Frank - O Caçador (Especial #1): Frank & Natasha vs. Strigoi


Pouco tempo antes de embarcarem no voo para o Reino Unido, Frank e Natasha resolveram fazer uma troca justa: o caçador de monstros daria seu número de contato na rede de bate-papo online para que fosse adicionado enquanto a caça-vampiros garantiu que o chamaria caso realmente precisasse de... um parceiro ocasional, muito embora acreditasse (e quisesse) que as chances disso acontecer em Londres fossem completamente nulas devido à sua persistente missão de extermínio contra qualquer barão vampírico em potencial, todos eles ao redor do mundo.

N: Frank, se estiver aí, preciso contar algo. Não é urgente, por enquanto, mas é importante. | 21:45

F: É quem tô pensando que é? Não é perfil fake né? Vou checar o IP. Ah não, precisaria da Carrie pra isso. Deixa pra lá. | 21:55

N: Eu acho que ela não concordaria com essa sua ideia. Por que diabos especula que eu seja fake? | 21: 58

F: Tinha uns vampiros que deixamos escapar, não lembra? Devem ter conhecimento da nossa relação, espiões espalhados em várias partes, sei lá. De vampiros se espera qualquer tática suja. | 22:02

N: É, talvez, boa hipótese, mas não tô afim de discutir conspiração. Sou eu mesmo, Frank, é sério. | 22: 05

F: Tudo bem, só tava brincando contigo. Tá, nem tanto assim... sabe como é, esse mundo virtual não é pra iniciantes, então a confiança reduz um pouco. Mas fala aí. Que assunto tão sério é esse? | 22: 09

N: Felizmente, nada tem a ver com os possíveis barões. Ainda não cacei nenhum após a Ivana. Olha, vou ser bem direta: Meu irmão ligou avisando que escutou uma conversa num bar lotado de vampiros e ouviu mencionarem uma décima-primeira joia do poder e localizada... aqui em Londres. Além disso, no dia anterior da ligação dele vi uma notícia sobre ataque de animal suspeito com uma vítima achada com veias e artérias secas, nenhuma gota de sangue e no pescoço haviam três buracos, três pontinhos que se ligados formam um triângulo. | 22: 12

F: Vampiros normais cravam as presas superiores... Que outra espécie será essa? | 22:14

N: É isso que devemos descobrir. | 22:15

F: Disse nós? Nem consigo acreditar... Você entrar em contato comigo em plena viagem já é incrível. | 22:17

N: Pois é... Eu preciso de ajuda. E sinto que a joia extra tem ligação com essa história. Vamos pega-la. Me encontre neste endereço ************* | 22:18

F: E lá vamos nós outra vez sermos parceiros. Queria que fosse por acaso. | 22:21

N: Vai ficar querendo 😉 | 21:22

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FRANK & NATASHA VS DINASTIA S

Bloomsbury - Londres

Em meio à chuva, Frank saía do táxi se "encapuzando" com o sobretudo para não se molhar tanto, logo atravessando a calçada correndo em direção ao local marcado para o encontro.

O táxi buzinou o fazendo estremecer e parar. Ele riu nervosamente voltando com o dinheiro.

- Foi mal aí, amigo. É que tô meio atrasado para uma reunião. Obrigado. - disse, dando um joinha.

O ponto era uma casa semelhante a um pequeno depósito ou armazém abandonado. Batidas frenéticas e fortes foram ouvidas na porta. Uma branca e feminina mão girou a maçaneta calmamente.

Os olhos de Natasha depararam-se com um Frank de expressão chateada e todo molhado.

- Você não acompanha a previsão do tempo? - perguntou o detetive, entrando - Bem, esse aqui é o cafofo onde você usa como esconderijo. Ou me enganei?

- Primeiro: Não vejo TV. - disse Natasha, fechando a porta -  E segundo: É meu refúgio temporário. Eu levei em consideração a sua teoria de vampiros espiões por toda parte. Preciso manter minha guarda até não ser reconhecida.

- Quer dizer que já caçou e matou uma penca de vampiros por essas bandas antes?

- Não achou que essa era minha primeira viagem à Inglaterra né? - indagou ela, ligando o laptop sobre um balcão - Quero que veja isso. - clicou em fotos reproduzidas de um jornal e salvas no arquivo - Deve reconhecer esse símbolo. Tirava boas notas em história?

As imagens eram de paredes pichadas com um conhecido emblema histórico. No entanto, apenas uma parte dele estava ali.

- Caramba... Isso tá indo um pouco mais longe do que pensei. Esse S é nazista.

- Pois é. O símbolo da SS, com a diferença óbvia. E acho que sei quem estaria por trás. - disse Natasha, olhando estreitamente para as imagens com um único S no formato de letra do alfabeto rúnico com um círculo envolvendo-a - Não é bem uma organização de vampiros neo-nazistas.

- Não, estive pensando em nazistas ressuscitados por necromancia e transformados em vampiros e agora estão com posse da décima-primeira joia para fazer sabe-se lá qual parada obscura. - disse Frank, logo coçando a cabeça ao não saber como formular uma hipótese - Minha imaginação anda muito fértil ultimamente. Quem tirou essas fotos?

- Estão creditadas sob o nome de... M. W. Winchester. - disse Natasha, dando um zoom numa das fotos - Algum fotógrafo jornalístico. Mas o curioso é que ele possui um blog e não divulgou essas fotos com alarmismo. Sem isso não teria um grande número de visualizações, coisa que todo jornalista desse tipo deseja para ganhar um bônus que complemente o salário. O site é monetizado.

- E precisou esperar por mim... pra finalmente ir atrás desse cara? - perguntou Frank - Seja lá quem for, se não espalhou a notícia pra chamar atenção, provavelmente é alguém que anda por dentro dos assuntos paranormais das redondezas.

- Ou um caçador. - teorizou Natasha - O S pode remeter... a uma grande família que teve papel de certa importância na história de Londres. Estou falando de uma família 100% vampírica. - olhou para Frank de modo sério - Os Santorum. Li diários de caçadores antigos e eles são citados. Não foram vistos desde o fim da Segunda Guerra. Não posso lidar com isso sozinha.

- Era o que eu esperava ouvir. - disse Frank, olhando-a com compreensão - Primeiro vamos atrás do tal M. W. Winchester, nos pequenos passos, é assim que funciona. Em qual jornal ele trabalha?

- Correio Britânico. - disse Natasha, constatando - Você vai assim mesmo ou vai esperar secar?

Frank encarou seu sobretudo encharcado com desânimo.

- Tem alguma fantasia de couro que me empreste?

- Engraçadinho. - disse Natasha, indo buscar.

