Ceifador - Origens Sombrias #3: O Despertar de Hannakun
O último augúrio nos preparou para o grandioso evento. O princípio de todo o fim da existência.
Algo dessa magnitude requer um anúncio de enorme reverberação.
Por todo o cosmo e além seu rugido deveria ressoar como um chamado alertante.
Sua eficácia é mais que uma ferramenta. Sua criação determinou o meu destino.
Eu não teria me tornado o que sou se não fosse por minha célebre participação no rito.
O procedimento que ataria os nós. Sete das primeiras almas sacrificadas lançadas ao fogo ardente.
Aqueles corpos despidos e delirantes tiveram necessidade imprescindível para a concretização.
O topo circular da Coluna Central, eis o ponto marcado. Ali nos reunimos. Meus irmãos potenciais.
Éramos designados a retirarmos do nosso âmago toda a emanação de nossas auras. Juntamos nossos punhos. Cada um em sua respectiva parte da coluna.
Ao redor do Grande Tridente, um pilar inatingível para as cobaias insolentes, elevamos o poder.
Quando as chamas das três pontas acenderam, os corpos amontoados e perdidos sofreram a reação.
Dos pelos até os ossos, aquelas estruturas de carne sentiam a polimerização consumirem-os. Tudo o que já estava ali fora untado pele por pele, carne por carne, sangue por sangue...
Até, enfim, suas formas não serem reconhecidas e seus gritos cessarem. Enquanto encarávamos a imundície, a aura alcançou o limite.
Já não conseguia distinguir ou julgar o formato daquele confuso turbilhão de carne e pele contorcendo-se feito uma larva rastejante.
A cabeça do Grande Tridente incendiou-se espontaneamente. Mas ao se alastrar para o cabo, ela abandonava as três pontas, como um organismo vivo.
Enfim tendo chegado à parte inferior, a chama avolumou-se, cada vez mais reluzente até avançar retamente ao embrulho grotesco de carne e pele, banhado e envolvido.
Como último passo, canalizamos nossas erguidas auras como feixes em direção ao corpo em formação e em fase de preparo e remodelagem.
Nascia o predestinado do Apocalipse. O fogo transformador é digno de nossa gratidão.
Quando suas fileiras de dentes mostraram-se visíveis, apostamos quem seria o escolhido.
A criatura possuía chifres na cabeça e próximos as mandíbulas. O que ela visualizasse primeiro receberia a alcunha de Guardião dos Portões.
E foi à mim que ele se direcionou. Invejosos, os outros tentaram sabotar de última hora.
Eu bem que gostaria de te-los feito em pedaços, mas ele o fez por mim. Não encontro palavras suficientes para descrever como, mas foi visceral de um modo geral.
Como escolhido, tinha de da-lo um nome.
Hannakun.
Eu, Brakmor, oficialmente condecorado Guardião dos Portões do Inferno, o reservo ao grande dia sob minha custódia.
Até lá delicie-se com os petiscos falantes que se negarem a servir aos propósitos de nosso reino.
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: http://thehell2016.blogspot.com.br/2016/02/quase-todas-as-religioes-do-mundo.html
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