDAS DE AZAR

A ideia de comemorar o aniversário de Lucy partiu unicamente de Frank que a convidou a passar na sua casa para comerem um bolo decorado especialmente para ela. A sorte foi a data cair justo no dia de folga do detetive. Aguardando ela vir, Frank estava sentado no sofá maior puxando conversa com o filho que não queria falar de outra coisa senão a relação dos pais.

- Tá demorando pacas. - disse Frank conferindo no relógio de pulso pela incontável vez - Ou o trânsito engarrafou ou a investigação em que ela tá trabalhando foi esticada. Tô quase cedendo à vontade de ligar pra ela... 

- Calma, relaxa, ela tá a caminho, ainda são onze e cinco. - disse Nathan confortavelmente sentado na poltrona. O jovem caçador sorriu quase dando uma risadinha. Frank virara o rosto para ele, confuso.

- Tá rindo do quê? - indagou o detetive. 

- Nada, é... o jeito que você fica esperando ansiosamente por ela. Como se não conseguisse viver mais um único dia sem vê-la. Isso me dá um pouco de esperança sobre a relação de vocês. Uma chance em um milhão, mas... é uma chance.

- Por que tá dizendo isso? Olha, eu sei que tá com vergonha de perguntar, acha isso ridículo... 

- Eu quero que as coisas entre vocês aconteçam o mais naturalmente possível. - interrompeu Nathan meio exaltado - Mas também não quero te apressar, apesar da... data-limite.

- Por falar nisso, você ainda não disse qual é a sua data de nascimento. - disse Frank pressionando-o.

Uma certa relutância foi vista no semblante de Nathan ao encarar a curiosidade do pai. 

- Vinte e seis de outubro. 

- Já estamos quase no final de janeiro... Então tenho menos de um mês pra molhar o biscoito com a Lucy e fazer você. 

- Ah, você tinha que falar. - disse Nathan desviando o olhar, incomodado. 

- Qual é? Não fica constrangido, é a verdade, afinal. Não vou ir rápido demais, forçar a barra, nem nada. Como você disse, agir naturalmente e com paciência. Entendo, você tá preocupado, mas... sua mãe e eu acabamos de nos conhecer de novo.

- Vocês engataram o romance há praticamente dois meses, então faz sentido não quererem avançar pro próximo nível em tão pouco tempo. Tem horas que penso ter chegado meio tarde, errei no julgamento sobre a época exata onde parar. Mas mesmo que o relacionamento se aprofunde no ritmo certo, ainda há o problema com o Axel, o Nero, as górgonas, a besta do subterrâneo, tudo isso é uma bomba-relógio e vocês precisam se adiantar um pouco pra garantir minha existência. 

- Tá me sugerindo agora que eu me apresse? 

- Não exatamente, mas... você sabe, apimentar as coisas pra irem pro momento decisivo com mais tranquilidade. Não custa dar uma empurrãozinho. Enfim, não vou ser seu conselheiro amoroso. 

- Ah tá, cheguei a pensar que você queria a gente transando pouco depois do Natal. 

- Você fez de novo. - disse Nathan baixando a cabeça em desconforto - E o Axel? Como ele tá? 

- Tentando meditar na masmorra. O Nero continua muito quieto, não houve mais possessões... Mas dá um medo do Axel arrebentar a porta daquela cela como um gárgula ensandecido pra matar. Ele não é um caso perdido, é forte, pode muito bem lidar com o Nero. Já resistiu na primeira vez, não tem porque dar errado em todas as tentativas do pedregulho desgraçado. 

- Só não sabemos se a resistência do Axel pode fazer frente ou superar o aperfeiçoamento que o Nero com certeza anda fazendo da possessão. - disse Nathan - Ou corremos atrás de um modo de anular o feitiço das górgonas ou...

A campainha tocara para a surpresa deles. 

- Opa, olha nossa ilustre convidada chegando. - disse Frank, levantando-se do sofá contente. Ao abrir a porta, suspirou de felicidade ao vê-la - Demorou hein. - ambos beijaram-se rapidamente - Feliz aniversário. E eu quero te apresen...

- Nathan?! - disse Lucy reagindo com espanto ao ver o caçador ali presente - Peraí, você e o Frank... 

- Vocês dois... já se conhecem? - perguntou Frank fechando a porta. O detetive arqueou as sobrancelhas para Nathan como um sinal de advertência. O jovem caçador tentou exprimir alguma palavra, seu nervosismo mais claro que a luz de um anjo.

- Ahn... Sim, eu tinha esquecido de contar... Nos esbarramos num corredor do DPDC enquanto procurava o banheiro. - disse Nathan. 

- Eu realmente tô bem surpresa com o fato de um amigo que fiz recentemente ser tão próximo de um velho amigo meu. - disse Lucy sorrindo. 

- Pois é, que mundinho pequeno, não? - disse Nathan tentando manter uma postura segura. 

- Eu tanto quanto você. - disse Frank não tirando os olhos sérios do filho que acendia a vela do bolo. 

- Feliz aniversário, Lucy. - disse Nathan segurando o bolo com a vela faiscante. 

- Obrigada aos dois. Eu... nem tenho palavras. Achei que seria um encontro convencional entre mim e o Frank. - virou o rosto para o detetive - Podia ter avisado que convidaria uma terceira pessoa. 

- É que eu vim de supetão, nem sequer sabia que vocês se conheciam. - mentiu Nathan numa expressão que tentava passar o máximo de convencimento possível - Frank me falou que uma amiga dele chamada Lucy estava aniversariando hoje e esperei junto com ele. Fiquei incrédulo quando vi que era você... 

- Espera, alguma coisa não tá batendo. - disse Lucy, pensativa - Não parece razoável você não ter ao menos perguntado sobre mim considerando que não estava tão surpreso assim que cheguei, você foi logo se levantando. - aferiu ela deixando Frank em estado de apreensão. O detetive deu uma coçadinha na testa aparentando intranquilidade.

Em saia justa, Nathan engoliu a saliva ora olhando para Frank ora para Lucy. 

- Frank me falou muito sobre você, até chegou a mostrar uma foto...

- Ah, a selfie que eu lutei pra convence-lo a tirar comigo. - disse a investigadora retomando a face simpática - Pensei que tinha apagado. 

- Não... Ainda tá registrada no celular. - disse Frank ainda não muito calmo. 

- Mas, Nathan, você falou que não acreditou que poderia ser eu, mas reagiu como se já soubesse. Se foi assim, não se conecta com você ter visto minha foto. O que houve de fato? - indagou fazendo uma pausa com as mãos na cintura - Ah, já entendi. - ela dizer isso deixou os dois em alerta - O Frank apagou a foto bem antes de você vir, te obrigou a mencionar que há uma foto apenas pra que eu acreditasse que ele não apagou. Tenho por mim que ele até fingiu não saber que já nos conhecíamos. Tudo não passou de uma pegadinha? Porque se tiver sido, vocês não são nada dignos de um Oscar. 

- Vocês nos pegou. - disse Nathan dando um sorriso sacana. Atrás dela, Frank deu um suspiro de alívio com a boca, limpando um falso suor da testa - Agora será que podia soprar a velinha? Faz um pedido. 

Lucy soprara a vela faiscante que apagou-se instantaneamente. 

- O que você desejou? - perguntou Nathan - Eu vi você e o Frank se beijando... 

