Frank - O Caçador #41: "Vida Longa à Rainha"
Após sua desvinculação repentina do DPDC, Eileen Hopkins não levou um demasiado tempo para se estabelecer num novo emprego, ainda que não tratasse como algo sobre o qual diria que trabalha há vários anos e nunca pensou em largar por estar satisfeita com o salário, o chefe, os funcionários e a carga-horária. Ela continuava ostentando madeixas loiras meio cacheadas. Ficou incumbida de fechar a lanchonete, trancando a porta de entrada e assumindo total responsabilidade da chave. Seguiu caminhando pela calçada, usando seu casaco marrom claro, até que dobrara à direita, logo tendo uma surpresa, mas uma grata surpresa.
- Mike, que ótimo te encontrar... e inesperado também. - disse ela, sorrindo para o amigo. Mike tinha olhos azuis e cabelo preto, esbanjando uma fisionomia que atendia aos requisitos de características físicas de Eileen para um "par perfeito" - Tava indo pra onde?
- E aí, Eileen? Na verdade, tô voltando da Gazeta Danverous. Nada de novo sob o sol.
- Deixa eu adivinhar: O seu editor mão de vaca pagou mixaria de novo?
- Pois é, o carrasco não larga de ser pão duro nem quando a foto vale mais do que ele ganha.
- Que tipo de foto valiosa é essa que conseguiu? - perguntou ela, andando. Mike a acompanhou.
- Se eu contasse não acreditaria. Se eu mostrasse, nem ferrando.
- Depende do que for. O motivo pelo qual saí do DPDC me estimulou a não duvidar de mais nada.
Mike a fitou com certa desconfiança, curioso quanto ao real motivo que culminou na saída.
- Bem, não é algo casual, tem mais a ver com... coisas sombrias que encantam qualquer viciado em filmes de terror. Tá, vou parar de enrolar: A foto mostra uma mulher de vestido branco parada na calçada, mas ela parece tão transparente que dá pra ver um pouco do que está do lado, ela tá de perfil. Me acusaram de editar pra incentivar sensacionalismo.
- Você não tem que provar nada. Mas não seria melhor dispensar temas sobrenaturais?
- É, você tá certa. Se quer saber, eu acredito em fantasmas. A vida é uma viagem muito curta para a morte não significar nada que seja... transcendente. Entende?
- Perfeitamente. - disse Eileen, uma expressão simpática - Olha, vamos encerrar esse assunto de fotos de fantasmas e maus pagamentos. Espera aí, por que você tá indo pelo mesmo caminho que voltou?
- Ah é, te encontrar assim de repente me desorientou. - falou Mike, achando engraçado - Qual é? Minha companhia não te faz bem?
- Não, é que estávamos indo por direções opostas, daí você me seguiu. - respondeu Eileen, sorridente.
- A propósito, de onde você vinha?
Eileen parou na calçada, virando-se para Mike e desabotoou o casaco para mostrar seu uniforme vermelho de garçonete.
- Emprego temporário dos sonhos. - disse ela, não transparecendo muito agrado - Você é a terceira pessoa que eu conheço que sabe disso. - fechou o casaco, retomando a caminhada.
- Quem são as outras duas?
- Os meus pais. E por falar neles, passa um dia desses lá em casa. Não sei se já tinha percebido, mas eles gostam de você. De um jeito que faz eles verem nossa relação de uma outra perspectiva. Isso desde a morte do Rogger. - baixou a cabeça, entristecendo-se.
Mike sentia o pesar que atormentava sua amiga e sabia que os pais sugeriam algo maior entre eles. O fotógrafo, repentinamente, foi incomodado por um inseto que voou na sua direção e espantou com a mão, mas não adiantava.
- O que foi, Mike? - indagou Eileen, notando mais outros insetos do mesmo tipo voando próximos à eles e os espantou de seus ombros - Ai! - sentiu algo espetar seu antebraço esquerdo - Me picou.
- Caramba, são abelhas. - disse Mike, agoniado - À essa hora?
Eileen notou uma figura trajando um manto esfarrapado e negro perto de um poste cuja luz tremeluzia.
- Mike, olha aquilo. - disse ela, apontando para o indivíduo estranho.
- A gente tem que dar o fora... - idealizou Mike, percebendo um sinal de ameaça oriundo daquele ser espectral cujas vestes esvoaçavam tenebrosamente com a brisa. O homem encapuzado abriu sua boca nojenta liberando um denso enxame de vespas peçonhentas através dela - Vem, corre! - puxou Eileen.
O enxame partiu com tudo para cima de Mike, fazendo Eileen afastar-se dele imediatamente. O fotógrafo corria desrumado aos gritos de horror enquanto levava inúmeras ferroadas dolorosas envolto da nuvem de vespas.
- Mike! - gritou Eileen, desesperada. Pensou em correr para lutar contra os insetos, mas antes que desse um passo uma mão envelhecida e de aspecto horrível como se a pele tivesse sido queimada ao último grau agarrou-a pelo braço direito - Me larga! - o Peste Sombria estava de volta à cidade e disposto a sequestrar uma mulher que servisse a um plano macabro. A escolhida fora Eileen. A ex-legista do DPDC foi arrastada pela entidade que se transformou-se em centenas de baratas de todas as espécies que envolveram o corpo de Eileen completamente. O exército numeroso de baratas iam para dentro de um bueiro, enquanto umas poucas se dispersavam pela rua, e Eileen sumira com o mutirão de insetos.
