Nem tudo é o que parece #49
Andava sentindo minha casa um pouco vazia, meio pra baixo, então resolvi ir comprar um bichinho de estimação numa loja recomendada por um cartão que, por sorte e coincidência, achei largado na rua. É tudo muito estranho o que acabei de perceber, mas estou tentando entrar em contato com os responsáveis e ver se minha dúvida cruel é respondida. Continuo mantendo distância dele.
Paguei uns duzentos e pouco por um gatinho siamês com pouco mais de 10 meses de vida. Ele já tinha um nome quando cheguei lá, era Morfinho. Foi a filha dos donos do Pet Shop que deu esse nome por um motivo que ela iria revelar, mas foi interrompida e repreendida por eles dizendo pra ela parar de ser uma linguaruda na frente dos clientes. O que havia de mal nisso?
Enfim, levei o Morfinho numa gaiola meio enferrujada, era a última do estoque. No caminho, eu fiquei alimentando uma curiosidade tremenda sobre a história daquele gatinho, como ele foi parar lá, se foi adotado, se era filhote de uma linhagem de gatos na família...
Ele miou para um cachorrinho filhote que passava ali na rua e depois latiu bravamente de volta.
No dia seguinte - ou seja, hoje - meu vizinho me parabenizou pela aquisição do meu novo cachorro.
Eu perguntei "que cachorro? Não, não, comprei foi um gato, dá menos trabalho."
Daí ele disse: "Olha ele aí, atrás de você", apontando pro cachorro que era igualzinho ao que vi na rua, sentando com a língua pra fora perto de mim. Mas como, caramba? Que merda é essa? Foi um gato que comprei, não um cão.
Achei que meu gato tinha sumido, até ver o reflexo dele no espelho, o meu gato, enquanto eu brincava de jogar a bolinha pra ele no meu quarto.
Eu sinceramente tenho medo do que ele possa ser de verdade.
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Minha melhor amiga está paranoica! Que coisa triste... Gostaria de fazer algo por ela que pudesse provar a realidade como ela é. Não sei... O que eu faço? Com que remédio curo ela?
Ela me tornou seu alvo desde o dia em que nos reencontramos. Parece que nem me reconhece mais. Só quero conversar.
Acima de tudo, quero fazê-la parar de gritar e apontar esse crucifixo pra mim.
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Hoje de manhã minha filha perguntou:
- Mamãe, do que a gente é feito?
- De carne e ossos, querida.
- Se eu te mostrasse meu amigo a senhora não ia saber.
Fiquei intrigada com aquilo, lógico. Ela era solitária demais, mal interagia com os colegas de classe.
- Como assim? Que amigo é esse que você arranjou?
- Ele é meio tímido e... estranho, assim como eu. Posso desenhar ele? Não vale olhar, é surpresa.
- Claro, filha.
Ela pegou uma das folhas que estavam sobre a mesa e rabiscou enquanto eu mantinha meus olhos fechados.
- Pronto. Esse aqui é o Tob. Ele sempre vem no meu quarto me visitar.
Abri os olhos e o que ela tinha desenhado não passava de um boneco todo pintado de preto e com olhos redondos e brancos.
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Como eu fui distraído, que droga... Como vou explicar essa bagunça toda pra polícia se eu tiver a chance de denunciar? Não deve fazer mal cair fora e não deixar rastro. Quero sair disso como um sobrevivente, não como culpado! Foi assim: Dei uma festinha aqui na minha sala, convidei uns amigos da faculdade e comprei latas e garrafas de cerveja. Meu celular não parava de tocar. Era minha mãe. Tinha umas vinte chamadas não-atendidas. Ela ligava de dois em dois minutos.
Um pouco cansado, me deitei no sofá, levemente alterado, e pus meu headfone pra ouvir umas musiquinhas só na minha zona enquanto a bebedeira e a putaria rolavam soltas, estavam tão bêbados que nem se importavam ou sequer percebiam que o dono da festa ainda estava ali. Mas eu queria ser ignorado porque eu queria ceder meu espaço pra galera e além disso eu estava em plena recuperação pra ficar sóbrio, indo pras reuniões do AA, aquela coisa toda... Tomar uns golinhos não ia ser pecado.
A transmissão das músicas na rádio foi interrompida por um plantão de notícias alertando pra fecharem todas as portas e janelas pra quem mora nos bairros [dados retidos] de que um psicopata armado com uma serra elétrica ligada no máximo estaria invadindo as residências e que o alto comando policial foi acionado com uma tropa de choque para conte-lo.
Eu devo dar graças por ter sobrevivido? Porque eu ignorei o aviso e dormi... e quando acordei meus amigos estavam caídos, machucados... retalhados, estripados, desmembrados, destroçados... paredes e chão sujos de sangue, muito sangue mesmo. Não sei o que fazer.
Será que é porque me enrolei com um cobertor e passei despercebido? O cara devia estar louco na pedra, chapado e doidão pra rasgar quem visse pela frente.
Como a casa estava silenciosa, corri pro meu quarto e liguei pros meus pais pedindo pra chamarem a polícia imediatamente. Me tranquei e deixei as luzes apagadas.
Antes que eu me virasse pra minha cama, um som alto de serra elétrica soou nos meus ouvidos fazendo arrepiar até o último fio de cabelo e congelar cada parte do meu corpo.
FIM... por enquanto!
*As imagens acima são propriedades de seus respectivos autores e foram usadas para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagens retiradas de: http://animais.culturamix.com/doencas/catarata-canina
http://teatrocristao.net/texto/meu-quarto-escuro
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