Frank - O Caçador #14: "Sociedade do Orgulho Destro"


Danverous High School - 1995

Na época, a popular sexta série era vista como um grupo de "elite" por conta de uma suposta existência que muitos se atreviam a considerar lenda. Mas a crença prevaleceu, o que garantiu status aumentado a praticamente todos os alunos. O mistério, no caso, referia-se a uma espécie de fraternidade secreta com ideias radicais e posicionamentos que qualquer um diria ser absurdo. Em meados daquele ano surgia, por baixo dos panos, a Sociedade do Orgulho Destro, um grupo que se auto-designava a perseguir, oprimir e violentar colegas de sala ou de outras classes por uma razão que não arrancava olhares muito sérios de quem escutava sobre o temível quinteto.

Num dia, momento do intervalo, Dylan, o fundador, desafiara o retraído Jimmy para uma quebra de braço. Ambos mantinham uma típica relação vítima-valentão. De repente, uma multidão os cercou e um coro de torcida tomou conta. Jimmy forçava o máxima que podia usando o braço esquerdo.

- O que foi, Jimmy Palerma? Não tomou seu achocolatado vitaminado hoje?

- Cala a boca... - disse Jimmy, cerrando os dentes querendo vence-lo - Isso é ridículo...

- Ridículo é ter o azar de nascer canhoto! - disse Dylan, dando uma risada infame.

- Eu não vou me render... - Jimmy direcionava sua força para derruba-lo o braço direito de Dylan.

- Por que não aceita as coisas como são, seu lixo? - perguntou Dylan, seus cabelos castanhos encaracolados brilhando pela luz da sala - É a lei do mais forte... que sempre vence o mais fraco!

- Dylan, para de pensar assim... Não podemos ser amigos?

- Não podemos ser amigos! - esbravejou ele, por fim derrubando o braço de Jimmy. Deum torto sorriso de vitória erguendo o queixo ao mostrar superioridade. A torcida que gritava seu nome elevou o volume - Ainda acho pouco. Mas... vou cumprir nossa aposta. Se prepare.

Jimmy o olhava nervoso sentindo-se inferiorizado com tantas vozes ovacionando seu adversário e alguns o vaiando bem perto do seu ouvido.

À noite, o garoto se encontrara no pátio da escola disposto a se entregar à nefasta aposta.

Os cinco membros da SOD (três meninos e duas meninas) o encaravam com sorrisos maldosos.

- E aí, esquerdinho? Pronto pra nossa festa? - perguntou Dylan - Agora, Abbie.

Rapidamente o garoto recebeu um golpe de porrete na nuca, levado à inconsciência.

Ao acordar, se viu amordaçado, com visão embaçada e deitado preso por cordas numa mesa. Estava na sala dos professores e se perguntou como tiveram acesso. Os quatro membros rodeavam-o enquanto falavam um encantamento. Haviam velas acesas cujas chamas ficaram verdes.

Antes que tentasse gritar, Dylan descera a lâmina de um pequeno machado sobre o braço esquerdo dele. O vento se revoltou, abrindo as janelas e as velas apagaram-se. Dylan estava convulsionando. Seus olhos tornaram-se negros e as órbitas ficaram manchadas com veias finas.

- Finalmente. - disse ele numa voz distorcida - Mas espere... Não posso sentir sua alma. - olhava o corpo ensaguentado de Jimmy que expelia sangue do braço cortado - Vocês não fizeram direito.

Os demais se afastavam temerosos. Dylan, possuído pela entidade receptora, os encarava furioso.

- Seus... incompetentes! - vociferou, logo gritando bem alto na direção deles. As vidraças quebraram num instante. O grito quase supersônico era apenas um disfarce. Ele ao mesmo tempo sugava. As quatro almas foram tragadas. Os integrantes da SOD caíram para trás - O Retalhador não perdoa. - disse ele, sorrindo com seus olhos negros que de longe pareciam ter sido arrancados.

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CAPÍTULO 14: SOCIEDADE DO ORGULHO DESTRO

Havia muito tempo que o telefone fixo de Frank não emitia seu alardeador toque.

O detetive estava lavando as mãos e andou depressa para atender. Secara rápido suas mãos e pegara o fone. Antes que dissesse alô, uma voz extremamente conhecida lhe deixou congelado.

- Olá, caçador. Sentiu minha falta?

- Me-Megan?! - disse ele, franzindo o cenho - O quê? Mas que diabos...

- Calma aí, não se assuste, garanto que sou eu te ligando...

- Corta essa! Quem quer seja tá subestimando minha inteligência. - disse Frank, sério mas não menos irritado - Tá querendo me fazer de otário né? Fala logo... Quem é você?

