Frank - O Caçador #70: "O Herói de seu Povo"

Algumas áreas fronteiriças de Danverous City eram conhecidas por seus terrenos rochosos e gramados. Nos que possuíam maior elevação, dava para se ver o mar de luzes da metrópole à noite. Restava apenas um dia para o alinhamento planetário que vinha sendo amplamente comentado na mídia e encarado com certo temor. O ESP-47 estava numa dessas áreas cavando um buraco profundo. Após largar a pá, pegou a célula-matriz verde e a jogou dentro. Mal sabia ele que os radares da ESP não permitia que um passo que ele desse passasse despercebido. Porém, diante da reviravolta que a fundação assumiu ao selar um pacto com o ESP-47 sob a garantia de que a instalação subterrânea seria retomada, aquela vigilância por 24 horas consistia mais em certificar-se de que ele estava fazendo algo dentro do esperado. 

Um dos agentes que cuidava do rastreamento nesta noite verificou a filmagem do inseto robótico com um micro-câmera. Ele assistiu todas as gravação do clone de Frank cavando o buraco, colocando uma célula-matriz e por fim tapando-o. 

Pegou seu celular a fim de telefonar para alguém em particular. 

- Conselheiro Hoeckler... - disse ele em voz baixa - Sim, eu sei que não devia estar chamando o senhor pela alcunha, mas... a gente se acostuma, né? Olha, o ESP-47 se deslocou hoje à noite da instalação para as fronteiras da cidade. A câmera do inseto-robô que soltamos pra monitorar seus passos, ordem do presidente, gravou ele enterrando as células-matriz em buracos. E vendo pelo satélite... claramente as ligações entre os pontos onde estão situadas formam um triângulo. 

Hoeckler foi diretamente à sala de Carrie que logo o atendeu, estranhando ele ter batido ao invés de entrar invasivo. 

- Superintendente, o senhor batendo à minha porta?! Pelo visto, aquele estado deprimente fez um tremendo estrago. 

- Vamos direcionar nosso foco à problemática de urgência e não à minha... fossa. - disse ele entrando - O agente Knox me reportou uma informação crucial. Pode, por favor, abrir o arquivo onde guardou as traduções dos códigos?

- Tá, mas pra quê exatamente? - perguntou Carrie se dirigindo ao computador. 

- O ESP-47 foi visto nas áreas fronteiriças da cidade enterrando as células-matriz. Através do satélite da fundação, ele descobriu que estão dispostas de modo que formem um triângulo e logicamente sabemos que não é uma coincidência. Já olhou os significados do que diz o feitiço do arrebatamento? 

- Tô indo olhar agora porque sou uma assistente atarefada sem tempo nem pra se coçar. 

- Boa garota, quanta disciplina sua em não procrastinar os afazeres pra checar textos de duas linhas. 

- Um elogio disfarçado de ironia? Ou o contrário? Ah, não interessa, aqui está. - disse Carrie. Hoeckler aproximou-se dela para também visualizar - "A colisão de dois mundos. Mas apenas um permanecerá de pé, porém reconstruído. Os arrebatados que perecerão no desconhecido e os que do desconhecido vieram para restaurar sua própria existência condenada.". É o que dizem os códigos da frente. Arrebatados pode significar abduzidos... 

- Frank considerou a hipótese dos nativos do Antiverso estarem tentando reconstruir a sociedade deles aqui na Terra. - disse Hoeckler - Os arrebatados que perecerão no desconhecido... somos nós. Sendo assim, quer dizer que...

Carrie sentiu um arrepio na espinha. 

- Todos da cidade serão vítimas de uma... abdução em massa. Vamos trocar de mundo com eles? 

- Não se evitarmos. - disse Hoeckler - Aqueles que seguem leais à mim contam com você pra isso, Carrie. Frank não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo pra salvar a cidade. esqueçamos o passado e unamos forças pra um bem maior. 

- Esquecer o que fez com o Ernest? Jamais. - disse ela, séria - Mas... não vou deixar milhares de pessoas serem levadas por um disco voador gigante ou seja lá o que vier acontecer amanhã. Farei o que for preciso por todos que vivem aqui. 

- Assim que se fala, Carrie. Gosto do seu espírito de coragem. E eu sei que não são elogios que farão você e o Frank me perdoarem. Na verdade, não sou perdoável. Mas vocês, um dia, podem decidir isso por si mesmos. 

