Frank - O Caçador #74: "Que Comecem os Jogos"

A mais nova atração do parque Ventura, aportado na cidade muito recentemente, chamava a atenção de muitos jovens que possuíam fascínio por elementos típicos de filmes de terror, mas muitos deles não acreditavam que pudesse proporcionar qualidade devido à fachada de castelo medieval com uma entrada formada como uma caveira abrindo a bocarra com dentes afiados para dar as boas-vindas aos interessados em explorar os interiores daquele lugar. O "País dos Terrores" havia sido inaugurado há dois dias, atraindo olhares, mas nenhum voluntário corajoso para desbravar o que de tão assustador havia de ser oferecido. Na noite do terceiro dia em atividade, a atração recebia suas primeiras vítimas bem dispostas. 

- Anda, Kimberly, eu te convidei pra gente encarar isso juntas. - disse Amy, uma garota de estilo rebelde com cabelos pretos tendo uma mecha roxa numa ponta, batom vermelho escuro, tatuagens nos antebraços e sombra nos olhos. Nas vestes ela usava um casaco jeans por cima de uma blusinha preta com estampa de caveira e ossos cruzados dentro de um coração rosa - Não vou sem você. Você iria sem mim? 

- Óbvio que não, não iria nem se fosse acompanhada. - disse Kimberly, uma jovem de 18 anos com cabelos castanhos soltos meio receosa de entrar no castelo macabro - Mas como a entrada custou o olho da cara e você, com a vantagem de ser um ano mais nova, pagou meia e quer tanto curtir esse show de horrores... Vamos nessa. - disse sorrindo para Amy.

As duas amigas adentraram na "boca" do castelo que fechou-se devagar até os dentes pontudos se encontrarem produzindo um baque gutural. Após isso, os olhos da "caveira" brilharam num efeito de luz vermelha. 

- Acho que já hora de aparecerem umas coisinhas pra dar sustos. - disse Kimberly esquadrinhando com os olhos a sala mal iluminada por uma lâmpada tremeluzente. De alguns cantos surgiam homens vestidos de palhaço, quatro deles, dois usando perucas vermelhas e os outros verdes - É, agora tá ficando meio convincente... Eles vão nos deixar passar?

- Não sei, pergunta pra eles. - disse Amy, olhando-os nervosa, mas gostando da sensação. 

Os palhaços as rodeavam soltando risadas histéricas com caretas irritantes. 

- Buuu... - disse Kimberly esbugalhando os olhos numa careta para um dos palhaços - OK, acho que já chega, né? 

Kimberly tentou dar um passo adiante, mas dois palhaços barraram o caminho. Os outros dois começaram a toca-las nas partes íntimas, gerando mal-estar no que deveria ser algo divertido.

- Ei, tira a mão daí! - disse Amy repreendendo um deles com um tapa - Tá maluco? 

- Amy, não tô gostando nada... Vamos dar o fora daqui... - disse Kimberly que cortou sua fala ao sentir a mão boba de um palhaço na sua bunda e se afastou - Isso é parte do show? O que vocês querem de nós, seus desgraçados?

Um palhaço veio por trás dela golpeando-a com um porrete na cabeça. Kimberly caiu desmaiada ouvindo os gritos de Amy que era carregada sobre o ombro de um dos palhaços desaparecendo na escuridão. A garota despertou na mesma sala, sentindo a dor da pancada. De repente vinha um barulho do escuro. Tratava-se de um boneco controlado remotamente pedalando num triciclo cujos pedais faziam rangidos fininhos. Kimberly lutou para se levantar olhando o boneco ronda-la. 

- Seja muito bem-vinda ao País dos Terrores. Está pronta para os maiores desafios que irá passar? - perguntou o boneco que possuía um rosto branco e magro, com buracos redondos no que deveriam estar os olhos, uma boca larga formando um sorriso fechado, cabelo longo, preto e liso e usando terno cor de vinho e um chapéu preto com uma flor de pétalas amarelas - Não posso garantir que tenha muita sorte. São quatro provas nas quais necessita ser ágil se quiser sair inteira. 

- Eu quero sair daqui... Cadê a Amy? O que fizeram com a Amy? - questionava Kimberly, apreensiva.

- Não se preocupe, ela está bem. - disse o boneco - Mas não sei por quanto tempo. 

- Como assim? Se tá pensando que vou ficar submissa a um joguinho sujo, pode esquecer... - disse Kimberly, furiosa.

- Chamar de joguinho ofende minha honra, sabia? A vida da sua amiga depende unicamente do seu desempenho nos jogos. E que os jogos comecem... - o boneco parara de pedalar, virando o rosto para Kimberly - ... agora! 

  _______________________________________________________________________________

CAPÍTULO 74: QUE COMECEM OS JOGOS

Frank passeava com seu sedã por uma rua um tanto movimentada em direção a um local para dar curso investigativo a mais um caso de caráter sobrenatural, mas inesperadamente uma ligação de Carrie ocorreu. 

- Fala aí, algum elemento adicional? - perguntou Frank. 

- Se prepara que seu dia hoje vai ficar menos enfadonho. - disse a assistente fazendo mistério mesmo sabendo que detestava fazerem isso com ela - O diretor acabou de me ligar mandando avisar pra você que houve uma transferência, ou seja, o caso que estávamos discutindo pouco antes... agora está sob a alçada de outro agente. Em outras palavras... 

- Não, nada de outras palavras, entendi perfeitamente! Qual é a dele? Me colocar em outro caso por que? - perguntou Frank, indignado, mas logo lhe veio uma ideia a partir de uma recente lembrança amarga - Ah é... Saquei agora. Eu devia saber que iam rolar consequências depois daquela conversa. Foi mal eu estar contando isso só agora pra ti, Carrie.

- Frank, como se atreveu a passar dias sem me contar algo sobre o qual eu deveria saber rápido? 

