Frank - O Caçador #15: "BBP - Big Brother Paranormal"


Aquele espaço não parecia o mais confortavelmente adequado para interagir diante de uma câmera cuja luz forte banhava até os cantos mais opacos do lugar. Frank sentara-se na cadeira, meio retraído e lançando uma expressão de ansiedade.

- Essa coisa já tá ligada? - perguntou, apontando para a câmera - Não me disseram o que é pra fazer.

- Sr. Montgrow... - uma voz sussurrava dos "bastidores" - O propósito do nosso programa...

- O quê? Fala mais alto. - disse Frank, inclinando-se para ouvir melhor - A gente já começou aqui?

- Conte ao público qual foi sua experiência paranormal mais aterrorizante.

- Ah sim, então é isso. Bem, pelo jeito vou precisar forçar minha imaginação.

- Ué, mas por quê? Problemas de memória? Nossa, seria um fiasco...

- Fiasco é eu ter que gravar vídeo pra uma coisa ridícula e mequetrefe dessas justo no meu armário. - reclamou ele, aborrecido.

- Que falta de respeito com nosso trabalho, Sr. Montgrow. - disse a misteriosa voz - Se não fosse ao vivo faríamos questão de vetar isso do corte final. Não, pensando melhor, acho que os fãs querem um pouco de enervação, sabe... caos na tela. A sua sinceridade ácida é um prato cheio pra audiência.

- Me diz uma coisa: Quem na juventude de hoje em dia vai se interessar por isso? Achei que os programinhas desse tipo atualmente se vendem pra mídia, manipulam os votos e com inclusão de peitos, bundas e sexo, acho que é disso que eles querem saber, isso é o entretenimento deles.

- O sobrenatural ainda ganha as pessoas, caso não saiba. Não importa se é real ou não...

- Então tá praticamente confirmando que posso inventar qualquer coisa aqui... - disse Frank.

O cameraman estalou os dedos, chamando ao detetive.

-  Sr. Montgrow, entraremos em transmissão em 10... 9...

- Dane-se essa merda, nada pode mudar o fato de que vocês invadi...

- Sr. Montgrow... - disse a voz do apresentador, a mesma que conversara com ele antes - Compostura.

A luzinha vermelha da câmera acendeu seguido de um bipe baixinho.

Frank encarava diretamente com um semblante de seriedade, ainda sentindo sua propriedade violada.

- Quando eu era criança... Esse é jeito mais clichê de começar uma história, mas "Era uma vez" consegue ser pior... Desculpem, não tô afim de enrolar esse quadro. Bom, eu fui uma criança de infância relativamente normal. Num certo dia... segui um esquilo no bosque no meio de um piquenique em família, numa das raras vezes que nos reuníamos pra alguma coisa divertida, um passeio, essas coisas. - disse ele, coçando a cabeça - Então... na parte que segui o esquilo... ele entrou numa toca maior, bem maior do que o seu tamanho normal, acho que um boi dava pra entrar nela. A cada passo eu sentia o clima se alterar, o vento ficou forte e gelado, a nebulosidade aumentou, era como se paisagem bela do lugar se desfazia aos meus olhos. Entrei na toca. Procurei o esquilo, mas... não o via em parte alguma. Pela única fresta que entrava luz... pude observar... um animal, ou parecia um, me encarar com aqueles olhos vermelhos redondos na partezinha escura. Assim que ele abriu aquela bocona cheia de dentes afiados e fininhos, eu corri desesperado, mas por sorte não fui seguido. Por isso, eu alerto: Nunca siga coelhos, nem esquilos ou qualquer outro roedor... Se ele chegar até uma toca ou buraco, não vá até lá de forma nenhuma. Nem tudo é exatamente o que parecer ser. O que aconteceu no final? Voltei pros meus pais, tentando fingir pelo resto do dia que não aconteceu.

A câmera havia cortado para uma tela preta abruptamente, logo mostrando o letreiro do programa que tremia e no fundo uma imagem de estática azul de TV que se clareava.

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CAPÍTULO 15: BBP - BIG BROTHER PARANORMAL

Hospital Emergencial Blodstruck - 12 horas antes

A instituição médica em estado precário frequentemente era guardada por habitantes um tanto indesejáveis. Acontece que decorrente de uma tragédia, o lugar não tornou-se tão abandonado. Os olhos queimados das pessoas fitavam Frank com cólera, cada um deles avançando agressivamente.

Duas pessoas estavam atrás, um rapaz e uma moça, abraçados e amedrontados com o que viam.

O detetive disparava balas contendo sal do seu rifle a cada vez que surgiam e não paravam de surgir nem dando cinco segundos de intervalo.

- O que está fazendo? - perguntou o rapaz - Parece que se multiplicam quando atira!

- Olha, amigo... A culpa não é minha que as balas com sal não seja uma fraqueza muito eficaz. - disse Frank, recarregando depressa - Só tô tentando assusta-los, fiquem no círculo.

- Se depender disso ficaremos aqui pra sempre. - reclamou a garota, uma moça loira com uma tiara azul que se destacava - Em vez de intimida-los, só tá enfurecendo eles mais.

- Katie, para de amolar o cara. A gente vai ficar bem..

- Não tem manada bem, Jack! Pra mim chega! - disse ela, se desprendendo do companheiro.

A janela da sala abriu-se de repente, deixando um forte vento entrar, mas com isso o círculo era desfeito fazendo ambos ficarem à mercê. Não tardou para mais fantasmas aparecerem, bem próximos aonde estava o círculo, mirando na dupla. Frank disparou nos dois fantasmas foram repelidos, logo olhando no seu relógio que estava cronometrado.

