Frank - O Caçador #9: Entrevista com a caçadora"
The_Hunter e Cia:
Esse é um novo quadro do canal, voltado para entrevistas com... personalidades não lá muitos famosas. Aliás, totalmente desconhecidas. Além de eu não saber se isso pode ser a primeira e última vez que arrisco essa empreitada, eu não sei se levo jeito pra coisa, mas vamos que vamos, eu já dei a ideia, ela já tá aqui comigo, pronta pra estrear essa variada que esse espaço precisava. Ficar só no confessionário e nas enciclopédias e tutoriais, ao meu ver, poderia cansar vocês. Vambora começar? Tá pronta? OK então... Ahn, só vou fazer uma pequena introdução aqui sobre minha ilustre convidada especial antes de fazer as perguntas.
Ela veio do leste do país, está só de passagem aqui em Danverous City e, não menos importante, partilha comigo o mesmo gosto por caçar monstruosidades por aí. Na verdade, a especialidade dela é bem limitada, sem ofensas... Tudo bem mesmo? Sem problemas? OK... Vampiros! Essa é a praga que ela adora matar nas horas vagas. Estou aqui com Natasha, ela carrega uma história tocante, uma trajetória repleta de sangue, dores e muita, mas muita luta.
Como eu disse uma vez antes: Tem que ter uma boa razão para seguir esse ramo. Perder alguém que você ama já é um primeiro passo bem suficiente. Nós dois descobrimos muito em comum durante o caso que investigamos na semana passada.
Quer se apresentar para o público? Está bem, pode falar...
N: Olá para vocês que acompanham essa voz assustadora. A primeira pergunta é minha: Por que não recebo sintetizador?
F: Compartilhar hobbys até vai, mas esse aparelho eu não sei... Ter que ficar trocando o tempo todo, ia dar trabalho, é, você sabe... Mas não tem nada não, os inscritos merecem ouvir essa sua bela voz de mulherão da porra.
N: Muito galanteador da sua parte. Será que sua assistente é uma inscrita?
F: Minha assistente é só minha assistente. Tá legal? De novo com essa, tá cansando já... Vamos começar de vez?
N: Já estou pronta desde que recebi sua ligação. Achei que vivesse mais enfurnado em um porão estudando o sobrenatural do que morando nessa casa.
F: Acesso o porão só pra conferir os arquivos do meu pai. Nada mais e nada menos. Bem, lá vai a primeira: Com quantos anos você começou a mergulhar nesse negócio de caçar monstros?
N: Aos 8 eu tive certeza que eles existiam. Aos 10 fiz pesquisas para me aprofundar. Aos 13 comprei meu primeiro arsenal de lâminas usando uma identidade falsa. Aos 16 saí para minha primeira caçada noturna, mas só falhei inúmeras vezes chegando a quase morrer. Aos 18 matei meu primeiro vampiro, lembro até do nome e do rosto dele, da cabeça dele sendo decepada pra ser exata... ele se chamava Aleister e chefiava um tráfico de bolsas de sangue retiradas de um banco de doação. Há poucos dias, o Hunter e eu enfrentamos uma situação bem parecida... só que em circunstâncias piores.
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CAPÍTULO 09: ENTREVISTA COM A CAÇADORA
Danverous City - Hospital Municipal de Doação Sanguínea
A coleta havia encerrado com sucesso. O médico que acompanhava a doadora - uma jovem adulta com cabelos pretos não muito lisos e vestindo calça jeans e uma blusa verde azulado de tecido fino - virara-se lançando um sorriso fechado à ela, levando suas mãos a retiraram a agulha no braço esquerdo. O homem tinha aparência jovem com rosto meio barbudo e cabelo castanho e liso penteado para o lado.
- Muito bem... finalmente terminamos. - disse ele, removendo a agulha cautelosamente. - Garota forte você hein. - falou, tentando puxar conversa.
- Um litro e meio não significa muito, mas é o mínimo. - disse ela, levantando-se sorridente da cadeira inclinada após o médico pôr o curativo no local da agulha - Meu marido está esperando no carro para a vez dele. Posso chama-lo? - perguntou, olhando-o e pegando sua bolsa.
Um bipe de som baixíssimo apitou do celular do médico. Verificou o que se tratava: Uma mensagem de caráter aparentemente urgente:
"TÁ PERTO DE ACABAR? ANDA LOGO! SE ELA NÃO VER COR DE SANGUE HUMANO AINDA ESSA NOITE, A GENTE É QUE VAI PAGAR O PATO!"
O rapaz aparentou insegurança movendo rapidamente as pupilas.
- Ahn... O horário de coleta infelizmente encerrou. Poderiam ter vindo mais cedo, não é?
Frustrada, a mulher suspirou com a boca, aceitando.
- Poxa vida... Bom, a gente volta na semana que vem, vou estar aqui acompanhando ele. Ele vai dar saltos de alegria quando souber. - disse ela, soltando uma risadinha breve em seguida, pondo a alça da bolsa no ombro. O médico relanceou a bolsa de sangue, intencionando pega-la depressa, mas, disfarçante, voltou as atenções à moça ao vê-la prolongar a conversa - Posso desabafar uma coisa? Foi uma luta pra arrastar esse meu esposo medroso, se acovarda com um pinguinho de sangue, não pode levar um corte leve que é motivo pra escândalo. Daí eu tentei convence-lo que é por uma boa causa, mas sabe como são os homens... imaturos por natureza. Sem querer ofender, é claro.
- Eu entendo. - disse o médico, sentindo as mãos suarem. - Tudo bem. - sorriu.
A mulher desfazia o sorriso aos poucos ao notar algo.
- Está se sentindo bem? Não parece confortável.
- Sim, eu... - afrouxou a gravata, pigarreando com uma expressão contida de incômodo - Apenas me sinto exausto. O dia foi longo.
- Imagino. - disse ela, pronta para sair - Pois então está certo. Trago ele semana que vem, sem falta. - andara até a porta - Até mais, boa noite, doutor.
- Boa noite. - disse o médico, sorrindo rápido. Assim que a voluntária da campanha de doação fechara a porta, olhou para a bolsa de sangue com os olhos castanhos mudando para um azul safira, as íris aumentadas e as pupilas reduzidas. - Vamos, controle-se... - falou a si mesmo, cerrando os dentes que por pouco não ficaram pontiagudos, levando as mãos à bolsa para retira-la do apoio.
O rapaz, já sem vestes costumeiras de médico, saíra a paisana - jaqueta de couro marrom claro por baixo de camisa xadrez amarela, calças jeans e botas masculinas - de uma passagem alternativa dos fundos do hospital por meio de uma porta enferrujada. Carregava um pacote retangular e médio, andando pelo beco mergulhado em um odor de poças d'água.
A segunda passagem, desta vez para entrar, ficava à algumas quadras dali, especificamente em uma área residencial onde existia uma casa habitada por cupins e baratas. O sério falso médico abriu com um pé de forma bruta a porta dupla de um abrigo contra furacões pelo qual se dava o acesso a um cômodo subterrâneo. Descera a escada após fechar a porta para enfim seguir com uma lanterna ao seu destino principal. O tipo sanguíneo das bolsas furtadas era o raríssimo O-.
Ao alcançar a porta, desligou a lanterna e bateu cerca de quatro vezes bem forte. Um ferrolho que deixava uma abertura retangular pequena foi aberto e um par de olhos penetrantes surgiu. As trancas foram tiradas rapidamente e enfim as boas vindas ao membro do clã foram dadas.
- Olha só quem trouxe o jantar. - disse Edward, um vampiro de jeito infame - careca, branquelo e barbudo -, visualizando o pacote com ar sacana. - Opa, será que tô vendo um buraquinho aí embaixo? Ah, então não resistiu né?
- Cai fora, Eddie. - retrucou o falso médico, seguindo em frente - Não sou nem louco o bastante pra roubar umas gotinhas. Ela foi sensata em mandar logo eu a cuidar disso. Você é quem ferraria com tudo, na certa.
- Pensando bem, acho que sim. - assumiu Edward, dando de ombros, seguindo o companheiro - Negar os impulsos é que seria tarefa de louco. - fez uma pausa, voltando a olhar o pacote com interesse - O negativo, cara... - passou a língua entre os lábios - Quantas tem aí, Mike? A demanda continua alta, essa garota é dura de satisfazer. É bom que o dia tenha sido rendoso.
- Lá vem ela. - disse Mike, olhando fixamente para frente mantendo a expressão séria. Ajoelhou-se numa só perna, erguendo os braços para entregar o pacote à pessoa que se aproximava. - Aqui está, superiora. Mais dez novas bolsas do tipo mais raro que existe na Terra.
- Só dez?! - disse uma voz feminina pertencente a uma mulher jovem de cabelos compridos loiros meio alisados vestindo uma larga túnica negra. Seu rosto pálido com lábios carnudos e olhos azuis mordazes se destacou à luz azulada instalada naquele recinto. Um leve sorriso de satisfação se fez de repente. De sua boca movendo viam-se suas presas afiadas - Estou brincando, não precisar tremer. Por mim é o suficiente pra hoje. A futura baronesa deve ser paciente. - falou, com altivez nítida.
***
Departamento Policial de Danverous City
Carrie, com um sobretudo feminino cinza, saia da mesma cor indo até seus torneados joelhos e sapatos de médio salto, entrara na sala de Frank trazendo um folheto informativo a respeito de uma empreitada da AMDC - Associação Médica de Danverous City - para fomentar a doação de sangue pelo alto número de leitos em riscos. O detetive demorou um pouco a erguer o olhar para a assistente, estando concentrando na leitura de uns papéis.
- Você é saudável e pesa mais de 50 quilos. Confere? - perguntou ela, aproximando-se da mesa, deixando o panfleto escondida atrás de si.
- Por que tá perguntando? - quis saber Frank, olhando-a com atenção.
