Frank - O Caçador #54: "A Verdade Não Está Lá Fora (Parte 2)"


O clima se correspondia aos sentimentos compartilhados entre as várias pessoas trajadas de preto, algumas de cinza e roxo, reunidas naquele cemitério, O céu pálido daquela manhã fria parecia refletir a tristeza de todos os amigos e admiradores que Ernest conquistara nos anos de carreira como chefe da maior corporação policial da cidade e que abriam espaço para os homens leais ao ex-diretor carregarem o caixão de mogno até a cova profunda. Frank, de terno preto e desabotoado por cima de uma camisa branca, chegara meio atrasado, tocando no ombro esquerdo de Carrie atrás dela. A assistente usava um vestido preto e estava  de óculos escuros a fim de esconder os olhos inchados de tanto que chorou. 

Conforme o caixão descia à sepultura, policiais do DPDC tiravam seus quepes e fizeram um minuto de silêncio. Frank fora até a esposa de Ernest, a qual nunca vira pessoalmente, dando seus pêsames, assim como também aos filhos dele. O detetive aproveitou para pegar um pouco de terra e ir até a cova, jogando sobre o caixão. "O senhor me deu mais um legado a honrar.", pensou ele, contendo a emoção. 

Lembrara da ideia que Ernest mencionou sobre torna-lo seu sucessor na direção do DPDC. 

"Não tenho mãos de ferro pra comandar um império daqueles.", pensara Frank, andando de volta para os familiares que recebiam condolências de Carrie. Porém, uma presença no mínimo inesperada o fez parar e encarar com uma cólera que ameaçava explodir no seu interior. Carrie veio até Frank ao notar que Hoeckler viera ao funeral para prestar seu respeito por Ernest, apesar das desavenças. Frank sentiu vontade de tirar satisfações, mas Carrie o barrou segurando-o. Ela fez que não com a cabeça, convencendo-o de que o momento era totalmente inapropriado e em respeito à família não deveria despejar contra Hoeckler a acusação de que ele fora o mandante do atentado, por mais verossímil que fosse. 

Os policiais ergueram suas armas e atiraram para cima numa homenagem. 

Ao término do funeral, Frank apenas esperou que Hoeckler estivesse para ir embora. Carrie não estava por perto, portanto havia uma deixa para finalmente arrancar uma confissão descarada. 

- Não foge da raia, maldito. - disse Frank, seguindo-o. Hoeckler parou de andar e virou-se - Fala na minha cara o que eu já tenho certeza absoluta desde que vi ele tomando aquela bala no coração. 

O superintendente tirou seus óculos escuros, expressando um misto de serenidade e frieza. 

- Me responde com sinceridade, Frank: Até onde você iria para manter a segurança nacional intacta? E se fosse eu naquele palanque discursando para um vasto número de pessoas esperançosas com o futuro?

- Tá tentando justificar o que você fez querendo me tachar de hipócrita, né? Eu vou quebrar tua cara. - disse Frank, cerrando os punhos.

- Faça isso. Manche sua imagem perante aos familiares de Duvemport que ainda estão ali. 

- Eles precisam saber quem foi o mandante do crime. 

- De que crime está falando? O "crime" - fez aspas com os dedos - de proteção à segurança nacional? Duvemport descumpriu um juramento! Nada vem antes da segurança nacional. Nenhuma vida está acima do bem comum se for necessário ceifa-la pra que a sociedade não lide com os efeitos colaterais. 

- O que ele ia fazer não aprovo, mas a forma de impedi-lo foi... desproporcional. 

- Desproporcional porque ele era seu amigo de copo? Faça-me o favor, Frank. Certamente você não teria hesitado puxar o gatilho se eu estivesse no lugar dele pelo simples fato de sermos inimigos. 

- Podia ter resolvido numa conversa, usado a sua lábia chantagista pra faze-lo mudar de ideia, mas não... Tinha que ter planejado um atentado á bala pra chocar um monte de gente. Você me dá nojo. 

Carrie veio até o detetive, ignorando friamente Hoeckler. 

- Frank, eu não tenho mais estrutura pra ficar aqui. Eu vim de táxi, então será que pode me dar uma carona? 

- Tá legal, me espera lá. 

- Não demora. - disse ela, subtendendo-se que pedira à Frank não se estender na discussão com Hoeckler. 

- Vocês vão ver só, quando a oportunidade bater na minha porta a sua fundaçãozinha vai ser tratorada. 

O detetive virou as costas, mas Hoeckler não o deixaria ficar com a última palavra facilmente. 

