Frank - O Caçador (Especial #5): "Só Para Maiores"


✋ AVISO DE CONTEÚDO INAPROPRIADO PARA MENORES DE IDADE ✋

Ainda que já esteja no título, nunca é demais ressaltar (aliás, faz-se de suma importância): A narrativa abaixo contém uma alta dose de violência, obscenidade e palavreado de baixo calão. Portanto, você aí, gasparzinho que não tem 18 anos ainda (ou é muito sensível para acompanhar histórias com muitos detalhes pesados), esteja plenamente ciente de que o conteúdo não é indicado à sua faixa etária. Para os que estiverem fora da restrição, boa leitura.

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Num consultório odontológico situado no que parecia ser um porão reformado, um dentista preparava seus instrumentos de operação para reverter um caso agravado de cárie no seu paciente que esperava temeroso, mas não na intensidade de nervosismo que um paciente comumente teria num procedimento como aquele. O paciente estava amarrado por cintos numa cadeira odontológica e sua boca amordaçada por um pano. Ele se debatia afoito de querer se soltar para fugir da tortura pela qual passaria. O dentista, após organizar-se para iniciar o "tratamento", enfim falou:

- Bem, hora de começarmos. - disse ele, virando-se. Segurava na mão direita uma furadeira robusta que ligou e a mesma fez um barulho alto e aterrorizante para o homem que aguardava ter sua cárie removida. O dentista pouco ortodoxo veio à ele usando uma viseira de proteção sorrindo de maneira sacana e destacando a furadeira - Eu realmente lamento. É que passo por uma crise financeira e... anestésicos são geralmente caros pra cacete! - retirou a mordaça e segurou a mandíbula do paciente com força - Abra bem essa boca! - ordenou em tom autoritário - Abra! - encostou a furadeira no peito dele fazendo-o soltar um grito de dor e aproveitando essa deixa finalmente levou a furadeira para dentro da boca. O paciente se debateu na cadeira como se estivesse tendo um ataque epilético. Os dentes pulavam para fora da boca junto com sangue que espirrava devido à broca que fazia estragos horrendos na arcada dentária. O dentista insano movia a furadeira de qualquer jeito, logo passando para os dentes de cima. Mais sangue espirrou na sua viseira e ele limpou com a mão enluvada. 

Enquanto transcorria a sessão de dor excruciante, em um ferro-velho um homem vestindo traje de bombeiro e usando uma máscara preta medonha fazia uma trilha de gasolina a partir de um barril de combustível no qual havia um homem acorrentado e com uma fita adesiva cinza na boca gemendo desesperadamente. Acendeu um isqueiro e abaixou a chama queimando rapidamente a trilha. O fogo seguiu veloz em direção ao barril que explodiu em chamas matando instantaneamente quem estivesse lá dentro. Muito distante dali, um lenhador armado com uma serra elétrica corria atrás de uma garota numa floresta, o ronco barulhento do motor quebrando o silêncio desfrutável do ambiente naquele horário. A jovem de cabelos pretos desacelerou olhando para trás, mas sabia que não devia ter parado para reaver o fôlego. Ela tornou a correr e logo avistara uma casa de aspecto externo pouco convidativo. Ainda assim, quis entrar por não haver outro refúgio que parecesse minimamente seguro. Tocou na maçaneta descobrindo que, para seu desprazer, estava trancada. 

- Porra! - disse ela forçando para tentar abrir - Alguém, por favor! - bateu com a mão esquerda aberta na porta não se dando conta de que seu barulho apenas atrairia o perseguidor voraz e desenfreado. Eis que ele aparecera bem detrás dela. A garota virou-se lentamente sentindo arrepios constantes - Não liga essa serra, eu só quero voltar pra casa. Já estraçalhou todos os meus amigos, então... me deixa ir, pelo menos. Faço tudo o que você quiser pra desistir de me matar... 

- Hum... Tudo mesmo? - indagou o lenhador, um homem gordo com uma pança avantajada usando um avental bastante sujo de sangue por cima da sua camisa de flanela vermelha. O homem aproximou-se dela com a serra desligada mostrando melhor seu rosto robusto com barba moderada e grisalha como seu cabelo. A olhou dos pés à cabeça - Quero te foder. 

- O quê? Não... Não, espera... - disse ela apavorada, expressando rejeição. Mas nada do que dissesse o faria voltar atrás já que ele estava baixando sua calça e mostrando seu pênis ereto para ela que encarou enojada e chorando. 

O lenhador largou a serra elétrica no chão e virou a jovem para ficar de costas. 

- Para, eu prefiro morrer mesmo! - disse ela, contra a parede da casa, em prantos, tendo sua calça e calcinha baixadas por ele. O lenhador introduziu seu pênis na área vaginal dela escutando o choro de sua vítima como música aos seus ouvidos. 

- Você vai desejar nem ter nascido, vadia. - disse o lenhador, perverso, dando uma risadinha diabólica.

Após concluir o sexo não-consentido, a virou de frente para ele olhando-a fundo nos olhos. Soltara-a, indicando ter perdido o prazer de usa-la como mero objeto sexual como uma condição mutuamente satisfatória para deixa-la livre. 

- Agora que você brochou... Já posso dar o fora? - perguntou a garota trancando a repulsa e o asco. 

Pegando sua serra de volta, o lenhador parecia, por um breve instante, maleável a estar de acordo. 

No entanto, ligara novamente a serra. 

- Desculpa, gatinha. A foda foi boa, mas tenho um trabalho a fazer. Meu chefe não gosta de desperdício de comida. 

Dilacerou a garganta da jovem com a serra lançando espirros e jatos de sangue nele. 

Noutro lugar, paralelamente, num recinto iluminado porcamente por uma lâmpada velha, um homem usando óculos similares aos de pilotos de aviões antigos. Estava prestes a puxar a alavanca de uma cadeira elétrica na qual prendera um homem inocente que sequestrou no dia anterior. Sorriu assistindo os últimos minutos de agonia da sua vítima. Desceu a alavanca. 

A corrente elétrica fez faíscas salpicarem enquanto o pobre homem recebia uma quantidade absurda de volts no seu corpo. 