- Nada demais, só queria descobrir se você foi voluntário da mais nova e suspeita campanha - exibiu o folheto - de doação de sangue. Como nós sabemos, a verba das clínicas está em migalhas, nem ferrando que iam tirar do dinheiro público para investir em postos de coleta. Além de que não há tantos casos com vítimas que precisem disso. Quem está comprando esse peixe anda muito mal-informado. - opinou com sinceridade, pondo as mãos na mesa do amigo que olhava o folheto - E você? Também passou em um deles?
- Respondendo a sua primeira pergunta: Sim. - disse Frank, ainda de olho no anúncio - Mas não entendo uma coisa: Por que campanha suspeita? Me parece oficial. Tem até a logomarca da associação. Bem eu não pisei em nenhum posto de coleta. Isso foi emitido há uma semana. Quantas notícias de acidentes fatais você viu na TV nesse meio tempo? Acho que alguém aqui precisa ler mais jornais. E você sabe, ninguém mais hoje compra jornais. - formou um sorriso de canto.
- O lance é que isso não é tudo. - disse Carrie, a fala rápida - Rastreei os mais de 20 postos espalhados pela cidade. Pelo Street View pude notar que todos eles tem fachadas muito discretas, o que dá a impressão de serem... clandestinos. Se fosse um projeto do governo ou da verdadeira AMDC... - apontou para o panfleto - ... acho que fariam uma divulgação mais ampla. Não acha?
- Isso não cheira bem... - disse Frank, ficando meio pensativo - Melhor eu dar uma passada em um posto e ver se posso confirmar a autenticidade ou desmascarar a picaretagem na hora. - levantou-se da cadeira, pegando o folheto no qual constavam os endereços de todos as instalações para colher material.
- Espera aí um segundo aí. - disse Carrie, barrando a passagem do detetive com a palma direita - Tá achando que isso aqui é caso comum do nível moleza? Nada de teoria passou pela sua cabeça?
- Depende do sentido de caso comum dirigido a mim. - disse Frank, tornando-se impaciente.
- Quis dizer investigação normal... para pessoas normais. - disse a assistente, gesticulando com as duas mãos abertas.
- Ah sim. - disse Frank, assentindo positivamente comprimindo os lábios como se dissesse "nada mal" - Mas a essa altura nem dá pra saber. Por isso devo ir até lá.
- Você tá fingindo. - disse Carrie, intuitiva - Tem um palpite, não é? Tô sentindo uma atmosfera de "está pensando o mesmo que eu?".
- Tá, você venceu. - disse Frank, deixando os ombros caírem em rendição e revirando os olhos. Carrie o deixara passar ao vê-lo ceder. - A pulguinha atrás da minha orelha tá me dizendo que tem certos chupadores de sangue envolvidos nesse angu cheio de caroço.
- Há, eu sabia. Estava óbvio. - disse Carrie, estalando os dedos e sorrindo. - Lembro de ouvir você dizer uma vez que odeia ir atrás de vampiros sozinho.
- Quando essas pragas estão alvejadas numa caçada, trabalho em equipe sempre é uma boa pedida. - declarou Frank, guardando o panfleto num bolso do sobretudo e abrindo a porta para rumar à mais um caso. - Nunca cacei ninhadas de vampiros sozinho. É imprudente e perigoso. - parou um pouco para recordar velhos momentos. Deu um risada rápida e baixa - Eu, o Morris e o Jack... nós combinávamos às vezes de cortarmos uma cabeças de vampiros nas áreas pouco povoadas da cidade.
- São seus colegas de trabalho que foram parar no sanatório, certo? - perguntou Carrie, os braços cruzados.
- Sim, são eles. - respondeu Frank, o tom suave - Eles me mostraram que cuidar disso sozinho seria egoísmo. E, acima de tudo, idiotice.
- Bem, sobre o nível de perigo, eu entendo e concordo, afinal eles não fazem o tipo solitário como os lobisomens, logo quanto mais deles pior. É, vai lá, se não for o que pensamos, tá ótimo. Vou ficar aqui pesquisando mais a fundo sobre a tal campanha. - disse Carrie, dando uns passos adiante à mesa. - Ah, só um instante, Frank. - soltou ela, andando apressada. O detetive ia fechando a porta. A assistente falou pela brecha - O diretor recebeu uma ligação hoje cedo de alguém não identificado dizendo estar a par desse assunto e querendo informações das autoridades sobre uma investigação.
- Não disse se era homem ou mulher? - indagou Frank, franzindo o cenho.
- De acordo com o diretor... uma voz de mulherão. - disse Carrie, fazendo o detetive pensar. - Alguma agente do Serviço Secreto?
- Considerando nossa teoria, eu duvido. - disse Frank. - Te ligo assim que achar algo relevante.
- Tá legal. - disse Carrie, fechando a porta.
***
Em um sala espaçosa e com iluminação azulada, a promissora baronesa, que tediosamente aguardava o final de sua transição para finalmente ser declarada como tal, sentada em seu trono com a perna esquerda cruzada, esvaziava uma bolsa de sangue até não restar mais nenhuma gota, como se estivesse ingerindo suco de caixinha. Suas roupas eram diferentes: jaqueta de couro preto azulado de mangas longas por cima de uma blusinha cinza que deixava o umbigo com piercing à mostra, além de saia jeans curta, meia arrastão e coturnos.
Virou a bolsa amassada de ponta à cabeça para uma gotinha cair em sua língua. Os demais vampiros observavam bastante quietos demais, mas por dentro sentiam-se pouco à vontade mediante às exigências e caprichos da superiora que tirava um proveito abusivo do poder sem nem antes de fato alcançar a liderança suprema entre todos os vampiros existente no mundo. Um ideal que revira e mexe o psicológico por se tratar unicamente de poder e em se tratando de vampiros a impulsividade era amplificada tais como outras emoções.
Jogando fora a bolsa esgotada, ela voltou os olhos para seus servos.
- Você aí! - apontou para um vampiro aleatório, direcionando o indicador à bolsa recém-consumida - Apanhe isto e jogue no lixo. - o subordinado hesitou com uma cara fechada, mas fora intimidado com um olhar ferrenho da garota loira e arrogante, logo obedecendo. - Isso, muito bem. Gosto de ver assim. - sorriu satisfatoriamente, mas logo emanou um breve desânimo - Por favor, não me digam que aquela foi a última.
- A senhora não mandou o Mike buscar mais. - disse um dos vampiros, um homem caucasiano com dreadlocks no cabelo e vestindo um casaco de tecido grosso com pelos na gola e nas mangas. - Pode ser eu dessa vez? Posso detectar O negativo não fazendo mordidas muito profundas. Se eu confirmar que é, extraio com uma seringa e se não for... - deu um sorriso malicioso - ... é todo meu.
- Em primeiro lugar: Mike é insubstituível, ele tem um elemento essencial para esse tipo de coisa: a discrição. - disse ela, severa no tom - E em segundo lugar: Isso significa que o plano vai continuar seguindo exatamente como começou. - estreitou os olhos - Não fique se achando, você até pode ser bom, mas isso aqui não é uma competição. Disse uma vez e vou repetir: O plano deve seguir sem ataques. E não me chamem de senhora! - reclamou, assustando alguns.
- Quem escolheu essa vadia? - perguntou um, de estatura mediana e usando camisa de flanela, cochichando com outro ao seu lado ao pé do ouvido.
O insulto não escapou à audição extremamente apurada da líder.
Em supervelocidade, a vampira se aproximou daquele que se manifestou ousadamente, pegando-o rapidamente pelo pescoço com a mão direita de modo a tira-lo do chão.
- Se o incomoda o fato do novo líder dos vampiros ser uma mulher... eu só lamento. - disse ela, apertando com força. O vampiro emitia gemidos entrecortados com a boca aberta, sentindo-se sufocado. - Presumindo que não tenha comparecido à votação... - canalizou mais força no aperto, deixando o restante da ninhada com os nervos frágeis - O que estava fazendo de tão importante?
- Me alimentando. - disse o vampiro, esforçoso, as marcas das unhas da opressora ficando no pescoço. - Abstinência forçada é uma droga. Você também é. - disparou, arregalando os olhos sem medo de uma resposta.
- Sério? - indagou ela, franzindo o cenho com um sorriso infame - Sinceramente, isso não justifica sua integração ao grupo subordinado. Acho que você também merece ser descartado. - disse, logo arremessando-o violentamente. O corpo do vampiro voara e chocou-se contra uma parede brutalmente logo caindo ao chão. A líder virou-se ao amedrontado grupo que representava a parcela dos mais próximos do Barão. - Por que estão me olhando desse jeito? É só não serem idiotas como ele. - apontou com o polegar esquerdo para trás - Se eu tivesse as joias do poder, teria sido pior. Muito pior. - disse em tom ameaçador, logo em seguida voltando-se para retornar ao trono. Ergueu de leve as mãos, movendo os dedos - Muito em breve aquelas belezinhas serão usadas com sabedoria quando finalmente tocarem esses dedos maravilhosos.
- Daí não vai ter pra ninguém. - disse um dos súditos, erguendo um punho fechado, animado.
- É verdade. - respondeu ela, retribuindo uma piscadela sedutora.
- Puxa-saco. - murmurou em tom baixo o que estava ao lado do apoiador, incomodado.
Um dos servos colocado na categoria "garoto de recados" entrara de surpresa, fazendo-a se virar.
- Grande líder. - disse o vampiro, um homem negro, careca e de jaqueta de couro cinza com zíper fechado no meio - Parece que a iniciativa chamou a atenção de um não-voluntário.
- Seja mais claro. - exigiu ela, fria na voz.
- Um homem com aparência de detetive particular entrou com intenções de trabalho. Quer saber tudo sobre a organização, da primeira raiz até a última folha. - deu mais passos à frente, exibindo seriedade em seus grandes olhos - E o mais interessante: Sentiram um odor de... prata pura.