- Frank, espere um minuto. - disse o superintendente. Frank parara, controlando os impulsos emocionais - Tem algo de que deve saber. - Hoeckler retirou do bolso do paletó azul um pequeno cartão e foi aproximando-se de Frank para entrega-lo - Este cartão de acesso abre um cofre secreto localizado numa base de testes da Força Aérea aqui mesmo em Danverous City, creio que saiba onde fica. 

- Depois de tudo que fez, tá achando que ainda sou otário pra aceitar qualquer coisa? 

- O esper-X apareceu pra mim ontem à noite. - revelou Hoeckler, deixando Frank um tanto surpreso. 

- Atticus te visitou? Não sei como ele não te fez em pedaços. 

- Não me matou porque entreguei os pontos, no caso a senha que destrava a cela do ESP-47. 

- Esse é o nome do prisioneiro que não pode sair de jeito nenhum? Não mata minha curiosidade. 

- Aceite este cartão, Frank. - disse Hoeckler, pegando a mão esquerda de Frank e pondo o cartão na palma - É o único meio que o sistema de reconhecimento oferece pra entrar. Somente o pessoal autorizado tem acesso irrestrito, mas os seguranças não pedem identificação se você disser que veio por meio de Theodor Hoeckler. Aconselho que diga isso com firmeza, como se me venerasse. 

O ódio de Frank não superou a curiosidade que lhe estimulou a aceitar o cartão. 

- Então tem um segredo de estado que você quer que eu descubra. Não dá pra entender, mas se o que disse é verdadeiro sobre não ter problemas pra entrar, acho que não custa dar uma espiada. 

- Minha maior preocupação é com o ESP-47. Se aqueles espers chegarem perto de destrancarem a cela... Será o fim da fundação e a médio ou longo prazo do mundo que conhecemos. 

Frank olhou para o cartão e em seguida para Hoeckler, mantendo a cara enraivecida que indicava sua desconfiança elevada. 

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CAPÍTULO 54: COMPLEXO DE MESSIAS

A grade da prisão de Marcel se abria com um barulho incômodo que o acordou subitamente. 

- Não tá meio cedo pro banho de sol? - perguntou ele, levantando-se do que ele ironicamente chamava de cama e coçando os olhos. Viu o policial parado e estranhou que não o tratasse mal. 

- Visita pra você. - disse o policial. 

- Quem é? - indagou Marcel, andando para fora da cela. 

- Não sou pago pra especificar. - retrucou o policial, desenganando o detento pela aparente pose gentil. 

Na sala de visita, Frank o esperava sentado à mesa. Ao vê-lo pela janela durante a ida, Marcel se euforizou por dentro, imaginando que o velho amigo tivesse disposição para compreende-lo e perdoa-lo. 

- Frank. - disse ele, entrando - Ah, Frank, meu chapa, não precisava ter vindo... 

- Senta logo aí que eu não vim passar a mãozinha na tua cabeça. - disparou Frank numa postura que soou bem rude e fria para Marcel que sentou-se na cadeira diante do detetive - Um último favor. 

- Eu ainda sou seu amigo. A única coisa de que me arrependo desde aquele dia é não ter sido sincero com você. Mas se eu fosse, meu plano estaria arruinado. Seu perdão é inconquistável, né? 

- Marcel, não vou remoer o passado. Supera essa, tá? Principalmente quando for sair daqui a uns... 

- Vinte anos. - disse o ex-caçador, amargurado - Que último favor seria esse? 

- Tô precisando agrupar um exército de caçadores pra uma missão de extremo risco. Lembra da organização que te falei? A que tá praticamente usurpando o papel dos caçadores? 

- Sim... Havia dito que caso a Penny Carter desse com a língua nos dentes sobre o nosso trabalho, pessoas dessa tal organização iriam faze-la pagar com a vida por esse erro. Exatamente o que eu fiz. 

Frank revirou os olhos, respirando fundo para aguentar a insistência de Marcel em discutir aquilo que o  levou para cadeia. 

- Cara, só vamos focar no que eu tenho a pedir. Nada de falarmos sobre a Penny, o seu crime e a sua justificativa. 

- Eu não ia tocar no assunto pra gente enrolar na conversa, pára de ser fresco. - retrucou Marcel, aborrecido - Mas diz aí: Tá querendo reunir caçadores pra destronar com essa organização poderosa? Já conversamos sobre isso. A profissão de caçador tá quase extinta nessa cidade. Disse um exército, né? Não rende nem pra um punhado.