- Eu ia testar a historinha da irmã gêmea. - disse a falsa Megan - Mas percebo que é difícil engana-lo.

- Você não faz ideia. Anos de experiência nessa cabecinha aqui. Se tá imitando a voz da Megan... só posso deduzir que é um bruxo ou uma bruxa. Vai, admite, não adianta ficar de papo furado.

- Não revelo minha identidade, mas posso conforta-lo com uma proposta.

- Confortar? Olha, seja lá quem for, eu adoraria confortar a sua bunda com um bom chute. Achou mesmo que eu fosse cair nessa? Eu vi a Megan morrer diante dos meus olhos, ela fritou até virar pó.

- Sim, estou sabendo, obviamente ela renunciou ao anel que a protegia. Eu quero que me escute.

- Isso vai depender. - disse Frank, olhando pro seu relógio de pulso - É bom ser rápido. Tenho mais tempo pra trabalhar do que ficar papeando com estranho. O que você quer de mim?

- Você ainda tem o anel, certo?

- Sabe, dia desses eu pensei em joga-lo no esgoto ou numa fornalha, sei lá.

- Se caso tente livrar dele, vai estar pondo em risco a alma dela. Reparou na pedrinha verde? Pro seu conhecimento, é exatamente lá que ela está. Não, espere... Não exatamente. Ela está segura num outro mundo. Cada bruxo possui um anel de esmeralda usado para salvaguardar sua alma.

- Então vocês o querem de volta? Já que quando um bruxo morre a alma dele vai direto pro...

- Vejo que entendeu, estou feliz. - disse "ela", interrompendo-o - Mas antes de recuperamos o anel, quero que limpe a imagem dela. Irei enviar uma mensagem de áudio com a voz mimetizada para que você mostre aos superiores dela no DPDC e os convença de que ela pediu demissão.

- OK. Sabem meu telefone, meu endereço... Quem são vocês? São a fundação que ela mencionou?

- Fundação? - indagou, dando uma risadinha - Negativo. Nós somos algo maior. Seremos algo maior muito em breve. Megan era uma agente dupla, mas sua devoção pela organização que gosta de catalogar monstros não se comparava a que ela dava a nós. Ela tinha seus próprios problemas.

- Só não entendo porque apenas agora ligaram pra mim.

- Nós ligamos insistentemente nos últimos 3 meses. A pessoa que atendia não era você.

- Era um dos vigias contratados do DPDC que quebraram um galho pra mim enquanto fiquei fora. Você desligava na cara né? Mas espera aí... Como reconheceu minha voz?

- Durante sua infiltração, Megan nos mandou áudios e imagens de micro-câmeras escondidas numa pulseira, num colar ou na na orelha... Ela sabia que não ia sobreviver e contou conosco para que nós soubéssemos a quem ela confiou o anel e no tempo certo pegarmos de volta.

- Se ela tinha certeza que o anel ficaria seguro comigo, não teria pedido a vocês. Escuta o seguinte: Essa história tem mais buraco que queijo suíço. Um queijo bem podre, por sinal. Vou retornar, só me passar o número. Daí me dão prazo pra devolver o anel. Posso confiar?

- Não pode. - disparou a pessoa - Confie nos seus instintos. Vai precisar muito deles.

No DPDC, Frank apresentava o áudio ao diretor Duvemport em sua sala. Ernest estava com o ouvido direito inclinado ao celular do detetive ouvindo tudo em alto e bom som.

- Doença crônica... Era isso que faltava! Mas por que ela não resolveu avisar antes?

- Provavelmente ela não foi forte pra tomar coragem tão cedo. - disse Frank, nervoso - Sinto muito.

- Não sinta. - disse Ernest, sentando na cadeira angustiado - Já não é o primeiro funcionário a pedir pra sair. Agora a equipe está desfalcada. Não acharia legal se fôssemos um quarteto?

- Eu, particularmente, não gostaria. - disse Carrie, entrando na sala de surpresa - Aí está você. - direcionou-se à Frank trazendo um novo arquivo com um caso - Presentinho. - destacou a pasta.

Frank suspirou longamente com a boca, sentindo-se meio indisposto.

- Sondou nossa conversa atrás da porta, Wood? - perguntou Ernest, repreendendo-a.

- Seria bem mal-educado interromper. Quero dizer... eu interrompi, mas não quis fazer antes...

- Nós já entendemos. O que tem pra hoje? - perguntou Frank, pegando o arquivo para ler.

- Nossa, que impaciência. - disse Carrie, estranhando - Que bicho mordeu você?

- Concentração no caso a partir de agora. Vejamos... Garoto com braço decepado. Turma de 1995.