A loira o encarou por vários segundos. O significado daquilo a excitava de um modo avivador.
- Mande-os trazerem ele pra mim. Sabem como fazer. - ordenou ela, esboçando um sorriso torto, fechado e malevolente.
***
Frank averiguava com cuidado algumas pastas com dados pessoas de voluntários e pendentes relatórios de coleta com diversas informações de material a serem entregues a sede da AMDC.
O médico responsável por acompanhar os doadores saía de sua salinha particular, fechando a porta atrás de si, escondendo algo na mão esquerda ao observar o detetive realizar seu trabalho. Resolveu perguntar para manter-se mais próximo.
- Algum progresso?
- É, parece que está tudo OK por aqui. - disse Frank, suspirando e deixando as pastas em seus devidos lugares - São credenciados pelo governo há dois anos. - virou-se - Tudo limpo. - sorriu fechadamente.
- Perdoe meu jeito estranho de dar boas-vindas, não quis parecer mal-educado. - disse ele, desculpando-se desnecessariamente. - Tem certeza de que já terminou? Tenho muito respeito por agentes federais, sobretudo vindos do DPDC, portanto eu cedo todo o meu espaço na maior boa vontade, eu admiro muito o trabalho de vocês.
- Err... - Frank mostrou-se desconcertado - Obrigado. - sorriu nervoso - Só tem uma coisa que não entendo... é essa papelada toda aí... - disse ele, virando-se para destacar os relatórios empilhados - Isso tudo já não devia estar nas mãos dos idealizadores?
- É, devia. - disse o homem, erguendo uma grande chave inglesa que segurava com a mão esquerda coberta por um luva de algodão preta. - Mas não queremos entregar.
Covardemente, batera com a chave contra o lado esquerdo da cabeça de Frank. O detetive caiu no mesmo instante, perdendo a consciência instantaneamente.
Nas mandíbulas da ferramenta continha um pouco de sangue devido ao impacto violento do golpe.
Obedecendo o instinto, o falso médico largara a chave e transformara-se, alongando as presas e alterando os olhos para o azul safira penetrante. Abriu a boca seguido de um rosnado, suas presas indo de encontro ao pescoço vulnerável e desprotegido de Frank. Logo ao se agachar, antes que pudesse morder, o celular interrompeu com seu toque alto.
"Merda!", pensou ele, sacando o aparelho e atendendo a chamada, voltando a "humanidade" ao mesmo tempo. Ele levantou-se, raivoso.
- O que é? - perguntou ele, ríspido.
A voz do outro lado estava em viva-voz.
- Esqueci de avisar que não é para morde-lo.
- Adivinhou o futuro. Eu ia dar de presente um caçador com dois pontinhos bem profundos na jugular.
- A nossa líder quer ele vivo, são e, principalmente, humano. Já vou até aí busca-lo.
- Conduzir interrogatório com uma presa fácil?! No que ela tá pensando?
- As ordens dela são inquestionáveis. - ressaltou o vampiro noticiador.
- Palavras dela ou suas? - insistiu o vampiro falso médico.
- Palavras dela que eu concordo. - retrucou ele. - Quando eu chegar aí, quero vê-lo de pescoço limpo. Ouviu bem?
- Eu vou me esforçar. Você sabe que é difícil pra qualquer um de nós resistir... - ele olhara para o detetive caído - ... a uma deixa tão exposta desse jeito. - sorriu sacanamente, indicando que não garantiria nada a respeito de sua parte do plano.
***
Uma quantidade média de água gelada fora jogada no rosto de Frank para desperta-lo.
Acordando subitamente com o som das risadas zombeteiras dos vampiros, o detetive estremeceu assustado, sentindo um frio de bater o queixo. O que de longe não era pior do que a dor lancinante que percebeu segundos depois torturar o lado esquerdo da cabeça, fazendo-o apertar os olhos. Logo sentiu as cordas apertando-o.
- Belo adormecido finalmente acordou. - disse a vampira líder, de braços cruzados com outros quatro vampiros atrás dela exibindo facetas de pura infâmia - Vamos, quero que olhe pra mim, sou a estrela desse espetáculo...
Frank seguiu a origem do som da voz ainda de olhos fechados. Ao abrir, algumas gotas caindo de seus cílios, deparou-se com a gangue e dando-se conta da cilada em que se meteu. O ambiente fedia a mofo e tinha paredes brancas com um cinza que indicava sujeira. Poucos metros acima, havia uma lâmpada econômica de luminosidade amarela com alguns mosquitos voando em torno.
- Deixa eu adivinhar... - disse Frank, tentando se reorientar - Vampiros?
- Da mais alta classe, pra ser exata. - disse a líder, levantando uma sobrancelha - E você o caçador não muito esperto para um coroa. Não pressentiu o perigo atrás de você?
- Estava ocupado demais... - falou o detetive, relanceando os outros vampiros que o encaravam - ... facilitando o meu plano. Eu consegui.
A informação deixou-a surpreendida.
- Então já tinha previsto os movimentos dos meus lacaios...
Um vampiro - um homem parrudo, musculoso e careca de jaqueta preta - manifestou seu contra.
- Sabe, eu acho ofensivo quando nos chamam de lacaios...
- Cala a boca. - disse ela, em tom rude, sem tirar os olhos de Frank. Sorriu. - Já que chegou aonde queria, posso lhe fazer uma proposta, é minha bandeira branca.
Frank rira.
- Parece que esses fios loiros aí estão afetando você. - zombou ele - Qual é a sua? Promover a paz entre os caçadores e vampiros pra sair ilesa? Já saquei que você é a comandante da facção.
- Não comando uma, mas todas... do mundo inteiro. - disse ela, enfática, aproximando-se dele - Na verdade - passou a mão direita pelo ombro do caçador em um movimento seduzente -, estou a um passo de alcançar o meu potencial máximo. Só mais umas bolsas de O negativo... e esse mundo vira o céu pra mim.
- E o inferno pra nós. - disparou um vampiro, baixinho. O grandalhão escutou, virando o robusto rosto para ele a fim de intimida-lo com um olhar rígido.
- Deixa eu ver se entendi: Quer se tornar a rainha dos vampiros a base do tipo sanguíneo mais raro? Tá faltando um pouco de lógica nessa parada aí.
- Eu até iria me explicar, mas estamos meio que sem tempo. - disse ela, cada vez mais próxima do detetive - Me chamo Ivana. E nada vai me impedir de conquistar meu grande sonho. - pousou a longa unha do indicador esquerdo no lábio inferior de Frank - Quero fazer um acordo. Do jeito fácil.
- Sai de perto... - disse Frank, não gostando dos avanços de Ivana - Não quero nada vindo de você.
- Você vai gostar. Escuta. - disse ela, sorrindo tortamente - Em troca de você riscar vampiros da sua agenda de caçador... eu e todo o meu bando nos mudamos para a Europa, o lugar onde o primeiro líder reinou em absoluto por um século inteiro. É pegar ou largar.
- Não me vem com essa, sua...
Um distante som de motocicleta cortou o clima da conversa, chamando a atenção de Ivana e seus vampiros que se empertigaram de repente.
- Estão ouvindo? - disse o grandão, altamente desconfiado, logo olhando para Frank.
- Vindo diretamente à nós, tenho certeza. - constatou outro, a audição maximizada.
Ivana voltou-se para Frank, agarrando-o pelo queixo.
- Ao que tudo indica, isso pode mudar o rumo das coisas entre nós.
- Peraí, o que tá acontecendo? - perguntou Frank, desesperando-se.
- Seu plano também era trazer um resgate, não é desgraçado? - perguntou um dos vampiros, chegando perto e estralando os dedos para querer socar Frank. Ivana o impediu erguendo a mão esquerda aberta.
- Não é verdade, eu tô numa missão solo. - defendeu-se Frank, com veemência. - Melhor você me largar, sua vampiranha. Se liga com quem você tá lidando... Meu nome é Frank Montgrow e sou um herói solitário no campo de batalha. Eu juro.
- É o que veremos. - disse Ivana, soltando tirando sua violenta mão.
- O que vão fazer comigo agora? - perguntou o detetive, sentindo as amarras nos pulsos afrouxarem - Já levei um banho gelado. Mordida pra finalizar? Vão me transformar, me matar...
- Vamos mante-lo vivo. - disse Ivana para a surpresa de todos. - Se seu amigo desconhecido quiser colaborar, vamos negociar a sua liberdade. Caso contrário... vou eu mesma transforma-lo. E se for assim... - dera um beijo rápido na boca do detetive. - ... mal posso esperar para nossa noite quente.
Com uma última alisada no ombro de Frank, Ivana despediu-se sorrindo maliciosamente. Seu subordinado de quase 1,90 de altura e de aspecto carrancudo resolveu segui-la, mas parou para fitar o detetive com seriedade antipática. Frank só o encarou de volta como se não entendesse.
- Quer me dar um selinho também? - perguntou ele, tirando sarro da postura do vampiro que saiu mantendo o semblante de casca grossa.
***
Alguns vampiros instintivamente curiosos se reuniam perto da entrada do grande galpão abandonado para se certificarem do que estaria se avizinhando com grande barulho. A motocicleta cor preta e de design ultra-moderno cantando pneus com estardalhaço para chamar atenção e levantando fumaça.
- Avisem aos outros, o idiota com certeza quer treta com a gente. - disse um deles, estando à frente do grupo. - Vão, rápido! - mandou, impaciente. Logo pulara a cerca de arame losangular em um pulo selvagem e eficaz em um arco amplo até o outro lado. Transformara-se, abrindo a boca com as presas afiadas à mostra e os olhos alterados, logo correndo em fúria contra o misterioso motoqueiro.