- Na verdade, os caçadores que eu procuro não são daqui. Eu ouvi dizer, num passado remoto, que tinham contato com você, inclusive até caçou com eles. Esses caras moram nas cidades vizinhas. Sabe me dizer os nomes? De todos eles?

- Bem, sei de cor os nomes, eu tive realmente umas aventuras com eles... Mas não sei deles há tempos, a maioria pode ter se aposentado, talvez estejam mortos. Passamos uma temporada de caçadas antes de eu me aposentar e só viver de consultoria e suporte teórico pra jovens talentos. Não faço idia se seguiram em frente na carreira. Encara a realidade, Frank. 

- OK, se não vai me dar os nomes pra eu ao menos checar na internet, perdi meu tempo pensando que você ia ser útil. - disse Frank, levantando-se - A situação é grave, eu não posso batalhar sozinho. 

- Calma aí, fica, por favor. - disse Marcel, desesperando-se - Tem papel e caneta? 

Frank retirou uma caneta de um bolso do sobretudo e arrancou uma folha do seu bloquinho de notas. Anotou cada nome citado por Marcel, seis no total, os quais pertenciam aos prováveis caçadores ainda vivos. O detetive guardou o papelzinho num bolso e andou até a porta para sair. 

- Frank, posso te perguntar uma coisa?

- O que é? - indagou Frank de costas. 

- Sem ressentimentos? 

O silêncio sepulcral foi a resposta do detetive àquela pergunta que significava uma súplica por perdão. Frank saiu da sala. Marcel entristeceu-se com a indiferença do detetive e deitou sua cabeça na mesa de ferro batendo-a. 

                                                                             ***

Na sala de controle da ESP, imperava um clima de destempero e cizânia. 

- Como assim vocês três decidiram me abandonar? - perguntou Atticus a três espers: Casey, Lilin e Barbara que pediam desvinculação da Resistência Esper - Sem mais nem menos? É loucura! 

- Você passou anos num manicômio e nós somos os loucos? A definição de loucura foi atualizada depois do que vimos você fazer ontem. - disse Casey, um esper com poder de criocinese.

- Pegamos você matando os agentes reféns... - disse Barbara, um esper capaz de copiar vozes humanas - Parecia que tava se divertindo e enlouquecendo com o poder. A gente não vai se atolar na mesma lama que você. 

- Como ousam dizer isso? - questionou Atticus, enfurecido, fazendo a terra tremer de leve e as luzes da sala piscarem - Devem ficar pra que sejam essenciais, foi pra isso que os chamei! 

- O problema tá na sua abordagem, cara, se liga. - disse Casey - Você mandou o resto da galera sair quebrando tudo sem nenhum plano inteligente. O poder tá subindo à sua cabeça. O que vai fazer? Nos obrigar na base da tortura? Não pode nos controlar! Escolhemos lutar por livre e espontânea vontade porque você nos convenceu de que o futuro pra qualquer esper é o pior de todos os futuros possíveis. 

- Queremos voltar pras nossas vidas normais. - disse Lilin, uma tímida esper de origem chinesa cujo poder se centrava na visão emulada a de uma águia - E eu concordo com o Casey. 

- A Lilin tem razão. - disse Barbara - Estávamos vivendo bem antes de cairmos nessa roubada. Além do mais, parece que as pessoas se esqueceram que viram a Sue, o Harry e a Alicia usando seus poderes, não saiu em nenhum jornal no dia seguinte, o que significa que podemos andar seguros lá fora.

- Vamos cair fora daqui. - disse Casey, pronto para ir embora junto com as meninas. Contudo, Atticus desatou a rir - Tá rindo do quê? - a risada do líder ficava ainda mais sinistra - Cara, você é completamente doido! 

A serotonina de Atticus era tanta que afetavam os controles dos painéis que salpicavam faíscas. 

- É engraçado... pelo fato de terem vindo num estalar de dedos que os teleportou e só poderem sair da mesma forma. Estão todos aqui presos comigo. - ergueu um olhar penetrante à eles - Então terão que dar uma chance. Queiram ou não. 

O trio de esper viu-se acuado ante aos desmandos obsessivos de Atticus e tiveram de permanecer se não queriam complicar suas vidas. Um amargo arrependimento batia dolorosamente neles.

                                                                                  ***

Frank não aproveitaria saudavelmente a noite do mesmo dia em que viu seu melhor amigo indo para sete palmos abaixo da terra dentro de um caixão de mogno. Deitado no sofá vestindo uma camisa branca e calça cinza, ele divagava das confraternizações e momentos de camaradagem. Fechava os olhos e tudo o que enxergava era o rosto de Ernest. 