                                                                                         ***

A chuva já havia cessado quase que por definitivo apesar do céu manter-se cinzento. Um casal de jovens adentrara num beco com latões de lixo cheios e pisando nas poças despreocupadamente. A garota vestia uma jaqueta jeans por cima de uma blusa colorida e tinha cabelo ruivo e bem curto. O rapaz, por sua vez, aparentava um estilo rebelde e nada confiável para os pais da suposta parceira.

- Muito bem, cara novo misterioso... Me revele seus melhores planos.

- Na verdade, não tenho nada em mente pra hoje. - disse ele, virando-se para ela após soltar sua mão - Melhor dizendo, pode ser que algo role pra agora. É, acho que sim.

- Hum... E o que você sugere? - perguntou ela, com certa malícia no tom, tocando na gola do casaco preto de couro dele - Não quero achismo, mas sim certeza. E aí? Você decide ou eu?

- Se fosse você não teria a mínima graça.

- Ma-mas... por que não? Olha, gosto da ideia de ficarmos num lugar relativamente reservado pra ficarmos a sós e nos entrosarmos, mas tem algo que...

- Está te assustando? - indagou ele, a face suspeita. A garota mordeu os lábios, nervosa, sem saber.

- Só me diz porque não posso fazer uma escolha.

- Porque abocanhar uma presa suculenta, fresca e fácil agora é bem melhor do que atura-la pelo resto do dia fingindo ter algum outro interesse. - declarou ele, logo abrindo a boca e fazendo crescer as presas. Agarrou-a pelos dois braços e aproximou os caninos dum lado do pescoço. Ela gritava por socorro, mas alguém interrompera a refeição do vampiro.

Um homem com camisa de flanela e longos cabelos meio loiros molhados veio até eles com expressão dura

- Ei, você! Se der mais um passo ela morre! Ouviu bem? Nem pensa em bancar o herói, otário.

- Por favor, me salva. - pediu a garota, sem ter como livrar-se.

- Escutou o que eu disse? Falei... pra não dar... mais nenhum passo!

Ele ignorara o aviso continuando a andar. De repente, abrira a boca mas dela saíra algo similar a uma serpente cor de carne humana viva cujas três presas pegaram direto no rosto da garota. O vampiro afastou-se, manifestando todo o seu espanto com o que via: a "língua" alongada parecia estar drenando sangue em grandes quantidades da garota que ajoelhou-se enfraquecendo ao ter todo o organismo esvaziado. O corpo dela caiu inteiramente pálido com os olhos abertos e as marcas dos dentes entre os olhos.

- Cara... O que diabos você é? Novo tipo de vampiro? Pois falando sério... isso foi medonho. Não sinto mais cheiro de sangue vindo dela, você bebeu tudo. Eu peço desculpa pelo...

A fala dele foi cortada pela "segunda língua" devoradora que surgira, vindo ao seu encontro, novamente com suas três presas localizadas na "cabeça" da serpente de formato quase triangular.

                                                                                 ***

As mãos sujas tocaram nas grades enferrujadas da pequena abertura retangular da porta da cela. Apertou com força até fazer balançar.

- Por favor! Eu faço tudo o que quiserem, me deixem sair! - a voz era feminina.

Um carrancudo homem careca com um piercing parecendo um anel colado nas narinas verificou.

- Fica fria, gatinha. - disse ele, olhando pela abertura - O chefe logo vem te fazer uma visita e quem sabe o seu destino possa ser atrasado ou adiantado, o que é mais provável. Não se preocupe, vai fazer muito mais por nós do que imagina.

- O que estão planejando? O que querem de mim?

- Vai ser só uma experiência...

- Encerre a conversa aí mesmo, Fausto, ou você irá substituí-la na mesa de operações. - dissera um rapaz de estatura mediana, rosto pálido, cabelos dourados com uma franja lateral na esquerda e usando um sobretudo marrom abotoado. Seu ar altivo preenchia o ambiente - Não quero ver um dos meus melhores soldados como um estraga-surpresas. Deixe-a quieta. Não questione.

- Só puxei conversa pra ver se ela calava o bico. Mas... nada sem sua permissão é aceitável. Me desculpe. Eu tenho estado... entediado. O que é essa tal máquina de guerra que planeja?

- Ainda não decidi bem a fase final. Mas tive uma ideia sobre a próxima. - disse o chefe, olhando-o com interesse, logo aproximando-se - Acolhi muitos vampiros para contemplar meu futuro reinado sobre essa terra repleta de leis estúpidas. - tocou-o no rosto - E você, Fausto... Definitivamente, foi um dos que mais me proporcionou orgulho. É digno de ser um Santorum. Tenho um exército imbatível e um plano perfeito.

- Planos perfeitos não deixam rastros, chefe. - retrucou Fausto, estranhando.

- Uma revolução está acontecendo lá fora, na surdina. Cada rastro deixado é proposital. Mas preciso de... um chamariz que realmente possa fazer um tremendo estardalhaço. Pode me sanar uma dúvida, Fausto? Exijo sinceridade.

- Tudo o que meu senhor quiser saber, estou a disposição.

- Você morreria por mim? - perguntou ele, dando um sorriso de canto enigmático.

                                                                                        ***

Frank andava lado à lado com Natasha pela calçada que direcionava para o prédio do jornal Correio Britânico e uma certa ansiedade acometia o detetive.

- Está com frio? - perguntou Natasha, vestindo casaco preto por cima duma blusa verde escuro e calças jeans. - A temperatura média é de...

- Olha, tô me sentindo ótimo. Não precisa se preocupar. É que... me sinto um tanto estranho. Não sei se conseguiria me entender.

- Somos amigos... não somos? De repente, podemos ter mais em comum. Basta irmos a fundo.

- Se a Carrie estivesse aqui... - disse Frank sorrindo - ... ela teria interpretado isso de outra forma.

- Então pelo visto acabou de fazer por ela. - disparou Natasha, fazendo-o virar o rosto confuso à caçadora - Ei, espera aí... - falou ela, parando de andar e olhando fixamente para a pessoa que saía do prédio - Não, não tô acreditando... - caminhou a passos largos.

Um rapaz de aparência jovial com camisa azul e na aparência tendo uma barba por fazer no rosto quadrado com cabelo curto social. Ele andava checando as últimas mensagens no smartphone.

- Mike! - chamou Natasha - Mike, sou eu!

O rapaz ergueu o olhar e surpreendeu-se.

- Minha nossa, isso é o destino, por acaso? O que tá fazendo aqui, Natasha?

- Como é? Esse é seu irmão mais novo que você me falou anteontem? - perguntou Frank, seguindo-a.