Os quatro assassinos sentiram-se exitosos depois de mais um dia produtivo. O dentista guardava todos os dentes arrancados de sua última vítima num pote de vidro. O incendiário vestido de bombeiro colocou o corpo carbonizado que incendiou no barril sobre uma mesa e pegou talheres comendo alguns pedaços como se aquilo fosse o seu jantar. O lenhador pendurava os membros da garota que estuprou e esquartejou em ganchos na casa em que ela iria se abrigar e que por sinal pertencia à ele. E o eletrocutor jogava o corpo de sua vítima que sentenciou à cadeira elétrica num lago fétido no qual saiu boiando. 

Essas quatro mentes doentias possuíam mais conexões que o prazer de matar. 

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CAPÍTULO ESPECIAL: SÓ PARA MAIORES

Departamento Policial de Danverous City

Carrie seguia pelo corredor dos banheiros masculino e feminino tranquilamente a fim de tirar a água do joelho. Nem esperava pela cena espantosa que se depararia logo ao abrir a porta. A assistente ficara boquiaberta, a perplexidade impossível de conter na face. 

- Ma-Mas... Que merda tá acontecendo aqui? - perguntou ela em voz alta. 

O agente Hartman e a secretária do diretor, Kelly Mendeson, estavam transando, ambos completamente nus, dentro do banheiro feminino. Foram tomar consciência da presença de Carrie um pouco tarde. 

- Ah não... - disse Hartman saindo de cima de Kelly e pegando depressa suas roupas e sapatos - Carrie, tinha que ser você! Merda! - olhou para ela por cima do ombro esquerdo - Não conta pro diretor hein!

- Se eu vou contar? Ah pode deixar, jamais cometeria o crime de revelar um caso de um agente e uma secretária fazendo sexo em pleno horário de expediente e num banheiro! Fiquem à vontade, divirtam-se. 

- Não vem com essa, Wood. - disse Kelly colocando o sutiã nos seios fartos - A gente sabe que você é a maior linguaruda desse departamento. Nós apenas estávamos... sedentos de desejo um pelo outro. 

- Mas é chato ter que entregar nossa relação dessa forma. - disse Hartman abotoando a camisa. 

- Aposto que vai ser menos chato se eu entrega-la ao diretor da forma como eu descobri. - disse Carrie.

- Não, não faz isso, por tudo que é mais sagrado. Pelos nossos empregos, Carrie! - disse Hartman, desesperado tentando colocar a gravata, mas Carrie já havia se distanciado - Ah, mas que bosta! 

Quando a assistente de Frank foi dedura-los para Giuseppe, o diretor sentiu o sangue ferver. 

- É inacreditável o que você acabou de me dizer, Carrie. 

- Se chama-los até aqui, irão confessar tudinho. É pura verdade, pareciam tão fogosos e...

- Chega, não preciso que me dê detalhes do que viu. Vou chama-los imediatamente, pode sair. 

Frank vinha assoviando para iniciar mais um dia de trabalho quando Carrie veio radiante até ele. 

- Opa, que carinha de alegria é essa? Ganhou na loteria ou foi só um aumento? 

- É a cara de uma heroína que faz o bem sem pedir nada em troca. - disse Carrie vangloriando-se de ter denunciado Hartman e Kelly - Não vai acreditar, escuta só... - aproximou-se mais do detetive para falar em voz baixa - Flagrei o agente Hartman e a secretária do diretor no maior amasso no banheiro. Amasso no sentido de... Ahn... Eles estavam transando no ápice. 

- Como é que é? Eu mal sabia que eles tinham um lance... Caramba, eles estavam fodendo e agora vão se foder porque com certeza você foi desembuchar isso pro diretor. Mas no banheiro? É estranho, justo no local de trabalho.

- É, não conseguiram segurar até fazerem as reservas num motel. 

- Enfim, espero que tenham tomado um belo castigo pra aprenderem a controlarem os impulsos sexuais. Mas sei não... Uma coisa me diz que... Ah, deixa pra lá. Tem algum caso na fila de espera? - perguntou ele indo para sua sala.

- Bem, diria que são quatro casos em um. - disse ela seguindo-o para dentro - A escolha é sua. Quatro assassinos em série, alguns deles sequestradores também. Esse quarteto do horror é composto por um ex-dentista que ainda é dentista, mas mata pessoas com aparelhos rudimentares. O segundo é um ex-bombeiro que hoje sequestra pessoas para prende-las e incendiá-las em barris. Terceiro: O ex-eletricista que sequestra gente pra pôr na cadeira elétrica e lança seus corpos num rio. E por fim, o quarto: o ex-lenhador que ainda é lenhador trucidando pessoas com uma serra elétrica... tipo o maníaco do filme.

- Peraí... essa galera toda andou cometendo atrocidades no mesmo período de tempo? 

- Pois é, parece muita coincidência. Apenas parece. 

- E se for mesmo coincidência, não dá pra resolver todos os quatro de uma só vez. - disse Frank vendo a impossibilidade de deter quatro assassinos em série num curto intervalo de tempo. 

- Mas não é, vi no relatório que eles começaram os sequestros e as mortes praticamente em simultâneo. A polícia coletou o histórico de cada um deles, não tinham antecedentes criminais até embarcarem nessa vibe assassina. Só que tem uma razão, eles não são um grupo de sociopatas sanguinários a toa. 

- Deixa ver se eu adivinho: Foram todos demitidos sem justa causa. 

Carrie arqueou as sobrancelhas, surpresa. 

- Bem no alvo. Os quatro perderam seus empregos sem mais nem menos e agora usam elementos das suas profissões pra praticar assassinatos perversos. Parentes de duas vítimas que tinham consultas marcadas no dentista relataram que seus familiares nunca mais voltaram. No caso do bombeiro... digo, o incendiário, ele já foi visto saindo de um restaurante onde aconteceu uma explosão de gás que matou umas 12 pessoas. 

- Ah, esse daí vi no jornal. Se bem que tá cada vez mais raro eu ler jornal hoje em dia. 

