Frank - O Caçador #47: "Casar de Preto Não é Bom"


Faltavam pouquíssimos minutos para o padre oficializar a relação que culminaria na troca de alianças entre Samantha e Joe, um esperançoso casal que tinha como um numeroso grupo de convidados que se emocionava com o desenrolar da cerimônia. Enfim, os noivos entreolharam-se felizes após dizerem sim um ao outro. 

- Bem, podem selar a união matrimonial com as alianças. - disse o padre, entusiasmado. As pequenas damas de honra entregaram os anéis folheados a ouro depositadas sobre almofadas de seda. 

Porém, antes que Joe pusesse a aliança no dedo anelar de Samantha, as lâmpadas de luz amarela das igreja, juntamente com as chamas das velas, apagaram-se subitamente, mergulhando o ambiente numa escuridão parcial. Os convidados alvoraçaram-se e as damas de honra correram para seus responsáveis. Alguns metros de distância no altar, estava uma figura distinta e sombria avistada por Samantha com grande espanto. Joe e o padre acompanharam a visão dela e se inquietaram com a presença daquela mulher trajando um vestido de noiva preto, com véu e grinalda da mesma cor. O véu ocultava levemente sua face, mas dava um aspecto sinistro, ainda mais com o grito estridente e enfurecido que ela emitiu contra os noivos, os olhos arregalados. Ela segurava uma faca com a qual veio direção na Joe, se movendo velozmente ao ficar atrás dele, mas escolheu quebrar o pescoço com a mão esquerda. O som dos ossos quebrando foi audível para todos. 

Samantha gritou apavorada e o padre, amedrontado, fez o sinal da cruz, recuando. Samantha fugiu pelos fundos da igreja, porém a noiva, por alguma razão a ignorou como alvo, passando a voltar suas atenções ao padre que tinha por volta de 40 anos e se julgava jovem demais para morrer. 

- Piedade, pelo amor de Deus, você não sabe o que está fazendo... Eu lhe suplico, por favor. Tente pensar, reveja seus conceitos de bem e mal, você ainda pode ter salvação. Me deixe ajuda-la a consumir essa raiva que guarda dentro de si. 

A noiva de preto parou aparentemente refletindo, o que por um instante encheu o padre de otimismo. Atrás deles uma confusão de pessoas querendo sair desesperadamente da igreja, mas as portas fecharam-se "sozinhas" trancando-as. 

- Não. - disse a noiva assassina, segurando firme a faca - Você está com medo, então não tem boa-fé nas suas intenções. Só me deixou mais zangada. - com a faca desferiu um corte horizontal rápido e preciso na garganta do padre que gorgolejou sangue profusamente. O homem caiu apertando o corte numa esforço vão de estancar a grave hemorragia. A algazarra dos convidados piorou a um nível vibrante. 

Samantha corria para fora da igreja, as lágrimas do seu pranto borrando a maquiagem. Olhou para trás, esperando que a noiva invasora viesse atrás dela para vitima-la, mas não viu nada. Ainda assim continuou correndo segurando um buquê de rosas vermelhas cujas pétalas caíam ao longo do caminho.

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CAPÍTULO 47: CASAR DE PRETO NÃO É BOM

Departamento Policial de Danverous City

Na sala de interrogatórios para agentes detetives, Frank dava curso a um que envolvia quatro mulheres que partilhavam de uma correspondência: cerimônias de casamentos malfadadas por uma mulher inteiramente vestida de preto. Frank analisava o que cada uma delas tinha a dizer para descrevê-la.

- Muito bem, moças, pra que terminemos isso rápido, gostaria que me descrevessem a tal mulher de preto que arruinou seus casórios. - disse Frank - Bom, vou começar por... - apontava o dedo indicador direito para escolher quem seria a primeira viúva - ... você, Claire. Aliás, da esquerda para a direita: Claire, Reily, Tamara e Samantha, depois o inverso e assim por diante. Cada qual falando uma característica pra traçar o perfil físico da penetra. Vamos lá, Claire? 