- Mike, Frank. Frank, Mike. - disse ela, apresentando-os - Digamos que... ele é um colega.

- Não sou mais amigo? - indagou Frank - Fique sabendo que não é a mesma coisa.

- Nos conhecemos há pouco tempo, então pensei bem e revi o nosso nível de relação. Agora você Mike... Eu que pergunto o que você tá fazendo aqui. Então esse era o intercâmbio?

- Não é o emprego dos sonhos, mas o maior furo de reportagem do ano até agora não seria realidade se eu não tivesse sido contratado. Você também tá investigando o lance das pichações né?

- Nós dois estamos nessa. - disse Frank - Agora somos três... porque com certeza você deve ser o dono do site que publicou as imagens do S nazista que, segundo a teoria da Natasha, remete a uma família paleolítica de vampiros que ressurgiu das cinzas pra tocar o terror de novo. Confere?

- É isso aí. Mike diz a verdade. Estou diante do M. W. Winchester ou não?

- Em pessoa. Prazer, eu sou o Mike. - disse ele, irônico - E o caçador grandão... não parece ser nosso conterrâneo. Sotaque americano é fácil de reconhecer.

- Natural de Vanderville, mas atuo em Danverous City. Inclusive, com a saudade apertando dificulta um pouco ficar mais à vontade no meio de um caso, ainda mais em parceria.

- Sem querer te desmerecer, mas a maninha aqui dá conta do recado.

- Nem adianta me bajular pra disfarçar que não sente culpa em ter escondido de mim. Te aviso só uma vez, Mike. Toma cuidado no território onde você tá pisando. Quase te perdi uma vez...

- Natasha, eu tô legal. Minha vida não podia estar melhor. Mesmo com você por perto.

- Vou meter a colher na discussão familiar. - disse Frank olhando sério para Mike - Você não tá insinuando que o fato da sua irmã caçar vampiros é um obstáculo pra você seguir com a vida né?

Antes que Mike pudesse exprimir uma palavra para responder, um alvoroço se formou com pessoas olhando diretamente para o alto de um edifício de 12. Nele estava um homem ameaçando pular.

Mike acionou a câmera do celular e filmara, assim como muitas pessoas ao redor.

- Santorum! - disse o homem careca com piercing no nariz, logo arrancando seu colar de pingente branco do pescoço e jogando-o. Imediatamente caiu, sua pele fervendo e logo começando a acender brasas, labaredas que tomavam conta instantaneamente... até que por fim, com a queda super-rápida, sucumbiu ao chão explodindo numa volumosa nuvem de cinzas e faíscas.

Algumas pessoas gritavam apavoradas, outras se aproximavam da área onde o homem caíra. O único indício da queda que restou foi a marca do seu corpo no chão como se tivesse sido feita a carvão.

Frank e Natasha entreolharam-se praticamente estupefatos com o que viram. Mike por sua vez enviou o vídeo para um destinatário oculto e rapidamente passou um olhar inseguro para a dupla.

                                                                                    ***

Natasha entrou primeiro no armazém e Frank vinha logo atrás.

- Aquilo vai estampar a primeira página de amanhã. - disse o detetive, meio aborrecido - Você viu muito bem, o cara virou o Tocha-Humana na frente de todo mundo.

- Podemos considerar que tratem como um caso inexplicável de combustão espontânea. - disse Natasha, virando-a para ele - Muita gente filmou, deve estar viralizando na internet agora.

- Eu posso comprovar isso. - disse Mike, mostrando o celular - Não se fala em outra coisa.

- Você também bancou o cinegrafista amador? - perguntou Frank - Está conosco, não precisava ter feito isso. A menos que você só quisesse compartilhar com sua turma.

- Não, eu... - disse Mike, nervoso - Tá, eu gravei, mas...

- Mike, me deixa ver esse celular. - pediu Natasha, rígida no seu tom.

- Isso não pode ficar mais esquisito. - disse Frank - Pichações de caráter aparentemente nazista, nova espécie de vampiro, joia do poder extra e agora vampiro suicida.

- Não apenas um. - corrigiu Natasha - Até o momento, seis. -  verificava o celular de Mike - Foram suicídios simultâneos numa distância de 2 km cada.

- Não sei se foi só impressão minha... - disse Frank, pensativo - ... mas ele falou alguma coisa em voz alta antes de se matar. O alarido do pessoal atrapalhou pra ouvir. Vocês escutaram?

- Acho que temos a resposta. - disse Natasha, visualizando as últimas notícias - Uma testemunha relatou em entrevista exclusiva um grupo de repórteres no local que estava tentando impedi-lo de pular. Ele gritou... Santorum. Toda essa história está criando mais pontos que não se conectam.

- Estão se matando... em nome da tal família? - se perguntou Frank.

- Provavelmente se sacrificando em honra pelo líder que comanda essa patrulha de vampiros que infestou Londres. - disse Natasha, continuando a mexer no celular.

- Será que dá pra me devolver agora? - perguntou Mike - Preciso fazer uma ligação pro meu chefe.

Natasha ergueu de leve a mão esquerda como sinal de "pare" sem tirar os olhos da tela.

- Que mensagens são essas, afinal?

- Natasha, por favor, me dá logo. - disse Mike, exaltando-se - Não invado sua privacidade, então...

- Quem diabos é Oliver Gate? Estão citando alguém chamado Brazileus... O que tá acontecendo?

- Rapaz, deve muitas explicações à sua irmã. Aliás, à nós. - disse Frank, cruzando os braços.

O irmão da caça-vampiros permaneceu silencioso por vários segundos numa postura nervosa.

- Ótimo, me pegaram. Uma vez que eu recusasse te dar o celular, aumentaria as suspeitas. mas antes que conduzam o interrogatório, eu vou contar tudo. Oliver é nada mais que... um dos lacaios de Brazileus, o último herdeiro vivo da família Santorum. Em 1945, com o fim da Segunda Guerra, mais da metade dos membros da família foram encontrados e mortos por um grupo de caçadores liderados por Bartolomeu Montgrow.

- O quê?! - disse Frank, franzindo o cenho - Esse é o nome do meu avô!

- Estou na frente de um descendente dos Montgrow? - perguntou Mike, incrédulo - Cara, te devo muito respeito, você talvez seja um dos melhores caçadores da face da Terra.

- Talvez não. - retrucou Frank - Eu sou bom no que faço, amigo. O sangue Montgrow corre fervendo nas minhas veias. Então meu avô foi responsável por uma chacina contra vampiros no pós-guerra?

