Frank - O Caçador #81: "As Garotas Finais"

Ninguém esperava que aquele pacato e divertido acampamento entre amigos pudesse virar um show de horrores numa mudança brusca e traumática de clima. Caroline era uma jovem participante da reunião arruinada que fugia sem rumo pela floresta afastando galhos, vinhas e folhagens pelo caminho indefinido que percorria, seus cabelos castanhos ondulados balançando com a frenética corrida. Deu uma olhadela para trás e vislumbrou a figura de um perseguidor portando uma faca com gume de fio da mais alta qualidade já testada para suas práticas sanguinárias. A face de Caroline ficou lívida de pavor. 

Suas pernas aceleraram mais quando avistou uma cabana aparentemente desocupada. Empurrou a porta com as duas mãos e a fechou com força. A jovem sentou-se encostada na porta ofegando numa recuperação vagarosa de fôlego. Pegou o celular para fazer uma ligação direcionada a alguém que tenha escapado com vida além dela. 

- Daphne, atende, pelo amor de Deus... - disse ela debulhando-se em lágrimas - Eu sei que você tá viva... Dá um sinal, por favor. - seu choro tornou-se mais copioso com o prolongar dos toques da chamada - Eu não quero perder mais ninguém. 

De súbito, a faca do maníaco perseguidor atravessou a madeira frágil da porta bem à esquerda de Caroline fazendo ela soltar um berro agudo de medo olhando para a ponta da lâmina. Correu e se colocou embaixo de uma cama com pernas meio altas que até poderia ser um refúgio desvantajoso visto que havia uma facilidade do assassino nota-la com um pouco de atenção. 

O maníaco fizera vários estragos na porta achando que sua vítima estaria ainda ali encostada, logo em seguida entrando ao arromba-la com o ombro. Vasculhou com os olhos o interior da cabana sob a máscara branca com olhos redondos e vazios como a escuridão também possuindo uma boca de "lábios" pretos formando um leve sorriso. Caroline cobria a boca com as mãos tremendo e suando, os olhos arregalados devido à tensão crescente e psicologicamente torturante. 

Ao ver que os pés do assassino distanciavam-se para uma outra parte mais além da cabana, aproveitou para sair depressa. Porém, o assassino havia se escondido atrás de uma cômoda afastada da parede perto da entrada que levava ao outro cômodo. Caroline levara um golpe de tábua na cabeça caindo ao chão. Sua amiga Daphne, uma jovem afro-americana de 25 anos com cabelos encaracolados que lhe caíam aos ombros seguiu até a cabana encontrando-a por acaso. Não deu sequer um passo adentro. A cena que testemunhava lhe petrificou. O assassino desferia múltiplos golpes de faca em Caroline que gritava em agonia. Como efeito do horror que presenciou, Daphne apenas correu de volta, lamentando a morte da amiga.

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CAPÍTULO 81: AS GAROTAS FINAIS

Departamento Policial de Danverous City 

Frank navegava pela internet pelo computador na sala particular aguardando a chegada de Carrie com mais um novo caso destinado à sua expertise investigativa. Atrasos na entrega de um caso podiam demorar um pouco ocasionalmente, por isso mantinha-se tranquilo e paciente. Mas logo ouvira batidas na porta e uma voz incomum naquele horário lhe chamar.

- Frank, está aí? - perguntava Lucy dando mais três batidas. 

O detetive ergueu o olhar para a porta espantado com a visita. Teria sido mais prático simplesmente ligar, mas uma conversa pessoal representava um sinal duvidoso em vista do período do dia. 

- E-entra, Lucy. Tá aberta. - disse ele meio reticente. A investigadora adentrou na sala sorrindo simpaticamente para o namorado - Nossa, é uma baita surpresa você vir até minha sala numa hora dessas em que nós já devíamos estar zanzando pela cidade atrás de solucionar mistérios. Você costuma entrar, pegar um caso e sair mais cedo. O que houve? 

- Eu empaquei num caso que pelo visto vai descambar pro arquivo morto mais rápido que qualquer outro. - disse ela aproximando-se - Vim ver como estava. Sabe como é... O tempo de trabalho superando o que guardamos pra aproveitar entre a gente. Aliás, quero falar sobre algo em especial. Da noite do meu aniversário.

Frank fixou um olhar de estranheza nela. Uma ponta de nervosismo aflorou nele. 

- O que foi? Você quer finalmente admitir que não ficou animada com o que fizemos... 

- Não é nada disso, eu adorei, realmente foi gratificante o pouco que fizeram por mim. O centro do que quero tratar com você... é o Nathan. - disse Lucy assumindo uma face e tom de seriedade. Ela sentou-se na cadeira frente à Frank. 

- O que tem o Nathan? - perguntou o detetive meio apreensivo quanto ao tema da conversa. 

- Enquanto repartíamos o bolo, comecei a notar em vocês dois algumas... semelhanças, tanto no físico quanto no comportamento, até perguntei se não eram parentes. Você respondeu que não e isso convenceria qualquer um. 

- Menos você? - indagou Frank não gostando nem um pouco do que ela estaria insinuando. 

- Frank, parte do meu treinamento de detetive estudei módulos básicos de linguística forense. Não é como se eu pudesse dizer com clareza e convicção que alguém está mentindo, mas aprendi o suficiente para reconhecer alguns sinais, então sempre depende da forma como se está mentindo. No seu caso, acabou sendo bem simples, devo dizer. 

O cerco para fugir daquela pressão se provou impossível de romper para Frank. 

- O que você quer dizer com tudo isso? 

- Me responda, Frank: Conheceu alguém no passado após o colegial? Alguém com quem teve uma relação duradoura?

- Não quer reformular essa pergunta pra algo mais direto? 

- Só se você me prometer que será completamente honesto. - disse Lucy, sua face séria intensificando. 

- Está bem. Pode mandar sua dúvida que eu respondo ela sem desculpas nem rodeios. 

Lucy respirou fundo e suspirou longamente antes de proferir a questão. 

- O Nathan... é um filho seu? Um filho que você não viu crescer? Porque até onde fui permitida saber, você não formou relações amorosas com ninguém até nos reencontrarmos naquela escadaria por puro acaso do destino. 

- Olha, acho que você cometeu um equívoco... 

- Quero a verdade, Frank! - disse Lucy exaltada - Cada detalhe físico semelhante entre vocês dois levei em conta pra essa ideia surgir na minha cabeça. Vai me chamar de louca ao invés de abrir o jogo?

- Tá legal, se quer tanto saber, aqui vai: Sim, o Nathan é meu filho.

Um aperto no coração foi tudo que Frank sentira ao lembrar-se de Nathan e do propósito de salvar o futuro bem como sua própria existência. Lucy baixou a cabeça profundamente consternada com a resposta concisa. 

- Como você pôde? Omitindo fatos do seu passado quando expus os meus abrindo meu coração pra evoluirmos a nossa amizade pra uma coisa maior de um jeito que não tivemos coragem nos tempos do colégio. 

- Desculpa. - disse Frank timidamente. 

- Desculpa?! Afinal, o Nathan sabe dessa verdade? 