- Tá quase na hora. - disse ele, dando um sorriso torto.

- Quase na hora pra quê? - perguntou Jack, tenso.

- Melhor vocês fugirem o quanto antes, mas não fiquem próximos do corredor daqui a três minutos.

- Mas por que? - indagou Katie, atordoada - Somos os sobreviventes aqui, temos direito de saber...

- Katie, vambora, precisamos confiar nele. - disse Jack - Na verdade, até pensei em sugerir que pudéssemos ser a sua retaguarda, só que fiquei com vergonha de pedir umas armas, mas por outro lado é desmoralizante ser a vítima que parece o primeiro cara a morrer num filme de terror.

- E eu a loira que sempre morre nesses filmes idiotas. - disse Katie.

- Retaguarda?! Nem pensar. - negativou Frank, carregando seu rifle - E aqui é a mais pura realidade, você acabaram de enxergar com esses olhos que a terra há de comer, fantasmas existem e não é nada legal caça-los, que isso sirva de...

- Atrás de você! - gritou Jack.

Frank sequer virou-se para o fantasma, disparando certeiramente com o rifle para trás sobre o ombro direito. Mais deles surgiram, tais como uma senhora de camisola branca com cabelos desgrenhados e um homem gordo que espumava ectoplasma pela boca. É característica geral dos fantasmas possuíram olhos extremamente fundos e de visão penetrante que provoque temor à seu alvo.

- Agora vão! - disse Frank, atirando e andando para trás. Saíra correndo da sala, seguindo por um caminho oposto ao do casal. As lâmpadas velhas caíam aos pedaços e o chão tremia.

Se encostou perto de uma série de armários, verificando a contagem regressiva.

- Muito bem, quase lá... - disse ele, ofegando e suando - Só mais um pouquinho... e kabum.

Um tremor foi sentido paralelamente a um estrondo. Novamente fantasmas apareciam. Porém, Frank escutou apenas "click click" ao apertar o gatilho, dando margem para ser atacado. Um dos fantasmas usou telecinese lançando-o contra a parede e depois contra os armários.

Sacou uma sub-metralhadora e deitado atirou em todos que enxergava. Um deles foi habilidoso em desviar das balas e pega-lo pelo pescoço para enfim joga-lo. O corpo de Frank bateu no teto e impactou no chão, mas seu vigor não enfraqueceu. Mirou com precisão e disparou, logo levantando-se. A munição da metralhadora havia acabado. O detetive novamente estava cercado de mais fantasmas, alguns sendo os mesmos que repeliu pouco antes. E aumentava constantemente...

- Tá legal, eu violei o território de vocês... Pena que vou ter que trapacear pra não caírem matando de uma só vez. - disse ele, tirando do sobretudo uma espécie de medalhão com uma safira incrustada.

Em contato com a manifestação fantasmagórica, o objeto emitiu um brilho azul da safira. Os fantasmas, em sequência, começavam a serem sugados para dentro da pedra virando "fumaças" cinzentas. Frank cerrou os dentes, segurando o medalhão, devido à força enorme que absorvia.

Inúmeros fantasmas eram tragados para o artefato como um vórtice sobrenatural.

Após o hospital ser esvaziado, a safira parou de brilhar. Frank mal podia acreditar no que viu.

- Escapou da devolução hein. - disse ele que imaginava se tratar de uma réplica de plástico.

No lado de fora do hospital, Frank se despedida de Jack e Katie que escaparam graças à explosão.

- E fiquem cientes disso: Nada de visitar locais assombrados.

- OK, pode deixar, Sr. Escoteiro. - disse Katie, quase rindo.

- Ficamos curiosos sobre como deteve os fantasmas. - disse Jack.

- Usei um truque mirabolante. Segredo de caçador. - disse Frank, dando um sorriso fechado. Imitou uma saudação militar como se prestasse continência - Até mais, se cuidem hein.

- Obrigado, detetive. - disse Jack.

- Valeu mesmo. - disse Katie. Ambos caminhavam até o carro pelo qual vieram.

O celular de Frank vibrou indicando ser nova mensagem. Ao verificar, o detetive franziu o cenho.

- "Parabéns, você acaba de ser premiado pela compra de um dos nossos produtos." - disse ele, lendo a mensagem - Reality show? Mas que... - pensou um pouco - Ah não, puta merda...

                                                                               ***

Enquanto dirigia se aproximando de sua casa, Frank avistou boquiaberto algumas vans brancas com antenas de TV instaladas. O logo da DTV, principal emissora local, era inconfundível. Só não pisou fundo no acelerador para não causar uma impressão que não desejava.

Abriu a porta de casa e foi surpreendido com estouros de confetes, papel picado e balões coloridos.

- Que palhaçada é essa? Até parece que é meu aniversário. - disse ele, tirando os confetes e papéis dos ombros - Alguém pode me explicar o que diabos tá acontecendo aqui?

- Seja muito bem-vindo, Sr. Frank Montgrow. - disse um cara vestido de terno marrom com um microfone e um cameraman atrás dele - Eu sou Ash Nexton e estamos ao vivasso pela DTV para congratula-lo, temos um grande vencedor para finalmente começarmos nossa diversão. - se aproximou de Frank bastante animado - Agora dá um sorrisinho pra câmera... - tentou forçar com os dedos um sorriso no detetive - ... porque hoje começa o grande espetáculo que nenhum filme de terror conseguirá um dia reproduzir. Mas nada de sopa de ervilha, sangue falso ou atuações forçadas, meus caros. O negócio aqui é brabo! - tocou Frank no ombro - Nosso ilustre ganhador adquiriu um dos produtos do meu maior empreendimento, aMysticMarket, parceira da nossa produção que há anos, após muitas lutas no absurdo judiciário desse país, teve a chance de realizar esse sonho. Por que nossa ideia foi barrada? Sabe como são aquelas acusaçõezinhas infundadas de cópia... Mas quem liga pra isso? Finalmente estamos aqui e seguiremos até o final com nossos participantes em meio a um cenário possivelmente sombrio.

