Crítica - Pokémon: Eu Escolho Você
A gênese de Pokémon (ou da jornada de Ash Ketchum) sob outra perspectiva.
AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.
Aos gasparzinhos que devem ter lido as 4 compilações de reviews (5 cada uma) dos 19 filmes anteriores, eu tinha reservado ali um espacinho para o vigésimo pokéfilme, mas, àquela altura, o longa anda não havia entrado em cartaz no Brasil e dei a justificativa velha de não ter condiçõe$ de assisti-lo na tela grande, ficando crente que demoraria "séculos" para uma veiculação na TV (Cartoon Network) e a última parte da compilação acabou por ficar com 4 críticas. Daí o Cartoon Network anuncia a exibição do filme pouco tempo depois. Acho que fiz as coisas cedo demais, dado o curto período entre a exibição na TV e a disponibilização online. Mas já era, tá feito, aqui estou, não vou editar lá e preencher a lacuna, porque falei anteriormente (link no fim da crítica) que as próximas críticas partindo deste filme seriam individuais.
Um filme desta envergadura, por assim dizer, merece uma postagem individual. Não por ser uma "obra-prima" da franquia ou ter obtido uma chance nos cinemas brasileiros, mas por seu valor comemorativo acima de qualquer outro mérito que o tenha feito cair fácil no gosto aprovativo do público. E ele respeita esse valor confiantemente ao longo dos - nada cansativos - 98 minutos desta aventura alternativa que explora da raiz às pontas a emotividade da relação entre Ash e seu eterno parceiro pokémon Pikachu e toda a cadeia de eventos que proporcionou o resultado final que todo mundo está careca de saber. Não há nada de muito extraordinário no conjunto em si.
O melhor é que ele realmente é um longa-metragem de Pokémon do tipo com qualidades técnicas esperadas de uma produção com tal definição. Como comentei nas compilações no ano passado, há alguns filmes que a estética mal alcança o teor fílmico, o que imprime um ar episódico a uma narrativa apropriadamente para aquele universo cinemático. Fico contente que isso não acontece em Eu Escolho Você (Kimi no Kimeta, no original), onde existem "jogos de câmera" paisagísticos e efeitos que não soam forçados ou poluentes em demasia na tela. Tudo promove a sensação de "estou certamente vendo um filme de Pokémon e não a extensão de um episódio".
A única novidade gritante fica por conta do crossover regional de pokémons, com Kanto recebendo as atenções maiores, claro. Só achei estranho não fazerem menções as demais regiões, como se esse novo mundo fosse desprovido das conhecidas fronteiras que Ash desbrava a cada jornada. Mas tudo bem, isso não tira em nada da suculência que o roteiro preza com afinco, sobretudo quando volta seu foco para o pilar inquebrável que é a relação pokémon-treinador. O que faz de um treinador alguém digno de se vincular a pokémons numa sintonia perfeita? Talvez seja esta a principal questão.
Pude ver nesse Ash uma faceta menos ambiciosa, ao contrário de seu rival, Cruz, que só está interessado mesmo é em ganhar competições. Atenção para este personagem: Ele perde um pouco em sensatez e ganha em imaturidade - nem o Gary ou o Paul, que tinham lá seus narizinhos empinados, faziam esse papelão - pelo fato de tachar os pokémons alheios de fracos, patéticos e maricas não importam o quão evoluídos estejam. Ele deseja pokémons valentes se achando o bichão que nasce sabendo dos paranauês. Por que Cruz é imbecil? O personagem acreditar que começou no topo é o de menos comparado a não ver fraquezas nos próprios pokémons e julgar que captura os bons porque ele se acha bom. Se fulano captura um Eeve, por exemplo, e beltrano captura outro Eeve com as mesmas condições e limitações e esse último se gaba que pegou o melhor por se sentir o melhor, então o do fulano é fraco porque a confiança em si mesmo vale mais que o potencial do pokémon - e os que não correspondem as expectativas acabam como o Charmander. Voltando à Ash, percebi um leve amadurecimento da parte dele quanto a lidar com rivais, mas foi na despedida à Buterfree que isso mostrou-se mais nítido. Esse Ash tem uma postura respeitosa.