- Alta. - disse Claire, uma viúva precoce de cabelos  ruivos bem escuros e rosto arredondado com olhos castanhos inchados de tanto chorar. 

- Magra. - disse Reily, uma mulher negra com lisos cabelos pretos com uma tiara roxa. 

- Pálida. Extremamente pálida. - disse Tamara, a viúva de olhar intenso, rosto fino e cabelo curto em uma franja diagonal. 

- Acho que os cabelos dela eram pretos... - disse Samantha, ainda irrecuperada do baque sofrida ante a perda do seu noivo - Ela estava com o rosto coberto por um véu, mal dava pra reparar nas expressões. Mas sei que ela estava furiosa, possessa de ódio e... talvez uma certa inveja. 

- As luzes apagaram-se quando Billie e eu dissemos sim. - revelou Claire. 

- No meu foi diferente, aconteceu antes que trocássemos as alianças. - disse Samantha. 

- Olha, esse véu impede de continuar reunindo detalhes descritivos nesse meu modelo, porque a face é obviamente mais importante, então vou seguir no convencional. Todas vocês casaram-se... digo, casariam-se na igreja?

- Sim. - elas responderam em uníssono, assentindo com a cabeça. 

- Na mesma igreja? - indagou Frank, focado nelas. 

- Claro que não. - disse Tamara - Acha que é tão coincidência termos sido atacadas pela noiva que parecia uma morta-viva pra considerar uma hipótese dessas? 

- Foi só uma pergunta com relação a uma teoria minha. - respondeu Frank, desaprovando a postura de Tamara. 

- Ela também estava armada. - disse Samantha. Reily franziu o cenho para ela - Com uma faca. 

- Estranho, será que tivemos nossos casamentos arrasados pela mesma mulher? Porque, no meu, não vi ela trazendo faca nenhuma. 

- Mas você fugiu depois que ela matou seu noivo? - perguntou Samantha. 

- Não, assisti tudo e fiquei, paralisada de medo. Ainda assim, ela não mostrou faca, nada de armas. Ela matou o Barry atravessando o peito dele com a mão. - contava Reily, a expressão aflita - Por alguma razão, poupou a mim, a todas nós. - uma lágrima brotava do seu olho esquerdo e escorreu - Detetive, eu não espero que encontre as respostas que acabem com nossas dúvidas. Saber quem ela é ou de onde veio não vai tampar a ferida, o buraco aberto que as atrocidades dessa psicopata deixou em nossos corações. 

- Faço das palavras dela as minhas. - disse Tamara - Inclusive, achei muito poeticamente mórbido. 

- Se isso te inspirou, escreve alguma coisa. - sugeriu Reily - Eu sempre li poesias emocionais quando ficava deprimida. Escrever passou a se tornar um hábito recorrente pra tentar curar essa dor. 

Frank pigarreou forte para as atenções voltassem à ele novamente. 

- Encerramos por aqui. Muito obrigado por virem. - disse ele, levantando-se - Ah, e... meus sentimentos pelas suas perdas. Quando apitar o sinal, daqui à uns dois minutinhos, vocês estão liberadas. 

- De nada, detetive, foi um prazer. - disse Samantha. 

Tamara esperou que Frank saísse da sala para fazer um comentário que reprimia durante a conversa. 

- Até que ele não é de se jogar fora. 

As outras viraram os rostos olhando-a com reprovação nítida. Tamara se retraiu toda com os olhares acusadores. 

- Enviuvei cedo, então me interessar por outro homem em pouco tempo é quase um pecado. Satisfeitas agora? 

                                                                              ***

Carrie reclinava-se na sua poltrona comendo pipoca de microondas e assistindo à um filme na internet aproveitando o seu intervalo. 

- O que há de errado com esse filme? Não anoitece nunca. - disse, logo pondo mais pipoca na boca. 

Frank bateu à sua porta e a assistente rapidamente pausou o filme. 