- Escuta aqui... - disse Frank - Posso falar? OK. Eu sinceramente não tô entendendo nada. Não lembro de nenhuma promoção quando comprei na loja virtual...

- Ah, mas pra isso que servem as surpresas. Não é pessoal? - disse Ash, dando uma risada rápida. O homem aparentava ter em torno de 30 e poucos anos, com cabelo castanho curto bem penteado e um rosto branco meio quadrado - E lá vem outra: Tem liberdade pra escolher dois amigos.

- Acompanhantes?! Olha, não sei isso vai dar certo... Além do fato de invadirem minha propriedade, eu não gosto de ser filmado. Então, será que posso pedir, por obséquio, um momentinho em particular? Respeito o projeto, mas comigo isso... - deu de ombros.

A câmera se afastou de Frank, focando num entusiasmado Ash.

- Ah, vejam aí o que faz o nervosismo né? Muito comum entre pessoas que se veem ganhando prêmios e passam na TV. O coração palpita, o corpo treme, é muita emoção. Mas já posso adiantar... - aproximou-se demasiadamente da câmera - Que ele ainda não viu nada. O show ainda nem começou.

- Eu tô ouvindo isso aí. - falou Frank, sua voz distante.

- Contenha sua animação, Sr. Montgrow. Logo mais, no próximo bloco, conheceremos... as outras vítimas. Vocês está assistindo o BBP, onde até o lugar mais tranquilo pode guardar segredos... - fizera uma expressão com olhos estreitados querendo transmitir mistério à audiência.

Frank se refugiou no seu quarto, trancando a porta de imediato e logo telefonou para Carrie encostado na porta. A ansiedade o atormentava como nunca antes em um caso difícil.

- Onde você enfiou esse celular? Atende rápido... - disse, baixinho.

- E então, como foi a faxina no hospital? - perguntou ela na linha.

- Correu tudo bem graças ao... - de repente Frank recordou a mensagem e a razão pela qual obteve o prêmio - Olha, Carrie, quero que entenda, vou ser bem direto com você... Eu tô preso na minha casa.

- Se quis ser direto já começou errando feio e rude. - disparou ela - O que tá rolando?

- Há pouco recebi uma mensagem dizendo que ganhei um prêmio por ter comprado um produto... antes não lembrava bem o que era, mas agora... Tudo se encaixa, é o medalhão, comprei na loja virtual, a MysticMarket. Pelo visto, é um item super-raro e me retribuíram com um... programa daqueles com câmeras instaladas, aí tem um prêmio que até o momento não me disseram qual...

- Tá falando de... um reality show? - indagou Carrie, o tom de espanto - Na sua casa!? Caramba...

- Liguei pra você exatamente pra te solicitar pois tenho permissão de escolher dois amigos.

- Pode contar comigo pro que der e vier. - a frase da assistente fez o detetive expressar desprezo.

- Não tá pensando só em aparecer na TV e no prêmio né? Carrie, eu tô numa enrascada, isso aqui não é motivo pra se animar, talvez pra você sim, mas pra mim isso é um pesadelo. Invasão de propriedade é crime previsto em lei...

- Que se dane a lei, Frank. Muito provavelmente estamos feitos. Pergunta lá quanto vale o prêmio.

- Acho que você não captou bem a mensagem, então serei mais claro e adicionar uns detalhes pra melhorar esse teu entendimento: O medalhão anti-éter tá envolvido nessa história e o apresentador, um maluco chamado Ash Nexton, tá querendo me tirar do sério e é dono da loja. É um programa onde os participantes devem contar alguma experiência sobrenatural. E você sabe como funciona nesse tipo de coisa... eles vão nos dar roteiros, a gente decora as histórias e segue a programação.

- Bom, no seu caso a autenticidade vai ser um excelente reforço para a qualidade. Sem dúvidas.

- Isso tá muito suspeito pro meu gosto... - disse Frank, mordendo os lábios - Liga pro diretor.

- Espera, mas ele também? Disse que era pra escolher dois amigos, não é obrigatório.

- Carrie, foca no mistério. Tive minha propriedade invadida, tem um bando de cameramans chatos e um apresentador pé no saco, vão me espionar o tempo todo, então vem logo, mas liga pro diretor. Por favor, a situação tá complicada, mas com vocês ao meu lado... vai ser moleza segurar essa barra.

                                                                                  ***

Ao voltar do seu quarto, Frank tomou um susto com a câmera bem no seu rosto.

- Isso não tá gravando né?

- Relaxa, é apenas um teste de material. - assegurou o homem - Carece de uns ajustes...

- Quer saber? Eu não ligo. - disse Frank, logo indo em direção à Ash que verificava o microfone - E aí, Sr. Nexton, tá fazendo os preparativos finais do show de horrores falso que vai ao ar?

- Me chame apenas de Ash. - disse ele, logo batendo de leve no braço de Frank - Somos parceiros, cara. Estou te fazendo um favor. Reciprocidade é minha grande marca.

- Ah é, e o que fiz por você que justifica toda essa parafernália aqui? - encarou a instalação das câmeras que acontecia naquele exato momento.

- Eu vendi meu peixe mais suculento e você adquiriu de bom grado. Não é coincidência justo você ser o felizardo. - disse Ash, olhando-o como se sentisse orgulho e satisfação por ele.

