Frank - O Caçador #76: "Lado A, Lado B"

Naquela tarde de sol, Adrien, um garoto de 10 anos, convidara um amigo do colégio para brincarem no quintal sob a constante vigilância de Sarah, mãe dele, que separava algumas roupas para levar à lavanderia. Enquanto realizava a tarefa, dava olhadelas para os dois meninos. Clive era um garoto de cabelo meio raspado que olhava com um pouco de receio para a bacia cheia d'água que Adrien preparou para desafia-lo a uma brincadeira no mínimo arriscada. 

- Não sei se consigo. - disse Clive - Eu nem mesmo sei nadar, por que saberia prender a respiração debaixo d´água? 

- Porque eu sei que você pode se dar bem. - disse Adrien, garoto caucasiano de cabelo preto em corte social. 

- É fácil pra você falar. Tenta você, quem sabe, batendo um recorde, me deixa empolgado.

- Clive, deixa de ser maricas. - disse Adrien soando rude - Eu enchi a bacia pra ver você cumprindo o desafio e eu contando os segundos. Não quer entrar pro livro dos recordes? O meu é de dois minutos.

- Ah conta outra. - disse Clive querendo rir. 

- Se você for, eu te empresto o jogo de lutadores samurais novinho que ganhei semana passada. 

- Tá falando sério? - indagou Clive logo virando o rosto para a bacia - Tá legal. - aproximou-se da bacia e inclinou-se para frente, mergulhando o rosto na água. Adrien contava cada segundo em voz alta. No entanto, passados doze segundos ele cessara a contagem, apenas observando o amigo testar sua respiração. Quando Clive sinalizava querer emergir sua cabeça, Adrien a afundou - Ainda não quebrou meu recorde. - disse ele com uma frieza crua. A água borbulhava e Clive debatia-se.

Sarah olhou apavorada para o ato de Adrien e correra, deixando roupas caírem no chão, para ir ao quintal impedir que uma tragédia acontecesse. Ao chegar a tempo, empurrou o filho para longe de Clive que foi salvo sendo puxando pela gola da camisa. O garoto assoava bastante água e tentava reaver o fôlego. Adrien pareceu não reagir nada ao estado dele. 

- Seu maluco, tava querendo me matar?! Esquece o jogo, eu arranjo o meu! - disse Clive, zangado, secando com uma toalha dada por Sarah e jogando-a no chão. O garoto deu as costas para Adrien indo embora. Sarah encarou o filho com um misto de reprovação e pasmo. Adrien a fitou de volta, mas com a mesma expressão fria e calma. 

A mãe rapidamente ao telefone fixo, discando o número de uma psicóloga solicitada para ajudar Adrien com seu transtorno de personalidade. Sarah mal conseguia segurar tamanha impaciência para relatar mais um episódio de desvio de conduta. 

- Dra. Brionne, é a Sarah, mãe do Adrien. - disse ela olhando em volta para ver se o filho não estaria por perto - Não quero que você sinta que está desperdiçando seu tempo, mas... Ele está piorando. - procurou falar num tom mais baixo por precaução - Agora há pouco quase chegou a matar um amigo afogado incentivando ele a prender a respiração na água. As brincadeiras de mau gosto só vem ficando cada vez mais perigosas, eu... não consigo mais olhar nos olhos dele com a segurança e autoridade de antes. Meu filho se tornou algum tipo de sociopata da noite pro dia? 

- Sarah, preciso informa-la de que a sociopatia é uma patologia mental que na grande maioria dos casos se manifesta primeiramente na adolescência. - disse a psicóloga Chantal Brionne, uma mulher jovem de cabelos pretos e lisos, em seu consultório - Adrien ainda tem 10 anos, sua condição precisa ser avaliada com mais profundidade. Se após as próximas duas sessões ele não melhorar, vou aconselhar um tratamento psiquiátrico. 

- Está bem, doutora. Nos vemos na semana que vem. - disse Sarah, logo desligando. Ela tomara um susto ao ver Adrien parado bem próximo à ela - Adrien... Não ia jogar vídeo-game? 

- Eu queria dizer à senhora que... cavei um buraco ontem à noite. 

- Então foi você quem fez aquela bagunça... O que estava querendo? Desenterrar um tesouro? 

- Não, enterrando o Fidalgo, aquele gato irritante me arranhou e já tava de saco cheio dele. 

- Você o quê? - indagou Sarah, perplexa. A mãe tivera uma crise de choro copioso. 

- O que foi, mãe? - perguntou Adrien. 

- Nada, eu... preciso descansar. - disse Sarah saindo de perto do filho em direção ao seu quarto. 

No consultório de Chantal, em sua própria casa, a psicóloga tirou os óculos de lentes pequenas, pondo-os na sua mesa, e abriu uma porta que dava acesso a uma escada descendo a um porão. Acendeu o interruptor na metade do caminho para ligar a luz branca meio fraca do lugare desceu os últimos degraus olhando para um grupo de três crianças, uma delas amarrada e amordaçada fitando-a com um medo estampado. As outras estavam dormindo enroladas com cobertores. Chantal aproximou-se da menina negra de cabelos crespos e agachou-se. 