Os dois novos companheiros do protagonista são bem efetivos e constroem química com ele sem nenhum problema a partir dos perigos simples envolvendo pokémons selvagens. Sérgio e Vera chegaram bem tarde, eles bem que poderiam ser incorporados ao anime um dia - cada qual tendo aprofundamentos bem encaixados, a Vera aparentando não ter uma relação tão harmônica com a mãe e o Sérgio que teve um passado com seu Luxray que morreu congelado (tocante, isso foi). Pensar que essa amizade começou numa caçada ao Entei. Os fabulosos cães lendários não fazem mais que aparições de luxo e enfeitam a tela com demonstrações rápidas, o que é longe de ser ruim pois o objetivo do conflito a ser resolvido era o lance do "Herói Arco-Íris" com aquela pena do Ho-Oh e eles não eram muito solícitos. Não precisava, pois a estrela lendária (diretamente de Sun e Moon) aqui roubou o terceiro ato. O trevoso Marshadow foi peça fundamental para a intercedência do "milagre" da ressurreição de Ash Ketchum - além de tornar o segundo ato mais envolvente ao incutir um sonho ruim no qual Ash encontra-se numa realidade paralela sem pokémons e ele estuda.
Eu comentei sobre essa coisa de impacto emocional na review do filme do Volcanion. Isso não funciona tanto mais. Não comigo. Foi bem conduzido, pelo menos na parte em que Pikachu lamenta a morte do seu treinador com uma explosão elétrica de dor e raiva. Isso teve um peso, houve uma carga dramática eficiente vista ali. Então, não chorei feito uma criança (isso é exagero), apenas fui tomado pela satisfação ao se assistir uma cena dramática entre treinador e pokémon no cenário ideal, no tom ideal e no contexto ideal, apesar das forçações (que foi aquele "portal" de brilho mágico por onde o Pikachu resgatou o Ash "do além"? Eu sei que o Ho-Oh teve participação nisso, mas... como assim? Momento mais WTF mesmo).
Considerações finais:
No fim das contas, Eu Escolho Você foi uma prazerosa viagem a um universo paralelo que faz justiça a tudo que o anime de Pokémon lapidou durante longos 20 anos numa auto-homenagem modesta e conseguir tal feito num filme "lugar-comum" e de premissa básica é de se reconhecer. Anos-luz de ser o pokéfilme definitivo, ele se encarregou muito bem de ser uma volta às origens que corresponde a simplicidade do início. Pokémon deu a si mesmo um simpático presente de aniversário e o compartilhou com os fãs da melhor forma possível.
PS1: Cairia bem demais um filme na mesma pegada que Generations (aquilo devia ser anime semanal!).
PS2: Eu achando que Ash ofereceria a pena do Ho-Oh ao Cruz após vencer a batalha com o Charizard (melhor cena de evolução ever!) por talvez acreditar que ele purificaria seu coração sombrio com o papo de "quero ser amigo dos pokémons, isso é saudável, me deixa forte e blábláblá".
PS3: Esperei que o Ash pegasse um voo a bordo do Ho-Oh, que pena não ter acontecido porque é um clichê engraçado e o filme precisava duma dose de humor após tanta choradeira (não tô criticando o Pikachu, fiquei com dó dele agarrando aos prantos o surrado boné vermelho do persistente treinador com quem tinha acabado de criar um verdadeiro laço de amizade).
PS4: Só eu senti uma vibe "Coma do Ash" na cena do sonho? Só eu lembrei da creepypasta na hora?
PS5: Só eu senti falta da Pokedex? Ausência que não faz tanta diferença, mas podia estar inclusa.
PS6: O narrador do torneio na abertura do filme narra até os ataques dos pokémons VISÍVEIS à plateia. As batalhas não precisam de "capitão-óbvio" pra empolgar a galera, as batalhas o fazem por si mesmas
PS7: De trás para frente Eu Escolho Você narra a história de um garoto de 10 anos que seguia andarilhando numa jornada com seu Pikachu de estimação que gradualmente vai se tornando agressivo, daí ele decide devolver o ratinho ao Professor Carvalho, largar a vida sem-futuro de treinador e vai dormir pensando no próximo rumo e sonhando saudosista com suas andanças de quando escolhia pokémons para batalhas.
NOTA: 8,0 - BOM
Veria de novo? Sim.
Reviews dos filmes anteriores:
Filmes 1, 2, 3, 4 e 5.
Filmes 6, 7, 8, 9 e 10.
Filmes 11, 12, 13, 14 e 15.
Filmes 16, 17, 18 e 19.
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: https://jovemnerd.com.br/nerdnews/pokemon-o-filme-eu-escolho-voce-chega-ao-cartoon-network-ainda-nesse-ano/
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