- OK, fechado. Amanhã vamos alterar o curso dessa profecia... custe o que custar. 

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CAPÍTULO 70: O HERÓI DE SEU POVO

Isolado em casa, Frank se culpava pela justificativa mentirosa que dera à Giuseppe para não trabalhar. 

"Ah, se ele soubesse do que eu tô passando de verdade... Ia estender o isolamento pra seis meses ou indefinidamente até que eu curasse dessa merda", pensou ele, sentado e encostado numa parede do seu quarto sem camisa e com a cicatriz horrivelmente infeccionada. Seus olhos estavam amarelados e se recusava a olhar-se no espelho para acompanhar o avanço das mudanças na sua face como as veias vermelhas e finais ao redor dos olhos. Suas unhas cresceram bastante parecendo assumir formato de garras. O barulho do seu celular o atormentou. "Esqueci de pôr no silencioso.", pensou ele.

- Já vai, já vai... - disse ele, um pouco tonto, levantando-se para pegar o celular sobre sua cama. As pernas pareciam pesar mais do que ele conseguiria suportar - Alô? Não, Carrie, essa não é a minha voz de sono. - sentou-se com dificuldade na cama - Eu mal consegui dormir. Vi o sol nascer. A cicatriz tá piorando, metade do meu corpo tá sendo preenchido pela infecção... Se eu sobreviver até a noite de hoje será um milagre.

- Escuta, Frank: O alinhamento vai começar às sete. Hoeckler e eu interpretamos o feitiço. - disse Carrie na sua sala - O seu clone vai fazer com que todos os habitantes de Danverous City sejam abduzidos para o mundo dos seres da raça dele os quais virão pra cá de mala e cuia. O presidente da ESP tá confiando no sucesso desse plano pra reconquistarem a instalação subterrânea.  Eu mesma vou recitar o feitiço pra anular a abdução enquanto Max Foster não sabe que baixei as traduções. 

- O Hoeckler ter sido demitido ajudou a eliminar minhas suspeitas contra ele. Mas tenho que fazer alguma coisa, não posso ficar aqui trancado esperando eu me tornar um monstrengo. Não posso deixar o desgraçado livre por aí mesmo que perca o jogo. Pra ser honesto, tô sentindo que ele quer uma revanche final. Não, Carrie, aqui eu não fico de braços cruzados.

- Então o que pretende fazer nas condições que você tá? Você mal tá falando normalmente. Se tivesse pelo menos uma cura... - disse Carrie angustiada pelo amigo. 

- Ah, mas vou conseguir sim uma cura. Já sei muito bem de quem vou consegui-la. - disse Frank. 

                                                                          ***

Departamento Policial de Danverous City

Ávido de curiosidade para saber detalhadamente da trajetória de Ernest Duvemport na corporação, Giuseppe acessou um volumoso dossiê que colocou sobre a mesa e teria o dia inteiro para ler cada registro dos feitos reconhecidos de seu antecessor. Mas antes que abrisse, viu algo que não tinha reparado: um pendrive preto que caiu da pasta assim que pôs na mesa. Estudou o objeto, intrigado sobre que tipo de gravação de áudio ou audiovisual estaria armazenada. Conectou no computador e abriu no reprodutor de vídeo e áudio. Viu que tratava-se de um arquivo de áudio e aumentou o som.

A gravação de uma hora e meia era do teste do polígrafo ao qual Frank foi submetido no ano em que ingressou no DPDC. Ouvir a voz de Ernest novamente e depois lembrando que compareceu ao funeral bastante abalado gerou um aperto no coração de Giuseppe. O que estimulou o substituto a escutar o teste na íntegra foi exatamente o nível de incisão das perguntas. Num determinado ponto, ele escutara algo que não esperava. Um momento crucial da entrevista cujo resultado no detector de mentiras deu como negativo. Estarrecido, Giuseppe recostou-se na cadeira e tirou os óculos passando a mão direita no rosto não sabendo a melhor forma de lidar com aquela verdade. Repetiu o trecho voltando alguns segundos para ver se não tinha prestado atenção devido a qualidade do áudio não ser das melhores. Atentamente escutou de novo. 

No trecho em questão Frank revelava à Ernest sua ocupação como caçador de seres paranormais. 