- Muito bem, querida, tá na sua horinha de dormir. - disse Chantal com um tom maternal, em seguida erguendo sua mão direito e passando-a suavemente no rosto da menina que adormecera em ritmo instantâneo. Chantal ficara de pé observando suas crianças com seus olhos azuis tingindo-se de marrom e as escleras pareciam estar manchadas de sangue. Ela sorriu orgulhosa do sucesso que seu plano alcançava sem obstáculos. 

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CAPÍTULO 76: LADO A, LADO B

Frank saía de uma cafeteria trazendo um copo de café expresso para manter-se altamente concentrado energizado naquele dia de trabalho que se iniciava. Tivera a sorte de encontrar Lucy vindo a pé. 

- Olha só quem eu vejo passar. - disse o detetive - Esse destino não para de brincar com nossas vidas. 

- Frank, bom te encontrar. É, sempre ele dando um jeito de nos aproximar, muito embora já faça alguns meses que eu não te via a não ser de longe. - disse Lucy caminhando com ele pela calçada - Tenho uma boa notícia pra gente. 

- Ah, é? Pois fala logo porque não é coisa que se ouve todo dia. 

- O diretor liberou você, eu e mais três agentes a encerrarem o expediente mais cedo. Sabe o que isso dizer? 

- A conversa em particular que tanto queríamos ter num dia de folga. 

- Ou pode ser algo a mais. - disse Lucy virando o rosto para ele - Não me entenda mal, eu sei que eu despertei um sentimento de nostalgia em você, nós éramos muito próximos dentro e fora do colégio. Você ia pra minha casa jogar Verdade ou Consequência com a nossa galera. Lembra do dia em que brincamos disso entupidos de vodca? 

- Ah não, essa tirou do fundão do baú. - disse Frank meio envergonhado mas sorrindo - Foi a noite mais constrangedora que já tive, mas a gente se divertiu à beça. Apesar das pagações de mico, dá uma baita saudade. É isso que você quer? Reviver nossos bons tempos, mas só entre nós? Que tal um filminho na TV? 

- Na minha casa, na sua ou num cinema? - perguntou Lucy. 

Frank emudeceu diante da questão. Pigarreou meio forte, um tanto nervoso sobre a resposta. 

- Não gosto muito de pegar filas enormes pra cinema, além de que eu tô meio quebrado. 

- E eu moro na zona norte, fica muito longe pra você?

- Eita, zona norte?! Não dá pra mim, o tanque ia esgotar no meio do caminho. 

- Então só resta... nos encontrarmos na sua casa. Por sorte, fica mais próximo pra mim ir do DPDC até lá. É pertinho do subúrbio da zona sul, né? 

- Sim, bem nas fronteiras suburbanas. E aí, que tipo de filme você mais curte? 

- O filme tanto faz, fica a seu critério. - disse ela parando de andar para atravessar a rua - Importante mesmo é conversarmos sobre nossos passados. Vamos indo?

- Opa, até esqueci que a gente tava de frente pro DPDC esse tempo todo. - disse Frank - Vamos lá. 

Ambos se despediram após entrarem no prédio, enfatizando que um deve ligar avisando pro outro que vai chegar na casa. Frank jogou o copo de café já bebido numa lixeira e se direcionou à sua sala. Logo que entrou e foi abrir as persianas da janela, Carrie vinha e bateu na porta mesmo ela estando entreaberta.

- Pra quê bater? Já tá aberta. - disse Frank. 

- Só tô cumprindo o protocolo de bater na sua porta. Isso fica exceto quando está escancarada? 

- Deixa de ironizar, me dá logo o caso. - disse o detetive estendendo sua mão direita. A assistente até fez menção de entregar a pasta, mas estreitou os olhos e recusou-se - Carrie, dá aqui a pasta. Qual foi?

- Que cara é essa, afinal? - perguntou Carrie estranhando - Não sou perita de análise facial de expressão, mas... Você tá explodindo de felicidade por dentro. Não que você tenha que estar meio carrancudo como sempre... 

- Tá tão evidente assim? Pois é, aconteceu algo bom, de fato. Tam-tam-tam-tam-tam... O que será?

- Frank Montgrow, você tá brincando com fogo. - disse Carrie tendo tiques nervosos no olho esquerdo - Diz... logo... do que se trata... ou vou te fazer falar se me sacanear e aposto que você não vai gostar. Olha aí, até rimou. 

- Tá bom, respira fundo, não se zanga. - disse Frank tentando acalma-la - A Lucy e eu fomos agraciados com um fim de expediente duas horas mais cedo junto com mais três agentes. 

- Era só isso? Ah... legal. - disse Carrie mostrando que sua expectativa não foi correspondida. 

- Não é só isso, a parte melhor vem agora: Eu convidei ela pra passar um tempinho na minha casa, combinamos de assistir um filme. Digo, na verdade, foi por eliminação. Primeiramente íamos ao cinema, mas a grana tá pouca, depois tinha a opção de eu ir pra casa dela, mas também descartei porque ela mora na zona norte, sobrando... Bem, já disse tudo. 

- Esse seu entusiasmo todo é pela visita dela ou... 

- Carrie, nada de insinuações precipitadas. Agora me dá a pasta. 

Com uma expressão de suspeita com um sorrisinho cínico, Carrie deu a pasta ao detetive. 

- Isso aqui é caso de polícia ou você reuniu todos esses fatos pela estranheza do caso? Com o aval de quem?

