Lápide anônima
Alguma vez na vida já encontrou uma lápide sem nenhuma inscrição, apenas uma pedra qualquer fincada na terra no meio de várias outras diferentes?
Pois é, foi exatamente com isso que me deparei numa visita de dia de finados bem cedo da manhã, acho que não eram nem seis horas ainda, a luz acabava de nascer aos poucos no horizonte.
A pergunta de um milhão que martelava minha cabeça era: Por que diabos um cemitério de alta gestão manteria uma lápide assim tão largada e praticamente isolada das outras como se quem estivesse naquele túmulo não valesse nada? Que sentido isso faz, afinal?
Me aproximei para dar uma olhada melhor, pra ver se era que eu não via direito. Não foi bem essa minha expectativa, meio que tinha 99% de certeza que nada havia sido escrito na lápide. Tipo, nada mesmo. Fiquei a pensar, refletir, sem nem sentir o tempo passar, talvez eu mergulhei demais numas teorias doidas e isso acabou cavando minha cova. E quando digo isso, não é totalmente metafórico.
Alguma coisa agarrou minhas pernas, bem perto dos tornozelos e me puxou para a terra numa velocidade incrível. Eu fui engolido, como se tivesse afundado numa areia movediça ou algum animal me capturado como sua carne suculenta. Não lembro de nada do que aconteceu desde o último segundo que meus pés tocaram o solo com aquela grama gostosa para se deitar. Mas algo ruim passa por baixo dela e não me sentaria nem pra relaxar um pouco.
Eu estive inconsciente enquanto fui movido pra cá? Única hipótese que considero. Eu fiquei terrificado por escutar minha voz lá de cima. Quem quer que seja, irá pagar muito caro por sair usando minha identidade e enganando minha família e os meus amigos que sequer sabem da minha situação.
Mas alguém vai saber, eu acredito num milagre... mas é difícil manter a fé pelo fato de uma lápide anônima significar que não há nenhum corpo ali enterrado e me arrependo de não ter pensado numa ideia tão óbvia. Escrevo esta carta para quem tiver a sapiência de desconfiar, mas tome cuidado.
É tenso ficar escrevendo pra cima, meus braços estão dormentes e minhas mãos tremendo... desculpa pela grafia ruim, não tá muito legível.
Vou terminar e dobra-la.... não consigo pensar em muita coisa agora...
Já suguei quase todo o oxigênio que restava aqui. Sou claustrofóbico nato.
Por favor, você que me encontrou deve me enterrar num túmulo decente... ou apenas me deixe aqui e troque por outra lápide com meu nome. Vai estar salvando outras vidas do que rasteja abaixo de nós.
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Este conto foi escrito e publicado exclusivamente para o Universo Leitura. Caso o encontre em algum outro site com créditos e fonte ausentes, não hesite em avisar!
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: https://revnilsonjr.wordpress.com/2014/08/05/desencontro/
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