- Quanto ao eletricista e o lenhador, nada além de desaparecimentos foi apurado até o momento. Bem, no caso do eletricista, os corpos no rio estavam tostados, como se... tivessem sido submetidos a uma cadeira elétrica. Uma descarga altíssima de não sei quantos volts causaria uma morte com aqueles sinais.

- Eles piraram, surtaram por levarem pé na bunda dos seus chefes e não parecem ter ligações uns com os outros, mas... Como nós bem sabemos em anos trabalhando juntos, nada é o que parece.

- Agora é com você. Escolhe um caso pra averiguar primeiro. - sugeriu Carrie andando para sair. 

- OK, vamos começar com o lenhador. Pede mais informações da polícia sobre os outros pra me repassar.

Carrie deu um joinha saindo da sala. Frank não parava de pensar no escândalo de Hartman e Kelly, mas balançou a cabeça e deu uns tapinhas no rosto para focar na missão, afastando imaginações do momento íntimo dos dois. 

- Vamos nessa, Frank. Foco. - disse ele, alongando o pescoço ao sair da sua sala - O dia vai ser longo.           

                                                                            ***

No estacionamento, Frank desativou o alarme do seu sedã prata. Mas algo lhe chamou a atenção de imediato: o agente Neil Hartman passava por ali meio cabisbaixo em direção ao seu carro. 

- Ei, Hartman! - chamou Frank dirigindo-se à ele - Tava querendo mesmo um papo reto contigo. 

- Ah não Montgrow, você não. - disse Hartman fazendo cara feia - Veio me dar sermão também? Estão todos me dando lições de moral, a notícia tá se alastrando mais rápido que a pandemia do ano passado.

- Não, fica frio. Eu apenas gostaria de saber... o que levou você e a secretária a se atraírem sexualmente?

- E desde quando eu te devo alguma satisfação da minha vida íntima? - questionou Hartman, grosseiro.

- Deixou de ser íntima a partir do momento em que a Carrie pegou vocês no ato. 

- Está bem, já que está tão curioso, a Kelly e eu combinamos de frequentar um clube noturno que recentemente foi aberto no subúrbio. - disse Hartman, retirando um cartão do bolso do sobretudo marrom escuro e entregou-o a Frank que deu uma olhada - Não é uma casa de swing qualquer, é algo mais próximo de uma boate erótica onde servem comes e bebes. Você bebe um bom vinho tinto enquanto come uma parceira. - deu uma risadinha - Você devia fazer uma visitinha. Não ficou interessado? Ah qual é, não acredito nos boatos sobre você que espalham por aí. 

- Que tipo de boatos? - perguntou Frank, desconfiado. 

- Bem... Que você é um virgem com mais de 40 anos que nunca saiu da bronha. 

- Eu ainda vou pegar quem anda soltando esses rumores. - disse Frank com suspeitas em mente. 

- Como você é um detetive e trabalha com nomes, nem pergunta pra mim quem começou. - disse Hartman veementemente tentando transparecer a ideia de não saber quem deflagrou a boataria - Que barulho é esse? - indagou escutando um ruído. 

Frank logo percebeu que era seu medidor de campo eletromagnético emitindo o ruído abafado. 

- Ahn... Hartman, você ainda não explicou como tiveram coragem de transar no banheiro em horário de trabalho. 

- Eu não sei. Senti um desejo ardente e poderoso de fornicar com ela não importa onde estivesse. Um sentimento que cresceu dentro de mim de uma hora pra outra. Procurei ela na sala do diretor, nada. Na sala dela, nada. Até que a achei no banheiro, trocamos uns olhares de sacanagem e... - deu de ombros... aconteceu. Queríamos a mesma coisa.

- Certo... Digo, não sobre a furunfa de vocês dois e sim você ter me contado. Não vou mais te perturbar.

- Não vai mesmo. Fui demitido. - revelou Hartman - E a Kelly também. 

- O diretor demitiu ela?! Cacete, ele é tudo o que disseram mesmo. Linha dura e sem escrúpulos. 

- Agora me deixa ir. - disse Hartman - Pensa bem se não quer se divertir no clube. Não sabe o que tá perdendo. 

Hartman virou as costas e Frank logo pegou seu medidor que continuava emitindo ruídos. No visor a leitura estava no máximo, mas conforme Hartman se afastava diminuía gradualmente. "Leitura vinda dele... Tá quase explicado.".

- Devaxus. - disse ele olhando para o cartão. O nome do clube de erotismo soava bastante místico e até um pouco familiar.

                                                                             ***

Estacionando o carro bem em frente ao clube, Frank não sentia-se culpado em adiar a responsabilidade de partir diretamente à investigação dos assassinatos dos quatro profissionais frustrados. Na entrada do clube, o detetive foi barrado por dois seguranças truculentos que se achavam muralhas intransponíveis.

- Eu vim falar com o gerente da casa. - disse ele não se intimidando - Não é pra fechar o local... 

- A casa tem autorização da prefeitura pra funcionar com regularidade. - disse um dos seguranças - A menos que você tenha um mandado e provas de que a gerência é corrupta como andam especulando. 

- Ah, então tem quem ache que há um esquema de desvios de recursos? Bem, pra sorte do gerente, não tenho mandado, mas ainda assim gostaria de trocar umas palavrinhas com ele sobre duas pessoas que conheço, vieram pra esse lugar e passaram se comportar fora dos seus normais como se estivessem chapadonas. Tenho que me certificar se não há substâncias ilegais misturadas às bebidas. Então, por gentileza, será que podiam me dar licença? 

Os seguranças permanecem alguns segundos fazendo barreira, mas logo acataram o pedido. 

- Valeu. - disse Frank passando pelas duas montanhas de músculos. Um dos seguranças tocou no seu comunicador atrás do ouvido esquerdo observando Frank adentrar no clube. 

- Chefe, visita pro senhor. É um detetive que não inspira confiança, parece afim de foder com tudo. 

Do seu gabinete, o gerente, que batizou a casa erótica com o seu nome, falava pelo seu comunicador.