Tivera uma ideia que consideraria estúpida de início, mas naquele instante parecia propício na visão dele de que testar um contato mediante a um instrumento de baixa garantia de segurança. 

O detetive colocara nada mais e nada menos que o tabuleiro Ouija sobre a mesa da cozinha e sentou-se sob a luz branca da lâmpada no teto. Esperou alguns minutos para que pensasse no que falar. 

- Eu não sei por onde começar... Aposto que o senhor não saberia. Deve ter sido um tremendo choque tomar um tiro bem no peito em pleno discurso. Se tiver assistido ao próprio funeral, saiba que morreu e será lembrado como um herói. Aquela bala feriu nossos corações. Dilacerou nossas almas. E sendo honesto, não se passa um minuto sem que a vingança me seduz pra que eu a use e feche essa ferida. 

O celular de Frank que estava no sofá tocara, quebrando a atmosfera. Fora atender, sem reclamar. 

- Alô, Carrie. Algum progresso nas pesquisas ou tá na mesma ainda?

-  Foi mais fácil entrando no banco de dados, como é do meu feitio. 

- Cuidado hein, o fantasma do diretor pode ter visto, pela primeira vez, essa sua travessura aí.

- Frank, não tenta amenizar com piadas de fantasma. O Michael Jenkin, o agora novo prefeito e ex-vice, decretou luto de dez dias. Vamos ficar nessa vibe, OK? Quem sabe... nos recuperamos um pouco até lá. 

- Não, Carrie. Nada cura essa dor. Ele foi mais amigo nosso do que um chefe rigoroso. 

Uma pausa de silêncio por parte de Carrie durou uns bons segundos. 

- Te mando os endereços dos caçadores por mensagens daqui há pouco. Boa noite. 

- Valeu. Boa noite. - disse Frank, logo desligando. Retornou ao Ouija para novamente tentar. Mas quanto mais o tempo corria, o sono pesava sobre os olhos do detetive - É, acho que vou... - bocejou levantando-se sem completar a frase. Porém, ouviu o triângulo do Ouija mover-se e virou-se rápido. O triângulo movimentava-se pelas letras e Frank lia a frase - Estou... bem... aqui... seu... idiota. - ele sorrira - Não... consigo... falar e... nem... tocar... em... nada. - um sentimento reconfortador lhe tomou. 

Frank fora dormir, satisfeito. O fantasma de Ernest surgira perto da mesa enquanto o detetive subia para o quarto. 

                                                                           ***

No dia seguinte, Frank passou um bom tempo no celular após verificar os perfis dos caçadores nas redes sociais e pedir que dessem seus telefones dando uma prévia do acordo que firmaria. 

- É isso aí, Rodney, tem licença pra atirar primeiro e perguntar depois. OK, soube que vocês vão dar um jeito de se encontrarem à tarde e virem pro local combinado. Bem, quem sugeriu isso foi Drake, meu segundo em comando. Na dúvida, dá um toque pra ele e pede pra me retornar me dizendo se tá tudo certo. Beleza, a gente se vê hoje à noite, eu espero. - disse Frank, logo encerrando a última ligação para fechar negócio com seus novos parceiros que direcionaria para uma missão extremamente arriscada que consistia em invadir a instalação subterrânea da ESP com alto poder de fogo.  

Paralelo à maratona de conversas telefônicas de Frank, os conselheiros da ESP, Gideon e Dale, juntamente com Hoeckler reuniam-se no gabinete do superintendente para falarem dos últimos e fatídicos desdobramentos. 

- Tive um encontro na surdina com o CDS que consumiu mais tempo do que deveria. - disse Hoeckler - Mas valeu a pena, afinal não é sempre que um consenso geral entre eles é feito. 

- E pelo que decidiram? - indagou Gideon, tomando um café. 

- Frank deve ser recapturado e mantido numa cela até que arranjemos os recursos ideais para conter os espers. Mas o pior dos obstáculos é o esper-X, claro. Ficamos num impasse. Não podemos manter Frank preso se o esper-X ainda está lá para solta-lo e com Frank solto nossa provisão de mecanismos se torna impossível enquanto o esper-X continuar vivo e sob a proteção dele. Eu não questionei como agora porque a reunião tinha excedido no tempo.

- Faça uma videoconferência. - idealizou Dale - Pelo menos pra acrescentar. 

