Capuz Vermelho #9: "Reunião na cabana e plano de ataque"
"Sinto-me uma nova criatura. Disposta a enfrentar este mal que me afronta, quantas vezes for preciso, até que o mesmo se reduza em cinzas. Não irei parar até que tudo isto esteja acabado. É chegada a hora de elaborar estratégias, usar a cabeça e avançar para a linha de frente.
Eu, definitivamente, cansei de fugir."
Trecho do Diário de Rosie Campbell; pág 60.
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CAPÍTULO 09: REUNIÃO NA CABANA E PLANO DE ATAQUE
Robert Loub aprontava de modo apressado suas malas em seu quarto, na mansão onde residia. Enfiando as roupas e outras peças onde deveriam ser armazenadas, o cientista, ao mesmo tempo, imaginava, temerosamente, as investidas futuras que seus algozes estavam planejando. Balançou a cabeça em sinal de negação e tentou esquecer as preocupações. Seu único filho, Matt, aproveitando a porta estando entreaberta, adentrou no quarto de seu pai, logo deparando-se com várias malas em cima da cama.
- O senhor pretende viajar? - perguntou o rapaz de óculos fundo-de-garrafa com cabelos meio espetados, apontando para uma das malas.
- Nós iremos viajar, filho. Estou aprontando tudo para daqui há três semanas, que é quando iremos partir. - respondeu Loub, fechando uma mala.
- Mas por que três semanas? Se quer que nos mudemos, deveria ter me avisado antes e assim iríamos hoje mesmo.
- Eu tenho meus motivos, Matt. Ainda há assuntos pendentes no laboratório, essa é a razão por agendarmos nossa partida para daqui há três semanas. Pode até parecer, mas não estou com muita pressa.
- Ótimo então. Estou esperando o senhor lá embaixo para jogarmos xadrez. Está bem?
- Tudo bem. Me dê alguns segundos. - disse Robert, organizando alguns objetos.
Passados dez minutos, um forte estrondo fora ouvido vindo do andar de baixo. Loub arregalou seus olhos e correu para ver o que ocorrera, descendo as escadas apressadamente. Deparou-se com uma figura monstruosamente horrenda entrando na sua residência com seus imundos pés. Seu filho jogado ao chão, ferido e sangrando bastante na cabeça. A criatura era Mollock, a amálgama de besta do inferno e quimera, lambendo o sangue impregnado nas garras com seu olhar ameaçador fitando Robert.
- Olá, senhor Loub. É um prazer vê-lo. - disse Mollock, aproximando-se do centro da sala.
- M-mas que tipo de monstro é você? - perguntou Robert, caindo de tanta surpresa.
- Do tipo que não tem paciência com pirralhos malcriados. - afirmou Mollock, olhando para o corpo de Matt caído.
- Oh não, Matt, meu filho! - gritou Loub, correndo para socorre-lo.
O cientista avaliou a gravidade do ferimento e as escoriações, logo concluindo que a inconsciência foi instantânea.
- Seu filho é um fracote. Minhas mãos mal encostaram nele e ele saiu voando até bater a cabeça naquele pilar de sustentação. Precisa ensina-lo a receber melhor as visitas...
- Cala a boca!!! Não sei de qual inferno você veio, mas quero que saia daqui imediatamente ou serei obrigado a pegar meu armamento e descarrega-lo em você! - esbravejou Loub, mantendo a cabeça de Matt em seu colo.
- Eu não vim para conflitos, senhor Loub. Parte de mim veio do Tártaro, o lugar onde as almas corrompidas são escravizadas eternamente. Ah sim, ainda não me apresentei. Sou Mollock, seu primeiro filho.
- Filho? Mas do que está falando, sua besta asquerosa?
- Oh, pare com esses elogios, está me deixando sem jeito. - ironizou ele, enquanto andava rodeando o centro da sala. - Uma outra parte de mim ainda se lembra de uma certa noite... Eu fui designado a cumprir uma missão infalível. Aquele garoto... aquele pobre garoto abraçado ao corpo estraçalhado de seu pai, naquela noite de tempestade. Eu me lembro como se fosse ontem. Aquele sangue fervendo nas minhas mãos... aquela carne apetitosa... minha primeira refeição, nunca irei me esquecer. - contou Mollock, lambendo suas presas pontiagudas com os olhos fechados, ao revisitar uma ocasião passada.
Loub ficara pensativo por alguns segundos, e não demorou para que percebesse o que aquilo significava.
- Inacreditável. E está falando... Que tipo de mutação você sofreu? O que aconteceu com você?