O mesmo parou de levantar fumaça para disparar uma lâmina de prata limpa e brilhante que pegou logo na testa do vampiro, o qual caiu imediatamente para trás. A arma saíra de um bracelete que continha um pequeno número de lâminas úteis para bandos menores. O disparo era acionado com o fechar do punho. A parcela da ninhada que havia sido solicitada irrompeu das portas alternativas do galpão em uma horda de aproximadamente 22 vampiros com sangue nos olhos.
Cantando pneus por uma última vez, o matador oculto enfim saciou a curiosidade dos inimigos ao retirar o capacete com elegância...
- É uma garota! Pra cima dela com tudo! - bradou um vampiro, com uma tatuagem de um pentagrama na testa, que parecia um daqueles bad-boys de bares com sinuca, cerveja clandestina e meretrizes. Todos pulavam a cerca em saltos espantosos.
A mulher, vagarosamente, balançou a cabeça de um lado para o outro, deixando as longas madeixas meio onduladas lhe caírem aos ombros logo ao tirar o capacete. Seu rosto era de um branco tão alvo quanto a neve que parecia esculpido em porcelana e exalava o ar maduro que se esperaria de uma mulher aparentando estar na plenitude de seus trinta e poucos anos. De um olhar azul cortante, ela fitou o exército á sua frente, logo em seguida descendo da moto sacando de seu cinto de apetrechos duas facas com lâminas de prata, andando e erguendo-as e fazendo-as executar giros verticais no ar até caírem de volta nas palmas para firma-las em golpes precisos e letais.
Acertou os dois primeiros que vieram, cortando-lhes com brutalidade e fazendo sangue espirrar. Um outro pulou para agarra-la e derruba-la, mas a moça fora rápida para desembainhar com o clássico ruído uma espada média que decapitara-o ainda com ele estando em pleno ar - poucos antes de chegar perto de toca-la com seus dentes. A cabeça separou-se do corpo num piscar de olhos.
Depois virou-se e decapitou mais outro. Logo seguiu em frente, girando a espada com desenvoltura, passando a chutar e socar em ritmo acelerado e desferir cortes velozes em um show de experiência contra os dentuços que tentavam bloquear a passagem e iam tornando-se numerosos.
***
As cordas estavam cada vez menos firmes.
- Tá na hora de você vir conosco, valentão. - disse um dos vampiros que ficara de vigília.
- Acho melhor vocês chegarem um pouco pra trás. - disse Frank, com uma expressão enigmática. O segundo vampiro percebeu poucos segundos depois, expressando cólera.
- Ele se libertou! - exclamou, aproximando-se com ameaça.
O detetive desatara o último nó nos pulsos, de repente se desvencilhando completamente da corda e usando-a para "laçar" o pescoço do vampiro que tinha decidido leva-lo a outro ponto. Com isso, o jogou com toda a força pela lateral diretamente contra o que notou Frank se desfazendo das amarras, ambos colidindo à parede em grande impacto.
O terceiro vampiro o atacou em um salto feroz já transformado.
Frank rapidamente já havia sacado seu facão dentado ao ser derrubado, logo forçando para que ficasse por cima do vampiro que esforçava-se para cravar as presas no pescoço do detetive.
Com a arma firmemente segurada com as duas mãos - a esquerda pressionando a lâmina e a direita no cabo -, Frank apostou em um movimento arriscado para decapita-lo de forma vagarosa.
O vampiro se debatia, levando suas mãos abertas ao rosto de Frank, logo seus polegares alcançando os olhos do detetive intencionando perfura-los na carúncula lacrimal.
Em um último esforço, o detetive grunhiu, empurrando a lâmina dentada ao pescoço do vampiro.
Por fim, ela desceu, consequentemente fazendo salpicar sangue contra a face de Frank. As mãos que tentavam violenta-lo caíram no mesmo instante.
No entanto, a mão do vampiro que jogou contra parede o agarrou subitamente pelo pescoço, fazendo inclinar sua cabeça para o lado direito. Frank sentiu um hálito rascante e abafado próximo à nuca.
- Dessa você não escapa, miserável. - disse ele, aproximando seus presas pontudas à veia carótida. Frank sentia-se preso e sem aberturas para atacar. Como única opção, socou o vampiro no abdômen, de uma só vez o afastando em alguns centímetros. Depois virando-se para lhe aplicar um chute no peitoral que o derrubou. Pegara a cadeira com firmeza, golpeando-o - e quebrando-a - três vezes na cabeça até que se reduzisse em meros pedaços soltos de madeira. Por sorte, ele desmaiara.
Frank sentiu novamente o peso da verdade sobre o quão trabalhoso e exaustivo era enfrentar sugadores de sangue monstruosos sem que a união faça a força.
Aproveitando o curto tempo que o vampiro estava apagado, o detetive o pegou pelo cabelo, erguendo-o quase o sentando, para enfim decapita-lo em um corte horizontal bem direcionado da esquerda para a direita.
***
Tentando escapar por um dos corredores, o detetive ouvia o alarido do lado de fora com quase inaudíveis sons de lâminas rasgando gargantas. Havia uma outra sala de um dos lados do corredor, cuja porta fora aberta e dela saíra um dos vampiros que Ivana considerava de menor patente.
Logo ao ver Frank estacar ante a sua presença, o mesmo exibiu as presas e supervelozmente avançou contra ele, derrubando-o com violência.
- Acho que é o fim da linha pra você. - disse ele, agarrando-o com força bruta. A faca suja de sangue voou longe devido ao ataque imediato. Frank sempre lidou problematicamente com a dificuldade em não assimilar a velocidade e agilidade de seus oponentes dentuços para esquivar-se com melhor performance. De todas as criaturas que já enfrentara, Frank, de fato, se saía menos profissional com vampiros e nunca antes encontrou oportunidades viáveis para contatar especialistas que lhe entregassem materiais profundos que não se encontrava fácil em resultados de pesquisa online.
Antes que a saliva do vampiro gotejasse sobre o rosto do caçador, uma mão pegara-o pelo cabelo e o detetive surpreendeu-se ao assistir a cabeça de seu agressor ser cortada de forma tão exímia quanto a sua. Talvez até mais. O detetive protegeu o rosto com as mãos contra o sangue que respingou rápido.
A mulher que o salvara chutou o corpo para longe dele, jogando a cabeça em um canto depois.
- Quem é você? - perguntou Frank, franzindo o cenho, as palmas das mãos sujas de sangue.
- A caçadora mais temida entre todos os vampiros. Prazer. Natasha. - disse ela, estendendo a mão direita para levanta-la - Não esperava encontrar vítimas. Sei que não é o covil deles, se o levaram até aqui foi por uma razão bem especial. Estou errada?
- Não está não. - disse Frank, reerguendo-se e limpando as mãos no sobretudo. - Obrigado - fez uma pausa para olha-la com estranheza - Peraí... Você disse caçadora?!
- Você é o primeiro federal que salvo e fica surpreso com minha profissão. Isso é normal. - disse Natasha, limpando sua faca com uma flanela laranja. - Anda, temos que dar o fora rápido. - puxou-o pela manga do sobretudo. Ambos caminharam a passos largos e firmes.
- Não sou apenas um federal. - disse Frank.
- Vai me dizer que está aqui por fazer o mesmo que eu? - perguntou Natasha, incrédula.
- Exatamente. Os desgraçados me raptaram. - explicou ele, querendo ser reconhecido. - Costumo caçar esses e uma porrada de outros ainda piores.
- Desculpa, sem querer julgar o livro pela capa, mas... - ela o olhou por cima do ombro - ... você tem o perfil de um amador.
Frank arqueou as sobrancelhas para ela como se não acreditasse no que ouviu.
***
Ao correram em direção a moto, Frank observou a pilha de cabeças de cortadas com sangue esparramado por todas as proximidades, imaginando que sua salvadora seja a especialista com a qual aprenderia várias táticas efetivas de combate a vampiros, dada a precisão que foi necessária para que apenas um lidasse com um exército que passava dos 30.
- Você é rápida no gatilho hein. - disse Frank, impressionado. - Confesso que agora me sinto um amador. - falou, com um sorrisinho de canto.
Viraram-se de súbito para a entrada do galpão. Pelas quatro portas saía uma nova enxurrada de vampiros furiosos, uma horda que Natasha reconheceu de modo certeiro olhando com urgência.
- Vem, vem, temos que ir. - disse ela, correndo à moto, mas parou ao não sentir Frank acompanha-la. - O que tá esperando? - perguntou ela, em tom alto. - Olha, desculpa pelo que falei de você, não precisa provar que pode ser tão bom quanto eu. Eu vi a faca no corredor. Era sua, certo?
- Sim, era. E agora tô com munição zerada. - disse Frank, relanceando a moto e dando olhadelas na direção de onde o feroz exército vinha - Mas esse não é o problema.
- Então qual é? - questionou Natasha, ora olhando para Frank ora olhando para o bando de vampiros sedentos. - Diz logo, não temos tempo!
- Essa sua moto aí... Ela é segura?
- Então é isso? É sério? - indagou ela, voltando-se à moto para tirar a rede elástica que prendia o capacete da garupa. - Pega! - disse, jogando-o para o detetive que pegou por reflexo - Vem, sobe. - pegara seu capacete e preparou-se para acionar o motor. - Tudo tem sua primeira vez.- prendeu o cabelo para por o capacete preto.
Rendido, Frank subira na moto por uma questão de sobrevivência.
- Por que você arregou logo agora? - perguntou Frank, afivelando o capacete. - Detonou com uns 30, esses parecem estar um pouco em maior número mas se disse ser tão temida pode dar conta deles.
- De jeito nenhum. - retrucou Natasha, apertando os guidões da moto, dando a partida. - Eles são o último recurso. Ivana é a líder deles, já nos enfrentamos algumas vezes. Sei como ela joga. Sempre mandando seu bando mais experiente como a cereja do bolo. Se segura. - por fim, a moto saíra em alta velocidade, distanciando-se rapidamente e levantando poeira contra a multidão vampírica que corria em polvorosa para tentar pega-los, mas sabiam que àquela altura era inútil.