Não se via nenhum vestígio de Mike na calçada, nada além de umas vespas que ainda estavam ali voando.
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CAPÍTULO 41: VIDA LONGA À RAINHA
Departamento Policial de Danverous City
Frank andava por um corredor dirigindo-se à sua sala e passou por duas pessoas que conversavam a respeito de Eileen Grant. Ambas comentavam dela ter desaparecido misteriosamente. Frank parou por um instante, mas pensou em não se intrometer no papo pedindo por informações. Entrou na sua sala e ligou as luzes. Carrie veio logo atrás dele, quase dando-lhe um susto.
- Eita, hoje você foi a mil por hora hein. - disse o detetive, virando-se para ela - Que cara de agitação é essa? Parece que correu de escada do primeiro andar até aqui.
- Estou preocupada. - disse Carrie, entrando de vez na sala - Quando é que não estou, né? Tenho um amigo caçador que coloca sua pele em risco de ser retalhada quase todo santo dia.
- Me fala o que te deixou tão preocupada pra vir aqui desse jeito. Quer uma água?
- Não, obrigada. - disse ela, suspirando - Estão praticamente todos comentando.
- Tá falando do... - disse Frank, apontando para a porta como que indicando o corredor de onde escutou os burburinhos - ... boca-boca geral sobre o desaparecimento da Eileen?
- Sim. Os ex-colegas de trabalho sempre são os últimos a saber. Imaginei que fosse boato de início, mas com o numero de gente falando cada vez mais aumentando, saquei que passava longe de rumor.
- Bem, o pessoal daqui comenta boatos a todo momento. Por que hoje seria diferente?
- Qual foi a última vez que passou por vários corredores desse prédio ouvindo uma quantidade considerável de pessoas falando do mesmo assunto? Hã? Nenhuma, né? A sua cara tá afirmando.
- Então a Eileen se escafedeu mesmo? Como tem tanta certeza? E desde quando se importa com a Eileen? Pensei que vocês não se bicavam muito.
- Não éramos amigas, mas tínhamos consideração profissional. Eu me compadeço dos pais dela nessas horas. Tive certeza absoluta ao ver os relatórios dos policiais que conversaram com eles.
- Alguma informação sobre testemunhas ou imagens das câmeras de segurança? - questionou Frank.
A aparição de Ernest surpreendeu ambos ao entrar já falando.
- Ainda bem que perguntou, Frank. - ele destacou um pendrive que logo colocara no computador de Frank para rodar um arquivo de vídeo - Coincidência eu ter chegado agora? Eu acho que não.
- Diretor, ahn... O que acabou de trazer é exatamente a filmagem do desaparecimento da Eileen? - indagou Frank.
- Como Wood dormiu no ponto, eu me prestei. - disse ele, alfinetando a assistente.
- Eu teria obtido esse material mais cedo se controlasse meu impulso de ouvir conversas alheias. - reclamou Carrie, zangada consigo mesma - Mas ficamos gratos.
- Bem, vamos assistir. - disse Frank, pondo-se ao lado do diretor. Ernest preparou a execução do vídeo, logo apertando o play. Carrie juntara-se à eles - Peraí, diretor, não dá pra ver nada, só estática.
- Aí é que está o indício comprovativo. - declarou Ernest, convicto, apontando para a tela - Eileen está trabalhando de garçonete numa rede de fast food e essa filmagem é da câmera 286 instalada na rua Winchester que fica à direita da rua onde fica o local do novo trabalho da melhor médica legista que já passou pela história deste departamento.
- Queremos que ele seja achada viva, mas também não precisa superestimar. - disparou Carrie.
- Isso só sugere uma coisa: Se todas as câmeras comunitárias estavam em perfeito funcionamento nesse mesmo horário enquanto justo essa não, tá na cara que uma força paranormal desestabilizou o monitoramento. Como a gente tá careca de saber, certos monstros podem deixar instável qualquer coisa eletrônica. A única questão, agora, é qual é o desgraçado que foi esperto pra bloquear o Big Brother.
- Não temos nem áudio. O monstrengo é bom.
- Algumas câmeras só captam imagem. - salientou Ernest - Áudio é requinte das dos bairros nobres.
- O que resta a fazer é ir até a casa dos pais da Eileen, de repente, quem sabe, eles podem ter tido acesso à alguma testemunha que ainda não foi identificada. - disse Frank sentindo uma vibração num bolso interno do sobretudo - Quem será mandando mensagem? - se perguntou, verificando. Ao ver o nome do remetente, sentiu o estômago revirar - Ah cacete...
- Quem é? - indagou Carrie, franzindo o cenho.
- O superintendente. - disse Frank, o desprezo gritante no tom - Me dá licença, diretor. O cretino quer falar comigo lá na sala do pânico.
Ernest assentiu de maneira séria para o detetive, liberando-o. Chegando no gabinete de Hoeckler, Frank mostrou uma postura firme e resistente para bater de frente com o chefe de alto escalão.
