Crítica - A Morte Te Dá Parabéns
Quando nem tudo precisa fazer sentido... mesmo que devesse.
AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.
Lembro de ter visto alguns artigos pela internet sobre um estudo que aponta uma curiosidade um tanto amedrontadora: As probabilidades de você morrer no dia do seu aniversário são altas. Mais irônico impossível. Talvez a concepção desta comédia de terror (deixo assim para enfatizar) provenha dessa descoberta. Nem de longe faz a típica produção do gênero, sendo mais alinhada ao estilo cômico e diria que até mesmo de um viés puramente nonsense. Basicamente como a franquia Todo Mundo em Pânico, embora aqui a proposta da zoação satírica esteja diretamente ligada ao defasado recurso conhecido como "Feitiço do Tempo" - inclusive tem um filme homônimo estrelado pelo Bill Murray, referenciado de forma literal nessa produção, que até então eu nem sabia que existia (é, realmente ando precisando ver mais filmes, sobretudo antigos). A fórmula tem potencial com adição de elementos que ela jogou nessa mistura doida.
A começar pelo grande antagonista do filme, o assassino com essa máscara fofinha (é um bebê, mas para mim é o Dollynho). Quem viu o trailer já percebe logo, nos pequenos detalhes, que tudo fica escancarado para mostrar que nada tem lá um compromisso super-importante com a seriedade ou, julgando pela simplista premissa, com a lógica. Porém, a coisa toda não é tão despropositada assim. A protagonista é uma garota loira universitária chamada Tree Gelbman (Jessica Rothe) que possui atitudes não muito sensatas para com suas relações interpessoais (dá vácuo nas pessoas, tem comportamento rebelde, dá uns pegas no professor de química e etc), tanto é que uma de suas "amigas", Danielle, é uma tremenda de fútil que até a própria Tree não suporta. É como uma prova de redenção. No primeiro loop o filme estabelece que Tree deve repensar suas verdades, rever seus conceitos e por fim tornar-se uma pessoa melhor, haja vista que seu background tem drama suficiente para desenvolve-la (resumido pela relação com o seu pai e a morte da mãe, aparentemente recente, cuja data de aniversário era a mesma da filha o que as fazia comemorarem juntas).
Para descobrir a verdade acerca do seu assassino, ela revive o mesmo dia incontáveis vezes, as mesmas situações, pessoas e falas (exceto dela) e tomar cuidado para não refazer os passos anteriores sempre tendo que explorar uma nova possibilidade. Essa é a base do feitiço do tempo, para quem não é muito ligado nessa ideia: Dar diferentes oportunidades para um só fim. O lance das sete vidas do gato é mencionado, embora não tenha relação alguma pelo fato de ser um loop infinito, então é apenas algo jogado porque faz lembrar. Uma das coisas bacanas é que o longa estimula aquela sensação de estar vendo a um episódio de Scooby-Doo, com a obrigação da protagonista em solucionar o mistério da sua morte ocorrer sempre na noite de seu aniversário e como é bem sabido os monstros de Scooby-Doo são pessoas disfarçadas com objetivos egoístas e ao longo da aventura vão sendo apresentados os prováveis suspeitos e ficamos a teorizar sobre a identidade misteriosa até o desfecho.
O que funcionou comigo, conseguindo o êxito de me fazer pensar: "Tava na minha frente esse tempo todo!". Sorte minha ter esquecido do spoiler-mor que acidentalmente peguei numa leitura de comentários. Você vê o aviso de spoiler, mas ele não significa que há uma quantidade imensa ou que todas as revelações foram soltas com intenção de estragar a experiência - o que passa longe do meu intento como formador de opinião sobre um filme. Portanto, nesse caso, me atenho aos spoilers que se distanciem do clímax onde o verdadeiro assassino é desmascarado. Pegando o gancho, passei a acreditar que Carter, a primeira pessoa que Tree encontra logo ao acordar, ir aproximando dela e se entrosando aos poucos ao passo que ela toma uma visão de que ele é um porto seguro para confissões fosse um indicativo de que ele era o assassino e que no finalzinho teríamos um mega-plot twist do tipo que joga na sua cara como se dissesse "Achou errado, otário!" (na verdade, eu levei esse "soco" de engano na morte do professor, o meu segundo suspeito). Ambos tem uma química bem leve.