- Entra. - concedeu ela, deixando o pacote de pipoca de lado. Frank entrara e logo sentou-se na cadeira à frente dela - E aí, teve algum progresso com as viúvas? 

- Antes de mais nada, foi mal estragar seu recreio. 

- Que nada, o filme já tava ficando... meio chato. Nem precisa falar sua conclusão sobre a noiva invasora. 

- Como elas se casaram... digo, se casariam em períodos praticamente distantes, considerei deduzir que elas tivessem subido ao altar na mesma igreja. A maioria dos fantasmas se prendem aos locais em que morreram. Mas disseram que foram em igrejas diferentes. No caso da Samantha, o padre foi morto degolado por uma faca, corroborando o depoimento dela sobre ver a noiva de preto armada com uma. 

- Se bem que a indústria de casamentos sofreu uma queda de 5% nos últimos dois meses. - disse Carrie, dando uma pesquisada na web - Sabe mais o que aconteceu nos últimos dois meses? 

- O quê? - indagou Frank, sem ideia do que ela queria dizer. Carrie arqueou uma sobrancelha num semblante sério para ele - Ah não, você tinha que exumar esse cadáver. Prometemos que íamos esquecer aquele dia, não foi? Não tem necessidade de relembrar, a gente nem tava lúcido. 

- Ahn, eu não me referia a esse dia especificamente. 

- Oh, bom saber. - disse Frank, menos nervoso.

- Tá, só um pouquinho. - disse ela, dando um sorriso malandro, enfezando o detetive - Enfim, agora é sério, escuta: A ocorrência de dois meses atrás que soube há algumas horas, antes de largar a pesquisa e partir pra minha sessão de cinema, foi matéria num site impopular de notícias. É sobre uma cerimônia de casamento desastrosa. Que novidade, não? Pois é, o que vem pela frente é o horror de fato. No meio da palavra do padre, o noivo teve um súbito acesso de fúria, estrangulando a noiva até a morte para depois se matar com uma pistola atirando na própria cabeça. - ela virou o monitor para Frank - E saca só o vestido da princesa. - Frank estreitou os olhos para o vestido preto - O nome dela é Rachel Adams. Foi uma cerimônia ao ar livre. Os pais não aprovaram a escolha do vestido... também pudera, né?

- Sem a menor sombra de dúvida que é a noiva fantasma que anda entrando de penetra nos casamentos alheios. - disse Frank - Matei o mistério: esse vestido é um item amaldiçoado. Você sabe, objetos repletos de pura energia ruim, geralmente feios, mas que com um incrível poder de atração. 

- Só assim pra preferir casar com um vestido desses. - disse Carrie, visualizando a foto de Rachel com o buquê na mão. Espera, vou acessar o site da loja onde comprei meu vestido de noiva... 

- Do seu casamento com o Mark, né? 

- Não, do nosso. - disparou ela que tapou a boca - Falei com naturalidade demais, né? - deu uma risadinha nervosa - Tá legal, assunto encerrado e enterrado pra sempre. - fez uma pausa, acessando - Pronto, achei o catálogo. Não tem nenhum vestido preto do mesmo modelo. Você pode ir dar uma passadinha pra conferir se a Rachel comprou o vestido lá. É um das lojas mais requisitadas da cidade.

- OK, mas vê se me manda um print da imagem do vestido pra mostrar à consultora. - disse Frank, levantando-se - É bom que tenha sido lá, não quero bater perna indo de loja em loja, vai parecer que... deixa pra lá. - virou-se em direção à porta. 

                                                                                 ***

A consultora de moda da loja de vestidos, Greta, recebera Frank gentilmente no mostruário que ficava vizinho ao provador. O detetive conversava com ela cercado de muitos vestidos de cores, tecidos e estilos diversificados pendurados em conjuntos de cabides organizados em círculo. 