- Qual é o joguinho sujo da vez? - perguntou Frank.
- Joguinhos são para covardes. - disse Hoeckler, virando-se para ele. Antes estava contemplando a vista panorâmica da cidade pela sua enorme janela - Eu crio desafio reais. - apoiou as mãos na mesa - Reais o bastante para que meus peões saibam com quem estão lidando.
- Se vai partir pra ameaça, pode ficar logo bem ciente de que não vou ceder a mais nenhum teste.
- Não é um teste, dessa vez. É um aviso. Sabemos que o esper-X escapou do hospital em que esteve internado devido a um coma grave.
- O esper-X seria... o Atticus? Ah sim, é ele que o senhor quer usar pra me atingir.
- Apenas se você quiser, caso saia da linha. - disse Hoeckler, aproximando-se do detetive - Eu não quero você envolvido nos assuntos restritos à fundação. Isso obviamente inclui o esper-X.
- Não vou deixar fazerem nada com ele. Sei lá que tipo de plano você têm, mas melhor desencanar.
- Negativo. - disse Hoeckler, a voz rude - O esper-X fica sob nossa responsabilidade e você fora.
- E se eu decidir salva-lo de qualquer movimento que vocês façam?
- Ótima pergunta. - retrucou ele dando um cínico sorrisinho de canto - Eu te dou férias permanentes.
- Saquei. - disse Frank, levantando uma sobrancelha - É pé na minha bunda se eu impedir o Atticus de ser ratinho de laboratório de vocês. - fez que sim com a cabeça, comprimindo os lábios - Beleza.
- Fique tranquilo, Frank. Se deixar tudo ao nosso controle, o mundo poderá ser salvo de uma bomba H ambulante. Não faremos como tentamos com o seu amiguinho anjo, o... Adrael, acho que é o nome.
Frank o pegou pela gola do paletó azul.
- O que tem o Adrael? Pegaram ele também?
- Sim... Mas eu disse tentamos, ou seja, foi um fracasso. Ele me subtraiu um cientista. Quase me matou. Definitivamente não quero trombar com nenhum ser igual a ele na minha vida nunca mais.
- Que bom que ele te meteu um belo dum cagaço. - disse Frank, soltando-o - Vou indo nessa, tenho trabalho a fazer. - virou as costas, indo embora.
Hoeckler o fitava raivosamente ajeitando seu paletó e sua gravata vermelha.
***
Na casa dos pais de Eileen, o detetive podia nos sembantes de ambos uma espécie de luto antecipado.
- Conheciam a fundo todos os amigos e amigas dela ou só alguns de vista e bem poucos intimamente?
- Ela nunca foi de esconder nada. Ao menos não para nós. - disse Herbert, o pai, abatido.
- Não creio que tenha sido algum tipo de vingança planejada por alguém que se dizia amigo. - disse a mãe, Sylvia, uma senhora meio gorducha, loira e que usava óculos de grau triangular - Se ela estivesse em perigo, seríamos os primeiros a saber. Teria ligado pra nós pois uma vez ela disse que... ouvir nossas vozes a faz sentir segura em momentos de tensão. - segurou o choro, amparada por Herbert - Faça o que for preciso, detetive, encontre nossa filha, por favor. - segurou nas mãos de Frank que ficara meio sem jeito.
- Eu prometo que trago ela viva e inteira de volta. Tiro ela das garras do que quer que tenha a pego.
- Como pode prometer sem ter certeza do estado dela? - indagou o pai.
- Acredito que levaram ela pra um propósito. Não foi um típico molestador que leva pro mato pra se satisfazer e depois matar. Algo me diz que à essa altura ela está viva, esteja onde estiver.
- Ela tem um amigo bastante querido, tanto por ela quanto por nós. - disse Sylvia - O nome dele é Mike. Aparentemente estava com ela na hora, pois ele foi socorrido perto da rua onde ela desapareceu repleto de picadas, foi levado pro hospital, até agora não temos notícias do quadro dele, coitado.
- Se quiser, pode dar uma passada lá. Nos avise se ele está bem ou não.
- Pode deixar. Em que hospital ele foi internado?
- Hospital de emergência Louis Grandy. - informou Sylvia, logo assoando o nariz com um lencinho.
Na televisão que estava ligada, um plantão de notícias entrava no ar veiculando um caso onde operários de construção civil foram atacados por um enxame altamente numeroso de abelhas que provocou 22 mortes e 16 feridos. Ao assistir a repórter detalhar a chacina das abelhas, um arrepio subiu pela espinha de Frank que nunca superou totalmente seu pavor dos insetos polinizadores. Engoliu a saliva tensamente, mas imaginando rápido sobre o que poderia estar por trás daquilo. Aliás, não exatamente o quê, mas quem. "Atípico demais pro meu gosto tanta gente assim morrer pra abelhas, então é sinal de que... O maldito do Peste Sombria tá de volta no pedaço.", pensou ele.
***
Cinco homens apavorados viam-se reféns de uma criatura com aspectos inumanos, mas com fisionomia feminina, dentro do que parecia ser uma enorme colmeia de abelhas contendo paredes gosmentas cheias de casulos amarelos e formas hexagonais luminosas. Os cinco estavam ajoelhados, amarrados e amordaçados, apenas fitando aterrorizados aquela mulher de aparência híbrida que combinava um caráter físico humano e insectoide.