- Olha, vê se não esquenta com isso. Tive uma conversa tensa com o Giuseppe um dia depois do meu resgate na fenda. - fez uma pausa, fechando os olhos por um segundo - Ele descobriu um pendrive com a gravação do meu teste do polígrafo. 

Em sua sala, Carrie quase se engasgou com o café ao ouvir. 

- Isso significa que... 

- Pois é, ele tá sabendo. - disse Frank, aborrecendo-se só de pensar na inconveniência - E agora me vem com essa de me obrigar a trocar de caso. Tá muito na cara que ele tomou essa brilhante decisão pra me manter afastado de investigações paranormais. Qualquer caso com um mínimo detalhe possível que vá indicar ser fora do comum, ele vai vetar pra mim e jogar nas costas de alguém sem competência pra lidar. E quem é esse agente? Não é a Lucy, né? 

- Ele não disse o nome, apenas que o caso do bolo de aniversário explosivo e sangrento pertence a um outro investigador. Vai ver não passa de uma sabotagem, alguém pôs uma bomba-relógio contendo sangue e... 

- Carrie, a manifestação de um fantasma é muito variável. Possuiu o bolo e se converteu em sangue fresco.

- Não vamos esquecer da faca que estava dentro e acabou acertando a barriga de um convidado em cheio na hora da explosão. O fantasma tinha um alvo, certamente. Mas pra quê falar disso quando já perdemos a legitimidade, né? Vamos então partir para o seu novo caso e... sinto dizer, mas não é bem paranormal. Mas tem detalhes que se associam a coisas de terror. O parque Ventura inaugurou uma nova atração há poucos dias, o chamado País dos Terrores. 

- Ah, é uma daquelas casas onde o pessoal paga pra levar sustos com gente fantasiada, bonecos feiosos e um monte de efeito mequetrefe pra dar mais "realidade". Deixa eu adivinhar: Alguém se deu muito mal e descobriu que não era uma coisa tão divertida quanto parecia na fachada. Eu já vi uma cacetada de filmes com essa premissa, nem me surpreende. 

- Sim, você adivinhou certíssimo. Duas amigas, Kimberly Jelly e Amy Gordon, foram as primeiras clientes a entrarem no País dos Terrores, mas... não voltaram de lá desde então. O dono do parque tem evitado a imprensa e a polícia, tá sendo cobrado o tempo todo e nada de um esclarecimento sobre fechar ou manter a atração. 

- Coloco ele na lista de suspeitos. - determinou Frank - Ele pode ter contratado um psicopata sem querer, mas... não dá pra botar a mão no fogo por gente que aparenta ser vítima. Pois bem, tô pensando em tirar satisfação com o dono do parque ou conversar com os pais de uma das meninas. Seria mais agregador pro caso ir ao parque, claro. 

- Realmente, mas segundo notícias, o parque já foi averiguado pela polícia e o dono não foi achado, provavelmente fugiu, se mudou de cidade pra evitar levar acusação. E os pais da Amy não foram encontrados também, talvez tenham viajado. Quando o agente que iria cuidar do caso estava prestes a falar com os pais da Kimberly, o diretor notificou ele e a mim da mudança. Chato, não? Acabar num caso comunzinho do nosso mundo em vez de se aventurar num mais bizarro. 

- O Giuseppe vai se ver comigo, ele não pode me limitar só porque sou um caçador de assombrações e monstros, faz parte do meu trabalho. 

- É, mas e se o objetivo de impor essa restrição for... proteger você? 

Frank emudeceu naquele momento pensando na lógica da teoria. 

- Que seja, ainda assim não concordo. 

- Eu também não. Acho que vale uma segunda conversa pra resolver de vez. 

- Eu sou o mais qualificado pra solucionar casos paranormais. Carrie, sou o único caçador que restou nessa cidade, não acredito que vá ser difícil ele entender isso. Jogar nas costas de quem não tem a menor ideia de com o quê tá lidando somente pra cortar meu barato é muita irresponsabilidade dele. 

- Esfrega isso na cara dele e encerra o assunto saindo por cima. Você não tem que provar nada a ele, mas... Nesse caso, é a única saída. 

- Na verdade, eu tinha provado, mesmo ele ainda não sabendo a verdade. Quando estivemos no Brasil pro treinamento tático e a floresta tava sendo ameaçada por um espírito do mal de um indígena que possuía os lobos dali, ele ficou encucado sobre eu ter sido capaz de escapar com vida. Mas sei porque ele resolveu fazer isso, afinal não fui totalmente honesto quando me perguntou se eu acreditava em forças sobrenaturais. Não dei a resposta que ele queria e agora que descobriu a verdade bruta, quer posar de magoado. Não faz sentido, eu não era obrigado como no teste do polígrafo com o Ernest... 

Citar o nome do antigo diretor os fez silenciarem. 

- Tá legal, vou indo depressa pra casa da Kimberly. Me passa aí o endereço. 

                                                                            ***

Na residência de Kimberly, Frank conduzia um papo bastante esclarecedor acerca da rotina que envolvia o círculo de amizades da garota, principalmente com Amy que não despertava apreço nos pais.

- Como a Kimberly costumava reagir à tentativa de vocês em exigir que ela estabelecesse limites com relação às amizades dela? - perguntou Frank de frente aos pais num puff branco. 

- Discutia conosco sempre que aconselhávamos a não sair dos trilhos quando o assunto fosse amizades fora do colégio, isso desde que ela tinha 14 anos. Agora já quase adulta, mulher formada.. - disse a mãe, tentando segurar o choro - ... ela até que vinha nos ouvindo melhor. Controlar os filhos assim na maioridade é desgastante. 

