Frank - O Caçador #77: "O Futuro Parece Sombrio"

Passando por uma estrada molhada de chuva, Frank dirigia seu sedã prata por aquela noite fria de final de estação em busca de destrinchar um mistério que envolvia vampiros e lobisomens mortos em diversos locais que serviam como esconderijos de facções de ambas as espécies, mas nesses lugares tanto corpos de uma ou de outra foram achados misturados como se neles tivessem dado início a uma guerra auto-destrutiva. O caso era completamente sem precedentes já que os dois tipos de monstros não se cruzavam desta forma, nunca haviam entrado em conflito. Seria uma disputa territorial como Frank supunha? Ou algum outro caçador na ativa? Ou algo largamente distante de qualquer teorização simples? 

Chegara à cabana onde ocorreu o massacre visceral flagrado pelo morador da mesma que denunciou ao DPDC uma invasão de propriedade enquanto tinha saído para pescar, relatando os detalhes do que testemunhou. 

- Carrie, já tô na área. - disse Frank telefonando para a assistente com o telefone colado ao ouvido direito enquanto se direcionava para a cabana que estava com suas luzes acesas - Nenhum sinal de vida do morador da cabana, deve ter metido o pé com mala e cuia pra bem longe. Pelo visto, como ele descreveu, a coisa foi braba, carnificina total. Não tem como entrar na minha cabeça a hipótese de um caçador novo passando a faca em geral nos monstros. 

- Olha, realmente é uma sandice considerar isso, mas ainda tem o lance dos corpos de vampiros e lobisomens serem achados juntos nos lugares como se tivessem sido guardados lá de reserva. Quem anda fazendo essa bagunça achando que tá fazendo uma limpeza com certeza não é humano. Frank, toma cuidado, a coisa ainda pode estar... espreitando.

- Tomar cuidado? Carrie, a gente passou dessa fase de... você sabe... ensinar o padre a rezar a missa. 

- Nunca foi demais aconselhar precaução, ainda mais quando não se tem a menor ideia do que esteja praticando esse tipo de atividade. Me liga daqui há pouco ou se não achar nada vem direto pra cá, OK?

- Beleza. Já vou entrando aqui, tchau. - disse Frank, logo encerrando a chamada. Sacou uma arma e abriu a porta da cabana que estava escancarada. Segurando firme a pistola, o detetive corria os olhos pelo ambiente, vendo os diversos cadáveres de lobisomens ainda transformados e muitos vampiros com seus corpos separados das cabeças. "Mesmo assim, não pode ser um caçador. Impossível.", pensou ele. Ouviu ruídos vindos do cômodo mais à frente cuja entrada possuía uma cortina verde. 

Frank apontou a arma diretamente para lá em guarda para o que quer estivesse prestes a sair.

Um rapaz usando um sobretudo preto saíra trazendo um pote de vidro contendo sangue. Ele estacou bem na hora que viu Frank parado e mirando a arma. 

- Quem é você? - perguntou o detetive, estranhando. 

- E-eu... - o jovem não sabia como responder, transparecia muito nervosismo - Calma, não puxa esse gatilho, não é o que tá parecendo. Eu não tive nada a ver com o que aconteceu aqui. Se for legal comigo, vou ser legal com você.

- É o tipo de coisa que eu diria. - falou Frank, baixando a arma e mudando a postura.

O jovem de porte atlético, cabelo preto com pontas meio espetadas e pele meio parda e meio caucasiana respirou com alívio não tirando os olhos de Frank. 

- Quando cheguei aqui, esses monstros já tinham sido massacrados. A propósito, meu nome é... Nathan Montgrow. 

Frank tomara um susto com aquela fala, mas conteve a reação ao máximo que podia. 

- O quê? - indagou, balançando a cabeça devagar - Garoto, você deve ter conhecido minha linhagem que é meio famosa nesse ramo e adotou o sobrenome...

- Aí que você se engana. É meu sobrenome legítimo. - disse Nathan seriamente. 

- Não existe mais ninguém, além de mim e da minha mãe, com esse sobrenome! 

- Bem, digamos que... existe e também virá a existir. 

- Como é? Que papo é esse? - questionou Frank, estreitando os olhos numa expressão de atordoamento.

Nathan olhara ainda mais fixamente para ele. 

- Eu sou seu filho. - respondeu o jovem caçador. Frank franziu a testa boquiabrindo-se com o que ouviu.

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CAPÍTULO 77: O FUTURO PARECE SOMBRIO

A incredulidade de Frank foi tamanha que ele tivera vontade de soltar uma risada, mas procurou se controlar. 

- Não, tá de onda com a minha cara... 

Nathan revirou os olhos com a reação. Frank ficou pensativo ainda mantendo-se cético. 

- Nunca tive relacionamento a ponto de me tornar pai, nunca. Em outras palavras, nunca molhei o biscoito e não tenho vergonha nenhuma de expor isso. 

- Entendeu o que eu disse antes? Falei que um descendente da linhagem existe e ainda virá a existir. Não passa nada na sua cabeça pra te ajudar a compreender isso?

- Quero que você prove. - pediu Frank, categoricamente. 

- Já ouviu falar do lendário Expresso Temporal? Literalmente uma máquina do tempo invocável. 

- Nossa... Não escutava esse nome há muito tempo. - disse Frank, surpreso - Sim, lendário... e põe lendário nisso. Eu frequentava uma taverna onde me reunia com uns amigos caçadores, lembro de uma vez falarem de um trem que podia ser invocado em qualquer linha ferroviária e ele saía de uma névoa pronto para te levar ao passado ou futuro. 