- É, temos enfrentado uma baixa horrível na demanda. - disse Greta, uma mulher meio gordinha de cabelos loiros prendidos em rabo de cavalo e usando óculos - Pra você ter uma noção, os cartórios tem roubado nossas noivas numa proporção nunca antes vista, fora os boatos de casamentos que viraram tragédias por espíritos do mal. Nesse ritmo, vamos ser obrigados a suspender a entrega. Mas me diga: Está interessado num vestido em particular? Namoradinha ou noiva? - indagou ela, em tom brincalhão. 

Frank dera uma risadinha forçada. 

- Presente pra uma amiga que deseja um casamento meio diferenciado. - disse ele, logo sacando o celular e procurando a foto que Carrie enviara do vestido preto de Rachel - Tipo um desses aqui - mostrara à Greta que expressou seriedade. 

- Eu lamento, mas vendemos o único disponível pra essa moça da foto. 

- Se tinha apenas um, quem forneceu? - perguntou Frank. 

- O fornecedor é desconhecido, até porque veio junto com outra linha de peças misteriosamente e como meus chefes aprovaram o incluíram no catálogo de aluguéis. Não lembro bem do nome dela...

- Rachel. - respondeu Frank, despertando ligeiramente a suspeita em Greta. 

- Como sabe? 

"Tenho uma pergunta melhor: Como você não lembra o nome de uma cliente sua que virou notícia de um casamento trágico envolvendo estrangulamento e suicídio?", pensou Frank. 

- Ahn... Ela é uma modelo que a amiga minha conhece quase que intimamente, sabe, o lance dos seis graus de separação que nos faz pensar o quanto esse mundo é pequeno. - disse Frank, sorrindo desconcertado. 

- Ah, é verdade. - disse Greta, bem-humorada - Se sua amiga quiser, há outras peças com cores menos típicas pra casamento. 

- Não, vou ter que passar noutra loja. Ela só queria mesmo esse. Mas... que fim levou o vestido da Rachel? Ela não devolveu?

- Um homem que se dizia parente dela veio aqui pagando o triplo do valor. Acho que o nome dele era... Sylvester. Um cara elegante, falava eloquente, charmoso e um tanto misterioso. Falou que Rachel concordou em deixar que a fundação beneficente onde ele trabalha comprasse o vestido para doar à um museu. Não sabia que valia tanto. 

Para o detetive, a palavra "fundação" foi mais que o suficiente em favor do mistério. 

                                                                           ***

Frank já não mais sentia-se na obrigatoriedade de bater educadamente para pedir permissão de entrar na sala do superintendente, chegando a largos passos e parecendo que soltaria que fogo pelas narinas. 

- Ei, mais respeito com meu espaço! Enlouqueceu? Quem você pensa que é? - perguntou Hoeckler, levantando-se com alarde da sua cadeira - Se veio quebrar meus dentes, pelo menos feche a porta! 

- Não vim quebrar tua cara, por mais que eu adoraria. - disse Frank, aproximando-se.

- É engraçado... como nossa relação mudou radicalmente desde que me revelei um conhecedor de extensa bagagem do sobrenatural. Te fez se sentir ameaçado? Superado? Frank, eu realmente gostaria que continuássemos mantendo nossos papéis profissionais aqui dentro. De chefe para empregado. Lá fora, no entanto, é outra história. 

- Olha, não tô com saco pra discutir o assunto da proposta. Vim pedir um esclarecimento. 

- Sobre o quê exatamente? - perguntou Hoeckler, chegando mais perto com um copo de uísque na mão esquerda. 

- Seus soldadinhos interferiram numa cobertura jornalística e se apossaram de um vestido de casamento preto amaldiçoado. 

- Tem provas que embasem? Eu quero ver. - disse ele, dando um gole na bebida. 

- A prova? Cê tá pedindo uma prova?! São seus subalternos! Não é você o conselheiro de alta patente que manda eles fazerem operações contra eventos paranormais que a sua equipe divide em categorias? Vai bancar o joão sem braço? 

Hoeckler tomara um último gole, fazendo uma careta ao sentir o uísque descendo ardente na garganta. 