- Essa é a notícia velha. As novidades estão nas páginas seguintes. Mas sobre ela em especial... Um garoto chamado Jimmy foi morto na noite do dia 15 de Agosto de 1995 tendo seu braço esquerdo cortado com um machado de emergência da própria escola. No dia seguinte, o corpo havia sumido, mas os responsáveis deixaram evidências nada sutis.

- Caramba, isso foi um banho de sangue? - indagou Frank, olhando a foto da cena do crime - Tô apostando em ritual, o que me leva a pensar em... bruxaria. Tem velas também...

- Pois é, e há uma informação importantíssima que reforça sua suspeita. - disse Carrie - Segundo antigos relatos, Jimmy era constantemente perseguido por uma espécie de panelinha que se julgava sociedade secreta. Eles eram conhecidos como a Sociedade do Orgulho Destro, uma turminha de adolescentes da sexta série cuja missão é... segregar pessoas canhotas. - falou, achando estúpido.

- Discriminação com canhotos?! Que ultrajante. - disse Ernest, indignado.

- Ahn... Diretor, isso por acaso incomoda o senhor? - perguntou Frank.

- Parece que temos um canhoto protestando aqui. - disse Carrie, olhando-o estreitamente.

- E daí que eu seja? Nunca me viram escrevendo. Ou viram, mas nunca repararam nos detalhes.

- Tá legal, vamos organizar aqui. - disse Frank - Jimmy era alvo de bullying e perseguição, foi pego por essa sociedade secreta de malucos, submetido a ritual e enfim morto. Mas qual era a desse povo que odiava canhotos? Que motivação é essa pra usar alguém como sacrifício de feitiçaria?

- Quer ler os relatos ou prefere que eu resuma? - perguntou Carrie - Não responda, sei que adora a minha voz. Pois bem... Segundo constam os relatos, a ideologia, o grande pilar da fraternidade era provar aos canhotos o quanto suas existências são inúteis no mundo. Já ouviu falar que canhotos possuem uma expectativa de vida baixa em relação à destros?

- Me sinto ótimo com meus 56 anos. - disse Ernest - Sobrevivi a duas hérnias de disco e uma apendicite. - fez uma pausa, franzindo o cenho - Não me olhem como se perguntassem "Quem pediu sua opinião?", eu não me acho prova viva do contrário, só quero participar da conversa.

- A gente não tá excluindo o senhor, fica tranquilo. - disse Frank, sorrindo leve - É que... estamos acostumados a falar do caso entre nós dois. Não leva tão a sério essa coisa de equipe...

- Acabou de confessar que não nos vê como uma equipe? - perguntou o diretor.

- Diretor, tá desviando o assunto. - disse Carrie, impaciente - Podemos continuar? OK. A Sociedade do Orgulho Destro era temida por todos os alunos canhotos da Danverous High School. Alguma coisa deu muito errado nesse ritual para Jimmy ser a primeira e a última vítima.

- Claro, mexendo com bruxaria, o que não pode dar errado? - questionou Frank, passando as páginas.

- Como pretende investigar as mortes atuais? - perguntou Ernest, arrancando um olhar reprovador de Carrie - Não tenho culpa de ser bem informado.

- E-eu ia dizer exatamente essa parte... - disse Carrie, aborrecida.

- Arrependida por ter interrompido? - perguntou ele, levantando uma sobrancelha.

- Como é? Tem alunos na escola sendo sacrificados atualmente? - perguntou Frank, meio alarmado.

- Sim... - disse Carrie, magoada com Ernest - Quero dizer, não. Não se tem indícios do retorno da fraternidade, mas três pessoas recentemente morreram, como você pode ver aí... Elas tiveram seus braços esquerdos cortados. O ponto é: São destras. Isso nos diz muito.

- Darry Dawton, Francine McTold e Hugo Schront. - disse Frank, passando os olhos nas fotos - Tem lista de chamada da sexta série de 95 anexada aqui, é uma cópia... Que surpresa, seus nomes estão nela. Bruxaria e fantasma, uma combinação inédita. Nenhuma informação sobre os pais do Jimmy?

- Após a morte dele, tudo que se sabe é que sumiram do país. Não existe nenhum paradeiro conhecido. - disse Carrie - Mas nada é impossível. Pro fantasma do Jimmy estar matando ex-colegas que apoiavam a sociedade, me faz repensar se uma nova formação está ou não na ativa.

- Primeira parada: Danverous High School. Mais uma vez. - disse Frank, sacando as chaves do carro.

                                                                                        ***

Pelo corredor que direcionava à sala de arquivos, Frank caminhava ao lado de diretora Donna Leigh, revendo-a após um ano desde o caso envolvendo o fantasma de Albert - outra vítima de bullying.