- O Hoeckler quem pegou as ocorrências a partir de notícias que pipocaram na internet esses dias. Nem o Giuseppe com todo o seu autoritarismo pode passar por cima do que o Hoeckler manda você fazer sabendo da sua competência com casos dessa natureza. Ele não ia concordar com a patifaria do Giuseppe nem por um decreto. 

- Se bem que não tenho visto mais ele ultimamente. Enfim, sobre o caso: umas crianças apresentando comportamentos inadequados em casa e na escola. Um garoto chamou seu amigo pra aprontar na cozinha, mas esse pirralho acabou ligando o liquidificador enquanto o outro mexia nos ingredientes de uma vitamina com a mão enfiada no copo. A vitamina de banana se tornou vitamina de sangue e dedos.

- Argh... coitado. - disse Carrie, imaginando o estrago. 

- E tem esse aqui: Uma menina esfaqueou uma colega de classe durante uma briga. Ela roubou o canivete do pai pra trazer à escola. A menina perfurada tá se recuperando no hospital e a agressora... expulsa. São umas quatro crianças e... - viu a foto de um garoto familiar - Essa não... Zack?!

- Quem é Zack? - indagou Carrie pondo-se ao lado dele para ver. 

- Esse menino aqui, ele é do meu bairro, tenho amizade com ele. Ele veio me pedir doces pro Halloween no Dia de Todos os Santos, exatamente aquele Halloween em que encarei o Devorador de Almas. Mas como isso foi acontecer? 

- Pra reforçar, as crianças são do mesmo bairro, da mesma escola e... frequentam o mesmo consultório de psicologia. - disse Carrie virando a página que tinha colado um panfleto - Dra. Chantal Brionne. Não por acaso, creio eu, essa psicóloga tá sendo alvo de uma campanha de boicote no ReBird alertando pais sobre não pagarem os serviços da Chantal. Ela parece ter forjado denúncias e relatos falsos, não que eu não suspeite dessa auto-proclamada psicóloga. 

- ReBird? Aquele manicômio virtual? Quem é que ainda usa essa merda? 

- A garota chamada Ginger cuja foto de perfil é... a fada Sininho do desenho do Peter Pan. 

- OK, vamos dar uma olhadinha. - disse Frank ligando seu computador. Esperou alguns segundos para poder acessar a internet - Indo pro ReBird... Ótimo, pesquisando o nome da Ginger. 

- Ginger_Tale, se quiser ser mais preciso. - disse Carrie, paciente. 

- Tá aqui. Ela tem mesmo umas mensagens de alerta dizendo que seu filho teve uma péssima experiência com a Dra. Brionne e exigiu reembolso das consultas, mas até hoje não recebeu um centavo de volta. 

- Manda uma mensagem direta pra ela. - sugeriu Carrie - Combina um encontro com ela pra confirmar se ela tem provas ou não de que a Chantal é uma farsa. 

Frank digitou a mensagem rapidamente a qual Ginger respondeu de imediato. 

- Prontinho, ela até respondeu logo. Nossa, ela deve ficar o dia inteiro vidrada nisso aqui. Disse que aceita o encontro, deixando que eu marque a hora e decida o lugar. Bom, vamos ver com o quanto ela pode colaborar. 

                                                                            ***

No início da tarde daquele dia, Chantal terminava mais uma sessão com uma garotinha chamada Nivea, de 7 anos. 

- Muito bem, encerramos por aqui. Promete seguir todas as dicas fundamentais que te passei?

- Prometo. - disse Nivea que possuía cabelos loiros presos do tipo maria-chiquinha e usava um vestido rosa. 

- Ahn... Ainda falta mais uma coisinha pra finalizarmos. - disse Chantal levantando-se - Tem alguém muito especial que quero te apresentar. Está logo atrás daquela porta, é o meu assistente, você vai adorar conhece-lo.  

- Mas minha mãe tá esperando... - disse Nivea contrariada pois aquela já era a sexta sessão e sempre que uma acabava, Chantal a levava direto para sua mãe que aguardava sentada no sofá mexendo no celular. 

- Tudo bem, querida, eu explico pra ela. - disse Chantal, logo estendendo sua mão direita para a menina - Vem, não precisa temer nada. 

Nivea a seguiu até o porão, descendo a escada de madeira gasta e sentindo o ar empoeirado do ambiente. Após descerem, Chantal colocou suas mãos sobre os ombros dela. Nivea logo viu as crianças dopadas. 

- Quem são eles? - perguntou ela, temerosa - Por que estão aqui? 

- São seus novos amigos. - disse Chantal - E aquele ali... é o meu assistente. Diga olá para ele. 

Um ser do tamanho de uma criança da idade de Nivea aproximava-se, mas em vez de um humano em aparência, exibia-se como uma criatura de pele cinzenta escura, com unhas crescidas e pontudas, boca vertical com presas e olhos totalmente brancos. O grito de Nivea foi abafado pela mordaça que Chantal pusera com toda força.

- Quieta. - disse ela sussurrando para a menina. A criatura anã levou suas mãos pouco convidativas para se tocar direto ao rosto de Nivea que derramava lágrimas do seu olhar de puro terror. As palmas das mãos do ser apertaram-se sobre as bochechas dela. Chantal sorria maldosamente vendo-o sofrer uma metamorfose. 