- Mas não importa o que eu diga, você vai continuar nessa negação me tratando como um maluco. Eu vou dar o fora daqui, tenho trabalho a fazer. - disse Nathan, desapontado, dando passos adiante. 

Frank o barrou tocando-o no peito tendo uma exigência a declarar. 

- O trabalho que era só seu, agora é nosso a partir de agora. O que realmente tá acontecendo? 

- Não fui eu quem os matou. - disse Nathan parecendo impaciente - Eu não fugi de um manicômio e sim do próprio Expresso Temporal porque vinha sendo perseguido por uma criatura que seguiu no meu encalço a viagem inteira, transferimos nossa luta pra cá e... acabei o deixando escapar. Nesse momento ela vem recolhendo corpos pra estoca-los. 

- Estoca-los? Não é um hábito muito estranho pra uma criatura sanguinária. - disse Frank. 

- É, como se guardasse comida pro inverno, mas na verdade é pra daqui há algumas horas. Mas não vou ficar esperando ela voltar, até porque, pensando bem, acho que ela já se fartou do que precisava. - disse Nathan olhando o monte de cadáveres.

- Vem comigo, te dou uma carona. Espero que o monstrengo volte pra fazer a faxina... 

A dupla entrara no sedã prata e Frank ligara o veículo e os faróis que rasgaram a escuridão, logo dirigindo em afastamento da cabana. O detetive dava umas olhadelas de soslaio para o filho.

- Nathan... Esse nome me lembra... meu tataravô. - disse Frank sorrindo de leve - Nathaniel Montgrow. 

- Sim, minha mãe me batizou em homenagem à ele. - disse Nathan meio retraído no banco do carona - Aliás, foi você quem sugeriu. - a informação fizera Frank virar o rosto rapidamente para ele numa expressão de perplexidade. 

- E o que aconteceu comigo no futuro? - perguntou Frank, curioso. 

- Revelar fatos muito aprofundados sobre o futuro pode ser perigoso. - respondeu Nathan - E isso não é desculpa, não tô inventando nada. Você é Frank Montgrow, meu pai, e vim aqui conhece-lo. Pronto. Meu maior sonho se realizou. 

Nada satisfeito com o volume de respostas, Frank podia admitir que estava começando a ver razoabilidade nas palavras do jovem caçador que dizia-se ser seu filho com extrema convicção. "Veio me conhecer?!", pensou Frank que se amedrontava ao pensar que tipo de futuro era esse em que um filho seu nasceu e cresceu com uma ausência paterna injustificada. 

"Esse garoto tá me assustando mais que o próprio monstro.", pensou o detetive lutando para manter-se focado na estrada. 

                                                                                       ***

Departamento Policial de Danverous City

Restava algum tempo para uma última parada no DPDC no fim do expediente, a menos que o diretor concedesse hora extra para Frank a depender do avanço da nova investigação. Nathan acompanhava o detetive no passeio pelo prédio. 

- Caramba, eu sabia que trabalhava no maior departamento de polícia da cidade, não que fosse essa Torre de Babel. - disse Nathan, fascinado com a envergadura do edifício. 

- Espera só que vou te apresentar uma amiga minha sensacional. - disse Frank andando por um corredor ao lado do filho - Ora, mas veja aí... - para seu espanto, Carrie voltava de um corredor - Carrie, tava fazendo o quê fora da sala?

- Uma assistente não pode sair da sua senzala pra tirar a água do joelho? Enfim, você voltou, significa que não achou... - olhou para Nathan - ... nada?

- Carrie, esse aqui é o Nathan. Uma joia rara nesta cidade. É ele quem anda caçando o monstro matador de lobisomem e vampiro. - disse Frank evitando soltar a verdade. 

- Ah, prazer. - disse Carrie estendendo a mão para ele. 

- O prazer é todo meu. Desculpa se eu parecer meio tímido, acontece que sou um forasteiro. 

- E de onde veio? - perguntou a assistente com curiosidade - Então está só de passagem? 

- Pois é, o Nathan tem seguido cada rastro da criatura. O corredor tá meio movimentando, melhor a gente conversar num lugar mais reservado. Carrie, me deixa só ter uma palavrinha aqui com o Nathan que logo vou indo pra sua sala. 

- Tudo bem, não demora. Fica à vontade, Nathan, faz uma tour pelo DPDC, você vai adorar. 

Nathan respondeu a sugestão com um sorrisinho fechado e um meneio de cabeça. Carrie foi andando em retorno à sua sala. O jovem caçador inclinou-se para o lado a fim de sussurrar algo para Frank.

- Convenhamos, ela é gatinha. - disse Nathan arrancando uma risadinha de Frank - Mas, claro, numa certa altura você não trocaria minha mãe por nenhuma outra. 

Frank detestava a hesitação devido ao medo de perguntar sobre a mãe de Nathan. O detetive fora até a sala de Carrie e agilmente fechou a porta. 

- Você não vai acreditar no que tá rolando. - disse Frank erguendo de leve as mãos. A expressão de alarmismo do detetive estimulou Carrie a se levantar com ar de pura curiosidade. 

- E desde quando eu não acredito numa coisa que acontece na sua vida doida? Fala logo, Frank... 

- O Nathan... - receou em dizer, sofrendo para desentalar as palavras - ... é o meu filho vindo de um futuro bem distante, ele é um forasteiro, só que de outra época. - falou em tom baixo. 