- Não contou que namoramos? Quantos amigos seus sabem? Ou só a Carrie? 

- A gente ainda tá numa etapa em que não necessariamente todo mundo tem que ficar sabendo. - disse o detetive.

- Mas já estamos juntos há dois meses. Passou um pouquinho do tempo da notícia se espalhar. - retrucou Lucy - Bem, eu desejei... Eu já passei da idade de ser mãe de primeira viagem, então... Meu pedido foi um relacionamento estável e duradouro com o Frank. É com ele que quero passar o resto da minha vida. - disse ela olhando-o condescendente. Frank deu um sorriso fechado orgulhoso por ela. Nathan não pareceu muito satisfeito com a resposta.

- Ótimo. - disse Nathan forçando uma expressão de contentamento - Muitas felicidades ao dois. Mas bem que um filho ajudaria a fortalecer o laço que existe entre vocês. Eu espero que um dia tentem, vocês dois merecem essa dádiva. 

- Fico muito grata, Nathan, mas... na impossibilidade de gerar um bebê, a adoção é a saída mais confortável. Inclusive, já conversamos sobre isso imaginando nosso futuro. - pegara na mão direita de Frank entrelaçando seus dedos com os dele - Se não der certo do jeito que gostaríamos, adotar não estaria descartado. 

Frank sentiu-se um pouco mal por Nathan escutar aquilo, colocando-se no lugar dele. 

- Ahn, vamos mudar de assunto. Bora repartir o bolo? Vou pegar a faca. 

- Ei, espera, tive uma ideia. - disse Nathan antes que Frank desse um passo - Uma pizza pra acompanhar. O que acham? 

- Apoiado. Não que eu que não tenha gostado do que fizeram, eu sei que é simples, mas de coração. - disse Lucy. 

- Tem uma pizzaria a um quarteirão daqui. - disse Frank - É mais barato que pedir por aplicativo. Mas tenho que ver se ainda tá aberto, o horário de fechamento é meia-noite e já são onze e vinte. Uma pena que eu não tenho guardado o número. 

- Pode deixar que eu vou lá. Vocês ficam aqui a sós. - disse Nathan aproximando-se da porta. 

- Nada disso, eu insisto, pode ficar você e ela, se entrosem mais. - disse Frank andando até ele - Você se importa, Lucy?

- Lógico que não. Tanto faz você ou ele irem. - disse Lucy sentando-se à vontade no sofá - Mas se for pra escolher que um vá e um fique... Frank traz a pizza. Nathan e eu esperamos. Boa sorte. - falou ela cruzando os dedos. 

Frank e Nathan cruzaram olhares sérios por uns três segundos enquanto o detetive saía. 

As ruas das proximidades estavam praticamente desertas, o que as automaticamente as tornava pouco convidativas para se perambular sozinho tal qual fosse à luz do dia. Frank dobrou para uma rua literalmente sem nenhuma alma viva passando, somente pedaços de lixo voando com o vento. Ao chegar à frente da pizzaria, infelizmente deparou-se com a placa de "Fechado". Frank bufou irritado consigo mesmo e arrependido de não ter anotado o número de telefone para saber se o horário de fechamento seguia o mesmo ou não. Mas era um domingo, então seria natural que fechassem uma hora ou meia hora mais cedo. Na volta frustrante, Frank andava com as mãos enfiadas nos bolsos externos da calça jeans. Graças às luzes dos postes, notara uma sombra lhe perseguindo. Uma sombra inumana. Virou-se depressa. Um gato preto um tanto gorducho lhe seguia confiante de que havia achado boas pernas para se esfregar. Frank ficou parado olhando-o. 

- Foi mal, bichano, escolheu um favorito a dono errado. Vai revirar umas latas por aí. 

Frank retomou a caminhada, mas o gato tornou a segui-lo até dobrar para a outra rua onde mais à frente localizava-se sua casa. Ele virou-se novamente para o gato, a paciência à beira do esgotamento. Chutou uma lata de refrigerante para assusta-lo. O gato correra e a lata bateu num poste. 

- Isso aí, rala peito Felix. - disse Frank vendo-o correr para longe. No entanto, logo que virou-se, mal deu dois passos tamanho o susto que tivera. O gato estava acima de uma cabine telefônica posta na esquina. O animal encarava o detetive com altivez levantando o queixo - Tá de zoeira comigo... 

O gato abriu sua boca expressando raiva e miando alto. Os olhos dele brilharam numa luz violeta forte. 

Pulou sobre o rosto de Frank que travou uma luta ferrenha para desgruda-lo da face. O gato fizera arranhões na bochecha esquerda do detetive antes dele conseguir tira-lo o jogando contra uma lata de lixo que foi derrubada espalhando o que havia dentro. Frank correu alarmado para casa tocando nas feridas no rosto. Chegara em casa, surpreendendo Nathan e Lucy. 

- Ué, cadê? - indagou Nathan franzindo o cenho - Ei, o que foi? 

- Frank, tá tudo bem? - perguntou Lucy levantando-se ao mesmo tempo que o jovem - O que aconteceu? 

- Foi... a droga de um gato que me arranhou... - disse ele tirando a mão do ponto dos arranhões vendo um pouco de sangue na palma - Bicho feroz dos infernos. Tá muito feio? Desculpa, o lugar tava fechado, acho que por ser domingo...

- Esquece, me deixa ver isso direito. - disse Lucy aproximando-se - Sabe onde tem um kit de primeiros-socorros? 

- Na última porta da dispensa. Vai lá, Nathan. - disse Frank sentando-se no sofá tocando repetidamente na ferida. 

- Que gato era esse, afinal? - perguntou Lucy - Por pouco não fez um estrago maior. 

- Deve ser um vira-lata, ficou me seguindo, daí caiu matando em cima de mim... 

- Por isso que às vezes não é bom recusar a companhia de um gato. Teria sido nosso pet. 

- Depois dessa prefiro mais ainda os cães. - rebateu Frank sentindo uma dorzinha com os arranhões. 

- Sabia que diria isso. - falou Lucy, levantando uma sobrancelha. Nathan vinha com a caixa branca com um adesivo de cruz vermelha. 

- Aqui está. - disse Nathan pondo-a sobre a mesinha de centro - Podem brincar de médico à vontade. 

Frank e Lucy o fitaram com cenhos franzidos e olhares de estranhamento. 

- Opa, foi mal, não é o que estão pensando. 

- Enfim, vamos lá. - disse Lucy abrindo a caixa. 

- Olha, Lucy, não precisa... Vai sarar amanhã, foi bem superficial.

- Mas lesionou a ponto de sangrar, então não é algo que sare da noite pro dia sem tratamento. 

- Vai em frente, taca o mertiolate que arde. - disse Frank preparado para suportar a ardência da ferida. 

- Não seja criança. - disse Lucy pronta para passar o algodão molhado no rosto dele.

Nathan ficara parado observando Lucy se divertir com Frank se queixando da sensação ruim do remédio. Sorriu consigo mesmo ao ver que, apesar da pretensão materna de Lucy não ser tão otimista, ambos estavam perfeitamente em harmonia. 

                                                                              ***

No dia seguinte, Frank acordara se espreguiçando animadamente para viver mais um dia normal para um investigador paranormal. No entanto, ainda sentado na cama, notou uma mancha de molhado no seu cobertor. Olhou para cima vendo uma goteira no teto que pingava de uma rachadura. Levantou-se rápido e viu pela janela a grama molhada. 