                                                                       ***

Frank saíra de sua casa determinado a tirar satisfações com o presidente da ESP de modo que o forçasse a contar mais dos segredos obscuros envolvendo o agente Phil Baxton. O detetive entrou no seu carro usando óculos escuros para não deixar à mostra os olhos afetados pela infecção para quem estivesse caminhando na rua. Levou as mãos ao volante, logo enxergando mais veias vermelhas se originando e subindo pelos dorsos, aumentando sua apreensão. Deu a partida no carro e saiu em disparada rumo à base alternativa da fundação ESP mantendo o celular desligado para que uma ligação de Carrie, Giuseppe ou Hoeckler não estragasse o disfarce que tinha em mente para o seu plano de confrontar Maximilliam Foster. 

Ao chegar lá, foi recepcionado por agentes acreditando ser o ESP-47 pedindo por uma visita rápida ao presidente e o permitiram entrar. Frank passou pelo corredor acompanhado de dois agentes que ficariam nos dois lados da porta fazendo guarda ao longo da conversa. Max escrevia algo no seu diário e interrompeu ao erguer os olhos para o visitante. 

- Saudações, senhor presidente. - disse Frank. 

- Ora se não é o meu sócio prodígio. - disse Max levantando-se - Eu realmente não esperava que fizesse uma visita pra discutirmos nossa parceria e talvez reforça-la. Sabe que eu só quero o melhor para sua raça, entende? A prosperidade, a sobrevivência... e a evolução. - foi aproximando-se dele amigável. 

- Não tenho porque duvidar. - disse Frank, esforçando-se no disfarce. "A grande ironia: É mais difícil pro original se passar pela cópia do que o inverso!", pensou ele controlando seus impulsos. 

- Porque esses óculos? - indagou Max, curioso - Você me parece contido demais... Algum problema? 

- Sim... - disse Frank, optando por acabar com a atuação malfeita ao tirar os óculos - Não só um problema, mas vários. Qual é a dessa carinha de surpresa? O meu clone simplesmente foi burro de ficar com a mesma roupa que eu uso no trabalho. Será que ele toma banho? Enfim, não ligo, bora pro assunto que eu vim tratar contigo, seu verme. 

Max agiu rápido ao voltar para a mesa e pegar uma arma da gaveta. Apontou-a para Frank. 

- Nem mais um passo, detetive Montgrow. Será o último que dará se você insistir em tocar num fio de cabelo meu. 

- E por que razão eu te estraçalharia todo? Só quero sanar umas dúvidas. 

- Mentira! Já se olhou no espelho? Você claramente foi afetado por Keter, a entidade da violência e do caos. Os conselheiros me detalharam tudo acerca da viagem ao Novo México pra recolher a célula-matriz no templo onde foi protegida, disseram que você foi atacado pela energia ao tocar na célula e ficou inconsciente. Eu sou eternamente grato àqueles velhos homens guerreiros que deram suas vidas.

- Deixa de conversa, eles foram enganados por Keter! Mas você não, seu miserável. - disse Frank dando passos adiante - Você sabe bem o que tá fazendo e porque tá fazendo. É tudo um joguinho de interesses.

Max não atirava por imaginar que a mutação em Frank estava avançada o bastante para blinda-lo. 

- O que diabos você quer de mim? 

Frank o pegou pela gola do terno e o colocou contra a parede agressivamente fazendo-o soltar a arma.

- O que aconteceu com o Phil Baxton? 

- Hoeckler lhe contou, né? Aquele linguarudo. Devia tê-lo silenciado logo assim como todos os conselheiros. Mas não seria a primeira vez que membros dessa equipe teriam sido apagados sob encomenda. 

- Tá querendo dizer que já mandou matar conselheiros antes?  

- Deixe-me contar do início: A célula-matriz azul foi nosso primeiro objeto de estudo. Seu poder de geração de energia era fora de série. É a célula de Abosmath, a entidade do conhecimento. Eu a toquei e ela me transmitiu absolutamente tudo acerca do Antiverso. Quando o portal foi aberto, Baxton se voluntariou... e nunca mais reapareceu. Mas a entidade me mostrou a verdade a partir de sua onisciência que transcende as dimensões. Baxton foi vítima de um experimento dos nativos da zona verde que zerou sua memória e o modificou fisicamente para que fosse designado a cumprir a profecia. As criaturas da zona vermelha ameaçavam invadir as demais. As entidades eram cultuadas como deuses e seus respectivos seguidores formalizaram um tratado mandando as células para a dimensão que eles vislumbraram muito tempo antes.... no caso este nosso pequeno mundo. Baxton foi enviado na cápsula que caiu em Roswell em 1947 junto com a célula de Sephirath. 