Carrie não escondia seu pasmo.

- OK, de fato isso é um ponto fora da curva. - disse ela, a voz trêmula 

- Tá tão difícil assim de acreditar? Pra mim foi ainda pior. Eu descubro o cara lá dentro da cabana e ele joga logo na minha cara que é meu filho já crescido e homem feito. Minha mente teve um treco, acho que meu cérebro desligou, sei lá.  

- Que bomba. - disse Carrie ainda estupefata - Eu nem sei o que dizer... 

- A missão dele aqui foi me conhecer, o que não indica coisa boa pro meu lado lá na frente. - disse Frank, preocupado - A treta com a criatura foi um acidente, o monstro perseguiu ele dentro do Expresso Temporal, um trem sinistrão que pode te levar pro passado ou pro futuro, daí a coisa chegou junto com ele e saiu matando a rodo por aí. 

- Expresso Temporal... - disse Carrie levando rapidamente seus dedos ao teclado para digitar na pesquisa. Frank passava a mão no rosto andando de um lado para o outro - Aqui está, é uma lenda sobre a entidade inanimada que vem de uma dimensão à parte do nosso mundo para buscar passageiros que a invocam destinados a transitarem pelo contínuo espaço-tempo até destinos que podem ser definidos de acordo com a posição do sigilo conjurador. Se o sigilo está na posição normal, o viajante seguirá em direção ao futuro. Já com o sigilo invertido é para o passado. Segundo a lenda, pode ter um número infinito de vagões e cada um possui uma data específica onde o viajante pode se acomodar e esperar descer. É a máquina do tempo mais simples que já vi. Pobre Einstein, mal sabia - voltou-se para Frank - Ainda não caiu totalmente a ficha?

- Pra ser bem honesto... Tô quase acreditando. O Nathan me parece um cara muito são, sabe o que diz, ele fala de mim com muita naturalidade, disse que o nome dele é em homenagem ao meu tataravô... 

- Considera fazer um teste de DNA? 

- Carrie, para de zoeira, por favor... 

- Não tô brincando. - retrucou a assistente, fitando-o com seriedade nítida - Só pra confirmar 100%

O silêncio de Frank denotava que ele se via numa encruzilhada decisiva que não resolveria tão cedo. Enquanto isso, Nathan aproximava-se do corredor dos banheiros, quando, de repente, ao dobrar para a direita, acabou esbarrando em Lucy que vinha voltando e segurava um copo de água mineral. O esbarrão fez derramar o líquido no sobretudo marrom dela. 

- Ah não, me desculpa, eu fui distraído... - disse Nathan, tenso. 

- Não, tá tudo bem, eu já tô de saída, vai secar rapidinho. - disse Lucy amenizando o clima. 

Nathan a estudou minuciosamente no rosto e não disfarçou um sorriso fraco. 

- O que foi? - perguntou Lucy - Tá tudo bem, não foi nada, acontece. 

A detetive passou por ele andando pelo corredor a fim de ir embora enquanto Nathan ficara parado imerso em pensamentos. 

- Ei! - chamou ela que se virou no mesmo instante. 

- O que é? - indagou ela. 

- Nada, é que... você me lembrou alguém muito familiar. 

- Sendo sincera, você também me lembra alguém... - disse Lucy, os olhos estreitados - Qual seu nome?

- Nathan. E o seu?

- Lucy. O que está fazendo aqui?

- E-eu... sou amigo de um detetive e vim falar algo urgente com ele. 

- Está bem, foi um prazer, Nathan. 

- Idem. - disse Nathan, dando um aceno com a mão de forma encabulada. 

Lucy deu um largo sorriso fechado e virou-se para retomar a andança. 

Frank matutava a respeito de quem poderia ser a mãe de Nathan, andando de um lado para o outro.

- Frank, dá pra parar com esse vai e volta? Tá me deixando louca. - reclamou Carrie massageando as têmporas - Que dor de cabeça... 

- É que eu tô lutando contra uma teoria sobre quem é a mãe do Nathan. - disse ele, atemorizado.

- Como anda sua relação com a Lucy? - perguntou Carrie, o que fez o detetive estremecer. 

- Ahn... Tá legal, é inútil fazer disso um segredo. - fez uma pausa, respirando fundo - A Lucy e eu... tivemos uma pequena pegação quando a convidei pra ir lá em casa assistirmos um filme. 

Carrie se levantou da cadeira, praticamente esquecendo da dor de cabeça, os olhos pulsando de espanto.

- Vocês dois não... 

- Não, foi só um beijo. - disse Frank, pouco à vontade com o assunto - E quando digo um, foi unzinho mesmo. 

- Mas é geralmente assim que começa. - disse Carrie dando um sorrisinho de canto - Quem diria hein. Antes tarde do que nunca. E você aí, afobado, teorizando sobre a mãe do Nathan. Acorda, Frank, tá claro como a luz do dia.

- Acha mesmo que é ela? - indagou Frank - Não sei, a minha vida é tão imprevisível, por mais rotineira que seja com meu trabalho, que às vezes penso na possibilidade de acontecer algo diferente de tudo que eu pudesse esperar e isso inclui... o que eu comecei a experimentar semana passada. Achava que poderia ser com qualquer outra mulher que trombasse no meu caminho e me conquistasse... como a Lucy me conquistou. É uma sensação sem igual e... reconfortante até. Preenche um vazio em mim que eu pensava que carregaria pro resto da vida. Melhor parar, já tá ficando meloso. 

