Frank - O Caçador #73: "Sem Máscara, Sem Ganho"

Em um clube de luta livre localizado no subsolo de um bar com fachada discreta entre uma fileira de casas numa vila suburbana de Danverous City, ocorria um combate que os espectadores facilmente qualificariam como visceral. Na academia de artes marciais, boa parte dos competidores se referiam uns aos outros por codinomes associados à animais. Na luta que acontecia naquela noite um tanto fria, dois lutadores chamados Jaguar Maromba e Rinoceronte Negro se esmurravam ardorosamente. Para a tristeza da torcida de Jaguar, o lutador sofreu uma acachapante derrota ao ser jogado para fora do ringue após ser levantado do chão pelos dois braços do adversário. Rinoceronte Negro, que usava uma máscara preta com um chifre de plástico colado na testa, urrava pela sua vitória. O juiz anunciou o fim da luta com todo entusiasmo. 

Um pouco mais tarde, Jaguar entrava no vestiário para trocar de roupa. Retirou sua máscara dourada com manchas negras revelando um rosto pardo bastante agredido com hematomas e ferimentos não cicatrizados. A careca de Jaguar reluzia sob a luz do recinto, porém as lâmpadas começaram a piscar tremeluzentes. Jaguar olhou para cima depois de pegar a mochila do armário. O pisca-pisca cessou, mas as luzes apagaram-se.

- Ué, faltou luz? - indagou ele - O Clay esqueceu de pagar a conta? - mas ele andou uns passos longe dos armários para ver que todas as lâmpadas do corredor que dava acesso ao vestiário estavam acesas. - Que merda estranha é essa? - questionou, franzindo o cenho. A porta fechara-se imediatamente como se um vento forte a empurrasse, deixando tudo às escuras. Jaguar ficou atordoado e recuou, vendo apenas um traço luminoso que era a brecha de baixo da porta, no entanto sentiu uma presença enquanto suspirava pela boca liberando um vapor gelado devido à uma queda brusca de temperatura. Antes que perguntasse quem era, uma cadeira dobrável de ferro desceu sobre sua cabeça num golpe fortíssimo.

Derrubado, o lutador ficara tonto e antes que se reorientasse, tateando o ar para pegar quem lhe atacou tão covardemente, levara outra cadeirada, depois mais outra, mais duas, três, quatro, cinco, seis... 

Um homem chamado Sergei Thompson, o famoso Touro Vermelho do clube de luta, acordava de um pesadelo, suando em profusão e arfando. Ele levou as mãos à cabeça, passando pelo cabelo castanho e curto, horrorizado com a visão que tivera. 

- Aconteceu de novo... - disse ele, terrificado com o pesadelo onde ele mesmo usando sua máscara de lutador cometia um brutal assassinato contra um colega de treinos. 

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CAPÍTULO 73: SEM MÁSCARA, SEM GANHO

Na mesa de café da manhã, Frank suportava os barulhos de mastigação que Axel fazia ao comer os dois croissants que enfiara na boca. O detetive comia uma rosquinha enquanto mexia no celular acessando o site da Gazeta Danverous em busca de possíveis matérias que noticiassem casos com indícios minimamente fora do comum. 

- Você não desgruda mesmo desse... aparelho telefônico móvel? 

- Acertou, mas sempre chamamos de celular. - disse Frank não tirando os olhos da tela do smartphone. 

- As invenções do novo século são fascinantes e estranhas ao mesmo tempo. Não acha? 

Frank deu uma olhada de relance para ele e voltou a encarar seu celular. Axel deu uma suspirada lenta.

- Frank, você tem um minuto? - perguntou o hóspede, logo comendo um último croissant. 

- Pra quê? Daqui à pouco começa meu expediente no DPDC. Um minuto atrasado e menos vinte dólares no meu salário. - parou de mexer no celular e voltou-se para ele - Tá legal, sou um cara bem intuitivo, aprendi com a minha assistente, ela é a melhor nesse quesito. Tô sentindo que você tem algo importante a me dizer, mas fica querendo puxar assunto aleatório comigo porque não sabe por onde começar. São os pesadelos de novo? Continuam os mesmos ou mudaram? 

- Não é sobre os pesadelos. - disse Axel, contido - Eu acordei ontem, já era de manhã, e... - fechou os olhos como se isso pudesse afastar a lembrança do amontoado de serpentes - Vi cobras, inúmeras, em cima da cama, prontas pra me atacar. 

- Tem certeza de que não foi um sonho?

- Por que sonho se acabei de dizer que eu estava acordado?

- Então você teve algum tipo de alucinação? 

- Sim, afinal... quando saltei da cama, as serpentes sumiram. Eu ainda as continuei vendo, mas em menor quantidade, às vezes rastejando pelas minhas pernas durante o banho. Eu não sei o que isso significa.

- Nem eu tampouco. - disse Frank - Mas podemos considerar isso uma pista do seu passado. O bloqueio do feitiço tá fazendo sua memória definhar, mas uma vez solucionado o mistério, as lembranças são restauradas. Quem sabe achamos uma cura.

Axel o fitou de modo um tanto apreensivo. 

- Eu não sei se o Nero e os outros iriam concordar caso houvesse um recurso que quebrasse o feitiço. 

- Por que não? Iriam se reestruturar, recomeçar do zero se adaptando a civilização dos dias de hoje. 

- Não é tão simples, Frank. - disse Axel engrossando o tom - Acha que vem sendo fácil pra mim mesmo sem uma cura? 