- Mas como é que... - disse ele, novamente para a goteira surgida do nada. 

No banheiro, olhando-se no espelho, retirou cuidadosamente o band-aid colocado por Lucy para sarar os arranhões. 

- É, até que o mertiolate da tortura resolveu um bocado. - avaliou ele, em seguida jogando o curativo na lixeira. O arranhão ainda não parecia totalmente cicatrizado, mas ele julgou que não chamaria atenção de curiosos. 

Após sair de um trânsito absurdamente congestionado, perdendo quase meia hora do tempo que levaria para chegar ao DPDC pontualmente, o detetive cruzou por uma rua, mas ouviu barulhos estrondosos. O sedã prata reduziu a velocidade num instante e fumaça saia por baixo do capô. Frank saiu do veículo para verificar a situação geral e se estarreceu. 

- Não, não, é brincadeira... - disse ele olhando os vários pregos entortados e espalhados pelo chão. Mais fumaça branca saía do capô. Abriu-o só para constatar que o motor deu defeito. Afastou-se dissipando a fumaça com as mãos - Cacete, vou ter que ligar pro Larry... - pegou o celular e telefonou para seu amigo mecânico e rebocador - Ei, fala Larry, tudo em cima? Pois é, comigo não, por isso tô te ligando. Traz o guincho pra levar meu bebê pro hospital. Pelo jeito da coisa, o motor já era.

Se sujeitando a percorrer o resto do trajeto a pé, Frank caminhava num ritmo que deixava suas pernas doloridas. 

- Sebo nessas canelas, Frank. - disse ele, aflito para tornar o atraso menor já que evita-lo àquela altura era impossível. Um homem que vinha trazendo café num copo esbarrou com ele derramando a bebida sobre sua roupa - Ops, desculpa aí, amigo, foi mal! - falou ele ao homem que reclamava enfurecidamente. O detetive não percebera que estava quase atravessando a rua andando para trás. Um caminhão robusto buzinou alto. Frank deu um pulo de volta para calçada quase se desequilibrando. Mais uns segundos de distração e ocorreria uma brutal colisão entre seu corpo e o caminhão. 

Seguiu em frente, suando de nervosismo. Eis que ouviu sons de tiros. Ao avançar um pouco mais, testemunhou um confronto entre policiais e bandidos pesadamente emente armados que tentavam assaltar um carro-forte bem no meio da rua em que deveria atravessar para chegar a avenida principal na qual seguiria de carro ao DPDC. Arriscando sua pele, Frank correu ao máximo me meio ao intenso fogo cruzado. Porém, sentiu duas balas perdidas o acertarem na barriga. O detetive usou a carroceira de um caminhão transportador de carga para se proteger do tiroteio. Baixou os olhos e viu dois buracos manchados de sangue no seu abdome. A visão enturvou de repente. Três disparos acertaram a carroceria numa curtíssima distância à ele, o fazendo se abaixar por reflexo, mas fazer isso lhe causou uma dor lancinante na barriga. Com esse sinal, procurou cambaleante um refúgio mais seguro. Enfiou-se num beco encostando-se numa parede. 

- Não... Resiste, Frank... - dizia ele a si mesmo tentando pegar seu celular e ligar para a emergência. Contudo, viu que a bateria havia descarregado - Mas que merda de dia é esse? Pronto, é aqui que acaba minha história... Já era legado... Já era salvar o futuro do Nathan... - ofegava esforçadamente. Sem forças, o detetive deixou-se cair sentando-se no chão molhado do beco até o mundo ao seu redor escurecer lentamente. Porém, Frank acordara num sobressalto. Tinha uma estranha sensação de que passou alguns segundos de completa inexistência, o que imediatamente o apavorou - Como assim? Não, eu morri, tenho certeza. - desabotoou a camisa branca ainda manchada de sangue para olhar os ferimentos dos tiros. Seu abdome estava limpo. Ficou refletindo atordoado sobre o fenômeno de morte e ressurreição instantâneas. 

                                                                              ***

Departamento Policial de Danverous City

Carrie estava em sua sala particular quando tomara um leve susto ao ver Frank entrando invasivamente.

- Ai, meu Deus, entrou sem bater! O que foi dessa vez? - perguntou ela que logo reparou nas manchas de sangue na camisa branca do detetive - Frank... Você foi baleado!? E tá pálido... obviamente não viu nenhum fantasma. 

Frank pegara um copo descartável para tomar um pouco de água antes de narra o bizarro início do seu dia desastroso. 

- Tô vivendo um dia de cão hoje... por causa do arranhão de um gato maldito. OK, do começo: Ontem foi aniversário da Lucy, chamei ela pra vir comemorar comigo lá em casa, o Nathan chegou, ficamos esperando ela praticamente duas horas, ela veio, tivemos um momentinho embaraçoso...

- Frank, dá pra você ser mais direto e objetivo? - questionou a assistente, levantando-se - Filtra os detalhes mais relevantes. 

O detetive passara a mão no rosto tentando se acalmar. 

- O Nathan teve a ideia de comprar uma pizza, mas eu que decidi ir. A pizzaria já tinha fechado, foi quando na volta... fui seguido por um gato preto. O bichano era fofinho por fora, mas se revelou um monstro por dentro quando me atacou no rosto depois que eu rejeitei a companhia dele. A Lucy foi minha médica de primeiros-socorros. 

- É, dá pra ver que esse gato chegou perto de arrancar seu olho esquerdo. 

- O arranhão em si não é nem a pior parte. Aquele gato era sobrenatural, sem sombra de dúvida. Os olhos brilharam como se estivesse possuído no instante em que ele pulou pra me atacar. O resultado mais fatal até agora foi isso daqui. - apontou para os buracos dos tiros na camisa - Primeiro acordo e descubro uma goteira no meu quarto. Choveu na madrugada? 

- Sim... Mas não numa proporção que possa causar goteiras... Nunca houve esse tipo de problema na sua casa. 

- Aí que está. Fui amaldiçoado pelo gato, não tem outra explicação. Como se não bastasse a goteira, um monte de pregos jogados na rua furaram os pneus do meu carro, além do motor ter morrido. E a cereja do bolo até o momento: o tiroteio justo numa rua que eu tinha de atravessar pra chegar aqui a pé. Os tiros me mataram, só que... acordei já ressuscitado.

Carrie o olhava sério meio que boquiabrindo-se. 

- Essa maré, aliás, essa tsunami de azar tá perigosa demais pra você sair de casa. Por que não ligou pra mim se já suspeitava que havia algo estranho no ar? Eu teria inventado uma desculpa pro diretor e ele dado um atestado.

- Sei lá, talvez meu namoro com a Lucy tenha me tornado um cara mais... positivo. 

- Tem razão, nessa fase de primeiros meses a gente começa achar que a vida é cor-de-rosa. Esse gato preto do azar sobrenatural não podia aparecer numa hora melhor. - disse Carrie logo discando o número do gabinete de Giuseppe. 

- Ei, Carrie, o que vai fazer? Não liga pro diretor, ele vai te pegar na mentira porque sabe do que eu...

- Shhh! Vai por mim, ele acredita. - disse a assistente num tom confiante. Levou o fone ao seu ouvido - Alô, diretor? É Carrie Wood, liguei pra reportar que o Frank não estará disponível hoje. Ele... pegou disenteria. 