- Manda uma cartinha de amor pra ela, esse discurso que você fez é uma boa base. - disse Carrie, brincalhona. Batidas na porta interromperam a conversa. Frank e Carrie entreolharam-se. 

- Tem alguém aí? - perguntou Nathan batendo insistentemente. Frank fora abrir. 

- Ué, como você soube que aqui era onde eu tava? - perguntou o detetive deixando-o entrar. 

- Tive que ir até o chefe de operações daqui que precisou perguntar pra equipe de monitoramento onde um tal de Frank Montgrow estaria. Por que saiu de fininho enquanto eu molhava a garganta? 

- Pra... ter mais tempo de conversa particular com a minha assistente. - disse Frank, desconcertado. 

- Ah é, sobre o quê? - indagou Nathan, cruzando os braços e olhando para Carrie - Contou pra ela, não foi?

- Nathan, falávamos de você... e da sua mãe. - afirmou Frank - Lucy Valley. Não é esse o nome dela?

O jovem caçador baixou um pouco a cabeça engolindo a saliva num semblante extremo de seriedade. 

- Eu quero resolver o caso do Varcolac ainda hoje. - desconversou ele. 

- Varcolac? Parece nome de remédio pra hemorroidas. - comentou Frank. 

- Ele é um híbrido geneticamente modificado de vampiro e lobisomem, fruto de uma experiência bem mal-sucedida por um bando de cientistas insensatos que pagaram caro por explorarem uma coisa que não entendiam. Criaram um monstro que definitivamente não é pra amadores e eu treinei duro, quase cheguei a morrer, pra enfrenta-lo de peito aberto. 

- E por qual razão ele tem feito chacinas com monstros cujos genes correm nas veias dele? - perguntou Frank. 

- A última mutação que ele sofreu fez ele desenvolver um apetite canibal, como se não bastasse a fome por carne humana e a sede de sangue. 

- Rapazes, de fato a resolução desse caso não pode mais se adiar. - disse Carrie dando uma conferida nas últimas notícias sobre ataques sanguinolentos e brutais nas últimas 48 horas - Em muitas florestas e bosques, animais foram encontrados mortos com suas barrigas abertas e muita perda de sangue, além de pessoas também, é claro. São cerca de 62 corpos humanos mutilados e retalhados até o momento. - desviou o olhar para os dois - Essa coisa tá deixando um rastro de carnificina muito extenso - Frank e Nathan se encararam por um breve instante, uma troca de olhares em sintonia. 

- Tá afim de abrir essa caçada pra valer com o paizão aqui? - perguntou Frank. 

Nathan não conseguiu reprimir um sorriso de contentamento. 

- Só se for agora. 

                                                                         ***

Axel sofria com mais uma noite mal-dormida por consequência dos pesadelos recorrentes com Nero e a sociedade gárgulas. O hóspede de Frank levantou-se molhado de suor e ouviu barulhos vindos de baixo. Virou o rosto para a porta do quarto e andou vagarosamente até ela. Mas antes de abrir, pegara um taco de beisebol guardado no closet suspeitando que a casa estava sob invasão. Seguiu pelo pequeno corredor em meio à semi-escuridão segurando firme o taco. 

Desceu a escada devagar vendo silhuetas na parede mais abaixo graças à luz da lua cheia junto com a dos postes que atravessava as janelas que Frank esqueceu de cobrir com as cortinas. Durante toda a descida, as sombras macabras continuavam ali imóveis. Mas após chegar a sala pulando o último degrau, segurando ainda mais firmemente o taco, não vira nada além dos móveis. Olhou para a parede atrás e nada. Subitamente, uma sensação de peso na mente o acometeu, tão intensa que o fez largar o taco para pôr as mãos na cabeça. Fechou os olhos tentando suportar a dor, mas logo os reabriu. Estavam vermelhos exatamente como os de uma gárgula viva. Sua expressão se alterava sinistramente.

- Então é aqui onde se refugia. Bela casa, não tenho dúvidas de que você está bem acolhido e acomodado. - disse com um olhar e sorriso maldosos. Na verdade, Axel estava sob o efeito de alguma possessão feita a partir de uma ligação psíquica - Vamos dar um passeio juntos, Axel... 

Porém, os pés de Axel não se moveram um milímetro. O hóspede de Frank recuperava o controle de sua mente e corpo ao se desvencilhar da invasão mental de Nero. 

- Se continuar aqui, ele vai acabar sabendo. - disse Axel, atarantado - Só me resta uma coisa a fazer... pelo Frank. 

Axel voltara para seu quarto, calçou sapatos, trocara de roupa e abriu a janela. Olhou para o chão gramado e subira no peitoril. Pulou seguramente, caindo na grama sem prejudicar os joelhos. Depois pulara a cerca de madeira e andou, parando para olhar os arredores da rua e em seguida prosseguir sem um destino pré-definido. 

Estava tomando uma atitude que sabia ser o descumprimento de uma regra categórica de Frank. 

                                                                            ***

Frank e Nathan chegavam a um local específico para realizarem os preparativos da caçada. O bar onde o detetive se reunia com caçadores para diversos happy hours, a badalada taverna Sol da Meia-Noite. 

- Esse bar parece caindo aos pedaços por fora. - disse Nathan saindo do carro com uma mochila - Nem quero ver como está por dentro. 

- Anda, vem comigo. O interior não é tão ferrado quanto a fachada. - disse Frank. 