- Claro que não, mas uma cura facilitaria tudo, Nero não teria escolha. 

- Ele escolheria com certeza se manter em Gargônia. Construíram um novo sentido de existência ali. 

- Olha, Axel, tua situação tá cada vez mais complicada. Eu sinto te dizer isso, mas... Não posso. 

- Não pode o quê? - perguntou Axel expressando desânimo brincando de espetar uma torta de frango. com um garfo. 

- Garantir que tô com você nessa até o fim. Eu sei, prometi que daríamos um jeito de achar as respostas, só que... com suas memórias se apagando, você vai se esquecer de tudo o que possa ser uma pista pra elucidar o problema e desse jeito não tem como resolvermos nada. Você vai sofrer com essa esquizofrenia repentina e os pesadelos até não sei quando. 

- Se não pode me ajudar... então me deixa ajudar você. Sermos parceiros. Você me sugere um caso de assombração ou monstruosidade qualquer ou pode ser o contrário... 

- Não! - disse Frank com autoridade - Nada de bancar meu ajudante nas caçadas. O seu lugar é aqui, isolado, seguro e longe de problemas. Agora se me dá licença... - levantou-se para começar seu dia de trabalho - Se sentir fome, já sabe, né?

- Não abrir a geladeira. Posso esquecer do passado de quando me transformei em gárgula, mas das suas regras nunca. - disse Axel seguindo-o até a sala - Você volta que horas hoje?

- Às onze. Por que? 

- Nada, só por curiosidade. - respondeu Axel, dando de ombros - Te desejo um dia bem produtivo. 

Frank estreitou os olhos para ele parecendo desconfiado. 

- Obrigado. - respondeu o detetive, logo saindo de casa. Axel fechara a porta e virou-se para o sofá a fim de conferir uma edição impressa da Gazeta Danverous. Sentou-se e pegou o jornal, folheando. Cravou os olhos numa notícia de um assassinato ocorrido em um clube de luta livre. 

                                                                          ***

Departamento Policial de Danverous City

Num dos corredores que levaria diretamente à sua sala, Frank arregalou os olhos ao ver Lucy Valley andando com firmeza até ele e lhe lançando um sorriso simpático. 

- Coincidência? - perguntou Frank à poucos metros dela. 

- Eu acho que não. - disse ela abrindo mais o sorriso - Na verdade, eu procurava pela sua sala e... 

- Ah, você... queria me ver. Eu acabei de chegar. Não pediu informação a ninguém? A minha sala não fica trancada no início do dia.

- E correr o risco de entrar lá e te assustar? E o pior: Ser flagrada invadindo. 

- Não, definitivamente você não me assustaria. - disse Frank com ares de riso. 

Carrie estava um pouco ocultada pela parede quando vinha dobrando para aquele corredor e parou ao se deparar com o encontro. 

- "Definitivamente você não me assustaria" - repetiu ela em tom baixo, observando - Certamente que não. 

- Daquela vez que reaparecemos um pro outro não tive tempo de dar meu telefone. - disse Lucy. 

- Tudo bem, pode ser agora. - disse Frank pegando o celular. Carrie mordia o lábio inferior, ansiosa. Frank registrou o número dela e Lucy o dele - OK, assim a gente coloca o papo em dia mais à vontade. 

- Sem dúvida. Mas... - ela se interrompeu desviando o olhar. 

- Mas o quê? - perguntou Frank sem entender. 

- Se acontecer uma real coincidência de termos folga no mesmo dia... Podíamos nos encontrar pessoalmente? Eu escolho o horário e você o lugar. Uma conversa 100% franca, olho no olho. Falarmos sobre nós sem nada a esconder. 

Frank notara uma mudança na postura de Lucy. Aquela simpatia e entusiasmo moderados deu lugar a uma seriedade intrigante.

- Sem problema. Torço pra esse dia chegar. 

- Tudo bem, a gente se vê, Frank. - disse Lucy que voltou a andar na contramão do caminho de Frank. 

Carrie apressadamente veio na direção do amigo confabular sobre o que espiou. Mas Frank tornou a andar rápido. 

- Ei, espera, não me ignora assim. - disse a assistente, seguindo-o com uma pasta na mão. 

- Acontece, Carrie, que eu sei muito bem o que você tá afim de falar pra mim. 

- Não, você se enganou, nem estava pensando em fazer qualquer insinuação...

- Ah, pensou sim, senhora. - rebateu o detetive virando-se rápido para ela com o dedo indicador direito erguido. Voltara a direciona-se para sua sala sendo seguido por Carrie que se roía de curiosidade - Te vi ali, escondidinha na parede. 

O detetive chegou à sua sala, girou a maçaneta da porta e entrou dirigindo-se às janelas para abri-las e clarear o ambiente. Ao faze-lo, a luz solar adentrou no recinto. Frank sentou-se na sua cadeira aguardando Carrie discorrer sobre o caso do dia. 

- O que você manda? Qual é a bomba do dia? 

- Eu não tô com pressa de discutir o caso. - disse Carrie fechando a porta - Aquela é Lucy Valley, novata, começou há pouco mais de dois meses, e de repente vocês trombam num corredor interagindo como se já se conhecessem.

- Ela foi uma amiga do colegial. Eu ia cursar medicina veterinária na mesma universidade onde ela faria jornalismo. Mas como minha vida virou de ponta à cabeça depois do desaparecimento do meu pai... 

Carrie fez que sim com a cabeça, baixando-a por um breve instante. 

- Foi mal, não tava querendo fazer a brincadeira velha de perguntar se é namoro ou amizade. 