Frank pusera a mão direita no rosto quase que dando um tapa ao reagir à atitude de Carrie. 

- Isso não vai dar bom, alguns agentes me viram passando, até me cumprimentaram. 

- Mas o Giuseppe não viu. - disse Carrie voltando a sentar-se - É a ele que você deve provar. 

- O lance cabuloso aqui é que um gato sinistro me passou uma maldição de morrer e viver não sei quantas vezes enquanto sofro um perrengue atrás do outro. - reclamou Frank, aborrecido - Não posso cuidar de nenhum caso até minha sorte mudar.

- Gatos tem sete vidas... - disse Carrie imersa numa teoria - ... um gato preto arranhou você... provavelmente ele foi enfeitiçado com uma magia que torna realidade a superstição da sexta-feira 13 com o adicional de que a vítima ganha sete vidas extras que podem ser desperdiçadas numa sina ruim em que alguns eventos podem resultar em acidentes fatais que levem inevitavelmente à morte certa. Você ainda tem seis vidas sobrando. 

- Nem sei se dá pra reservar mais umas quatro ou três pra amanhã. - falou Frank, desalentado. 

- O atestado do diretor vale por três dias, pode ser uma boa janela de tempo pra solucionar o mistério do gato. Até você voltar pra cá tem que gastar o menor número de vidas possível. Este é o caso que você investigaria: Jazigos violados em cemitério particular. Os corpos sumiram. Todos que foram sepultados poucos dias atrás. Suspeitam de uma gangue da máfia que retira corpos de inimigos pra dar à eles o funeral que acham digno. No caso em questão, incendiar até reduzir a cinzas. 

- E você acha que eu tô me sentindo péssimo em trocar um caso normal que qualquer outro agente resolveria por um paranormal? Pelo menos algo fora da minha prioridade que tenho o imenso prazer de desconsiderar. 

- Sabe o que essa loucura me lembra? De quando ficou tentando escapar da morte pra enfrentar... o Anjo da Morte.

- Bem lembrado. Parece que faz séculos. A diferença é que atualmente a morte tá me pegando de jeito, mais implacável. 

- Então vê se tenta não morrer mais seis vezes nas próximas cinco ou dez horas, por favor. - pediu Carrie, a preocupação pulsando no olhar.

- Me deseje sorte. - disse Frank sentindo ser uma infeliz ironia dizer isso. 

Caminhando por um corredor, o detetive ajeitava o sobretudo para ocultar as manchas de sangue. Porém, alguém dobrava para colidir-se com ele.

- Di-diretor?! - disse Frank assustando-se - Como vai o senhor? - perguntou, a voz trêmula. 

- Frank?! Muito bem, obrigado. Você, pelo visto, também. Já melhorou da disenteria tão rápido?

O detetive se limitou a dar um sorrisinho nervoso numa vã tentativa de disfarçar seu temor. 

                                                                             ***

Nathan possuía uma cópia da chave da casa de Frank e estava naquele início de tarde sentado no sofá mexendo no seu laptop sobre a mesinha de centro. A chegada inesperada e repentina de Frank tirou os olhos da tela logo que ele entrou. 

- Caramba, alguém te deu um belo banho. - disse ele vendo Frank chegar inteiramente molhado da cabeça aos pés. O detetive aproximava-se, seus fios de cabelos pingando bastante água - O que tá pegando? 

- O que tá pegando é o seguinte: o seu paizão aqui tá sob total risco de morte num caminho mais fácil que poderia existir. 

- Que história é essa? Me explica você aparecer assim encharcado, parece que mergulhou numa piscina. 

- Choveu e apareceu goteira no meu quarto. Saí pro trabalho e meu carro teve piripaque. Andei o resto do caminho a pé e tomei dois balaços num maior tiroteio. Minha assistente inventou uma desculpa esfarrapada pro meu chefe e ele descontou do meu salário. Voltando pra cá, levei três banhos de uns filhos da mãe se aproveitando das poças da chuva com seus carrões de última linha. Tudo bem, eu sei que você não entendeu mais nada depois que mencionei o tiroteio.

- Levou dois tiros e sobreviveu pra chegar aqui contando? 

- Sabe o arranhão que levei do gato ontem? Pois é, não era um gato qualquer. 

- E todo esse dia ruim é culpa desse gato amaldiçoado ter te arranhado... - disse Nathan voltando-se para o laptop.

- Tá procurando o quê aí? - indagou Frank olhando para o computador. 

- Alguém muito capacitado pra te dar as informações corretas sobre esse gatinho malvado. - disse o jovem, logo virando o laptop para Frank - Esta é Miyako Yamazaki, a ficha dela no site da biblioteca onde ela atua como orientadora pra pessoas interessadas em mitologia que querem achar bons livros. Especializada principalmente em mitologia japonesa. 

- Conheço essa biblioteca História Sem Fim, quando eu era criança visitei ela num passeio da escola. 

- Dá uma passada por lá, procura pela Miyako e tira todas as dúvidas. Mas você tem que...

- Sim, sim, tomar cuidado pra não morrer e ressuscitar no meio do caminho. Vou só me secar pra não pegar um resfriado mortal. - disse Frank, andando até a escada. Nathan ficou a pensar na ameaça real de perder seu pai para a maldição. 

Um espirro de Frank enquanto subia a escada o tirou dos devaneios. 

                                                                                ***

Ao chegar na biblioteca, Frank sentiu um misto de nostalgia pelo passeio da escola e alívio por não ter sofrido nada durante o percurso até o local. Ele rapidamente detectou Miyako próxima de umas pessoas.

- Até mais, voltem sempre. - disse Miyako despedindo-se dos leitores que vieram solicita-la. Era uma jovem de face atraente com feições genuinamente asiáticas e madeixas pretas bastante lisas que se estendiam até a base da coluna. Ela virou-se para olhar quem vinha se aproximando - Olá, no que eu posso ajudar? Ou perguntando melhor: O que um detetive faz aqui?

- Gostaria que me indicasse os melhores livros de mitologia japonesa do seu acervo. - disse Frank observando as altas estantes repletas de exemplares - É pra um trabalho escolar... do meu filho. 

Miyako rapidamente estudou a face de Frank notando as marcas dos arranhões feitos pelo gato. 

- Escuta aqui, não tenta me fazer de boba, tá legal? O trabalho é todinho seu, essas marcas no seu rosto junto ao seu pedido já deixam evidente que... você foi atacado por um gatinho perseguidor que te condenou a uma maldição. - disse a bibliotecária, analítica - Vem comigo. - ela se direcionou a um ponto mais discreto onde poderiam conversar reservadamente. 

A jovem pegara um livro de uma estante numa altura que precisou de um banquinho para subir. 

- O básico do folclore japonês. - disse Miyako pondo o livro sobre a mesa - Essa criatura é uma das mais presentes nos dois mundos, ficção e realidade. - abriu o livro passando o dedo no índice - Aqui, o Bakeneko. 

- Então você é um tipo de pesquisadora que acredita na veracidade das lendas do seu país? 

- Basicamente isso. E sou nipo-americana. Da parte do meu pai, venho de uma família que segue as tradições fielmente e faz questão de transmiti-las aos descendentes. Agora sobre você... Entrou numa tremenda enrascada. 