- Estava quase indo tudo bem até que apareceu essa Amy. - disse o pai com desdém ao se referir à amiga da filha - Praticamente em pouco tempo ela virou uma amiga que é convidada para os almoços de domingo. Por mais que a Amy pareça descolada e animada, não tínhamos plena certeza. Sabe como é, né? Diga-me com quem tu andas que te direi quem tu és. A Hannah e eu discordamos muito nisso.

- A Amy foi tão vítima quanto a Kimberly. - informou Frank. 

- Minha nossa... - disse a mãe, preocupando-se - Espero que os pais da Amy... tenham forças nesse momento... 

- Acho que nem estão sabendo nessa altura já que nenhum deles está em casa, pelo que foi informado. 

- A Kimberly foi induzida por aquela garota à ir naquele parque. - acusou o pai - Fez a cabeça dela pra se meter em encrenca. 

- Josh, por favor, vê se não começa... - disse Hannah, enfezando-se com a postura do marido. 

- A Amy ter sido sequestrada junto com nossa filha seja por lá quem naquele parque estranho não muda o fato de que ela não é a amiga mais indicada pra Kimberly ter uma vida socialmente saudável! 

- Desculpe se estivermos parecendo superprotetores demais, principalmente o Josh... - disse Hannah para Frank.

- Não, eu entendo, mesmo não sendo pai, vocês apenas prezam pela segurança da Kimberly nesse mundo infestado de influências negativas. - afirmou Frank, compreensivo - Pois fiquem tranquilos, o caso vai se resolver em breve, só preciso de um mandado pra invadir o lugar onde elas entraram e fazer uma inspeção geral. 

- Não nos faça promessas, detetive, por favor. - disse Josh, um tanto pesaroso - Faça o que for necessário... seja encontrando as garotas vivas ou mortas. 

Hannah caíra no choro copioso e soluçante pondo as mãos no rosto e inclinando-se para frente. Durante a saída, Frank verificou no celular se havia alguma mensagem de Lucy. Desapontou-se ao ver a caixa vazia. De súbito, uma ligação de Carrie quebrou seu pensamento focado na amiga de longa data. 

- Fala, acabei de sair da casa dos pais da Kimberly. - disse Frank andando até seu carro. 

- Frank, tem uma coisinha meio chata pra te dizer... ahn... O Giuseppe tomou outra decisão.

- Ah, essa não, o que esse velho anda tomando hein? - perguntou Frank abrindo a porta do carro e entrando - Nem o Ernest era tão volúvel assim. - fechara a porta com força demonstrando sua raiva - E aí, qual é a dele dessa vez? 

- Você está de folga. - disparou Carrie - Entre hoje e amanhã. 

- Como é que é?! Eu tô no meio de um caso! Ele quer que eu abandone a investigação pra uma folguinha? Nem ferrando. Daqui há pouco vai querer que eu desista ou simplesmente me destituir. 

- Calma, Frank, é só uma folga de dois dias e não foi exclusivamente pra você.

- Tem outros agentes que ganharam essa folga bônus no mês? Bom saber, mas por outro lado eu não tô confortável em largar o caso assim logo no começo. Porque eu sei que quando eu voltar ele vai me transferir pra outro caso e com certeza o mais normal possível. É nessas horas, sabe... - suspirou pesadamente - ... que bate a saudade dele. 

- Em mim também. - disse Carrie, entristecendo-se um pouco - Mas é como eu disse, resolva essa picuinha com o Giuseppe no papo reto, ele não tem o direito de arbitrariamente te empurrar só casos normais que ele bem escolher. Ele não me deu nomes dos agentes premiados. E como foi aí? 

- Os pais da Kimberly não vão muito com a cara da Amy, principalmente o pai. Parece que a filha deles tinha bastante tendência a formar amizades de qualidade duvidosa, mas parece que não conhecem ninguém além da Amy que ficou mais próxima da família recentemente. Se essas meninas estiverem vivas ou mortas, não dá pra esperar. Esse caso pede resolução ágil. Isso não vai ficar assim. - declarou Frank, indicando que aceitaria os riscos de desafiar Giuseppe. 

                                                                            ***

Departamento Policial de Danverous City

Em retorno ao prédio, Frank avistou um jovem batendo boca com um policial. 

- Será que não entende? É uma questão de vida ou morte, preciso de alguém disponível! - dizia o rapaz de cabelo meio loiro e roupa vermelha clara - Eu não saio daqui sem conseguir um detetive. 

O policial virou o rosto para sua esquerda e viu Frank se aproximando com um olhar curioso. 

- Quer um detetive? Aqui está um. Bom proveito. - disse o policial - Ei, Montgrow, acode esse jovenzinho aqui que surtou comigo desesperado por alguém que investigue o desaparecimento de uma amiga. Falei que não tem nenhum agente livre pra atende-lo. Você tá em algum caso desse tipo? 

- Bem, estou sim... - disse Frank desviando vagarosamente o olhar do policial para o jovem que passava a mão no rosto suado denotando inquietação descontrolada - Deixa eu falar aqui com ele, eu cuido disso. - o policial acenou positivamente com a cabeça e fora embora - Ei, qual o seu nome? Pra quê fazer esse escândalo?

- Me chamo Miles. Minha melhor amiga desapareceu e... 

- Como ela se chama? 

- Kimberly. - respondeu Miles, a expressão de preocupação. 

- Eu já tô encarregado de resolver esse caso. Tudo de que preciso é de um mandado pra ir ao parque e chegar com o pé na porta do tal País dos Terrores. Dando uma previsão, creio que amanhã. 

- Ótimo, isso... me acalma meus nervos. Não quero nem pensar na possibilidade dela... 

- Relaxa aí, amigo. - disse Frank, tocando-o no ombro - Fé que ela tá viva. Assim como a amiga dela, a Amy. Você a conhece?

- Nós fomos apresentados pela Kimberly, mas nos vimos apenas uma vez. Então ela também foi naquele lugar novo do parque? Que cilada. 

