Crítica - Rendel


O Justiceiro da Finlândia.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Definitivamente estamos num período da história do cinema blockbuster em que a onda de filmes de super-heróis não mais se concentra no seu berço dourado americano, mas está se alastrando pelo mundo ainda que timidamente. A exemplos disso tivemos o horrendo Os Guardiões, a genérica produção russa que tentou descaradamente (falhadamente, no fim das contas) criar uma espécie de "Quarteto Fantástico" (clique aqui para ler a review) e o novo longa brasileiro que põe um vigilante mascarado no combate a corrupção chamado O Doutrinador. Surgira então Rendel em 2017 para surfar nessa onda, apesar dos poucos recursos dispostos, o que em nada é de muito prejudicial.

O quê? Estou prestes a avaliar favoravelmente um longa de super-herói não-americano? Por incrível que pareça (até mesmo pra mim), sim. À primeira vista a coisa aparenta ser pobre e por consequência pouco chamativa? Evidente que sim. Mas uma assistida com a mente aberta e despida de preconceitos é valorosa para encarar a produção com maior propensão a costume. Temos aqui um vigilante mascarado ultra-sombrio que parece um cruzamento entre Spawn e o Zoom (vilão da segunda temporada de The Flash, só restando os raios nas orelhas para a fusão estar completa) que não utiliza armas no seu confronto com o crime. Tudo bem, o Batman obviamente é averso a armas de fogo também. O que ambos tem em comum? Isso mesmo, a preferência no combate corpo a corpo. Mas a grande diferença fica por conta de Rendel ser um herói trágico de mãos vazias, ou seja, não recorre a bugigangas ou apetrechos high-tech para contar vantagens nas lutas. Ele sai na mão com os bandidos sem temor a balas. Como sua motivação é unicamente a vingança, todo o ódio acumulado desde a tragédia que matou sua esposa e sua filha (meio que uma versão jovem da Sia =P), por estar ligado a uma organização suspeita que envolve uma vacina (essa trama careceu e muito de explanações melhores), é canalizado aos punhos, conferindo ao próprio um senso de modéstia. Seria esta a demonstração adequada de um justiceiro mascarado no mundo real. Se estou falando isso insistindo na comparação ao Batman visando inferioriza-lo? Não é bem assim.

A concepção do personagem-título não é nada original, algo nítido logo pela sinopse que dá uma noção rasa do que gira em torno do Rendel embora não do plot de fundo que reforça o sentido da sua vingança muito além da simples dor da perda (afinal, ver esposa e filha brutalmente mortas na sua frente deve ferrar com o psicológico de qualquer homem que se julgue são). Um ponto a ser considerado a favor do longa é a estrutura não-linear da narrativa que pode vir a confundir espectadores pouco ou nada familiarizados com o estilo. E dentro desse pró é de fato percebida uma falha que foi não ter divisado bem o que era tempo presente e flashback, não ter fornecido sinais claros das passagens entre um e outro tal qual se vê em inúmeras obras. Ainda bem que isso ameniza do segundo ato para frente. As coreografias de luta podem não soar impressionantes a olhares mais exigentes (até Power Rangers entrega amostras mais empolgantes), mas o recompensador do caso e que até é um bônus bem gordo para a aura de realismo que o drama do personagem propõe é Rendel levando uns belos sopapos dos criminosos não dando espaço algum para forçações do tipo que geralmente tornam o herói "invencível" ou avantajado demais na ação. Aqui essa palhaçada não tem vez. Rendel apanha feito um condenado, cai bastante e leva tiros em dados momentos para se reerguer e desferir socos mais esforçados. É uma luta contínua de queda e ressurgimento que vai se intensificando à medida que realça a vulnerabilidade física e mental dele.