- Você me pegou. - disse ele, ironizando - Fala de um vestido que pertenceu à uma noiva morta no dia do próprio casamento pelo próprio noivo, certo? OK, vamos aos fatos: Meus agentes se apropriaram do vestido após administrarem doses de amnésicos em todas as testemunhas das mortes. 

- Por isso que os principais veículos de notícias não cobriram. 

- Estamos mais proliferados do que pensa, Frank. Imprensa, política, gestão empresarial etc. Quanto aos amnésicos, dosamos para a classe C cujo efeito leva cerca de 24 horas. Cada decilitro equivale à milésimos de tempo para a ação do efeito. Tudo metodicamente programado. Não sabe o que está perdendo. 

- Eu passo. - disse Frank, novamente recusando a oferta - Bati um papo com a dona da loja onde o vestido foi comprado, ela disse que um tal de Sylvester, se dizendo parente da noiva, ofereceu uma fortuna pelo trapo amaldiçoado porque a fundação beneficente onde ele trabalha queria doar pra um museu. Deixa eu adivinhar: O nome dele não é Sylvester e essa fundação não é beneficente nem aqui e nem na China. 

- Temos filiais na Ásia também. - revelou Hoeckler - E você errou, ele se chama Sylvester, mora em Danverous City. Ninguém além dele sabe onde o vestido foi escondido após a ordem de despacho. 

- Então cadê ele? Me dá o endereço. - exigiu Frank, o sangue fervendo. 

A resistência de Hoeckler em oferecer a localização detalhada de Sylvester foi indisfarçável. 

- Eu prometo tirar uma semana inteira de folga, uma semana inteirinha sem monstros. O que me diz?

- Acresço para duas semanas. Será que aguenta fazer vista grossa deixando tudo em nossas mãos? 

Frank suspirou fundo para não fraquejar no seu autocontrole. 

- O único jeito de parar o fantasma da noiva é queimando o vestido. Então é sim. Mas pra folga hein. 

- Fechado. - disse Hoeckler com seus irritante sorrisinho de cinismo e satisfação. 

                                                                                ***

A casa de Sylvester situava-se numa área residencial de classe média alta e Frank batera à porta. O parrudo agente da ESP atendeu já incomodando-se com o perfil da visita. 

- Boa tarde. - disse Frank - Agente Frank Montgrow do DPDC. - mostrara o distintivo. 

- Em que eu não posso ajuda-lo? - perguntou Sylvester, passando a mão no seu cabelo castanho encharcado de gel. 

- Você pode não me ajudar a encontrar um vestido de casamento preto... que só traz desgraça pra quem o usa. 

- É mesmo,não posso ajuda-lo. - disse Sylvester, logo fechando a porta. Porém, Frank meteu a mão esquerda no meio impedindo e segurou a porta. 

- Você não quer, mas não significa que não pode. - disse o detetive - Pra facilitar, fui designado pelo superintendente Hoeckler. O coroa de caráter duvidoso que você e sua turminha chama de conselheiro. 

O semblante de Sylvester se endureceu de tensão. 

- Liga seu carro, vou te levar até onde enterrei o vestido. Deixa eu só trocar de roupa. 

Frank esperou ele se aprontar e seguiu por algumas estradas para a floresta sendo guiado por Sylvester. O sedã prata estacionou em um ponto aleatório da floresta. Ambos percorreram um caminho relativamente longo e ainda assim Frank estava receoso sobre o quão distante iriam ou se Sylvester estaria planejando engana-lo. 

- Não me leva a mal, mas acho nessa distância já devíamos ter, sei lá, feito uma trilha com uns amendoins pra gente não se perder. - disse Frank, andando atrás dele - Tá ligado que tacando fogo no vestido faz o espírito da noiva ser purificado, né? Estranho terem descartado quando podiam fazer isso.

- As ordens da alta cúpula são inquestionáveis. - disse Sylvester, carregando uma grande pá e procurando não se entrosar nem um pouco com o detetive.

