A continuação do sonho


Não se frustra quando acontece de um sonho misterioso ser interrompido justo na melhor parte?

É exatamente o problema que procurei resolver e não demorei no achado da solução. Antes de tudo, vou dizer logo o sonho que foi cortado de súbito (vou poupar os detalhes estranhos):

Parecia ser um dia comum, pela manhã, céu nublado, eu estava sentado no sofá fazendo absolutamente nada até que por alguma razão inexplicada eu fui dar uma olhada lá fora e avistei três meninas na direção da minha casa. Todas elas vestidas como aquelas garotas que vendem chocolates nas portas, não sei como chamam. Assim que chegaram eu já me encontrava de volta ao sofá, quase me deitando e daí que elas me ofereceram doces... sim, doces de vários tipos e sabores, não importa, eu não vou descrever tudo minimamente detalhado, elas apenas me deram doces, balas coloridas, chocolates, enfim o que puder imaginar. E assim termina. Despertei.

Ás vezes criamos uma certa memória afetiva em torno de determinado sonho. Nesse, em especial, senti a atmosfera agradável de um dia tranquilo e com visitas afáveis que me fizeram sentir quisto e logo por pessoas desconhecidas. Que se dane não fazer sentido, isso não é motivo que me faça mudar de ideia em querer saber como isso tudo termina. Porém, fui avisado dia desses no colégio que normalmente os casos onde pessoas que de fato obtém sucesso em verem a continuidade de seus sonhos não saíram da mesma forma que entraram, ou seja, os resultados da experiência podem ser desastrosos com uma infinitude de efeitos colaterais a longo prazo e sequelas irreversíveis.

Se isso me fez arregar? De jeito nenhum! Nessa hora o meu colega não sabia do teor do meu sonho e quando contei ele finalmente suavizou mais a expressão de temor que ele forçou tanto para me fazer voltar atrás imaginando que me viciei num pesadelo recorrente. De bônus, ganhei um tutorial gratuito sobre como sonhar o mesmo sonho sem que ele seja interrompido na mesma parte. Aquele momento era meu, um amigo assim não cai do céu. O "ritual" não tem restrições muito limitadoras e a pior delas seria o funcionamento dele somente voltado para sonhos recorrentes, aqueles que se repetem em intervalos de tempo muito menores.

Vale para qualquer tipo de sonho. O que basta é o essencial: Tê-lo fresquinho na mente do início ao fim. Bem, não no sentido literal, pois, segundo ele, sonhos não tem um começo ou final, então nesse caso o objetivo nada mais é que ver o que ocorre após o evento interrompido. Perguntei se ele já tinha experimentado e me respondeu que prefere apoiar a ideia de que toda conexão com algum sonho muito profundo é cortada por alguma razão e isso, em regra geral, pode ser benéfico pois sonhos, na visão dele, são filmes ilógicos com roteiros imprevisíveis e tudo pode mudar na velocidade de um flash. É como se ele me dissesse "Vê se toma cuidado, não dá pra confiar totalmente nessa parada."

Bem, segui tudo o que manda o protocolo à risca:

1) Manter o sonho bem lembrado na cabeça. Se possível desenhe-o inúmeras vezes para fixa-lo e potencializar a imersão na segunda viagem. Esquecer mais de metade do sonho torna não-aconselhável o ritual, já que se você não lembra de quase nada e resolve tentar mesmo assim, corre o risco de ter um sonho que mantenha pouquíssimas características do que você esperava continuar, podendo essa fusão ser algo a dar muito certo ou muito errado.

2) Todas as condições do momento em que você teve o sonho devem ser mantidas exatamente em seus lugares. A cama com a mesma coberta, a mesma fronha do travesseiro, nada fora do lugar, tudo, tudo mesmo no seu quarto completamente inalterado desde o momento em que você acordou do sonho. É importante lembrar de cada detalhe. Fatores externos inesperados é um risco a ser considerado.

3) O meu colega deu o último ingrediente para a experiência, a marca que parece um hieróglifo. Não importa como, pode até desenha-la. No meu caso, ganhei uma tatuagem, daquelas que parecem adesivos e saem facilmente com água, do meu colega. E só pode ser colocada na testa. Provavelmente alguma antiga civilização em contato direto com os sonhos? Jamais tinha visto um símbolo como aquele.

O sonho se desenrolou igualzinho até a parte em que as três meninas me dão os doces. Não acordei. E segui sonhando... Peguei um saquinho com jujubas e abri enquanto elas me falavam coisas que não captava tão bem haja vista que minha atenção estava todinha nos doces. Larguei o saco ao ver que não tinha jujuba nenhuma dentro... mas sim vermes ou larvas, sei lá, bichinhos amarelos e nojentos se movendo no maior chafurdo, vários deles. Olhei para as meninas depois. Não conseguia sair do sofá. Seus rostos modificaram-se bizarramente, com suas línguas alongadas tipo a do Venom, arqui-inimigo do Homem-Aranha, e com a pele esverdeada, a face terrível com olhos amarelos e manchados de preto ao redor deles, além dos cabelos, não mais tão lisos e sedosos.

As garotinhas bonitas que gentilmente me visitaram deram lugar à abominações horríveis! Eu queria sair dali o mais depressa que eu conseguisse, mas não, alguma coisa me impedia...

Só acordei quando olhei para os doces. Haviam virado uma gosma preta e pegajosa que ia tomando conta do meu corpo... e então acordei dando o maior grito. Na lavada do rosto no banheiro, notei que a marca tinha sumido. Imediatamente liguei pro meu colega, torcendo pra que estivesse acordado...

Felizmente atendeu e desculpei pelo incômodo. Enquanto nos falávamos, alguma coisa dentro de mim, sei lá, me moveu à janela e através dela pude observar algo que me eriçou os pelos.

O meu colega especulou que a forma como sonhei pode ser a continuação original e também falou sobre as camadas oníricas e no meu caso atravessei a segunda... deve existir infinitas camadas e tive uma boa dificuldade em acordar, o que explica os resultados desastrosos que ele falou. Ir ao limite nisso é pedir para mergulhar num estado catatônico do qual você nunca conseguirá sair. Quanto mais fundo se vai, mais difícil é despertar. É processo que leva a sua consciência à um abismo sem fim. A dúvida cruel é o sumiço da marca. Lavei o rosto das sobrancelhas pra baixo, tenho certeza.

O que vi pela janela... foram as meninas, as três, vindo pela calçada, não dava para ver seus rostos, mas o jeito de andar meio travado é o mesmo, impossível... O que diabos tá acontecendo?

A última informação do meu colega é que a marca ter desaparecido significa que uma porta foi aberta para não ser mais fechada. Afinal, sonhos também estão vinculados à mundos alternativos... Então o único jeito de não romper mais dessas barreiras é sonhando e permitindo que acabe quando tiver que acabar, sem recorrer a símbolos, marcas e nem nada para ver o que vem depois, não importa como seja o sonho.

No momento em que termino esta mensagem, a campainha não para de tocar. Eu sei o que elas são de verdade... e estou com medo. Gostaria de acreditar que ainda estou sonhando. 

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Este conto foi escrito e publicado exclusivamente para o Universo Leitura. ´Caso o encontre em algum outro site com créditos e fonte ausentes, não hesite em avisar! 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://misteriosdomundo.org/universos-paralelos-a-teoria-dos-muitos-mundos/

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