O vilão Rotikka, chefe da gangue, e filho (mais pau-mandado do que filho) do político corrupto Mr. Erola acaba por adquirir tamanho destaque, sendo assim tratado como o arqui-inimigo do herói (até porque fora ele quem disparou contra a mulher e a filha) e teve um arco bem explorado na medida que o filme se permitiu imergir e a atuação do intérprete contribui bastante para esse foco maior (pego o gancho para citar o pouco tempo de tela que Rendel recebe no primeiro ato deixando os bandidos da organização VALA roubarem a cena) dando ao personagem um toque psicótico a fim de que o espectador crie um enorme ranço do quanto suas ações implicam tragicamente. Rotikka é um criminoso hiperativo e instável que em grande parte das interações parece que a qualquer momento vai sacar uma arma e atirar (só para dar uma ideia do quão insano ele é) até como cumprimento (como na cena em que se encontra com seu time de recrutados vindos de outros países para dar cabo de Rendel, ele estende a mão a um dos companheiros quando se pensou imediatamente que ele fosse tirar a arma). O embate final exalta ainda mais a fragilidade natural de Rendel. A persistência da sua vingança vai além dos limites físicos. Toda a cena é beneficiada pela fotografia ótima que promove as tonalidades sombrias requeridas pelo cerne do filme.

Carregando o "fardo" de um roteiro tão superficial, ao menos Rendel não se rendeu (não é piada) ao seu em particular.

Considerações finais: 

Rendel parece mesmo um daqueles filmes em que você bate o olho para a imagem e não está nem aí, porém quando dá uma chance a experiência não fica um gosto tão amargo como se imaginava previamente. A produção pode não ter lá um requinte sofisticado de roteiro, mas o valor que ela encontra em si reside no seu protagonista que, a despeito da falta de originalidade conceitual, é a encarnação justa de um homem que se traja inteiro de couro e sai de casa para bater em bandidos (e mata-los, é claro) sem nada a temer ou perder... apenas com seus punhos descarregados pela fúria. Isso é o que representa a figura do vigilante genuíno dentro do escopo realista.

PS1: Ilustrando a intensidade do personagem, o último flashback é uma boa cena de origem do herói onde Rämön (seu nome real) forja a máscara do Rendel através de uma pasta negra que parece asfalto líquido e passa no rosto até se avolumar e secar. Foi o que deu a entender. Se feito isso, nunca irão descobrir a identidade do cara! Pois ele cobriu a face toda de gosma que grudou. Será que é isso mesmo? Caso sim, como ele come então (O_O)? Espero ter entendido errado. Ainda assim, a cena é forte de modo a facilitar relação com o personagem (que não diz uma palavra no tempo presente).

PS2: A equação do sucesso: Justiceiro + Batman + Spwan + Zoom = Rendel.

PS3: "Existe um limite entre o bem e o mal no mundo. Eu não vou parar ou desistir, porque eu sou..." E fim, uma imagem bem videogame para representar a postura badass do herói  com seu nome. A imagem tudo bem, só que a frase, de tão meh, parece saída de algum personagem tokusatsu infantiloide (sem preconceito).

PS4: Logo de cara é normal pensarmos que a tal mulher loira é uma espécie de sidekick, mas o desenrolar vai indo de encontro a uma suspeita que só aumenta. Finalmente no clímax, especificamente na luta contra o capanga brucutu de uma única expressão do Rotikka (que dá trabalho pro Rendel), tem-se a revelação bombástica de que a moça não passava de uma "amiga" imaginária do herói, uma figura inspirada numa personagem de um livro que ele lia para sua filha quando tinha uma vida feliz. Bem que desconfiei, aquelas frases reprovativas, uma destoação no conflito, Rendel sequer olhava para ela, até que enganou. Só não compreendi bem o porque disso ser parte da psiquê de Rämön. Uma espécie de personificação dos sentimentos tortuosos dele? É o mínimo que se supõe. Ferrado mentalmente ele já estava...

PS5: Uma curiosidade estranha é que foi utilizado um trator (tudo a ver!) para divulgar o filme em um caminho percorrido da Finlândia rumo à Cannes. Seja como for, propaganda é a alma do negócio hahah.

PS6: Rotikka (o pau-mandado do pau-mandado) não teve pena nem do pai, matou-o a sangue frio e manteve sua guarda mesmo sabendo que era apenas usado em vez de bem quisto. Com bandido assim não se dialoga mesmo.

NOTA: 7,5 - BOM

Veria de novo? Provavelmente sim. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://formigaeletrica.com.br/cinema/noticias-cinema/rendel-trailer/

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