- Deve estar tendo um belo déja vú nessa hora, né? - perguntou Frank, bem-humorado.

- Nem me fale. Ao menos, nesse caso, a escola permanece fora de perigo. - disse Donna - Mas como se trata de um problema com relação direta, sempre fico disposta a abrir as portas ao senhor.

- Muita gratidão pela gentileza, diretora. - disse ele. Ambos se aproximavam da sala. Donna inseriu a chave, abrindo a porta - Então nessa sala tem arquivos mais densos que na biblioteca né?

- Exato. Fique à vontade. - disse ela, sorrindo.

- Ahn, só uma pergunta... Não tem percebido movimentos suspeitos que façam lembrar bullying? Tipo, alguém reportando casos isolados, perseguições, maus-tratos...

- Chega a ser estranho tudo estar tão tranquilo. Pode me dizer quem é esse aluno chamado Jimmy?

- Da turma de 1995. Ele foi morto pelo que acredita ser uma seita criada por outros alunos. Só quero verificar as fichas escolares dos alunos que compactuavam das intenções do grupo mas não exatamente participavam dele. Houveram mortes recentes... desses alunos. Minha teoria é de que alguém virou a casaca tarde demais e anda querendo vingar o Jimmy eliminando um a um, apesar dos membros ativos da seita terem desaparecido.

- Um serial killer cujo modus operandi é igualzinho ao dos alunos malfeitores que mataram a única vítima dessa seita anti-canhotos e que só agora está sendo vingada ? Controverso e intrigante. Bem, detetive, espero que aproveite. Foi bom revê-lo.

- Digo o mesmo. Até mais e obrigado, de verdade.

O detetive mexera nas gavetas dos armários da sala iluminada por lâmpada amarela econômica. Porém, uma estranha sensação de frio o desconcentrou. A luz tremeluziu até piscar intermitente.

Largando os arquivos, Frank levantou-se, ouriçado aos sinais. Antes que sacasse sua pistola com balas contendo sal, a luz apagara. Num segundo, reacendeu.

Jimmy surgira na sua frente. Frank assustou-se, derrubando as pastas da mesa.

- Nossa... Escolheu um péssimo jeito de aparecer. Mas não me surpreende vindo de um fantasma.

- O que você quer aqui? Quem é você? - perguntou Jimmy, aproximando-se com irritação.

- Ei, ei, calma. - disse Frank, erguendo de leve suas mãos - Sou um amigo, não vou te machucar...

- Você tá armado com balas que tem sal, posso sentir... é estranho.

- Sim, eu tô... mas quero apenas conversar. Não tô investigando pra te fazer mal. Eu juro.

A face do garoto exibia uma furiosidade tremenda. Seus lábios estavam ressecados e sem cor.

- Posso tocar em você?

Frank expressou confusão, mas não estava menos tenso pelas intenções de um fantasma vingativo serem altamente imprevisíveis além dos mesmos serem bem voláteis como ele conhecia.

- Você morreu há 22 anos. Não é pouco tempo pra um fantasma ter dificuldade de se adaptar, você sabe... não conseguir tocar em nada, nem em outros fantasmas.

- Então sabe que posso toca-lo. Também quero ajudar. - disse Jimmy, chegando perto - Por favor...

Pegara na mão direita de Frank, segurando-a firme. O espaço ao redor de ambos modificou-se drasticamente e uma atmosfera diferente se instalou. Não estavam mais na sala de arquivos mas sim na classe da sexta série em pleno momento da quebra de braço entre Jimmy e Dylan.

- Caramba, não sabia que fantasmas podiam distorcer a realidade. - disse Frank, olhando à sua volta.

- Não distorci nada. O que fiz foi criar uma dimensão a partir das minhas lembranças para te mostrar o que aconteceu naquele dia. - explicou Jimmy - Aquele ali é o Dylan.

- Então isso aqui é a manifestação das suas memórias... Interessante. - disse Frank, impressionado - É tipo uma ilusão psíquica ou como viagem no tempo. Estamos no mesmo dia em que você morreu?

- Sim. Quando perdi essa quebra de braço, eu tive que comparecer no pátio no horário combinado, à noite. Foi o pior dia da minha vida. O Dylan me ameaçava... - disse ele, fazendo movimento com o polegar "cortando" a garanta - ... todos os dias até que me desafiou com a aposta. A SOD, como todo mundo chamava, adorava uma entidade macabra...

Ele foi interrompido ao rever sua perda. Ouviu novamente as zoações e chacotas.

- Que entidade era essa, Jimmy? - perguntou Frank, observando com pena.

- O Retalhador de Almas. Era assim que o Dylan chamava. A minha alma seria entregue à ele. Na verdade, queriam provar se eu tinha ou não alma por ser canhoto.