- Se não me falha a memória... - disse Frank mantendo seu tom furioso - ... o Hoeckler tinha dito que na cápsula de Roswell tinha dois tripulantes: uma mãe com seu filho no ventre. 

- Hoeckler, assim como todos os outros, caiu na narrativa do vídeo forjado do parto de uma criatura alienígena fêmea. Eu pedi que filmassem algo que parecesse o mais real possível, ainda adicionando efeitos especiais. Dei aos responsáveis uma quantia ideal pelo silêncio deles. Eu previ que o ESP-47 se libertaria do cativeiro mais cedo ou mais tarde... e eventualmente ele acharia a fita do falso parto após a deflagração da crise, acreditando que ali estava gravado o seu nascimento. 

- E quanto a morte dos conselheiros? - perguntou Frank sentindo mais dos efeitos da mutação o afetarem dolorosamente, mas ele seguia aguentando com os dentes cerrados e a face de pura raiva. 

- Apenas um foi punido ameaçando vazar informações de um projeto que eu queria manter no mais absoluto sigilo. - disse Max, nervoso com a intimidação de Frank - Projeto esse que visava salvar a vida de Baxton. Mas depois... eu refleti e concluí: Curar Baxton significaria desmanchar com os planos de salvação dessas raças que apenas queriam prosperar num novo lar. Eu entendi o papel que ele representava como uma outra criatura sem lembranças de quem foi e resolvi cancelar o projeto. 

- O projeto de uma cura?! Você tinha que ter cancelado, né? 

- Mas espere... Pra que você não cometa o erro de me matar, devo dizer que... Eu interrompi o projeto tarde demais. Os cientistas já haviam desenvolvido a cura e eu sempre a levei comigo pro caso de um dia ser necessário, afinal não fizemos aliança com o Phil Baxton que conhecíamos e sim com um outro ser psiquicamente instável e temos de tomar cuidado caso ele não cumpra sua parte do acordo. 

- Você não quer salvar nada além da sua pele e do seu castelinho. Eu quero... eu preciso da cura... agora.

Max foi solto e puxou uma gaveta da sua mesa retirando uma seringa grande com uma agulha grossa.

- Tome. Cure-se, mas deixe Baxton como está. - disse Max entregando a seringa com um líquido branco.

- Me diz como foi que em todo esse tempo você continua com essa aparência tão jovem.

- Os milagres da ciência... são difíceis de explicar. - respondeu Max, suando de inquietação. 

- Beleza... É só uma pena que essa jovialidade toda aí não vai se manter no caixão. - disse Frank que logo atravessou sua mão direita no peito de Max que olhou para o golpe perplexo - Isso foi pela Virginia. - falou o detetive que rapidamente arrancou o coração de Max. O presidente da ESP estava com os dentes sujos de sangue que escorria da boca e caiu agonizante - Pode deixar que vou fazer bom uso... do meu jeito. 

Frank foi embora da sala levando o coração de Max. Os agentes notaram gotas de sangue no chão e olharam para Frank que jogou para trás o órgão como um objeto qualquer. 

- Peguem aí, guardem de lembrança. - disse Frank andando pelo corredor tranquilamente com a seringa guardada num bolso do sobretudo. Os agentes alarmados entraram na sala deparando-se com o presidente morto com um buraco sangrento no peito. Ambos se entreolharam terrificados e um deles prontamente foi noticiar a tragédia. 

                                                                               ***

Esperando anoitecer dentro do carro que estacionou perto de uma quadra de futebol, Frank ligara para Carrie. 

- Pensei que tivesse se matado ou essa mutação alien tivesse deixado você em coma. - disse Carrie em tom de reclamação - Desligou o celular, não foi? Por que? Eu tava aqui roendo as unhas preocupada! 

- Tá sabendo da última? O presidente virou presunto... graças a mim. 

- Espera, foi você? Hoeckler acabou de receber ligação de um agente, disseram que foi o seu clone... 

- Carrie, agi disfarçado sem exatamente me disfarçar. - disse Frank de modo um anto ríspido - É claro que eu não ia deixar ninguém me perturbar ligando direto, eu tinha que ir lá fazer justiça pela Virginia!

- Justiça ou vingança? O que ganhou com isso? 