- Tem algum lance por trás disso e vou descobrir, cedo ou tarde. - disse Frank, a expressão austera.

- É isso que os melhores detetives fazem né? Desvendam mistérios... Você não vai encarnar um personagem aqui, eu sei disso. As pessoas querem a verdade e é o que daremos.

A porta se abrira repentinamente. A chegada surpreendeu Frank que se atentou às malas trazidas.

- Muito bem, podem começar expondo os termos e de preferência a recompensa pela participação. Mas me permito concordar previamente. Onde eu assino? - disse Ernest, com roupas sociais e sua bagagem. Frank cobriu o rosto meio preocupado, mas Ash era só empolgação.

- Ah, eu sabia. - disse Ash à Frank - Demorou esse tempo todo pra chamar os amigos né?

- Isso não quer dizer nada. OK? Eu chamei eles pra não ter que aguentar sozinho.

- Quero que me confirmem de uma vez. - disse Ernest, aproximando-se - São 10 milhões ou tem mais alguns zeros na conta? Se sim, é bom que não tenha repartição.

- Ahn... - disse Ash, se inclinando de lado para cochichar com Frank - Eu apoio você convida-los, mas mentir não condiz com nossa política.

- O quê? Não fui eu que inventei essa história de 10 milhões... - disse Frank, enervado - Diretor, olha... A Carrie não fez por mal, você sabe bem como ela é, mas garanto ao senhor...

- Eu caí numa cilada. - disse Ernest, frustrado - Ah Wood, você me paga...

- Pra ser sincero, eu que tô numa cilada. - disse Frank, apontando a si mesmo - Não concordo com o que a Carrie fez pra te convencer, mas por favor, eu...

- Sem desculpas! - disse Ernest, virando as costas e pegando as malas altamente irritado.

- Ei, espera um minuto aí, diretor. - disse Frank, tentando barra-lo - Deixa a ganância em segundo plano, pois mesmo que haja um prêmio... - olhou de forma desconfiada para Ash - ... as presenças do senhor e da Carrie são fundamentais. Não me deixa na mão, por favor. - tocou-o no ombro.

O diretor do DPDC pensou e repensou por vários segundos, mantendo o semblante irritadiço.

- Ash, será que dá pra explicar como vai funcionar o jogo? - pediu Frank.

- Espera que isso me faça mudar de ideia? - indagou Ernest - O programa não é apenas relatar experiências sobrenaturais? Devo dizer que tenho algumas lembranças...

- Na verdade, a gente vai prosseguir da seguinte forma: Vocês serão atormentados por "fantasmas". - disse Ash, fazendo aspas com os dedos - Obviamente não fantasmas reais...

- Vai editar o programa pra tapear o público?! - disse Frank, revoltado - Mentir não é a política né?

- Eu me referia a mentira... fora da produção do reality. - disse Ash, pouco seguro - Vocês entendem.

- Desde que haja um prêmio, não ligo se vão usar efeitos especiais idiotas. - disse Ernest, logo virando-se para Frank para deixar claro seu posicionamento - Mas ficar ao lado do meu amigo é a prioridade. Eu devia denuncia-los pela invasão... mas escolho apoia-lo, é uma situação nova pra ele.

Carrie entrara com algumas bolsas, vestindo seu sobretudo de trabalho.

- Que bom que chegou, Carrie. - disse Frank - Será que dá pra gente conversar... em particular?

- O vencedor irá ganhar uma viagem com todas as despesas. - revelou Ash - Todas mesmo.

- Isso aí estava no protocolo ou inventou só agora? - perguntou Frank.

- O programa não é nada demais. - disse Ernest para Carrie - Vamos apenas fingir que fantasmas existem e estão nos ameaçando. O lance é provar que a casa do Frank é mal-assombrada.

- Já tinha sacado, não dá pra esperar grande coisa de programas assim. - disse ela em tom baixo.

- Vamos Carrie. - disse Frank - Nos deem um minuto, por favor.

- Permissão concedida. Não vão conspirar contra o programa hein. - disse Ash. Um dos cameramans resolveu segui-los. Frank e Carrie seguiam por um corredor escuro a caminho da sala de arquivo. O detetive, sentindo-se perturbado, parou e voltou-se ao funcionário demonstrando o mesmo ar raivoso.

- Um pouco de privacidade é pedir muito?

- Desculpe, é outro teste de material.

- E precisa ficar me filmando toda vez?

- Bem, você é a estrela do programa... Foi a escolha óbvia, não me julgue.

Frank grunhiu voltando a conduzir Carrie na direção da sala. O detetive sacara a chave pois aquele era o único lugar que Ash e sua equipe nunca teriam acesso para a instalação.

- Enfim seguros, longe de olhos espiões. - disse ele, fechando a porta - Chave-mestra. Não saio de casa sem ela e certamente nenhum deles instalou câmeras aqui. - falou, guardando a minúscula chave no bolso do sobretudo.

- Bem, Ash Nexton é nosso suspeito de um caso... que não parece dizer absolutamente nada. - disse Carrie, olhando os armários de ferro onde ficavam as diversas pastas contendo as informações deixadas por John Montgrow - Mas o medalhão deixa a ponta de dúvida. Como sabemos, ele absorve qualquer fonte paranormal, sobretudo fantasmas. É uma relíquia de um antigo shaman, inclusive.

- O problema é que não faço a menor ideia do que acontece com os fantasmas... - disse Frank, retirando o medalhão anti-éter e mostrando-o - ... quando entram na safira. Como essa pedrinha comporta tantos fantasmas assim? Não tem limite?

- Não me diga que... você o usou contra os fantasmas do hospital?! - disse Carrie, surpresa.