- Diz uma coisa que eu não sei. 

Miyako abrira na página que abordava sobre o Bakeneko. 

- Um gato pode vir a se tornar um Bakeneko ao atingir uma certa idade depois que acaba morrendo de alguma forma. 

- Quer dizer que se eu matar um gato atropelado e ele estiver com a idade específica... 

- Ele renasce como um Bakeneko pra sair amaldiçoando quem quer que encontre pelo caminho. Usam de uma tática manhosa pra gerar simpatia em pessoas que possam adota-los. Além de poderem assumir a forma humana de acordo com o seu sexo. O único modo de quebrar a maldição é "simplesmente" - fez aspas com os dedos - o matando. 

O celular de Frank vibrara naquele instante. O detetive pegou-o, mas quase derrubou-o no chão.

 - Opa, dessa vez não. Hoje ele quase caiu no vaso sanitário. - atendeu a chamada no viva-voz - Oi, Carrie, qual a boa ou ruim que você manda? Tô aqui numa biblioteca conversando com uma nova amiga que fiz sobre o gatinho azarento. 

- Frank, ao que parece, temos uma boa pista. Um monte de cartazes na zona oeste da cidade estampam a imagem de um gato preto, ou melhor, uma gata chamada Amy desaparecida há dois dias. A dona dela, Emma, tem treze anos e tá oferecendo uma recompensa de 100 dólares pra quem achar a gatinha. Você mora na zona oeste, dois dias de sumiço do bichano... Vamos encarar que coincidências não existem quando estamos lidando com uma causa paranormal.

- OK, Carrie, me envia mensagem depois informando o endereço dessa menina. Tá certo, falou. - desligara - Estranho você não ter ficado surpresa com eu agir normalmente ouvindo sobre um gato morto-vivo que lança uma praga de má sorte. 

- Caras como você não são novidade pra mim. - disse Miyako sorrindo levemente de forma misteriosa - Já fui procurada por alguns que não faziam ideia do que seria uma Kitsune. Fico feliz em poder ajudar mais um. Mas deve correr contra o tempo pra encontrar o Bakeneko antes que ele se fortaleça e se torne um Nekomata. Após um determinado período, o Bakeneko ganha um apetite incontrolável por cadáveres recém-enterrados. 

- Tá rolando um caso de sepulturas violadas num cemitério bem próximo da minha zona... 

- É um bom indício de que ele tornou-se um Nekomata. Mas não é tarde, ainda pode se salvar, embora as vítimas da maldição não durem mais que um dia, isso se não forem prevenidas, mas quanto mais se escapa de um destino mortal maior é a tendência de uma morte pior acontecer. Quantas vezes você já morreu?

- Duas vezes. Uma sendo baleado num tiroteio e outra ligando o microondas com as mãos molhadas depois de levar banho de água empoçada na rua. Eu já ia me secar, mas me bateu uma fome de leão.

- A maldição distorce as probabilidades colocando-as sempre ao desfavor de quem foi afetado. Segure essas cinco vidas restantes pra localizar o Nekomata o quanto antes até o fim do dia porque até lá é muito provável que sobre apenas a última. - disse Miyako, logo virando a página e mostrando a gravura de um Nekomata - Nekomatas são Bakenekos cujas caudas se dividem em duas, podem manejar o fogo causando incêndios. Se souber de algum incêndio sem causa aparente, me avise.

- Ué, por que? Não querendo te desmerecer, mas sua utilidade acabou aqui, eu tô largado à minha própria sorte. 

- Talvez não. - disse ela fitando-o com seus olhos puxados - Sempre há uma esperança. 

Frank assentiu devagar olhando-a com certa desconfiança. 

- OK, valeu pela ajuda, Miyako. Por acaso você tem contato com algum caçador?

- Tenho um amigo. Se quiser, posso chama-lo pra te acompanhar na caçada. 

- Sou bem acostumado a ser exército de um homem só. Posso te ligar pra falar minha decisão. 

- Tudo bem. - disse ela retirando um papelzinho do casaco jeans - Meu número. 

- Muito bem, agora é hora de ver o que consigo sobre a tal garota que supostamente adotou o Bakebake.

- Bakeneko. - corrigiu Miyako - Boa sorte. - Frank levantou uma sobrancelha - Não é ironia. 

Um pouco distante dali, mais precisamente em uma casa de estrutura precária e alquebrada, um gato preto alimentava-se fartamente de um corpo putrefato mordiscando pedaços do peito. Ao se sentir satisfeito, andou miando baixinho pelo local, suas patas sujas deixando uma trilha de pegadas sangrentas. Balançava sua cauda dupla ao desfilar até uma parte onde o chão estava banhado por um pouco de luz solar graças a uma fresta no teto decrépito. 

Sentou-se e lambeu o sangue na sua pata dianteira olhando de soslaio para o cadáver ansioso para continuar a refeição.

                                                                             ***

Emma estava deitada na sua cama ouvindo música pelo celular com fones nos ouvidos. O abrir da porta a fez tira-los. 

- Filha, boa notícia: Enfim apareceu alguém disposto a encontrar a Amy. Entre, detetive. Fique à vontade. - disse a mãe de Emma.

- Obrigado. Com licença, Emma. - disse Frank adentrando no quarto da garota.

- Quem é o senhor? Um detetive interessado em achar meu gato? 

- Tem muita gente que acha mó estranho bombeiros salvarem gatinhos nas árvores. Saiba que os detetives também cuidam de animais desaparecidos. Sua mãe disse que você não tá indo mais à escola, até adoeceu... 

- Desde que a Amy desapareceu, fiquei deprimida, mesmo ela tendo... - disse Emma, interrompendo-se ao tocar no seu antebraço esquerdo no qual Frank pôde reparar marcas de arranhões. 

- O que foi isso no seu braço? - perguntou Frank aproximando-se. 

- A Amy. - respondeu Emma visivelmente desanimada - Eu tirei uma foto dela pra colocar num cartaz quando ela sumisse, só que ela não gostou e atacou com unhas e dentes. Bem, mais unhas que dentes. 

- Você ficou doente sem nenhuma tipo de causa, estava bem e de uma hora pra outra ficou mal? 

- Aconteceram umas coisas chatas comigo, tudo estava dando errado e... o sumiço da Amy só me atormentava, ainda dói tanto, eu... gostei tanto dela assim que a vi pela primeira vez. - disse Emma num tom choroso. 

Novamente Frank observou os arranhões no braço de Emma. 

- Emma, você não teve uma sensação de... ter morrido? 

A garota emudeceu diante da questão. 

- Às vezes enquanto eu durmo, tenho a sensação de que estou caindo. Mas depois que a Amy sumiu aconteceu com mais frequência. Traz ela de volta, por favor, detetive. Eu pus uma fitinha roxa no pescoço dela. 

- Se eu chegar a encontra-la, vou recusar os 100 dólares. Farei isso por você. 

- Obrigada. - disse Emma, baixando a cabeça com um fraco sorriso. 

Lutar pela vida de uma garota de 13 anos complementava a missão de Frank em lutar por sua própria. Determinou-se a encerrar o caso naquele mesmo dia sem que nenhuma das vidas se perdesse. 

O mais preocupante e desesperador para ele estava na inexatidão das vidas restantes de Emma. 