- O tempo está se esgotando, temos problemas bem maiores. - disse Gideon - O ESP-47 que o diga.

- De fato. Eu sempre me esqueço de que aquela abominação existe. - disse Hoeckler com desprezo - Cometemos um erro irremediável fazendo o que fizemos com ele. 

- Talvez ele não rebele contra nós. - disse Dale contrário aos temores alarmistas do resto da fundação. 

- É imprevisível. - retrucou Hoeckler, pensativo - Além do mais, tem o cofre na base aérea onde guardamos aquilo pra fornecer energia ao local. Eu rio toda vez que lembro deles caindo feito patinhos na conversa de gerador. Não podemos deixar venha ao conhecimento do Frank. 

- A menos que dê seu cartão de acesso à ele de bandeja. - disse Dale. 

Hoeckler tocou no bolso do paletó, não sentindo nada com forma retangular.

- Não saio de casa sem ele. Eu passo na base de vez em quando, mas levo o cartão comigo sempre. - olhou no bolso - Não está aqui. - uma lembrança se esclareceu - Ah não... Maldição! 

- Não vá nos dizer que... - disse Gideon, preocupado - ... deu o cartão para Montgrow?

- Infelizmente sim. Não, eu não fiz consciente... Na certa o esper-X se ligou a minha mente e me controlou feito uma marionete para que eu desse o cartão. - levantou-se, exasperado - As coisas estão piorando. O que faremos?

- A videoconferência com o CDS. - reafirmou Dale - O consenso final será pela morte de Frank Montgrow. 

                                                                            ***

À noite, um caminhão monstro de cor preta chegara no morro que ficava à poucos metros do complexo industrial que servia de fachada para esconder a sede da fundação ESP. Do parrudo veículo, desceram quatro caçadores com armas de grosso calibre. O segundo em comando que Frank designou se apresentara. 

- E aí, rapaziada? - disse o detetive, cumprimentando-os com apertos de mão - Você é o Drake, né? Prazer.

- O prazer é todo nosso, parceiro. - disse Drake, um caçador de porte robusto que usava camisa de flanela vermelha - Quem foi amigo do Marcel é nosso amigo também. Falando nele... Por onde ele anda?

- Ele se meteu numa encrenca das brabas e acabou indo pra prisão. Mas vamos nessa, galera. Menos papo e mais ação. Estão vendo aquele prédio? Tem um andar de baixo, a toca do coelho, mas posso garantir a vocês que tá longe de ser o país das maravilhas. E então? Estão comigo pro vier pela frente?

Drake assentiu, determinado. Os demais concordaram. 

- Vamos estourar umas cabeças de monstros. - disse Drake, destravando sua metralhadora. 

Dentro da instalação, Atticus percorria um corredor para ir à sala onde os espers estavam abrigados. No entanto, foi interrompido pelo seu poder de percepção sensorial avançada que o infligiu dor de cabeça aguda. O esper se apoiou numa parede, recompondo-se. Enviou uma mensagem telepática para os discípulos: "Ouçam todos. A ESP está sofrendo invasão nesse exato momento. Sinto não uma, mas várias assinaturas de energia se aproximando daqui. Receio que não seja ninguém da fundação. Se agirem com hostilidade, partam pro ataque. Quem não puder lutar, procure refúgio imediatamente.". 

Os caçadores abriram a escotilha, descendo para o primeiro corredor do labirinto de celas. 

- Hora de nos separarmos. Dois pra direita, dois pra esquerda e eu vou pela frente. - disse Frank - Só tomem cuidado com as pessoas inocentes que estão em cárcere aqui. De resto, podem mandar bala em tudo que encontrar e não se parecer com uma pessoa. Nesse lugar os monstros são bem... exóticos. 

Enquanto isso, Hoeckler estava no seu gabinete quando verificou o site da fundação. Um desespero que nunca sentira na vida esmagou suas forças. Na tela vários logotipos da fundação - dois bumerangues cruzados verticalmente parecendo um "X" - representando cada filial nas respectivas cores das bandeiras dos países acendiam-se, o que era um indicativo de que os chefões de cada uma delas exigia uma reunião de emergência para descreverem a situação caótica pela qual passavam. 

- É um pesadelo. - disse Hoeckler, pálido. 

Na instalação, Frank dobrava para um corredor munido de uma metralhadora. Ouvia tiros abafados corredores atrás, significando que os caçadores estavam se deparando com os fugitivos das celas. 