- Admite que tava, mas só um pouquinho. - disse Frank sorrindo de canto. 

Um sorriso fechado e brincalhão formou em Carrie. 

- Pode-se dizer que 1%. - disse ela dando uma risadinha - Ouvi ela dizendo que queria conversar francamente com você quando tivessem a sorte de folgarem no mesmo dia. Senti uma leve mudança no tom dela, parecia preocupada. 

- Eu também captei isso na hora, de repente pareceu como um pedido de ajuda, como se... ela precisasse de alguém pra ficar à vontade e falar coisas que não diria a qualquer um. - disse Frank, pensando no momento - Enfim, se for pra contar segredos, um barzinho não é o local mais adequado. 

- Vai chamar ela pra sua casa? - indagou Carrie numa expressão sacana. Frank franziu o cenho. 

- Carrie, cadê o caso de hoje? 

- Tá bom, chega desse assunto. Toma aqui. - disse ela, impaciente, entregando a pasta à Frank - A polícia foi chamada pra conferir um assassinato numa espécie de clube da luta que fica no subsolo de um bar que parece ter muitos frequentadores, inclusive a vigilância sanitária. Acredita que o prefeito, o ex-vice do Ernest, emitiu um alvará legalizando o clube? 

- Acredito sim, o cara tinha fama de ser um tremendo bunda-mole na época de deputado. Nada mais que o esperado dar carta branca pra serviço clandestino. Será que a confederação de artes marciais não ficou tiririca com isso?

- Provavelmente nem sabem da existência disso e quanto menos souberem, melhor pro dono da espelunca. Mas voltando ao assassinato, o cara não tinha passagem pela polícia. Terá sido uma vingança?

- Um lutador chamado Touro Vermelho tá sob suspeita, logo o campeão dos campeões. Segundo relato de um lutador que não quis se identificar, o Touro Vermelho costumava desprezar os caras que geralmente perdiam as lutas, chegando a cuspir na cara. Já é a segunda morte de um lutador que estava na zona de rebaixamento da classificação. 

- E mesmo assim não chegaram a interrogar o cara por trás da máscara. 

- O nome dele é Sergei Thompson. Bem, hora de arrancar umas palavrinhas dele. - disse Frank, fechando a pasta, pronto para rumar até a casa do lutador que atormentava-se com pesadelos frequentes.

                                                                          ***

Axel caminhava por uma calçada na área onde se localizava o bar no qual havia o clube de luta livre bem abaixo. Segurando um papelzinho com o endereço anotado, ele olhava paras as residências tentando encontrar o bar que era facilmente achado por quem frequentava assiduamente. 

- Ah, tá aqui. - disse ele conferindo o número. Entrou sentindo odor de cerveja invadir suas narinas. Um homem calvo, barbudo e meio ruivo se aproximava dele - Olá, eu vim... a serviço do DPDC. 

- Ah, é? E onde é que tá o distintivo? - perguntou o homem levantando uma sobrancelha. 

Axel ficara desconcertado, coçando a parte de trás da cabeça. 

- É brincadeira minha. - disse ele na tentativa de contornar a saia justa - Eu fiquei sabendo que já aconteceram duas mortes aqui e... Desculpa, eu não sou detetive, a verdade é que...

- Um aspirante, imagino. Sou Clay Donfan, o administrador do negócio oculto. 

- E-eu... sou Axel. Será que eu podia conhecer o seu time de lutadores?

- Se quiser fingir ser detetive pra cima deles, não vai acabar bem. - declarou Clay pegando um copo e uma garrafa - Já existe um suspeito: O invencível Touro Vermelho. O cara podia ter cisma com perdedores, mas nunca, em sã consciência, chegaria ao ponto de agir como um animal. Servido? - perguntou Clay oferecendo a bebida à Axel que aceitara de bom grado. 

- Ele vinha agindo estranho antes da primeira morte? - perguntou Axel, logo tomando um gole. 

- Sabe, ele é um cara meio bitolado. Desde que apareceu aqui se registrou com o nome de Touro Vermelho como se fosse o sucessor legítimo do lutador que competia oficialmente nos anos 70. E não fez nada feio, venceu todas as lutas a partir do momento em que chegou, ou seja, superou o ídolo, tanto é que ele mal tira a máscara. Esse é o detalhe mais estranho nele. 

- O antigo Touro Vermelho também desprezava os lutadores que mais perdiam? - perguntou Axel. 

- Reza a lenda que ele não se permitia competir com caras mais fracos ou com históricos longos de derrotas. Ele era sedento por desafio, adversários que realmente botassem pra quebrar. Infelizmente o nosso Touro Vermelho tá com a carreira por um triz.

- Que pena pra ele. - disse Axel, terminando de beber. 

- Gostaria mesmo de dar um passeio lá embaixo? - instigou Clay, simpatizando com o visitante. 

- Eu ficaria grato. - disse Axel. 

- Espero que não fique arrependido. - disse Clay - Siga-me. 

Enquanto isso, Frank batia na porta da casa de Sergei. O lutador abrira prontamente a porta, surpreendendo-se com a figura de um detetive finalmente vindo ao seu encontro. 

- Bom dia, Sergei. Sou Frank Montgrow, detetive especial do DPDC - disse mostrando o distintivo - e tô cobrindo a investigação das mortes nas quais você é tido como suspeito principal. Posso entrar?

Sergei concedeu entrada e sentou-se no sofá para responder às maiores dúvidas de Frank. 