- Ainda não. - respondeu Frank como se aquela mentira pudesse refrear as implicações severas no futuro. 

- Então primeiramente é a ele quem deve as desculpas. Depois nos resolvemos.

- Olha, eu sei que foi uma tremenda mancada da minha parte te esconder isso... 

- Frank, por favor, você e o Nathan terem se encontrado e virado amigos foi uma chance dada à você de reconhecer o erro do passado e conserta-lo. Se continuar faltando com sua responsabilidade, minha confiança por você só vai cair. Se não estiver nas suas mãos, então estará nas minhas. - disse Lucy levantando-se. Carrie de repente adentrou na sala.

Lucy virara as costas para o detetive que também levantou-se. 

- Espera aí, Lucy, me deixa te explicar melhor... 

- Bom dia, Carrie. - disse a investigadora para a assistente que retribuiu com um sorriso cordial, logo saindo dali. 

Frank passara a mão no rosto atordoado com o fim da discussão que perigava sinalizar o fim de seu relacionamento. 

- Se não estiver nas suas mãos, então estará nas delas... - disse Carrie - O que rolou entre vocês? 

- Não precisa fingir, Carrie, sei que você escutou a conversa atrás da porta... - disse Frank. 

- Só peguei o finalzinho. - esclareceu ela - Impressão minha ou... foi a primeira briga de casal? 

- Não brigamos exatamente, acontece que... - Frank interrompeu sua fala largando-se na cadeira - ... eu estraguei tudo, ferrei com a missão do Nathan. A Lucy e o intelecto genial de detetive dela também colaboraram pra isso. Não vou ser perdoado.

- Abriu o jogo total com ela?! Frank, tem ideia do que dar com a língua nos dentes à essa altura do campeonato pode acarretar pro futuro do Nathan. Você sabe, as consequências da viagem no tempo. Nathan corre o risco de nem nascer. 

- Ela veio me interrogar botando pressão sobre uma análise que fez durante a festinha de aniversário dela lá em casa se baseando na minha interação com o Nathan, daí formou uma hipótese de sermos parentes. Respondi que não éramos, só que não ficou satisfeita e teve que cobrar honestidade de mim. Fizemos um voto de compromisso com a sinceridade, nada de segredos entre nós, então não havia escapatória pra mim quanto à isso, fui lerdo de não pensar que ela poderia desconfiar. 

- E ainda mentiu dizendo que o Nathan não sabe. - disse Carrie num tom reprovador. 

- Ela pensou que ele fosse um filho meu que não assumi. Mas eu compliquei as coisas falando que ele não sabe que conheceu o pai. Se o Nathan souber é capaz de chutar o balde e voltar pra época dele. 

- Olha, Frank, desde que me contou sobre ter conhecido seu filho vindo de um distante futuro e já homem feito, eu não parei mais de refletir nisso deitando na cama pra dormir. Sendo bem franca, gosto de pensar que... o Nathan ir embora talvez seja a melhor das opções. Se conformar com a própria realidade em que cresceu e foi obrigado a suportar. Ao menos ele realizou o sonho de te conhecer. No lugar da Lucy, eu também não reagiria nada bem se soubesse de um filho desconhecido. 

- Uma chance de arrumar essa cagada ela me deu, pelo menos, melhor do que simplesmente falar que tá tudo acabado. 

- E se estiver mesmo? Provavelmente ela não só não quis ser literal pra não magoa-lo. Você é um cara de muitos esqueletos no armário, Frank. Imagine se uma hora ela descobre do seu ofício de caçador e investigador paranormal? Contar a verdade sob pressão pode ter sido apenas o começo de uma crise que tende a piorar. 

Frank pusera as duas mãos no rosto sentindo um peso emocional fatiga-lo. 

- De qualquer forma, esse meu papo reto com o Nathan sobre minha relação com a Lucy estar por um fio pela verdade que fui obrigado a dizer tem que rolar mais cedo ou mais tarde. Não, antes do dia em que eu... chegaria no auge com ela. Mas já tá tudo perdido por minha causa. O Nathan vai embora me odiando, eu perco a Lucy pra sempre e o Nero vence. 

- Mas e o Axel? Tem um fiel escudeiro nessa batalha caso o Nathan debande. 

- Ou se o Axel ficar livre de vez da influência possessora do Nero. Ele tá mais de um mês trancado no porão e eu o sustentando como se estivesse dando ração pra um cachorro. Ah, dane-se, quero arejar a mente sem pensar mais nisso por hoje, tá me dando dor de cabeça. Mandei o Nathan encher o tanque do carro e indiquei um caso de supostos ataques de animais em Ylon pra ele espairecer um pouco. Me passa o caso aí. - disse Frank, estendendo a mão direita. 

- Tá na mão. - disse Carrie entregando a pasta - Que tal algo mais pé no chão, pra variar? 

- Bem, faz um tempinho mesmo que não lido com casos de assassinos em série, ainda mais os típicos de filmes de terror onde tem sempre uma mina que sobrevive e encara o assassino ou apenas foge. Uma tal de Daphne Foster foi a única sobrevivente de um massacre num acampamento entre amigos da faculdade, todos eram formados e com suas vidas bem resolvidas até serem esfaqueadas brutalmente por um maníaco mascarado. 

- A Daphne mencionou que duas amigas virtuais suas, Faye e Becky, escaparam de um assassino do tipo em outros rolês com amigos tendo sobrevivido a duas chacinas. Essas são as garotas finais mais espertas ou mais sortudas do mundo. 

- Diz aqui que essa Faye se recusou a participar do acampamento, chegando a insistir em convencer Daphne a não ir. A própria Daphne expôs as conversas por celular à polícia. Ela organiza um evento todo dia na rede social. É com ela que vou ter uma palavrinha agora mesmo já que ela também depôs a polícia sobre o massacre em que sobreviveu. - disse Frank, logo se levantando e andando, porém Carrie o parara - O que foi?

- Pensa com calma em como irá contar ao Nathan de sua crise com a Lucy. - alertou a assistente - Dependendo da maneira que ele encarar, pode ser que ele concorde em agir a favor da narrativa de filho não-assumido pra salvar seu namoro. 

Frank demonstrou certa concordância ao aviso que parecia intencionalmente querer encoraja-lo a ser otimista.

- Tudo a seu tempo. Mas não vou esconder o fato de que... eu tô com medo. Medo de perder os dois. 

- Então faça o que for preciso pra que a história do mundo de onde o Nathan veio não se repita. Não deixa isso acabar com você morto. A vida do seu filho depende das suas atitudes também, não só as dele.

O detetive assentiu com a cabeça voltando a mergulhar no turbilhão de pensamentos acerca das infinitas vias pelas quais o tempo seguiria. A apavorante incerteza da postura de Nathan ante ao que deve saber retornava para assombrar sua mente.

                                                                             *** 

O sedã prata de Frank estacionou perto da calçada dando para visualizar a casa de Faye cujo número era 1978. O detetive saíra do carro e caminhou até a residência podendo ver uma jovem mulher caucasiana de cabelos pretos e olhos verdes usando bermudinha amarela e camisa rosa de alças banhando um cão da raça Golden Retriever com uma mangueira. 