- E pelo que parece - disse Natasha -, Brazileus deseja vingança. Mike, por que manteve contato com um vampiro? Agindo pelas minhas costas ainda por cima.

- Maninha, escuta. Não é o que tá parecendo. Não trabalho para eles. Mas finjo trabalhar com eles. - esclareceu Mike.

- Isso é ainda pior. - disse Frank.

- Olhem, vou dizer o porquê: Eu quero uma chance de ter algum momento de glória. Isso pra mim é um treinamento... para me tornar um futuro caçador.

Natasha fez um "pfff" com a boca quase dando risada.

- É assim que você espera chegar no patamar de caçador?! Eu não tô ouvindo isso...

- Só tô esperando o momento certo pra atacar. Mas preciso de vocês nisso.

- Não importa como essa família ou clã se comporta, podemos seguir qualquer plano que não venha de você. - disse Frank - Pensa no que você tá se metendo, cara. Tá atravessando uma ponte velha e caindo aos pedaços num pântano de jacarés famintos. Vai por mim... ser caçador não é glorioso... é um fardo pesadíssimo que você se dispõe a carregar nas costas e nunca mais se livra.

- Mike, o Frank tem razão. Mas fiquei curiosa sobre esse seu "brilhante" - fez aspas com os dedos - plano para massacrar Brazileus e seu exército.

- Eles confiam em mim... pelo fato de eu ser o novo representante da ordem de caçadores britânica. Digo, esse é o meu papel teatral. Já fui à duas reuniões e fiquei cara à cara com o Brazileus, ele é sinistro... meio psicótico, fala umas coisinhas super-intelectuais para pagar de superior... parece um filhinho de papai inofensivo mas pensa duas vezes antes de tascar os dentes num pescoço.

- Se passando pelo representante de um grupo importante?! - disse Natasha - Mike, como você é...

- Idiota? Sim, verdade. O representante verdadeiro está morto. E foi morto por uma das aberrações que o Brazileus anda espalhando por Londres. Ele as chama de Strigoi. Uma nova geração de vampiros que soltam uma... cobra ou língua com dentes afiados que suga cada gota de sangue da vítima. Na última reunião, vi uma cobaia em demonstração e voltei pra casa com aquilo gravado na mente. O cara quer criar uma revolução de vampiros evoluídos a partir de uma pedra...

- A décima-primeira joia. - disse Natasha.

- Apenas o próprio Brazileus sabe como foi forjada. Que eu me lembre só os Crimson tinham direito a usar as dez joias em seu reinado. Talvez ele queira roubar as originais... e liderar uma espécie de dinastia de novos vampiros para dominar Londres e em seguida todo o país.

- Strigoi. - disse Frank - É um nome bem sobrenatural para uma coisa bizarra como essa.

- As joias originais estão no cofre da mansão onde matei a Ivana. - disse Natasha.

- Será mesmo que são autênticas? - questionou Mike - Fiquei sabendo da morte do representante num bar e não deixei de ouvir a conversa de uns vampiros e foi aí que soube dos Strigoi. Me apresentei à eles dizendo ser um substituto e comemorando a grande coincidência... comemorando por fora, pois por dentro meus nervos estavam que nem corda bamba. Surgiu então a aliança.

- Mike, não precisava ter se arriscado tanto pra alguém que quer se tornar um caçador. Foi um péssimo começo. - disse Natasha - Tem alguma ideia de aonde o Brazileus quer chegar induzindo os lacaios dele ao suicídio?

- É tudo um jogo. Quer chamar a atenção dos melhores caçadores da cidade e como sou o atual representante o meu dever é convence-los. É espalhafato o que ele tá fazendo. Como se quisesse expor os vampiros pra população, como um tipo de aviso. Isso tem um risco bem claro, vocês entendem. Os caçadores, de qualquer forma, precisam manter a existência do sobrenatural velada.

- E o que acontece depois que os caçadores caem nessa armadilha? - perguntou Frank - Você certamente não vai nem pensar em fazer o que os sanguessugas mandam.

- Claro que não, por isso falei que tenho um plano. Na última reunião, aproveitei uma brecha e implantei uma surpresinha numa sala aleatória da mansão. Uma bomba-relógio. Programada para explodir amanhã de manhã bem cedo às seis e meia. Tô esperando a bronca, manda ver.

- Não fez besteira, mas também nem de longe é um bom plano. - disse Natasha.

- Vai mandar a casa inteira pros ares, só que os vampiros vão se recuperar... - disse Frank, logo estalando os dedos - ... num instante. Temos que pensar numa estratégia.

- Tem um probleminha. - disse Mike, fazendo cara de desconforto - Os Strigois... são imunes à prata.

- Como é que é? - disse Frank, surpreso - Pera aí... Todo monstro possui uma fraqueza. Não é possível que essa joia que parece ter surgido do nada seja tão poderosa para criar seres imbatíveis e completamente indestrutíveis.

- O objetivo do Brazileus é revolucionar o mundo com uma espécie de vampiro mais poderosa sob seu controle, então não me espantaria que graças à joia, que está no anel dele, ele tenha realizado o sonho da espécie invencível e resistente a todas as armas que um caçador pode ter... exceto uma.

- Qual? - perguntou Frank.

- Tive sorte de ter cobrido a morte do representante original e verifiquei seus pertences. - dise Mike, relembrando o dia no qual fotografou o cadáver do homem achado morto numa esquina deserta à noite - Na carteira dele, tinha um papelzinho com endereço. Joguei na pesquisa online e apareceu uma localização um tanto interessante. Me parece um museu de história. No site oficial tem um mapa de todo o complexo e nele mostra uma sala secreta que nem os donos atuais sabem a senha.

- Quem foi o fundador desse museu? - perguntou Natasha.

- O lugar data do final dos anos 40. Não tem mistério, pessoal. Tá na cara que...

- Meu avô e os amigos dele. - completou Frank - São os membros fundadores. É lá que está a arma?

- Incrivelmente eles tiveram acesso à uma arma mais antiga. Podemos ir lá hoje à tarde. - disse Mike.

- Você tem certeza que essa tal arma é capaz de garantir nossa vitória? - perguntou Natasha.

- Se envolve meu avô... tenho plena certeza de que não é lenda. - disse Frank, bastante convicto - Vamos pegar nosso trunfo e detonar com a cambada de chupa-sangue. - falou, determinado.

                                                                                  ***

À frente da entrada da sala oculta, o trio mantinha a compostura confiante. Mike digitou no leitor os números da senha de acordo com o escrito no papel encontrado na carteira do representante falecido.

A luz que acendera foi verde, animando o irmão da caçadora.