- Conta comigo pra dar um basta nesse problema. OK? Vai pra casa, esfria a cabeça e acredita que tudo vai acabar bem. - disse Frank. 

- Saber que alguém está trabalhando pra salva-las renova minha esperança. Valeu, senhor... 

- Frank Montgrow. Falou, Miles. - disse Frank, despedindo-se do rapaz que ficou parado olhando-o se distanciar com uma expressão de contentamento. O detetive foi para a sala de Carrie, antes batendo na porta. A assistente concedeu passagem.

- Oi, Frank. Sabe, eu tava pensando em... Nos divertimos na folga. Amanhã à noite. Que tal?

- Conheço esse olhar. - disse Frank, aproximando-se dela - Tá afim de ir ao País dos Terrores. É isso?

- Curiosidade de experimentar. Depois podemos comer um algodão-doce, andar na montanha-russa...

- Não, Carrie, para, tá bem óbvio a sua trama. Segundas intenções, né? 

A assistente sorriu de canto num semblante sacana. 

- Tá fechado. Folga o cacete. A gente vai naquela merda pra tirarmos a prova. - determinou Frank, firmemente. 

                                                                                   ***

Na noite do dia seguinte, Frank e Carrie compareciam ao parque Ventura como um casal despreocupado e com a única finalidade de espairecer com um pouco mais de diversão naquela "folga". No entanto, o detetive arrancava olhares de algumas pessoas ao redor quanto ao seu sobretudo. 

- Ahn, Frank... - disse Carrie, meio retraída, andando à direita dele - Estamos sendo observados... - falou em tom baixo quase entortando a boca - E tanto eu pedi pra você não vir uniformizado... 

- Esqueceu que a gente veio a trabalho? Já fazem anos que não saio de casa pra uma caçada sem essa roupa.

- Achei que o termo caçada se referia apenas à monstros. - disse a assistente, franzindo a testa. 

- Humanos com sérios desvios de caráter também são monstros. - retrucou o detetive - Olha, eu ainda acho que eu devia ter vindo ontem sozinho. - disse ele parando em frente ao castelo do País dos Terrores e sua entrada caveirosa. 

- Por que? Se tivesse ido logo ontem pra solucionar o mistério, o Giuseppe saberia na hora que você furou a folga pra agir e te dispensaria de casos humanos mais complexos e você ficaria com a parcela mais simples e lugar-comum, o que consequentemente transformaria você num detetive medíocre.

- Acredita que essa seja a intenção do Giuseppe? Me tornar um detetive mais... normal? - questionou Frank, expressando certo medo - Se ele continuar nessa, minha carreira no campo sobrenatural tá por um fio.

- E o legado da sua família não será honrado devidamente. - complementou Carrie - E ai, vamos entrar no castelo de Grayskull? - Frank virou o rosto para ela, confuso - Nunca assistiu o He-Man? 

A dupla adentrou no castelo que abria sua bocarra de dentes pontudos e pedregosos. 

- Essa fumaça que colocam como efeito tem um cheiro horrível... - disse Carrie, tapando o nariz. 

O corredor semi-escuro possuía um fim no qual haviam duas passagens, uma à esquerda, outra à direita. 

- Por aqui. - disse Frank saindo na frente em direção à passagem da direita.

- Tem certeza? - perguntou Carrie, hesitante. 

- Confia. - respondeu Frank já entrando. A assistente foi devagar atrás dele. Ao seguirem pela sala vazia e mal-iluminada, se depararam com os palhaços que faziam o comitê de boas-vindas - Não tem medinho de palhaço, né? 

- É mais fácil um palhaço abusado como esse aqui ter medo de mim. - disse Carrie detestando o modo como os palhaços se comportavam. Um deles passara a mão na sua bunda - Opa, já estão apelando! Frank, você viu? Fui assediada! 

Um palhaço "calvo" de peruca vermelha bem espessa segurava uma bola de basquete e a bateu no lado direito da cabeça de Frank para provoca-lo enquanto ria zombeteiramente. Frank controlava seu humor, mas com a canalhice dos palhaços estava sendo cada vez mais árduo manter a paciência. 

- Frank... - disse Carrie, afastando-se ao passo que dois dos palhaços a rodeavam. Na sua bolsa havia um spray de pimenta que retirou e borrifou direto nos olhos de um dos palhaços que gritou com ardência torturando-o. Um palhaço a agarrou por trás, fazendo-a inalar clorofórmio em um pano. 

- Carrie! - disse Frank pronto para socar os palhaços, mas antes que o fizesse levara uma pancada forte na parte de trás que o derrubou facilmente. A força do golpe o levava aos poucos à inconsciência e nesse processo o detetive via um palhaço levar Carrie, já desacordada, sobre um dos ombros como uma boneca em tamanho real. Sua visão enturvava e escurecia, não enxergando mais que borrões disformes. No momento de despertar tão vagaroso quanto foi na perda de consciência, Frank sentia terem se passado horas - Que droga de lugar é esse? - perguntou olhando em volta. Estava numa sala maior e mais iluminada, porém, à sua frente viam-se grilhões de ferro prendidos a correntes aprisionando as pernas esticadas do detetive que encontrava-se sentado num bloco de pedra ligado ao que parecia ser uma esteira de aço. Acima dela haviam lâminas retangulares de guilhotina enfileiradas - Cacete, pra onde foi que levaram a Carrie?

- Eu sei a resposta. - disse a voz sintetizada vinda de um monitor. Frank virou o rosto para sua direita encarando a tela que mostrava uma imagem em desenho do rosto do boneco que andava no triciclo - Prazer, Frank Montgrow, seja bem-vindo ao País dos Terrores governado por mim, o Chapeleiro Louco. Imagino que não esteja muito cômodo aí, mas posso assegurar que logo mais você será um homem livre, de um jeito ou de outro. - deu uma risadinha debochada. 