- Tá, eu sei, é pura trapaça, mas não teve outro jeito. Você pode dar uma pesquisada. Trouxe o laptop?

- O carrego como um bebê. Mas provavelmente o seu pai deve ter conseguido um conteúdo mais vasto e nessa parte que você entra. - disse ela, sorrindo torto - Quem vencerá? O virtual ou o físico?

- Ótimo, eu faço. mas vou mante-lo seguro no meu armário, nunca se sabe se tem algum ladrão infiltrado nessa equipe do Ash. - disse Frank - Vamos descobrir a parada e acabar com esse circo.

Eles mal sabiam naquele instante que alguém do grupo de Ash estava dentro do armário no controle de aparelhos que captavam a escuta implantada próxima à porta do arquivo. O homem dera um sorriso fechado pretensioso segurando seu head-fone preto, logo em seguida passando uma mensagem.

                                                                                   ***

Já era bem tarde da noite e Frank necessitava descansar após um longo dia mentalmente se desgastando. Com seu pijama azul de seda encaminhava-se para o quarto, bocejando. Porém, Ash novamente veio lhe importunar tocando o dedo no ombro esquerdo do detetive para chama-lo.

- O que é que foi? Ah não, é você outra vez... - disse Frank ao virar-se com os olhos pesando de sono.

- Calminha aí, detetive, vim só conversar. Vê se não pensa em me fazer rolar escada abaixo.

- Você acaba de me dar uma excelente ideia pra ter uma noite tranquila.

Ash o encarou com certo temor. Mas Frank suspirou, impaciente.

- Não, não tenho essa coragem. Anda logo, diz o que quer. É bom que seja importante.

- Eu vou provar com todos os meus recursos que a sua casa é realmente mal-assombrada, Frank.

- Vou gostar de te ver tentar. Acho que o meu relato ao público de agora há pouco foi um começo.

- Eu tô falando sério, cara. - disse Ash, franzindo o cenho - Vamos lá, quero ser seu amigo.

- Amigos não invadem propriedades alheias e criam programas ruins e enganadores.

- Você é um cara difícil de convencer né? Tão cético. Eu gosto disso... mas não precisava humilhar o programa. O show tá só começando.

- Espero que termine antes que eu perceba. - disse Frank, logo direcionando-se ao seu quarto.

Algum tempo depois, quando aparentemente todos foram dormir, as câmeras infravermelho foram acionadas, as principais delas focalizando o quarto de Frank e o de hóspedes no qual Carrie se acomodara. Ernest, por sua vez, dormia no sofá da sala confortavelmente... ou nem tanto.

No entanto, a luz do abajur apresentou piscadas tremidas e constantes que pararam poucos segundos antes dele se movimentar devagar para a borda da mesinha e cair com grande barulho.

O diretor acordara sobressaltado, olhando para os lados. No quarto de Carrie, um vulto similar a um borrão negro foi captado andando lentamente pelo recinto e longe da cama. A luz do abajur piscara.

Já no dia seguinte, alguns membros da equipe avaliavam as filmagens na cozinha. Frank, Carrie e Ernest acompanhavam de perto atentamente.

- Cacetada... - disse Frank, disfarçando a sua falta de surpresa e criando um espanto fingido - E não é que parece mesmo um fantasma de verdade?

- Viram só? Eu bem que tinha avisado. Acho que sou sensitivo. - disse Ash, soberbamente - Mal posso esperar os índices de audiência, deve ter estourado os contadores.

Carrie apenas lançava olhares desconfortados para ele e o resto do pessoal achando tudo muito suspeito, alinhando esse sentimento ao de Frank.

- Os fantasmas te perseguem como fãs enlouquecidos, Frank. - disse Ernest, cochichando.

- Shhh... - chiou Frank, com o dedo na frente da boca.

No quarto de hóspedes, Carrie estava sentada na cama com seu laptop usando de habilidades de hacker para acessar o endereço de IP do anunciante da loja virtual onde Frank comprou o medalhão.

- Senhorita Wood, é esse o seu hobby? - perguntou Ash... aparecendo de repente na TV.

- Que susto, seu idiota. - reclamou ela, quase derrubando o laptop - Não... você chegou em boa hora.

- Posso saber o que anda fuçando na internet?

- Achei que o objetivo do programa era coletar histórias paranormais e não saber da vida alheia. Bem...tecnicamente sim, mas... não sobre coisas íntimas e muito particulares, se me entende.

- Ah, então você deu um match no site de relacionamento né?

- Olha aqui, não preciso dar satisfação a você. Mudei de ideia: Some daqui. - pegara o controle para desligar, mas nada ocorreu - Será que dá pra sair? Do que está tão desconfiado?

- Tudo bem, não tá mais aqui quem invadiu. - disse Ash, logo desligando. Carrie prosseguiu na tarefa, não tardando a descobrir uma proximidade entre as datas da compra e do início do reality, o que colocou em dúvida se Ash foi o anunciante enquanto é proprietário original da loja.

Na mesma manhã, cerca de duas horas depois, Frank se dirigiu ao sótão aproveitando que boa parte da equipe técnica havia saído para checar as operações na van. O caminho para o cômodo se dava por uma escadinha de madeira que podia ser descida manualmente, próximo à sala do arquivo. Ao subir, fez rangidos altos que a escuta, localizada em algum cantinho, abstrairia se estivesse ligada.

Sacou uma lanterninha e vasculhou os cantos que a luz passando pela janela não alcançava. Os funcionários aceitaram a ideia de Ash em armazenar suas coisas no sótão mesmo sem permissão do proprietário. "Cambada de invasores. Pior que é impossível denunciar... porque a droga é oficial.".