- Tenho pesadelos todas as noites... Mesmo cenário, muda apenas numa coisa. Eu estou no vestiário trajado como Touro Vermelho e segurando uma cadeira de aço... daí eu chego pro colega que tá se trocando e começo a dar vários golpes na cabeça dele com a cadeira... - contava Sergei, atemorizado - No último eu sonhei com o Jaguar Maromba...

- Ele foi a morte mais recente. - disse o detetive. 

Frank imediatamente lembrou de Axel com o tema da conversa ser pesadelos recorrentes e sombrios. 

- Pra você, teoricamente, esses pesadelos são como presságios? 

- Eu não sei o que tá havendo comigo. Primeiro esses sonhos em que vejo a mim mesmo cometendo crimes que eu nunca tive intenção de praticar contra aqueles caras, por mais que eu respeite a figura do que foi o Touro Vermelho no passado. Bem, ele tinha umas controvérsias... 

- Eu não conheço muito desses esportes de pancadaria, minha praia é futebol americano. 

- Deixa eu te contar: Eu resolvi usar o nome dele por mera idolatria, independente do que ele tivesse feito no passado, quem ele era nos bastidores, se era um cara gente fina ou um tremendo escroto... é aquele lance: separar o pessoal do profissional. Eu tô honrando a memória dele usando a máscara verdadeira, mas ninguém acredita. 

- Onde a conseguiu? - indagou vendo a máscara vermelha com contornos pretos nos olhos sobre o sofá.

- No bazar que um antiquário quase falido promoveu e eu agarrei a chance pra realizar meu sonho. 

- Podia ter batalhado mais pra conseguir participar das competições oficiais, se você é tão talentoso.

- Um dia, quem sabe, ainda chego lá. O Clay, dono do bar onde fica o clube, é um dos meus melhores amigos, praticamente um irmão pra mim. Me abriu as portas, conseguiu a legalização só pra poder acomodar um sucessor do Touro Vermelho das antigas que fizesse jus ao que ele foi. E eu provei à ele. A galera me acha meio excêntrico por eu imitar uns hábitos...

- Tipo qual? O Touro Vermelho tinha manias esquisitas? 

- Ele nunca tirava a máscara depois de uma luta. Dormia com ela, talvez até tomava banho com ela. Ninguém, além da família, viu seu rosto sem a máscara. Eu admito que me parecer mais com ele tem ajudado a fortalecer meu empenho. 

- Sergei, você estava presente no dia em que o Jaguar Maromba perdeu a luta... 

- Olha, eu sofro basicamente com apagões. Espaços de tempo faltando. Não lembro de nada do que aconteceu depois da luta com o Jaguar, apenas de ir pro meu carro e voltar pra casa. É isso que é estranho e é isso que tá me apavorando. A minha mente tá ficando doente, preciso de um psiquiatra...

- Espera, Sergei, calma. - disse Frank erguendo de leve as mãos para tranquilizar - Não há provas cabais de que foi você, mas essa história de apagões mentais requerem uma investigação específica.  

- O que tá querendo dizer exatamente? 

- Você não vai mais pro clube nos próximos dias, né?

- Lógico que não, tem uns caras que pegaram um ódio feroz de mim, minha reputação foi pro lixo. 

- Então pode ser que eu esteja ali na esquina vigiando pra ver se você sai com ou sem máscara. 

Sergei mostrou relutância com a ideia proposta, mas diante da gravidade de tudo, teve de concordar.

- Faça como quiser. Se me ver fazendo alguma besteira, pode até me bater.

"Como se eu pudesse tacar um murro nessa rocha sem quebrar meus dedos", pensou Frank. 

Enquanto isso, no clube de luta livre, Axel conhecia o interior do local onde aconteciam os combates bem como a área de treinos com sacos de areia, supinos, halteres, além de um espaço para treinamentos de luta. O lugar tinha mais iluminação onde estava o ringue semelhante ao do boxe com lonas. 

- Muito bem, Axel, aqui é onde o pessoal se exercita pra não fazer feio na hora da porrada. - disse Clay à direita de Axel. O proprietário começou a estudar o físico dele - Até que você não tem uma fisionomia muito adiposa. 

- O quê? - indagou Axel, virando o rosto para ele, não prestando atenção. 

- Quero dizer que seu porte físico está dentro do padrão pra um iniciante. 

- Está querendo... que eu entre pro clube? Sinto muito, mas acho melhor não. 

- Tem certeza? Eu percebi você olhando os rapazes treinarem, tá com cara de que curte a parada... 

- Ahn, bem, eu... - disse Axel cofiando a barbinha por fazer no queixo e assistindo os lutadores treinarem pesado. A possibilidade de investigar o caso do Touro Vermelho de perto tornou-se mais esclarecida - A minha vida tem sido um tédio ultimamente, então... 

- Quer dar mais emoção e adrenalina pra sua vida? Veio pro lugar certo, chapa. - disse Clay, tocando-o no ombro. 

- Aí, Clay, quem é o grandão? - perguntou um lutador negro tirando suas luvas de treino. 

- Esse aqui é o Axel, nosso mais novo atleta. 

- Atleta, é? Manda ele primeiro fazer um regiminho. Com essa pança de cerveja não passa nem na eliminatória. - disse ele, dando uma risada zombeteira olhando para Axel com chacota. Axel não gostou nada dos modos dele. 

- E você tá achando o quê? Começou sendo essa montanha de músculos? - perguntou Axel, desafiador.

- Acho que alguém tá afim de levar uma coça. - disse o lutador, aproximando-se sério. 