- A cura! A cura pra esse mal correndo nas minhas veias! Eu não posso virar um monstro antes de poder acabar com essa tramoia dele. Não, eu não vou virar... Eu vou cura-lo também. Primeiro ele, depois eu. 

- Como é que é? O presidente escondia uma cura?! 

- Resumindo pra ti: O tal agente Baxton de quem o Hoeckler me falou é o meu clone que foi ratinho de laboratório dos nativos da zona de onde pertence a célula verde, a que caiu em Roswell. O presidente conduziu um projeto pra criar uma cura, mas engavetou, matou quem descobriu e ameaçou botar a boca no trombone e varreu a sujeira pra debaixo do tapete. Se eu vacilar na chance de salva-lo... desisto. 

- O quê? Frank, faz ideia da loucura que acabou de dizer? - perguntou Carrie julgando a ideia absurda - Se não o salvar, ao menos a cidade e o mundo inteirinho estará a salvo. Falhar em reverter o que aconteceu com o Baxton não é motivo pra desistir da sua missão e do legado que você tem honrado. 

- Eu não tô conseguindo pensar direito... A mutação tá ferrando com a minha mente... 

- Pra você cogitar aposentadoria por conta de uma possível falha, sim. 

- Espera aí, tem alguém ligando... 

- Injeta logo essa cura em você, Frank, pelo amor de Deus. - pediu Carrie soando como uma imploração. 

- Não... Ainda não. Pra conseguir uma brecha, tenho que lutar com ele de igual pra igual. A gente se vê mais tarde, Carrie. Ou talvez não... quem sabe. - disse Frank, logo encerrando a chamada e passando a atender quem estava telefonando.

- E aí, minha sombra? Contando as horas para o grande evento? 

- Na real, é contando as horas pra te encher de porrada. 

- Ótimo, então concordamos em medir nossas forças no ápice. Já escolhi o palco. Venha até o observatório astronômico. 

- Legal. Hoje você não escapa. Tô forte o bastante pra virar esse jogo. 

- É o que veremos quando estivermos cara à cara e... espero que por uma última vez. 

- De certa forma, sim. - disse Frank, logo desligando e tentando equilibrar suas emoções, mas a mutação dificultava organizar os pensamentos para que se tranquilizasse evitando um surto de fúria.

                                                                              ***

O alinhamento planetário estava sendo televisionado em diversas emissoras que cobriam o evento em várias partes no lado iluminado do planeta. Carrie assistia na TV da sala de Hoeckler uma reportagem mostrando o sol da Rússia parcialmente eclipsado pelo planeta Vênus. Hoeckler entrou na sala apenas para dar o aviso de que tudo foi preparado. 

- Estamos de saída. O alinhamento está quase na metade. Preparada? 

- Desde a nossa conversa de ontem. - disse a assistente, determinada. 

- Alguma notícia do Frank? 

- Ele vai tentar lidar com o gêmeo malvado dele sozinho. Espero que ele ainda tenha um resquício de humanidade pra não fazer nenhum besteira. Vamos logo, escrevi a anulação do feitiço num papel. 

Enquanto isso, Frank adentrava no observatório astronômico caminhando um tanto trôpego ao resistir à mutação cujo avanço progredia numa velocidade maior. Olhou ao seu redor pelo amplo espaço, estranhamente sentindo presenças na escuridão. As luzes que estavam apagadas logo se acenderam. O detetive tomara um susto impactante ao se ver diante de um exército montado pelo ESP-47. Mas não um exército qualquer de criaturas com DNA modificado.... mas uma horda de clones idênticos à ele e trajando as mesmas vestes. Frank piscou os olhos várias vezes não acreditando que aquilo fosse real. 

- Tá de brincadeira comigo... - disse ele, recuando ante aos clones que o encaravam sérios e se aproximavam - Mas bem que eu desconfiava que ele guardava um ás na manga... só não esperava que fossem tantos ases na manga. - sacou sua pistola, disparando a esmo nas cópias que avançaram. Algumas sucumbiam, mas a extensa maioria cercou Frank e partiu para agredir o detetive que se viu engolido, mas não levou socos que pudessem trazer danos devido à mutação ter lhe conferido um poder físico descomunal emparelhado com o do ESP-47. Frank sacou mais uma arma atirando desenfreadamente nos clones, mas dois o agarravam para faze-lo errar os disparos. Frank lutou para se desvencilhar e o fez de maneira brutal. Frank gritou enfurecido afastando três de seus clones com sua força sobre-humana e os destruía usando suas mãos com unhas crescidas para decapita-los. O piso de granito manchava-se de sangue e enchia-se de cabeças decepadas. 