- O que tá querendo dizer, seu filho da mãe? - perguntou Frank, ríspido. 

- Vê esses molhos de chaves que tem ao seu lado? Pois bem, neste primeiro desafio você terá um tempo limitado para destravar esses quatro grilhões que devem estar tão apertados que estão deixando sua pernas dormentes. Durante sua luta pela liberdade, essas lâminas afiadíssimas descerão uma por uma a cada três minutos. Perceba que a última lâmina está bem acima de você, ou melhor, das suas pernas. Prove que consegue sair sem uma amputação dupla e dolorosa. 

Frank começava a suar e a realmente sentir uma dormência se espalhar pelas pernas. 

- Entendi o lance. É isso que você faz com as vítimas... Submete elas a esses joguinhos de tortura... Tipo aquele cara do filme. Quanta originalidade a sua. 

- Deixe os elogios para o final. Isso, é claro, se estiver vivo. - disse o Chapeleiro Louco - Valendo! 

A primeira lâmina, a mais distante, desceu rasgando o ar e caindo com peso na esteira de aço. 

- Ei, isso é sacanagem! Você falou uma lâmina a cada três minutos! - reclamou Frank pegando um molho de chaves e testando aleatoriamente uma chave para um dos grilhões. Passou para outra chave após a primeira não dar certo. 

- Se passaram três minutos enquanto conversávamos. - disse o Chapeleiro Louco com cinismo. 

- Eu vou te matar quando te achar... - disse Frank que bufou de raiva quando a segunda chave não funcionou. Passou para outra e novamente não se mostrou a correta - Merda! 

- É mais uma questão de "se" do que "quando". - rebateu o arquiteto dos jogos sádicos. 

- O que aqueles seus soldados palhaços fizeram com a minha amiga? Onde ela está?

- Ela é sua amiga? Que pena, vocês parecem formar um casal tão certinho. 

Frank parou de dar atenção ao misterioso organizador dos desafios, passando a focar no seu problema. A segunda lâmina descera e ele ainda não havia aberto o primeiro grilhão. Enfiou mais uma chave do terceiro molho que pegara no cadeado e enfim pôde abrir o grilhão, dando um suspiro aliviado. Mas ainda faltavam mais três grilhões e terceira lâmina descia pesada na esteira de aço. Faltavam mais cinco lâminas, incluindo a mais fatal de todas. Após muito sufoco, abriu o segundo grilhão, mas já haviam descido duas lâminas e a outra estava poucos segundos próxima de cair. 

- É importante saber a hora de desistir, Frank. - disse o Chapeleiro Louco dando sua risada infame. 

- Como você sabe meu nome? - perguntou enquanto testava uma chave para soltar o terceiro grilhão. A sexta lâmina desceu. 

- Um passarinho me contou. - disse o maníaco, ávido para ver as pernas de Frank serem decepadas ao mesmo tempo - Essa sua demora com o terceiro grilhão está me excitando, vamos... continue assim...

- Droga, será que nenhuma presta pra abrir esse aqui? 

- Já parou pra pensar que você pode estar usando uma mesma chave que não funciona? Seu nervosismo só tem ajudado a estender seu tormento. É de jogadores deste nível que eu aprecio. Que sorte a minha capturar um despreparado. 

- Fecha a matraca, desgraçado! - atacou Frank, transtornado e no auge da aflição. Ora olhava para cima, mirando na sétima e penúltima lâmina, ora voltava-se para o grilhão que tentava abrir. Mal conseguia enfiar a próxima chave de tão nervoso que estava. A lâmina balançava prestes a cair - Não trapaceia! Tô concentrado em me livrar, mas também contando cada segundo! 

- Oh, acho que subestimei você. - disse o Chapeleiro Louco, debochado - Mas não contrario as regras do meu jogo pra desfavorecer o jogador. Aqui o seu pior inimigo não sou eu, Frank, é você. 

O terceiro grilhão foi aberto segundos antes da sétima lâmina cair. 

- Chegamos a um momento crucial. Três minutos, Frank. Em três minutos, você consegue abrir esse grilhão? Duvido!

Naquele instante, Frank também duvidava. Mas procurou afastar qualquer fagulha de desesperança. "Carrie, cadê você?"

- Dois minutos! - alertou o Chapeleiro Louco. Frank imaginava que gastou suas tentativas em todas as chaves naquele grilhão. Olhou de relance para a lâmina ao tentar mais uma chave. A lâmina que cairia em cheio na altura das suas pernas começava a balançar - Um minuto! Que tal uma contagem regressiva? 55, 54, 53, 52, 51, 50, 49...

O suor pingava no rosto de Frank molhando o sobretudo. "É o meu fim", pensou ele, desestabilizado. 

- 32, 31, 30, 29, 28, 27, 26, 25... 

A lâmina balançava um pouco mais agitada. Frank testou a última chave do molho que podia jurar não ter usado antes. Essa chave era dourada, mas menor que as outras douradas. Enfiou-a no buraco do cadeado e girou. 

- ... 14, 13, 12, 11, 10, 9, 8, 7, 6... 

O detetive arregalou os olhos ao ver que o grilhão fora aberto. O retirou da perna esquerda depressa. 

- ... 3, 2, 1... Lá vai! - gritou o Chapeleiro Louco que acionou a descida da oitava e última lâmina. 

Rapidamente, Frank pulou para o lado no momento em que a lâmina descia veloz. Caiu rolando e viu a lâmina caindo com baque no bloco de concreto. Respirando forte, Frank levantou-se, triunfante.

- O que achou disso? Muito despreparo, né? Agora me fala onde é que tá minha amiga? 