Mexendo numa das bolsas, o detetive sentiu algo retangular e grande... logo retirando.

A descoberta não teve como choca-lo mais. Pegara a lanterna, analisando o material.

- Eu não posso acreditar... Aquele filho da mãe...

Na bolsa pertencida à Ash estava uma tábua Ouija, artefato indispensável para uma comunicação eficaz com espíritos e que era comumente usado por entusiastas do paranormal como método de contato entre os vivos e os mortos. Mas essa ponte nem sempre é firme, podendo despencar.

Carrie partira para destrinchar o sistema das câmeras infravermelho, analisando as filmagens.

Ligou para Frank que atendera escondido no seu banheiro.

- Frank, na escuta?

- Sempre. E aí? O que você me traz? As câmeras estão mesmo desligadas?

- Confirme há pouco tempo, nenhuma está operando. Mas... tem algo que precisa vir à tona.

- Então desembucha, porque eu também fisguei uma prova gigantesca e assustadora.

- Hackeei o sistema operacional das câmeras a partir do banco de dados do programa. Ontem à noite nem todos os cômodos foram filmados. Apenas nove com três em cada um funcionava. Só nós três tivemos os holofotes, o que por sinal é bom, porém... - tomou um gole do seu suco de caixinha - ... isso significa que os outros cômodos não filmados podem fazer parte de uma estratégia. Um programa assim deveria focalizar toda a casa, mas sinto que não desperdiçou mais da metade da instalação à toa. Tem realmente um negócio escuso rolando aqui... - disse ela, olhando com atenção para as três únicas filmagens da primeira edição do reality - Além disso, não teve edição. As fontes dos vídeos são exatamente iguais as que nos mostraram hoje. Ou seja, fantasmas autênticos.

- Por que fico surpreso? - indagou Frank.

- Eu é que pergunto: Por que não está surpreso com o fato da sua casa ser supostamente assombrada?

- Carrie, escuta bem: Eu dei uma olhada no sótão onde estão as coisas do pessoal. Na mochila do Ash encontrei... um tabuleiro Ouija. E bem autêntico pro meu gosto. - ele olhou pela brecha da porta para ver se ninguém vinha - O safado tá invocando fantasmas pra dar credibilidade ao programa.

- Ah que droga, minha teoria se centrava no medalhão anti-éter, pensei que... - ela fez uma pausa, ficando tensa - Poxa vida... eu devia ter lembrado antes.

- Lembrado do quê? Fala Carrie, antes que eles voltem.

- Você fez a pesquisa?

- Não achei nada relacionado nos arquivos, nadica de nada.

- Um detalhe que fugiu da mente, mas agora recordei... O medalhão e a tábua não podem se manter juntos no mesmo espaço. Dizia a lenda que a safira aprisionava uma infinitude de almas, mas que só outro objeto que estabelece contato com fantasmas, não para afasta-los, mas para traze-los... seria a chave para libertar todos eles gradualmente. Se o programa seguir adiante...

- A minha casa vai virar um hotel fantasmagórico, sabe-se lá quantos deles tem na safira... Preciso impedi-lo. Ainda hoje. Ele que me aguarde. - disse Frank, desligando em seguida.

                                                                                 ***

Faltando pouco tempo para o início da próxima edição do programa, Frank fora até a sala de estar onde, para sua sorte, encontrara Ash fazendo algumas anotações.

O detetive jogou o tabuleiro Ouija sobre a mesinha.

- Quero ver você explicar agora, tim-tim por tim-tim. - disse Frank, mostrando-se descontente - Achou que invocar fantasmas reais faria eu ter piedade de você sobre a ideia original do programa?

- Olha, Frank... Você cometeu um grave erro. - disse Ash - Em primeiro lugar: Mexeu nas minhas coisas sem autorização. Eu devia ter posto isso como cláusula.

- Invadiu minha propriedade! - disse Frank, agarrando-o pela gola do terno - Você não tem como argumentar, seu pilantra. O que tá pegando aqui é o seguinte: Você não tem ideia do que tá fazendo, chamando fantasmas pra alavancar a audiência do programa usando esse pedaço maldito de madeira e ainda por cima sabendo que o medalhão se conecta com o tabuleiro, libertando os fantasmas.

- Sabia esse tempo todo né? - perguntou Carrie, envolvendo-se - Por isso ofertou o medalhão... como se esperasse que especificamente o Frank comprasse. Abre logo o jogo, te encurralamos.

- Tá OK, conto a verdade, se não partir pra violência... - disse Ash, temendo a Frank que o largou. O apresentador afrouxou a gravata antes de começar - O que tô fazendo faz todo o sentido sim. Eu devo uma pro Frank, na verdade. Só que obviamente ele não lembra. Quero realizar um sonho.

- Infestar minha casa de fantasmas? - perguntou Frank, logo estreitando os olhos - Espera aí... Tá insinuando que a gente se conheceu antes? Dá pra explicar isso?

- Eu queria provar a todos que o sobrenatural existe... e quando as coisas chegassem a um ápice dramático... o grande caçador Frank Montgrow entraria em ação, destruindo cada fantasma ao seu redor e salvando o dia. Você seria o herói desse show. Assim como foi para a minha avó.

- Tô fuçando na mente, mas tá difícil... - disse Frank, pensativo.

- Nexton... - disse Carrie - Esse sobrenome não é nada estranho... Sim, houve um caso. - ela assentiu positivamente - Ele tá dizendo a verdade, era o caso a respeito de um homem chamado.