- Se ele não aparentar desconfiança acerca de nada, sem problemas, deixem ele fazer uma tour. 

Frank foi pelos corredores dos quartos. A casa também oferecia serviços de motel que custavam mais caro que as participações em experiências picantes nas noites especiais marcadas pelo gerente, o grande manda-chuva. O detetive dobrou para um corredor de paredes vermelhas e ao passar por uma porta ouviu vozes. Dentro do quarto, um homem nu masturbava-se diante de uma jovem mulher que o encarava com malícia no olhar estando de quatro na cama e permaneceu assim andando até ele como um animal faminto. A mulher aproximou sua boca ao pênis dele, mas houve uma brusca interrupção. Frank entrou no quarto vendo o homem despido de costas. Fez cara de nojo ao ver a bunda dele com marca de cueca e os pelos. A entrada abrupta do detetive fez a mulher gritar e sair correndo do quarto. 

- Não sabe respeitar a privacidade alheia? - perguntou o homem virando-se para Frank e mostrando olhos inteiramente pretos, indicando ser um demônio - Então vou te ensinar uma liçãozinha. 

Frank não sacou nenhuma arma, apenas esticou seu braço direito e recitou o exorcismo romeno. O corpo do homem se contorcia conforme o exorcismo progredia. A mulher ainda corria desesperada, acabando por esbarrar no gerente do clube, o próprio Devaxus que sorriu para ela amigavelmente. 

Devaxus tinha um charme que podia ser avistado de longe com cabelo loiro bem cortado e olhos azuis. Na verdade, o recipiente que ele havia escolhido para caminhar entre os humanos que no fundo desprezava intensamente, apenas enxergando um valor meramente carnal para considerarem aproveitáveis. No quarto, o demônio despossuiu o homem e rosnou para Frank com suas fileiras de dentes movendo de forma grotesca. Aquele ser de pele negra como veludo fugiu atravessando a parede ao invés de cair matando em cima de Frank na certeza de que o adversário veio com bastante munição. 

- Filho da puta covarde. - disse Frank. 

- O quê? Do que você chamou? - perguntou o homem caído no chão sem entender. 

- Não era com você... ahn... - se desconfortou ao estar diante de um cara nu com o pênis ereto e ainda esguichando sêmen - Olha, se cobre com esse lençol aí. - disse Frank jogando um cobertor em cima dele. 

- Aonde eu vim parar? Cadê minhas roupas? E-eu... Não lembro de nada. O que eu tava fazendo?

- Amigo, você tá num quarto de motel e sem roupa. O que você acha? 

- Eu devo ter sido raptado. - especulou o homem levantando-se cobrindo-se com o lençol. 

- De certa forma você foi sim. Mas se eu te contar a verdade, essa história fica pior e mais doida. 

Enquanto isso, no corredor, Devaxus seduzia a moça tocando suavemente no seu rosto. 

- O que aconteceu pra tanto desespero? 

- Um cara invadiu nosso quarto... Logo na hora em que estávamos prestes a fazer a ordenha... 

- Ah entendo. - disse Devaxus dando um sorrisinho de canto. Eu vou lidar com ele rapidinho. Mas antes... - seus olhos enegreceram completamente - Que tal aceitar meu convite para a orgia de hoje?

- Seria... ótimo. - disse ela encantada pela beleza do corpo assumido por Devaxus que a hipnotizava. 

- Te vejo às dez em ponto? - perguntou Devaxus acariciando os mamilos dela. 

- Combinado. - disse ela sorrindo. Devaxus retirou do bolso do casaco preto uma chave. 

- Vá para o quarto 13, vou cuidar do invasor enxerido que estragou sua mamada. 

A garota saiu andando mais calma, porém sob efeito da irresistível hipnose do demônio. 

Frank vinha voltando do outro corredor no qual situava-se o quarto em que flagrou o limiar de um sexo oral. Estacou ao ver Devaxus no corredor seguinte, intuitivamente julgando-o como o gerente. 

- Se eu não estiver enganado... Você deve ser o gerente desse clubinho pornô, né?

- Os seguranças me informaram da presença de um detetive querendo inspecionar meu estabelecimento. - disse Devaxus indo na direção dele - De início, receei, mas pensei que seria sensato dar passe livre pra alguém que não faria nada mais que uma observação minuciosa pra desmentir ou confirmar um crime.

- Pra ser honesto, melhor cancelar minha investigação. Tive umas surpresas bem desagradáveis. 

- Não devia estar explorando os corredores. Se queria verificar as bebidas, bastava ter ido ao balcão. 

- A curiosidade é um dos meus instintos mais difíceis de controlar. - disse Frank estreitando os olhos.

- Encontrei uma das minhas clientes correndo e nervosa... Por que invadiu o quarto onde ela estava?

- Escutei uns barulhinhos suspeitos e... descobri que me enganei, não era nada do que pensava. 

- Não quer mesmo investigar as bebidas? Geralmente os preparadores de drinks passam do ponto. Mas eu assumo toda a responsabilidade caso eles tiverem dopado qualquer cliente. - disse Devaxus, dissimulado.

- Não, eu perdi o pique. Na verdade, eu nem devia estar aqui. Como se chama mesmo?

- Devaxus. - disse ele sorrindo misterioso - Apelido carinhoso de velhos amigos. 

Frank fez que sim lentamente com a cabeça. 

- Meu nome é Frank. - disse ele apertando a mão direita de Devaxus - Frank Montgrow.

"Sorte sua eu não ter molhado a mão com água santa, seu demônio escroto.", pensou o detetive. 

Frank despediu-se dele. Devaxus o olhou por cima do ombro altamente desconfiado das verdadeiras intenções investigativas. "Hum, algo me diz que... não foi nosso último encontro", pensou ele, os olhos pretos novamente. 

                                                                                ***

Na região onde situava-se a casa do lenhador, Frank ligou para Carrie para confirmar o endereço, ainda à alguns metros de distância. O silêncio da área não pareceu estranho, embora fosse mais do que necessário manter os sentidos aguçados para qualquer movimento suspeito. O detetive manteve-se andando num ritmo vagaroso de modo que reforçasse sua postura. 