- São esses os meus pretendentes? Parecem tão frágeis e impotentes. - disse Eileen, transformada no que parecia ser uma abelha humana. Antenas típicas abelhas saíam da sua testa, seus olhos eram negros - similares aos das abelhas -, a pele mostrava-se mais amarelada, as unhas crescidas como garras afiadas, além das vestes que nada mais era do que um vestido dourado que Peste Sombria roubara de uma loja requintada para atender ao desejo da sua emissária, apesar de que começava a sentir-se muito subserviente a alguém que devia comandar como seu instrumento de guerra. Os homens capturados são alguns dos sobreviventes do enxame de abelhas que assassinou os outros operários - O que mais posso fazer pra julgar senão testa-los pra ver se são dignos de pisarem na Fortaleza da Rainha?
Eileen pegara cinco larvas de um casulo cuja superfície era tão viscosa quanto o mel. Os homens lutavam desesperados para se livrarem das amarras, os gemidos como gritos de socorro abafados. A "abelha rainha" trouxe o casulo para depositar as larvas em cada deles.
- Eu quero sair da... - disse o primeiro, sem completar antes de ter uma das larvas grandes e nojentas enfiadas dentro da boca. Eileen foi para o próximo, tirando-lhe a mordaça e inseriu a larva. Após completar o processo com os demais, aguardou o resultado. O quinteto parecia prestes a vomitar, mas se continham. A reação não tardou a se manifestar. Eileen desfez o sorriso macabro do rosto quando cada um dos seus "pretendentes" sofria convulsões intensas. Pareciam peixes fora d'água.
- Não pode estar acontecendo... Estão morrendo. Já devia ter imaginado que nenhum de vocês eram aptos pra zangões. Que pena. - deu de ombros, pouco ligando para os homens agonizando e sofrendo efeitos horríveis e mortais como se as larvas devorassem seus órgãos internos.
***
Hospital Louis Grandy
- Eu não tenho certeza se ele está em condições de falar. - disse o médico para Frank no corredor onde ficava o quarto no qual Mike estava internado - Mas se o tempo urge e o considera uma testemunha importante, não posso impedi-lo de tentar. Venha comigo.
- Obrigado desde já, doutor. - disse Frank, seguindo-o. O médico abrira a porta.
- Sr. Martinez, mais visita. - disse ele, logo dando passagem para Frank entrar.
Mike estava deitado na cama enfaixado praticamente da cabeça aos pés. Nas áreas visíveis do corpo, haviam calombos protuberantes e vermelhos, principalmente na boca.
- Quem é você? - perguntou Mike, a voz baixa e fraca.
- Frank Montgrow, o detetive que por livre e espontânea vontade tá assumindo o caso do desaparecimento da Eileen.
- Conhece a Eileen?
- Se conheço? Fomos colegas de trabalho no DPDC por 6 anos. Não muito chegados, mas de vez em quando a gente se trombava nos corredores. Pouquíssimas vezes unimos nossas competências.
- Quer mesmo saber... o que vimos ontem?
- Sou todo ouvidos. Mas se poupa nos detalhes, tô vendo que você ainda tá bem baqueado.
- Pois é. Aquelas vespas malvadas... me deram uma surra que eu nunca vou esquecer.
- Você chegou a ver a Eileen sendo raptada?
- Não, eu corri junto com ela quando... aquele homem vestindo um manto, parecia um mendigo, mandou o enxame de vespas... saindo direto da boca dele. - disse Mike, sentindo dores - É como se ele... tivesse controlado elas pra atacarem só a mim. Corri pra um beco sem saber que fim levou a Eileen. - uma lágrima brotava do seu olho esquerdo - Tenho por mim... que ela tá morta. Aquele desgraçado... pode ter feito coisa pior com ela do que fez comigo.
- Vai por mim, acho muito difícil que ela tenha morrido. Foi bom ouvir seu depoimento, Mike. Melhoras pra ti. - disse Frank, dando um joinha para Mike, logo saindo do quarto. A próxima parada era o local onde os operários de construção civil sofreram ataques de abelhas. Frank acelerou direto para lá. A obra aparentava estar num estágio relativamente avançado. Frank estacionou, visualizando o condomínio de 8 andares de puro concreto. Um dos paramédicos se aproximou dele cumprimentando-o enquanto os outros cuidavam de atender os sobreviventes nas ambulâncias.
- Parece que começou a revolução dos insetos. - disse o paramédico, acompanhando Frank na entrada do prédio - É inédito que um número tão alto de abelhas tenham feito todo esse estrago. Mais inédito ainda é um detetive federal mostrar interesse nisso. Ou você também é do controle de pragas?
- Não, só vim fazer uma pequena vistoria para detectar fluidos estranhos. É que tem uma suspeita de que - Frank chegou mais perto dele para falar mais reservadamente - cientistas de um laboratório do centro científico estariam modificando o DNA de abelhas para usarem como armas biológicas, então provavelmente alguém deixou escapar... "por acidente". - disse fazendo aspas com os dedos.