- Mas eu não disse que tínhamos acabado. - falou o Chapeleiro Louco. Um palhaço veio por trás de Frank com um lança-perfume que na verdade continha um gás sonífero. O detetive, pego em guarda baixa, respirou o gás e ficou zonzo de sonolência intensa até cair adormecido. Ao acordar, estava numa sala redonda iluminada por lâmpadas azuis e com um grande pino no centro cheio de aberturas retangulares. Frank se levantou-se e observou o ambiente. 

- Se tem uma coisa que você não faz é jogar limpo. - disse o detetive. O monitor acendeu mostrando a cara pálida e sinistra do boneco que representava a pessoa que se auto-denominava Chapeleiro Louco. - Do que vamos brincar agora?

- Bem-vindo ao segundo desafio, Frank. Está preparado? 

- Pra te descer o sarrafo pode ter certeza que eu tô. 

- Talvez tenha a oportunidade de acabar comigo caso vença o desafio. Podemos começar?

- Me diz primeiro o que significa essa porcaria! 

A sala começou a girar e Frank quase caíra desequilibrado. 

- Procure não se aproximar muito desses buracos do pino. 

- Por que? - indagou Frank sentindo o chão girar. Uma espada saíra de uma das aberturas do pino. Frank abaixou-se e a mesma cortou uns fios de cabelo quando poderia tê-lo decapitado - Ah, já saquei. 

- Tente desviar das espadas à medida que o giro da sala vai aumentando de ritmo. Saindo com os membros no lugar ao fim do tempo, pode passar para o terceiro desafio. 

- Ainda tem um terceiro?! Desgraçado.... - disse Frank, pulando por cima de uma espada que veio de uma abertura na base do pino - Quantos desses joguinhos insanos tem hein? - desviou de outra espada que surgiu numa abertura localizada no meio do pino - Beleza, menos conversa, mais ação! - deu um pulo sobre duas espadas em duas aberturas abaixo e logo mais a frente surgia outra espada na altura da sua cabeça. Frank abaixou-se, mas uma espada veio numa abertura de baixo e ele deu um pulo para cima.

Como notava que a dificuldade da prova se elevava conforme a velocidade do círculo acelerava, Frank resolveu praticar sua percepção e seus reflexos para demonstrar que não sairia minimamente ferido. 

- Faltam 30 segundos... Melhor trocarmos de marcha. - disse o Chapeleiro Louco. 

O piso circular girou ainda mais rápido e as espadas surgiam num ritmo aproximadamente igual. Num descuido devido ao aumento de velocidade, Frank sofreu um arranhão no braço esquerdo, mas ainda permaneceu alerta quanto as outras espadas que vinham ameaçando perfura-lo ou corta-lo. Antes que o cansaço o vencesse a ponto de ser dilacerado por duas espadas, o tempo se esgotara e o piso parou de girar.

- Teve sorte desta vez, Frank. Parabéns por acabar com minha diversão que seria ver sua cabeça rolando nesse cenário ou vê-lo encharcado de sangue morrendo por hemorragia. Siga a partir desta porta.

Uma porta automática deslizou para o lado, revelando uma passagem por um corredor mergulhado em trevas. Frank seguiu pelo caminho e telas de monitores acoplados nas duas paredes foram ligadas mostrando o estado atual de Carrie. A assistente, naquele momento, estava amarrada, amordaçada e aprisionada numa jaula que pendia. 

- Carrie! - gritou Frank olhando para as telas que mostravam imagens de diferentes ângulos. Dois homens usando mantos negros e máscaras brancas enrugadas de palhaço surgiram agarrando-o pelos braços. Frank socou ambos para poder prosseguir. De repente, o detetive estacou quando uma fumaça quente subiu de um buraco no chão. 

- Opa, parece que temos alguns obstáculos. - disse o Chapeleiro Louco assumindo os monitores - Vocês gosta de fontes termais, Frank? 

- Seu maluco de merda... - disse Frank olhando para os "gêiseres" que liberavam vapores quentes numa sequência pré-determinada em buracos muito pouco espaçados. Os homens com máscaras de palhaço voltaram a agarra-lo, mas o detetive novamente socou um deles e pegou o outro retirando a máscara e o empurrando direto para o buraco que soltou o vapor na mesma hora. O rosto dele atingido pela fumaça ficara carne viva com pedaços de pele caindo. Frank o jogou para o lado enquanto ele gritava pelo seu rosto carcomido. O detetive arriscou atravessar três buracos de uma vez. Correu passando por eles, mas perto do quarto, parou rapidamente pois o vapor subiu. Uns centímetros a mais e teria tido o mesmo destino do capanga mascarado do Chapeleiro Louco. Aguardou - Você não me engana, esse aqui é moleza. - correu por mais três buracos e parou esperando a fumaça emergir do que estava à sua frente - Só basta adivinhar a sequência.

O Chapeleiro Louco estava silencioso e aquilo dizia muito.

- Você programou pra três buracos expelirem fumaça uma vez cada. Aí já é subestimar demais a inteligência do jogador, não? 

- É que imaginei que o desespero pela vida da sua amiga te faria correr impulsivamente. 

- Eu tô desesperado sim... Mas tenho preparo mental pra lidar de muitos anos de experiência pra controla-lo. - disse Frank, logo atravessando os três buracos após os mesmos soltarem suas fumaças - Ai! - sentiu um pouco da fumaça do buraco adiante pegar na sua mão direita superficialmente - OK, ás vezes a pressa fala mais alto. 

Seguindo com o desafio até o final após descobrir a lógica do jogo, Frank adentrou no último cenário. Várias luzes azuis começaram a tremeluzir apresentando um grupo de palhaços horrendos com caras de poucos amigos. Em meio ao grupo estava um homem esguio de cabelos pretos, compridos e lisos e vestindo um terno cor de vinho, usando um chapéu preto com uma flor amarela pregada no lado. Aproximou sua boca a um microfone de formato antigo - datado dos anos 1940. 

