Crítica - Thor: Ragnarok


A queda e a volta por cima de um herói.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS. 

Sabe quais eram os meus maiores temores em relação a esse terceiro filme do deus do trovão? Comédia exacerbada e a clássica "maldição" da trilogia - o primeiro fator acarretaria no segundo, melhor dizendo. Acontece que a ideia de contratar um diretor com mão firme no gênero comédia à primeira vista transpareceu um absurdo dada a história que a aventura que fecha a trilogia do filho de Odin se trata, o que no caso é o apocalipse nórdico conhecido como Ragnarok que a princípio me deu a noção (pelo meu conhecimento prévio nesse aspecto da mitologia) de um evento de magnitude épica prometendo a inclusão de vários deuses nessa parada toda que exala seriedade. Pois é, a suavização de atmosfera veio numa hora oportuna para endireitar o que tinha deixado a desejar nos dois primeiros filmes, porém o elemento que acreditava-se sobressair aqui não é tão funcional assim. Sensação de perigo permeia durante todo o longa, o problema é a comédia em si.

Ou a maneira como o roteiro tenta inseri-la na maior parte das cenas em que ele acha ser pertinente. O filme está bem distante de merecer o apelido infame de "Thor: Piadarok", como já vi em muitos sites de cultura pop pelas interwebs. Vou me permitir traçar alguns paralelos com Homem de Ferro 3 (cuja crítica você pode ler aqui, postada lááá no comecinho do blog): Eu não consegui sequer formar um sorriso fechado completo no meu rosto com as piadas jogadas assim como no terceiro longa do playboy bilionário. Há de fato momentos bem cômicos (no Quinjet, em Sakaar, com a senha "Vingador mais forte"), disso não nego, mas a preocupação exagerada em se comprometer com o humor acabou gerando um desenvolvimento que soa tão apático por conta das piadas forçadas e o clima colorido pouco auxilia num estímulo para que essa comédia funcione mais organicamente. Em suma, não foi possível encarar tudo como um filme de comédia heroica tendo ele muito mais se valorizado, no fim das contas, como uma história de tom aventuresco e bem climatizado.

O segundo paralelo tão evidente quanto o anterior é o filme ser inteiramente centrado no protagonista, fazendo bom proveito de sua fase ruim (pelo menos o tal poder oculto de Thor foi melhor trabalhado comparado à horda de armaduras de Stark ridiculamente desperdiçadas) e a iminência do Ragnarok coincide perfeitamente com esse momento de declínio do herói. A crise chegou ao Thor que finalmente recebeu um bom filme que o centraliza no conflito que por sinal tem uma dimensão muito mais puxada ao familiar, ou seja, o Ragnarok verdadeiro, lendo pelas entrelinhas, é a respeito do filho pródigo de Asgard e a família construída por Odin. Justificando assim a presença de Hela, irmã do deus do trovão, libertada por Loki (esse cara nunca muda e a atuação do Tom Hiddleston continua um primor, recebendo um destaque justo, principalmente no segundo ato quando ele revê o Hulk na arena e tem um pequeno cagaço) e que veio para abalar todas as estruturas a fim de se vingar da penitência que pagou após Odin reconhecer sua natureza malévola. A morte de Odin, inclusive, foi tão bem conduzida como foi responsável pela maior carga dramática e quem trata o longa (erroneamente pra mim) como comédia deve pensar que isso é relativamente destoante do resto que é apresentado. É apenas um filme seguindo à risca a fórmula Marvel de sucesso, com pitadas de comédia, mas que de um ponto de vista não tem um teor do que se espera do estúdio sobre esse gênero e por essa razão não provoca risos de doer a barriga como boas comédias.