Faye notara a presença de Frank olhando para o lado. O detetive acenou com a mão direita. 

- Será que podemos ter uma conversinha rápida? - perguntou Frank em voz alta. 

- Pode vir. - permitiu Faye indo fechar a torneira. Frank abriu a portinha da cerca e encaminhou-se - Nem precisa falar, já sei que tem a ver com o acampamento desastroso dos meus antigos colegas. Acabei de voltar do segundo funeral de hoje. 

- Meus sinceros pêsames. - disse Frank aproximando-se dela. 

- Obrigada. - disse Faye aparentando desânimo - Resolvi dar um banho no Billy pra ver se ameniza um pouco a morbidez desse dia. Eu não sei se tô disposta a me envolver no seu trabalho... 

- Faye, a sua cooperação no meu trabalho é essencial pra pegarmos quem quer que esteja por trás da máscara. 

A jovem comprimiu os lábios olhando-o. Teve de ceder à sua função auxiliadora. 

- Eu avisei a Becky a não cair na roubada de mais uma noite de amigos bebendo e se divertindo, ainda mais num acampamento no meio de uma floresta enorme. Foi um milagre ela ter escapado pela segunda vez desse cara que tem destruído tantas vidas. Eu tenho a suspeita de que tudo é culpa minha. Já dei o maior fora num conquistador barato da faculdade. E se for ele? Com tanta amargura no coração que resolveu sair pra assassinar amigas minhas e gente que nenhuma relação teve com o que fiz. 

- Então você acredita fortemente que o pé na bunda nesse cara foi o estopim de tudo? 

- As minhas amigas, Becky e Daphne, que assim como eu também escaparam por um triz da morte, também tem umas historinhas sobre dispensar caras que galanteiam qualquer mulher bonita que veem pela frente. Corriam boatos na faculdade de que eles tinham tendências perigosas. Não sei de quem partiu essa ideia, mas não afetou o modo de agir deles. 

- Duas hipóteses bem prováveis: O assassino pode ser alguém que você atualmente tem contato no seu atual círculo de amigos ou os caras formaram uma gangue que se reveza entre uma reunião e outra. Ou ambas estão interligadas. 

- Já pode eliminar a teoria do falso amigo e verdadeiro assassino. As únicas pessoas com quem falo mais são Becky e Daphne, o resto eu vejo ocasionalmente, justo nesses passeios e eventos que parei de acompanhar depois que quase a faca do assassino penetrou fundo no meu corpo. Saí com uma escoriação no braço conseguindo fugir. Foi como ter nascido de novo. - declarou Faye rememorando a noite em que fora perseguida pelo assassino mascarado - É bem possível que... os rapazes que dispensei ou um deles estejam num tipo de conspiração que toma como alvo todos os meus amigos. 

- Não precisa se sentir culpada, nem passava pela sua cabeça que simplesmente dar tocos nuns xavequeiros de marca maior iria chegar nesse ponto. - disse Frank adiantando-se para que Faye não expressasse uma culpa acreditando ter colocado suas amizades em risco de vida ao rejeitar os conquistadores baratos - Nenhum outro rolê foi marcado, certo?

Faye desviou o olhar ficando em silêncio por um instante. 

- Combinei com a Becky e a Daphne na internet de nos vermos pela primeira vez aqui em casa amanhã à noite. Elas eram de outras turmas da faculdade, nessa época não nos conhecíamos. O que nos uniu foi exatamente o terrível fato de sermos vítimas de um maníaco insano com sede de vingança usando uma máscara assustadora. Alguns amigos meus conhecem elas de perto, mas nunca fomos apresentadas. Eu não gosto da teoria do assassino infiltrado nos meus amigos... 

- Mas temos que considera-la já que você marcou esse encontro e anunciou publicamente aos amigos seus que conhecem a Becky e a Daphne, não dá pra bobear. Sendo assim, eu me incluo nessa reunião, serei o convidado de honra. 

- Vai tipo nos escoltar caso ele apareça? Por segurança, eu acho muito necessário, mas não sei quanto as outras. 

- Elas terão que entender, a treta pode ser um pouco maior do que elas imaginavam. 

- Ótimo, o senhor tem que vir pouco antes do horário que marcamos. Às oito está bom?

- Combinado. Apareço aqui oito horas em ponto. Espero que suas amigas não cancelem o encontro se você avisar que um detetive de sobretudo será o guarda-costas e nem bravas com você por concordar com essa ideia. 

- Eu tenho que avisar, pra deixa-las cientes de que estaremos seguras com um policial armado mesmo não sendo propriamente um policial... 

- O que acha que só sei fazer? Sair com o sobretudo e uma lupa procurando pistas? Sou bom de briga também e se o meliante aparecer pra estragar a festinha do pijama de vocês pego ele pra desmascarar. 

- Agora passou mais confiança se propondo a dar a lição que ele merece por mais que ele mereça a prisão perpétua ou a pena de morte. - disse Faye levemente sorrindo - E sabe que deu uma sugestão excelente? Festa do pijama, boa ideia.

- Do pijama não, da camisola. Eu vou vir assim mesmo. - disse Frank em tom brincalhão arrancando um risinho de Faye. 

Repentinamente, o cachorro de Faye se sacudira para secar seu pelo após o banho, fazendo muita água respingar em Frank. 

- Billy, para! - disse Faye afastando-se com a chuva produzida pelo sacudir do cão - Ai, me desculpa...

- Não, sem problema. - disse Frank recuando vendo seu sobretudo com várias manchas de molhado. 

                                                                             ***

Durante a noite, uma jovem chamada Madelyn se divertia ao lado de sua filha de 6 anos assistindo desenho animado na TV. As duas estavam sentadas ao chão sobre um tapete azul rindo dos personagens do desenho. Porém, o toque do celular de Madelyn deu uma pausa no clima de descontração. Ela pegara o aparelho que estava sobre o sofá e viu na tela:

- Número desconhecido. - disse ela, estranhando. Aperta no ícone verde atendendo à chamada - Alô? 

- Madelyn, há quanto tempo a gente não se fala. Como tem passado? - perguntou uma voz sob efeito de sintetizador que lhe dava um tom grave e intimidador que proporcionou em Madelyn um arrepio na espinha. 

- Muito bem até você, Sr. Voz Demoníaca, me ligar como se eu soubesse quem é. 

- Você deve apagar as luzes, Madelyn. - disse a voz com um timbre ainda mais tenebroso. 

- O quê? Olha aqui, se isso for uma pegadinha sua, Richard, não tem a menor graça, desiste, não me assustou. 

- Por que supõe que eu seja o Richard? 

- Porque ele é um idiota que adora fazer gozação da cara dos outros. Entrega o jogo, seu plano falhou. 

- Madelyn, vou pedir pela última vez: Apague as luzes. Precisamos acertar as contas. Temos uma pendência. 

- Já falei que... não tem graça, uma pegadinha dessas não funciona comigo! - disse Madelyn, aborrecida. 