Nivea se desesperava internamente ao ver que o ser assumira uma forma idêntica à sua com uma expressão de cinismo aliado a uma frieza. Chantal passara seus dedos no rosto de Nivea com seu toque suave para faze-la desmaiar. 

- Pode subir, me espere para sairmos juntos. - disse Chantal para a falsa Nivea que acatou a ordem. 

Chantal a colocou junto às demais crianças, enrolando-a com o coberto branco. 

A mãe de Nivea virou o rosto para a direção onde ficava o consultório e sorriu ao ver sua filha retornando ao lado de Chantal. 

- Sua princesinha está progredindo na interação. - disse Chantal, dissimulada. 

- Ah, que bom, acho que isso significa não ter necessidade de sessões extras. - disse a mãe levantando-se. 

- Mas nunca se sabe. Podem haver recaídas no meio do caminho, afinal as crianças são sempre um pouco volúveis. - disse Chantal - Tchauzinho, Nivea. A gente se vê semana que vem. 

- Mal posso esperar. - disse a falsa Nivea olhando para a falsa psicóloga - Vamos indo, mamãe?

- É claro. Até mais, doutora. - disse a mãe da garota pegando na mão dela - Sua mão está gelada...

- É que a doutora me deu água bem gelada. - disse a coisa que se disfarçava de Nivea - Não foi, doutora? 

- Sim, ela pediu água geladinha pouco depois de terminarmos a conversa. 

A mãe deu de ombros, tranquila. 

- Tudo bem então, vamos. - disse ela indo até a porta. 

- Não esqueça de ligar em caso de dúvidas. - disse Chantal - Tchau, até breve. 

Chantal observou-as pela janela caminhando até o carro estacionado do outro lado da rua. A falsa Nivea virara o rosto olhando para trás, seus olhos embranquecendo completamente com um sorriso sacana para Chantal.

                                                                               ***

No fim da tarde, Frank parou seu sedã prata próximo a uma lanchonete em seu bairro, lugar que marcara como ponto de encontro para conhecer o rosto por trás do perfil da rede social que promovia boicote ferrenho ao trabalho de Chantal Brionne e expunha denúncias que minavam o interesse de possíveis clientes. Frank viu uma jovem de cabelos loiros sozinha. 

- Tem que ser ela. - disse Frank notando que ela estava olhando pela janela de forma que estivesse aguardando a chegada de alguém. O detetive entrou, logo fixando sua visão diretamente nela. Caminhou até a mesa em que estava sentada - Oi, você é a Ginger? - perguntou ele não sabendo muito bem como abordar alguém que conheceu pela internet. 

- Você é o Frank Montgrow? - indagou ela - Ah, desculpa, não comecei bem: Sim, sou a Ginger. 

- E eu sou o Frank. - disse o detetive sentando-se diante dela - O investigador que te mandou a mensagem privada. Essa foi a mesa mais reservada que escolheu? Tem outras bem discretas vazias...

- Aqui está melhor, nada que dissermos vai escapar aos ouvidos de quem estiver passando. O movimento fraco vai nos favorecer. - disse Ginger que tinha olhos azuis admiráveis. 

- Você vem denunciando essa psicóloga duvidosa desde que o negócio dela começou a ser divulgado. Como descobriu que ela vinha tendo condutas abusivas com seu filho durante as sessões? 

- Na verdade, não tenho filho. - disparou Ginger - Ah não, eu cometi um pecado... Eu menti descaradamente, me perdoa.

- Não precisa de drama, calma. Mas por que inventou histórias? 

- Pra impedir que ela continue angariando pacientes. Eu não sei se vai acreditar em mim... 

- Olha, as crianças que foram pacientes dela tem agido de modo estranho e violento, mudaram da água pro vinho da noite pro dia sem explicação, eu tenho uma forte suspeita com relação à isso, mas soaria fantasioso demais pra qualquer um que não leva a sério certas lendas populares. Eu sou diferente, garanto à você, o que normalmente ninguém acredita, eu dou um voto de confiança. Em outras palavras, não importa o quão absurdo seja o que tem a dizer sobre esse problema. 

Ginger ficara mais confortável em sua postura para as revelações que faria. Ela pôs seus antebraços sobre a mesa. 

- Veja bem. - disse ela baixando os olhos para os antebraços. Frank enxergou um brilho multicolorido levemente cintilante passando pela pele da jovem. 

- Pra olhos destreinados, você passou muito glitter nos braços. - disse Frank, surpreendido com a constatação - Então você é mesmo uma... 

- Sim, uma fada. - confirmou Ginger. 

- Ah, eu devia ter sacado pela foto de Sininho. Caramba, nunca imaginei que em toda minha carreira de investigador paranormal fosse dar de cara com uma fada. Sério, achava que não fossem reais. 

- As pessoas tendem a acreditar mais em monstros horríveis do que em seres pacíficos. - disse Ginger - Pra ser mais exata, sou uma Irshi, uma fada guiadora. Sinto a força da natureza fluindo em cada átomo do meu corpo. 

- Mas e aí, essa tal de Chantal, o que ela vem fazendo com as crianças? Que tipo de influência tem?

- Ela as trocou por changelings, seres de puro mal invocados do submundo. - respondeu Ginger, preocupada. 

- Eu sabia que tinha conexão com a lenda, mas em vez de bebês, são crianças entre sete e dez anos. 