- Motivando o sacrifício. - disse Frank - Bando de lunáticos...

- Agora eles sabem que eu tenho. - disse Jimmy, soltando a mão de Frank. A sala de arquivos num instante retornara ao campo de visão sem que ele percebesse - Eu odeio todos eles.

- Espera, Jimmy... Não precisa disso, é desnecessário matar quem apoiava os idiotas.

- Eles me humilharam!

Uma das lâmpadas explodira queimando devido à raiva de Jimmy.

- Tem que escolher um caminho seguro e iluminado. - disse Frank - O ódio consumiu seu espírito.

- É o que me tornou mais forte desde então. Não vai ser louco de tentar me impedir né?

O fantasma sumira num piscar de olhos. Sozinho, Frank suspirou forte em preocupação.

                                                                                ***

O sinal para os alunos saíram finalmente tocara. Um deles, da quarta série, descia calmamente a escada com poucos degraus com sua mochila. O garoto usava jaqueta azul e óculos redondo e caminhava sozinho em direção à sua casa. Alguém o vigiava encostado numa árvore e logo passou a segui-lo, sendo um rapaz encapuzado. Com a distância se encurtando, o menino, por instinto, olhou para trás. Coincidentemente, Frank saía da escola.

Os passos do perseguidor aceleravam. Sua falha foi deixar-se levar pela emoção, acabando por sacar uma faca. O garoto deu novamente uma olhada nervosa e correu amedrontado, fazendo o ameaçador correr no exato na sua direção no exato instante. Ao virar o rosto à direita, Frank notara e agira.

O garoto esbarrou numas latas de lixo, mas conseguiu seguir, dobrando para uma rua deserta. Frank, por sua vez, corria atrás do agressor a toda velocidade, alcançando-o facilmente.

O cara encapuzado não achou o menino em parte alguma, mas foi pego por Frank que o ameaçou com uma arma.

- Larga a faca. Se resistir, atiro em legítima defesa. - disse ele, severo, apontando o revólver.

A faca caíra e o encapuzado fora colocado à parede. O detetive arrancou a balaclava que ele usava.

- Vamos ter uma conversa na delegacia.

- Não tão rápido. - disse ele, logo tocando o rosto - Durma. - uma luz verde emanou da palma da mão.

Frank caiu completamente desacordado. O rapaz limpou seus ombros e telefonou à alguém.

- Acredita que tive o azar de ser flagrado por um federal? Pus ele numa soneca, quero surra-lo até dizer chega, mas tenho que ir atrás do pirralho.

Um golpe por detrás da sua cabeça veio de uma barra de ferro, derrubando-o.

A arma improvisada estava com o garoto que logo se esforçou para acordar Frank. No celular do agressor uma voz falava alto e não estava em viva-voz. Felizmente, o detetive acordou.

- Você tá bem? - perguntou o garoto - Obrigado por me salvar. Eu nem sei quem ele é.

- De nada, amigo. - disse Frank, levantando-se - Peraí... Que eu me lembre foi ele que me colocou pra dormir. - apontou para o bruxo - Você nocauteou ele?

- Espero que eu não tenha o matado. Eu vi tudo, você apontando a arma, intimidando ele, só não entendi porque você desmaiou.

- Olha, acho que sei porque. - disse Frank, pensativo - Como se chama?

- Harry.

- OK, Harry, vou te livrar de um estorvo. - disse ele, ligando para a tropa do DPDC - E garantir que você fique seguro. Há muito mais de onde esse cara veio.

                                                                                     ***

Poucas horas depois, na sala de interrogatório, o detetive entrara achando o jovem bruxo dormindo. Como segurava um arquivo bem volumoso, jogara sobre a mesa metálica fazendo um baque alto.

- Merda! - disse o bruxo, acordando assustando - Ah, tinha que ser você... Isso não se faz ,cara.

- O que não se faz... - disse Frank, sentando-se - ... é ficar de perseguição com gente que não faz nenhum mal. Pensei que era só um zé droguinha meliante que sai assaltando aleatoriamente. Qual é a desse preconceito contra canhotos?

- Achei que já soubesse. - disse ele, inclinando-se à ele - Canhotos não possuem alma. Ficou provado na noite do ritual em 1995, deve estar detalhado aí nessa bíblia. Eles morreram.

- Todos eles se deram mal no ritual? - perguntou Frank, intrigado.

- Pelo que sei, o Retalhador se enfureceu por ter se sentido traído pela falha dos antigos membros...

- Peraí... Tá dizendo antigos membros no sentido de... Então é isso, a fraternidade tá de volta né?