- Tá me soando mais como teoria de conspiração. Vocês tiveram acesso à alguma amostra?
- Sim, tivemos sim, e só precisávamos de um sinal que reforçasse nossas especulações sobre o projeto oculto dos cientistas. Se houver algum rastro deixado pelas abelhas que condiga às amostras, a polícia bate na porta dos caras bem cedinho da manhã. - disse o detetive, caprichando na invencionice que justificava sua presença.
- Se bem que os operários mortos apresentavam um número de picadas bem inferior ao máximo necessário pra matar um homem. Tudo bem então, faça o que tiver que fazer. - disse o paramédico, tocando Frank no ombro - Até.
- Falou. - disse Frank, logo em seguida explorando a construção inacabada. O objetivo central do detetive era nada mais que atrair Peste Sombria, pois sabe que o conhecia bem desde o incidente na universidade e acreditava na possibilidade de ter usado o ataque das abelhas para atraí-lo a uma emboscada - Aparece coisa horrorosa... Sei que você não tem intolerância à luz do dia.
Frank esperou por dois minutos e nada. De repente, sentiu uma espetada na nuca e tocou-a. Seu celular tocou, o que ajudou a esquecer um pouco da picada dolorida que levou de uma vespa peçonhenta.
- Fala Carrie. Tô aqui na construção onde rolou o massacre abelhudo. - sentiu um arrepio que os fiz mover os ombros pelas memórias ruins de quando adquiriu o medo.
- O que diabos tá fazendo aí? Não era pra estar no hospital interrogando o amigo da Eileen?
- Eu saí de lá pra chegar aqui e ver se o maldito do Peste Sombria não tava querendo usar o enxame como chamariz pra me quem sabe me sequestrar e me arrastar pro covil dele.
- É ruim admitir, mas parece o jeito mais eficaz de conseguir uma oportunidade de resgatar a Eileen. Peraí, Peste Sombria? Aquela entidade que quer implantar uma supremacia de insetos no mundo?
- Exato, ele mesmo. O desgraçado voltou pra tentar de novo, mas além do sequestro em si não dá pra entender como a Eileen se liga ao novo plano asqueroso dele. E ele não apareceu, considerando que sou o caçador que derrotou ele uma vez, quem sabe quisesse uma revanche.
- Ou ocupado demais preparando mais terreno pro atual plano.
- Vou dar uma passada em casa, esfriar a cabeça e pensar num jeito de dar seguimento ao caso. Prometi pros pais da Eileen e não posso deixar que essa história com mais dor, sofrimento e uma promessa vazia.
- Além de um apocalipse de insetos. - complementou Carrie.
- Valeu por me lembrar desse detalhe. Te ligo mais tarde ou você me liga, tanto faz. Tchau.
***
Ao chegar em casa, Frank jogou a chave do carro sobre o sofá e sentou-se nele bastante cansado, inclinando-se a cabeça para trás com os olhos fechados. A ideia de descumprir a promessa de um resgate para familiares tão desamparados da vítima era um fardo atormentador que não se daria ao luxo de carregar por falta de recursos que o conduziriam para a toca onde a presa do predador foi levada. Frank reabriu os olhos e notara duas baratas saindo debaixo do sofá.
Levantou-se ao perceber mais quatro vindas de uma abertura abaixo do tapete. Depois a quantidade de baratas aumentou consideravelmente, saindo dos cantos da sala.
- Caramba, que merda é essa? - se perguntou, surpreso - Meu dedetizador teria um treco se visse isso aqui.
As baratas foram se amontoando, se avolumando, o exército crescendo até dar forma a um ser que logo ia se tornando conhecido para Frank. O detetive olhava com o cenho franzido, tendo certeza.
- Ah não é possível... - disse ele, vendo as baratas cascudas transformarem-se em Peste Sombria como se elas fossem seus átomos - Estive agora há pouco num lugar bem mais apropriado pra você aparecer.
- Eu o segui graças ao pequeno ferimento que você tem na nuca. - disse a entidade, a voz monstruosa.
- Senti uma picada na nuca mesmo... - disse Frank, tocando no ponto - Tá inchado... Foi uma vespa ou uma abelha?
- Uma das minhas vespas mais venenosas. Se quiser a chave para eliminar o veneno, terá de me acompanhar.
- Uma mulher loira tá com você no seu esconderijo?
- Não é meu, pertence à ela. Toque-me. - disse Peste Sombria, esticando o braço direito, mostrando a mão horrível. Frank, com extrema relutância, pegara no manto esfarrapado.
A entidade o teleportou à colmeia de Eileen que estava sentada numa poltrona luxuosa que chamava de trono. Ela voltou sua atenção para Frank, ficando animada e confiante novamente com mais zangão potencial. Ela saiu do seu pedestal de rainha para analisar Frank. O detetive foi jogado com telecinesia ao chão por Peste Sombria.
- Curve-se à rainha. - ordenou ele.
- Rainha? De quê? - indagou ele sentindo o dor de mel puro dominar o ambiente - Argh, esse cheiro de mel tá me dando ânsia de vômito...
Eileen o pegou pelas golas do sobretudo, olhando bem fundo nos olhos dele.