- Te mandei a foto da casa. É essa daí mesmo? - perguntou Frank, falando baixinho. 

- Exato. Havia um clube de lenhadores que se reunia nessa zona após o trabalho. Ah, e também um grupo de jovens foi encontrado... quer dizer, partes deles foram encontradas no meio da floresta. O lenhador se chama Danny Caine. Mas me fala logo, Frank: Por que diabos você veio pedir informações do massacrador da serra elétrica logo agora? Já são quase três horas. O que ficou fazendo no meio tempo?

- Tive uma conversinha com o Hartman quando ele tava saindo, me contou do pé na bunda que ele e a secretária levaram do diretor. - disse Frank, observando a casa de aspecto nada atraente para se entrar - Mas no meio do papo meu rastreador de atividade paranormal apitou alto e a assinatura vinha dele. 

- Espera... Tá suspeitando que o sexo descompromissado deles no banheiro tem justificativa sobrenatural? Esse seu aparelho deve ter avariado. Honestamente, eu fiquei mais surpresa com o fato deles terem um caso do que flagra-los trepando no banheiro como se não houvesse amanhã. 

- O leitor tá OK, até dei uma passadinha em casa pra verificar num teste com os itens do meu museu assombrado no porão. O Hartman tava meio estranho, parecendo conformado, até demais, por ter sido demitido, não sentindo culpa do que fez. Além disso, o cara ainda me recomendou ir pra um clubinho erótico chamado Devaxus. Esse nome te diz alguma coisa? Ele me deu o cartão e fui lá bisbilhotar. 

- O que você descobriu? Devaxus é um nome que soa... um tanto quanto depravado. Bem a cara de um lugar desse tipo, mesmo parecendo nome de marca de sabonete. Então quer dizer que o Hartman frequentava com a Kelly essa casinha de sacanagem? E se o nome tem uma conotação suspeita...

- Eu imaginei que soava familiar, depois lembrei... que esse nome tá incluso nos arquivos do meu pai. Daí fui conferir e tava certo. É um demônio antigo que tinha como meta espalhar a devassidão e a malícia por onde quer que passasse. O desgraçado sonha alto: A humanidade sucumbindo a perdição imperdoável. Pior que cruzei com ele depois que peguei um demônio descabelando o palhaço na frente de uma garota que provavelmente é bem mais nova que ele.

- Argh... E o que houve depois? 

- Exorcizei o demônio, a garota fugiu e tive que me explicar pro gerente... o próprio Devaxus. 

- Vou fuçar na internet algum site que informe dias e horários das atividades da casa. Geralmente lugares assim seguem à risca programações semanais, cada dia uma brincadeira diferente... 

- Você parece ser entendida de como funcionam as coisas nesses lugares... Não vai me dizer que...

- O passado fica no passado, Frank. - disse Carrie, desconversando envergonhada - Te ligo depois. 

A assistente desligou rapidamente e Frank amargou numa curiosidade ferrenha sobre essa parte obscura do passado de Carrie. Guardou o celular e foi entrando na casa. Um odor de carne pútrida invadiu suas narinas, causando-lhe uma ânsia de vômito que segurou com muito esforço. Notara sangue gotejando no chão imundo e fedendo a carniça. 

Ao olhar para cima, o sangue pingou na sua testa. O detetive viu braços e pernas pendurados em ganchos acima dele como se estivessem ali para decoração aos olhos do lenhador. 

Limpando o sangue na testa, Frank saiu debaixo dos membros decepados e prendidos naqueles ganchos enferrujados, explorando mais da casa. No entanto, quase foi pego de guarda baixa quando Danny Caine veio frenético ligando sua serra. Frank abaixou-se flexionando os joelhos. A serra passou na horizontal rasgando a parede. O detetive correu e pegara uma barra que chocou-se contra a serra assim que Danny desferiria o próximo golpe. O choque da barra com os dentes da serra produziram faíscas aos montes. Mas Frank sabia que essa defesa era meramente temporária. Danny usou sua força para baixar a serra sobre Frank recuava temendo as faíscas que ameaçavam salpicar no seu rosto. Danny agilmente ergueu a serra para um golpe decisivo que colocaria Frank ao chão, mas o detetive largara a barra e afastou-se correndo. 

Encontrou dois baldes com gelo e derramou no chão enquanto ele corria para efetuar mais um ataque. Frank derramou o gelo do segundo balde. Com o chão escorregadio, Danny se desequilibrou caindo para trás com enorme impacto na cabeça. Tamanho foi o escorregão que a serra voou para o alto e caíra sobre ele. Frank virou o rosto com os olhos fechados para não ver a serra estraçalhando o corpo de Danny como se estivesse para parti-lo ao meio. O lenhador maníaco se debatia feito um peixe fora d'água aos berros com os dentes da serra dilacerando sua carne e fazendo sangue espirrar para todos os lados.

Frank tomou a iniciativa corajosa - e até misericordiosa - de ir até Danny para desligar a serra, protegendo com as mãos o seu rosto dos jatos profusos de sangue. Ainda assim, o detetive via-se com o rosto encharcado e as mãos completamente ensopadas. Alcançou cautelosamente a corda para desligar a serra enlouquecida e o fizera. Danny já não esboçava um mísero sinal de vida, seus olhos abertos de horror pela morte sofrida. Frank analisou o estrago da serra no corpo do lenhador. As tripas de Danny estavam à mostra em meio a um buraco absurdamente profundo de carne com sangue jorrando. 

Frank, com o rosto coberto de sangue, percebeu algo no pescoço de Danny. "Que colar é esse?", pensou. Arrancou o colar de corrente dourada e pingente em formato de pentagrama da mesma cor. 

- Essa história não tá mais tão confusa quanto antes... - disse ele, logo retirando o celular ligando para Carrie - Desculpa aí se tô te interrompendo no meio de um serviço, mas é importante. Acabei de encarar o cuzão da serra elétrica e... o negócio aqui foi brabo. Não matei ele... Bem, indiretamente sim. Mas foda-se, ele tava merecendo, fiz ele provar do próprio veneno.