- Não é pegadinha, muito menos um trote. Estou falando sério, se não apagar as luzes, vou até aí e mato você e sua filha. Primeiro você pra que sua filha assista a querida mamãe ser degolada viva bem na frente dela. 

- Para! Eu vou chamar a polícia! - vociferou Madelyn, o medo fragilizando seus nervos. 

- Quer uma dica sobre mim? Pretendente rejeitado. Consegue lembrar? Ou tenho que aparecer pra refrescar sua memória?

- Um cara que rejeitei... - disse Madelyn fechando os olhos e balançando a cabeça brevemente - Foram tantos... 

- Pois é, eu faço parte desses muitos caras que não tiveram uma chance porque você é mesquinha, esnobe, ridícula e superficial. Na verdade, aquilo foi um teste pra me certificar do que falavam de você.

- Como achou meu número? - perguntou Madelyn. Sua filha desconcentrou-se do programa para observa-la. 

- Não está em posição de exigir. Estou observando sua casa agora mesmo. 

A informação acelerou o coração de Madelyn que estava inteiramente rendida ao temor. 

- Você é ele, não é? O assassino que matou três amigos meus no piquenique. 

- Se estiver disposta a descobrir... - disse a voz arrepiante. Madelyn desligou o celular e apagou a luz da sala bem depressa. Desligou a TV e pegou sua filha no colo levando-a para o quarto dela. 

- Fica embaixo da cama, só sai quando eu mandar. Tudo bem? Vai, a mamãe já volta. 

A garotinha escondera-se embaixo da cama agarrada ao seu ursinho de pelúcia rosa. Madelyn fechara a porta do quarto e saiu para fora da casa ver se havia alguém próximo espionando. Passou os olhos por todas as direções ao redor não detectando nenhum vulto ou figura que parecesse uma pessoa. Atrás dela, a porta da frente fechou-se num baque alto, assustando-a. Correndo para abri-la, Madelyn pensou na sua filha cujo quarto podia ser facilmente invadido já que não havia trancado a porta. Forçou a maçaneta a abrir, mas parecia trancada. Mas logo pôde abri-la como se a força que a impedia do outro lado permitisse-a de entrar. Madelyn quase caiu para frente no chão com a abertura súbita da porta. 

- Quem está aí? - perguntou ela praticamente gritando. Pegou um vaso de sua mesinha alta como improviso. A porta se movia lentamente para fechar-se e alguém tinha se escondido para abordar Madelyn por trás. O homem com máscara branca de olhos e lábios pretos veio até ela tapando sua boca com a mão esquerda. 

- Eu não mandei desligar na minha cara. - disse ele mostrando a faca de cozinha na mão direita. Brandiu a lâmina e passara-a no pescoço de Madelyn num corte horizontal cumprindo sua palavra. O vaso que ela segurava caíra ao chão partindo em vários cacos. O assassino logo percebeu a filha de Madelyn parada na entrada da sala olhando o corpo da mãe tombar com sangue esparramando pelo piso na formação de uma poça. Ela encarou o maníaco por uns segundos - Bu! - disse ele para assusta-la. A garotinha deu a meia volta correndo. - Se arrependa no inferno de tudo o que fez e deixou de fazer, sua vadia. 

O assassino fugira deixando o cadáver de Madelyn se sujar com o sangue que se empoçava cada vez mais. 

                                                                                 ***

Na manhã seguinte, viaturas policiais encontravam-se frente à casa e uma multidão de curiosos da vizinhança se reunia, todos atarantados com o bárbaro assassinato de Madelyn. Frank logo se fez presente, cumprimentou alguns policiais e adentrou na casa. Verificou a porta dos fundos cuja maçaneta tinha sido arrebentada aparentemente por um chute violento. 

Frank direcionou-se ao quarto da filha de Madelyn e a viu desenhando algo sobre a cama. 

- Oi. - disse ele entrando - O que você tá fazendo? 

A menininha mostrara seu desenho com um semblante triste. Na imagem, um homem com um rosto branco de olhos pretos segurava uma faca e uma mulher caída com bastante vermelho pintado sob ela.

- Levaram a mamãe embora. - disse ela a respeito dos profissionais da perícia. 

- Eu sinto muito pela sua mãe. - disse Frank, comovido - Eu vou achar esse cara mau e faze-lo pagar. 

Ela fizera que sim com a cabeça baixando a cabeça entristecida. 

- Me deixa eu ver direito esse desenho? - perguntou Frank aproximando-se com a mão direita estendida.

A filha de Madelyn entregou o desenho e Frank analisou com minúcia a retratação da cena do crime aos olhos daquela inocente criança. O detetive pegara o celular e fotografou o desenho do assassino. 

- Obrigado. - disse ele devolvendo a folha de papel. 

Saindo da casa, telefonou para Carrie após enviar a foto.  

- Fala aí, Carrie, essa máscara te parece familiar? 

- Tá brincando, né? É uma das mais clichês máscaras de assassinos em série, lembro muito bem que você já caçou um que se auto-intitulava o Homem Pálido usando uma dessas. Não pode ser um sucessor, faz uns cinco anos. Sucessores de assassinos em série não costumam surgir num intervalo tão extenso. Então confiamos que seja alguém realmente ligado às três amigas. Dei uma olhada no banco de dados e acessei a parte dos arquivos de interrogatórios usando palavras-chave. A primeira vítima sobrevivente a prestar depoimento sobre um assassino de máscara branca foi Trish Hart, cursou direito criminal na mesma universidade que as outras, mas trancou um ano e meio depois de começar. Ela mencionou a Faye que sobreviveu a dois dos primeiros massacres nos quais Becky e Daphne estavam ausentes, mas no primeiro evento com a aparição do assassino Trish foi a única que escapou. Talvez ela não tenha participado de mais nenhum encontro posterior. 

- Isso é o que verei agorinha mesmo. Se tiver o endereço atual dela, me passa aí. - pediu Frank andando até seu carro. 

                                                                                 ***

Após tomar um banho, Faye resolveu engatar mais uma conversa online no chat da rede social. A jovem estava de roupa trocada e com uma toalha branca enrolada na cabeça. Becky e Daphne encontravam-se online.

F: Vocês não sabem da nova. Arranjei um convidado-surpresa pra apimentar nossa noite. 

B: Namorado ou escravo sexual? 

D: Hahahahahahaha

F: É segredo até ele aparecer. Mas só esclarecendo: Não é nenhum dos dois. Não sei se vão curtir... 

D: Acho que apimentar foi uma palavra sugestiva demais. 

F: Eu pedi demissão do emprego por causa desse último massacre em que a Caroline morreu, não estamos seguras em lugar nenhum... 

B: Ué, já mudou de assunto tão rápido por que?

D: Becky acorda, não falamos de outra coisa desde que a gente trocou as primeiras palavras. ,

F: E não vamos parar de discutir isso enquanto o maldito assassino continuar solto matando mais gente que conhecemos. E se passarem a mirar nossas famílias depois que todos os nossos amigos morrerem?

B: Ai, vira essa boca pra lá, amiga. 