- E vocês um bando de robôs que obedecem como se tivessem chips implantados no cérebro. 

- Não tem chip no cérebro, se serve pra tranquilizar sobre a proposta do conselheiro Hoeckler. 

- Ah, vai se ferrar, até você também me amolando com isso. - reclamou Frank, de saco cheio. 

- Mas todo mundo da ESP tá na torcida pra você aceitar. - disse Sylvester - Uma hora sua vida dependerá dessa escolha. 

- É uma ameaça? - indagou Frank, olhando-o com máxima desconfiança. 

- Chame de previsão, se quiser. Bem, chegamos. Juro pra você que enterrei a droga do vestido junto com outros objetos anômalos aqui. - disse Sylvester, parando frente à uma robusta árvore. Fincou a pá no solo e começara a cavar enquanto Frank aguardava observador. Em meio à alguns itens, via-se uma caixa branca retangular da qual Sylvester retirou o vestido negro junto com o véu e a grinalda - Quer dar uma analisada? Pra verificar a autenticidade.  

Frank pegara o vestido, tomando da mão dele, e estudou-o para ver se correlacionavam com o modelo visto na foto de Rachel, não imaginando nem por um minuto que sua guarda baixara consideravelmente ao não perceber Sylvester erguendo a pá lentamente e apontando o cabo para a cabeça do detetive. O agente da ESP golpeou-o fortemente, derrubando-o de frente para o chão. Frank tombou inconsciente com o vestido embaixo dele. 

                                                                               ***

Uma sensação de choque elétrico fizera Frank acordar com um sobressalto. O detetive visualizava o ambiente em que estava para só depois dar-se conta de que, como em inúmeras ocasiões, estava amarrado nos pulsos numa cadeira, mas esse detalhe era o de menos. Olhou para si mesmo, franzindo o cenho. Frank vestia um terno cinza com uma flor branca no lado esquerdo do peito. Tentou balançar os pulsos atados e desviou um olhar raivoso para Sylvester. 

- Cara, vou te fazer se arrepender disso. Porque no fundo eu sabia que você ia me passar uma rasteira, só que me pegou na guarda baixa por me prestar, de boa vontade, a fazer o teste de autenticidade no vestido. Por falar nisso, cadê ele? 

- De volta ao local de onde nunca devia ser retirado. - respondeu Sylvester, frio - Você tá uma gracinha, essa flor combinou perfeitamente com o terno. A sua noiva vai adorar. 

- Peraí, como assim? Onde a gente tá, pra começo de conversa? 

- Numa catedral cujo padre, no caso eu - disse Sylvester, vestido com batina preta de padre -, vai selar matrimônio dos dois pombinhos. Isso se a noiva fantasma não estragar a festa acabando com você.

- Ah, saquei qual é a tua. Podia até ser pior: Eu usando o vestido preto e você de noivo ou o contrário já que esse seu cabelinho aí me levanta umas suspeitas. 

Sylvester aproximou-se e o agarrou pelas golas do terno. 

- Eu tenho ordem expressa pra te levar pro corredor da morte, Frank. Então me leva mais a sério, OK? 

- O Hoeckler te mandou me jogar na mira da noiva de preto porque se cansou de me ouvir recusando a proposta. Não foi? As duas semanas de férias que ele concordou me dar são férias permanentes... no além. Aquele safado... - se enraiveceu por dentro ao pensar em como Hoeckler estaria rindo estourando champanhe com seus colegas da fundação ESP certo de que removeu Frank da equação. 

- Vai atormentar o conselheiro à vontade quando sua alma ficar vagando por aí. - disse Sylvester, logo estalando os dedos - Pode vir, ele está arrumado. 

Uma mulher vestida de noiva entrou na sala iluminada pela luz da lua. Ela demonstrava um entusiasmo no mínimo exagerado apenas reparando na sua expressão de sorriso aberto e largo e olhos arregalados. 