- Beleza. - disse ele, vendo a porta deslizar para a esquerda automaticamente - Confesso que até duvidava da combinação tanto quanto vocês. - entrara primeiro.

O enorme cômodo abrigava uma gama de itens variados sejam armas de fogo ou brancas, todas elas bem preservadas em tampos quadrados de fibra de vidro reforçado. A iluminação provinda das luminárias nas paredes transmitia calmaria com seu tom amarelado beirando ao laranja.

- Essa decoração não faz muito o estilo dos caçadores americanos. - disse Frank, observando.

- Algum colaborador consciente deu uns belos pitacos. - disse Natasha, contrapondo-se à Frank.

- Ali está ela, pessoal. - disse Mike apontando para um cabo de ferro envernizado e cravado numa pedra de mármore - Finalmente encontramos. - andara até ela.

- Ficou de segredinho o caminho todo. - disse Frank, seguindo-o ao lado de Natasha - Hora de abrir o jogo com a gente. Então é esse negócio comprido... parece uma lança.

- Mais que uma simples lança. - disse Mike, maravilhado - Disso aqui nunca duvidei. Todo grande caçador merece ser presenteado com uma grande arma.

- Estamos pensando o mesmo, Mike? - perguntou Natasha - Insinua... que essa seja a lendária lança do Sacre? O caçador-bruxo que jurou banir os seres paranormais do mundo?

- Me expliquem, por favor. - disse Frank - Que negócio é esse? Caçador-bruxo? Como assim?

- Nos referimos ao homem que uniu a magia com o seu ideal. - disse Mike - Foi assim que o nomearam. O Sacre fincou numa pedra de mármore sua lança, o bem mais precioso da sua cruzada contra o sobrenatural, para que um dia outro caçador tão experiente e potencial quanto ele pudesse remove-la com toda sua vontade.

- Até onde sei, a lança foi criada com o propósito de aniquilar os vampiros. - disse Natasha - O poder da sua luz emularia ao brilho do sol. Ao amanhecer, o caçador escolhido ergueria a lança contra uma horda de vampiros hostis que ameaçasse sua vida. Assim dizia a profecia.

- Nesse caso, um de nós pode retirar a lança... - disse Frank - Bom, como minha natureza cavalheira manda, deixo a dama tentar primeiro.

- Muita bondade sua. - disse Natasha - Mas não.

- O quê? Natasha, tenho orgulho de você, por ser minha irmã e uma caçadora durona, mas mesmo o Frank sendo ótimo no que faz, segundo ele, esta lança é específica no combate à vampiros e você... Por que não você? A profecia tem essa margem interpretativa para caçador...

- Mike, para com isso. - disse Natasha, repreendendo-o - Pra mim está claro. Pode subestimar o Frank como quiser, mas eu escolhi acreditar nele. Acho que a profecia quis dizer um caçador que enfrenta o sobrenatural como um todo. Então para de duvidar do Frank pra me superestimar.

- Ô pessoal. - disse Frank acima da pedra de mármore com a lança já removida, deixando os irmãos perplexos - A vontade de um caçador foi manifestada enquanto vocês discutiam.

- Caramba... - disse Mike boquiaberto - Retiro tudo o que disse. Meus parabéns, Rei Arthur.

- Frank, a lança escolheu você. - disse Natasha - Isso é incrível. Essa pedra, é um orb...

A exata pedra emitiu um brilho amarelo ofuscante. A parte ofensiva da lança tinha a forma de um tridente com três pontas metálicas e abaixo delas, no centro, a pedra avermelhada.

- É uma resposta. - disse Mike - Frank Montgrow é o caçador da profecia do lendário Sacre. Isso me empolgou, quero acabar com o Brazileus e arruinar os planos dele com tudo.

- É exatamente isso que faremos. - disse Frank, descendo da pedra de mármore num pulo. O brilho do orb diminuiu rápido - Vamos ver do que essa belezinha é capaz. - falara, ostentando a lança.

                                                                                  ***

Os barulhos incômodos doíam nos ouvidos do garoto que procurava se refugiar em algum canto da vasta mansão mas sentia-se num corredor infinito tentando escapar das garras sombrias da morte. 

- Papai! Onde você está? - perguntava ele, em completo desespero. 

No final do corredor, na dobra para o outro à direita, um homem de longos cabelos loiros cambaleava para trás e se encostou na parede até sentar tentando tocar seu pescoço. O garoto foi aproximando-se, confuso. 

- Papai? O que houve? Tá se sentindo bem? Me conta o que tá acontecendo, por favor! 

A cabeça dele fora decepada e naquele instante ela por fim caiu, rolando no chão com sangue trilhando um rastro. O menino fitou atônito e abismado. Mas ele apenas fugiu de volta depois.

Brazileus remoía esse inferno em sua sala particular olhando para a lua cheia da meia-noite enquanto bebia sangue num copo de vidro. O quebrou ao sentir o ódio retornar.

- Caçadores... vão sentir minha ira arder nos seus corpos. Humanos... todos eles vão pagar caro.

Um dos seus subordinados veio importuna-los.

- Mestre, a cobaia 22 está pronta para exame. Algum problema, senhor? Parece...

- Eu já estou indo, me espere lá. - disse Brazileus, virando-se para ele - Acabo de ter uma ideia.

                                                                                     ***

No gramado à alguns metros da mansão, Frank e Natasha preparavam-se escondidos perto de um arbusto. Mike ficara com a parte de segurar o detonador digital que conectou à bomba remotamente fazendo com que a explosão deixasse de ser cronometrada e assim ocorresse num ponto mais próximo possível. O detetive mantinha a lança em sua mão direita.

- Muito bem, já são cinco e quinze. - disse ele, olhando no relógio - O sol vai nascer daqui à aproximadamente vinte minutos. Temos tempo de sobra para invadir antes da cavalaria chegar.

- O que achou do apê do meu irmão? - perguntou Natasha, carregando uma sub-metralhadora.

- É sério isso? A gente tá às portas de uma guerra contra vampiros evoluídos que querem dominar geral e você tá preocupada com a minha opinião sobre onde seu irmão mora?! Tudo isso é auto-confiança? Não vamos discutir ou revisar os passos do plano?

- Vou reiterar o que disse ontem: Eu acredito em você. Mais importante que isso, Frank... é estimular em si mesmo o sentimento que eu e o Mike fortalecemos até aqui.

- Tá me babando só por causa da lança. Olha, melhor pararem com isso, desde o momento que retirei a lança vocês ficaram me vendo de um modo diferente, como se eu fosse... especial.

- A linhagem Montgrow, no geral, provavelmente é. Li histórias do seu avô, ele foi a voz que reergueu vários caçadores e os levou em direção à batalha. Pode encontrar esse mesmo espírito de esperança em você, Frank. Bem, chega de bancar a conselheira das horas difíceis.