- O que foi? Feri seu ego? É tão fácil assim te irritar? Eu não tô nem aí pro que acham, se quer saber. 

O lutador moveu sua mão direita pra desferir um soco em Axel, mas ele virou a mão do encrenqueiro e todos ouviram um barulho de osso quebrando. Axel dera um soco efetivo que o derrubou. 

Todos os competidores cercaram ele e Clay, alguns aplaudindo, outros apenas espantados. 

- Você deu uma boa lição nele. - disse Clay olhando para Axel surpreso - O Ross sempre provoca os novatos. 

Axel não sabia como lidar em meio a admiração dos demais. Ross levantava-se querendo revidar, mas foi segurado. Cuspiu um bom volume de sangue, revoltado. 

- Seu desgraçado, filho da mãe! Eu vou te ferrar, seu roliço de merda! 

- Chega, Ross! - mandou Clay, aborrecido - Tirem ele daqui! O Axel vai substituir o Sergei na semifinal de amanhã! 

A decisão elevou a fúria de Ross. 

- Ficou doido? O Touro Vermelho é insubstituível! 

- Ninguém é insubstituível. - retrucou Clay - Você é o único aqui saindo em defesa do Sergei. 

- Espera, não é pra tanto, sou um simples iniciante ainda. - contestou Axel. 

- Não, Axel, faço questão. Um iniciante... não derrubaria um cara como o Ross, um bi-campeão. 

Ross foi tirado à força dali resmungando impropérios contra Axel e Clay. 

- E aí, já pensou num nome? - perguntou Clay para Axel que pensou um pouco. 

- Sim. - disse ele, sorrindo - O Gárgula. 

                                                                            ***

Ao chegar pouco depois das onze, Frank subia as escadas. Indo pelo corredor no qual estavam seu quarto e o de Axel, passou pelo do hóspede cuja porta encontrava-se entreaberta. Frank olhou de soslaio, mas parou por ter notado algo. Deu uns passos para trás e viu Axel, somente de bermuda, dando socos no ar como um treino básico de luta. 

- Axel? - chamou Frank abrindo mais a porta. Ele rapidamente parou e tentou disfarçar.

- Oi, Frank. - disse sorrindo forçado - O que você quer?

- Tava fazendo o quê? - questionou Frank, cabreiro. Axel engoliu a saliva em nervosismo. 

- Eu... Você viu, eu tava testando meus punhos. Fiquei mais de um século vivendo como uma estátua, precisava fazer algo que ajudasse o sangue a circular melhor. Eu vi uma luta de boxe passando na TV hoje e me inspirei. 

- Ah foi? Legal... - disse Frank, não se satisfazendo com a justificativa. O celular de Frank tocara - Alô, Carrie. - fez uma pausa - Outra morte?! Droga, esqueci de ficar de vigia no Sergei. Esqueci não, eu tava resolvendo um outro caso sobrenatural pendente faz dias. Mas de amanhã não passa. OK, valeu por avisar. Tchau, boa noite.

- O que houve? - perguntou Axel. 

- Não é a da sua conta. - disse Frank, soando meio rude com o hóspede. Axel ficou parado depois que o detetive saiu, sentindo-se chateado e crendo que sua desculpa não adiantou em nada para não levantar suspeitas.  

Na manhã seguinte, Axel ia para o clube, animado para mais um treino. Mas tamanha disposição decaiu ao ver duas viaturas policiais estacionadas em frente ao bar de Clay. Ele aproximou-se com curiosidade.

- Aí está ele, prendam-no! - disse um policial apontando para Axel que, sem entender nada, reagiu com inquietação. 

- Esperem, por que me prender? - perguntou ao ser algemado. Um policial mostrou uma foto no seu celular.

- Nos enviaram esta foto ontem à noite, pouco depois do assassinato. Um dos lutadores fotografou você no vestiário com uma cadeira suja de sangue. - disse o policial. Na imagem estava Axel usando sua roupa de lutador e carregando a cadeira de aço ensanguentada - Terá que vir conosco. 

- É um mal-entendido! Esse não sou eu! Entrei pro clube ontem, não matei ninguém! - dizia Axel sendo empurrado pelos policias direto para o camburão da viatura - É uma farsa, acreditem, por favor! Eu ju.. - suas palavras foram cortadas com o bater forte da porta se fechando. 

                                                                           ***

Departamento Policial de Danverous City

 Acabando de chegar no prédio, Frank se deparou com um policial vindo a passos acelerados na direção dele. 

- Montgrow, tem uma visitinha pra você, só que talvez não vá gostar. 

- Como assim? O que tá pegando? Quem veio me ver?

- O caso do lutador assassino ganhou um novo suspeito número 1. Foi abordado pela polícia quando vinha chegando ao clube de luta. Algemaram ele depois de descobrirem uma evidência bem forte. 

- Me conduz até lá. - disse Frank, tomado pela mais pura impaciência. 

- Desde que veio, não parou de falar em você, se dizendo um amigo seu. - contou o policial acompanhando Frank pelo corredor. A informação gerou uma preocupação de embrulhar o estômago. Não havia sombra de dúvida em Frank. 

Ao chegarem na sala de interrogatório, Frank expressou raiva genuína ao ver Axel algemado. 

- Me dá só cinco minutos com ele. - pediu o detetive ao que o policial respondeu positivamente. 

- Frank, ainda bem que você apareceu. - disse Axel, bastante aflito - Tira isso de mim e fala pra eles que é um engano. Eu não matei ninguém! 