- Ozyas Nexton. - completou Ash - Familiar pra um de vocês? Meu querido falecido avô. Por uma rixa antiga, ele foi morto enquanto assistia seu programa favorito junto a vovó. Os caras chegaram... atiraram a queima-roupa. A vovó foi poupada, mas não sem revidar. Pegou a espingarda e aproveitou a guarda baixa dos miseráveis. O espírito possuído de vingança dele ficou preso na casa e vovó fez um recitamento que você recomendou e daí... ele pôde finalmente encontrar a paz.

- Foi isso que quis dizer com favor? Me transformar num herói?! Tudo bem, você é grato, fico muito honrado em ter ajudado sua avó, mas pensa bem... - disse Frank, amenizando sua postura à ele.

- Já tá decidido, eu quero, eu preciso, o mundo precisa. Frank, você estampado nas telas como um caçador sobrenatural vai ter o reconhecimento digno, o seu devido valor. As pessoas precisam saber que há coisas nesse mundo que transcendem nossas compreensões.

- Você não tem que decidir isso. - argumentou Carrie - Não tem esse direito. Vem com essa conversa de levar o Frank ao estrelato, uma famosidade do mundo sobrenatural, mas quer usa-lo para seus próprios interesses, ele será o seu garoto-propaganda, a sua galinha dos ovos de ouro. Revelar as pessoas que o sobrenatural é real como um bem a ser feito a sociedade é só uma desculpa para mascarar seus interesses sobre o Frank. Decifrei corretamente?

- Pela cara dele você tem toda a razão. - disse Frank, não muito convencido das intenções de Ash.

As luzes da sala e de toda a casa piscaram rapidamente trêmulas. Até que se apagaram totalmente.

No banheiro, Ernest se barbeava até que foi surpreendido pelo pisca-pisca irritante. A luz pareceu querer pregar-lhe uma peça, apagando-se por um instante. Ao acender novamente, revelou o fantasma de uma garota de cabelos negros atrás dele. O diretor do DPDC tremera ao vê-la grunhir mostrando os dentes numa expressão furiosa.

- Frank! Socorro! - gritou ele, atemorizado.

Da sala puderam ouvir. A temperatura ambiente caíra uns graus.

- Ouviram isso? - indagou Carrie - Veio do banheiro... É o diretor!

- Ash, cadê o medalhão? - perguntou Frank.

- Não devia estar com você?

- Bem, devido às revelações, é suspeitável que alguém do seu pessoal o roubou de mim em algum momento ontem ou hoje. Mas não vou ficar acusando sem provas. Mas ele sumiu...

- Frank! Os fantasmas vieram cedo pro expediente. - disse Ernest, apenas vestido com toalha.

- Tive uma ideia. - disse Carrie, pegando Ash pelo braço - Ash, vem cá. Pega o Ouija.

Frank, por outro lado, sacara seu rifle. Os fantasmas apareceram na sala, hostis como sempre.

O detetive atirou contra todos, mantendo Ernest atrás dele. Na cozinha, Ash sentou-se na mesa a pedido de Carrie que explicava seu plano.

- O que quer que eu faça? Contactar espíritos bonzinhos não funciona com tantos malignos presentes.

- Não seja imbecil, está subestimando nossa inteligência. - disse Carrie - Temos que agir rápido. E tenho certeza que já estabeleceu comunicação com seu avô. Você consegue. Use a força de vontade.

- Sim, eu... No fim das contas, posso ser o salvador. - disse Ash, tentando se acalmar - Que se dane... Há vidas em jogo, é meu dever sair vitorioso após um fracasso de trabalho. - fechou os olhos, concentrando-se. Mas dois fantasmas surgiram no cômodo, mirando em Carrie.

Frank viera da sala disparando contra eles que desapareceram. Porém, o detetive foi arrastado por trás com os pés no chão como se algo o movimentasse telecineticamente.

- Frank! - disse Carrie, preocupada. Ao virar-se para Ash, suspirou aliviada - Está focado...

- Vovô... sei que pode me ouvir. - disse ele, segurando o triângulo que passava entre as letras - Preciso da sua ajuda. Tem a sua paz eterna, mas... pode ser um exemplo para muitas almas corruptas.

O triângulo mexera-se indicando as letras que formou a frase "Eu também sinto você".

Rapidamente, Ozyas Nexton surgira na cozinha diante de ambos, um velho com volumosa barba.

- Vovô... - disse Ash, emocionando - Desculpe perturba-lo...

- Não se culpe por isso. Estou aqui por vontade própria. - disse ele. Mas sofreu uma interferência, sua aparência "borrando" e tremendo para querer sumir - Há uma concentração de espíritos ruins aqui...

- Sim, Sr. Nexton. - disse Carrie - Espíritos de pureza são capazes de guiar malignos ao plano astral.

- Não posso garantir nada. - disse Ozyas, andando em direção à sala.

Frank estava na escada continuando a atirar tanto dos que vinham de cima quanto de baixo.

Ernest não se escondeu no armário por muito tempo, logo sendo pego pelo fantasma de um homem gordo que expelia ectoplasma pelo nariz. O diretor saíra correndo, mas escorregou. Logo foi arrastado por um dos fantasmas e jogado contra a parede à direita, derrubando uns quadros.

- Diretor! - disse Frank, correndo. Entretanto, fora arremessado à parede por dois que surgiram à sua frente e sorriram maquiavelicamente ao ter o detetive subjugado. Os olhos contornados de preto penetravam em toda a sua cólera efetiva. Mais fantasmas surgiram, imitando o movimento de asfixia por telecinesia contra Frank que sentia o oxigênio esgotar a cada segundo.