- Bem-vindo ao estágio final do País dos Terrores. - disse ele mostrando seu rosto jovial e levemente pintado de branco. 

- O Chapeleiro Louco? - indagou Frank. 

- Em pessoa. - disse ele. 

- E você é pálido assim mesmo como seu bonequinho em desenho? 

- Maquiagem teatral. - respondeu ele. Estalou os dedos para os capangas - Podem ligar os refletores. 

As luzes azuladas pararam de tremer e os refletores foram ativados. Frank olhou para sua esquerda e viu uma grande jaula de ferro na qual Carrie estava presa. Os olhares dos dois encontraram-se por um instante. Abaixo da jaula, uma piscina funda e nada convidativa para se nadar. 

- Nos encontramos de novo, Frank. - disse o Chapeleiro Louco - Não se recorda?

Frank estreitou os olhos, vagamente reconhecendo de início. Depois tivera a total compreensão. 

- Mas você é o... Você é o Miles! 

- Eu disse que precisava muito de um detetive, não foi? Aí está você, exatamente o que eu esperava.

- Seu moleque desgraçado! Cadê as meninas que vieram pra cá passar pelos seus jogos mortais? 

- A Kimberly foi confinada numa salinha secreta, mas não foi desafiada realmente. Já a Amy, se quer tanto saber... Minha querida irmãzinha está escondida em casa. Nossos pais estão numa viagenzinha romântica em Amsterdã. Eu livrei a Amy porque ela implorou pra que a amiguinha dela vivesse. 

Frank parecia quase espumar de raiva, mas pela situação de Carrie do que das garotas. 

- Tirem a Carrie dali agora, senão meto bala nos seus funcionários... - disse ele, sacando a arma.

- Ou posso manda-los descerem a jaula para aquela piscina e sua amiga vira jantar de tubarões. 

- Tubarões?! Não vem com blefe pra cima de mim. 

- Carrie, querida, acene pra ele confirmando que há tubarões reais na piscina, por favor. 

A assistente fez que sim com a cabeça, a expressão de medo estampada. 

- E então? Vamos jogar nosso último jogo? Queira, por gentileza, colocar sua mão direita nesse moedor.

Um moedor de carne estava sobre uma mesinha quadrada, um item para o desafio final. Frank fizera o que Miles pediu e pôs a mão na boca do moedor. Um palhaço chegava para segurar a manivela. 

- Direto à explicação: Você terá de responder seis perguntas, sendo três delas charadas. Para cada resposta certa, um cadeado de jaula é aberto. Porém, para cada resposta errada, a jaula é descida um metro. Se no fim do jogo você tiver acertado cinco perguntas e no caso de errar a última... Serviremos carne moída como aperitivo pros nossos amigos dentuços lá na piscina. Concorda?

- Eu tenho escolha? - perguntou Frank, contidamente enfurecido - Anda logo com isso. Manda ver, seu verme. 

- Tudo bem, primeira pergunta. - disse Miles tirando seis papéis de dentro do terno - Começando com uma fácil: Quem fundou Danverous City?

- Leopold Danverous. - respondeu Frank - Eu tava longe de ser o melhor aluno da classe, mas não cabulava nenhuma aula de história. 

- Correto. - disse Miles olhando de um jeito cínico para Frank. Na jaula havia um palhaço que se segurava nas barras e exercia a função de abrir os cadeados. Destrancou um com o acerto de Frank. 

- Próxima: Quantos tremores de terra afetaram a cidade da data de seu nascimento até hoje? 

Frank fechou os olhos apertadamente, sinalizando que a pergunta demandava um chute arriscado. 

- Não sei... - disse ele, levando Carrie ao ápice da aflição murmurando alguma coisa que estava impedida de exprimir graças às mordaças - Dá pra ser mais específico? Que nascimento? O meu ou o da cidade?

- Agora posso admitir que está me surpreendendo, Frank. - disse Mles, sorrindo sadicamente - Incrível, você considerou que nascimento poderia ser um sinônimo para fundação. Parabéns, muito sagaz. 

- Segundo uma pesquisa que fiz... há alguns anos... no último laudo sismográfico... foram 122. 

Miles conteve uma risada, mas não resistiu. Soltou a gargalhada insana e longa. 

- Um metro abaixo! - disse Miles ordenando a um palhaço baixar a corrente que sustentava a jaula - Lamento, Frank, mas está incorreto. - olhou no papel - Foram 128. 

Frank cerrou os dentes dando uma olhada no infame palhaço que estava sedento para girar aquela manivela do moedor. 

- Terceira questão: Em que dia Ernest Duvemport, vencedor da eleição para prefeito, foi assassinado em público? 

O detetive podia confessar que aquela pergunta lhe pegou desprevenido, ainda que fácil. 

- Foi em 16 de Outubro de 2019. - respondeu, a lembrança tortuosa retornando. 

- Certo. - disse Miles. O palhaço abriu mais um cadeado num lado da jaula - Agora as charadas, preste bem atenção: Você está numa sala escura com um único palito de fósforo na mão. À sua frente tem uma vela, uma lamparina e uma pilha de lenha. O que você acende primeiro? Não vale muito tempo pra pensar. 

"Se estivesse aqui no meu lugar, você ia mandar muito bem.", pensou ele, olhando para Carrie. 

- O fósforo. - disse Frank. Miles deu um sorrisinho fechado com um olhar maldoso - Não é um chute. 

- Certa resposta. - disse Miles. O terceiro cadeado era aberto - Deus tem, mas a rainha, não. O duque tem no começo e o rei Midas tem no meio. O que é?

Frank passou alguns minutos na tentativa de adivinhar. Carrie fazia algum esforço pra tirar as mordaças e soprar a resposta. O detetive confiou mais no seu raciocínio lógico e pensou a fundo.