A dupla entrara na taverna repleta de mesas empoeiradas e um piso tão sujo que exalava um odor repulsivo. 

- Isso aqui tá precisando de uma limpeza... - disse Nathan atrás do pai - ... e um aerosol aromático. Por que esse cheiro de carne podre? 

- Lembranças dolorosas. - disse Frank relembrando da violenta troca de tiros que travou com David e os demais caçadores, os únicos que o detetive conhecia e restavam na cidade em atividade - Vamos nessa, ali pro balcão. 

Caminharam rumo ao balcão onde colocaram as mochilas das quais retiraram armas e munições. 

- Achei engraçado você ter dito que não podia abrir o jogo sobre o futuro e depois fazer um resumo sobre o Varcolac. - disse Frank, municiando uma pistola com balas de prata.

- Ótimo, vou ser flexível, mas também cuidadoso. - disse Nathan, carregando um rifle - Você namorou uma mulher muito especial. 

- Sim, concordo. A Lucy é uma mulher incrível. Responsável, persistente e uma grande companheira. 

- Lucy é o nome da minha mãe. - disse Nathan, finalmente confirmando. Frank o olhou por uns segundos, mas logo voltou para as armas - Tá muito curioso pra saber do que acontece com você, né?

- Se você puder dizer o básico, me dou por satisfeito, mesmo se for uma coisa ruim. 

- Você morreu. - disparou Nathan. Frank virou o rosto para ele, tenso - Mamãe estava com dois meses de gravidez. Ela decidiu se mudar pra Los Angeles depois que uma calamidade se abateu aqui em Danverous City. 

- Que tipo de calamidade? - indagou Frank - Tem a ver com a minha morte?

- Sim. - respondeu Nathan, um tanto nervoso - Eu não devia nem arranhar a superfície do que tenho pra contar, mas me permiti a fazer isso pra que você se sinta menos desesperado. Não posso deixar que nada interfira no meu nascimento. 

- Tudo bem, não quero saber de spoiler pesado dessa história. - disse Frank, fechando a trava de uma arma - A propósito, a Lucy e eu... engatamos. 

Nathan o olhou de repente, um pouco surpreso. 

- Que bom. - disse o jovem caçador - Acho que muito em breve começa a temporada dos encontros. 

- Já marcamos um. - disse Frank - Mas, Nathan, tenho que te mandar a real, essa sua chegada, por si só.... 

O toque do celular de Frank cortara a fala bruscamente. 

- Alô, Carrie. - fez uma pausa, ouvindo - Beleza, a gente já tá a caminho. Falou, tchau - desligara - Parece que o Varcolac atacou uma casa na árvore há meia hora. 

                                                                               ***

O carro de Frank parava no meio da área bem arborizada à poucos metros de onde situava-se a casa da árvore onde um grupo de jovens se divertia até a repentina chegada do intruso que os mutilou. Frank desligou os faróis e logo saiu junto de Nathan com sua arma em punho. O filho do detetive segurava uma lanterna na mão esquerda e uma pistola na esquerda, seguindo-o pela trilha de corpos ou pedaços dos mesmos deixada pelo Varcolac após saciar sua fome. 

- Ali, lá em cima. - disse Frank, apontando para a casa numa árvore robusta e possivelmente centenária.

- Ei, espera, tô vendo uma coisa se movendo... - disse Nathan, em voz baixa, aproximando de um monte de arbustos que se mexiam. Podia se ver uma perna arrastando no solo terroso. Frank seguiu o filho igualmente curioso. O jovem caçador evitou apontar o facho de luz da lanterna diretamente. Nathan apareceu jogando luz na cara da pessoa que rastejava. Era um homem careca e meio gordo que se incomodou fortemente com a luz nos seus olhos. 

- Tira esse clarão da minha cara! - reclamou ele, nitidamente indicando ser um vampiro. 

- É um vampiro. - disse Nathan - Acho que vou manter a luz no seu rosto enquanto batemos um papinho. O que aconteceu aqui? Por que tantos pedaços de corpos espalhados? Você fez isso?

- Tá doido? De onde um vampiro ia tirar forças pra dilacerar um monte de gente? Ele tem um faro pra detectar cada vampiro exatamente onde está... 

- Ele quem? - indagou Nathan fingindo não saber. 

- Ninguém como eu, nem os lobisomens, sabe quem é ele ou de onde veio. - disse o vampiro que parecia agonizar com várias feridas abertas no corpo - Tudo que sei é que tá papando vampiros, lobisomens e humanos a torto e a direito... Se essa aberração continuar fazendo o que faz... vai ser a extinção das raças, nenhum vampiro ou lobisomem vai ser poupado. 

- Bom, pelo menos pra uma causa positiva ele serve. - disse Frank aproximando-se com um facão - Ele vem economizando meu trabalho. 

- Então vão deixar ele vivo... até todos os vampiros e lobisomens serem exterminados? Seus cretinos, vão se... 

Sem paciência, Frank se agachou e descera a faca sobre o pescoço do vampiro, decepando a cabeça.

- Estava fraco, o ataque do Varcolac deixou ele completamente vulnerável. - constatou Nathan. 

- Provavelmente ele tava perambulando nessas bandas em busca de alimento e trombou com o bicharoco que ainda de quebra arrasou com quem tava na casa da árvore. - disse Frank - Bora lá em cima ver o estrago. 

- Odeio chegar tarde demais em casos assim. - reclamou Nathan, frustrado. 