A moto rasgava o ar em sua quilometragem alta demais para o limite permitido daquela via expressa. Quem passava pelas calçadas ou passarelas podia vislumbrar um facho acelerado vermelho da luz do farol traseiro, executando ultrapassagens arriscadas. Frank, enrubescido, segurava-se na cintura de Natasha pouquíssimo a vontade em meio ao meio de transporte que considerava menos seguro, o vento fazendo seu sobretudo esvoaçar, o que pediria no dia seguinte uma boa passada de ferro.
- Que mal pergunte, mas... Pra onde exatamente você tá nos levando? - perguntou ele.
- Como só vim de passagem, fiz reserva num hotel barato. É pra lá que nós vamos. - determinou Natasha.
- Sugiro que a gente vá para o DPDC. Sou agente específico de lá, digamos que é meu emprego de fachada. Tenho distintivo aqui comigo se não acredita. Conheço essa cidade como a palma da minha mão, não estamos muito longe. Dá pra considerar? Preciso voltar já que passei horas apagado num ninho de vampiros. Devem estar preocupados.
- É, tem razão. Eu baixei o mapa da cidade antes de cruzar a última fronteira. No decoreba, claro, pouco tempo pra me organizar pra uma investigação que levou dois meses.
- Dois meses!? Então... - o detetive não conseguia sequer esconder a surpresa - Soube do plano deles, da campanha de araque, e seguiu as melhores pistas antes de mim.
- Podemos falar disso quando chegarmos? Prometo te contar tudo. - assegurou a caçadora, impaciente.
- OK. - concordou Frank, que, após uma curta pausa, deu uma risadinha que soou curiosa aos ouvidos de Natasha.
- Qual é a graça?
- O herói foi salvo pela heroína mais experiente que ele em matéria de chupadores de sangue. E sabe o que é mais hilário?
- O quê? - indagou ela, atenta.
- Perdi meu BV com uma vampira. - disparou Frank. O comentário fizera Natasha franzir o cenho, fazendo-a imaginar inúmeras coisas sobre aquele homem que mal tinha acabado de conhecer.
***
Departamento Policial de Danverous City
Carrie se levantou da cadeira de sua sala com olhos arregalados.
- Você disse Natasha?! Ma-mas... Natasha de quê, o sobrenome?
- De repente, você ficou assustadora. - afirmou Frank, olhando-a estranho. - Relaxa aí. - tentou acalmar a euforia da assistente, erguendo de leve as mãos - Olha, não nos entrosamos muito até aqui. Ela não mencionou nada sobre você, porque... me parece que você a conhece de muito tempo pra se espantar desse jeito. - fez uma pausa breve, supondo algo improvável - Não me diga que vocês duas são parentes? Que coisa engraçada, minha assistente tem uma parente caçadora e nunca falou...
- Cala a boca. Você não sabe a sorte que tem, seu grande idiota sortudo. - disse Carrie, tapando a boca de Frank com sua mão direita, mal contendo seu sorriso de felicidade, depois andando em passos desajeitados pela sala - Quem dera fôssemos da mesma família. - se virou para o amigo - Onde é que ela tá?
- Ahn... numa sala de espera. Mas ela já tá vindo daqui a... - Natasha enfim entrara no recinto - ... zero segundos. - disse o detetive, não esperando ser tão repentino. Carrie sentiu as pernas bambearem tamanha a sua emoção ao observar a caçadora dos pés à cabeça com maravilhosidade. - Respira, Carrie. - aconselhou Frank, preocupado. Ele franziu a testa, intrigado com a reação - Afinal, que diabos tá acontecendo aqui? Carrie, o que é toda essa... - mal soube explicar - ... essa coisa? Parece até que tá tietando alguém famoso.
- E eu sempre reconheço um fã quando vejo um. - disse Natasha, sorrindo com satisfação para Carrie ao constatar estar diante de uma admiradora genuína de seu trabalho como vocalista de uma banda de rock pesado. - Ah é, esqueci de falar. - disse ela, dirigindo-se à Frank - Sou a líder de uma banda chamada Darkside. É sério que nunca ouviu falar?
Frank fez que não com cabeça, perdido.
- Eu posso te tocar? - perguntou Carrie, afoita.
Natasha suavizou sua postura para deixa-la mais vontade.
- Vem cá. Quero abraça-la. - disse ela, abrindo os braços em acolhimento. A assistente foi ao encontro sem titubear, sorridente como uma criança realizando seu maior sonho.
- O momento tiete já acabou, agora podemos nos focar no caso? - questionou Frank, centrado. - Desculpa, Natasha, não ter reconhecido você logo de cara... é que meus gostos musicais são meio indefinidos, não ando muito por dentro desses assuntos. - alongou os braços rapidamente para os lados e bateu uma palma - Bem, finalmente tá na hora dos esclarecimentos.
- Está muito apressado. - disse Carrie, repreendendo-o - Essa reunião não vai acabar sem uma selfie de nós três. - ponderou ela, apontando ao detetive com o indicador. - Não aceito "não" como resposta.
- E nem eu. - disse Natasha, concordando, as mãos na cintura.
O detetive olhou para ambas de um modo apreensivo como se estivesse num beco sem saída.
- Tá legal, prometo. Muito bem, Natasha, seja bem-vinda ao DPDC. Está é Carrie, ela é a minha assistente e minha melhor amiga. Foi ela quem descobriu o lance da campanha rolando na cidade.
- Está vigorando em mais de dez cidades. Saí de onde montaram os últimos postos de coleta até o lugar que foi o gatilho pra esse plano maligno. - disse Natasha - À primeira vista, podem estar agindo ilegalmente, mas só basta uma pesquisa rápida pra saber porque nada foi feito até agora pra desmanchar com tudo. - falou, indo até o laptop, mas parou ao olhar Carrie - Posso usar?
A assistente consentiu na hora.
- Pedindo permissão pra sua maior fã? É claro, faça o que quiser, fica à vontade.
Frank inclinou-se para falar por trás do ouvido dela.
- Cuidado pra não passar dos limites. Parece até que voltou a ter 15 anos.
Carrie entortou a boca para a direita a fim de falar em tom baixo, sem tirar os olhos de Natasha.
- Não estraga o meu momento.
A busca por fatos comprobatórios da caçadora havia terminado em pouco tempo.
- Vejam. - virou o laptop para a dupla - O prefeito de Danverous City em uma rara foto com o elemento suspeito. Reparem no pingente que ele usa. - Frank e Carrie aproximaram-se para visualizar melhor o colar com um artefato similar a uma pequena pérola branca meio amarelada. - É um objeto sobrenatural, absolutamente nenhum vampiro saí de casa para curtir um bronzeado sem ele. Em outras palavras, essa pedra inibe os efeitos do sol na pele dos vampiros. Fiquei tão chocada quanto vocês na primeira vez que vi.
Frank não tinha como expressar sua perplexidade.
- Mas... Mas logo o prefeito?! - disse Carrie, atônita - Isso é inacreditável.
- Nosso prefeito... é um chupa-sangue. - disse Frank - Não sei se vou conseguir dormir direito tentando lidar com isso. - fechou os olhos por um breve instante, depois voltando-se à Natasha - Então isso significa que realmente ele autorizou esse plano? Tá conivente com a tal da Ivana?
- É minha principal teoria. - respondeu ela, firme, afastando uma mecha do cabelo no rosto - O prefeito nada mais é que um seguidor do barão vampírico, só deve ter contrato de exclusividade para se isentar das reuniões pela sua influência.
- Barão? Vampiros tem um tipo de hierarquia? - perguntou Carrie, avidamente curiosa.
- O título que se dá ao líder que vai comandar os vampiros por um século inteiro. - revelou a caçadora, as mãos apoiadas na mesa - O último foi morto por mim há exatamente 6 anos.
- O quê?! - disseram Frank e Carrie, em uníssono, partilhando a surpresa.
- Verdade. Pertencia à linhagem dos Crimson. Ele matou meu pai e sequestrou meu irmão mais novo, mas hoje ele está bem, fazendo intercâmbio em Londres.
- A Ivana fez mistério sobre esse lance de liderança geral. - disse Frank, relembrando o beijo da vampira involuntariamente - Mas não entendi porque precisam de sangue O negativo.
- O ingrediente principal para a transição. - respondeu Natasha, olhando-o - Todo vampiro que é eleito deve passar essa fase. É como um elixir poderoso. Faz duas semanas desde a última vez que Ivana e eu lutamos. Ela falou que faltava pouco para acabar a transição.
- Disse que estava a um passo. - complementou Frank, sério.
- E se for amanhã? - conjeturou Natasha, o tom duro. - Se sim, temos que impedi-la a qualquer custo.
- De preferência, amanhã logo de manhã. - considerou Frank, assentindo.
- Frank, esteve na mira dos bandidos sendo intimidado. - disse Carrie, preocupada - Checou os bolsos? Podem ter implantado um rastreador ou uma escuta.
- É uma possibilidade. - disse Natasha, chegando perto do caçador - Deixa eu ver.
- Querem que eu fique nu? - perguntou Frank com um sorrisinho de canto - Olha, posso ter ficado apagado por um bom tempo, mas... sei lá, não acho que tenham pensado nisso.
- Mas quando cheguei devem ter imaginado que eu era sua comparsa. Acertei?
- Na mosca. - confirmou ele, levantando uma sobrancelha.
- Além disso, Ivana pode ter usado o beijo como uma deixa. - especulou Natasha, focada.
Carrie quase se engasgara com a própria saliva ao escutar aquilo.
- Como é?! Disse beijo? - perguntou, voltando-se para Frank em seguida - Permitiu uma vampira roubar um beijo seu? Como pôde?