A aparição de Atticus quase fez o detetive apertar o gatilho devido ao susto que levou. 

- Frank, o que veio fazer aqui? E armado?! Quantas vezes vou ter que repetir pra você não...

- Calma, calma, não quero te ferir. É o seguinte: O que tô executando é um plano de vingança. O Hoeckler mandou assassinar meu melhor amigo. Você tem que levar os espers pra sua mansão dimensional, mas se não quiser, tudo bem, meus parceiros que estão dando conta dos monstros que foram soltos não vão machuca-los, falei que eram reféns dos cientistas malucos da fundação. 

- É uma pena pros seus amigos, Frank. Porque assim que detectei vocês de antemão, orientei pra eles atacarem qualquer invasor com a certeza de que não eram membros da fundação. O seu plano falhou. 

As expectativas de sucesso que Frank alimentava foram destruídas completamente. 

O laboratório que os espers utilizavam como abrigo teve a porta arrombada por Drake e Winston com suas armas pesadas em riste. Os jovens recuaram, porém, Flynn não se conteve e tomara a frente. 

- São os invasores que o Atticus falou! Nem mais um passo! 

- Relaxem, nós viemos resgatar vocês. - disse Drake - Vambora. Podem sair por onde entramos. 

- Espera aí, tem uma coisa errada... - disse Winston - Aquele cara ali... - apontou para Harry - O que é aquele negócio saindo do braço dele? - perguntou, estranhando. Ao se dar conta, mirou a arma. 

- Eu sabia! - disse Harry, mostrando o espinho negro que despontava do seu pulso - Iam reagir dessa forma assim que mostrássemos quem somos de verdade! Sim, nós somos extraordinários! E aí, vão encarar? - o esper aproximava-se com marra e arrancou o espinho do pulso para arremessa-lo. 

Winston metralhou o corpo de Harry que foi chacoalhado pelas balas até que tombou. 

- Seu idiota, por que fez isso? - perguntou Drake, repreendendo-a. 

- Cê não viu o que eu vi? O moleque tava com uma estaca saindo do braço! É um monstro! 

- Então todos nós somos monstros. - disse Eve, ficando ao lado de Flynn - O Harry podia ser um babaca, mas não merecia isso. - o esper esticou seu braço direito fechando a mão. 

Dos olhos de Winston escorria sangue, depois pelo nariz e ouvidos. O caçador foi torturado cruelmente.

- Acaba com ele, Flynn. - disse Eve, inclemente. Winston gritava de dor ajoelhando-se. Inclinou-se para frente, o sangue derramando mais profusamente e formando uma poça. 

- Winston! O que tá fazendo com ele? O que vocês são? 

- Somos a evolução. - disse Eve com seus olhos trocando de cor incessantemente num ritmo acelerado gerando um efeito psicodélico e causando uma vertigem em Drake que cambaleou a ponto de largar sua arma vendo o mundo ao seu redor se deformar. 

- Ele vai morrer literalmente de dor. - disse Flynn exercendo mais força na sua habilidade mortal - Todo o sangue que eu puder extrair também posso manipular, seja dentro ou fora do corpo. 

Winston caiu duro no chão sobre a poça do próprio sangue. Manipulando o sangue do caçador, Flynn criara uma ponta afiada que modelava aumentando de tamanho e solidificando-a. De súbito cravou-a na garganta de Drake que verteu sangue feito cachoeira. O caçador morrera empalado na estaca de sangue endurecido, a cascata do seu sangue continuando a jorrar. Drake virou-se para Eve confiante. 

- Temos que ir atrás dos outros antes que sejam achados. - disse ele. 

Frank e Atticus continuavam a infrutífera discussão. 

- Admite que mandou esses seus amigos pra nos exterminar. Ou você fala ou o faço falar. 

- Não! - vociferou Frank, exaltado - Nunca que eu traria um bando de marmanjos armados até os dentes pra acabar com os espers. Vê se me entende. Eu tô aqui pra destruir a ESP e tudo o que ela representa. 

- Agora é tarde, dois de seus amigos foram mortos. - informou Atticus através de sua semi-onisciência - Um deles matou Harry a sangue frio. Foi uma péssima ideia sua. Mas em compensação tive uma melhor.

O espaço em volta de Frank se alterou drasticamente. O detetive se via numa espécie de sala meio escura com uma luz azulada brilhando de um abajur alto. Atticus prendera aos dois naquela dimensão intencionando colocar em prática a ideia que disse ter tido. Na mente de Frank só dava confusão. 