- É, isso também me cansa. - disse Frank - Com o quê carregou essas armas? Vai tentar descobrir a fraqueza dos Strigois sozinha?

- Não liguei para um grupo de caçadores conhecidos em vão, obviamente dei minha sugestão e eles aceitarem numa boa. Balas banhadas com sangue de lobisomem. Não custa arriscar.

- E se não funcionar? Tá vendo só? Essa é um das consequências de caçar longe de casa. Minha confiança reduz em 500%. Inglaterra é território imprevisível. Não tô dizendo que tenho medo...

- Eu sempre entro numa batalha em conjunto pensando nos sacrifícios que podem ser feitos. - disse Natasha, levantando-se com a arma preparada - Você nunca? - perguntou, logo saindo.

O detetive ficou a refletir por uns instantes até que enfim levantou-se segurando a lança firmemente.

Enquanto a dupla se aprontava para entrar em ação, Mike caminhava por uma trilha de cascalho segurando o detonador. O sinal ainda estava muito e pedia mais proximidade.

- Ah, merda. Uns metros a mais e... vou ter sérios problemas.

De súbito, alguém viera feito um vulto fantasmagórico pro trás lhe pondo um saco preto na cabeça.

O irmão de Natasha acordou sentado num ambiente similar a uma cela. Tocou no seu pescoço desesperadamente. Sem quer percebesse, Brazileus surgiu diante dele em supervelocidade.

- Não, não... - disse Mike apavorado - Por que me apagaram?

O herdeiro Santorum exibiu a bomba numa mão que escondia atrás e jogou-a no chão.

- Sabe como gosto de tratar informantes? - perguntou ele, sorrindo cinicamente - Eu os deixo livres.

- Como é? Ficou doido, seu vampiro desgraçado? Eu quero mesmo saber como a acharam.

- Não existe um ponto discreto nessa casa que escape aos nossos atentos olhos. - disse Brazileus, aproximando-se - Câmeras de vigilância... nunca aderi, me chame de antiquado. O que não chega a ser necessário, temos um faro equivalente a mil leões. Você será um dos primeiros a sair pela porta da frente ou dos fundos... e testemunhar o nascimento da revolução.

- Tem caçadores vindo... Eu juro.

- Queria nos varrer com um simples explosivo. O que explica você com um detonador correspondente ao sistema da bomba perambulando pelo meu gramado? Eu não quero suas justificativas, Mike. Pra mim basta que saia como um bom perdedor.

- O que você tá querendo dizer? Me deixar livre e ileso!?

Brazileus fingiu pensar por uns segundos dando olhadelas para cima.

- Ileso... Confesso que pensei nesse caso... mas sou muito volátil. - disse ele, logo mostrando seus olhos azuis e avançando contra Mike, afundando suas presas pontiagudas no pescoço do jornalista.

No jardim, Frank avistou uma van preta circulando à alguns metros. O detetive andou em direção à entrada da mansão portando a lança sem se preocupar se ficaria exposto ou não. Acionou seu celular para comunicar-se com Natasha.

- Caça-vampiros na escuta?

- Ainda tô viva e armada. O que foi?

- A cavalaria vai ter que se antecipar. Tem uma van fazendo ronda do lado de fora, logo mais vai entrar ou arrombar o portão por ter percebido um de nós dois. Serão mais cobaias pro pacote?

- Vamos considerar tudo que estiver dentro das possibilidades. Cobaias, armamento... ou até mesmo as joias do poder originais trazidas dos Estados Unidos. Já vou ligar pros reforços. Além disso, tô entrando pelos fundos. - disse Natasha, abrindo a porta-dupla devagar com o cano da arma.

                                                                                     ***

Brazileus chutara a porta do laboratório assustando seu subordinado  - um descendente de asiático com roupas de médico - que avaliava as condições da cobaia. O empregado tirou a máscara bucal, empolgado com a visita-surpresa.

- Nossa, senhor, por um momento achei que tinha desistido. Muitos progressos hoje. O organismo continua estabilizado e cada vez mais a apto a reagir positivamente à inserção.

- Cancele a experiência. - disse Brazileus, pegando uma seringa vazia - Temos uma situação com intrusos, o que requer... medidas drásticas. - enfiara a agulha no braço esquerdo da cobaia - uma mulher de cabelos negros que acordou sobressaltada e disparando a "serpente" sugadora com suas três presas quase tocando o teto. O subordinado levou um tremendo susto.

- Ma-mas senhor... O que pretende fazer? São os caçadores que estão invadindo...

- Fecha essa matraca, Matsuri! - vociferou Brazileus, conseguindo uma boa quantidade de sangue - A revolução se encontra ameaçada, preciso apelar para métodos com resultados imprevisíveis. - destacou a seringa - Serei eu o triunfo da nova espécie! - logo injetou em si mesmo, no braço. As veias de todo o corpo do líder ficaram altamente saltadas.

- Não leva em conta nem os efeitos colaterais?

- Eu estou bem, Matsuri! Sugiro que se afaste... - disse ele, meio trêmulo, em seguida direcionando um olhar malévolo com sorriso para o subordinado - Não, venha cá...

- Se-senhor... Não pode estar no seu juízo perfeito, apostar nessa ideia é loucura...

- Então essa loucura me levou ao fortalecimento! Consigo sentir... o poder fluindo em cada centímetro do meu corpo! - disse Brazileus, logo aproximando de Matsuri e o pegando pelo pescoço.

- Me-me... me ponha no chão, por favor!

- Eu não esvaziei a seringa em mim para não fazer um pequeno teste de força. - disse ele, rapidamente jogando-o contra uma mesa cheia de ferramentas hospitalares que foi derrubada. - Fascinante! Esplêndido! - falou, os olhos arregalados. Arrancou a décima-joia do poder - uma diminuta pedra negra e lisa - do seu anel e a engoliu. A intensa reação implodiu no corpo o fazendo debater-se até cair ao chão de joelhos. Arrastou-se, as mãos quebrando ladrilhos do piso, à medida que sofria mudanças radicais, dentre elas um par de asas semelhantes as de morcegos crescendo nas costas. Matsuri se arrependeu de não ter fugido, assistindo terrificado o processo horrendo de mutação cuja potência paranormal afetava o sistema elétrico ocasionando em "pisca-pisca" de luzes.

Paralelamente, Mike caminha trôpego por um corredor em direção à saída. Os primeiros fachos do sol já alcançavam o chão. "O que a Natasha vai pensar a respeito? Minha vida acabou!"