D: A filha da Madelyn quase foi vítima também, tadinha. Vi no noticiário, colheram depoimento dela.

F: Somente você conhecia a Madelyn mais intimamente, né, Daphne?

D: Pois é... Mas depois da formatura perdemos contato. Não tá suspeitando de mim, tá?

F: Não, claro que não, de jeito nenhum. Foi só uma perguntinha básica... 

B: Ela recebeu a ligação de um número desconhecido. No plantão de notícias falaram que a filha dela disse ter sido um homem. 

D: Eu não assisti até o final, só tava zapeando quando me deparei com a notícia logo de cara. 

F: Que tal uma festinha do pijama? 

B: Faye, querida, não tá querendo mesmo que a gente fique usando roupa de dormir... com um cara no meio, né?

F: É alguém confiável, garanto a vocês. Ele será o primeiro a chegar, aguardem. 

Enquanto a conversa virtual desenrolava-se, Frank passava com seu carro por uma área residencial em busca do número da casa de Trish que naquele instante amarrava seu cabelo com luzes num rabo de cabelo preparando-se para a sua caminhada matinal. Ela trajava calças e blusa cor de vinho apropriadas para o exercício, além de tênis de marca. 

Logo que abrira a porta para respirar o puro ar fresco da manhã, Frank já andava poucos metros até ela.

- Olá, bom dia... - disse ela meio surpreendida com a presença do detetive - Eu tô de saída...

- É só por um instantinho, não quero tomar seu tempo. - disse Frank que em seguida exibiu seu distintivo - Frank Montgrow, agente prioritário do DPDC. Gostaria que você me confirmasse algumas informações sobre um certo assassino mascarado.

- Ele voltou ao ataque? É verdade que perdi muitos amigos meus pra um assassino usando uma máscara e uma faca... Mas não tenho certeza se... 

- Vamos lá, desembucha, minha assistente baixou o arquivo por escrito do seu depoimento e repassou a mim. Você hesitou em ir além do que se obrigou a revelar. Muita gente já morreu. Ontem à noite uma ex-universitária chamada Madelyn... 

- A Madelyn!? - disse Trish expressando pasmo com sobrancelhas arqueadas - Não... Meu Deus... 

- Conhecia ela na faculdade? 

Trish suspirou como um sinal de rendição para liberar as informações que guardava. 

- Ela foi minha colega de quarto por um tempo antes dela se mudar pro quarto de uma tal de Daphne Klayne. Nessa época de caloura eu conheci um cara que se reunia com amigos numa fraternidade chamada de Os Chutados. Esse cara era justo o líder da reunião que confraternizava com os membros que seguiam uma ideologia doentia que pregava ódio às mulheres. Eu não sabia nada dessa loucura até ele me levar pra uma reunião, abrind uma exceção porque estávamos nos gostando. Levei quatro amigos da minha turma. A noite foi um desastre. O cara por quem eu tava apaixonada passou a detestar mulheres depois que foi chutado por umas patricinhas mimadas. Ele era um completo doente. Quando fui chamada a depor, jurei que não denunciaria ele com medo de pagar com minha vida. Nunca mais procurei ele depois da matança dos meus amigos. 

- Sabe se eles ainda reúnem no mesmo local? - perguntou Frank, os olhos fixos nela - Cria coragem, a polícia vai agir rápido porque o caso tá tomando uma proporção de filme de terror... 

- Tudo bem, é na própria casa, aliás, mansão do Kevin, o líder do grupo... e meu ex. Fica na zona sul à doze quilômetros do museu de história natural. - revelara Trish não disfarçando que estava temerosa em ser o que chamam de X-9. 

Frank discava o número da polícia no celular. 

- Alô, aqui é o detetive Frank Montgrow. Preciso de uma unidade armada com um mandado de prisão. 

- Ah, eles costumavam se reunir perto das oito da noite ficando até as dez. -acrescentou Trish.

- Podem se encaminhar entre as oito e dez da noite. - disse Frank - É numa mansão de filhinho de papai, o principal suspeito de liderar uma facção de assassinos em série, que fica na zona sul doze quilômetros do museu de história natural. - fez uma pausa - Beleza, conto com o apoio de vocês. OK, falou. - encerrara a chamada - Pronto, pode sair pra sua corrida.

- Obrigada. - disse Trish que logo deu passos adiante pondo seu boné azul e começara a correr. 

- Eu que agradeço. - disse Frank observando-a se distanciar. 

                                                                                  ***

Já à noite, Faye, trajando sua camisola rosa, correu para a porta assim que a toque da campainha soou. 

- É aqui onde uma festinha do pijama foi agendada ou erramos de casa? - perguntou Becky ao lado de Daphne. 

- Nem tô acreditando... Vocês vieram mesmo! - disse Faye alegremente espantada. 

As três amigas deram gritinhos de felicidades e logo partiram para o abraço. 

- Mas cadê o tal convidado-surpresa? - perguntou Daphne olhando o interior da sala com decoração minimalista.

- Era pra ele ter vindo com antecedência. - disse Faye fechando a porta, preocupada com a demora de Frank.

- Passou das oito. Acho que ele furou com você. - disse Becky carregando sua bolsa. 

- É um cara bem ocupado. Logo mais ele dá as caras, talvez ficou preso no trânsito. 

- Faye, você tem mesmo certeza de que ele é seguramente confiável? - questionou Daphne - Que sentido faz todo esse suspense? Deveria ser uma noite exclusivamente nossa, mas você sem justificativa alguma resolve incluir um cara. 

- Eu disse que quando ele chegasse vocês iriam entender. - disse Faye tentando estimular paciência nelas - Confiem em mim.

Becky e Daphne entreolharam-se um tanto sérias aparentemente não alterando a impressão negativa. 

- Podem ir se trocar no banheiro ou no meu quarto, onde preferirem. - disse Faye, hospitaleira. 

- Vai preparando a tequila. - disse Daphne para Faye, logo virando as costas junto de Becky até o corredor pelo qual acessava-se o banheiro. Faye esfregava as mãos na expectativa de Frank chegar em breve. 

O detetive estava realmente enfrentando um congestionamento buzinando sem parar para os carros à sua frente. Recebeu uma mensagem no celular de um policial. Verificando-a, sorriu de satisfação ao saber que os policiais invadiram a mansão do ex-namorado de Trish e flagrou amigos dele reunidos na sala com máscaras idênticas de mesmos detalhes conforme as descrições. Frank decidiu ligar para Trish e comemorar a prisão dos integrantes da facção de assassinos em série. 

- Alô, é a Trish? Ah sim, perguntei só pra me certificar de que esse é o seu número verdadeiro como consta no arquivo. Notícia boa: Os meliantes foram enquadrados, todos eles saindo com pulseirinhas. Quatro deles foram detidos. 

- Ahn... Detetive, eu creio que isso ainda não acabou. - disse Trish - Na verdade, são cinco contando o Kevin. 

- Como é que é? Tá faltando mais um?! 

Subitamente a voz de Trish ficou distante e Frank pôde ouvi-la gritar por socorro. 