- Pensei que iria se teletransportar pra sair matando meus amigos em vingança pelo seu. 

- Nenhum deles foram meus amigos. - redarguiu Atticus - O mais próximo que tive disso foi meu próprio irmão, Roman. Também morto por um caçador. Ele seria o primeiro a reviver se o poder estivesse nas minhas mãos e ser usado num piscar de olhos. - fez uma pausa - Eles nada mais foram que meus escravos. Não fazia parte do meu sonho. 

- O seu sonho é uma simples utopia, Atticus. Você não quer mudar esse mundo por si mesmo. Tá sendo teleguiado por uma força do mal oculta que vem dando poderes à você como presentinhos. Não tá pensando com a própria cabeça. Deixa eu te ajudar, você é forte, pode libertar sua mente. 

- Quem te disse isso? 

- O anjo que eu tentei impedir de matar a Magda. - respondeu Frank, disposto a tentar a abordagem que tanto quis com o esper - Ele me falou da energia que você emana, não vem de você, mas de outra coisa.

- Mas já me sinto livre. Quando penso no meu irmão, me pergunto onde ele poderia estar. No céu? No inferno? Um limbo onde nada existe? Qual é o destino dos espers após a morte? Questões como essa me levaram a refletir sobre a minha expansão de poder. Por essa razão tomei uma medida drástica.

A fala de Atticus não inspirava algo bom para Frank. 

- O que você fez? O que você quer realmente, Atticus? 

- É, eu sou muito volátil. Mas o que eu decidi foi um mal que viria para um bem. Se eu tenho o poder de moldar diferentes realidades, então... posso criar uma na qual meus semelhantes vivam em paz. 

- Mas estaria vendendo uma mentira pra eles criando o seu mundo perfeito e ideal. 

- Exato. Mas não disse que nesse novo mundo eles viveriam suas vidas normais como antes. Não como vivos. 

- O quê? Tá querendo dizer que... prefere os espers mortos, então... 

- Eu quero dar à eles uma paz em toda a plenitude. Um paraíso que eles podem desfrutar quando perderem suas vidas no mundo em que nasceram, no mesmo mundo em que nunca teriam liberdade de ser quem são para todos verem. - revelou Atticus expressando certa infelicidade - E não é só isso. 

O esper virou-se de costas para Frank e fechou os olhos. Aparentes fantasmas surgiram diante de Atticus um por um, todos eles compartilhando de uma mesma característica: os olhos heterocrômicos.

- O que tá fazendo? Quem são esses? - perguntou Frank - Espíritos? 

- Meus antepassados. Projeções da minha mente através das lembranças que tenho da jornada de cada um deles que lutaram por um propósito. 

- Caramba, não sabia que você era tão especial assim. Parece até que você é a reencarnação deles. 

- Não são minhas vidas passadas. Nos diferenciamos bastante, mas o objetivo foi um só. 

- Se eu entendi direito... Os anjos criavam espers desde os tempos da pre-história. - disse Frank visualizando a projeção de um antepassado de Atticus que possuía um aspecto bárbaro e primitivo como barba e cabelos volumosos e vestes de peles de animais - Lutavam pela mesma causa que você. 

- Eu sou o único esper desse grupo. - declarou Atticus, voltando-se para o detetive e fazendo as projeções sumirem - Também o único que luta pela liberdade dos espers, mas priorizei o maior propósito. Todos eles fracassaram miseravelmente. Mas eu não. Eu subi mais degraus. 

- Pra você todo aquele papo de direitos civis para os espers não tinha tanta importância? 

- Digamos que era o segundo plano. O principal... não diz respeito à eles. 

- Não adianta eu perguntar umas mil vezes, né? Você não vai delatar a coisa que te injeta poder. É por ela que você tá fazendo isso. Então pelo menos fala o que você fez pra que os espers morram e você inaugure o seu paraíso celestial vip. E por que tomou essa decisão? Morrer quando pode ter uma vida tranquila e normal? 

- A normalidade desse mundo não foi feita pra nós. Eu cansei. Não faz sentido viver seduzido pelo poder durante uma vida e escravizando meus semelhantes. O seu amigo morreu como um herói e como um mártir. Eu morrerei como um deus... que dá um lugar para seus servos descansarem. Eles estão agora sendo sumariamente massacrados pela criatura que ocupava a cela proibida. 

- Não... Atticus, não devia ter feito isso. Soltou um bicho feroz que sabe-se lá o quê vai fazer com o mundo se sair da fundação! Você foi pessoalmente ao Hoeckler, deve ter te falado o que é. 