- Enfrentou o lenhador psicótico?! Não foi pego desprevenido assim que entrou, né?

- Uns centímetros mais alguns segundos me separaram de ser rasgado em pedaços pela serra. - disse Frank - Tô fedendo a sangue porque literalmente levei um banho. Vou precisar dar um pulo em casa pra tomar uma ducha. 

- Menos um assassino, restam três. E ainda tem o mistério de Devaxus... 

- Olha, acho que esse mistério tá começando a se desvendar hein. O Danny usava um colar em formato de pentagrama. O curioso é que o Devaxus usava um idêntico. E se for alguma espécie de amuleto que mantém os assassinos ligados à ele? 

- Boa hipótese. Não seria mera coincidência, afinal a casa Devaxus foi aberta há cerca de oito dias e dois dias depois os assassinatos do quarteto de maníacos tiveram início praticamente ao mesmo tempo. 

- De grão em grão a galinha vai enchendo o papo. Ou seja, vou atrás dos outros miseráveis que fizeram pacto demoníaco e pegar os colares. Não me espantaria que as demissões deles tenham a ver com o Devaxus. 

- É o mais provável. O problema é como descobrir o plano do Devaxus. E então, qual é o próximo alvo? 

- Acho que o cara da cadeira elétrica pode me responder o que o safado tá tramando. - disse Frank olhando para o colar.

                                                                           ***

Ao longo da noite, Frank saiu à caça dos três assassinos em busca de se apropriar dos colares que os conectavam diretamente à Devaxus numa trama que ainda se mostrava nebulosa demais para o detetive.

Entrando no porão de uma velha casa que invadira usando o típico truque do grampo na fechadura, após Carrie ter descoberto imagens de uma câmera mostrando o ex-eletricista Stanley Backshall adentrando na sua residência, identificando-o pelo zoom das imagens. Stanley se passava por um falso consertador de televisões e com os clientes lhe visitando em casa aproveitava para apaga-los e leva-los ao porão a fim de subjuga-los ao cruel e mortífero destino na cadeira elétrica. Frank desceu a escada do porão iluminado pela tremeluzente luz da lâmpada fluorescente e não enxergou rastros de vítimas recentes. Porém, Stanley veio atacando munido de uma arma de choque. 

O eletrocutor saíra de um canto escuro depois de saber que sua casa estava sob invasão sorrateira. Frank desviava das investidas dele com aquele aparelho de eletrochoque. O detetive segurou o braço direito que segurava o taser e o fez com que eletrocutasse a si mesmo, retirando suas mãos depressa para que não fosse afetado também. Em seguida, o chutou no peito e inclinou-se para pegar o colar, logo o agarrando pela gola da camisa. 

- Desembucha logo o que te levou a fazer pacto com a porra de um demônio! 

- Vai pro inferno, a gente conversa lá! - disse Stanley, sarcástico, logo usando a arma de choque no braço esquerdo de Frank que foi agarrado facilmente pelo assassino dada sua condição fraquejada. 

Stanley o virou direto para o transformador velho que faiscava perto da cadeira elétrica intencionado pressionar o rosto de Frank expondo-o à corrente de dois mil volts. Porém, Frank chutou sua canela para desequilibra-lo, conseguindo soltar-se e virando-o diante do transformador. O detetive o jogara direto ao transformador. Stanley pensou que seria possível segurar-se em alguma coisa para impedir que seu rosto chocasse contra o transformador, mas acabou por tropeçar e sua face rapidamente foi de encontro. Frank recuava para não ser pego pelas faíscas enquanto Stanley recebia a imensa carga elétrica tostando seu corpo se debatendo sem poder desgrudar do transformador cujos fusíveis queimaram.

O alvo seguinte era o dentista mais desaconselhável da profissão com quem se consultar. Frank adentrou no consultório clandestino e se deparou com uma pessoa sentada na cadeira. Esse paciente jazia morto, a boca aberta encharcada de sangue com a arcada dentária esburacada. O detetive notou os potes repletos de dentes armazenados. 

O dentista, cujo nome era Calvin, saía do banheiro enxugando suas mãos com um papel-toalha. Surpreendeu-se ao ver Frank parado de frente para sua última vítima. Frank imediatamente apontou a arma para ele que andou para o lado direito exatamente onde ficavam suas ferramentas numa mesa. 

- Paradinho aí ou é bala no teu couro. Me passa esse colar. 

- Por que um cara como você está interessado num simples colar? - perguntou Calvin, não conseguindo ocultar sua tensão e pegando escondido o motor - Ganhei de presente... Não posso me desfazer dele, tem meio que um valor sentimental.

- Ganhou de presente das mãos imundas de um demônio chamado Devaxus. Não foi? Selou pacto obter algo em troca que ele prometeu mas que com toda a certeza não vai cumprir nunca. Você foi tapeado. 

- Você venceu, caro detetive. Mas está sabendo demais. Existe um pacto... mas estou no meio de um trabalho que visa recuperar a vida que eu tinha. Sujar minhas mãos por uma recompensa. Por que não? O que você faria pra restituir o seu ganha-pão se ele fosse tirado de você por quem te estendeu a mão quando mais precisava? 

- Ah, é claro, porque os fins justificam os meios. Já ouvi muito essa ladainha. Agora passa pra cá a merda desse colar se não vou até aí e tiro na marra. Teus dias de dentista do mal acabaram, fodeu pra vocês que abrem as pernas fácil pro demônio. 

Calvin retirou o colar e aproximou-se de Frank, mas mantendo escondido o motor atrás de si. Logo que estava a um metro de Frank, ligou o aparelho e resolveu atacar o detetive. Frank segurou o braço de Calvin e o socara no nariz que sangrara bastante com o golpe. Porém, o dentista revidou com um soco de esquerda e depois chutara-o na barriga, logo aproveitando para ficar sobre o detetive e agredi-lo com o motor mirando num dos olhos. Frank barrou a mão dele, a ponta do motor ganhando proximidade com o seu olho esquerdo. Aquele duelo de forças só poderia acabar de um único jeito. 