- Desde muito nova fui despachada do meu mundo por ser escolhida para um experimento que tinha o objetivo de avaliar como uma fada se adaptaria a uma sociedade humana. Cresci num orfanato até ser adotada. Mas já adulta e independente, não escapei do pior destino que uma Irshi pode sofrer. - ela baixou a cabeça, entristecida - Uma bruxa me capturou. 

- E o que houve a seguir? - perguntou Frank, atento. 

- Ela tentou me dissecar pra extrair a minha essência. Fadas são presas fáceis pra elas que estão sempre obcecadas em manter uma aparência jovem e um vigor duradouro. Eu não devia ter falado que sou uma Irshi. 

- Por que não? O que ela fez? 

- Conjurou um feitiço que me dividiu em duas metades opostas. Nenhuma fada é totalmente boa, também são sujeitas à maldade, com minha classe não é diferente, aliás, somos mais vulneráveis a esse tipo de mágica do que qualquer outra espécie. Antes disso, eu estava numa floresta tentando detectar algum sinal de alguém do meu povo com minha varinha quando fui pega numa armadilha. Após a separação, minha contraparte má roubou a varinha, matou a bruxa com seus poderes e fugiu levando o único objeto capaz de nos fazer voltar a sermos uma. 

- Se ela é tão poderosa ao ponto de matar uma bruxa com facilidade, é natural pensar que a varinha já era.

- Não, ainda posso recupera-la já que apenas a metade boa, no caso eu, pode tanto destruí-la quanto executar a união. 

- O que acha de invadirmos o covil da sua gêmea do mal essa noite? 

- Eu topo, mas... os changelings precisam ser mortos antes que ela devore as crianças sequestradas. 

- Então vem comigo. - disse Frank confiando abertamente em Ginger- De hoje à noite, a tramoia da Chantal não passa. 

                                                                            ***

Em seu consultório, Chantal tragava um cigarro assistindo o boletim noticiário da noite na sua TV acoplada em um painel. A falsa psicóloga que libertava falsas crianças estava com as pernas cruzadas sobre a sua mesa usando uma meia-calça preta com sapatos de salto alto e uma roupa púrpura decotada. Sua atenção foi fisgada com mais força com a notícia que era transmitida. Deu uma baforada densa, retirou as pernas da mesa e assistiu atentamente. 

O repórter anunciava que a garota esfaqueada na escola estava com um quadro clínico estável e em progressiva recuperação. Chantal tomou o gole do que restava do seu uísque e quebrara o copo de vidro externando sua raiva. 

- Talvez eu devesse colocar aqueles anões desprezíveis pra fazerem uma prova de aptidão. - disse ela, controlando sua fúria. Pegara o controle remoto e desligou - Tomara que essa pirralha morra. Reviravoltas acontecem, nunca se sabe. Agora já chega de esperar, acho que tenho o suficiente - ouviu a voz de Adrien gritar do porão - Ah não... Eu vou mata-los. 

Chantal descera ao porão, porém não encontrou Adrien junto das outras crianças ainda adormecidas.

- Adrien, você finalmente despertou. Acho que vou acordar seus colegas de quarto pra nos reunirmos pro jantar. Onde você está, vermezinho? Saiba que eu sou muito boa no pique-esconde... 

Algo surgiu de um canto escuro onde a luz fraca da lâmpada do porão não alcançava. Chantal levara uma pancada forte atrás da cabeça.

- Primeiro tem que contar antes de procurar. Tenta de novo. - disse Adrien com um pedaço de pau. O garoto logo correu subindo os degraus da escada do porão. Chantal olhou enfurecida para cima, chegando a ver a sombra de Adrien saindo para fora. A contraparte maligna de Ginger rosnou como um cão bravo subindo as escadas a passos firmes e rápidos. 

Adrien chegara à sala de estar de luzes apagadas esquadrinhando o ambiente para achar um local para se esconder temporariamente. Tentou sair da casa, mas a porta estava trancada. 

- Adrien, querido... - disse Chantal com uma voz falsamente meiga. O menino se jogou para o chão ficando de joelhos atrás de um sofá. Chantal vinha do corredor devagar - Você pensou que podia sair pela porta da frente? Tadinho, tão ingênuo... 

Adrien fechou os olhos e juntou as mãos começando uma reza por sua vida. 

O corpo de Chantal sofria mudanças dramáticas. A pele se tingia de um tom vermelho amarronzado com uma textura descamada e áspera. Suas unhas tornaram-se garras compridas e afiadas que ela passou na parede produzindo faíscas. Seus olhos ficaram como se a esclera estivesse manchada de sangue. Asas negras parecidas com as de uma mariposa brotaram de suas costas. Estava próxima de chegar à sala e caçar Adrien para se alimentar.

- Se esconda em qualquer lugar... - disse ela assumindo um tom de voz gutural e monstruoso - ... só está atrasando seu destino. 

Enquanto isso, Frank estava com o carro parado à frente da casa de Ginger esperando ela voltar. 

- Alô, Lucy? O que foi? - perguntou ele atendendo a ligação da amiga.

- Frank, já tô a caminho da sua casa. Terminei uma investigação há pouco e fui liberada. 

- Ahn... Olha, você vai acabar chegando primeiro, pois eu peguei um caso dos grandes. 

- Então é arriscado não dar tempo de você chegar antes das onze? 

