Analisando o vídeo "5 personagens de animes que não são Trap!" [Bunka Pop]
Ainda lembro de quando descobri que Fujisaki (Danganronpa) tinha pinto e não periquito. Chama-lo de Trap é ofensivo? |
O vídeo tem pouco mais de 15 minutos e até hoje conta com cerca de 26 mil likes e 1,3 mil deslikes (até aí absolutamente nenhuma surpresa). Eles começam exibindo alguns comentários dentre eles pedidos claros para um vídeo abordando sobre o tema dos personagens Trap, logo em seguida, para fim introdutório mesmo, eles gritam em uníssono discordando dessas pessoas afirmando que "não é Trap!". Cito aqui uma fala da Moo que escancara bem a mensagem que eles realmente querem transmitir: "A pessoa sente que vê o mundo no corpo errado, tendo rejeição e até repulsa de suas genitais ou seios". Esse tipo de pensamento remete e muito ao que se chama por aí de Ideologia de Gênero, um conceito que se opõe a padrões pré-estabelecidos sobre sexualidade, para essa corrente de pensamento ninguém nasce homem mas sim torna-se homem assim como ninguém nasce mulher mas torna-se mulher. Essa coisa de "nascer no corpo errado" é a ignição desse assunto. No meu entendimento, é uma completa negação ao óbvio que é a existência de apenas dois: homem e mulher. Não quero bancar o conservador "careta" ou cristão que afirma que Deus criou homem e mulher e não homossexual e quem não seguir os preceitos cristãos não terá um lugar reservado no paraíso, não é nada disso, passa longe do meu objetivo aqui. A minha crítica é voltada à Ideologia de Gênero em si. A ideia de que masculino e feminino, levando em consideração seus órgãos genitais, são apenas construções da sociedade e nada significam para moldar uma personalidade. Pois é, já estava mais do que hora de revelar meu posicionamento quanto a isso e de fato não estou de acordo com tais ideias.
Todo ser humano independentemente disso merece respeito? Evidente que sim. Agora pegando mais uma fala da Moo, essa daqui, por sinal, chega a ser cômica: "É importante deixar claro que estamos chamando os personagens pelo gênero com que eles se identificam. Isso é muito importante pra quem transiciona se sentir aceito. Então por que não deixar isso claro quanto se trata de um desenho também?" Misturar ficção com realidade nem chega a ser o caminho mais efetivo. O anime retrata apenas com base no que a realidade aprofundadamente não se dá de forma igual. Por isso acho que usar animes para se manifestar contra ao termo Trap não foi a melhor das ideias. Que fique esclarecido: Não sou adepto de chamar transgêneros de Trap ou outros termos. Se eu tivesse um amigo que sentisse-se mulher e desejasse convergir suas ideais e gostos ao gênero que se identifica, eu o respeitaria da mesma forma que antes dele revelar, o fato dele se assumir como trans (baseado no que a ideologia de gênero prega) não abalaria a amizade, afinal de contas eu não vejo rótulos, eu vejo seres humanos e fazendo prevalecer o respeito pelas diferenças. O termo possui sim seu sentido pejorativo se direcionado a quem realmente sofre essas transições (movidas por fatores psicológicos, creio eu), mas na ficção, especificamente nos animes, a crítica torna-se injustificável. Não estou dizendo que é inválida se olharmos para a realidade, ela é bastante válida (como disseram: faz parecer que a pessoa quer enganar outras propositalmente numa relação), acontece que personagens são apenas personagens e nada mais, então na minha interpretação é como se o Jack e a Moo quisesse impor ao público que é errado chamar personagens trans ou cross de anines de Trap por acreditar que é proporcionalmente ofensivo aos transgêneros reais. Colocaram a ficção e a realidade em pé de igualdade de uma maneira porcamente equivocada. Aceitar por respeito, não por imposição.
Para mim, digo com toda a sinceridade, não importa o ser que a pessoa toma para si, os aspectos biológicos (o sexo biológico) ainda vencem nessa gangorra. Se tem pênis é homem e se tem vagina é mulher. A discussão poderia encerrar aqui, mas quando se trata de gente querendo "lacrar" acho que existe um sacrifício necessário para apresentar todos os contrapontos de forma clara. Prosseguindo: O Jack fala que perguntar o nome real de uma pessoa que se identifica com o gênero oposto é super-ofensivo, uma ofensa sem tamanho. Faça-me o favor, Sr. Jack Freitas. Tudo bem, a pessoa faz o que quiser da vida dela, o livre arbítrio está aí pra isso, entretanto o fator biologia arremata qualquer argumento "revolucionário", então dizer que é ofensivo perguntar o nome real (sim, nome real) de uma pessoa transgênero porque isso contraria a identidade que ela assumiu para si é muita forçada de barra. A pessoa decide mudar de nome, mas a questão biológica irá ter uma voz mais ativa, é um conceito que não é parelho à tomada de decisão da pessoa. Em outras palavras, você muda de nome, mas biologicamente você ainda é o mesmo e me faz refletir o quanto de gente que realiza essa transição se contenta com isso. Já deu pra sentir a complexidade do tema, é bem cansativo...