- Eu sei que não! - disse Frank batendo as mãos na mesa e se inclinando para Axel - Aqueles golpes que você fazia no quarto... Era tipo um treinamento, né? Deve ter lido a notícia no jornal e foi bancar o Sherlock Holmes. 

- Pois é, me perdoa. Pulei a janela do meu quarto e fui ao clube, conheci o Clay, dono do bar... Ele me deu a oportunidade ser parte do clube e aceitei, isso depois da minha atuação de detetive falhar. 

- E porque veio parar aqui? Avisei pra você que sua vida de isolamento lá em casa é por sua segurança. Pra proteger você dos males dessa cidade e você de si mesmo. Pelo visto, entrou por um ouvido e saiu pelo outro! 

- Para de agir como se fosse meu pai, Frank. Esse seu medo de pensar que não sou capaz de lidar com a diferença entre o mundo em que eu vivia e esse é ridículo. Quer saber porque me jogaram naquele carro como um animal? Os lutadores maldosos fizeram um ardil pra me expulsar do clube porque o Clay decidiu substituir o Touro Vermelho na luta de hoje por mim. A polícia tem uma foto minha no vestiário, pego no ato, mas não sou eu ali! Como foi que fizeram isso, Frank? 

- Olha, se acalma, eu tô do seu lado. Tenho certeza que essa foto foi adulterada. Existe uma tecnologia nessa época que pode alterar rostos de pessoas e até os menores detalhes possíveis. - disse Frank sendo mais flexível com o hóspede. Repentinamente, Sergei adentrava na sala junto de policiais - Sergei?! Veio prestar depoimento finalmente? 

- Trouxemos ele pra nos sanar uma dúvida. - disse um policial à esquerda do lutador - Conhece esse cara?

Sergei olhou para Axel com certa estranheza e fez que não com a cabeça. 

- Não, senhor. Nunca vi mais gordo. 

- Hipótese de cúmplice oficialmente descartada. - disse o outro policial à direita de Sergei. 

- Cúmplice?! - disse Axel, revoltado - Perguntem ao dono do bar, sou um novato no clube. 

- Já o fizemos. - disse o policial que perguntou à Sergei - E somada à resposta do pequenino aqui, a credibilidade da prova é discutível. Sendo assim, os dois estão liberados. 

- Sugiro investigarem quem enviou a foto, pra mim tá nítido que é uma montagem. - disse Frank. 

- Vamos proceder com isso depois. - disse um dos policiais removendo as algemas de Axel. 

- Sergei, ontem não tive tempo de fazer a vigília. - disse Frank - Mas hoje à noite eu vou estar lá.

- Vou ficar no aguardo. - disse Sergei - Eu mantenho minha posição: Tenta me parar de qualquer jeito se eu for fazer besteira. 

O detetive acenou em concordância com seriedade. Virou-se para Axel que se aliviava com os pulsos livres. 

- Acho que vou precisar de uma carona... - olhou para Frank inseguro - ... pro clube. 

                                                                         ***

Conforme prometeu, lá estava Frank, tarde da noite, com o sedã prata estacionado no outro lado da rua observando a casa de Sergei com o vidro do carro abaixado. Passados trinta minutos de vigilância, o lutador saía trajado como Touro Vermelho usando um sobretudo preto e Frank se ajeitou no banco olhando com máxima atenção. Sergei foi até a garagem. O lutador entrou no seu veículo e saiu pela direção oposta a que Frank viera. O detetive deu partida no carro e seguiu-o. 

Em simultâneo, Axel dava o ar de sua graça em sua primeira luta no campeonato não-oficial. Ouviu mais vaias e xingamentos do que assovios e aplausos da plateia, mas a recepção pouco calorosa não abalou suas energia e o vigor para cair na porrada com seu oponente que subia ao ringue alongando o pescoço. O juiz, eufórico, iniciava seu discurso de abertura com um microfone retrô em mãos. 

- Senhoras e senhores, prontos pra mais um quebra-pau de arrepiar? 

A plateia que cercava a arena respondeu com urros de excitação. 

- Vale lembrar que esta é a grande semifinal do nosso torneio! Em quem vocês apostam hoje? Será no Atlas? - apontou para o competidor fortão usando roupa branca e uma máscara azul com vermelho - Ou será no Gárgula? - apontou para Axel cujo uniforme de luta era cinzento escuro bem como a máscara - Ah, sobre o Gárgula, em especial, ele está substituindo nosso invicto Touro Vermelho que está vetado do campeonato por razões que não cabem ser ditas aqui. Então, sem mais delongas, vamos começar! - bradou o juiz. O sino tocara marcando o início do combate.

- Trocaram o Touro Vermelho por esse monte de banha? Que decadência. - disse o Atlas. 

- Tá subestimando o homem errado. - disse Axel. Atlas avançou para agarra-lo, mas o Gárgula o pegara, levantando-o e jogando ao chão bem próximo da lona. Parte da plateia vibrou, mas a maioria soltou mais vaias do que na entrada dos lutadores - Tô só me aquecendo. - falou Axel movendo os braços. Atlas reergueu-se gritando de cólera e partiu para cima de Axel desferindo socos avidamente. O Gárgula defendia e esquivava de todos até que finalmente aplicou seu ataque, uma cabeçada forte que deixara Atlas tonto e cambaleante - Quantos de mim você tá vendo agora? Três, quatro ou cinco? Vem, revida! - provocou Axel. - Se você não quer vir, então vou eu. - disse ele logo socando-o no queixo.