O propósito cômico aqui não disse a que veio com força. Na verdade, é mais provável que você revire os olhos ou reaja com "facepalm" diante das (patéticas) tentativas de Tree em driblar seu assassino e sobreviver ao seu aniversário do que cair na risada. Nessa linha é como se o filme executasse um papel de "piada de loira audiovisual". Dando um exemplo do quão estúpida é a sua adaptação ao problema, temos a cena em que ela acorda da 12456987ª repetição, especificamente quando o assassino do hospital a persegue e mata Carter (depois de bancar o herói), e abraça o rapaz o agradecendo por ter salvo sua vida. É fácil se perder nesse lance de looping temporal, tanto para o personagem quanto para o espectador. O único lapso de esperteza que Tree esboça é no seu confronto final com o assassino internado no hospital acusado de matar várias mulheres.
Fora essas mancadas, o roteiro se engaja no crescimento pessoal de Tree, fazendo jus ao objetivo. Ela tem momentos divertidos e dramáticos bem explanados. Terror mesmo não se vê um pingo, comédia também é de menos, porém o suspense ganha seus ares, como na cena que antecede a primeira morte e no momento em que Tree resolve não ir à festa - e agora lembrando desta cena e me sentindo um tapado por não ter pegado ali a dica crucial e... bem, melhor não falar mais nada, vou tentar me segurar aqui.
Considerações finais:
A Morte Te Dá Parabéns (Happy Death Day, no original) tira sarro com o seu recurso mais importante usando-o numa saga envolvendo mudança de caráter para uma jovem no dia do seu aniversário e com intenção clara de dar à ela uma boa lição de aproveitamento da vida. E nisso o longa se satisfaz numa proporção que não vai além do que ele parece almejar, nem ambiciona demais também na questão do próprio feitiço do tempo que mesmo injustificado cumpriu sua função exatamente visando a evolução de sua protagonista.
PS1: Sem mentira, afirmo que ri bastante quando o colega da Tree é esfaqueado pelo assassino no meio daquele jogo de luzes com a música eletrônica e ela lá de costas nem tendo ideia.
PS2: Por um instante achei que o assassino estaria ligado de alguma forma ao loop temporal (uma entidade). Não existe a menor relação, um simplesmente poderia agir independente do outro. Mas Tree tinha que concluir seu teste imposto pelo destino (olá suspensão de descrença!) e quer "exame de faculdade" mais difícil que esse para fazer essa menina tomar jeito na vida? Foi a melhor saída ainda que seja desprovido de maiores explicações e levando em consideração que estamos tratando de um "terror" humorístico, então... é isso que faz sentido dentro de um artifício sem sentido.
PS3: O pedido de aniversário da Tree em querer uma nova colega de quarto devia se concretizar, porque é motivo para desconfiar quando a sobremesa de comemoração é um mísero bolinho que parece feito de plástico.
PS4: ♫"Dolly! Dolly, guaraná Dolly! O melhor! Dolly guaraná, o sabor carniceiro!"♫
Pinta esse rosto da verde que fica I-GUAL-ZI-NHO (ou quase, os olhos eram pra ser maiores). |
Veria de novo? Provavelmente sim.
*A s imagens acima são propriedades de seu respectivo autor e foram usadas para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagens retiradas de: http://www.cinemanews2.com.br/wp/a-morte-te-da-parabens-blu-ray-do-mega-terror-vai-trazer-o-final-alternativo/
https://www.fatosdesconhecidos.com.br/trailer-de-morte-te-da-parabens-esta-deixando-pessoas-angustiadas-e-euforicas/
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