E ainda consideram não perguntar o nome de verdade como uma "regrinha". Não vejo mal algum, na minha perspectiva. Retomando o exemplo do meu amigo hipotético: Se eu não o conhecesse como homem antes da transição, eu perguntaria como era seu nome anteriormente sabendo respeitar a escolha que ele fez e passaria a chama-lo(a) com o nome da identidade que ele/ela assumiu, não por piedade ou consolo, mas por respeito, apesar de manter minha convicção sobre o que o sexo biológico representa se confrontado com a identidade de gênero contrariante. Caguem regrinhas à vontade, mas as pessoas que possuem opiniões diferentes não são obrigadas a ver isso como uma normalidade, uma visão a ser permanentemente particular de quem acha que os outros estão errados. O conceito de normal é extremamente subjetivo. Se você é contra a ideologia de gênero e não considera normal, guarde isso para você, já se você é a favor e considera normal, faça o mesmo. O normal de um não precisa ser o normal de outro. Basta respeitar mutuamente sem que um lado despeje "regras" um contra o outro. Assim que funciona a aceitação às diferenças. Eu nunca convivi ou interagi com pessoas trans de verdade, mas entendo como o processo psicológico é tortuoso, mas não acho certo que tal pessoa se deixe influenciar por coisas como a própria ideologia de gênero.
Às vezes acho que isso serve apenas para provocar ainda mais confusão, gerando uma nulidade psicológica em que a pessoa se vê numa encruzilhada e sofrendo uma indecisão causticante. Pra mim não passa de uma tremenda falácia. E como a cerejinha azeda desse bolo, a Moo ainda vem com a conversa de "aceita que dói menos" como se não bastasse toda a cagação de regra e imposição que destilaram anteriormente. Aos 13:26 eles começam a discorrer sobre Yu-Yu Hakusho e o personagem Yusuke Urameshi numa cena específica onde em meio a uma luta ele apalpa os seios de sua adversária (uma transexual) suspeitando que ela não seja mulher de verdade e criticam essa posição. Mas que diferença faz uma cena de um anime dos anos 90? Animes shounens tem disso, essa pitada de echi, homens apalpando regiões íntimas de mulheres, é uma tipificação ficcional desse estilo. Não que eu defenda as atitudes do personagem referido, mas não entendo porque não criticam também Nanatsu no Taizai onde o protagonista Meliodas volta e meia assedia a Elizabeth. É uma coisa pertinente nesse tipo de anime, embora nada defensável, mas criticar é inútil, isso continua até hoje, e acima de tudo... é FICÇÃO! Querem justificar seus pontos sobre essas pautas de orientações sexuais, LGBTQXYZ𝚫∞ e a respeito da realidade usando animes sendo que isso é um grande tiro no pé, uma completa manifestação de equívoco levar a sério situações exibidas em obras que pouco se relacionam com o mundo real. Até quiseram passar empatia, querer tratar o tema com sensibilidade (nesse ponto conseguiram), mas ficou a sensação de que a intenção foi distante disso, o objetivo parece ser o da famigerada "lacração" cujo intuito nada mais é do que impor goela abaixo conceitos que soam deturpados a mentes mais alinhadas ao conservadorismo. E no final ainda falam de separar as coisas... Bem, infelizmente não foi o resultado atingido, pois o importante de separar, no caso, tem a ver com ficção espelhada na realidade e são duas coisas que não se cruzam perfeitamente para dar um exemplo para quem sente necessidade de transicionar, isso não me parece ser uma ajuda "miraculosa" e se esse vídeo ajuda em alguma coisa é em propagar uma péssima ideia que é a ideologia de gênero. A minha grande decepção com o canal é testemunhar que esses dois apresentadores tão carismáticos (até já sonhei um dia conhece-los pessoalmente) defendam esse tipo de coisa. Chamar de Trap pessoas transgêneros REAIS, não vale. Mas personagens de animes... Preciso mesmo dizer ou vou ter que me repetir? Sobre a ideologia de gênero, só faltam se mostrarem favoráveis à inclusão desse "conteúdo" nas escolas para crianças. Nesse ponto já é a gota d'água.
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: http://danganronparoleplay.wikia.com/wiki/Chihiro_Fujisaki
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