Atlas resistiu, mas levara mais três socos no peito e depois um chute na barriga que o fez voar à lona. Caindo para frente, ele cuspia sangue encarando Gárgula com ódio profundo. Mas eis que o adversário se colocou sobre ele, sentando-se com força. Atlas soltou um grito pela sua coluna ter dado um estralo alto parecendo que foi quebrada. Axel o pegara pelo pescoço no clássico golpe mata-leão. Porém, Atlas batia no chão do ringue desesperadamente em sinal de rendição. 

Alguns na plateia reclamavam para o juiz intervir pois Atlas sinalizava derrota, mas mesmo assim o Gárgula pressionava ainda mais seu antebraço robusto no pescoço dele. Axel começou a notar que o braço estava tornando-se mais cinza e duro... isto é, petrificando. Soltou imediatamente Atlas. 

- Vitória do Gárgula! Classificado para a final! - gritou o juiz. Uma chuva de papel picado caiu sobre Axel que sorriu com a glória de ser ovacionado por uns, embora amplamente vaiado por outros. Atlas precisou ser levado para a enfermaria por estar com dificuldades de respirar. O tempo de triunfo não foi duradouro e quando todos os holofotes estavam sobre Axel, Atlas começava a sofrer de uma insuficiência respiratória. Axel assistia o oponente sofrer, preocupado com o estado dele. Foi até ele procurando ajudar.

- Me desculpa por ter ido longe demais! 

- Vai... se ferrar... Você é um monstro! - disse Atlas, arquejando intensamente. 

- A pressão sanguínea dele tá caindo! - disse um dos médicos - Ele pressionou tanto ao ponto de obstruir o fluxo de sangue da artéria carótida! Não vai resistir por muito tempo! 

- Se eu pudesse, faria qualquer coisa pra salva-lo! - disse Axel, aflito - Não foi minha intenção...

- Ah, claro que não. - disse o outro médico, zangado - Some daqui, você já era!

Atlas deu seu último suspiro. Um dos médicos fechara os olhos dele, pesaroso. 

Naquele instante, as vaias eram gerais contra Axel. O juiz subiu no ringue para dar um má notícia. 

- Sinto muito, amigo. Vitória cancelada. - disse o juiz, entristecido com o ocorrido. 

Enquanto isso, o carro de Sergei parava em frente ao bar. Frank parou à alguns metros na mesma rua. Arrasado com o desfecho trágico de sua performance, Axel viu desmoronar diante dos seus olhos a alegria de um dia feliz e fora da monotonia tediosa. Foi ao vestiário, trocar de roupa, jurando em pensamento nunca pisar os pés naquele lugar outra vez. No entanto, as luzes piscaram e ele logo virou-se antes que abrisse o armário. Sergei estava bem na sua frente, trajado e mascarado. 

- Se empolgou demais e acabou saindo da linha. Imperdoável. - disse Sergei com uma voz monstruosa e distorcida. - mostrou a cadeira de aço e avançou contra Axel para mata-lo. Sergei tacara a cadeira no armário quando Axel desviou. Ele continuou tentando até que Axel segurou a cadeira e o empurrou contra os armários e desferiu um soco potente no nariz de Sergei. Frank vinha pelo corredor que dava para o vestiário com a arma em punho e escutou barulhos. Chutou a porta do vestiário e encontrou Sergei e Axel lutando. O Gárgula contra o Touro Vermelho. Sergei voltou-se para Frank, ensandecido de raiva.

- Eu vou arrancar essa máscara de você e dar um basta nisso. - ameaçou Frank. 

- Touro Vermelho nunca tira sua máscara! - retrucou ele que rugiu selvagemente, mas uma reação inesperada acontecia no seu corpo que ficou envolto numa aura negra e a pele tornando-se preta. Chifres de touro brotaram nos dois lados da cabeça de Sergei que teve a mandíbula sofrendo uma mudança radical e tenebrosa, ganhando a aparência de um minotauro demoníaco e enfurecido - Prepare-se para morrer! - vociferou, a fúria pulsando nos seus olhos vermelhos. 

Axel se levantou para golpeia-lo, mas ele deu uma cotovelada que o afastou. O Touro Vermelho avançou contra Frank que levou um golpe de ombro no peito e suas costas impactaram na parede. Axel pegou a cadeira de aço e jogara nele, sem nenhum efeito, mas o irritando o bastante para faze-lo atacar novamente. Sergei possuído pegara a cabeça de Axel e bateu contra os armários três veze e em seguida cravou seu chifre direito na barriga do Gárgula. 

- Frank, me ajuda aqui! - pediu Axel sofrendo com a dor lancinante. 

Frank disparou com a arma em Sergei que virou-se para avançar mais uma vez contra o detetive. Os tiros nada atingiam significativamente. Frank atirou com mais rapidez, porém nada eficaz. 

Axel levantou-se e insistiu atacar Sergei por trás, porém o Touro Vermelho dera um soco doloroso fazendo-o cair. No chão, Axel ergueu a cabeça, as íris dos olhos vermelhando e uma fúria crescendo no seu âmago. Antes que Sergei pudesse ferir Frank que estava sem recursos, o Gárgula veio agarrando-o pelos chifres deixando-o inquieto. Com um esforço hercúleo, retirou a máscara do rosto de Sergei, mas foi logo arremessado de volta aos armários. 

