O quão próximo estive de ser pego por ele
Fazem exatamente 10 anos que isso ocorreu, mas somente agora pude despertar uma coragem antes adormecida em mim, uma coragem reprimida por tempo demais devido à algumas considerações feitas durante o período em que a aposta onde me envolvi ficou válida. Se foi um erro que podia ter custado minha vida, e daí? Foi pura curiosidade. Inocente curiosidade em querer ir mais além do que ninguém nunca antes foi. Melhor falar logo sobre como começou: Rob e Max, meus dois melhores amigos do colégio eram membros de um clube secreto formado para "investigar" casos paranormais totalmente relacionados à lendas, tanto populares quanto desconhecidas. Resolvi recusar a proposta, pois, na época, eu era indiferente à esse mundo, até meio cético aliás.
Rob me telefonou um dia, outra vez insistindo para que eu entrasse no grupo, mas desta vez afirmando ter encontrado a aposta perfeita para me convencer da existência do sobrenatural.
Rob podia ser um pouco infame às vezes, de modo que me fazia pensar "Por que somos amigos, mesmo?", mas não foi tão baixo a ponto de me chantagear. Apenas me contou sobre uma lenda urbana antiga, de origem duvidosa, a qual contava sobre uma criatura de aparência e intenções desconhecidas. Seu nome é Dillinger, o perseguidor.
Aceitei a aposta. Ia muito além de me fazer acreditar numa realidade assombrosa.
Ele me indicou vários sites com informações a respeito de rituais anteriormente feitos. Pois é... eu cedi a participar de um ritual para invocar o Dillinger. Era bem simples: Bastava que criássemos um boneco do tamanho de um ser humano, não importando qual o material a ser utilizado, e deixarmos uma gota de sangue de cada um de nós em alguma parte do rosto dele. Apenas isso era suficiente para chamar a atenção da coisa. Criamos um boneco de cera e o vestimos com terno e sapatos pretos, gravata e tudo mais. Os dois zé ruelas concordaram em manter o boneco na minha casa. Aliás, no meu sótão.
O tempo de invocação durava 24 horas. Após esse tempo, o Dillinger assumia a forma do boneco criado e começava a te perseguir, mas no início mantendo alguns metros de distância, tornando difícil saber onde ele poderia estar observando você.
No meu caso, eu só passei a vê-lo depois de uma semana, acho que estava à uns 10 quilômetros de distância. Somente os "jogadores" podiam vê-lo e o objetivo era descobrir o que o Dillinger faria com você se conseguisse deixá-lo se aproximar, por mais aterrorizante que fosse. Só pensei que valeria a pena o desafio.
Nas informações que li, nenhum dos que fizeram o ritual conseguiram ir longe o bastante. Por duas coisas:
1 - Ninguém sabia como era a verdadeira forma do Dillinger.
2 - Todos os que embarcaram nessa cilada tiveram sensações incômodas durante o "jogo", como formigamentos constantes em todo o corpo, pensamentos suicidas, calafrios repentinos e síndrome do pânico ou paranoia.
Outras fontes, contradizendo as afirmações dos desistentes, alegavam que o Dillinger, ao estar poucos centímetros próximos à você e conseguir tocar no seu corpo com um dedo, lhe mostrava o que viria depois da morte. Mas a fonte não deixou claro se a morte era causada pelo próprio Dillinger ou o ele deixava você viver, sair "vitorioso" - pra não dizer mentalmente ferrado - e compartilhar sua experiência com quem também participou.
Esclarecendo uma dúvida: O Dillinger é uma criatura com uma incrível habilidade de estar em dois ou três lugares ao mesmo tempo, então ele não é totalmente onipresente. Isso possibilita ele de perseguir o número máximo de pessoas a participar do ritual.
Ele obedece rigorosamente o "jogo". Na segunda semana, eu já o via escondido entre as árvores quando eu saía do colégio. Parado e meio borrado, embaçado, sei lá, mas estava visível. Quanto mais eu insistia, mais próximo ele ficava.
Rob e Max, para a minha surpresa, desistiram na terceira semana. Perguntei sobre os sintomas e eles confirmaram cada palavra escrita na fonte que acessei.
Para desistir do ritual seria preciso tirar a marca de sangue deixada no boneco. Fazendo isso, você estaria completamente livre da perseguição sorrateira do Dillinger.
Havia uma regra que dizia que os participantes não devem se encontrar pessoalmente enquanto a perseguição ocorre. E por telefone eu disse para os dois virem na minha casa, mas, por via das dúvidas, em dias diferentes. Rob veio um dia após a terceira semana e cravou uma chave de fenda na marca de sangue no rosto vazio do boneco. No dia seguinte foi a vez de Max, que imitou Rob.
Não importava quantas vezes eles me pediam para parar, eu estava confiante demais, sabe.
Decidi permanecer, por minha própria conta e risco. Fiquei por mais duas semanas.
E depois disso... é, é isso mesmo que você pode estar pensando...
Ele esteve bem perto de mim...
Eu estava estudando na mesa da cozinha quando minha visão periférica detectou o Dillinger parado à minha direita, e me fazendo interromper minhas atividades. Eu tinha os sintomas, todos eles... Mas errei feio em querer bancar o ousado, o fodão que terminaria o "jogo" completamente ileso e entraria no grupo se gabando de tal façanha.
E não entendo como os relatos dos desistentes falavam sobre não saberem exatamente as intenções do Dillinger, sendo que, no meu caso, quanto mais proximidade ele ganhava mais medo da morte eu sentia.
Retirei a marca do meu sangue da mesma forma que os outros e queimei o boneco logo em seguida.
Talvez os relatos tenham sido manipulados, ou são inteiramente falsos.
Ainda me é um mistério o que o Dillinger pretendia fazer comigo... Estava tão perto, faltava tão pouco... O que seria?
Até hoje sinto essa curiosidade me dominar.
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Este conto foi escrito e publicado exclusivamente para o Universo Leitura. Caso o encontre em algum outro site com créditos e fonte ausentes, não hesite em avisar!
Imagem retirada de: creepyattic.blogspot.com
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