- Chega! - disse Ozyas em tom duro - Já basta de sangue derramado. - se pôs entre os atormentados - Ainda existe uma segunda chance reservada a todos vocês, sem exceção. - todos haviam parado para escuta-lo, o que, felizmente, livrou Frank - Eu não sou o deus que alguns de vocês acreditavam ou blasfemavam. Eu sou um daqueles que teve o privilégio inestimável de alcançar a salvação. Sou uma prova cabal diante de vários descrentes. - aproximou da porta virando-se à eles - Venham comigo.

Os fantasmas o olharam com estranheza de início mas modificaram suas posturas.

- A esperança não morreu junto com seus sonhos. Ela renasceu. - disse Ozyas, estendendo sua mão direita - E ficará mais forte quando em seus corações qualquer vestígio de trevas for apagado.

Ao menos três deles deram passos adiante. Depois mais dois... em seguida mais quatro...

Carrie e Ash vinha da cozinha acompanhando. Frank assistia praticamente comovido. Uma intensa luz branca contornou a porta da frente até se abrir e libera-la completamente como se a noite tivesse tornado-se dia. Ozyas piscou o olho para Ash que acenou com lágrimas nos olhos. Por fim, o velho andou ao portal para a salvação com um grupo de fantasmas seguindo-o e desaparecendo ao encostar na luz. Cada um deles percorreu esse caminho.

Por fim, não havia mais nenhum fantasma vingativo na sala. A porta fechou-se, reduzindo a luz até que desaparecesse. Frank andou até ela, puxando a maçaneta e ao abrir viu apenas a rua como sempre estava à noite.

- O velhote abriu um portal... para o plano astral. - disse ele, impressionado.

- Oh, isso aqui valerá uma grana gorda. - disse um dos cameramans com seu smartphone com o qual filmara escondido os fantasmas acompanharem Ozyas. Porém, Ernest tomara à força o celular, o colocou na mesa e com uma marreta o destruíra com seis golpes.

- Ah, qual é?! - reclamou o cameraman - O programa estaria salvo se...

- Era o programa ou as nossas vidas, Mike. - disse Ash - Tínhamos uma escolha, mas eu a fiz por todos. Meu avô nos salvou, o que só aumenta meu respeito por ele. Além do mais... - olhou para Carrie - ... ninguém tá preparado para o autêntico sobrenatural. - ela retribuiu num sorriso amigável.

- Aí diretor... - disse Frank - Onde achou essa marreta?

- No seu armário. Tentei improvisar de algum jeito. - disse Ernest.

- Tinha sal na dispensa. Era pra eu ter avisado...

- Agora tá tudo bem, Frank. - disse Ash, aproximando-se dele - Eu dou o programa por cancelado.

O detetive assentiu positivamente, reconhecendo a posição regenerada do apresentador.

                                                                              ***

Na manhã seguinte, a equipe da DTV para o reality show estava recolhendo o material após o decreto de cancelamento. Frank estava do lado de fora ao lado de Carrie para despedir-se de Ash.

- Bem galera, acho que isso significa um adeus. - disse Ash, contente - A presença do vovô foi...

- Reconfortante. - disse Frank - Se eu confiasse naquele tabuleiro... com certeza ia bater um papo com alguns entes queridos. Do jeito que sou sortudo, minha força de vontade atrairia mais desgraça.

- Pra um caçador que interage mais com o paranormal do que o normal, serve a lei do "bobeou, dançou". - disse Ash, dando uma risadinha. Apertara a mão do detetive - Estamos de boa?

- Sem ressentimentos. Sou eu quem devo me desculpar, a forma que te tratei...

- Não, tá legal, eu pisei na bola. Quis chamar sua atenção pelos meios errados. Mas já aprendi hein.

- É bom mesmo. - disse Carrie - Nada que uns bons puxões de orelha de Carrie Wood não resolvam.

- Mas e aí, Ash? Como você tá pensando em tocar a vida pra frente depois dessa? - perguntou Frank.

- A má notícia pra mim: Eu pedi demissão. - revelou, deixando-os pasmos - A boa notícia pra vocês... - fez um suspense - ... é que o reality nunca foi ao ar.

- Como é que é? Escutei direito? - indagou Frank, incrédulo.

- Não brinca... - disse Carrie, meio triste.

- Pois é, a programadora que detém os diretos do formato exigiu que a data de estreia fosse para o verão americano, daqui alguns meses. Gravaríamos as cinco primeiras edições e em diante tudo seria ao vivo para dar tempo de preparar outros detalhes, tipo... criar roteiros, histórias falsas, joguinhos...

- Vou explodir de felicidade. - disse Frank, sorrindo.

- E eu de tristeza. - disse Carrie, abatida por não ter de fato aparecido na TV.

- Fiquem bem meus amigos. - disse Ash, despedindo-se, logo entrando na sua van.

Carrie deu uma conferida no site de MysticMarket e percebera que o medalhão retornou ao catálogo.

- Olha só isso, Frank. O medalhão anti-éter foi posto à venda novamente.

- Então quer dizer que... eles me roubaram mesmo. - disse Frank.

- Veja pelo lado bom: Se readquirir não vai ser o ganhador premiado.

- Existe um outro lado bom: Não vou mais ser tentado a trapacear. - disse Frank.

O diretor aparecera na soleira da porta com um roupão de banho.

- Ei, será que posso saber por que diabos a cafeteira está vazia?

- OK, diretor, já vou vestir meu uniforme de empregada. - disse Frank, andando na direção da entrada junto à Carrie enquanto as vans da DTV davam partida para nunca mais torrarem a paciência do detetive.

                                                                                      -x- 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://www.informabahia.com.br/valente-populacao-fica-sem-tv-bahia-sbt-band-e-tve-so-pega-a-record-em-alguns-locais-da-cidade/

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