- E a todo vapor. - disse ele, sorrindo - Coincidindo com as mortes dos ex-alunos.

- Causadas pelo fantasma do garoto morto na noite em questão.

- Fantasma? Pra mim era um matador em série. - ele ficara aflito - I-isso... desconstrói nosso objetivo.

- Contraria sua crença ridícula. Não importa se é canhoto ou destro, todo mundo é humano, ninguém é superior ou inferior a ninguém. Depois que morrer, o fedor vai ser o mesmo. A fraternidade vai agir hoje à noite? Responde e te garanto que sai pela porta da frente.

- Por que eu deveria confiar em você? Me chamo Brandon. Não que lhe importe. Olha... Eles com certeza pegaram um substituto já que meu tempo esgotou. Ajudei agora?

- Obrigado, Brandon. Vou acionar uma equipe. E você... comporte-se. Nada de bruxaria.

Pela janela, o fantasma de Jimmy observava o interrogatório. Desapareceu como um holograma após ouvir a informação de Brandon.

Pela noite, em um museu de arte, um dos ex-alunos trabalhava como guarda noturno por meio período, seu nome era Bart Roover, um homem afore-descendente de estatura mediana. Dentro da ala das esculturas, um barulho lhe soou estranho. Ligou sua lanterna indo conferir, atraído com a curiosidade servindo de guia. Os ruídos não cessavam, muito inconstantes. Por fim, chegara aonde acreditou não ter escutado mais nada. Porém, sentiu a temperatura decai bruscamente.

As janelas se preencheram de camadas de gelo e uma névoa se formou no chão.

- O que tá acontecendo? - perguntou Bart, apreensivo, a luz da lanterna falhando - Essa não, droga...

Como era a ala das armas lendárias, um machado de duas lâminas tremelicou na parede. De repente, ele saltou voando na direção de Bart que teve tempo só para olhar assustado.

A lâmina cortou seu braço esquerdo, derrubando-o para agonizar em dor. Depois, deu uma leve subida e descera rapidamente para tacar um golpe final no corpo. O grito ecoou imensamente.

Enquanto isso, na sala de interrogatório no DPDC, Brandon sentia o corpo convulsionar.

- Não, agora não... Você prometeu... - dizia ele, os olhos arregalados e as mãos na cabeça. Tremia tanto que a mesa balançava. Depois grunhira alto até que derrubou a mesa logo se debatendo nas paredes num surto psicótico. Agentes vieram ver o que se passava e apontaram suas armas à Brandon. O rapaz virou-se aos policiais exibindo olhos negros contornados por uma mancha negra com veias finas. Deu um macabro sorriso de dentes cinzentos.

Frank chegara minutos depois à sala encontrando os policias mortos presos no teto. Brandon estava de pé como se o esperasse. O detetive logo entendeu.

- Será que dá pra me explicar que merda aconteceu aqui?

- Digamos que seu prisioneiro é carta fora do baralho. - disse ele - Eu assumi o piloto. Prazer, sou o Dylan, o primeiro líder da SOD. E esses carinhas aí em cima... me irritaram. As almas deles tem gosto meio amargo, mas deu pro gasto, pelo menos por agora.

- O Brandon deu entender que os membros antigos morreram, incluindo você!

- Você dá muita importância pra alguém que ingressou ontem na SOD. O Retalhador não é um ser fixo... Ele se apodera da alma daquele que gerou o sacrifício... e se torna o próximo da fila.

- Já entendi a parada. Retalhar significar corromper, né? E por que só agora possuiu o Brandon?

- Ele achou que quebrei o acordo... Mas na verdade fui estimulado pelo ritual.

- Tá havendo um ritual... agorinha mesmo?! Acabei de voltar do museu onde um ex-aluno trabalhava. Braço esquerdo cortado! Bart Roover. Nome familiar?

- Oh, o Bart... Ele me ajudou a espalhar os cartazes caçoando do Jimmy. Mas enfim, dane-se. Por que não liga pra um dos caras que você enviou a escola?

O detetive discou o número de celular. Esperou vários segundos e nada.

- Ninguém na escuta. - disse Frank - Os novos bruxos da sociedade pegaram eles não foi?

- Por que não vai lá conferir? Tô te esperando. - disse Dylan, logo reproduzindo um grito agudo e reverberante que fez Frank bater suas costas na parede e estilhaçar as vidraças das janelas.

Quando se reorientou, viu que ele sumiu.

- Filho da... - disse, sentindo forte dor nas costas. A parede e parte do chão estavam rachados.

                                                                                ***

No pátio da Danverous High School, uma nova vítima, um garoto da 5ª série, estava amordaçado e sendo conduzido à força por dois membros da nova SOD. No entanto, Jimmy surgira barrando a passagem até a sala dos professores. Os outros dois membros, um rapaz e uma garota, correram.