- Como vai, Frank? Feliz em me rever? Saiba que ficaria muito honrada de tê-lo como meu zangão.
Encarando fixamente aqueles olhos negros repletos de minúsculos hexágonos juntos, Frank foi vítima das lembranças ruins, mas daquela vez retornaram mais cruéis e vívidas.
***
Nos seus 8 anos de idade, Frank corria sozinho por um campo aberto que era bastante arborizado nos arredores. Pretendia jogar um aviãozinho de papel o mais forte que podia para vê-lo voar no máximo de velocidade, talvez lança-lo aos céus, apenas para no dia seguinte contar para os colegas da escola sua proeza.
- Vamos lá... Decolar! - gritou, jogando o avião de papel com toda a força. Ou quase isso - Ah, que droga, tá muito baixo ainda. - saiu em disparada para onde cairia, bem próximo de umas árvores. Olhou para cima, vendo-o preso entre as folhas num grande galho e decidiu subir. Conseguindo alcançar o galho robusto, Frank esticou a mão esquerda para pegar o aviãozinho, porém sabia que precisava se debruçar para reavê-lo, aceitando o risco de acabar caindo. Ele travou sua mão quando uma abelha pousou no seu antebraço. Com a mão direita espatifou a abelha e voltou à sua missão.
Seus dedos tocaram no avião de papel, conseguindo pega-lo. Mas zumbidos invadiram os ouvidos de Frank que alertaram à ele de que não saiu ganhando. Lembrou-se da abelha que matara quando viu um enxame surgir de uma colmeia que ficava uns dois galhos abaixo. A horda voou para cima de Frank que se deixou cair do galho até voltar ao chão quase comprometendo os joelhos. Frank novamente deu início a uma corrida frenética, as abelhas o perseguindo vorazes. O menino gritava por socorro, mas lá ninguém estava por perto. Cruzou um longo percurso na mata até mergulhar de cabeça num lago, não importando o quão estragado ficasse seu avião de papel. Manteve presa a respiração por tempo o bastante para que as abelhas desistissem após perde-lo de vista.
Emergiu a cabeça para fora da água, tomando fôlego, olhando para os lados e para cima. Frank, incerto quanto às abelhas furiosas terem indo embora, permaneceu naquele lago por horas, acuado e com frio, até que seus pais viessem resgata-lo junto com amigos no fim daquela tarde de 1980.
- Sorte que aqui não tem piranhas, nem tubarão. Só saio daqui quando... quando meus pais virem me procurar e eu estiver seguro. - disse ele, indo às lágrimas, também não muito certo sobre o resgate.
***
- Por que essa cara? - perguntou Eileen, soltando-o - Parece que está vendo um monstro.
- Mas eu tô diante de um legítimo monstro. Aliás, dois. - disse Frank - Em que porcaria ele te transformou? Uma abelha humana?
- Eu a agraciei com o esporo de um flor primitiva no mundo de onde eu vim. Colhi o suficiente e a fiz respira-lo após pica-la com uma de minhas abelhas. - disse Peste Sombria - Comece o teste, rainha.
- É pra já. - disse Eileen, indo pegar um casulo de mel do qual retirou uma das larvas do tamanho de um controle remoto de TV - Muito bem, Frank, abra a boca e diga "ah".
- Não, espera aí, que troço é esse? - perguntou Frank, recuando depressa - Não vou deixar você me enfiar esse coisa nojenta, só quero que me escute, por favor, Eileen. - tomou uma posição pacificadora, suportando o cheiro de mel que detestava - Você tá sendo manipulada, sua mente foi distorcida. Ele acabou de falar que te envenenou!
- Ele me tornou algo superior! - rebateu Eileen, aborrecida - Me demiti do DPDC por causa daquele psicopata do Fred que arruinou meu plano de salvar a vida do homem que eu amava pra me submeter a um trabalho ingrato caindo na ilusão de que isso preencheria o vazio enorme da minha vida. Agora eu tenho a chance de recomeçar de verdade. Mesmo que pra isso muitas pessoas tenham que morrer.
- Você quer mudar de vida compactuando com os planos de um monstro - apontou para Peste Sombria - que na real não tá nem aí pra você, quer mais é ver o circo pegar fogo. Você é humana, Eileen.
- Não sei mais o que significa isso que chamam de... humanidade, sentimentos e o escambau. - disse ela, aproximando-se de Frank - Tá se desgastando à toa pensando que vou abrir mão de ser a rainha de todo este mundo. Porque as abelhas são essenciais para a vida e vou fazer delas seres magníficos.
- Espera, não faz isso.... - disse Frank, tendo sua mandíbula agarrada por Eileen, as garras pontudas dela tocando nas bochechas do detetive - Tem que se lembrar de quem você realmente é e sempre foi.
- Eu renunciei ao meu antigo ser. - declarou ela, orgulhosa de si - Posso lhe dar uma condição: Se você morrer com a larva, caso ela não o cure do veneno de vespa, meu grande plano é adiado. Do contrário, deixo viver por mais alguns dias ou anos antes de termos nosso voo nupcial em que infelizmente terei de mata-lo como manda o meu instinto. Daí serei independente, cuidando dos nossos lindos filhotes.