Dentro da van com os agentes da ESP, Carrie via no celular uma notícia pela internet que divulgava avistamentos de estranhas nuvens tempestuosas vindo à Danverous City. A assistente preferiu não julgar aquilo precipitadamente. 

No observatório, Frank enfrentava o último clone remanescente do exército infame criado pelo ESP-47 com os embriões cultivados pela fundação. O clone não fazia frente em termos de força contra o detetive beneficiado pela mutação e socava o rosto de Frank sem fazer sair do lugar. Frank pegara o punho direito dele e quebrara a mão fazendo-o gritar de dor. Em seguida virou o braço fazendo-o girar pelo ar numa fração de segundos conseguindo derruba-lo. 

- Nessa cidade só tem lugar pra um Frank Montgrow. - disse ele, logo chutando o rosto da cópia com pisadas violenta e ininterruptas movidas pela cólera amplificada pela mutação. A face do clone ficou irreconhecível com os vários chutes encharcando de sangue a sola da bota direita de Frank. O detetive seguiu adiante para a sala onde ficava o grande telescópio. Abriu as portas duplas agressivamente e esquadrinhou ao redor procurando o ESP-47. 

- Que barulho é esse? - perguntou Frank escutando sons similares à trovões, mas não tinha certeza.

- São os tambores rufando para o gran finale que está por vir. - disse o ESP-47 saindo detrás da base do telescópio - E nem você... nem ninguém... é capaz de impedir o mais magnífico evento celestial que esse mundo vai testemunhar pra nunca mais se recuperar do terror causado pelo esvaziamento de toda essa cidade. 

- Cala essa boca. - disse Frank - Pra tua informação, tem sim alguém que pode impedir. A Carrie pegou as traduções dos feitiços escondida do presidente e deve estar nesse momento indo pro topo do "triângulo" - fez as aspas com os dedos -, nos limites da cidade, pra dar um fim nessa merda antes dela começar. 

Expressando surpresa, o clone reavaliou o curso do plano. 

- Talvez devamos adiar nosso acerto de contas. 

- Ah não, nem a pau que você sai daqui, comigo aqui não. Deitei na porrada as copiazinhas de merda que você fez de mim e estão lá atrás... todos um bando de bonecos sem cabeça. Agora somos só eu e você.

- Eu não esperava mesmo que eles te dessem algum desafio, eu... usei aqueles vulneráveis fetos que a fundação preservava pra me divertir com meu kit de experiência genética. Bastou introduzir meu DNA, que é seu também, e eles cresceram tão rápido com um fertilizante hormonal. Mas a pior parte foi gastar uma grana alta pra comprar roupinhas iguais as nossas. Cresceram todos fiéis à sua e à minha imagem, um tremendo sucesso.

- Que eu transformei em tremendo fracasso há pouco. E tá na hora de acabar com o último que resta.

- O que tá esperando? - perguntou o clone dando um sorriso canalha - Chega mais. - fez um gesto com  mão esquerda pedindo para Frank vir e ele o fizera soltando um grito de fúria. Um confronto violento teve início, mas Frank sabia que precisava mover-se com cautela a fim de não quebrar o vidro da seringa - Tá se segurando por que? - perguntou o clone. 

O ESP-47 dera uma cabeçada em Frank que não sentiu dor alguma e revidou com uma mais forte para em seguida chuta-lo no peito fazendo-o cair longe no chão. Sacou logo a seringa andando na direção dele. 

Mas o adversário reergueu-se e Frank escondeu a seringa atrás de si. 

- O que você tem aí? - questionou o clone sorrindo com curiosidade. 

Em paralelo, os céus de Danverous City foram tomados pelas nuvens de tempestade. Carrie e os agentes andavam pela área fronteiriça enfrentando a ventania. Os agentes a acompanhavam para escolta-la em caso do ESP-47 aparecer para intercepta-los. Os cabelos castanhos em penteado chanel que tocavam a região posterior do pescoço da assistente esvoaçavam com o vento soprando furioso. 

- Acho que aqui é o ponto! - disse ela - Um agente que tava no rastreamento me enviou a filmagem que flagrou o ESP-47 enterrando a célula... bem aqui. - bateu o pé esquerdo no solo - É, pessoal, sem dúvidas! Tem uma saliência, ele enterrou nesse exato local! - virou-se para encarar os céus trovejantes. 