Mas Jimmy forjou uma linha de fogo no chão para impedi-los.

- Ninguém sairá daqui vivo. - disse ele - Exceto ele. - apontou ao garoto aprisionado.

Nas proximidades, Frank encarava os corpos dos agentes, todos mortos certamente por bruxaria. Logo teve sua atenção chamada pelo alvoroço perto do pátio e correu.

- A gente se convenceu, prometemos desistir... - disse um dos membros, tentando acalma-lo.

- Ninguém vai desistir. - disse Dylan como Retalhador, aparecendo por teleporte - Vamos começar.

Frank aproveitou que Jimmy era uma distração e libertava o garoto escondido, cortando as cordas e a mordaça. Dylan não notara sua presença até aquele instante.

- Anda, corre, depressa, vai, vai... - disse Frank, baixinho, logo sacando sua arma.

- Há quanto tempo, hein Jimmy. Pode não ver meu rosto, se visse como está mijaria na cama como um pirralho medroso que você sempre foi, mas sente minha energia fluindo ao seu redor.

- Eu apareci depois da morte, não precisa mais sacrificar ninguém. - disse Jimmy.

- Mas o Retalhador quer almas... - disse um dos membros, tenso - Não importa se é canhoto, destro...

- Acertou. - disse Dylan, abrindo a boca e esticando o braço para Jimmy.

O tiro de Frank disparado contra ele interceptou a absorção. Todos se viraram estremecidos.

- Existe uma parte da história que talvez vocês não saibam. - disse o detetive - Essa coisa no corpo do Brandon é o antigo líder da sociedade transformado no Retalhador. Vai passando de líder pra líder.

- Então se Brandon matasse o garoto que pegamos... - disse a garota loira - Ué, cadê ele?

- Deu no pé, graças a mim. A seita tá desmanchada. - disse Frank, autoritário - O Retalhador matou os outros membros por achar que a alma do Jimmy escapou por uma falha deles, mas não. O plano astral foi mais rápido. Eles tiveram suas almas devoradas sem culpa. É isso que aconteceria, a história ia se repetir. Vocês morreriam, seriam dados como desaparecidos e anos depois essa mesma seita estúpida ia ganhar novos adeptos. Em quem vocês confiam?

- Tá legal, já chega. - disse a garota, respirando fundo. Surpreendendo, ela incutiu bruxaria no Retalhador com a mão esticada, torturando com inflição de dor - Íamos ser sacrificados também. Você sabia que a alma vai pro Plano Astral assim que morre e fingiu culpa-los para ter uma justificativa de comer as almas deles. Não passa de uma farsa! - fechou o punho bem forte.

Os olhos de Brandon brilharam em verde refulgindo de dentro para fora, significando uma morte ao Retalhador caído que gritou sofridamente. A luz reduziu e os olhos estavam queimados.

- Mas e o Brandon? - perguntou um deles.

- Me desculpem. Foi o único jeito. - disse a garota, triste.

Jimmy aparecera atrás de Frank. O detetive se agachou para falar com ele.

- Agora é minha vez de ser atacado.

- Não, pelo contrário. Você foi forte em tentar impedir o sacrifício, mesmo... sendo um assassino inescrupuloso. Jimmy você matou um bom número de pessoas por vingança. Tinha ectoplasma no último lugar que você passou. Isso é sinal de que o fantasma tá irado, querendo estripar alguém.

- Eu mataria eles. - disse Jimmy, referindo-se aos atuais membros - Depois de terminar com o resto. Mas, sabe... Ver o Retalhador ser morto me aliviou. Não tem mais sentido... continuar assim.

- Um fantasma pode alcançar a Eternidade... se ele perdoar a si mesmo. Pode fazer isso?

Jimmy olhou de relance aos quatro e amedrontados bruxos.

- Eles se arrependeram do que fizeram?

- Olha... pelo que a bruxa loirinha fez... é seguro dizer que eles vão largar dessa de perseguir gente canhota. Não sei como eu me encaixaria, eu sou ambidestro.

- Fala sério?

- Aham. É verdade. - disse Frank, sorrindo - Se encontrar a paz... não sentirá mais raiva nem ódio.

- Talvez um dia. Obrigado, Frank. - disse Jimmy, logo desaparecendo como uma projeção.

O detetive logo usou sua visão periférica e percebeu os bruxos escapando de fininho.

Dera um tiro no chão para intimida-los.

- Estão pensando o quê? Iam sair lisinhos dessa? Não mesmo.

- Você viu, a Candice matou o Retalhador. - disse um deles - Representa todos nós. Fomos traídos.