- Tava fazendo coleção pra fada dos dentes? - perguntou Frank apontando a arma sobre o queixo de Calvin. Apertou o gatilho em legítima defesa quando viu que não poderia impedir o motor de encostar no seu olho, afinal Calvin tinha praticamente o mesmo porte físico que ele. A bala atravessou o queixo e o cérebro de Calvin que morrera na hora. 

Frank pegou o colar como um troféu ou um item que se coleta num jogo. 

- Só falta mais um arrombado. - disse ele, guardando num bolso do sobretudo. 

O detetive se direcionou para o ferro-velho onde o ex-bombeiro que atuava como incendiário torturava psicologicamente suas vítimas antes queima-las vivas. Carrie ligara no exato momento em que Frank escutou barulhos atrás duma pilha de carros. 

- Péssima hora, Carrie. - disse Frank olhando para sua direita - Cheguei no ferro-velho e nem sinal do maluco. 

- Então é uma boa hora já que não te interrompi durante uma briga. Se liga só: A Devaxus tem mesmo um site oficial, mas difícil de ser encontrado. Marcaram pra hoje, às onze, uma... orgia entre os frequentadores mais assíduos. Conseguiu extrair alguma coisa dos outros assassinos sobre o plano?

- O dentista tinha falado que não podia abdicar do colar por conta de um trabalho que fazia em prol do Devaxus pra recuperar seu emprego ou talvez os quatro foram enganados achando que iam nadar em rios de dinheiro. - naquele instante, o incendiário saiu da pilha de carros ligando um lança-chamas - Agora tenho que desligar, Carrie, ele tá na área. - encerrou a chamada, escapando das rajadas de fogo soltadas pelo incendiário. Frank rolava no chão para desviar das chamas. Mas para o azar do ex-bombeiro, o lança-chamas emperrou. Deu umas batidas, mas não resolveu. Sacou um isqueiro que acendeu. 

Frank sentia um forte cheiro de gasolina vindo dele. Como último recurso, o incendiário ateou fogo sobre si mesmo sendo que estava banhado de óleo diesel. O corpo inteiro do assassino se encheu de fogo e ele correra até Frank para incendiá-lo junto com o detetive. No entanto, Frank desviara tranquilamente, rindo por dentro do quão inútil foi aquela estratégia. 

- Isso que eu chamo de fogo no cu. - disse Frank. 

O incendiário bateu contra o vidro de um caminhonete que vazava combustível, o que provocou uma enorme explosão. Frank ficou meio desapontado de não obter o colar, mas de qualquer forma se fazia importante em primeiro plano derrotar Devaxus independente do que estivesse planejando. 

                                                                            ***

A orgia entre os frequentadores do clube ocorria a pleno vapor. Relações heterogêneas e homossexuais se misturavam naquele espaço com poucas luzes movendo-se como se encenassem uma peça teatral. Entretanto, a interrupção veio de inesperado. Frank chegava disparando três tiros para o alto. 

- Acabou a suruba! Todo mundo circulando! 

Os estampidos apavoraram várias pessoas, homens e mulheres completamente nus, que fugiam paras as adjacências do clube. Devaxus se mostrou para Frank que ignorou as genitais do recipiente do demônio.

- E nos encontramos de novo, detetive Montgrow. Ou eu deveria dizer caçador Montgrow? 

Frank atirou na testa de Devaxus que inclinou a cabeça para trás com o impacto da bala, porém soltou uma risadinha zombeteira, retirando o projétil como se descola um adesivo. 

- É minha maneira de cumprimentar um demônio. - disse Frank - Isso quando tô afim de fazê-lo queimar até os ossos. Tenho água santa sob medida pra fazer tua carne podre arder. - exibiu os colares - Os presentinhos que você ofereceu pros seus lacaios. Capei um por um. - jogou-os no chão. 

- Era de se esperar que numa cidade com homens como você... iriam fracassar. - disse Devaxus sorrindo cinicamente. O demônio ergueu os punhos e estalou os dedos. Os clientes que permaneceram tiveram seus pescoços quebrados simultaneamente - Mas não passavam de ferramentas temporárias. 

- Por que matou toda essa gente, seu maldito? - perguntou Frank, irritado. 

- Depois chamo os rapazes da limpeza pra virem recolher todo esse entulho. - disse Devaxus. 

- Responde a pergunta direito! - esbavejou Frank. 

- Esses colares representavam minha ligação mística com aqueles homens, mas funcionavam mais como canais de energia por onde passariam as almas de suas vítimas direto para o meu colar... que passaria pra mim. Agora me sinto farto, satisfeito e nutrido para governar sobre todos os demônios e fazer jus ao título de Príncipe das Trevas.  

- Teve a ideia de se alimentar de almas pra se considerar um novo capiroto? É, você sonha alto mesmo. Sonha tanto que perdeu a noção de realidade, se é que alguma vez teve. O trono já tá ocupado, não tem "golpe de estado" que dê jeito e, por mais incrível que pareça, é alguém que conheço... e tem laço de sangue comigo. 

- Não consigo acreditar. - disse Devaxus, um tanto surpreso - O atual governante do submundo... a abominação que os anjos temiam... é um familiar seu. 

- Meio-irmão, pra ser exato. 

- Que mundinho triste e pequeno esse, não? Você até que é especial. De um jeito trágico, mas é. 

- Chega de lero-lero. Ou você se rende agora ou vou ser obrigado... - disse Frank, sacando a lâmina sacerdotal, novamente fazendo o demônio expressar surpresa, apesar de não se intimidar facilmente.

- Onde conseguiu uma dessas? Desde que vagava como um nômade no submundo, sabia que apenas os anjos portavam espadas como essa. Percebi que você é especial, mas já tá começando a abusar... 

- Fica tranquilo, não vou cortar fora o pau do cara que você tá possuindo. Até porque demônios não podem transar fora da casca, então me resta uma opção prática pra te enfiar esse punhal com tudo.

Frank estendeu sua mão direita para Devaxus recitando o exorcismo romeno, porém algo estava errado.