Enquanto sofria com as amplificações dos sentidos, imaginava milhares de pesadelos envolvendo a descoberta de sua irmã. "Ela é minha família... Brazileus, seu miserável!"

Esticou o braço direito à luz do sol matutino, fechando os olhos apertadamente. O curioso foi que nenhuma reação adversa como ardência ou queimadura ocorreu. Isso por um minuto inteiro.

- Não pode ser... - disse ele, incrédulo olhando para a mão. Andou alguns passos, totalmente ficando exposto - Impossível... Tenho sede, mas... O sol não me mata. Hum... acho que sei porque. - virou o rosto de repente, assustando-se com gritos histéricos de um exército de vampiros que saía por uma das portas alternativas rumo ao jardim. Mike ficara encostado num dos pilares observando. - O Frank tá lá... - checou os bolsos encontrando o celular, ligando para Natasha - À essa altura já deve ter detonado com vários deles. Assim espero. - desligou, irritado - Merda, ela desligou. Mau sinal.

Frank encarava a multidão de vampiros de bocas abertas que vinha ao seu encontro. Ergueu a lança com a mão esquerda, completamente engajado.

- Toda a minha vontade de caçador... OK. - disse ele, esforçando-se para canalizar sua essência.

A pedra rubi incrustada na lâmina da lança emitiu seu brilho aos poucos... até que por fim sua dourada luz resplandecente explodiu em fachos extensivos, o que fez Frank virar o rosto mantendo os olhos bem fechados. Tão forte quanto o sol, a luz atingia cada vampiro que se aproximava do detetive, trazendo-lhes um inferno em plena terra. Seus corpos queimavam e explodiam em cinzas.

No corredor onde Natasha atirava granadas com cinzas de lobisomem que causavam efeito de ácido corrosivo nas serpentes de sucção que cada Strigoi lançava, os fachos atravessavam as janelas no alto das paredes conseguindo atingi-los. Natasha parara de atirar, protegendo os olhos.

- É como um milhão de sóis. - disse Mike, perplexo, vendo a luz diminuir após aniquilar todos - Nós vencemos? Todo o exército do Brazileus foi massacrado?

Natasha corria ao encontro de frank largando o lança-granadas vazio.

- Frank! Pelo visto, nós conseguimos. Mas ainda falta...

A terra tremeu repentinamente.

- Ainda falta a parte difícil dessa treta. - disse Frank, atordoado - E é das grandes!

A parede da mansão fora destruída num golpe só, os escombros rolando junto com a poeira que logo se dissipou revelando a figura que vinha. Um ser pálido com veias saltadas, apenas a calça rasgada que sobrou após a transformação, orelhas similares a de um elfo, presas para fora e rosto enrugado num aspecto monstruoso com olhos de esclera azul e pupilas negras.

- Mas que... merda é essa? - perguntou Frank, olhando para um Brazileus evoluído - De onde foi que isso veio? Da Nárnia ou da Terra Média?

- Brazileus. - disse Natasha, sacando uma espada - Sem estar afetado pelo sol... quer dizer que tornou-se um híbrido. Responda, sua abominação. - apontou a espada para ele - Bebeu do sangue das suas crias, não foi? Além disso, presumo que está com a décima-primeira joia.

- Se eu não dissesse que é uma excelente observadora... - disse Brazileus, fazendo aparecer a pedra no centro da sua testa - ... estaria mentindo.

- Espera aí, esse brilho meio translúcido é familiar. - disse Frank - Isso não é joia do poder... é o Prisma Negro. Tá explicado agora porque você se transformou num vampiro mutante.

- Conseguimos quantidade ideal na fenda de Danverous City e sabendo do seu potencial, forjei uma joia que os Crimson jamais imaginariam. Ela completa. E quando eu me apoderar das outras dez joias, nada nesse mundo, nenhum caçador ou brinquedinho místico conseguirá me fazer um arranhão. - disse Brazileus, soberbo.

- Só existem dez joias. - ressaltou Natasha - Sei o quanto está desesperado. Aquela van por exemplo...

- Então traziam as joias?! - disse Frank.

- O que houve? Não iam trazer reforços? Eu li a mente de vocês. - disse o líder - Mas claro, com a lança do Sacre tudo se facilitou num instante. Você por acaso assumiu a alcunha?

- Quero distância de feitiçaria. - disse Frank, preparado. - Hora de você fritar também. - ergueu a lança, tentando novamente canalizar. O detetive fechou os olhos achando que funcionaria. Abriu um deles, estranhando - Ué? O que aconteceu? Compartilhei minha vontade de caçador! Por que não dá mais?

- Acho que o poder só pode ser acionado uma vez a cada dia. - falou Natasha - Desculpa ter lembrado disso agora. Ele não tá blefando sobre as joias. Se nos derrotar aqui e as pegar... aí teremos sérios problemas, com nossos recursos vamos apenas atrasa-lo. Será o fim da cidade se perdermos.

- Vocês não são estorvo suficiente. Não passam de insetos. - disse Brazileus, logo usando o o poder do Prisma Negro provocando uma onda supersônica que derrubou Frank e Natasha jogando para longe. Logo usou supervelocidade para pegar Frank pelo pescoço e joga-lo contra uma pilastra.

- Não percebe que está distorcendo o propósito da sua família? - perguntou Natasha, levantando e em seguida balas de prata contra ele que não surtiram efeito. Depois tentara as com cinzas de lobo. O corpo de Brazileus tremia um pouco com os disparos, mas nenhum dano grave.

- O propósito... é a evolução! Não me desvirtuei do que meu pai almejava. Ele estaria orgulhoso se sua raça de baratas não tivesse o matado! - disse Brazileus, logo avançando contra Natasha. Frank resolveu atirar a lança, mas o super-vampiro a impediu que ela o atacasse afastando-a com uma mão.

O cabo da lança batera forte numa outra pilastra gerando um som agudo que incomodara Brazileus por um segundo, mas ele voltou sua atenção à Natasha que distribuiu socos e chutes que nada acertavam. Brazileus rebateu com uma cabeça e logo a pegou com seus pés, voando como uma águia que apanha sua presa.

- Me larga! - disse Natasha, mandando outra saraivada de balas da pistola, mas nada. Brazileus voara na altura do segundo andar da mansão e a lançou contra uma janela quebrando o vidro.

Frank, por outro lado, estava focado na lança e em como ela agiu para subjugar Brazileus.

- Cacetada... Achei teu ponto fraco vampirão! - anunciou ele, empolgado, correndo para reaver a lança. - Se prepara! - disse, desafiador, enquanto Brazileus pousava impactante no solo.