- Somos dois. - concordou Frank andando ao lado do filho até a casa na árvore. Frank subiu primeiro pela escadinha de madeira e Nathan fora atrás. O detetive sacou sua lanterna e passou o facho por todas as direções rapidamente vendo umas duas garotas do grupo de amigos com severos e profundos cortes na barriga e nas pernas, ambas visivelmente mortas. Porém, ao apontar a luz para mais à frente viu algo se movimentando e foi devagar passando para a esquerda. A luz pegara um homem de casaco preto, cabelos da mesma cor meio compridos, estando de costas. O Varcolac revelara-se ao olhar por cima do ombro direito, mostrando uma face que passava a imagem de ser um misto de animal e humano com olhos totalmente vermelhos, um focinho de lobo, uma mandíbula moderadamente alongada e presas pontudas na sua boca selvagem encharcada de sangue. Ao ver que foi flagrado numa refeição, avançou com seu instinto predatório. 

Frank sacara velozmente uma arma e conseguiu dar um disparo, mas foi a esmo já que o Varcolac pulou sobre ele fazendo derrubar a lanterna. Nathan disparou com seu rifle umas quatro vezes conseguindo faze-lo recuar, embora não causando danos significativos. Frank pegou seu facão ao levantar e desferiu um corte no peito dele, mas o híbrido não pareceu sentir absolutamente nada. Nathan empurrou o pai antes que o Varcolac o estraçalhasse com seus garras e segurou o braço esquerdo dele podendo agarra-lo e joga-lo contra a parede. O jovem caçador preparou sua lâmina ao pegar um pote com sangue e banha-la. Sentindo o odor do sangue, o Varcolac saiu para fora num salto animalesco. 

Frank e Nathan não perderam tempo numa tentativa de seguir a criatura pela floresta cientes da ineficácia de uma perseguição. De volta ao carro ao longo da estrada, Frank tirou uma dúvida.

- Espera aí, tô lembrado de uma coisa que passou meio despercebida: Você trazia um pote de vidro com sangue lá na cabana. Eu não perguntei porque você soltou a bomba e minha atenção foi toda pra você. 

- A fraqueza do Varcolac é uma mistura de sangue de vampiro, lobisomem e sangue humano, então usei o meu como ingrediente final. - disse Nathan, em seguida mostrando uma seringa retirando-a do bolso interno do sobretudo - Pus na medida certa pra injetar nele, mas nunca tive chance no meu tempo. 

- Podia ter aproveitado lá na casa da árvore. - disse Frank estranhando o sangue tóxico - Por que você tinha pego mais sangue se já tinha reservado uma quantidade ideal? 

- Medo de ser descuidado e fracassar. - respondeu Nathan, sincero - Você viu que eu banhei a faca com o sangue do pote e ele saiu correndo só de farejar o cheiro. Descobri isso com um cientista que se desvinculou da organização que criou o Varcolac e numa das lutas mais sofridas com ele fiz um teste. - fez uma pausa - É, eu devia ter usado logo a seringa. 

- Aquele seu empurrão me fez esbarrar longe. O que você anda tomando hein? 

- Desculpa, não quis roubar seu momento de glória estando prestes a ter sua carne fatiada. 

- Fica frio, só tava brincando. - disse Frank dirigindo o carro por uma rota de volta a metrópole - Obviamente que foi pra salvar minha vida, não por querer ser o protagonista da caçada. De verdade, eu senti mesmo que aquelas garras iam me retalhar facinho, você agiu rápido. 

- Não tava pensando que eu exagerei quando contei do que ele é capaz, né? Eu não sou novato na brincadeira, embarquei na primeira missão em campo aos 14 anos. Atualmente... digo, no meu tempo, já fiz 28. 

- Foi calouro um pouco mais cedo do que eu. Meu pai... o seu avô... morreu quando eu tinha 19 anos e foi isso que inicializou minha carreira. Mas respondendo sua pergunta: sim, eu cheguei a pensar que o Varcolac não fosse essa fera ensandecida e você me impediu de sentir na pele, então... obrigado. 

- De nada. - disse Nathan, olhando-o com certa seriedade - Dava pra ver que você ficou meio confiante.

- É, às vezes o fato de ter saído vivo de coisas piores sobe à cabeça... me traz a ilusão de que sou uma espécie de super-herói e posso encarar qualquer coisa logo que passo por um aperto maior do que tudo já vivido. É nesse aspecto que ainda tenho que amadurecer. Nós somos humanos, somos frágeis. Nunca devemos nos esquecer disso e com certeza, depois de hoje, vou fixar na minha cabeça pra nunca mais cair nessa tolice de se achar o "peito de aço". 

- É a primeira lição que você tem a me ensinar mesmo não seguindo à risca. Como esperado. 

Frank virou o rosto para o filho num semblante de alta curiosidade. Um som semelhante ao toque de um celular soou. Vinha do celular de Nathan que conferiu. 

- Ah cara, essa não... - disse Nathan visualizando uma planta de uma área da cidade. 

- O que é isso aí? - indagou Frank. 

- Na hora que eu joguei o Varcolac na parede eu já tinha plantado um rastreador no casaco dele. 

- E pra onde ele tá indo agora? 

- Um hospital de emergência, fica à 20 quilômetros da floresta. - respondeu Nathan, preocupado - Não vamos chegar a tempo, a gente se distanciou muito. 

- Me passa o endereço desse hospital, pode ser que haja um atalho por aqui. - disse Frank, otimista.