- O que... Que porra é essa? - perguntou Frank, incrédulo com a falha do exorcismo sobre o demônio lascivo. 

Devaxus ria infamemente do fracasso do detetive. 

- Permita-me mostrar como se faz um exorcismo efetivo. Não vai sair correndo cagando nas calças. 

A pele do corpo do homem possuído, dos pés à cabeça, começava a deteriorar-se expondo a carne viva que se decompunha como se fosse a ação de um ácido com extremo poder de dissolução. Por baixo da carne que desaparecia, a pele negra feito carvão do demônio ficava à mostra. Devaxus retirou as camadas carnosas do seu corpo, inclusive da cabeça parecendo uma serpente trocando de pele. Haviam marcas brancas por todo o corpo do demônio como tatuagens tribais. 

- O que achou dos desenhos? Fiquei mais descolado... mas acima disso muito mais forte. - disse Devaxus, seus dentes pontudos e salientes movendo-se com sua boca - Com as almas reunidas dentro de mim, o poder conferido pelo feitiço, que em si são essas marcas, pode se equiparar ao de um anjo caído em toda a sua glória. - arremessou Frank usando telecinesia. O detetive caiu sobre uma mesa com objetos de vidro que virou-se com o impacto. Mesmo sendo jogado feito um boneco, Frank manteve firme a lâmina na sua mão. Ele levantou-se, posicionando para o embate com sangue escorrendo de uma ferida na têmpora esquerda pelos cacos de vidro. Mas uma reação inesperada em Devaxus lhe deu uma ponta de esperança.

- Tá difícil conter tantas almas... tantas vozes gritando na sua cabeça... - disse Frank, aproximando-se com contentamento por Devaxus demonstrar sinais de intolerância na contenção das almas - Acho que elas cansaram de brincar de casinha com você... que não é o pica das galáxias que pensava que fosse.

O detetive tirou do sobretudo uma garrafa com água santa e jogara no rosto de Devaxus que recuava mal sendo capaz de manter-se de pé. Sorrindo ao se deliciar com a desvantagem, Frank jogou mais água na face do demônio que efervescia soltando fumaça. Esvaziou a garrafa derramando sobre a cabeça dele impiedosamente fazendo-o gritar. 

As almas se rebelavam como rostos assombrosos de tristeza querendo sair do corpo de Devaxus.

- Quer mesmo saber... - disse o demônio, o rosto carcomido pela água santa - ... o maior motivo pelo qual pintei as marcas do feitiço de absorver almas? Eu queria ela de volta! Uma antiga paixão!

- Quem essa vadia? - perguntou Frank, destacando a lâmina. 

- Ninguém mais e ninguém menos que... a lendária Lilith. Tivemos um enlace juntos há séculos... Mas o coração dela... se é que ela possui algum... pertencia ao grande Azrael, soberano de todos os demônios. 

- Por isso que inventou de comer almas pra voltar a comer a demônia, mas dessa vez como um novo rei do inferno? Se toca, desgraçado! Acha que vou cair nessa papinho de amor entre demônios? Você queria mais era meter o caralho nela! - disse Frank, logo dando um soco - E pra estragar teu sonho definitivamente: Ela tá morta! - socara-o mais uma vez - E mesmo que estivesse viva, acha que ela ia querer um fracote feito você que é só mais um demônio pra seguir o tinhoso que nem um cachorrinho?

- Lilith morreu?! É mentira... Fiz à ela uma promessa no nosso último encontro, não faz tanto tempo.

- É uma pena... pra você... que graças à minha madrasta você não chegou nem perto disso. 

Sem dar maiores explicações acerca de Kezabel ter matado Lilith no submundo, Frank cravara a lâmina sacerdotal na barriga de Devaxus e moveu-a para cima rasgando o corpo do demônio partindo-o até a cabeça. O celular de Frank tocou naquele instante e atendera ao ver que Carrie estava ligando. 

- Missão cumprida. Interrompi o bacanal do Devaxus bem na hora do orgasmo. 

- Ui, pegou pesado. - disse Carrie, bem-humorada - Ahn... bem, eu te liguei pra dar uma notícia não muito agradável. Em parte pode ser que você não ache tão ruim. Por outro lado, vai detestar. Tá pronto?

- Manda ver. 

- O diretor oficializou um novo programa de treinamento tático... com você inscrito. 

- O quê? Não, deve ser um engano seu... 

- Engano? Não pego informações de telefone sem fio. O próprio veio me pedir pra te avisar. E sabe o quê mais? Eu tô fora dessa vez. - revelou Carrie, o tom de felicidade nítido. 

- Mas... Onde é que vai ser? 

- Ah sim, ele disse que será no Brasil, precisamente na floresta amazônica. 

- Se bem que eu sempre quis conhecer o Brasil... Mas dentro de umas boas férias. 

- Ei, me tira uma dúvida: Você só estragou a festinha sacana do Devaxus ou acabou com ele? 

- Rasguei ele ao meio. De força ele só tinha mesmo ego pra abrigar uma carrada de almas. Te conto melhor depois, tô vazando daqui. Tchau, sortuda. - disse Frank, logo encerrando a chamada. Um pensamento o desalentou quanto à viagem às terras tupiniquins, relembrando quando Giuseppe dissera que pretendia coloca-lo na linha, o que ele julgava desnecessário e não estava afim de estabelecer vínculo muito amistoso de forma que se emulasse à Ernest - Mas que porra! 

O detetive baixou o zíper da sua calça a fim de descontar sua frustração de algum modo. E não havia melhor forma naquele momento do que urinar no cadáver decrépito de Devaxus. Após aliviar-se, retirou o isqueiro e acendeu-o, em seguida jogando sobre o corpo. Como o demônio estava molhado ainda de água santa, as chamas se espalharam pelo corpo inteiro. 

- Agora sim posso sair de alma lavada. - disse Frank, olhando com desprezo para o cadáver de Devaxus que queimava com chamas altas. O detetive virou as costas, dirigindo-se vanglorioso à saída da casa.

                                                                            -x-

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://glammagazine.blogs.sapo.pt/festivais-maiores-de-18-anos-vao-162700

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