- Será uma delícia mata-los lentamente. Meu sonar diz que a van entrou na garagem. A bomba do seu amigo, o falso caçador, foi desativada antes que ele detonasse. Chegou perto, mas fomos mais rápidos. Essa cidade é minha! Nem a lança do lendário Sacre, o homem que meu pai temeu por 183 anos, tem algum poder sobre mim! Se quiser tentar, eu te deixo à vontade. O que estão atrasando é apenas a morte.

- Deixa de ser convencido. Além disso, é mentiroso. - disse Frank, confiante - Um caçador de verdade não se dá por vencido, enfrenta qualquer parada e você tá na frente de um!

- Os vampiros são os paranormais na mais alta escala. Não é melhor do que o Sacre por ter erradicado mais da metade do meu exército.

- Para de pose, morcegão. Eu vi quando jogou a lança e ela bateu... - disse Frank, sério - Sentiu uma dorzinha nos ouvidos? Vamos ver até onde isso vai. - bateu a ponta do cabo no chão com toda força.

A vibração ressoou em Brazileus destruindo seus tímpanos e afetando seriamente seus sentidos.

- Vamos fazer barulho! Muito barulho! - disse Frank, batendo a lança numa pilastra.

- Pare! Seu inseto miserável! - gritou Brazileus, as mãos nos ouvidos, tendo sua visão prejudicada e quase caindo de joelhos devido a alta reverberação sonora.

Natasha assistia do quarto no segundo andar, preocupada. Mike também não desgrudava os olhos.

Após duas, três, quatro, cinco... incontáveis batidas, Brazileus finalmente caíra contorcendo-se.

- Isso prova que tem muito morceguinho se achando o Drácula. - disse Frank, enfiando as três pontas da lança no abdômen do vampiro abriu a boca para gritar mas nenhum som saiu. - Filhinho do papai, tá chorando? Se junta à ele agora... no Inferno.

Dos pés à cabeça, o corpo de Brazileus petrificou-se. Frank tirou a lança antes que a petrificação alcançasse o ponto onde feriu. Natasha dera um pulo, caindo com firmeza e correndo à Frank.

- Estratégia inteligente. - disse a caçadora, sorrindo leve.

- Valeu. - disse Frank, suspirando de alívio - Eles capturaram o Mike. Tem mais uma penca de vampiros. Agora que o estrelinha se foi, podem querer transferir pra um dos candidatos a barão.

- Ainda falta mais uma coisa. - disse Natasha, sacando uma pistola .40 e logo disparando contra a estátua que virou Brazileus, mirando em cada parte do corpo. - Nunca se sabe.

- Não dá pra confiar em estátuas bizarras. - disse Frank.

- Ei, pessoal! - gritou Mike, correndo até eles.

- Mike! - disse Natasha - Onde você estava? Verdade que pegaram você?

- Sim, mas já tá tudo bem. Viu só? Limpinho. Ficaram... me intimidando quando despertei todo o meu ímpeto de caçador e dei um jeito em pelo menos dois deles. Deve ser atávico.

Natasha sorrira abertamente ao ver o irmão ileso.

- A cavalaria já vem ou ficaram presos no engarrafamento? - perguntou Frank.

- Tiveram um contratempo. Recebi mensagem há cinco minutos. Tudo indica que vampiros num carro os identificaram e tentaram acidenta-los. Se desculparam pelo atraso e já estão a caminho. Tenho munição sobrando para 10 vampiros.

- Passou uma van pelo jardim. - disse Mike - Ouvi vocês falarem das joias do poder... Se eles souberem...

- É exatamente que você, eu e a sua irmão estamos pensando. - disse Frank - Posso voltar a usar meus bebês? - perguntou, abrindo o sobretudo para mostrar as armas.

- Tá liberado. - disse Natasha.

- Eu também posso? - perguntou Mike que recebeu um olhar duvidoso de Frank - Ela já me deu aulas de tiro.

- Então toma aí. - disse o detetive entregando uma pistola - Se sua irmão estivesse lidando com isso sozinha talvez não permitiria, mas como sou um cara legal...

- Está bem. - disse Natasha - Ajudando a construir os primeiros passos da carreira do Mike.

- Não fica com ciúme, maninha. - disse Mike, puxando a trava da arma - Vamos lá matar uns vampiros?

Frank deu um sorriso fechado para o rapaz e seguiu na frente com duas pistolas carregadas de balas de prata e a caçadora à sua esquerda.

- Será que há mais Strigois  ou híbridos lá dentro? - perguntou Mike, temeroso - Brazileus não seria idiota, se abre a qualquer probabilidade, pode ter deixado umas surpresas.

- Vi nos olhos dele. Estava loucamente agoniado. Nessa condição, ninguém é capaz de arquitetar um plano mega-genioso e infalível. No fim das contas, estava pensando somente nele. - disse Natasha.

- Melhor a gente terminar isso ainda hoje. - disse Frank - Tenho um amigo pra visitar.

                                                                                        ***

Algum tempo depois... 

Uma caixa de papelão fora colocada na mesa de escritório de um delegado da polícia local de Londres. O peso dela estremeceu-a.

- Idiota, quase derrama meu café. - disse o homem caucasiano, cabelos grisalhos, rosto fino e quadrado usando camisa de manga longa com suspensórios. Ele se levantou irritado. - O que é isso aí? Não pedi nenhuma encomenda.

O visitante era um homem negro careca com semblante sério.

- Eu fui um dos remanescentes. Tem novos caçadores na área: Um cara com aparência de detetive e uma garota gostosa vestindo couro dos pés ao pescoço.

- Isso me anima. - disse ele, sorrindo torto - Mas o que tem a ver com esse troço?

- Eles o mataram. - disse o vampiro - Precisamos dar um enterro digno à ele. Quantos litros você tomou nos últimos meses?

- A sede aumentou como nunca ultimamente. Tomei porres e porres de sangue como um viciado.

- Isso é animador pra mim. Sinal de que está mais forte. As joias o querem.

- Não vá criando expectativas. - disse o delegado - Ser barão está... além do meu alcance.

- Mas você será. Querendo ou não. As regras mudaram. - disse o vampiro, abrindo a caixa.

- Não pode ser... - disse o delegado, aturdido - Venha comigo. Conversar num local mais discreto.

Ambos saíram da sala, mas o visitante esquecera a caixa aberta na qual estavam os pedaços petrificados de Brazileus com a cabeça virada para cima.

Os olhos abriram-se de repente tonalizando num azul sombrio como a noite.

FIM (Por enquanto!)

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://www.oversodoinverso.com.br/lenda-do-primeiro-vampiro/

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