- Depende muito do andamento da coisa, eu não sei precisar bem o horário de encerramento. 

- Tudo bem, vou confiar que virá dentro de uma hora e meia. O que acha?

Frank via Ginger sair da casa e retornar ao carro. 

- É mais provável que seja aproximadamente por aí. Eu tenho que desligar, até mais. 

Finalizou a chamada após Ginger abrir a porta do carro para entrar. 

- O que você tem aí na mão? - perguntou Frank. 

- Cloreto de amônio dissolvido em água. - disse Ginger mostrando um frasco rotulado - Somos bem intolerantes a compostos químicos. Uma vez eu pensei em chama-la para me visitar, prepararia uma mesa farta de comida e conversaríamos sobre a varinha. Mas eu acabaria passando a perna nela colocando uma dose do cloreto na bebida e exigiria a varinha pra podermos ser uma só novamente. 

- Ninguém seria tão inocente de convidar alguém extremamente mal-intencionado pra um jantarzinho com um golpe tão batido quanto esse. Se bobear, ela seria inteligente de sacar que você ia pôr o veneno na bebida e talvez ela trouxesse o próprio vidrinho e ela mesma se ofereceria a servir vocês duas. O lado mau é o lado da esperteza e da astúcia, vai por mim. 

- Pior que eu nem desconfiaria. - disse Ginger o olhar tristonho - E muito menos teria coragem de convida-la pra isso, foi só uma ideia que passa pela cabeça e imediatamente é descartada. 

- Por que não comprou um vidro desses de ácido sulfúrico pra detonar com ela de vez? 

- Frank, estamos querendo deixa-la fraca pra que possamos nos unir ou mata-la? Sem minha contraparte de volta à minha essência, não posso voltar pro meu mundo e dizer que fui bem-sucedida no teste. 

- Ah sim, as regras do seu mundo cheio de purpurina e contato com a natureza. Como eles vão acreditar que você se saiu bem? Você teria que provar sua adaptação ao nosso mundo. 

- Há vigias espalhados por toda parte. Sabe aquelas luzes estranhas no céu que as pessoas costumam filmar e dizer que são seres de outro planeta tentando contato? 

-- Os OVNIs? Quer dizer que... 

- A maioria dos que são observáveis acabam sendo confundidos. Geralmente são os vigias avaliando o desempenho de Irshis e outras espécies enviadas pra cá. Não precisa disfarçar, sei que ficou bem surpreso. 

Frank tentava digerir a informação que soava um tanto absurda e até cômica. 

- Melhor irmos logo pro bairro onde eu moro perguntar aos pais onde estão as crianças endiabradas. 

Ao chegarem no bairro, o detetive fora de porta em porta perguntar aos pais de cada uma das crianças alvejadas por Chantal sobre o paradeiro atual delas, se estavam em casa ou me ouros lugares. Ginger ficara esperando-o no carro.

- Sorte grande, fadinha. - disse Frank retornando - Nesse exato momento, os pais e mães dos pivetes disseram que eles estão reunidos num clube liderado pelo Adrien. Todos num único lugar pra gente transformar em queijo suíço.

- Eu não, você. Eu não vou machucar ninguém. - disse Ginger com o cenho franzido. 

- Tá bom então. Mas seus poderes de fada seriam bem úteis. 

- Quero usa-los no momento propício, ou seja, quando a varinha estiver prestes a voltar pra minha mão.

Frank dera partida no carro se direcionando à área em que se localizava o clubinho das crianças. Levaram cerca de dez minutos para chegarem. Avistaram uma casa com tábuas de madeira feita sob medida para comportar os membros do clube. 

- Vou nessa, você fica... - disse Frank saindo do carro, mas se interrompeu ao ver Ginger também saindo - Ué, você quer ver sangue e tripas voando?

- Posso usar minha luz pra distraí-los, mas não garanto que... eu me encoraje pra fazê-lo. 

- Sem problema, então vem. - disse Frank, sacando sua arma de fogo. O detetive se aproximou da casa às escuras. Pegou uma lanterna e passou o facho por todo o interior - Ninguém em casa. 

- Frank... Pode ser uma emboscada. - disse Ginger olhando ao redor onde haviam muitas árvores e arbustos. 

O detetive se distanciou da casa indo para a parte mais arborizada com a arma numa mão e a lanterna na outra. A visão periférica de Frank detectou uma movimentação suspeita num arbusto. Ele virou-se apontando a arma e alguém enfim resolveu aparecer. 

- Adrien. - disse Frank - Digo, a coisa que se disfarça como ele. 

O falso Adrien mostrou os dentes pontudos e os olhos totalmente brancos. O changeling pulara cima de Frank como um animal, mas o detetive fora rápido ao disparar contra a cabeça dele. O falso Adrien foi abatido. Os outros três, incluindo o falso Zack, vieram para o ataque, todos apresentando as características assombrosas. As duas meninas, uma delas Nivea, partiram contra Ginger que recuava amedrontada, mas Frank tratou de atirar nos dois changelings rapidamente. No entanto, o falso Zack havia subido numa árvore e firmou os pés num galho para pular sobre Frank e Ginger. 

- Essa não... - disse Frank vendo-o pular. Atirou, mas o tiro errara. Zack caiu sobre Ginger a mordendo ferozmente no braço. 

