Crítica - O Culto de Chucky


O "Cult" que acabou promovendo a sensação de "Cut".

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS. 

Até que essa frase de introdução soa bem chamativa (ao meu ver rs) já que só lendo para entendê-la completamente e, como evidencia, não atende a um ponto positivo - explico melhor abaixo. Mas vamos com calma, porque o sétimo filme do boneco assassino, apesar dos pesares, não cometeu um desastre de cinematografia. Eu tenho levado esse meu temor com experiências diante de filmes de terror para todas as produções que escolho assistir. A safra desta década não se compara qualitativamente aos anos 1970 e 1980 - digo isso com certeza absoluta mesmo sem ter conferido muitas películas destes períodos, na verdade nem precisa de muito esforço para notar em cenas avulsas que o esmero de fazer o público trancar o c* na hora do susto era notório e menos artificial e forçado como se vê em tantas tentativas de emplacar um novo hit do terror.

Sequência direta do filme de 2013 (A Maldição de Chucky, que já indiquei aqui há quase 3 anos, diga-se de passagem, deixei o link no fim da postagem), O Culto de Chucky (Cult of Chucky, no original) gira 98% em torno da personagem Nica Pierce que no final do longa anterior foi presa num manicômio (cenário perfeito para Chucky aprontar das suas, com um psiquiatra pra lá de cético por sinal) após ser autuada como assassina de sua família ao invés de Charles Lee Ray, vulgo Chucky que aqui está, arrisco dizer, em sua melhor forma, diria que até mais atrativa e insana do que no filme original. Isto é a mera opinião de alguém que pulou do primeiro direto pro sexto filme. Pois é, meus caros gasparzinhos, por conta disso vou ter que encarar os outros quatro filmes como prelúdios (o da Tiffany e o do filho de Chucky me parecem auto-paródias). Mas falando em Tiffany, guardiã da pequena Alice de Curse of Chucly, a presença dela tem impulso fundamental na trama e sua intérprete humana consegue transmitir convencimento nos trejeitos, na voz e na desfaçatez quanto ao plano para atingir uma frágil Nica.

Minha primeira maior ressalva é direcionada ao personagem que fez história na franquia. Estou falando de Andy Barclay e seu retorno meio que insuficiente. O filme inicia com ele, mas é Nica quem detém o protagonismo, o que acho compreensível, mas um contrabalanço de tempos de tela com duas figuras de relevância ao enredo não causaria prejuízo. Era para ser um triângulo protagonista: Nica, Andy e Chucky. Na ordem certa é: Nica, Chucky nº1 (o que conhecemos no filme anterior, entregue por Tiffany), Chucky nº2 (tirado por Dr, Foley e que posteriormente se torna "filho" da Madeleine), Chucky nº3 (o que o Andy matinha guardado) e o próprio Andy.


Como se trata do maior ícone de brinquedos malditos do cinema, é óbvio que não faltaria sanguinolência e mortes de arrepiar. A maior estrela do filme é quem dá um show de competência sendo um assassino desbocado, sarcástico e inescrupuloso, características esperadas de Chucky e executadas sem relaxamento, não é a toa que a cena com os três Chucky's unidos rendeu o melhor e mais divertido diálogo do longa indiscutivelmente, porém, infelizmente, uma das poucas cenas em que dá para estar na ponta da cadeira com a tensão fazendo você contar os segundos para o próximo jorro de sangue ou algum movimento imprevisível. Mérito do filme manifesta-se em Chucky que mesmo não assustando de fato. tem êxito no que se propõe nas ações e desenvoltura.

E a Nica, coitada... essa sofre que é uma beleza. Passei o filme inteiro torcendo para ela se dar bem e... bem, isso me faz dizer uma realidade: expectativa é uma droga! Nica não foi desenvolvida neste filme para vencer Chucky. Venhamos e convenhamos, o brinquedo serial killer sempre volta e volta mais implacável do que antes. Comprovado e aprovado, visto que o vilão emanou uma aura perversa como entidade sobrenatural inabalável e nunca antes vi um antagonista nestas condições se mostrar uma força que não pode ser parada tampouco derrotada tão facilmente. Houve boa construção de seguimento nas mortes. A mais inventiva delas foi a de Claire (que despejava em Nica uma desconfiança extrema). E brutal também, logicamente. Nesse quesito especificamente fica no páreo com a Malcom (morto pelo Chucly nº 2 com uma furadeira na parte de trás do crânio até o olho direito). Ah, e o jump scare é meio ausente, porque o filme tem uma vibe de suspense gore.

A trilha sonora nas horas mais tenebrosas propulsiona o clima gélido que se traduz numa paleta "azulada" e meio cinzenta que fornece peso ideal na narrativa de um serial killer em busca do seu prazer na matança como passatempo. Agora vem a segundo maior ressalva que justifica a frase do início desta crítica. Nica sofreu um destino pior que a morte (ser possuída por Chucky) que leva à forja de uma aliança com Tiffany (que, na cena pós-créditos, faz alguma coisa com a cabeça do Chucky que o Andy torturava). Andy matou um dos Chucky's e ficou preso no hospital. E pronto, terminado o filme. A resposta automática é uma pergunta simples: Foi só isso? Por essa razão citei o "Cut" numa brincadeira com o título original. Parece que ficou faltando uma parte. Parece que cortaram mais uma hora de filme que acredito eu que faria certa diferença. Tudo no fim dá a sensação de incompletude. Ou pior: De um filme entregue pela metade.

Se vai rolar sequência no futuro próximo, que conclua o quebra-cabeça, ainda que a trama não tenha lá um viés muito arcano.

Considerações finais: 

Muito embora não supere o seu antecessor, O Culto de Chucky não impele desdobramentos chocantes de um longa do gênero a torto e a direito. Vê-se um cuidado no que tange ao estético em harmonia com o narrativo, porém o grande estraga-prazer ficou reservado ao final de sabor agridoce. Tudo estava indo bem, tudo muito bom, mas parou nos 50% quando poderia e, sobretudo, merecia ir mais além para realmente se ter um desfecho sem partes em falta.

P.S1: Nem o Chucky superou o cancelamento da série Hannibal. Melhor referência hahah.

P.S2: Curiosa a facilidade com a qual o Andy foi internado (só para salvar alguém que já estava a destinado a se ferrar bonito). Mete o sarrafo no guarda e pronto, é maluco, psicótico, ultra-perigoso para a sociedade, então põe na sala branca.

NOTA: 7,5 - BOM 

Veria de novo? Provavelmente sim. ´

Recomendação de A Maldição de Chucky (uma semi-review bem curtinha rs):




*As imagens acima são propriedades de seu respectivo autor e foram usadas para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://cinepop.com.br/apos-trailer-o-culto-de-chucky-ganha-arte-e-data-de-lancamento-147728
                                   https://terrornosofa.wordpress.com/2017/10/04/review-o-culto-de-chucky-2017/

Comentários

  1. De fato! A morte da personagem dela foi a que mais senti. E não sabia dessa nova produção da HBO, dei uma olhadinha aqui na sinopse e admito que me fisgou, tem cara de potencial, sobretudo pelo lance de livros serem proibidos, tudo girando em torno de um sistema rígido que proíbe a opinião e tudo mais, me parece que propõe certas reflexões. Talvez role até uma review aqui no blog, mas aí lembro que há uma penca de filmes que deixei na fila. Vou procurar fazer um esforço (embora não se prometa nada). Valeu pelo feedback, espero que volte ;)

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