- Alô-ô, cadê o bom senso? - questionou Frank em repreensão - Eu tava amarrado pelos pulsos e pelos braços.
- Podia ter comprimido os lábios. - sugeriu a assistente, teimosa à questão.
- Digamos que ela foi mais rápida. Uma situação de vida ou morte como aquela não dava pra ficar prevendo os movimentos dos inimigos. Aquela desgraçada podia ter me mordido em vez disso. Preferiu ir na sacanagem porque acreditou que eu fosse ser moeda de barganha pra Natasha. - apontou para a caçadora - Olha, amanhã mesmo vamos dar um corretivo naquela vampiranha.
- Horário melhor não há. - disse ela, em concordância - Ela não pode completar a transição para se tornar baronesa até o meio-dia. Do contrário, o amuleto será inútil e ela será indestrutível já que é mais jovem. Barões ficam mais fracos com o passar do tempo, mas pouco depois da transição... eu nem tento imaginar o quanto de poder eles podem liberar. Se fôssemos só nós dois, hipoteticamente, nem toda a minha experiência iria nos salvar da morte.
- Então só precisamos arrancar o colar do pescoço dela e leva-la pra tomar um banho de sol antes da última bolsa de Sanguynho. - compreendeu Frank, esfregando de leve as mãos - Mal posso esperar.
- Muito menos eu. - partilhou Natasha - Acabar com a raça da Ivana será um peso a menos nas minhas costas. Ah... sim, eu quase ia me esquecendo. - disse ela, com um dedo no queixo, meio pensativa e a cabeça meio baixa. Um detalhe crucial indispensável - Cada barão que atinge o estágio máximo da transição tem por direito usufruir das dez joias do poder.
- Joias do poder? - indagou Carrie, interessada.
- Sim. O último Crimson tinha apenas nove. A décima herdei do meu pai, eu ainda não faço ideia de como ele conseguiu. É daí que vem toda a fonte de poder e o perigo de falharmos na missão.
Frank assentiu firme e seriamente à companheira.
- Tenho uma lista de contatos bem longa de colegas das antigas. Se a maioria tiver disponível... vamos ter nosso próprio exército recheado de prata e armado pra guerra.
- Ótima ideia. - disse Natasha para o detetive. Carrie estava analisando algo em seu celular.
- Frank... e deusa do rock, quero dizer...
Natasha sorriu mais abertamente.
- Tá tudo bem, pode me chamar só de Natasha, sem problema.
- Esse dia não tem como ficar cada vez melhor. - disse ela, tomada pela euforia novamente. No entanto, Frank tratou de apaziguar esse fogo com um olhar de desaprovação seguido de apontadas com as pupilas diretamente ao celular para que ela informasse o que descobriu - Ahn... Acabo de ver aqui nas notícias por minuto que o prefeito ordenou um carregamento de bolsas de sangue em oito caminhões com rotas para hospitais da área nobre. Ou seja, todo o O negativo coletado direto para a boquinha de cemitério que beijou o Frank.
- Só lamento pelas vidas que estão risco nos leitos. Maldito. - comentou Natasha, inconformada.
- Vou avisar pro pessoal. Bolar uma estratégia pra sabotar essa maracutaia. - disse Frank, determinado a seguir à risca.
- Nos vemos amanhã então? - perguntou Natasha, virando-se à ele.
- Pode ter certeza absoluta que sim. Isso ficou maior do que eu podia imaginar e como inveterado não vou ficar no banco de reserva. - disse o detetive, tocando-a no ombro - Tem o meu apoio. De caçador pra caçador.
- Caçadora. - corrigiu ela, sorrindo de leve.
- É, isso aí. - falou Frank, retribuindo com um sorriso aberto indicando cumplicidade instantânea. Carrie era apenas orgulho estampado em sua face ao ver suas duas maiores admirações fortemente unidas por uma causa em comum.
***
"O plano vai seguir exatamente assim: Carrie monitora pelo mapa digital os caminhões que forem seguindo as rotas e nos informar se vão em grupos de quatro ou dois ou se vão juntos, sabendo disso fica mais fácil determinar quanto caçadores são necessários. Cada caçador vai receber um comunicador pra saber as coordenadas e os avisos de segurança. Daí por diante, vão ter que bloquear a passagem e ordenar que deem a meia volta, se não acatarem é partir pro ataque. Enquanto isso, a Natasha e eu corremos pra localização específica onde a Ivana planeja finalizar a transição, matamos uns desgarrados... e quando a pegarmos ela é toda sua, Natasha. Nesse meio tempo, vou ficar tentando atrasar uns vampiros até que os outros cheguem. Carrie, você liga pra eles virem depressa se tiverem terminado nos pontos de bloqueio. Vamos sair as 10 em ponto."
Dessa forma o detetive elaborou o plano em definitivo. Em uma estrada ladeada por terrenos íngremes com pouquíssima vegetação, cerca de quatro caminhões aproximavam em velocidade mediana que ia reduzindo à medida que o viaduto abandonado ficava mais perto. Debaixo de um sol forte, alguns caçadores estavam munidos de detonadores em uma distância segura, usando óculos de proteção e capacetes de engenheiro. Quando os caminhões alcançassem a última faixa branca do asfalto antes de cruzar o viaduto, os explosivos armados nos dois lados de terreno e acima do viaduto seriam acionados ao mesmo tempo.
Um deles gritara em alto e bom som.
- É agora!
Os botões foram apertados simultaneamente, gerando múltiplas explosões. Bastante poeira, areia e terra se ergueram para o ar com intensidade e uma avalanche incontrolável de grandes pedras barrou completamente a passagem sem expor brechas perceptíveis. A alta concentração de pedras predizia um tempo de mais de 6 horas para remover tudo com tratores e cerca de 12 horas apenas com mãos nuas. Os bravos colegas de Frank desciam ansiosos para o confronto, sacando suas lâminas.
Já os vampiros, estes desciam casca-grossas em suas faces dos caminhões, batendo forte com as portas ao fecharem-as. Todos vestiam macacões brancos com o logo da AMDC bordado no lado esquerdo onde ficava um bolso. Os pingentes inibidores estavam dentro das vestes.
- Parece que chegaram ao seu destino. - disse o caçador que fazia frente aos outros sete, pondo a lâmina sobre o ombro direito - E aí, seus manés? Vão encarar ou fugir?
Alguns deles entreolharam-se e enfim cederam a tentação ao fazerem crescer suas presas e alterar os olhos para depois avançarem no mesmo ritmo de modo selvagem.
Uma colisão brutal entre caçadores e vampiros estava prestes a ocorrer.
***
Uma cabeça decepada de vampiro voou contra um quadro protegido com vidro que se despedaçou com o impacto, naturalmente o derrubando. Natasha e Frank entravam na ampla sala de estar da mansão de Victor Garbouder, um dos antigos vampiros mais influentes entre os todos os vampiros de Danverous City, anteriormente morto por algum caçador misterioso que não fosse da linhagem Montgrow. Avaliada em 100 milhões, a residência serviu por anos como refúgio para vampiros marcados para morrer e numa única vez, há muito tempo, Garbouder foi o anfitrião da eleição do último líder supremo... o milenar Crimson assassinado por Natasha a sangue frio na vingança que desfez o entrave pessoal da caçadora.
Frank havia chutado a porta dupla e Natasha jogava as cabeças de dois vampiros que decapitou logo na entrada como milho para atrair as galinhas - no caso, o cheiro do sangue acionaria o olfato hipersensível do grupo mais privilegiado e próximo de Ivana.
- Tem certeza que isso não vai dar merda? - perguntou Frank, incerto.
- Sem chance. Quero faze-lo experimentar meu trunfo. - disse a caçadora - Quantos mais deles vieram até nós e quanto mais perto ficarmos de destruí-los, Ivana vai sentir as perdas já que o vampiro potencial sempre está ligado aos seus súditos, com isso ela vai ter outra escolha a não se mostrar e me enfrentar.
- Olá Natasha. - disse Ivana, aparecendo no topo da escada com um sorriso cínico - Não esperava que fosse ouvir você dizer meu nome de novo, muito menos vê-la tentando estragar meu dia.
Ambos olharam no mesmo instante, surpreendidos baqueadamente.
- Vejo que fez um amigo. - disse a vampira, olhando para Frank. Soltou uma piscadela para o detetive que retribuiu com enojo na face. - Então era você fazendo baderna como um arruaceiro metido, eu devia imaginar. Já se conheciam?
- Só pra esclarecer, eu nem sabia que ele estava capturado. Não vim pra resgate, mas pra acertar as contas. - declarou Natasha, agarrando firme seu facão de prata. - E hoje isso vai acabar, Ivana.
- Tenho a estranha sensação de que frustrei suas expectativas. - disse Ivana, olhando estreitamente - Acho que vai ser divertido. Tentem me pegar, se puderem. - falou, correndo para trás em supervelocidade para um escuro corredor que levava ao salão de festividades onde aconteceu a votação do último barão.
- Vamos. - disse Natasha para Frank, andando para subir as escadas. Porém, a porta dupla dos fundos se abrira com estardalhaço que os fez se virarem no pé da escada para conferir quem chegava.
Era justamente o grupo favorecido de Ivana liderado pelo brutamontes careca que observou Frank com raiva e frieza no interrogatório. O mesmo, com as mesmas vestes da noite passada, cravou seu olhar grosseiro e ameaçador diretamente em Frank, depois baixando os olhos para as cabeças soltas envolvidas em poças de sangue.
A dupla subiu as escadas depressa sem perder nenhum segundo a mais, de dois em dois degraus, não demorando a sentirem os vampiros correrem exasperados atrás deles.
Na metade do caminho, Natasha destravou uma granada e jogou-a rápida contra os dentuços. O objeto quicou nos degraus abaixo, logo expelindo uma fumaça extremamente preta que saiu como um fantasma ou espectro de seu recipiente, cegando todo o grupo de vampiros que gritavam pelo ardor que sentiam nos olhos.