- Me dá! - disse Frank pedindo que Axel lhe jogasse a máscara. Axel a transformou numa bola, jogou para o detetive que pegou de jeito e logo teve que segurar os chifres do Touro Vermelho. Frank sacou um isqueiro, logo acendendo-o e levando a chama à máscara vermelha. à medida que o fogo subia, Sergei sofria mais uma reação desencadeada, recuando de Axel com as mãos na cabeça como se ela fosse explodir. A aura negra retornou, porém o corpo de Sergei voltava ao normal e os chifres sumiram completamente. Frank, por fim, jogara a máscara incendiando numa lixeira - Fim de carreira pro touro brabo. 

Sergei caiu de joelhos, ainda fragilizado pela experiência na agradável de ser possuído por um fantasma. Axel veio até ele estendendo a mão direita para ajuda-lo a levantar. Erguendo a cabeça, Sergei a segurou. 

- Eu tive outro apagão. - disse o lutador sentando-se no banco do vestiário.

- Não teve não. - redarguiu Frank - Sergei, se permite ser totalmente honesto com você... O seu ídolo estava dentro daquela máscara. Ou melhor, o espírito dele se ligou à ela quando morreu. 

- Nunca soube da história da morte dele, a família sempre acobertou... - disse Sergei, cansado. 

- Isso pra não manchar a imagem de celebridade que ele preservava. O cara tinha rixa com mafiosos e pagou o preço, no auge da carreira, de se envolver com gente dessa laia. Haviam pegado ele na saída do ginásio, os malditos passaram num carro. Transformaram ele em peneira. Quem me contou foi minha assistente que pesquisou a fundo, a ex-esposa dele quebrou o silêncio muitos anos depois. - fez uma pausa - O único jeito de te parar era queimando a máscara onde o espírito do antigo Touro Vermelho se fixou, afinal ele tinha uma obsessão em usa-la e precisava de um novo usuário. 

- Eu... ia matar você com a cadeira? - perguntou Sergei para Axel - Você era minha próxima vítima?

- Não sua, mas do fantasma. - corrigiu Frank.

- Eu perdi a luta. Azar de iniciante. - disse Axel, desconsolado - Mas como virou aquele monstro? 

Sergei olhou tanto para Axel quanto para Frank, ávido por uma respostas. 

- O quê? Virei um monstro? Dá pra me contarem que plano vocês bolaram pra me enfrentar? 

- O Axel teve que encarar o fantasma do Touro Vermelho, possuindo você, no mano à mano. Mas de repente você se transformou numa mistura de touro e humano, resultado do poder que o fantasma tinha sobre você e da manifestação de todo o ódio que ele alimentava. É o que os poltergeists também sabem fazer, se prendem a objetos e manipulam a mente de quem eles possuem o corpo. E quanto a sua fama de invencível... não passou de obra do fantasma. 

- Significa que o fantasma do Touro Vermelho é quem dava força à ele... - disse Axel. 

Lágrimas surgiam nos olhos de Sergei que pôs as mãos na cabeça e baixou-a. 

- Eu sou uma fraude. - lamentou ele em prantos - Alguém tem que se responsabilizar... 

- Peraí, não tá pensando em se entregar, né? Deixa o caso ser arquivado, até porque não há prova contra você. 

Mas o lutador não amenizava sua frustração. 

- Ser usado pelo espírito do cara que eu admirava... não é pior do que não ter um propósito na vida. 

- Um dia você encontra um outro rumo, você é um cara jovem. Não pode viver se culpando. 

Ainda assim, Sergei baixou a cabeça, afundando-se no seu pranto soluçante sem admitir que se desiludiu com o ídolo que enaltecia meramente pela sua vida pública.

                                                                             ***

O sedã prata de Frank seguia por uma estrada com vários postes de iluminação quase na madrugada. 

- Frank, me desculpa por... 

- Não, Axel, chega, foram muitos pedidos de desculpas pra um dia só. - disse Frank, focado na estrada - Você deu mancada em sair, não seguiu meu conselho pelo seu bem... Não confiou em mim. 

- Sabe que andei refletindo enquanto voltávamos? Tem razão, falhei com você, não mereço sua amizade. 

- Também não precisa exagerar. Não vou te expulsar, mas te dar uma bronca talvez ajude. 

- Frank, me deixa fazer um último pedido de desculpas. Tudo bem? 

O detetive olhou para ele de relance não gostando nada do tom daquela conversa. 

- Fala logo o que você fez de tão errado pra querer meu perdão. 

- Venci a luta, mas... O meu adversário morreu. Cheguei perto de estrangula-lo apertando forte o pescoço dele por trás... Mas era tarde demais, a pele do meu braço que pressionava... petrificou. 

- O quê? Fala que é brincadeira... 

- Não, é verdade, passei dos limites. Me empolguei tanto que perdi a razão. Disseram que eu obstruí as artérias dele... 

- Para, já ouvi o suficiente. - interrompeu Frank - Realmente foi um erro tremendo você ter saído. De agora em diante, você não tem quer estar exposto a nenhuma situação conflituosa que reative a maldição de gárgula. Tá me entendendo? 

- Sim, você tá certo... Sem mais escapulidas, prometo. 

- Mas não quero que pense que você é meu prisioneiro. - afirmou Frank mantendo os olhos na direção.

- Mas sou seu amigo, não sou? - perguntou Axel, curioso - Você confia sinceramente em mim, não é? 

O detetive preferiu responder àquelas questões com um silêncio que encerrou friamente a discussão. 

                                                                           -x-

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.

*Imagem retirada de: https://outraspalavras.net/outrasaude/doria-e-bolsonaro-um-contra-o-outro-na-vacinacao-obrigatoria/

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