- Humpf! Prefiro que permaneça em segredo, não merece saber de minhas nobres habilidades. Mas, antes de ir, quero que saiba de algo: O seu exército mais forte agora pertence à mim. Eu tive que matar alguns para conseguir meu avanço intelectual. - disse Mollock, dando as costas.
- Então foi isso, não foi? Alimentou-se do sangue delas e assim ganhou capacidade cognitiva.
- Bem na mosca. Admito que foi um prazer visita-lo... meu pai. Usarei aquele exército para me divertir e assistir um belo espetáculo. - disse Mollock, abrindo as portas de entrada com as duas mãos.
- Não me importa o que está planejando... mas fique sabendo de uma coisa: Eu não sou seu pai. - afirmou Loub, rangendo os dentes.
Mollock não se deu ao trabalho de virar o rosto e ver a expressão raivosa de seu "criador". Apenas saiu dali, calmamente, deixando as portas fecharem-se sozinhas.
- Você ouviu bem? Eu não sou seu pai!!!
3 semanas depois
Em uma noite de lua cheia, o grupo de heróis reunira-se no - já intitulado naquele momento - "QG da Legião". Adam expôs um mapa do país em cima da mesa, destacando a capital, Londres.
- Muito bem ,pessoal. Baseado no que foi lido no livro de Abamanu, é seguro dizer que há uma grande possibilidade de atacarem a capital. - afirmou ele, marcando a cidade com um pincel.
- Loub deve ter presumido que não iríamos teorizar isso, já que não sabe que temos o livro, pensando em lançar um ataque-surpresa. - disse Êmina, encostada na parede com braços cruzados.
- Provavelmente. - respondeu Adam.
- Err... eu devo lembrar-los de que, supostamente, uma criatura escapou da casa que investigamos. Somado ao símbolo, aquele pentagrama que encontramos, tudo leva a crer que fizeram um ritual satânico ou coisa do tipo. - ponderou Lester.
- Desculpe, mas eu não acredito nessas coisas. Mas, se caso for verdade, acho que é um pouco tarde para começarmos uma nova investigação a respeito. - disse Hector, sentado em uma cadeira, próximo à porta, palitando os dentes.
- Não sabia que era tão incrédulo? Confirmaram a existência de bruxas anos atrás. Por que não poderiam existir rituais macabros? - perguntou Rosie, discordando de Hector.
- Até onde se sabe, os Red Wolfs não faziam nenhum tipo de ritual. No caso da mansão de Ethan Nevill, o tal buraco na parede pode ter sido causado por alguma explosão, talvez.
- Não, Hector, as evidências apontam exatamente para ritual. O buraco na parede, as marcas de garras encontradas na janela que estava quebrada, o pentagrama... talvez tenham libertado uma besta do inferno. Mas eu gostaria de saber para qual propósito. - pensou Lester, confrontando a ideia de Hector.
Adam já estava impaciente e bateu na mesa com a mão em sinal de insatisfação.
- Estamos perdendo o foco. Nossos alvos são os licantropos de Robert Loub. Será que podemos esquecer por um tempo esse tal monstro que nada parece ter a ver com o que estamos lidando?
- Ah, desculpe me intrometer na conversa, mas... eu quero me desculpar com todos vocês, por eu não ter contado sobre a peça do talismã que eu usava como colar. - disse Alexia, sentada em uma caixa pesada ao lado de Rufus.
- Está tudo bem, Alexia. Estava sob ameaça, nós entendemos. Agora que temos duas peças do talismã, talvez fique mais fácil encontrar as outras. - disse Adam.
- Eu tenho uma leve suspeita de que a última parte possa estar no templo onde realizavam os cultos. - especulou Rosie, pondo seu dedo indicador no queixo.
- Bem pensado, Rosie. Tive uma ideia: Podemos nos separar em dois grupos. Um irá para a mansão do colecionador para buscar a terceira parte do talismã, além de matar os licantropos que estão lá, em seguida partimos para Londres. O outro vai para o templo procurar a última peça, mas somente depois que o primeiro terminar a missão na mansão. A quarta peça pode estar lá, quem sabe. - idealizou Êmina, deixando todos pensativos.
- Mas acontece que não é garantia de que iremos nos sair bem nessa missão. Apesar dos licantropos que entraram lá na vez em que Hector e Rosie visitaram serem de nível 1, ainda tenho suspeitas de que Loub pode ter enviado mais deles, só que mais fortes, aumentando a guarda. Não vai ser fácil. - afirmou Adam, um tanto cabisbaixo.
- Creio que o exército mais forte será utilizado no ataque à Londres. Não acho que ele iria desperdiçar uma horda inteira somente para servirem de guardiões de um tesouro sem valor algum. Rosie e eu podemos cuidar de irmos ao templo encontrar a peça central do talismã. - disse Hector, levantando-se.