- Mas sequestraram um inocente que vai prestar depoimento. Além disso, são bruxos.

- E você pelo visto um caçador. - disse Candice - Meu pai me contou sobre vocês, fingem ser normais para resolverem casos paranormais por aí.

- Então façamos um acordo: Não revelo o segredo de vocês e vocês não revelam o meu. Fechado?

Um instante de silêncio deixou Frank meio nervoso.

- Antes a prisão do que encarar a repercussão da nossa magia sendo exposta pra todo mundo. - disse Liam, um dos rapazes - A gente acreditou numa bobagem esse tempo todo.

- Pois é. - disse Frank - Se arrependam... Pra quando responderem pelos atos sigam fortes e melhores.

                                                                                ***

Na manhã seguinte, Frank abrira a porta da sala de Carrie batendo devagarinho.

- Tá ocupada? Se sim, eu...

- Ahn, não, entra aí. - permitiu ela que digitava no computador - Não tenho nada importante... pra fazer agora. - apertou no Enter como se terminasse algo. - O que você manda? Até o momento nenhum caso bizarro registrado, terá que esperar até mais tarde.

O detetive sentou-se na cadeira, suspirando longamente.

- Ontem de manhã... - disse ele, mexendo nuns lápis enquanto contava - ... recebi uma ligação anônima. Da Megan.

- O quê?! A secretária metida... te ligou. Como assim? O diretor tá sabendo?

- Por enquanto não. Mas escolhi te contar primeiro. Não era Megan.

- Quê? Frank... Era a Megan ou não? Você tá estranho... Quer chegar num ponto específico, mas não sabe como direcionar a conversa... porque está no mais alto nível de estresse emocional.

- A Megan tá morta. - disparou ele, surpreendendo Carrie - Ela não era quem dizia ser. Foi tudo um disfarce muito bem projetado, ela... como posso dizer?

- Frank... - disse Carrie, tensa - Só seja direto. O que você quer me contar?

- Você é super-curiosa, deve ter mexido nas coisas dela antes de mim.

- Sim... E encontrei um diário velho com símbolos e inscrições místicas. A vadia é uma bruxa.

- Esteve infiltrada no DPDC pra extrair informações minhas. - disse Frank - Mas eu já sabia antes. Conheci a verdadeira Megan em Vanderville. Aliás, a Dorotheia.

- Como é? Em Vanderville?! Essa história tá se aprofundando de um jeito nada bom...

- Dorotheia, esse é o nome real dela. Uma bruxa milenar que mantinha um caso com meu tataravô, Nathaniel Montgrow e seduzida pela vingança por conta da traição dele... o amaldiçoou. Assim surgiu a primeira Besta de Vanderville. - ao passo que Frank avançava Carrie ficava boquiaberta - Ela apareceu de repente depois que matei. - o semblante de Frank tornou-se emocionalmente frágil - E me contou absolutamente tudo. A maldição... passava por mordida de caçador pra caçador, de geração à geração... e o final é óbvio. - os olhos marejaram.

- Fra-Frank... Caramba, que choque. - disse Carrie, pondo as mãos na cabeça baixa - Meu deus. Essa mulher... arruinou a sua linhagem. Isso é horrível... - cobriu a mão com a boca por um segundo - Ela fez com que você...

- Ela queria apenas se livrar... do tormento que é ser uma bruxa. A maldição que ela pôs também cobrou lhe um preço. - a voz de Frank tornou-se chorosa e uma lágrima caiu - Daí ela tirou o anel mágico... e queimou no sol bem na minha frente. A única coisa que mantinha ela viva.

- Vadia egoísta... - disse Carrie, atordoada - Que a alma dela apodreça no inferno.

- Ela quis também que isso acabasse para nós dois, mesmo que... eu sofresse. O primeiro caçador a matar a besta... é também o último da linhagem. Era o meu destino acabar com esse ciclo.

Carrie levantou-se da cadeira sem tirar os olhos do amigo e aproximou-se dele com lágrimas.

- Por isso se auto-exilou. Quis superar o luto sozinho. Você foi forte... Te admiro por isso.

- Eu... eu fiquei sem chão. Todo esse tempo... com tanta expectativa... pra acabar desse modo? Isso acabou comigo. - disse Frank, derramando mais lágrimas - Eu matei meu próprio pai... Carrie, eu matei meu próprio pai. - baixara a cabeça, desabando em soluços.

A assistente o abraçou forte e compartilhou suas lágrimas com o melhor amigo que teve sorte de conseguir e que naquele momento liberava novamente toda a dor que conteve nos últimos 3 meses.

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.

*Imagem retirada de: http://www.queromedo.com.br/2014/03/as-criancas-de-olhos-negros.html

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