- Agora fiquei enjoado pra valer... - disse Frank, sentindo reviradas no estômago. Eileen cansara-se de tanta conversa e empurrou a larva na boca de Frank, fazendo-o engolir. Por incrível que parecia, nenhum efeito adverso surtira - OK, até aqui fui um cara legal... Já cansei. - falou ele, recompondo-se do enjoo, logo dando uma forte cabeçada na testa de Eileen. Sacou sua arma, mas Eileen fora rápida para tira-la das mãos dele com um chute, em seguida pulando para cima dele com as garras em riste. Ambos rolaram no chão. Peste Sombria resolveu inteferir para apartar a briga, mas Frank afastou Eileen com um empurrão para sacar um pequeno lança-chamas que parecia um rifle de brinquedo. Disparou uma rajada de fogo contra a entidade que gritou de dor. Levantou-se rápido e apontou para Eileen, ameaçando lançar fogo sobre ela. No entanto, abaixou lentamente a arma, ignorando os urros de Peste Sombria castigado pelas labaredas.
- Não seja covarde. - disse Eileen - Vamos, me queime. Ah, perdeu a coragem, né? Isso é vantajoso.
- Eu não vou te fritar porque penso nos seus pais da mesma forma como você deveria pensar agora. Estão dentro de casa, preocupados, angustiados, sem saber se a filha deles tá viva ou morta! Não dá pra chamar essa colmeia gigante de vida! O que esse desgraçado aí te vendeu não passa de uma ilusão!
As expressões de arrogância da "abelha rainha" se desfaziam devagar. Ela olhou para Pste Sombria que se recuperava das queimaduras.
- Você morrerá se não copular com um zangão! - avisou Peste Sombria.
- Ele tá blefando, não cai nessa! Eileen, me ouve com atenção. Olha pra mim. Embora a gente não tivesse muito contato no DPDC, eu te reconhecia como a melhor profissional na área da perícia que eu já tinha visto. Ninguém que te conhecia de perto ou de longe duvidava disso. Muito menos o diretor.
- Mas escolhi perder esse emprego... pela forma como o Fred matou o Cupido e como isso acabou com minhas esperanças de salvar o Rogger. - desabafou ela com lágrimas brotando dos seus olhos negros.
- Esquece isso, esquece o que passou, você errou, foi egoísta, mas eu te perdoo. E a Carrie também.
- Até ela? Meu Deus... O que eu tinha feito à vocês... - pôs as mãos no rosto. A ex-legista manifestou soluços intensos. Ao descobrir o rosto, regurgitou uma larva que Peste Sombria havia inserido nela para fortalecer a transformação. A larva caiu repleta de saliva e gosma no chão, movendo-se.
Peste Sombria soltou um rugido de cólera e seu manto pareceu assumir a forma de uma fumaça intensamente preta acompanhado de zumbidos de inúmeros insetos. A nuvem fumaça crescia de tamanho e olhos vermelhos brilhantes piscaram do alto dela. Amedrontada, Eileen, que perdera as antenas e todos as características insectoides, foi para perto de Frank que rapidamente pegou-a pela mão para sair dali correndo.
- Onde fica a saída? - perguntou ele.
- Ali. - apontou Eileen para uma passagem que dava num túnel. A colmeia entrava em processo de desabamento por conta do retorno de Eileen ao normal, basicamente simbolizando uma quebra de conexão. Milhares de abelhas saíam dos buracos hexagonais rodeando a fumaça negra como uma reverência ao seu mestre. Pedaços do teto caíam aos montes, esmagando os casulos. Peste Sombria avançara contra eles cercado das abelhas.
- Vambora! - disse Frank, puxando-a para correrem depressa. O túnel era íngreme e subia até um buraco onde via-se a saída para a superfície - Uma colmeia embaixo da terra?!
- Foi o local mais discreto que ele pensou me trazer. - respondeu Eileen apertando o passo.
Peste Sombria na sua forma fumacenta atravessava o túnel numa velocidade que ameaçava a qualquer momento alcança-los. Frank parou e virou-se para lançar mais fogo. As chamas conseguiram aplaca-lo por um instante, mas apenas enquanto Frank utilizava a arma.
- Parece que ele perdeu o medo de fogo. - disse Eileen, apreensiva. Frank e ela deram continuidade à corrida, desta vez sem paradas para manter Peste Sombria um pouco mais distante, pois fazendo isso estariam atrasando tanto à ele quanto a si mesmos. Eileen saíra primeiro, logo ajudando Frank - Que bom, já é de dia.
- Ele tá vindo! - disse Frank, totalmente fora do túnel. Mandou mais fogo contra a entidade. Era perceptível que o disparo de chamas naquele momento veio em menor intensidade, significando que a fonte combustível se esgotara. Frank continuava apertando o gatilho, mas o fogo saía em menor quantidade a cada disparo até que nenhuma brasa sequer foi vista - Merda!
- De que isso ia adiantar? Ele vai escapar e não vai desistir! - disse Eileen - A menos que... - olhou para sua direita e viu uma árvore aparentemente centenária, o tronco inclinado para o lado perigando arrebentar e cair - Frank, vem aqui, rápido! - pediu ela, indo para o lado em que o tronco estava frágil - Me ajuda a empurrar essa árvore, vai cair perto o bastante pra bloquear a saída.