- Tô tão nervosa. Finalmente vamos nos casar. - disse ela para Frank.

- Nem te conheço, mulher. - disse Frank, franzindo a testa - Parece que tá chapada. 

- Na realidade, submetida ao efeito de um composto químico que inibe o córtex cerebral. - disse Sylvester - Não importa o quanto você diga que não a quer como sua legítima esposa ou que tudo não passa de um teatro, ela não vai responder a nenhum estímulo que a faça julgar certo e errado, verdade e mentira. - sacou uma arma do bolso da batina e fora desatar os nós da corda. Frank se levantou com as mãos para cima. A mulher intencionou dar o braço direito para Frank 

Pelo corredor semi-escuro que levava ao salão cerimonial, Frank ia de braços dados com a moça que mal conhecia num desconforto que não conseguia mensurar. Sylvester os acompanhava, seguindo atrás de Frank e segurando a arma apontada para as costas dele. No limite da sua paciência, Frank admitia que precisava tomar uma atitude brava e não permitir aquilo transcorrer conforme o planejado. Numa abrupta iniciativa, Frank virou-se e segurou o braço direito de Sylvester que tinha a arma e dera uma cotovelada no rosto dele. A arma disparou uma bala perdida. O agente da ESP revidou com uma cabeçada que levou Frank ao chão, mas o detetive chutara a mão dele, fazendo-o largar a arma e se reergueu. Frank o colocou contra a parede e desferiu dois socos de direita. 

- Ficou surtado por que? Ainda nem começamos. - disse Sylvester, a boca e o nariz sangrando. 

- Cara, eu não tô surtado com o teu plano, tô surtado por você ter tirado a minha roupa! A propósito, onde você enfiou minhas roupas? Se disser que jogou num rio ou enterrou junto com as tralhas amaldiçoadas, você tá ferrado! 

- Devia se preocupar menos com suas roupinhas e mais com sua noiva. - disse Sylvester olhando para a mulher. Frank olhou na mesma direção e tomou um baque. A moça mantinha o sorriso de orelha à orelha no rosto mesmo baleada na barriga. 

- Nunca estive tão feliz... como estou agora. - disse ela, ainda sob efeito da droga que afetou sua mente. Ela caíra no chão, falecendo. Sylvester tirou proveito da distração de Frank e o chutou na canela e em seguida dera um soco. 

O espírito de Rachel reapareceu para ambos, enfurecido e sedento para matar. A figura espectral da noiva de preto focou-se em Sylvester. 

- Você é um idiota. - disse Frank, caído no chão, limpando sangue da boca - Escolheu o figurino errado.

- Como é? - indagou Sylvester, confuso. Rachel avançou em supervelocidade e gritando com cólera, atravessando o peito do agente com sua mão esquerda. Sylvester morrera na hora, caindo no chão. 

Frank correu na certeza de que Sylvester tinha vindo à catedral com seu carro. Sentia uma dorzinha na coluna, o que fez ele imaginar que foi colocado no porta-malas numa má posição. Rachel soltou outro grito furioso, a face de ódio coberta pelo véu negro que deixava seu rosto meio borrado e irreconhecível. Desapareceu do corredor para perseguir Frank. O detetive pôde entrar no carro a tempo e deu partida pisando fundo no pedal acelerador e fazendo os pneus cantarem. 

Para sua sorte, o GPS tinha configuração de armazenar as rotas do início ao fim, inclusive a última feita.

Sacou o celular para ligar para Carrie, mas o sinal sofreu instabilidade. Pegou um isqueiro no porta-luvas e guardou no bolso do terno. 

- Anda, Carrie, por favor, ouvir sua voz agora é o único consolo pra tornar essa noite menos pior. 