                                                                                 ***

Médicos, enfermeiros e socorristas corriam aterrorizados com o invasor insano que jogava macas nas paredes em fúria pela sua insuportável sede por sangue humano. Guardas tentaram conte-lo com armas de choque, mas o efeito das mesmas não o paralisava. O Varcolac se virou para os homens e avançara com suas garras. Um dos guardas foi arremessado feito um boneco contra a vidraça de uma janela da UTI e os outros, em reação, acharam melhor recuarem correndo para fora do hospital. O faro sobrenaturalmente apurado do híbrido o guiou até uma sala na qual guardavam frascos com amostras sanguíneas extraídas para hemogramas. Abriu a porta violentamente e entrou invasivo observando os frascos guardados nos armários. Frank e Nathan chegavam ao hospital passando pelas pessoas que fugiam do alarido.

- Ele só pode ter ido pra alguma sala onde tem amostras de sangue. - disse Frank.

- Pois é, ninguém saiu ferido sem ataca-lo. Saciar a fome acabou aumentando a sede dele. - disse Nathan. 

- Ei, você. - disse Frank, parando um médico que tremia de medo - Sabe onde ficam as amostras de sangue.

- Na-na... Na sala de armazenamento, logo à direita. - disse o médico - São policiais?

- Sim, eu e meu parceiro aqui vamos nos encarregar de conter aquele maníaco. - respondeu Frank. 

- Maníaco é pouco pra descrever, aquilo... é um monstro! Como vocês.... 

- Tranquilo, a gente resolve, não vamos deixa-lo sair! - garantiu Frank, correndo com Nathan para o local indicado. 

Ao dobrarem para o corredor, descobriram a sala através dos barulhos de vidro quebrando. O Varcolac estava com um bom volume de sangue nas mãos juntas e bebia como se fosse água. A dupla chegara, mas ele pareceu não nota-los. Frank pegou o rifle de Nathan e disparou três tiros. No entanto, o Varcolac mantinha-se indiferente e focado na sua bebida, abrindo os frascos um a um. 

- Esqueci de avisar... - disse Nathan em tom de preocupação. 

- O quê? - perguntou Frank soando meio rude por conta da urgência que a situação expressava. 

- Ele se fortalece à medida que extrapola quando tá se alimentando. - disse o jovem caçador.

- Isso não é motivo que faça a gente desistir. Vamos pra cima dele! 

O híbrido finalmente os percebera, partindo para o ataque feroz. Frank dispara mais vezes com o rifle na cabeça do híbrido que parece não se intimidar, apesar de sentir os projéteis atingindo sua pele. Nathan viera por trás, usando Frank como distração para injetar o sangue tóxico, porém, os super-sentidos de vampiro o fizeram pegar o caçador pela cabeça e joga-lo contra uma parede antes que o mesmo pudesse cravar a agulha nas suas costas. Nathan colidiu as costas com impacto, deixando a seringa cair e deslizar pelo chão liso se afastando uns metros. O Varcolac aproximava-se no intuito de pega-la sem imaginar que ali se encontrava um veneno. Até seria preferível deixar que ele provasse por conta própria, mas Frank resolveu ousadamente ataca-lo ao pensar que ele poderia machucar Nathan.

O detetive agarrou o Varcolac com os dois braços para imobiliza-lo, porém sua força foi insuficiente para mantê-lo parado até que Nathan pudesse injetar o sangue e acabou levando um golpe das garras do híbrido bem no seu peito após ele soltar-se. 

- Não! - gritou Nathan, atônito. Cerrou os punhos, uma força de vontade crescendo dentro do seu âmago. O caçador recuperou a seringa e pegara o Varcolac pelo pescoço com a mão esquerda empurrando-o contra uma parede. As mãos cinzentas do híbrido tentavam alcançar o rosto de Nathan para desfia-lo com as garras finas. Eis que Frank aparecia reerguido, fragilizado pelo ferimento no peito. Vendo que o filho segurava o híbrido o deixando imóvel, disse:

- Me passa a seringa. 

- Seu pedido é uma ordem. - disse Nathan, entregando a seringa nas mãos do detetive. Frank se aproximou do Varcolac que grunhia raivosamente pela sua condição. 

Nathan passou a segura-lo com as duas mãos enquanto Frank se preparava para injetar.

- Espero que isso faça um estrago. - disse Frank, logo fincando a agulha no peito do híbrido que soltou um urro gutural e descontrolou-se. O corpo do Varcolac se ressecava absurdamente até a pele ficar quebradiça, como um veneno que agia de dentro para fora. O híbrido caiu sentado no chão e encostado na parede. Depois quem caíra foi Frank, mas Nathan o segurou - Tudo bem, não foi nada demais...

- Que nada demais o quê. - disse Nathan, carregando-o para fora da sala - Eu quase te vi morrer pelas garras afiadas dele. 

- Relaxa aí, não acho que... foi muito brabo não. - disse Frank, resistindo a dor dos ferimentos. 

- Alguém, por favor! Emergência, ele foi gravemente ferido! - gritava Nathan. Uma dupla de socorristas viera ao encontro deles para encaminhar Frank a uma sala de tratamento. 

Após cerca de uma hora, Frank já se encontrava de pé abotoando sua camisa por cima das bandagens que cobriam os arranhões quase profundos que levava no peito. Um médico entrara na sala para ver o estado do paciente.

- Ataduras milagrosas, doutor. - disse Frank de bom-humor, pondo seu sobretudo. 

