Nem tudo é o que parece #51
Sou professora de escola primária da rede pública e preciso comentar um episódio que me deixou refletindo por um bom tempo, demorei a retomar com a aula de artes de tanto que fiquei mergulhada nos pensamentos sem me tocar do mundo ao meu redor.
Tem uma menina, o nome dela é Violet, completamente retraída, tímida, não muda de lugar, fica sempre na última cadeira da fileira mais próxima da parede à minha esquerda. Não tinha amigas, pouco interagia e isso de certa forma abalava meu coração ver uma menina tão bonita ser tratada com indiferença e ranço pelos colegas por conta da aparência. Coisa trivial em relações colegiais.
O trabalho de artes consistia desenhar a resposta para a pergunta "Como você enxerga o mundo daqui à 50 anos". Aí vem a primeira parte que me espantou. Violet era a melhor artista da classe, um talento nato.
Quando fui avaliar seu desenho, perguntei:
- Violet, querida, por que logo o seu ficou em branco? Sem inspiração hoje?
- Mas aí está como vejo o mundo em 50 anos.
Por último a segunda parte e a mais intrigante.
- Não vê nada? Tudo vazio? Não entendo.
- É exatamente assim, é o melhor jeito de representar.
- Violet, não faz sentido.
- Claro que faz. Eu vi no meu sonho.
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No dia 02 de Novembro tomei vergonha na cara e tratei de ir visitar o túmulo da minha esposa.
É clichê falar que enquanto se está desabafando sobre o quão grande é a ausência diante da lápide e daí você sente uma mão tocar seu ombro como um sinal da pessoa querida por perto? Conheço muitos que tiveram esse suposto delírio de luto, mas não sei... comigo pareceu tão físico e real.
Eu toquei na mão sobre meu ombro e senti um anel grosso. O problema é que minha esposa não usava anel naquela mão.
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Terminar o cubo mágico naquela hora pra mim era a missão mais penosa do mundo. Minha mãe me chamou para ajudar a tirar as compras do porta-malas assim que perdi a paciência, então larguei aquele troço. Talvez Ernõ Rubik estava possuído pelo diabo quando inventou essa tortura.
Voltei, insistindo em continuar, como qualquer pessoa que não consegue se desprender desse jogo, e avistei o cubo na minha cama... completamente resolvido. Pensei: "Para tudo! Que merda é essa?"
Eu o peguei, analisando, estava tudo certo, todos os seis lados sem nenhum quadrado diferente.
Reparei na primeira porta entreaberta do meu armário na mesma hora em que ela fechou bem rápido.
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Quem nunca sofreu com um pesadelo recorrente, não é mesmo?
No meu era perseguido por um caminhão enorme de faróis azuis que dispersavam luz no meio daquela escuridão sufocante. O que me apavorava de verdade era o ronco daquele motor... até parecia que aquele monstro de metal queria me devorar vivo.
Como sempre, esse filme de horror é cortado exatamente na parte onde o caminhão me empurra e começo a sentir o asfalto se aproximar do meu rosto. É toda vez nesse momento que desperto.
Numa noite dormi no sofá após um dia exaustivo no trabalho já vestido para o dia seguinte.
Uma luz azul forte acendeu tomando conta da minha sala e maltratando meus olhos que protegi com as minhas trêmulas e geladas mãos.
Eu não teria reconhecido aqueles intensos olhos azuis me encarando pela janela se não tivesse escutado o rugido tenebroso do motor logo depois.
FIM... por enquanto!
*As imagens acima são propriedades de seus respectivos autores e foram usadas para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagens retiradas de: http://portazul.blogspot.com.br/2010/10/angustia-da-folha-em-branco.html
http://ritanocorsel.blogspot.com.br/2010/04/farois-acesos.html
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