Crítica - Logan
É isso que dá pra chamar de Wolverine!
AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.
Pra deixar como observação, eu não li o material no qual o filme foi inspirado que certamente é a famigerada HQ Velho Logan, o que na verdade foi uma escolha acertada da produção no que diz respeito à intenção em dar um encerramento digno ao ciclo de vida do personagem. Bem, acho que digno ainda é pouco perto do que testemunhei. A sensação de assistir ao Wolverine de Hugh Jackman num fundo do poço e caminhando rumo à uma morte lenta carece de descrição, é simplesmente indelével. Curiosamente essa é a terceira vez que vejo um terceiro filme da Marvel onde o herói está em plena decadência de vida e seu mundo despedaçando-se aos poucos. Mas a diferença das outras duas produções Marvel (Homem de Ferro 3 e Thor: Ragnarok) está na progressão desse abismo onde o personagem decai e que parece nunca ter fim sem nenhuma chance de ocorrer uma volta por cima. Num mundo onde os mutantes estão quase extintos, o carcaju vive de chofer como seu ganha-pão para manter o velho Charles Xavier sadio enquanto estiver são.
É interessante notar como essa despedida de Jackman do papel assume uma curiosa aparência de road movie em determinados momentos, com perseguições e viagens a todo momento. Além disso, a classificação indicativa é um dos fatores contribuintes para que a aventura seja identificada como o mais propício âmbito onde Wolverine pode atuar sem limitações, ou seja, muito sangue espirrando no ar e violência despudorada, tornando, assim, o caráter magistral de um conflito envolvendo o mutante e nessa parte o digno que mencionei acima tem um valor maior nesse aspecto. A trama não é lá das mais complexas e extensas, apenas põe Logan, Xavier e Laura/X-23 na árdua fuga dos soldados chamados de Carniceiros que desejam obcecadamente capturar a menina cujas habilidades foram geradas a partir do DNA de Logan e a relação entre ambos vai desenvolvendo ao ponto de ambos se aproximarem como uma família.
A maldição do personagem é oferecer risco a todos com quem cruza, seja em relação a ele ou seus inimigos. Isso é pontuado de uma maneira trágica num ponto de virada do segundo ato que quase fiquei incrédulo. Aliás, estupefato! O coitado do Xavier já estava com o pé na cova, nas últimas, sofrendo de uma doença neurológica que descontrola seus poderes psíquicos (o ponto alto desse distúrbio é no hotel quando Logan precisa dar uma coça nos bandidos que ameaçam Xavier e Laura mas o ex-professor X parece fazer com que a gravidade seja aumentada em 100 mil vezes, adorei esse momento pois transmitiu uma sensação de agonia pelo esforço de Logan em avançar para matar os caras e por fim dar a injeção ao seu "pai"), e ainda por cima não tem uma noite de sono tranquila sendo dilacerado pelas garras... não do Wolverine que conhecemos, mas sim de um clone. Eu me senti tapado em frente à tela do PC. Por essa mesmo não esperava. A criatura é chamada de X-24 e foi jogada no enredo para fazer frente a Logan (devem estar nivelados, visto que o próprio Logan está com seu fator de cura na proximidade do esgotamento e a duplicata tem um esqueleto de adamantium mais fraco) e dar aquela movimentada porque nada ia se sustentar numa fuga pois sempre os vilões os achavam e em todos lugares alguma ação acontecia (claro, os Carniceiros munidos do poder mutante de Caliban, o parceiro de Logan sequestrado antes da primeira fuga) e todos eles são marcantes de diferentes formas que garantem ao filme a substância que ele necessita (que dó por aquela família que os acolheu).
Laura foi deixada sob os cuidados de Logan por uma médica chamada Gabriela que salvou crianças da Transigen onde foram cobaias de experimentos com DNA mutante e tudo que envolve essa parte importante da trama é explicada diretamente com a ajuda de um vídeo de Gabriela em seu celular. Mas as respostas finais tardariam um pouco a chegar pois Laura precisaria ser protegida e levada a um lugar chamado Éden em Dakota do Norte. Sobre a localização em si, é uma decisão que abre margem para que o filme tenha mais meu respeito (algo que já inicia-se na primeira cena e nela o filme já diz a que veio). Usaram da metalinguagem para prosseguir com o plot, pois Éden é um lugar encontrado por Laura numa HQ dos X-Men e daí que Logan contraria a existência dele. E ele age realmente como se fosse um pai de fato da menina com direito a repreensões e ordens. A morte de Xavier serviu-os para aumentar a força do vínculo que se suaviza com o tempo. Mas Laura continua agressiva e não dando mole para os vilões, chegando até mesmo a superar o pai postiço no quesito selvageria e brutalidade, o que é surpreendente vindo de uma criança que desfigura rostos e perfura corpos inescrupulosamente, talvez tenha feito Logan sentir-se nostálgico quanto a sua juventude.
As crianças precisavam escapar pela fronteira e os Carniceiros, claro, não perderam a oportunidade. No terço final vemos Logan forçando resquícios de sua vigorosa fera interior, provavelmente os últimos de sua força vital à beira do zeramento. O que é ótimo (no desenvolvimento), tendo em vista essa atmosfera de superação e de encontrar na própria fossa um meio de sentir-se como antes mesmo que temporário. Para fazer um último sacrifício Logan teria de despertar seu animal como nos tempos de glória mesmo calejado das garras (a coisa é tão feia que ele precisava puxar uma garra que não cresceu na mesma altura que as outras). No campo técnico, só parabenizo quem cuidou dos efeitos visuais e da coreografia de lutas e nesse aspecto encontramos o seu auge resumido em Laura agindo como X-23 (que show essa menina dá, mesmo sem dizer um pio na maior parte do filme, as suas ações como mutante já dizem por si só). A jornada de Wolverine se findou dignamente em uma morte honrosa, nada de muito extraordinário como nos quadrinhos, apenas o mais simples Adeus.
Considerações finais:
Quem diria que Wolverine encontraria uma representação ideal justo em seu último filme com seu melhor intérprete até agora? Logan é a síntese orgânica de um herói em tempos de desespero. Ele morreu como um mutante, como um X-Men e será lembrado como lenda se no futuro que Laura viver ainda restar uma ponta de esperança para os mutantes coexistirem melhor com os humanos. R.I.P James "Logan" Howlett.
PS1: Não ouvi Logan dizer a frase transformada em meme: "O mundo não é mais o mesmo, Charles".
PS2: De +18 somente se encontrou na violência e no palavreado. Não que eu esperasse cenas de nudez e sexo, mas não classificaria-o à faixa etária, no máximo +16.
PS3: Que bela cena de funeral, coroada com a cruz posicionada como X. Laura, a rainha do filme!
PS4: Outro momento lindo de se ver foi Xavier entrando na consciência dos cavalos e os acalmando. Sua morte sem dúvida foi uma perda de cortar o coração para Logan (e aos fãs também, imagino).
PS5: Minha dica é esquecer os demais filmes do Wolverine e focar nesse como um conflito singular, à parte de qualquer coisa já apresentada pelo X-verse da Fox. Nem encarei como sequência.
NOTA: 9,0 - ÓTIMO
Veria de novo? Com certeza.
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: https://cromossomonerd.com.br/liberadas-duas-novas-e-imagens-e-poster-de-logan/
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