- Frank, socorro! - gritava ela sentindo a dor. O changeling persistentemente mantinha cravados os dentes. Frank sentiu certo dó em puxar o gatilho ao pensar no verdadeiro Zack.

- Essa é por você, Zack. - disse ele, logo atirando. A bala atravessou a cabeça do changeling pelas laterais e o mesmo caiu morto com os olhos brancos abertos. Frank fora ajudar Ginger a levantar-se - Nossa, ele queria mesmo arrancar seu couro. 

- Frank, temos que nos apressar. - disse Ginger se queixando da dor da mordida que deixou uma marca profunda dos dentes do changeling no seu antebraço esquerdo - Meu tempo de vida encurtou. 

- O quê? Essa mordida vem com um veneno? 

- Uma Irshi mordida por um changeling tem sua expectativa de vida reduzida em poucas horas, não sei quanto exatamente me resta. Apenas absorver minha contraparte ruim é o que vai me salvar. 

- Por isso eu disse pra ficar no carro, já sentia que você ia se colocar em perigo. 

- O que estamos esperando? Vamos logo, tá doendo... 

- Calma, resiste. - disse Frank amparando-a - Mas e esses corpos? 

- Os changelings se desintegram após morrerem, amanhã já terão desaparecido. 

- Pois vamos acelerar direto pra casa da Tinker Bell do mal. - disse Frank andando bem junto dela apoiando-a. 

                                                                               ***

Na casa de Chantal, Adrien andava de quatro passando para um outro sofá a fim de se esconder da contraparte maligna de Ginger que estava na sala o procurando pacientemente. 

- Apareça, Adrien. - disse ela, sua voz grave soando demoníaca. Derrubou o sofá no qual ele se escondia anteriormente. O móvel caiu se chocou contra a parede tamanha a força que ela aplicou. Adrien se escondeu na lateral enquanto ela andava para verificar o outro sofá - Eu juro que se você aparecer, irei poupar as outras crianças, inclusive você. Nem estou com tanta fome, pra ser franca... 

- É mentira. - disse Adrien que logo tapou a boca se arrependendo de ter feito tamanha burrice. Chantal sorriu com sua boca dentuça e logo derrubou o sofá jogando-o para o lado, descobrindo Adrien. 

- Achei! - disse ela vangloriando-se. Pegou a varinha que tinha cor branca e cuja ponta possuía o formato de uma estrela dourada de oito pontas semelhante as que são postas acima das árvores de Natal - Espere, ah não... Mataram eles! - falou Chantal, desesperada - Meus servos foram eliminados! - ergueu a varinha para invocar mais changelings - Venham! 

Frank arrombou a porta da casa e já chegara atirando. O disparo acertou na varinha que saiu das mãos de Chantal praticamente rolando no chão até cair ao chão. A fada maligna virou-se encarando o detetive com cólera no rosto. Ginger veio logo atrás, fixando os olhos na gêmea maléfica. 

- Pega o garoto, eu cuido dela! - disse Frank para Ginger mirando sua arma em Chantal. 

- Um detetive se juntou à minha metade fraca pra acabar com minha diversão! Você pensa que nada pode dar errado quando as coisas estão tranquilas demais. Será um imenso prazer fechar essa noite com muito sangue nas mãos! 

Frank disparou três vezes as balas molhadas com o cloreto de amônio. Chantal gritara de dor. 

- Sente o ácido penetrando bem fundo, baranga. - disse Frank aproximando-se dela um tanto confiante. 

Chantal até pareceu fragilizada com os tiros, mas logo revidou com uma bofetada forte com o dorso da mão esquerda no rosto de Frank que saiu voando até cair sobre uma mesinha com objetos de vidro.

- Cacete... - disse ele passando o dedo na boca e vendo que ela tirou umas gotinhas de sangue - Pra uma fada... até que ela bate bem pesado. - Chantal viera até ele, mas Frank reergueu-se para novamente atirar. A fada maligna agarrara o braço direito dele fazendo-o errar o tiro que despedaçou um vaso de cerâmica perto de onde Adrien estava. Ginger procurava pela varinha aflitivamente. Chantal desferia socos em Frank que se fazia de distração para favorecer Ginger. O detetive conseguiu atirar mais vezes e mais rápido no peito dela, deixando mais buracos que soltavam fumaça indicando o efeito de acidez extrema no organismo singular de uma fada. Chantal se debatia com os tiros à queima-roupa. 

No entanto, Chantal avançou com supervelocidade pegando-o pelo pescoço e colocando contra a parede. Ginger desistira de procurar a varinha ao ver que Frank estava sob séria ameaça. 

- Pare! - disse ela em alto tom para sua gêmea oposta - Naquela noite, quando fomos separadas, eu fraquejei diante de você, conseguiu me intimidar. - mostrara a marca da mordida do changeling - Eu preciso que sejamos reconectadas.... Mas não espero que você ceda ao meu pedido. Frank, Adrien, fechem os olhos! 

O garoto e o detetive o fizeram, mas Chantal ao olhar para sua irmã boa não esperava o que pudesse ser feito para frear seus movimentos. Uma luz branca e refulgente explodiu na mão direita de Ginger preenchendo o ambiente inteiro. Chantal gritou com a luz ofuscante que acabou por deixa-la cega. 