- Vejam! - disse um agente apontando para cima. Buracos de luz se formavam lentamente nas nuvens. As ruas mais movimentadas da cidade tiveram o trânsito parado para observar o fenômeno. 

- É a abdução! - gritou um agente para Carrie - Tá começando! Depressa! 

Carrie assentiu e retirou do bolso do casaco o papel onde transcreveu a tradução segurando-o bem firme para o vento não arrancar das suas mãos. Recitou cada palavra o mais alto que pôde. No observatório, Frank se recusava a mostrar a seringa considerando ser muito cedo. "Ainda não meti sopapo suficiente nele... Não tem como enfiar a seringa, ele é rápido, ia roubar num milésimo de segundo..."

- Mostra aí! - disse o clone andando até Frank - Que negócio você tem escondido? Não vou negar, você chegou me alcançou, pena que pra isso tenha que renunciar a sua humanidade pra transformação atingir o máximo. Não é isso que você quer, né? Ainda tá conservando sentimentos... lembranças...  

"Isso, vem, chega mais perto...", pensou Frank. 

- As criaturas selvagens do mundo de onde eu vim quase devastaram meu povo. E é numa delas que você vai se tornar. - disse o ESP-47 ficando poucos metros do detetive - Pronto pra mais uma rodada?

O céu limpava-se, mas o clone percebera ao não ouvir mais as trovoadas. 

- O quê? - indagou olhando para cima na brecha do domo - Não! Não pode ser! O alinhamento... 

Frank aproveitara essa distração para certeiramente cravar a agulha perto do ombro esquerdo do clone, exatamente na região de sua cicatriz. Removeu a seringa enquanto o ESP-47, boquiaberto, cambaleava.

- Então era isso... - disse o clone estupefato - Não queria uma luta até a morte... 

- O seu nome é Phill Baxton. - disse Frank ofegando com a mutação cada vez mais ameaçando reagir - E seu lugar é aqui... na Terra. - declarou ele. O clone logo caíra ao chão para trás tocando no ponto onde foi injetada a cura. 

Frank não fincou a agulha em si até ver os resultados do efeito da cura. O ESP-47 convulsionava, o que preocupou Frank fazendo-o chegar a pensar que Max provavelmente teria mentido. "Não é possível".

- Reage... Reage! - disse Frank que em seguida sofreu com dores ainda mais pungentes na cicatriz e levantou a cabeça olhando para cima soltando um urro feroz com dentes pontudos crescendo, as veias vermelhas aumentando em seu rosto e os olhos ficando inteiramente amarelos com as pupilas negras e aumentadas. Acabou por cravar a agulha no seu braço esquerdo e a seringa se esvaziava. Os sinais físicos da mutação se reduziam até não haver mais nenhum vestígio. 

- Onde estou? - perguntou uma voz que Frank não reconhecia. O detetive baixou a cabeça para olhar seu ex-oponente e sorriu fracamente ao ver que as experiências que Phill sofreu tanto no Antiverso quanto na fundação foram completamente revertidas - Quem é você? Por que... O que aconteceu?

- Você tá são e salvo. - disse Frank. Porém, ambos se assustaram com um estrondo - Ah essa não...

- O que está havendo? Eu exijo saber! - disse Phill levantando-se - E que roupas são essas? 

- Olha, Phill, não há tempo pra explicar uma história tão longa, a gente tem que cair fora e já! 

Explosões ocorreram de vários lados, fazendo cair pedaços do teto. Frank e Phil correram para saírem apressadamente, mas o incêndio se alastrou pelo observatório muito mais rápido do que suas pernas. 

Mais explosões. Frank não duvidava que Phill, como o ESP-47, havia implantado bombas-relógio como o último recurso caso Frank estivesse com a batalha ganha. Uma viga de metal robusta e pesada caiu sobre as costas de Phill.

- Não! - disse Frank voltando para ir busca-lo em meio ao fogaréu e à destruição. Ele tentou levantar a viga com força no limite, mas de nada adiantava. De repente o desespero fez bater uma saudade da super-força da mutação. 

- Vá! - disse Phil agarrando a perna esquerda dele - Salve sua vida! Eu não sei o que houve, mas... O que quer que tenha feito por mim... Eu te agradeço! Não lembro desde que aqueles homens verdes me pegaram! Então... seja lá o que tenham feito comigo... você consertou e me trouxe de volta! 