                                                                               ***

Nathan se encontrava numa lanchonete e cafeteria aguardando trazerem o que pediu, além de esperar também uma companhia. Vislumbrou pela janela o carro da pessoa com quem marcara o encontro naquela tarde. 

Um minuto depois, veio para sentar-se frente à ele compartilhando aquela mesa. 

- E aí, o que achou da mais nova vítima do gato amaldiçoado que te falei? - perguntou Nathan. 

- Não é lá um doce de pessoa, mas... acreditou na minha sabedoria mitológica. - disse Miyako. 

- Não surta com o que eu vou dizer agora, tá bom? Aquele cara... é o meu pai. 

- O quê? Seu pai?! - disse Miyako mais alto do que deveria - Conheci meu possível futuro sogro e não me disse nada?! 

- Disse possível sogro, dá pra ver a fé que você bota na nossa relação. 

- Nós dois sabemos que seria incerto... por conta do peso que carregamos. - disse Miyako com um olhar meio tristonho - Eu falei pra ele sobre o Bakeneko que muito provavelmente já é um Nekomata à essa altura pois segundo ele um cemitério teve sepulturas violadas e corpos exumados. O Nekomata está recolhendo corpos e se ele adquirir uma terceira cauda pode coincidir com a última morte do seu pai.

- Se depender de nós, ele sobrevive. - disse Nathan firmemente - Inclusive, eu já entrei na luta pra caçar esse monstro. - fez uma pausa, suspirando - Viu? Tirei a barba. 

- Falei que deixava mais velho, não feio. 

A garçonete, uma jovial e bela mulher caucasiana de cabelos pretos, vinha trazendo um prato com uma pilha de panquecas.

- Prontinho. - disse ela colocando sobre a mesa. 

- Ah, já não era sem tempo. - disse Nathan pegando um garfo. Porém, a garçonete ficou a olha-lo por alguns segundos - O que foi? 

- Nada. Bom apetite. - disse ela, logo dando as costas. Enquanto andava lentamente, os olhos dela simularam aos de um gato numa expressão fortemente séria. Nathan enfiou uma boa porção de panqueca na boca quando ouviu um barulho dentro do bolso interno da sua jaqueta de couro preta. Retirou um medidor EMF que registrava leitura máxima. 

- Que troço é esse? - perguntou Miyako franzindo a testa ao ver o aparelho. 

- Dispositivo pra detectar atividade paranormal, vulgarmente chamado de caça-fantasma eletrônico. De novo chegou no limite. Já atesta que o Nekomata está aqui.

- Tem muita gente, pode ser qualquer um. 

- A garçonete. - apontou Nathan - Ela é a única de serviço. Quando ela veio fazer a comanda, o dispositivo apitou. 

- Me parece loucura confiar num brinquedinho barato de caçador.

- Eu confio e digo que vou ficar lá fora vigiando pra ver aonde ela vai após o fim do expediente.

Miyako virou o rosto para olhar com suspeita a garçonete que anotava pedidos noutra mesa. 

- Tá legal, fica de vigia. Mas se perceber algo de errado com ela, por favor, me liga.

- Fechado. - disse Nathan garfando mais um volumoso pedaço de panqueca e pondo na boca. 

                                                                              ***

Frank atravessava correndo a rua para chegar ao posto de gasolina no qual Miyako parara para abastecer seu carro e pediu Frank para vir urgente pois teria algo importante a contar.

- O que tiver de tão alarmante pra falar espero que valha o tanto de perna que gastei da minha casa até aqui. - disse Frank aproximando-se dela. 

- Não é bem sobre o Nekomata, mas precisamos agir rápido. - disse Miyako aparentando estar aflita e nervosa sobre o andamento da missão solo de Nathan - Em qual vida você está? 

- Na quinta. - disse Frank, contidamente aturdido. 

- Como perdeu mais duas vidas estando seguro em casa? - perguntou Miyako. 

- Tropecei no carpete, caí em cima da minha mesinha de centro onde tinha um vaso de vidro caríssimo que ganhei de presente da minha mãe e um caco enorme atravessou minha garganta. E a última morte... - não parecia muito à vontade para descrever - ... foi tentando fazer força pro número dois sair.

- Ai, nossa. - disse Miyako, espantada - Você decidiu se quer a ajuda do meu amigo caçador?

- Eu saí na esperança de que você ia me apresenta-lo. 

- Não deu pra traze-lo porque... ele tá agora na lanchonete de vigia pra seguir a garçonete que suspeitamos ser o Nekomata. Tivemos um encontro lá e ele me contou que... era seu filho. 

Frank tomara um susto que lhe deu a brevíssima impressão de que iria golfar seu coração. 

- O Nathan?! - disse o detetive, embasbacado - Esse é mundinho é pequeno demais mesmo. 

- Somos quase como ficantes ainda, mas querendo muito subir de nível. - revelou Miyako. 

- Agora entendi porque ele te indicou. Ele sabia da natureza do gato e fingiu pra que eu pudesse conhecer a namoradinha dele. Garoto esperto. 

- Temos que ir, estou com um mau pressentimento. Pode ser nossa única chance. 

- Vamos nessa então, juntos dar um fim na bola de pelos carniceira. - disse Frank naquele momento pensando também em Emma - Só espero que cheguemos antes do turno da garçonete de araque acabar. 

Em frente ao estabelecimento, Nathan estava dentro do seu carro, uma caminhonete preta, sem desgrudar os olhos da fachada da lanchonete, pacientemente esperando a garçonete finalizar o expediente. As luzes apagaram-se de repente.

Ficando mais alertado com o súbito apagar das luzes, Nathan observou com mais atenção, mas com a ansiedade tomando o lugar da paciência. Pegou um binóculo, mas não conseguiu enxergar nenhum vulto. O jovem caçador saiu do carro em direção a porta da frente da lanchonete ouvindo o cricrilar dos grilos como o som mais predominante naquele horário.

Pegou na maçaneta de ferro e abriu vagarosamente a porta vitrificada. Entrou cauteloso com passos silenciosos. 

Olhou em volta não sentindo a presença de ninguém. "Onde ela se meteu?", pensou ele.

Sem aviso, uma mão com garras afiadas avançara saindo da escuridão contra o rosto dele arranhando-o. Nathan recuou agilmente, mas as garras produziram um arranhão severo. A garçonete estava diante dele numa posição ofensiva.

- Eu sabia, o EMF nunca erra! - disse Nathan, os arranhões na face desaparecendo.

- Está se curando?! - disse a Nekomata, surpresa - Nossas suspeitas um com o outro se confirmaram. 

- Por isso ficou olhando pra mim... Seu sensor extrassensorial disparou, não foi?

- Um monstro sempre reconhece outro. - disse a Nekomata sorrindo cinicamente. 

- Vai achando que sou como você. - disse Nathan pronto para uma briga. Desferiu um soco contra ela que revidou com um arranhão no peito e em seguida com uma joelhada no queixo, mas não o suficiente para derrubar o híbrido de uma górgona e um humano. Nathan limpou sangue da boca - Isso é tudo?

A Nekomata ergueu de leve a mão direita e uma bola de fogo violeta surgira. Disparou certeiramente contra Nathan. Ao ser atingido pelas chamas, o jovem caíra aos gritos ao sentir o calor causticando sua pele. Nathan rolava no chão pata apagar o fogo desesperadamente enquanto sua algoz se divertia com seu sofrimento. As labaredas se apagavam aos poucos. 