A ligação caíra. Notou que suas roupas estavam amontoadas no banco ao lado junto aos sapatos. Pegando-o de surpresa, Rachel ressurgiu no banco de trás e encostou sua faca na garganta de Frank, pronta para rasga-la. Ágil, o detetive sacou do sobretudo e disparou para trás no maior cuidado para não acerta-lo também. Seu alívio foi imenso ao ver que o fantasma desapareceu com as balas contendo sal, mas durou pouco pelo tiro ter estilhaçado o vidro do retrovisor traseiro. 

Desviou bruscamente para o bosque, seguindo a rota do GPS até o final. Correndo para o ponto onde os itens amaldiçoados estavam enterrados, Frank temeu que Rachel bloqueasse seu caminho a qualquer momento. O vulto dela passara veloz por entre as árvores. Reconhecendo a árvore que ficava próxima ao ponto, o detetive se agachou e cavou com as mãos como um cão ansioso para desenterrar um osso. Rachel retornara. Frank parou de cavar para disparar um outro tiro que a repelisse por poucos minutos. Tornou a cavar, afoito. Pôde entrever uma pontinha da tampa da caixa do vestido. 

Frank puxara a caixa coberta de terra e abriu-a. Rachel ameaçava atacar de impulso para mata-lo como fizera com Sylvester, mas o detetive pegara o isqueiro do bolso e tentou acende-lo. A temperatura havia caído de modo que o isqueiro se dificultasse em produzir uma chama. Frank apertou repetidas vezes, desesperadamente. 

- Acende, merda! - disse ele enquanto Rachel erguia sua faca para avançar num golpe definitivo - Opa! - viu uma faísca - Dá pra esperar só mais um pouquinho? 

Rachel gritou estridente e tomou o impulso de velocidade. Porém, o isqueiro acendera uma chama completa e Frank encostou-a no vestido que foi tomado pelo fogo rapidamente. Antes que Rachel ficasse centímetros perto de mata-lo, ela parou com uma luz branca refulgindo do seu peito. Frank protegeu os olhos da claridade enquanto o vestido consumia-se nas chamas. O espírito da noiva de preto alçou-se à Eternidade sem que ela pudesse desfrutar de um tempo para agradecer à Frank. 

A luz que subia apagou-se. 

- De nada. - falou Frank, olhando para cima. O cansaço lhe fez deitar no solo, não importando se sujava o terno caríssimo que vestia contra sua vontade. 

                                                                                 ***

No dia seguinte, Frank contava à Carrie o perrengue que enfrentou com Sylvester e Rachel.

- E foi assim, tudo tão ligeiro que ela sequer pôde me dizer um obrigado. Provavelmente ela era uma boa pessoa e a Eternidade a puxou depressa com o livramento da maldição. 

- O superintendente já veio te importunar com perguntas? E se ele quiser relatório da missão? 

- Relatório o escambau, eu não trabalho pra ele nos casos paranormais. Basta as duas semanas de folga que ele me deu. 

- Repete pra mim porque acho que não ouvi direito. - disse Carrie, incrédula, inclinando seu ouvido esquerdo.

Frank falou bem próximo do ouvido dela. 

- O miserável me deu duas semanas de folga, mas não do trabalho em geral. 

- Agora fiquei chocada. Quer dizer que você vai folgar e ao mesmo tempo trabalhar? 

- Não com casos paranormais. É a condição que eu propus pra que ele me desse o endereço do Sylvester.

- Frank, que idiotice tremenda você cometeu. - disse Carrie, pondo as mãos nas têmporas - Não pode entregar alguns casos nas mãos da ESP, sabe que eles querem te excluir da brincadeira a todo custo e dominar o parquinho. 

- Desculpa Carrie, mas é nessa pegada que eu e o Hoeckler vamos seguir. Tô mais que encurralado e... alguma coisa me diz que não vai acabar nada bem pro meu lado se eu desafiar cada chantagem. 

Na sua sala, Hoeckler ouvia a conversa dos dois através das escutas. 

- Não tenha a menor dúvida disso, Frank. - disse ele, as mãos entrelaçadas como um poderoso déspota que planeja novos meios de exercer submissão. 

                                                                              -x-

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 


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