Voltando ao apocalipse familiar de Thor: A aventura do filme segue numa direção bem pessoal que reforça a centralização positiva dada ao próprio Thor (poxa, o cara perdeu sua melhor arma, o seu pai, a sua casa, as madeixas e o olho direito - acho que a Jane Foster também entra no pacote) como parte de sua jornada para recuperar sua dignidade e, claro, o seu lar, buscando sair dessa fase negativa que sua irmã o colocou num recorde de tempo. Às vezes a família realmente causa problemas. Sobre o mote de herói decadente saltando para um novo crescimento, tenho que reconhecer a boa segmentação trabalhada para enche-lo desse espírito de perseverança para impedir o fim de Asgard pela pessoa que (involuntariamente ou não - naquela perseguição pela Bifrost) o condenou a um estado de impotência num lugar gerido pelo antagonista secundário que não passa de um mala (sim, o Grão-Mestre que é destaque no segundo ato mas não representa tanta ameaça) e ainda o forçou a entrar num torneio de gladiadores (felizmente contra um amigo e colega de trabalho).

Quanto ao Hulk, diria que ele foi o membro do team Thor (composto pelo deus do trovão, Valquíria, Loki e o gigante esmeralda) a receber menos atenção na batalha do terceiro ato que tem o mérito de possuir um brilhantismo superior ao primeiro filme em termos de sequências de ação. Tivemos ali um fiapo de Planeta Hulk e acho que a maior competência relacionada ao verdão é, sem dúvida alguma, sua interação (enquanto transformado) divertida com Thor numa amizade que oscila no atrito e no companheirismo. Além disso, dá uma sensação que Thor recruta uma equipe (levando em conta também os outros "gladiadores", liderados por aquele cara pedregoso), um time de Vingadores em prol de Asgard. Gradualmente vai se percebendo o quanto Thor torna-se resiliente com o possível sucumbimento de Asgard. Aliás, durante e depois da mega-destruição causada, inesperadamente, por Surtur, aqui utilizado como último recurso para derrotar Hela (facilmente ofuscada pela presença do segundo maior vilão do filme que no início do primeiro ato é vencido por Thor de uma maneira menos problemática do que esperada), ação precedida pelo êxodo do povo asgardiano que começou com Heimdall desempenhando um importante papel como guardião da espada da Bifrost.

O longa se encerra propondo um recomeço de vida ao herói nórdico. No fim, o filho tornou-se o pai.

Considerações finais: 

A franquia do Thor é muito bem compensada com Thor: Ragnarok que é dotado de boas qualidades para uma aventura empolgante, envolvente e embalada por uma trilha sonora um tanto inusitada visto os cenários pelos quais passa (o melhor é o que ao menos foi o único até agora a passar-se menos na Terra), além dos efeitos ultra-coloridos fortalecidos pelo clima mais light (com momentos de drama e violência bem dosados) e apropriado ao herói. Não vejo uma comédia com heróis mas sim a aventura de um herói em crise tentando levar numa boa os problemas que é obrigado a resolver.

PS1: Chris Hemsworth está nitidamente mais à vontade no papel. Inclinação para humor incentiva a abraçar o personagem intensamente mesmo num filme que de humor é proporcional a dose de Planeta Hulk em Sakaar.

PS2: Hulk vs. Fenrir poderia render uns minutinhos adicionais, não?

PS3: Stan Lee ou Edward Mãos de Tesoura? Qual o melhor?

PS4: E esse retcon sobre o tesouro de Odin ser falso? A manopla do infinito que apareceu no primeiro Thor não passou de um mero easter-egg e ainda que fosse da mão esquerda dava para encaixar o lance da inautenticidade.

PS5: Doutor Estranho pareceu um mago com anos e anos de experiência diante do Thor. O cara aprendeu magia há pouco tempo e já tá "se achando". Quero ver esse ego vencer do Stark...

PS6: Essa de o propósito não ser exatamente impedir o Ragnarok mas sobreviver à ele me lembrou de cara O Exterminador do Futuro e seu Julgamento Final (o terceiro filme!).

NOTA: 8,0 - BOM

Veria de novo? Sim. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://centralvingadores.com.br/lista-20-segredos-e-easter-eggs-do-filme-thor-ragnarok/

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