- Trish! Quem é que tá aí com você? Trish, responde! - disse Frank, nervoso. A ligação caíra. O trânsito voltou a se agilizar e o detetive fizera duas ultrapassagens perigosas indo direto à casa de Faye a toda velocidade.

Na casa da anfitriã, Becky e Daphne, já vestidas com suas camisolas, deliciavam-se com tequila nas tacinhas. 

- Essa festinha tá meio morna. - disse Becky após um gole da bebida - Sem ofensa, Faye. Põe uma música, vamos se esbaldar, agitar o clima pra tornar essa noite memorável. 

- Som alto não dá com vizinhos sensíveis, já levei tanto sermão com as festas que dei aqui. - disse Faye.

- Pra mim tá bom desse jeitinho. Tranquilo e discreto. - disse Daphne comendo a azeitona que acompanhava a bebida - A gente tá se esforçando pra falarmos de algo que não seja... vocês sabem o quê. Não podemos encarar isso com mais pulso firme? Carregamos um trauma, mas sobrevivemos ao que causou ele. Me sinto mais forte do que nunca.

- É, mas não sabemos se esse pior pode se repetir ou se passou pra sempre. - disse Faye - A Madelyn não participou de mais nenhum evento desde que sobreviveu ao massacre no qual você, Daphne, também estava e mesmo assim acabou morta dentro da própria casa. - a campainha fora tocada - Tomara que seja ele. - levantou-se para atender.

Abrindo a porta, sorriu ao ver que Frank mostrou-se um homem de palavra. Porém, o detetive rapidamente entrou. 

- Foi mal pelo atraso, mas o negócio tá tomando uma dimensão de emergência. 

Becky e Daphne encaravam Frank num misto de perplexidade e estranheza. 

- Olá, meninas. - disse Frank acenando educadamente - Pelas caras de vocês, preciso esclarecer que não foi a Faye quem inventou de contratar um detetive pra protegê-las da ameaça do maníaco mascarado. 

- Tá, mas... - disse Becky ainda incomodada - O que garante que a casa será invadida pelo assassino justo hoje? 

- Vocês conhecem Trish Hart? - perguntou Frank. 

- Ela foi minha colega de quarto. - disse Daphne - Não vai nos dizer que... 

- Exato, ela somou à lista de vítimas pelo que deu a entender na ligação interrompida quando fui dar a notícia de que os membros da facção foram pegos. 

- Então é mesmo um grupo? - perguntou Faye ao lado de Frank - Como souberam? 

- A própria Trish jogou a merda no ventilador pros caras, o assassino que encabeça a sequência de matanças é ex-namorado dela que a levou uma vez pra conhecer o local onde se reuniam. Ela levou amigos e foram todos estripados um à um. 

- Houve um tempo em que a Trish foi bastante próxima dos amigos da Becky... - disse Daphne - Falamos dela uma vez no chat.

- Eu só a conhecia de vista. - disse Faye - Becky, não foi você que tinha dito que a conhecia desde o colegial? 

- É uma história complicada... - disse Becky mexendo em seus cabelos loiros olhando-se no espelho de mão - Vou tomar uma água.

Frank fez menção de acompanha-la, mas Becky parou para fita-lo. 

- Eu não acho que devemos ser seguidas pra tudo quanto é canto. - disse ela. 

- Escutem bem: Meu propósito aqui é unicamente a segurança de vocês. O que acham que estão fazendo nesse exato momento hein? O mascarado passa a faca na galera toda vez que um grupo ligado à vocês se reúne pra se divertirem. Então... - Frank teve uma espécie de lampejo naquele instante que as fez esperarem ansiosamente ele terminar o discurso. 

- Detetive, tá tudo bem? - perguntou Daphne olhando-o curiosa. 

- Comigo sim, mas... certamente que com vocês não. 

- Becky, deixa ele te acompanhar. - disse Faye - O desgraçado é silencioso pra invadir. Pode estar aqui dentro ou lá fora de tocaia. 

- Ou você fica aqui conosco e espera. - disse Daphne. 

- Mas eu tô morrendo de sede! - retrucou Becky, exaltada. 

- Então me deixa pegar pra você. - disse Frank, prestativo. 

- Mudei de ideia, vou ao banheiro. - falou Becky, a expressão de como quem ganha uma disputa. 

Becky revirou os olhos com a descompostura da amiga. Faye, por sua vez, a encarou com preocupação.

Frank se deu por vencido sem mais dizer uma palavra de contrariedade. 

- Amiga teimosa hein, Faye? Tá desapontada? - perguntou ele. 

- Diria que... preocupada, só isso. Apesar de não ter conhecido bem a Trish... eu sinto muito por ela.

- Tá explicado porque dela nunca ter participado de nenhum rolê conosco. - disse Daphne - Ela sabia que o namorado escroto iria se vingar pelo rompimento mandando os capangas dele fazerem o trabalho sujo. 

Pegando a todos desprevenidos, um apagão súbito deixou a casa inteira às escuras. 

- Epa, blecaute. - disse Frank levando sua mão ao bolso interno para sacar sua arma. 

Faye se mobilizou para olhar o lado de fora. 

- A rua inteira tá normal, foi apenas aqui mesmo. - constatou ela. 

- Melhor as duas se esconderem, vou avisar à Becky, vão, vão, depressa! - mandou Frank retirando a arma e destravando-a. 

Becky e Faye correram para buscar um refúgio que as colocasse em plena proteção. Frank seguiu pelo corredor escuro com a arma em punho. A baixa concentração de luz dificultou vislumbrar com atenção o que poderia se mover ali perto. O detetive agilmente tirou sua lanterninha do bolso e acendeu-a. Contudo, o que foi iluminado pelo facho o deixou sem tempo para reagir direito. O assassino com sua máscara branca de olhos vazios e boca de lábios pretos formando um leve sorriso. 

O maníaco brandiu sua faca para golpear Frank que largou a lanterna e arma para enfrenta-lo num embate corpo à corpo. O detetive agarrou a mão dele que segurava a faca quando o mesmo investiu sobre ele, chegando a ser empurrado até parede tamanha à persistência do assassino em cravar a ponta da faca. Frank aplicou uma joelhada forte na barriga dele e vendo uma cômoda à sua esquerda bem pertinho continuou agarrando a mão direita que carregava a faca e a bateu sobre  o móvel quebrando o pulso dele. A faca caíra e o seu portador soltou um berro abafado pela máscara. Frank dera um forte soco e em seguida um chute no peito que o derrubou fazendo cair sobre uma mesa com dois vasos. 

Frank estava sacando as algemas para prende-lo quando ele arrastou-se tateando o piso à procura da faca. Dera uma rasteira no detetive quando ele aproximou-se para algema-lo e Frank tombou quase batendo a cabeça no chão. O assassino reergueu-se, mas desistente de encontrar sua arma que perdeu-se na semi-escuridão, logo fugindo para a sala. 

Paralelamente à luta entre Frank e o assassino, Faye deixava Daphne em um apertado armário e indicou uma enxada. 

- Olha, pega essa enxada. Se ele arrombar, você bate na cabeça dele o mais forte que puder. 