- Quanto à invasão, devemos nos comunicar com a polícia previamente. Especificamente, cerca de dez minutos antes de alcançarem o centro da cidade, eles irão cooperar conosco para evacuar boa parte dos bairros. Além disso, devemos contar com um número considerável de rebeldes que lutem ao nosso lado. Sim, eu sei que várias vidas serão sacrificadas... mas eles vão entender que é por uma boa causa. - disse Lester, confiante.
- E quem são eles? - perguntou Rosie.
- São alguns amigos que nos ajudaram com algumas caçadas num passado não muito distante. Eles moram em Londres, vivem nas periferias, com certeza vão nos ajudar. - contou Lester, dando um leve sorriso de empolgação.
- E quanto à denúncia ao Loub? Você cuidou disso, não foi Lester? - perguntou Êmina.
- Claro que sim, não pensem que eu havia esquecido. Fiz uma denúncia anônima hoje à tarde. Provavelmente ele será preso ainda hoje. - disse Lester, cerrando os olhos.
- E eu vou adorar ver a cara dele mofando numa prisão. Se houver um tempo, se tudo estiver sob controle com vocês, talvez eu vá até a delegacia e faça uma visitinha à ele. Tenho algumas dúvidas a tirar... - disse Hector, pensando em novamente interrogar Loub sobre um assunto específico.
Fechando o mapa, Adam olhou em sua volta. Viu companheiros determinados a agir contra o mal que poderia recair sobre a Terra em poucas horas naquele dia. Sentia-se orgulhoso por liderar uma equipe digna.
- Então, está decidido. Primeiro vamos nos separar para unirmos as peças do talismã, quando terminamos na mansão entregaremos as outras duas peças para Rosie e Hector, que se dirigirão ao templo para achar a última, enquanto seguimos para Londres em direção ao campo de batalha. O que quer que aconteça que faça com que as coisas desandem... eu peço que não desistam. Para vocês, eu posso ser o mais forte fisicamente do grupo, mas diante de uma falha grande me sinto frágil... mas mesmo assim continuo me erguendo. Façam isso. Hector proteja Rosie. Êmina, sua alquimia será de grande ajuda. Não sabemos o que vai acontecer, se o tal eclipse vai anunciar a vinda de Abamanu ou algo totalmente inesperado, talvez pior... mesmo não sabendo, mesmo que o sol não nasça amanhã de manhã, continuaremos lutando.
Todos assentiram positivamente com a cabeça, olhando uns para os outros com o máximo de confiança que guardavam em seus corações perseverantes. Rosie levantou-se e vestiu seu capuz.
- Eu estou pronta. - disse ela.
- Todos nós estamos prontos. - afirmou Hector, tentando transmitir segurança.
Alexia aproximou-se do grupo para lhes desejar sucesso nas missões.
- Bem, só o que posso dizer é... Boa sorte. À todos. Prometo que ficarei segura e não vou me manifestar se caso eu tiver alguma visão ruim quando eu estiver dormindo.
- Alexia... você é parte da Legião tanto quanto nós. E Rufus... acho que não preciso lhe pedir o que tem que fazer. - disse Hector, sorrindo.
- Hehehe, tudo bem, rapaz. Protegerei a senhorita Alexia como sempre fiz. - disse o homem, colocando sua mão no ombro direito de Alexia.
- Melhor nós irmos. - disse Adam, próximo à porta, com o carregamento de armas.
Ao saírem por aquela porta, o destino de todos se tornara mais imprevisível do que nunca. Adam saiu na frente com seu vasto arsenal, olhando para a lua cheia... já nos iniciais minutos do eclipse.
- É isso aí, pessoal. Nós vamos trazer o nascer do sol.
***
Enquanto isto, em um lugar não tão distante das regiões montanhosas de Kéup, mais precisamente em uma caverna, reuniam-se e preparavam-se inúmeras quimeras nível 3, afoitas e sedentas por carnificina.
No topo de uma enorme rocha, através de uma larga abertura sendo iluminado pela luz da lua, pouco a pouco sendo coberta por uma sombra, estava Mollock, contemplando com um olhar brilhante o seu exército recém-formado.
- Escutem, meus estimados asseclas! Hoje iremos ser responsáveis pelo início de uma nova era! Uma era onde nós possamos ter o nosso lugar neste mundo infestado de pragas. As pragas? Sim... são eles. E nós somos a cura! Chega de se esconder! É hora de mostrarmos do que somos capazes. Em resposta ao histórico de intolerância desta raça, nós vamos declarar guerra contra os humanos!!!
Todas as quimeras responderam ao discurso uivando em uníssono.
Um sorriso medonho se formara no rosto de Mollock.
CONTINUA...
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