O detetive largara o moderno lança-chamas para usar a força física que seu porte bem exercitado iria proporcionar numa situação daquelas. As quatro mãos empurraram esforçadamente. O tronco caía meio devagar. Peste Sombria já estava à poucos metros de sair do túnel. Frank foi ao limite da sua força, seus dentes cerrados e os olhos fechados apertadamente. A última ruptura do tronco foi crucial para faze-lo ceder bem próximo ao buraco, resultando numa queda mais brusca que levantou poeira no ar.
Arfando, Frank deu um sorrisinho fraco para Eileen.
- Será que não deixou brechas? - perguntou ela, querendo estar segura de que havia acabado.
- Difícil dizer, mas pelo jeito que ele nos perseguia, tava tão virado no Jiraya que não inventou um plano B direito. Talvez bateu a cabeça no árvore, voltou caindo lá pra baixo pra ficar soterrado. Cê tem uma força, hein?
- Ah, jura que conseguiria derrubar sozinho? - indagou Eileen, dando uma risada - Olha, sou muito grata à você. Meus pais vão ficar orgulhosos do homem que salvou a filhota querida deles.
- E esse vestido caiu bem em você. O feioso te deu de presente pro seu look de abelha rainha?
- Deve ter surrupiado de uma loja de grife, muita grife. - disse ela, olhando para o caro vestido dourado - Acho que peguei fobia de abelhas. Adoro mel, mas tô pensando me abster por um tempinho. - deu um sorriso rápido e nervoso - Então você voltou pro posto de agente especial, né? Parabéns.
- É, o Fred... foi dispensado quando justifiquei minha ausência pro Conselho de Segurança. Eles anularam minha deserção. - mentiu Frank - E você? O que planeja fazer daqui pra frente?
- Pedir demissão do meu atual emprego. Uma possibilidade apenas. Não sei se convém perguntar, mas... Tem vaga sobrando pra medicina legista lá?
Frank fez que não com a cabeça lamentando.
- O diretor contratou uma legista fixa depois de uma série de estagiárias passarem. Eu sinto muito.
- Tudo bem. Oportunidades vem e vão. Um dia terei minha vez. - fez uma pausa, olhando-o com análise - Quer dizer que você leva jeito pra coisas sobrenaturais?
- Para aquilo e uma infinidade de outros tão assustadores quanto. Você nem faz ideia.
- Quero continuar sem fazer. Os apuros bizarros de Eileen Hopkins terminam aqui.
- Promete guardar segredo, né? - perguntou Frank, o dedo indicador direito erguido como que sinalizando um pedido e uma ordem ao mesmo tempo.
- Juramento do dedinho. - disse Eileen, levantando o dedo mindinho da mão esquerda. Frank achou bobo, mas juntou seu mindinho direito com o dela. - Seu segredo está seguro comigo. Sabe que eu sempre quis dizer isso?
Ambos desataram a rir sentindo que finalmente estreitaram uma relação como nunca antes fizeram enquanto colegas de trabalho.
***
Paralelamente, Carrie, sua sala particular, contactava Owen, o criptógrafo de meio período, para confirmar se ele cumpriu o favor solicitado há alguns dias.
- Owen, aqui é a Carrie. O superintendente já encaminhou ordem de investigação da pane no circuito interno que você causou. Ninguém, até agora, desconfia da sua invasão na sala de controle.
- Você fala como isso devesse soar reconfortante pra mim. Pensa só no impacto. Se me interrogarem, talvez querendo fuçar meu laptop pessoal, descobrem os arquivos da câmera que instalei no necrotério, saberão que ela não pertence ao departamento, saberão também da data de upload do primeiro arquivo que eu enviei à você, saberão que eu monitoro o necrotério e aproveitei uma pane nas câmeras. Desfecho da história: Tô no olho da rua. Maravilha, não?
Carrie se enfezou.
- Sim, eu sei, eu sei, eu pus o seu emprego em risco, mas foi...
- Por uma boa causa? - perguntou Owen, interrompendo-a, claramente irritado pelo tom da voz - Movida ao quê? Paranoia com uma legista que começou ontem?
- Ela não está acima de qualquer suspeita. Fez como combinamos, não foi? Você deixa ligado por tempo delimitado, mas não monitora, só envia pra mim. Me passa o último o arquivo, por favor.
O envio da filmagem extraída da micro-câmera não levou menos ou mais que um minuto.
Carrie apertou o play para executar o vídeo. A partir dos 2 minutos e 42 segundos, as pupilas da assistente dilataram. Ela assistia paralisada, enxergando naquilo uma comprovação de sua intuição.
- Eu já devia ter suspeitado do porque os despachos dos cadáveres estavam demorando tanto.
As imagens mostravam Lilith - ou Dra. Lilian - colocando um objeto negro, similar a uma pedra, dentro do corpo através de um corte que ela mesma fizera.
-x-
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: https://www.rpgnext.com.br/podcast/tnb-031-mina-perdida-de-phandelver-episodio-de-rpg-31-cultistas-do-dragao/
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