- Espero que funcione como nos filmes. - disse Daphne pegando a enxada - E você? 

- Vou pro meu quarto. Não sei onde pus a chave do armário pra te trancar. 

- Esquece a chave, tenta se salvar. Ai meu Deus... A Becky... 

- Calma, o detetive tá dando conta disso, pode crer. - disse Faye, confiante - A gente se vê depois.

Daphne fez que sim com a cabeça não controlando sua tremedeira e sudorese. Faye correra para seu quarto, abrindo e fechando a porta às pressas. Para o completo temor dela, um outro assassino saía do seu closet armado com uma faca de cozinha. Faye recuava, a boca tremendo e os olhos piscando várias vezes. Aquele segundo invasor vestia as mesmas roupas que o outro: Moletom cinza com capuz, calça esportiva preta e tênis branco de marca. Faye pegara a primeira coisa que viu para levar à sua fuga pela janela. Jogara um aparelho de videogame contra o vidro da janela e correu para pula-la. 

Seguiu correndo descalça pelo gramado para dar a volta até a porta dos fundos. Enquanto isso, Frank corria atrás do assassino pelo corredor. O detetive pensou ter chutado acidentalmente algo e abaixou-se para pegar. Era a sua pistola que largara antes de entrar nas vias de fato com o maníaco. Disparou contra ele atingindo a perna esquerda. Faye parara de correr ao ouvir o estampido na sua casa, seu coração palpitando. O assassino chegou à sala mancando com o tiro na sua canela e apoiou-se no sofá. Mas alguém espreitava atrás dele. Antes que pudesse sair mancando novamente, uma enxada bateu contra a lateral de sua cabeça derrubando-o ao chão. Daphne se impressionou com a precisão do ato ao conferir se ele estava mesmo desacordado cutucando-o com a enxada. Felizmente, estava. Frank surgira dando um belo susto nela.

- Ah! - gritou ela com repentina vinda de Frank - Detetive... 

- Botou ele pra dormir? - perguntou Frank em tom baixo. 

- Acho que sim. - disse ela olhando-o - A Faye se escondeu no quarto dela... Ela me deixou no armário, mas não resisti e saí. Sou claustrofóbica. 

- Eu tive a impressão de escutar barulho de vidro quebrando lá de cima... 

-  Essa não... Será que há outro? Mas o senhor disse que restava apenas um foragido... 

- É o que descobriremos depois, vem, vamos ver se a Becky tá escondida na cozinha ou no banheiro. 

Frank e Daphne, sem largar da enxada, seguiram pelo corredor. Faye corria um pouco mais devagar, olhando para trás em curtíssimos intervalos, finalmente chegando aos fundos. Retornando ao interior da casa, procurou por Frank. Mas não percebeu logo de primeira o assassino mascarado inconsciente no chão. Veio a nota-lo pisando sobre a mão direita dele. Afastou-se rapidamente e reprimiu um grito tapando a boca. Ficou parada uns segundos fitando-o altamente nervosa. Esticou seu pé esquerdo para toca-lo a fim de verificar o real estado dele. Tocara-o mais firmemente no braço.

No entanto, prolongar tal movimento provou-se um descuido ingênuo. O assassino bruscamente "despertou" agarrando a perna esquerda de Faye que soltou um grito. 

- Me larga! Me larga! Socorro! - disse ela em recuo tentando fazê-lo soltar sua perna. 

Frank e Daphne ouviram a voz dela da cozinha. 

- É Faye! - disse Daphne - O maníaco pegou ela! 

- Merda, devia ter posto as algemas, o miserável se fingiu de morto. - disse Frank. 

A voz de Becky gritou vinda de algum ponto. 

- Ei, me tirem daqui! 

Frank escutou batidas na porta do banheiro e correu até lá. Tocou na maçaneta mexendo-a. 

- Trancada. - disse ele tomando distância e a seguir chutando a porta com brutalidade. 

Becky gritara assustada e rapidamente ela correu para abraçar Daphne. 

- Eu ia sair do banheiro quando... me dei conta de que havia sido trancada por fora. 

- Peraí, o assassino te trancou podendo aproveitar a oportunidade de te matar aqui dentro? Maluco é burro demais. 

- Temos que ver a Faye, rápido! - disse Daphne que saiu correndo de volta à sala. Becky a seguiu e Frank partiu logo atrás delas. A porta que abria para o quintal foi aberta e o segundo assassino surgira sorrateiramente. 

O assassino que atacava Faye sacara uma outra faca do bolso da calça e ameaçou-a. Frank chegara a tempo de pegar o braço dele e joga-lo ao chão. Ele caiu sobre a mesinha de vidro no centro da sala que estilhaçou-se toda.

- Que força. - disse Becky fascinada com Frank ter levantando o assassino. 

- O coroa aqui é vitaminado. - disse ele em resposta. 

- Detetive, tem mais um... - disse Faye - Tava no meu quarto, escondido no meu closet... 

- Dá uma lição nele, detetive, vamos ver quem tá por trás da máscara. - sugeriu Daphne. 

- Não precisa. - disse o assassino levantando-se - Eu me rendo. 

- Ótimo, mãos na cabeça e vá para a parede pra que eu possa revista-lo. - ordenou Frank. 

- Esperem. - disse Becky, os olhos focados no maníaco - Essa voz... - deu uns passos adiante. 

- Becky... Conhece ele? - perguntou Faye. 

- Scott. É você mesmo? - perguntou Becky encarando-o com curiosidade. 

- Sim, Becky. - disse ele retirando a máscara. Scott possuía um rosto atraente para garotas da classe alta.  A jovem ficara emocionada ao rever seu mais insistente paquerador - Se não me quis bonzinho e legal, não vai me querer cruel e sádico. Agora eu duvido que descubram quem é esse daí.

Inesperadamente o outro assassino rendeu Frank por trás pondo uma faca menor no seu pescoço. O detetive ergueu as mãos sinalizando não pretender se movimentar agressivamente. 

- Como se fosse difícil pra mim... - disse Frank tranquilamente - Não tinha uma faca maior na sua casa não, Trish? 

As três moças boquiabriram-se.

- Trish?! - disseram elas em uníssono, atônitas. 

- Detetives... Nunca dá pra subestimar. - disse Trish removendo sua máscara. 

- Mas... como? Por que? - questionava Daphne, horrorizada. 

- O maior padrão dos assassinatos: Eventos entre amigos. - disse Frank - Trish nunca seria morta fora de uma ocasião especial, ainda mais em casa. 

- Mas e a Madelyn? - perguntou Faye. 

- Ela participou de um evento e sobreviveu. Essa vadia aqui nunca. - respondeu Frank. 

- Olha o jeito de falar, senão sua garganta vai ser partida ao meio. - ameaçou Trish - A loirinha imbecil aí caiu direitinho no meu truque de "esquecer o passado". 

- Nós marcávamos o perfil dela sempre que a gente combinava um passeio. - disse Faye. 

- Pensávamos que ela só não queria comparecer por medo do assassino. - disse Daphne fitando Trish com cólera. 