- Suponho que está arrependido de perguntar. - disse a Nekomata que o pegou pela gola da jaqueta e o jogou contra uma parede. Nathan caiu, mas teve força para se sentar e suportar as queimaduras. A Nekomata vinha se aproximando dele. 

- Onde está... a verdadeira pessoa dessa aparência? - perguntou ele meio debilitado. 

- A última garota idiota que me acolheu? Ensaquei ela junto com os corpos que guardei no meu esconderijo. - disse ela agachando-se. Orelhas de gato brotaram de sua cabeça - Filha do dono dessa espelunca, o que me deu a vantagem de ficar até mais tarde pra organizar o estoque de lixo que os humanos comem e pegar você no ato. Acha que não o vi bem ali me esperando sair? Melhor dizendo: Escutei sua conversinha com a namorada, então você desperdiçou tempo e vai desperdiçar sua vida tentando se livrar de mim. - acendeu mais uma esfera de fogo violeta da mão e a aproximou ao rosto de Nathan cruelmente. As chamas crepitantes queimaram um pouco da pele do rosto dele - Pensei num bom plano agora. Já volto. 

Naquele momento, Frank e Miyako finalmente chegavam. A namorada de Nathan não o avistou dentro da caminhonete. 

- Ah não, ele não tá no carro! - disse ela em tom angustiado. 

- Fica aqui, vou dar uma reforço pra ele se o gato-monstro estiver lá tomando uma coça ou dando uma coça nele. - disse Frank pondo sua mão direita na porta para abria-la. Miyako o encarou contrariada. 

- De jeito nenhum. Hora da arma secreta. - disse ela, logo saindo do carro. Frank saíra também. 

- Do que você tá falando? - perguntou o detetive, curioso - Tem uma arma especial pra matar a coisa?

Miyako abria o porta-malas pegando uma espada katana embainhada. A desembainhou fazendo um som cortante.

- Uau, espadona irada. - disse Frank, maravilhado com a katana. 

- A herança mística que atravessou quinze gerações do clã Yamazaki. Alguns do meus ancestrais da linhagem do meu pai eliminaram Bakenekos e Nekomatas com ela. Chegou a minha vez de empunha-la.

- Peraí, então você é uma descendente de samurai e... caçadora? 

- Mas não vá pensando que caço exclusivamente yokais. É que não venho trabalhando muito nisso nos últimos anos. Tava afim mesmo de retornar aos nem tão velhos tempos. 

- Traçando um plano: Eu pelos fundos pra salvar o Nathan se ele estiver em apuros e você pela frente pra distraí-la. OK? - perguntou Frank dando uma piscadela para ela. Miyako concordara - Pois vamos lá botar a mão na massa. 

A Nekomata pegara dois galões de gasolina. Já havia terminado de esvaziar um e estava utilizando o outro jogando nas mesas, cadeiras e no balcão. Nathan fora algemado, incapaz de se aguentar em pé com as queimaduras em carne viva que demoravam para se regenerar. O segundo galão acabara de ser esvaziado até a última gota.

- Cheguei a pensar que fosse renegar minha tendência incendiária. Não dá mesmo pra evitar. - disse a Nekomata que logo acendeu uma chama violeta do seu dedo indicador direito e a baixava para o balcão molhado de combustível. Mas antes que o fogo encostasse um milímetro no líquido, uma voz bradou.

- Parando aí! - disse Miyako adentrando na lanchonete. A Nekomata soprou a chama do seu dedo, apagando-a. 

A caçadora destemidamente apontou a katana para a Nekomata com a brisa noturna que entrava pela porta escancarada fazendo seus cabelos esvoaçarem levemente. Aproximou-se e entreviu um combalido Nathan no canto escuro. 

- O que fez com ele? - perguntou Miyako, ríspida. 

- Ora, ora... Essa noite não para de surpreender. Mais um pra fritar. - disse a Nekomata que avançara contra Miyako para desferir seus arranhões. A caçadora tentava golpeia-la com a katana, mas a criatura se esquivava com uma habilidade inigualável. A Nekomata socara-a bem no nariz e dera uma bofetada com o dorso da mão direita fazendo-a cair perto de uma mesa. A katana largou-se ao chão, mas logo a Nekomata pegou-a cravando fundo na barriga de Miyako. 

- Não, Miyako! - gritara Nathan atônito. Tentou partir as algemas, mas não dispunha de força o bastante. 

Frank chegara pelos fundos dando um tiro na Nekomata. O disparo a acertou no rosto, mas não causou dano algum. A Nekomata largou a espada e partira para cima de Frank que dispensou a arma para usar os punhos. Conseguiu ao menos acertar um cruzado de direita nela. Porém, a criatura revidou abaixando-se e prendendo o pescoço de Frank com seus pés, jogando-o para cim de forma que o arremessasse para longe. O detetive caiu atrás do balcão batendo a cabeça forte na parede. Nathan empreendeu mais força nos pulsos. As algemas enfim partiram-se e ele pôde se arrastar até Miyako. 

- Fala comigo, Miyako. Fica comigo. - disse ele quase aos prantos. Verificou a perfuração profunda. Em seguida, Nathan abriu sua boca cujas presas se alongaram e afinaram-se e mordera seu pulso direito. Colocou sobre a ferida de Miyako - Não vou deixar que você morra assim. - da mordida pingou gotas de um líquido embranquecido na perfuração que sangrava abundantemente. Miyako recuperava os sinais vitais e Nathan sorriu ao vê-la abrindo os olhos. 

- Vamos logo terminar com isso, sei que essa não é sua última morte. - disse a Nekomata para Frank - Deixa eu adivinhar: Traumatismo craniano? Tudo bem, você quem sabe. Finja-se de morto. - dera as costas, indiferente.

O detetive se reerguia como se nada tivesse acontecido e acertara um tiro nas costas dela. 

A Nekomata virou-se furiosa, abrindo sua boca com dentes felinos e lançou uma esfera de fogo. Frank abaixou-se e depois pulara sobre o balcão. Nathan agilmente levantou-se pegando a katana e a jogando para Frank. 

- Pega! - gritou ele. A espada girou no ar, sua lâmina afiada cintilando. Frank a segurou pelo cabo com firmeza. Nathan agarrara a Nekomata por trás concentrando força nos seus braços com suas habilidades de híbrido já recompostas - Vem pro abraço. - disse ele a imobilizando. No entanto, a Nekomata dera uma cabeçada para trás e em seguida girou dando um chute no rosto de Nathan que fora derrubado. Mal sabia que a investida do jovem caçador não passara de uma distração. 

A katana transpassou o peito da Nekomata bem no meio vinda detrás dela. Frank sorria triunfante segurando a espada. 

- Sayonara, gatinha. - disse o detetive, logo retirando a katana ensanguentada. 

Labaredas violetas alastraram-se dos pés à cabeça da Nekomata que gritava por sua derrota. O fogo a consumiu de baixo para cima até não sobrar nenhuma fagulha em pleno ar. Respirando mais aliviados, Frank e Nathan compartilhavam um olhar de satisfação pelo sincrônico trabalho. O detetive estendera a mão direita para ajudar o filho a levantar-se. Miyako se reerguia, intrigada com sua recuperação estranhamente imediata. 