- Não! - disse a fada maligna, largando Frank e tateando o ar em busca de pegar Ginger e massacra-la - Onde está você, sua desgraçada? Não pode ser, eu não enxergo! - derrubara uma mesa de centro, arremessando-a contra a parede - Diga que isso é temporário e talvez eu considere me fundir com você!

- Eu posso ser a metade bondosa e gentil, mas... não sou mais tão inocente!

Adrien avistou a ponta da varinha embaixo de uma estante e fora de joelhos pega-la. Frank atirou mais três contra Chantal, esgotando a munição. A contraparte maligna se enfraqueceu encostando-se na parede aparentemente sem mais forças para agir com violência devido ao níveis de ácido elevados corroendo sua carne. 

- Ei, pega! - disse Adrien para Ginger. Jogara a varinha que foi pega pela fada. Ginger recitou um encantamento numa linguagem incompreensível apontando a varinha para Chantal. A ponta em forma de estrela emitiu um brilho branco e intenso. Chantal se reduzira à uma fumaça negra em espiral sendo absorvida para dentro de Ginger que a recebia com os olhos fechados. Por fim, o brilho incandescente desapareceu. Ginger reabriu os olhos sorrindo com serenidade e calma estampadas na face. 

- Acho que preto cai bem no meu cabelo. - disse Ginger olhando uns fios. Influindo seu poder, os cabelos da fada tornaram-se negros das pontas à raiz. 

- Então ela era fisicamente igual à você, só pintou o cabelo de preto? - perguntou Frank. 

- Ela precisava de um disfarce, por mais fajuto que fosse, não que isso pudesse enganar os vigias. - disse Ginger que expressou um contentamento genuíno - Obrigada, Adrien. Obrigada, Frank. Chegou minha hora de voltar pra casa. Quero dizer... minha casa de origem. Adeus, Frank. Sou eternamente grata. - o corpo da fada se desfazia em luz branca e cintilante. Ginger tornara-se um globo de luz que flutuava no ar deixando um rastro de pontinhos brilhante e multicoloridos até sair pela janela. Frank e Adrien se entreolharam, cada um impressionado ao seu modo com o que tinham acabado de testemunhar.

O detetive junto ao garoto foram ao porão resgatar as crianças. Zack acordava junto as demais. 

- É isso aí, garotada, acabou a soneca. - disse Frank - Zack. - agachou-se para falar com o garoto. 

- Sr. Montgrow... Veio nos salvar? 

- Já salvei. Contando com a ajuda do meu amigo aqui, o Adrien. 

Zack olhou para Adrien e ficou mais desperto. 

- Cadê a megera que nos trancou aqui? 

- Ela se foi. - disse Adrien - Pra sempre. 

Frank ganhara um abraço apertado de Zack que o agradeceu imensamente pelo salvamento.

                                                                         ***

Ao chegar em casa para recarregar as baterias, Frank viu a TV ligada e logo em seguida Lucy surgia vinda da cozinha trazendo duas tigelas de pipoca. O sobretudo da detetive estava largado no sofá, o qual ela afastou para deixar que Frank sentasse-se. 

- Calma que não vi o filme inteiro sem você hein. - disse ela arrancando uma risadinha de Frank. 

- O meu hóspede não acordou com você aqui dentro? 

- Espera aí, tem mais alguém aqui? 

Frank assustou-se ao lembrar que não havia contado uma vez sequer sobre a estadia de Axel. 

- Ahn... Sim, é um amigo, ele foi despejado recentemente e estendi minha mão. 

- Podia ter me avisado, se eu tivesse o descoberto como se fosse uma assombração zanzando pela casa, eu teria ficado bem apreensiva, sei lá, talvez pensando ser um ladrão. 

- Enfim, vamos curtir o cineminha em casa? 

- Frank, antes disso, eu... gostaria de te agradecer. Ter reencontrado você me trouxe de volta a um passado glorioso. Nós não o vivemos da maneira mais plena possível. Havia uma pendência, nós estávamos indo tão bem... mas não deu. 

- Você lembra da última conversa que tivemos na formatura do ensino médio? 

- Se eu lembro? Frank, nada do que a gente viveu um com o outro foi esquecido. Guardo tudo aqui. - disse Lucy, tocando a têmpora direita - Eu fiz uma proposta à você. 

- Mas eu recusei. Eu fui um babaca, pode dizer. Me acovardei. Senti medo de não ser bom o bastante.

- E hoje? Aonde está esse medo? - perguntou Lucy pondo sua mão sobre a de Frank que logo colocou a sua sobre a dela. Os dois olharam-se profundamente. 

- Não sinto mais ele. - disse Frank. 

- Tem certeza? - indagou Lucy aproximando-se seu rosto ao dele - Então me deixa tirar a prova. 

O detetive não resistira ao também aproximar seu rosto. Os lábios colidiriam-se em um beijo longo.

Mas o que nenhum deles sabia era que estavam sendo muito bem contemplados. Escondido na escada, Axel os assistia durante o demorado beijo que deram. Porém, focou sua visão diretamente em Lucy após o fim do beijo. 

- Essa mulher... - disse Axel olhando-a e notando algo que lhe soava estranhamente familiar. 

                                                                             -x-

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.

*Imagem retirada de: https://misteriosfantasticos.blogspot.com/2018/10/leanan-sidhe-fada-do-mal.html

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