- Phill... Não cara, não vou te largar! 

Mais destroços do teto caíam e o fogo somente crescia. Uma van da ESP vinha a caminho do observatório. Hoeckler avistou o domo em chamas. Frank ainda teimava em abandonar Baxton. 

- É inútil... você nunca vai conseguir levantar essa coisa... Um homem só não consegue... - disse Phill - Caiu muito rápido... Não sinto minhas pernas... Acho que minha coluna se partiu! 

- Não... Me esforçado tanto pra deixar acabar assim?

Frank viu nos olhos de Phill a súplica para que ele corresse para fora pela sua própria vida. Com lágrimas descendo, Frank correu escapando da queda de mais destroços e desviando do fogo. A van da ESP parou e Hoeckler juntamente com os agentes desceram. Frank veio até o superintendente do DPDC com cara de poucos amigos. O incêndio apenas piorava e era provável que Phill já estivesse morto. 

- Não consegui. - disse Frank frustrado - Não pude salvar o Phill como eu gostaria. 

Hoeckler fizera um gesto que pegou Frank desprevenido.

- Você foi um herói. - disse Hoeckler tocando-o no ombro - Muito bem, chamem os bombeiros. 

Frank olhou para trás tristemente vendo o fogo consumir o observatório e sofrendo pela falha da qual não tinha a menor culpa. 

                                                                                ***

Carrie permaneceu naquela área observando as estrelas sentada numa pedra após o fim do alinhamento e ter finalmente interrompido a abdução massiva. Pensou em como e onde Frank estaria. 

- Não devia estar dormindo? Amanhã tem trabalho. - disse o detetive bem atrás dela. 

A assistente se virou emocionando-se. 

- Frank... É você mesmo? 

- Quem tá vivo sempre aparece, né? Mas pra te ajudar: 15 de julho. 

- O quê? - indagou ela, não entendendo. 

- A data do seu aniversário. - disse Frank - Obviamente que meu clone do mal não sabia dessa. 

- Então... Acabou? Você o curou? 

Frank tornou a desanimar-se lembrando do que foi forçado a fazer. 

- O Phill Baxton... quando ainda tava como ESP-47 plantou bombas no observatório, talvez ele quisesse me matar pra escapar se algo desse ruim pra ele, tipo você recitando o feitiço pra anular o arrebatamento, o que ele nem fazia ideia. Consegui cura-lo... mas não salva-lo. O incêndio venceu. 

- Meu Deus... Isso deve ter machucado você. Eu sei o quanto isso te destrói por dentro. 

- Mas tô legal... ainda mais agora vendo que você tá bem. Salvamos o mundo. Me serve de consolo. 

De inesperado, um tremor de terra balançou o solo. 

- Terremoto uma hora dessas?! - disse Carrie. 

- E é dos piores! - disse Frank se desequilibrando.

- Frank! - disse Carrie percebendo que o detetive recuava para a fenda na terra - Aí não! Não! 

Notando muito tarde, Frank caiu na fenda devido a magnitude do sismo, relativamente a mesma do último registrado na cidade. Carrie se agachou inclinando-se e gritando pelo nome do amigo. Frank caía batendo seu corpo nas paredes de pedra e deslizando. Tombou num espaço firme e rochoso se queixando de dores. Levantou-se olhando ao redor. 

Olhos vermelhos na escuridão o fitavam. Em guarda aberta, Frank se posicionou como um inimigo das criaturas que se ocultavam nas sombras. Elas vieram armadas com lanças pontudas. Repentinamente, Frank foi agarrado por dois desses habitantes do subterrâneo e foi levado sem que resistisse. O apresentaram a alguém parecido com eles na aparência cuja pele parecia ser feita literalmente de pedra.

- Deixem-me interagir com ele. - disse o indivíduo com um porte mais parrudo e virou-se para seus servos - Não é todo dia que um residente da superfície vem até nós. - sorriu de forma tão misteriosa que Frank desconfiou seriamente das intenções. 

- Agora ferrou. - disse o detetive temendo o que viria depois daquela recepção ao olhar fixamente para o líder da tribo.

                                                                               FIM DA 5ª TEMPORADA

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://br.sputniknews.com/ciencia_tecnologia/2019040813633417-nasa-portal-ceu-universo-foto/

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