- Já posso mandar descer a jaula um metro a mais? O seu silêncio indica sua perda. 

- É... a letra D. - respondeu Frank convictamente. Miles comprimiu os lábios. 

- Correto. - disse o psicopata - Última charada: A que pergunta você não pode responder "não"? 

O tempo que Frank levara para pensar na resposta superou o da pergunta anterior. 

- Uma pena pra você, Frank. Diga adeus a sua querida amiga. - disse Miles, sacando uma arma e atirando três vezes contra o palhaço que abria os cadeados, o qual caiu na piscina. Os tubarões vieram rápidos para devorar a carne, fazendo parte da água tingir-se de vermelho - Pode descer com tudo!

- Filho da puta! - disse Frank, tirando a mão do moedor e desferindo um soco forte no rosto do palhaço. A jaula foi descida até mergulhar na piscina. Frank correu e saltou na água para socorrer Carrie antes que ela se afogasse ou os tubarões voltassem suas atenções à ela após terminarem com o palhaço. Frank abriu uma porta da jaula e a retirou de lá segurando firme. Lembrou do seu arranhão que ainda sangrava, sendo o chamariz perfeito para os tubarões que nadavam na direção deles. Frank fez força nas pernas para nadar até a superfície. Os três tubarões estavam prestes a alcança-los. 

Mas felizmente Frank emergiu com Carrie e trataram de saírem ensopados imediatamente.

- Tá tudo bem? - perguntou Frank removendo a mordaça e as cordas. 

- A resposta... do último enigma... é... - disse Carrie, arfando, os fios da franja do seu cabelo quase tapando os olhos - ... "Ainda estou vivo?". 

Frank pensara um pouco.

- É mesmo. - disse ele, em seguida levantando-se com Carrie. Um palhaço estava tentando fugir após Miles e os outros capangas escaparem. Frank sacou a arma e disparou na perna dele. Ambos foram ao palhaço caído e gemendo de dor - Prometo te deixar sair vivinho se nos disser onde fica a sala secreta. 

Ao obterem a resposta, foram à sala onde Kimberly estava confinada. Frank e Carrie entraram num corredor com paredes descascadas. O detetive abriu a porta de número 08 com um chute. 

- Kimberly! - chamou ele - Você é a Kimberly?

A garota foi correndo para abraça-lo aos prantos. 

- Fica tranquila, o pior já passou. Mas... o miserável que te trancou aqui tá foragido. 

- Não tem problema. - disse Kimberly - Só me tira daqui, pelo amor de Deus. 

- Anda, vem... - disse Frank que logo fechou a porta do exíguo espaço de confinamento. 

                                                                          ***

No dia seguinte, durante a noite, Kimberly prestava seu depoimento à Frank na sala de interrogatório sobre os horrores que passou lidando com Miles e o cárcere. 

- A Amy foi muito insistente em me levar pra aquela desgraça de parque. Eu até tinha curiosidade de ir no País dos Terrores, mas meu interesse foi caindo depois que a Amy ficou obcecada em me acompanhar. O que não fazemos pelas amigas, né? 

- O Miles disse à você que a Amy na verdade é irmã dele? - perguntou Frank. 

- Eu fui desafiada num jogo e quando venci... ele me contou. São meio-irmãos, o pai do Miles administra o parque dando carta branca pra ele ser o psicopata doentio que é. O pai dele teve a ideia de viajar com a mãe da Amy pra não encarar a polícia quando os desaparecimentos atraíssem atenções. Mas a Amy não é exatamente uma vítima. 

- Quer dizer que... ela tava conivente com os planos do irmão pra ver gente sofrendo e lutando por suas vidas? O Miles tinha me dito que liberou ela porque implorou pra que você sobrevivesse. 

- Mentira. - respondeu Kimberly, séria - Ela foi cúmplice, tudo tramado pra me atingir e aos meus pais... que estavam certos o tempo todo e eu não dei ouvidos. Aquela vagabunda tem que se ferrar. 

O interrogatório terminara um pouco mais cedo do que o esperado, dando à Frank uma janela de tempo para ir à casa de Amy investigar. Mas o que achara lá o deixou embasbacado. 

- Caramba... - disse Frank ao chegar no quarto de Miles, vendo-o morto no chão envolto de uma poça de sangue. Um bilhete dobrado estava ao lado do cadáver. Frank pegara-o e leu - "O dono do jogo mudou, mas as regras continuam".

Era facilmente deduzível para Frank que Miles relatou sobre ele para Amy já prevendo uma invasão à casa. No parque Ventura, mais precisamente no País dos Terrores, duas pessoas, um rapaz e um garota, entravam ansioso para uma noite de horror divertida. Amy pegara a peruca que seu irmão usava e a colocara se olhando no espelho. Depois foi para um painel de telas e controles. Aproximou sua boca ao alto-falante. 

- Sejam bem-vindos ao País dos Terrores. E que comecem os jogos. - disse ela sorrindo sadicamente ao ver um boneco pedalando um triciclo e rodeando o rapaz que viu sua namorada ser levada por palhaços.

                                                                                 -x-

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2016/10/22/duas-pessoas-disfarcadas-de-palhaco-tentam-assaltar-homem-em-berlim.htm

Comentários

As 10 +

10 melhores frases de Hunter X Hunter

A expressão "lado negro da força" é racista? (Resposta à Moo do Bunka Pop)

10 melhores frases de Optimus Prime (Bayformers)

10 melhores frases de Avatar: A Lenda de Aang

10 episódios assustadores de Bob Esponja

10 melhores frases de Another

15 desenhos que foram esquecidos

10 melhores frases de Os Incríveis

10 melhores frases de O Senhor dos Anéis

10 melhores frases de Capuz Vermelho (3ª Temporada) - Parte 1