- Boa tática. - elogiou Frank, tornando a subir - É pedir demais um kit com seis dessas emprestado?
- Não fui eu quem fabriquei essa bomba de fumaça ardente, além de que não costumo compartilhar minhas armas. - disse Natasha, sincera - Duas palavras: Deep Web.
- A Carrie te ensinou a entrar?
- Eu mesma entrei. Não sou só auto-didata em artes marciais e manejamento de armas.
- Isso explica muita coisa - disse o detetive, já arfando de cansaço.
A caçadora chutou a porta dupla do salão, encontrando Ivana virada de costas.
- A brincadeira já acabou. - disse Natasha, caminhando até ela e desembainhando sua espada média com ruído característico de lâmina riscando.
- Pelo contrário, ela só tá começando. - disse a vampira, virando-se com um sorriso fechado e odiosamente confiante.
Frank fechara as portas, usando uma barra de ferro colocada entre os puxadores dourados, em seguida encostando-se para manter seguro depois que a fumaça dissipasse e os vampiros insistissem em arrombar. Generosamente, deixou que Natasha concluísse sua própria batalha, torcendo por ela.
Na luta, Ivana esquivava-se habilidosamente dos golpes da espada que Natasha manobrava. A caçadora ao menos conseguira descontar dois fios loiros de sua nêmese, a deixando mais fervorosa para revidar. Frank estava preparado para o primeiro baque contra a porta e ele não viera tarde. Suas costas sofreram uma dor lancinante. A barra usada como tranca balançava com as investidas.
Enquanto o detetive se fazia guardião, Ivana aplicava golpes físicos contra Natasha que largara a espada defendendo-se com os braços. A caçadora puxara as madeixas douradas da vampira para frente, desferindo uma joelhada esquerda contra seu rosto e em seguida um chute no queixo. Ivana teve êxito em socar a face de Natasha bem perto do nariz, seguido de um chute forte no abdômen e mais dois cruzados de direita e esquerda. Natasha barrara um outro cruzado de direita com sua mão esquerda, logo dando uma cabeçada contra a testa da vampira que a fez inclinar-se para trás subitamente, depois fazendo cambalhotas até golpeia-la certeiramente com um chute duplo bem no tórax não fazendo feio ao derruba-la e afasta-la. Tirando proveito, Natasha, com alguns filetes de sangue despontando de sua boca pelos hematomas causados pelos socos, sacou uma segunda espada de igual tamanho, apontando diretamente ao pescoço da vampira.
- Últimas palavras? - perguntou a caçadora, o tom rude e autoritário.
- A última palavra é sempre a minha... quando eu devo vencer! - retrucou Ivana, colérica, pegando a espada com as duas mãos e a afastando, logo depois chutando Natasha no queixo, levantando-se e, enfim, pegando o cabo da espada para cravar na barriga da caçadora que prontamente evitou a artimanha chutando a lâmina para longe e rebateu com outro violento chute horizontal de esquerda que a fez dar alguns passos para trás. Na porta dupla, Frank era constantemente empurrado pelos vampiros que persistentemente tentavam arrombar. Podia deduzir pelo menos uns quatro ombros batendo com grande força física. O suor descia profuso da testa do detetive que preocupava-se com o andamento da batalha principal.
- Sem querer te apressar, mas... a coisa não vai se sustentar por muito tempo aqui! - alertou ele, recebendo mais empurrões imediatos.
- Já vou dar um jeito nisso de uma vez por todas. - disse Natasha, munindo-se de socos-ingleses de prata. Ivana, aturdida, passara a mão entre os lábios e comprovou estar sangrando. Sua visão estava enturvando, não vendo mais que um borrão.
- O que está havendo comigo? Me machucou só com aquele golpe! Olha, tenho que admitir que estava até pegando leve com você, mas agora cansei de ficar me aquecendo.
- Eu acho que está enganada. Não... - Natasha a olhou de modo estreito - Está enganando a si mesma.
Ivana sentiu outra vez a visão embaçar, desta vez acompanhada de uma tontura que provocou um leve cambaleamento. Um péssimo sinal.
- Preciso de sangue... - disse a vampira, dando-se conta do estado de inanição que é evitado caso o vampiro a ser ascendido ao patamar supremo tomar hiperdoses de sangue raro, não ficando mais do que duas horas sem essa alimentação.
- Precisa de mais do que sangue. - disse Natasha, em seguida golpeando-a com o soco-inglês direito, depois o esquerdo, novamente o direito... - Talvez um band-aid? - desferiu mais outro - Ou um Mertiolate? - lacerou mais uma vez contra a pálida face da vampira fazendo-a cair.
- Tá legal, tá legal... - disse Ivana, mostrando a palma da sua mão direita enquanto se debilitava com os ferimentos no rosto antes que Natasha a socasse mais vezes - Eu me rendo. Já pode parar. - disse ela, o que, porém, não convenceu a adversária logo de cara.
- Ainda não terminei. - disse Natasha, pegando-a pelos cabelos com bastante força e arrastando-a até a varanda cuja passagem se dava por uma porta de correr quadriculada com vidros. Frank observava tudo admiração, mas ao levar um baque ainda mais forte dos vampiros lembrou-se que estava executando sua parte do plano.
- Acha que eu vim apenas pra te pôr de castigo? - disse Natasha enquanto a algoza gritava praticamente implorando. A virou pegando-a pelos ombros. As duas se encararam por um breve instante. - Esse jogo entre nós acabou. Chegamos primeiro. - a virou frente à porta e jogou-a contra ela. O impacto fizera o vidro estilhaçar por todos os lados, danificando até mesmo a madeira da porta.
Caída na varanda, Ivana cuspia uma certa quantidade de sangue, até vomitar por uns poucos segundos. "Eu... Eu merecia ser informada dos efeitos colaterais de abstinência. Aqueles... miseráveis!".
Os pensamentos da vampira foram cortados por Natasha que pressionou seu coturno do pé esquerdo contra o pescoço dela. Os lábios de Ivana estavam ressecados e sem cor.
- Se seus súditos fossem tão leais quanto pensava, não acha que teriam avisado sobre a inanição? Teriam deixado algumas bolsas de reserva até que a carga viesse. - disse a caçadora, o tom raivoso, sua estonteante beleza caucasiana sob o céu azul anil da manhã.
- Você tem razão... - disse Ivana, mal aguentando-se - Eu fui uma péssima líder. Não, melhor dizendo: Eles me subestimaram... por eu ser mulher. Me diga você, Natasha. Nunca na sua carreira perigosa você já sofreu com isso?
- Tive um leve gostinho disso com o cara que vocês pegaram e agora está impedindo seu bando de invadir a sala e salva-la. Até duvidei dele. Mas depois percebi que somos iguais. Começamos nossas vidas de caçada pelas mesmas razões. Ele tem meu respeito, ao contrário de você com seus servos. - inclinou-se para ela, arrancando o pingente protetor.
- Não, por favor, Natasha... - suplicou Ivana, sentindo a pele arder de repente.
- Tarde demais pra implorar. Vou rodar esse mundo atrás dos sucessores potenciais.
- Tente enquanto ainda está viva. - disse a vampira a encarando friamente - Sempre... haverá... um sucessor.
A caçadora a fitou com igual frieza por um instante, logo se virando para deixa-la ali para morrer.
- Nããããããaõooo!!! - vociferou Ivana, levantando-se depressa e esticando o braço direito para Natasha, mas não a ponto de ficar completamente de pé pois a rapidez da luz solar já estava atingindo seu corpo, incendiando-o até carbonizar pele, carne e ossos. O esqueleto da vampira reduzido a carvão explodiu em cinzas atrás de Natasha cuja seriedade implacável foi tão mantida quanto a sua postura que andava tranquilamente sem se importar. A explosão reverberou contra o que sobrou da porta.
Os empurrões contra a porta tinham cessado, livrando as costas de Frank que estava paralisado e cogitando verificar se era o que estava pensando. Natasha andou até ele, mas o detetive ergueu uma mão pedindo para não se aproximar.
Até que uma voz familiar para ele bateu rapidamente quatro vezes na porta.
- Hey Frank! Somos nós! Acabamos com eles!
Prontamente tirando a barra dos puxadores, Frank mal conteve a felicidade ao abrir a porta e reencontrar os colegas que contatou para a grande missão.
- Caras, vocês me deixaram preocupados. - disse ele, sorrindo meio torto.
- Estamos todos bem. - disse o líder, com os outros concordando - E a sua amiga? - se inclinou para Frank a fim de cochichar algo - Ela é solteira?
Sem jeito, Frank tentou contornar com uma resposta improvisada.
- Só preciso de um minuto com ela. OK?
- Ah, agora sei. - disse ele, abrindo um largo sorriso. Os demais do grupo riram baixinho.
- Não, não sabe, nenhum de vocês sabem, ninguém sabe... E isso não quer dizer que seja o que vocês estão pensando. - disse Frank, tratando de quebrar sinais que indicavam mais que uma amizade.
Indo ao encontro da caçadora, o detetive exalava um ar compreensivo.
- Você quase roubou a minha série. - disse ele, em tom brincalhão.
Natasha franziu as sobrancelhas, confusa.
- Sua série? Como assim?
- Pode ser loucura, mas às vezes enxergo a minha vida como se fosse uma série de TV... ou de um blogzinho qualquer que posta baboseiras. - disse, quase rindo.
- Isso não é loucura, é egocentrismo, sendo franca. - disse Natasha, logo olhando para o restou de Ivana na varanda. - Essa guerra está muito longe do fim.
- Falando sério agora: Você arrebentou. - disse Frank, amigável - Deu tudo o que ela merece.
- Obrigada. - disse Natasha. - Frank. - o olhou com genuíno senso de parceria - Fiz a Ivana engolir a minha verdade sobre você.