- Convenhamos que foi um bom trabalho de equipe. - disse Frank - Miyako, desculpa por... você sabe, a espada... 

- Não, sem problema. - disse ela compreensiva, vindo até eles - Combater um Nekomata por poucos segundos provou minha inexperiência. Não sou digna de empunha-la, não estou à altura do clã. 

- Anda, vem cá, você fez o melhor que pôde. - disse Nathan tocando-a no ombro para perto dele. 

Frank pigarreou forte fazendo ambos olharem fixamente para ele. 

- Não vão oficializar o namoro perante o sogrão aqui? 

- A gente tá numa fase de indecisão, pra ser bem honesto. - disse Nathan - Vou com a Miyako no carro dela enquanto você... - retirou a chave do carro e as jogou para Frank - ... dirige o meu. Se te servir de consolo. 

- Chama de consolo dirigir uma caranga de segunda mão daquelas? - perguntou Frank caminhando para sair dali. 

- Ah, para de reclamar, tô prestando um favor. - disse Nathan de mãos dadas com Miyako seguindo-o. 

                                                                              ***

Na manhã seguinte, Frank batia à porta da casa de Emma escondendo uma caixa média enrolada com papel de embrulho para presente com direito a um laço vermelho. A mãe da garota o atendera. 

- Detetive Montgrow, que bom revê-lo. Alguma pista de onde a Amy está?

- Na verdade, não. Eu lamento, mas a gatinha da sua filha acabou indo mais longe do que ela esperava. 

- Está bem... De qualquer forma, seria uma busca muito árdua, quase impossível de acabar bem. 

- A Emma está? Tenho uma surpresinha pra ela. 

A mãe de Emma baixou os olhos para as mãos escondidas de Frank segurando a caixa e sorriu.

- Ela já vem, só um minuto. 

Frank olhou para trás vendo Nathan dentro da caminhonete compenetrado no celular. 

- Oi, detetive. Mamãe me contou sobre a Amy... - disse Emma um tanto desconsolada.

- Pois é, infelizmente não obtive nenhuma pista do paradeiro atual dela. Por outro lado, nesses casos, há sempre um substituto pra preencher o vazio no coração. - disse Frank mostrando a caixa. Desatou o laço e abrira-a. 

Emma boquiabriu-se de felicidade ao ver um gatinho preto emergir sua cabeça para fora da caixa. 

- Eu nem sei o que dizer. Ele é lindo! - disse ela, pegando-o no colo - É ele ou ela? 

- Como eu via que a ausência da Amy te maltratava, fiz questão de escolher uma fêmea. 

- Não precisava, detetive... - disse a garota contendo o choro de emoção - Obrigada. Muito obrigada. 

- De nada, você merece. - disse Frank - Tá tudo bem com você? Não teve mais quedas no sono?

- Não, me sinto bem melhor, até os arranhões no meu braço se foram. Valeu mesmo, você é incrível. 

- Já pensou no nome que vai dar pra novata? 

- Hum... Talvez mais tarde. Por enquanto, ela se chamará... Amy. 

Frank deu uma risadinha bem-humorada. O detetive se despediu da mãe e da filha, ambas imensamente gratas. 

Voltando ao carro, Nathan estava pensativo e sério. 

- Que cara é essa? Tá bolado porque te forcei a inteirar os 70 dólares pra comprar o gatinho no pet-shop? 

- Não é nada disso, você fez uma coisa super-legal pra essa menina. Tô feliz que ela sobreviveu a maldição. 

- E qual é o lance problemático da vez pra você não esboçar nem um tiquinho de bom-humor? 

- A Miyako e eu terminamos. - disse Nathan, lacônico. Frank reagira com certo espanto. 

- Caramba, mas já? Ah sim, a tal fase de indecisão que você falou. Mas por que exatamente? 

- Dois caçadores vivendo um romance é inconciliável na prática. - explicou Nathan parecendo meio frustrado, mas parte dele estava conformado com o término - Ontem eu quase a perdi por causa do que fazemos. 

- Nathan, deixa eu te perguntar uma coisa: Quando cheguei pra pegar a Nekomata desprevenida, ela não contava mesmo que seriam três contra um, eu vi de relance a Miyako caído no chão parecendo bem mal. Depois que você me jogou a espada, notei que ela tava suja de sangue. A Nekomata empalou a Miyako, mas a japinha se levantou como se estivesse ilesa. Que negócio foi esse? Como ela se recuperou tão depressa? 

Uma onda de tensão tomara a mente e o corpo de Nathan que procurou a melhor desculpa possível.

- Foi um soro curativo que eu guardava num frasco. Coisa do futuro. Reservei pra uma ocasião conveniente. O ferimento da Miyako foi leve comparado ao que você sofreu pelo Varcolac, por isso a dose que eu tinha não seria suficiente pra te curar. 

Frank fazia que sim com a cabeça lentamente olhando para o filho com uma face moderadamente séria.

- Sorte que funcionou, você foi o herói dela. É uma pena vocês terem rompido. A Lucy teria gostado de uma nora meio nerd como ela, duas mentes investigativas de dois mundos diferentes. 

Nathan expressou um sorrisinho fraco imaginando como seria uma relação entre as duas. 

- Por falar na Lucy... digo, a mamãe... Como planeja avançar com ela pro dia D?

- Olha, Nathan, como o seu pai, tenho que ser inteiramente sincero com você. Eu não sei se as coisas entre mim e a Lucy vão desenrolar da forma que você tanto espera. Ouviu o que ela disse anteontem, se sente atrasada pra ser mãe. 

- Mas aconteceu naturalmente, não tem como ser diferente, vocês se amam, se respeitam... 

- Ah tem sim, Nathan. A diferença é que no seu tempo não houve influência de nenhum viajante. Mas aqui, nessa outra realidade, apenas eu sei, apenas eu tô a par da confusão que tá por trás do seu nascimento. O pior é que não sei mais que a ponta do iceberg. E se a sua presença tiver afetado a maneira de pensar dela? Tinha que considerar detalhes como esse antes de ter vindo pra cá. Com isso eu quero te dizer que... não dá pra garantir 100%. Tá doendo tanto em você quanto em mim, pode crer. Não importa o que aconteça, eu já me sinto abençoado por ter conhecido meu filho mesmo sem pegar no colo quando bebê. Mas temos que encarar as incertezas. Eu tô pronto pro que vier. Você também tem que estar. 

Lágrimas brotavam e caíam dos olhos de Nathan que olhava para o nada afundado em pessimismo. 

O caçador apenas ligou o carro sem responder nada do que Frank lhe dissera. 

- Tá legal, pisa fundo. - disse o detetive, voltando seus olhos para frente avaliando se o que havia acabado de manifestar não foi algo semelhante a esmagar todas as esperanças do seu filho. 

                                                                                 -x-

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://br.pinterest.com/pin/850054498396826851/

Comentários

As 10 +

A expressão "lado negro da força" é racista? (Resposta à Moo do Bunka Pop)

10 melhores frases de Avatar: A Lenda de Aang

10 episódios assustadores de Bob Esponja

10 melhores frases de My Hero Academia

10 melhores frases de Samurai X

10 melhores frases de Hunter X Hunter

10 melhores frases de Bob Esponja

Frank - O Caçador #33: "O Que Aconteceria Se..."

10 melhores frases de Fullmetal Alchemist

10 melhores frases de O Homem de Aço