- Becky, faça as pazes comigo. - disse Scott, incitando-a a se aproximar - Faça as pazes com o passado. 

- Ignora ele. O que aconteceu entre você e a Trish, Becky? - perguntou Faye. 

- Eu... importunava ela no colegial. - revelou Becky, sucinta e honesta. 

- Quando o Kevin me contou da fraternidade vingativa dele, me ofereci como nova integrante. E por eu ser a namorada, ele abriu uma exceção já que... ele era um babaca machista que não deixava mulheres participarem, simples assim. 

- Então você e o namorado psicopata gerenciavam a gangue, né? Se tornou amiga íntima da Becky por um tempo pra ficar a par dos encontros e enviar um assassino diferente pra cada um. - explanava Frank.

- Trish, não podia ter sido dessa forma. - disse Faye - O que custava... apenas superar e seguir em frente? 

- Superar?! - disse Trish em tom zangado, apertando mais a lâmina no pescoço de Frank - Defina superar! A sua amiguinha que acabou de conhecer fez da minha vida o maior inferno naquele hospício que chamavam de colégio! 

- Você pode não ter uma chance de perdoar o passado, Trish, mas eu sim. - disse Scott - Vem, Becky. 

A loira olhava para Scott com desconfiança, mas que não durou tanto para recusar. 

- Não, Becky, não cai na dele. - alertou Frank. 

- Cala a boca! - disse Trish ameaçando fazer um corte - Foi uma delícia saber que todos aqueles fúteis e irrelevantes sumiram da existência. Que a Caroline, Madelyn, ou qualquer outro, estejam ardendo no inferno! 

Faye e Daphne choravam pelas mortes provocadas, afetadas pelas perversas palavras de Trish. 

- Becky, eu te imploro. A gente ficou por um tempinho, lembra? Eu quero construir um futuro com você enterrando o passado, as mágoas, tudo de mal que aconteceu entre nós. Nada mais importa do que conquistar você de verdade.

Becky andava a passos vagarosos em direção à Scott não ouvindo nenhum dos avisos de Frank ou das amigas. Uma lágrima escorreu pelo rosto dela. Scott estendeu a mão direita para pegar a da sua ex-ficante. Becky segurou a mão dele suavemente e ambos abraçaram-se com Scott tomando a iniciativa.

- Oh, que lindo casal. - disse Trish, infame. 

Porém, Scott mostrara a faca e perfurou as costas de Becky covardemente. Faye e Daphne gritaram. 

- Ah, que final mais triste. - disse Trish fazendo a raiva de Frank explodir. O detetive dera uma cabeçada para trás e logo virou-se desarmar Trish com um golpe na mão. A faca menor caíra. Frank direcionou-se à Scott dando-lhe socos fortes, sequer provendo brecha para que ele contra-atacasse com a faca. Frank o derrubou com um chute na barriga e pisara no braço direito dele para em seguida chutar a faca para longe. Continuou esmurrando-o raivosamente aplicando a punição que lhe cabia. Trish tentou fugir, mas Daphne a pegara pelo cabelo e Faye apoderou-se da faca pequena apontando-a para a mandante dos crimes - Teria coragem de rasgar minha garganta? Manda ver. Se achava tão incrível dando fora nos caras... 

- Cala essa boca, sua vagabunda! - disse Faye aparentando estar disposta a vingar todas as mortes. 

- Ei, ei, calma aí, larga essa faca! - disse Frank vindo até elas após dar uma surra ferrenha em Scott. O detetive apanhou sua arma que tinha deixado cair quando Trish lhe abordou e mirou nele - Justiça com as próprias mãos não vai deixa-los orgulhosos. 

- Como você sabe? - perguntou Faye num misto de ódio e tristeza chorosa. 

- Porque quando você se vinga não está fazendo por ninguém... a não ser por si mesmo. 

Faye soltara a faca aos prantos. Daphne libertou Trish do agarramento de cabelo. 

- Mãos na cabeça, Trish. Tem o direito de ficar em silêncio. O presídio feminino te aguarda. 

Trish fizera de acordo com o mandado numa expressão séria e dura que denotava certa frieza. 

Mais tarde, enquanto a polícia conduzia Trish e Scott à viatura e a perícia levava o corpo de Becky, Frank tirou um instante para enviar uma mensagem à Lucy. 

"Me retorna, por favor. Pra gente continuar aquela conversa de onde paramos. Mas pra te antecipar, eu vou falar seriamente com o Nathan e pra isso eu tenho de me preparar psicologicamente, você sabe que não é nada fácil. É a minha responsabilidade como pai e vou assumi-la definitivamente. Não é uma promessa, é uma decisão. Te amo."

Daphne e Faye estavam juntas sentadas na escadinha da entrada abaladas emocionalmente. 

- Eu sinto muito pela Becky. - disse Frank aproximando-se delas com pesar no rosto e na voz. 

- Eu devo te agradecer de um jeito que recompense o seu trabalho. - disse Faye, os olhos inchados do tanto que chorou. 

- Não, não é necessário. É válido dizer que a morte da Becky... foi minha culpa. 

- Como assim? - perguntou Daphne. 

- A Trish ameaçava retalhar minha garganta e eu não tive a audácia de detê-la pra ganhar tempo de impedir a besteira que a Becky iria cometer. Nada disso teria acontecido se não fosse minha covardia. Fui um bunda-mole egoísta.

- Não se culpa, detetive. - disse Daphne - Estava como refém da Trish, não podia fazer absolutamente nada. A Faye tá de acordo. Por um momento até pensamos que o Scott estava falando a verdade. Acredito que o senhor também. 

Frank a encarou fundo nos olhos com tristeza. Parte dele na hora H acreditou piamente naquilo. 

- Pois é. Mas de uma coisa fiquem certas: Assassinos não tem cura. Já nascem predispostos. E em todos esses anos de carreira ainda tem uma pontinha de esperança na minha mente que diz pra me convencer do contrário. 

As faces de Faye e Daphne, iluminadas pelas luzes azuis e vermelhas das viaturas, reforçaram-se em luto.

- Se cuidem, meninas. - disse Frank, entristecido, logo indo embora. 

                                                                                 ***

Uma semana depois da última noite fatídica em que sobreviveram, Faye e Daphne conversavam online.

F: O espírito da Becky não terá descanso nunca, muito menos com essa maldita decisão judicial que liberou a Trish pro semi-aberto. 

D: Partilho da indignação. Fiquei de cara quando soube. A Trish agora deve estar ostentando a tornozeleira como se fosse uma linda joia de pé. Pelo menos, o Scott foi enxotado pra penitenciária. Que ele morra lá. 

F: Daphne... Eu gostaria muito que partilhasse de outra coisa comigo. 

D: O que você quer? 

F: Pensando em todos que perdemos... quero que façamos algo juntas. Você tá do meu lado?

Na cama de Faye, próxima à mesinha onde ela mexia no notebook, havia uma máscara branca idêntica às dos assassinos. 

                                                                                   -x-

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://papocarajas.com/parauapebas-mulher-mata-marido-que-a-agredia/

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