- Terá que descobrir por si. - disse Atticus, sua mão direita se envolvendo uma luz amarelada - Adeus, Frank. - levou a mão iluminada, cuja luz refulgia mais e mais, ao seu peito. Por fim, atravessou-o. 

- Não! - gritou Frank, embasbacado com o ato repentino e suicida. 

A dimensão estava desmoronando com pedaços caindo para um abismo de escuridão. Frank correra dali o mais depressa que pôde, o chão aos seus pés cedendo e perto de alcançar seus pés para que caísse. 

No fim do corredor, viu uma porta que abriu rapidamente e pulou para fora, rolando no chão várias vezes. A porta fechara-se sozinha com um baque seco. O abalo de assistir Atticus se matando o atormentava. Queria chorar, mas sabia que no momento deveria dar atenção aos caçadores do que se lamentar por não ter tido êxito em convencer Atticus a seguir por um outro caminho menos tortuoso. 

Percebeu que estava do complexo industrial e ligou para Drake. 

- Atende, atende, atende. 

A ligação não deu nenhum sinal, apenas significando que o pior havia ocorrido. 

Frank, desconsolado, foi para seu carro e partiu veloz. Iria para a base aérea conferir de uma vez por todas o segredo mais bem guardado pelo governo americano. O trajeto durou cerca de 90 minutos. Chegando lá, apresentou-se ao seguranças na postura que Hoeckler recomendou. Entrou por uma porta de ferro e desceu uma escada metálica. Os passos do detetive ecoavam alto em cada degrau. 

Terminando de descer, viu o painel de reconhecimento de acesso iluminado em verde. Passou o cartão no leitor que instantaneamente permitiu que a porta de aço se abrisse. Entrando na sala, Frank espantava a fumaça de vapor que bloqueava a visibilidade. Aproximando-se um pouco mais, deparou-se com o que podia constatar logo de cara que era o tal segredo até então oculto para o conhecimento de um "reles mortal". Encarou com um misto de estranheza e surpresa o objeto similar a uma semente de tamanho maior mergulhada num líquido esverdeado e presa num tubo de vidro. 

- Não tem uma placa proibindo de tirar uma fotinha. - disse Frank, sacando seu celular e fotografando a semente que parecia ser revestida de uma pele grossa. No entanto, um alarme soou e o detetive bateu em retirada, esquecendo-se de fechar a porta com o cartão e subindo a escada pulando degraus. Sua fuga para o mundo exterior não foi gloriosa por tempo suficiente. A luz de um helicóptero focalizou ele que protegeu os olhos da claridade. Carros pretos e robustos chegaram freando barulhentos. 

Um homem jovem de terno e gravata saiu de um dos carros com homens armados que miravam no detetive. Frank pôs as mãos na cabeça, ciente de que cometeu um delito gravíssimo. 

- Frank Montgrow, sou Casper Norton, agente do Serviço Secreto. - disse ele, mostrando o distintivo e chegando perto do detetive - Tem o direito de ficar em silêncio. Está preso por violar a lei de segurança nacional invadindo espaço privado a membros autorizados do governo. Pulseira nele. 

- Peraí, tá rolando um baita mal-entendido aqui! - reclamou Frank. 

Um dos homens algemara o detetive que não ofereceu resistência, apesar de sua mente não conseguir raciocinar para processar a situação de tão confuso que estava. Paralelamente, a instalação subterrânea da ESP virava palco de uma carnificina brutal. Landon, o caçador remanescente, procurava pelo matador implacável que estraçalhou seus amigos impiedosamente. As luzes piscavam. 

- Onde você tá? Aparece, seu miserável! 

Suas costas esbarraram em algo que não era a parede, embora tivesse a dureza de uma. Tenso, ele virou-se devagar para olhar no fundo dos olhos do assassino. Recuou com um pulo para trás, não acreditando no que via. A luz piscava tremida sobre aquele homem nu e de porte atlético, tornando-o mais sombrio. 

- Frank? - indagou Landon, franzindo o cenho. 

O ex-prisioneiro da cela especial tinha a aparência fielmente igual à de Frank. Nada soava distinto. A cópia piscou seus olhos que assumiram um tom de vermelho com pupilas pretas, dando um sorriso fechado e contido. Num acesso de súbita fúria, ergueu sua mão esquerda para atacar Landon que soltou um grito assim que as luzes do corredor apagaram-se totalmente. 

                                                                  FIM DA 4ª TEMPORADA

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

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