- Dê crédito para os inibidores de dor. Graças à eles e a intensidade do seu quadro, não vai precisar de internação. - disse o médico, contente ao vê-lo bem - Você teve sorte, detetive Montgrow, muita sorte com o homem selvagem que invadiu o hospital. Mais alguns centímetros e teria sofrido uma hemorragia mais agravante, talvez até fatal. Muita resistência física sua. E sobre o rapaz que chamou ajuda, perguntei se ele é parente da vítima e... ele disse que é seu filho. 

- Doutor... - disse Frank olhando para o médico - Quanto custa um teste de DNA aqui nessa clínica?

- Não tem certeza se ele é seu filho de verdade? - questionou o médico, intrigado. 

- É uma história complicada. Mas e então, qual o preço? 

- Pra uma autoridade, não será cobrado nenhum valor. O resultado sai dentro de uma semana. 

Nathan aparecia de repente na sala, ansioso para saber como Frank estava.

- Eu ouvi atrás da porta... - disse o jovem - ... e digo que aceito fazer esse teste.

Frank e Nathan se entreolharam sérios. O médico fez que sim com a cabeça. 

- Vou pedir que preparem a coleta de amostras. Me deem um instante. - disse o doutor, logo saindo da sala. Após uns segundos silenciosos, Frank se manifestou. 

- É isso aí, manda brasa, solta os cachorros. 

- Não. - disse Nathan secamente - Você merece saber por uma prova definitiva. Desconfiando ou não, o que importa é não falhar num dos principais objetivos da minha missão. 

- Então você tá de boas com meu pedido por um teste só porque tem que me proteger? 

- Porque eu tenho certeza. Logo mais você terá. - disse Nathan, absolutamente certo de que o detetive receberá um resultado que corrobore a palavra do caçador. 

                                                                             ***

Frank dera uma última carona para Nathan a fim de que ele conhecesse a sua casa ou até mesmo passasse uma noite lá. 

- Casa bacana. - disse Nathan - Mas vou recusar o convite pra uma dormida. Aluguei um quarto de hotel barato. 

- Na verdade, eu estava pensando em... você ficar por uns dias. Mas tudo bem, não vou forçar a barra pra gente... se conhecer melhor. Olha, valeu por entender minhas razões de pedir pelo teste. 

- Já te falei pra não esquentar a cabeça com isso. O Varcolac já era, vitória nossa. Apesar de tê-lo dominado na base da força bruta, eu não teria conseguido sem uma ajudinha. 

- Põe força bruta nisso. Eu vi você empurrando ele contra a parede como se estivesse em pé de igualdade. Esse é o nível de vigor físico dos jovens adultos do futuro?

- Ver você levando aqueles arranhões ativou um gatilho em mim. Por um segundo, pensei que ali eu tinha fracassado, não haveria mais sentido em salvar a cidade sem você do meu lado pra salva-la. 

O detetive sentia uma pontada de orgulho pelo grande aliado que obtivera. 

- Bem, você me contou umas coisinhas resumidas do futuro. Minha vez agora de contar do passado, um passado bem recente. Tô abrigando um cara, o nome dele é Axel. Pra encurtar a história, ele é de outro tempo assim como você, foi vítima de um feitiço que o transformou em gárgula... 

- O quê? - disse Nathan franzindo o cenho - Tá dando casa, comida e roupa lavada pra uma gárgula?! 

- Ei, calma aí, o Axel teve... um momento de regressão numa circunstância adequada, ou seja, ele voltou a ser humano, mas o feitiço continua tendo efeito sobre ele, o coitado tem até pesadelos e alucinações. Um tal de Nero...

- É desse Nero que eu quero falar! - disse Nathan, exasperado - Ou melhor, não devo falar. 

- Por acaso ele e as gárgulas lá do subterrâneo tem ligação com esse seu futuro desastroso? 

- Mais do que você pode imaginar. Dar moradia pra uma coisa instável como esse Axel é risco desnecessário. 

- Te garanto que o Axel tá sob controle, ele não sai de casa, deixo ele trancado quando saio pro trabalho. Além disso, ele não quer voltar pra cidade do andar de baixo que o Nero governa por medo dele e do que quer ele esteja pretendendo fazer. - declarou Frank - Quer entrar pra conhecer meu lar doce lar?

Nathan apenas abriu a porta do carro, ainda com certo desgosto por Frank confiar num suposto dissidente de Nero. Frank abrira a porta da casa e acendeu o interruptor. 

- Axel, cheguei! - disse ele olhando para a escada. Mas não houve resposta - Será que ele capotou? Ele nunca dorme antes de eu chegar. - subira a escada e continuou chamando - Axel! 

Nathan esperou Frank descer e reparou num porta-retrato com uma foto que mostrava Frank, Carrie e Ernest, o detetive no meio tocando os amigos nos ombros e dando um sorriso fechado, a assistente à sua direita sorrindo abertamente e o ex-diretor à esquerda com um tímido sorriso. Nathan achou graça pela maneira como o pai parecia meio desconfortável ao tirar aquela foto e sabia por meio de sua mãe que ele não apreciava muito posar para câmeras. 

Frank descia rápido a escada, degrau sim, degrau não. Nathan voltou-se para ele. 

- Você tá muito tenso. O que foi? 

- O Axel sumiu. - respondeu Frank num estado de alarmante preocupação com o destino tomado pelo seu hóspede. 

                                                                                 -x-

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://arcanoteca.blogspot.com/2014/10/bestiario-mitologico.html

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