- Que eu não passo de um pé no saco por não estar tão acostumado a não trabalhar sozinho, ainda mais com uma mulher?
- Nada disso. - corrigiu Natasha - Que você tem meu respeito por ser um caçador forte. Além disso, não podia deixa-la morrer sem anunciar minha próxima meta. Amanhã mesmo vou pegar um voo pra Londres, um potencial deve estar lá. Quero acabar com todos.
- Então é isso que acontece com um vampiro sem protetor solar. Bem mais eficaz que decapitação. - disse Frank, analisando as cinzas. - Espera aí, você disse Londres? - perguntou, virando o rosto para ela de repente - Acho que vou pegar mais uma carona.
- Olha, eu sei que criamos um vínculo profissional... e de amigos também... mas eu posso dar conta disso sozinha. A jornada de um caçador é, em essência, solitária. - disse Natasha, educadamente - Essa cidade precisa de você, Frank. Seja o herói dela.
- Continuo tentando. Também não vou desistir. - disse o detetive, logo explicando-se - Mas a viagem não é a trabalho. É pra encontrar um amigo. Fiz uma promessa.
- Então não se atrase para o embarque. - avisou Natasha, afastando uma mecha do cabelo - As Joias do Poder podem estar no cofre de Garbourder. Mais uma razão para a cerimônia ter sido agendada na mansão dele. Vou dar uma olhada.
Um dos caçadores fez um alerta em voz alta para o grupo.
- Vem vindo mais deles. Se preparem.
O caçador líder que havia se interessado por Natasha apanhou uma das espadas da caçadora.
- Será que posso brincar com uma dessas?
- Tenho muito mais de onde veio essa. - disse Natasha, flexível - É toda sua. O caçador ofereceu uma piscadela como agradecimento embora não despertasse suspeita nela. - Vamos lutar com tudo. - afirmou, aquecendo-se para mais um round.
- Tem certeza de que não quer ir lá no cofre enquanto a gente dá cabo dos desgraçados? - perguntou Frank. No entanto, ela se desconcertou com o modo que falou - Ahn, err... Não me leva a mal, é que...
- Está bem. É a sua gangue, afinal de contas. - disse ela, com um sorriso fechado e leve. - Formamos uma boa dupla.
- Concordo. - disse Frank, feliz e orgulhoso por ter conhecido alguém com um foco de profissão limitado mas tão versátil em atributos de combate.
A caçadora virou-se para a direção de onde ficava o corredor para se chegar até o cofre em uma das portas dos fundos do salão. Contudo, estacou, lembrando de estar com o pingente de Ivana em mãos.
- Aqui. Toma. - disse ela, jogando o objeto para que Frank pegasse. - Pra sua coleção. A Carrie me disse que ela fica no seu porão junto com os arquivos do seu pai.
- Opa, valeu. - agradeceu Frank, estudando o pingente como quem ganha um presente.
A batalha só estaria ganha quando todos os vampiros que juraram servir a Ivana fossem destruídos.
***
Departamento Policial de Danverous City - 19h22
Carrie fitava Frank sentado diante de sua mesa com um olhar que dizia "está sem saída".
O detetive suspirou, sentindo-se derrotado.
- Tá, tá legal, Carrie. Vamos tirar a maldita selfie.
- Eu realmente não entendo. Por que odeia tanto tirar fotos?
- Se for ver meu álbum de quando eu era bebê não vai se surpreender que depois dos 2 anos não tem mais fotos. Foi a partir daí que peguei raiva do maldito flash piscando na cara. - disse Frank, as mãos com os dedos entrelaçados na mesa da assistente. - Por que não fizemos logo ontem à noite?
Carrie demonstrava um sorriso fechado mas instável, como se a euforia por ter conhecido um ídolo ainda estivesse latente dentro do seu âmago.
- Sabe naquela hora em que o diretor te chamou pra cruzar as espadas no banheiro, deixando eu e minha musa do rock as sós? Então... Nós dobramos o evento.
- Dobraram? - indagou Frank, sem entender muito bem. - Carrie... fala logo o que vocês duas inventaram. Não é querendo interferir nem julgar, eu estou feliz por vocês duas terem se entrosado, se dado bem, quase melhores amigas, fiquei feliz por você estar feliz...
- Você ficou me repreendendo com aquela sua cara que eu odeio. Se estivesse no meu lugar, acho que agiria exatamente igual... talvez pior.
- Idolatrar artistas pra quê, afinal? Olha, se eu tinha alguém pra venerar com certeza era o meu pai.
- Vamos mesmo criar uma discussão inútil sobre tietagem e idolatria? Me escuta, Frank. - disse, apressada, debruçando na mesa para falar mais de perto. - A selfie vai rolar, mas não aqui. - revelou ela, animada, logo sacando dois pequenos papéis de cor púrpura com branco em formato retangular e jogando-os sobre a mesa. Frank mostrou-se surpreso - Duas entradas grátis para o show de amanhã com direito a visita ao camarim dela. Estou provavelmente me antecipando para o melhor momento desse ano na minha vida.
- Espera... Dois ingressos, ótimo, você tem outros amigos, talvez um familiar pra levar... - o detetive se interrompeu, engolindo a saliva ao encarar o olhar pretensioso da assistente. - Carrie, por que eu?
- Ah, pára com isso, Frank. - disse Carrie. - Ela quer fazer algo por você se você fizer primeiro algo por ela. Se não por ela, faça por mim. Eu não teria conseguido isso se não fosse graças a você... e aos vampiros que te sequestraram também, claro. - disse, revirando os olhos - Vai ser minha primeira vez assistindo ela no palco ao vivo. Me deu a chance de conhece-la, eu nem fazia ideia que ela era uma caçadora... Me dá a chance de também experimentar a performance musical dela, por favor, mesmo que o som não seja a sua praia. Quando ela me ofereceu os ingressos, não tinha pensando em ninguém... além do meu melhor amigo. - exalou um de honestidade que sensibilizou o detetive profundamente.
- É... Acho que vale o esforço. - declarou Frank, aceitando de bom grado para a alegria incontrolável de Carrie que mal se contia por dentro - Já tenho até uma ideia de como vou retribuir antes de voarmos pra Londres...
***
Noite do dia seguinte - 23h50
A plateia do show estava a mil por hora cantando fanaticamente os versos de Nemesis, considerada uma das melhores da Darkside. Frank, ao lado de Carrie, se sentia incomodado com o jogo de luzes do palco assim como estar no meio daquela multidão barulhenta que ia à loucura a cada música. Por um momento, virou o rosto lentamente para sua amiga, vendo-a cantar alegremente segurando um bastão de Led cor verde e se entorpecendo de muito heavy metal na noite já considerada inesquecível.
Um fechado e singelo sorriso de compreensão se desenhou em Frank. Admitia que estava onde deveria estar. Por consideração e não por obrigação.
Ao fim da canção, o detetive aplaudiu junto à Carrie, assoviando com os dedos enquanto ela gritava um alto "Uhuuu!" e erguendo as duas mãos em forma de mano cornuto pra cima.
Natasha, em agradecimento ao público, fez reverência com as mãos juntos, logo se erguendo bruscamente, seu cabelo comprido "voando" para trás.
A caçadora esbanjou um sorriso largo, sentindo-se esplendorosa pela lotação de público.
Horas depois, Carrie e Frank a encontraram no camarim para realizar a foto dos sonhos.
***
The_Hunter e cia
F: Bom, nosso tempo já tá acabando né?
N: Já acabou na última meia hora. Se continuarmos aqui vamos nos atrasar pro voo.
F: Ah, é verdade. Esqueci que foi programado para as cinco horas. Ainda nem arrumei minha mala (risadinha).
N: Como é que é? Então o que você tá esperando? Adorei ser entrevistada, mas precisamos ir.
F: Não quer dar uma palavrinha final pros nossos ouvintes?
N: Ah, verdade. Err... (risos) Desculpa, é a primeira entrevista onde faço da minha carreira de caçadora um livro aberto, desse jeito a timidez toma conta de mim. Mas... Eu gostaria de incentivar o conselho do Frank sobre ser caçador. Será que alguns de vocês já se imaginaram vampiros? Já aviso que não é tão divertido quanto na TV ou nos livros. Conde Drácula é fichinha perto dos chefões que já enfrentei. Pode parecer que exagerei, mas é a verdade. Não se deixem transformar se forem um dia atacados. Do contrário, eu vou estar pronta pra caça-los.
F: Vai acabar assustando o povo (risos). Isso aí, pessoal. Pratiquem boas ações em vez de se auto-destruírem. Tipo... doar sangue.
N: Exato. Pelo menos uma vez na vida façam isso. Podemos encerrar agora?
F: Sim, vamos. Na próxima semana não terão novos áudios...
N: Vai ficar só por um semana? Só ver o seu amigo e depois tchau?
F: Tinha dito que não poderíamos ser parceiros nessa viagem, certo? Eu já sabia que eu ia partir mais cedo, seu objetivo é mais... amplo.
N: O seu amigo é importante pra você. Um objetivo não é melhor que o outro. Olha, a gente pode até se separar quando chegarmos, mas passa mais uns dias, sugiro que uns dois meses respirando os ares britânicos, eu recomendo. Afinal de contas, eu nasci e fui criada lá. Ou você é saudosista demais pra sair da sua amada cidade?
F: Não é bem saudosismo... Ahn, acho que já devia ter desligado aqui.
N: Tem razão, a entrevista acabou faz tempo. Hora de dar tchau.
F: Pois é. Muito obrigado, Natasha. Até o próximo caso. Valeu, falou, fui.
-x-
N.A: Eu até colocaria trechos da entrevistas intercalando as cenas, porém o capítulo ficaria muito longo. Quem sabe um dia eu publico ela na íntegra.
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: http://www.zona33.com.br/2016/08/os-vampiros-de-nova-york-e-o.html
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