Crítica - As Aventuras de Paddington
Suspensão de descrença ligada no máximo.
AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.
Na época de lançamento desse longa eu realmente não tinha dado a menor atenção meio que julgando o livro pela capa com absurda antecipação. Mas de uns tempos pra cá eu tenho ficado mais aberto a acompanhar filmes de diversos gêneros independente da intensidade do magnetismo entre mim e a sinopse que se faz tão necessário, eu preciso conhecer aquela trama e constatar se valeu ou não a pena. Superado o desinteresse, tratei de apertar o play para acompanhar a historinha de um atrapalhado e inocente urso peruano em um mundo semelhante ao que normalmente se vê em desenhos animados com animais antropomórficos interagindo com humanos. Só que aqui a especifidade da situação se resume ao fato do filme ser uma adaptação de uma série de livros infantis do autor Michael Bond. A presença de Paddington é tida como algo comum à esse universo, provando o seu viés pueril e descompromissado com uma lógica em favor do seu público-alvo.
O que não são características desqualificantes até porque filme infantil tem que seguir à risca essa fórmula de agradar de maneira alheia a qualquer tipo de explicação que soe coerente para dar um sentido à obra, não tem como ficar insatisfeito com isso e cobrar chega a ser injusto. Danem-se esses questionamentos desnecessários e é seguir em frente se entretendo com o filme pois a condução dele é o que verdadeiramente faz diferença. E sim, estou dizendo isso pensando nesse filme, ainda que isso valha para toda produção que incorpore uma aura juvenil e não muito séria. Sobre a trama, Paddington é sobrinho de dois ursos cuja lar é vitimado por um terremoto que faz com que Pastuzo (o tio) desapareça restando apenas seu chapéu como única lembrança o qual é apropriado pelo protagonista e no mais tardar sua tia o convence a encontrar um abrigo em Londres. Porém, ele se vê sozinho e perdido numa estação ferroviária até que é finalmente encontrado pela família Brown que, a contragosto do pai (e da sua filha a princípio chata), o adota, mas na condição de ficar numa noite.
Todo o seguimento apresenta fluidez bem agradável, mesmo que hajam umas partes bobinhas aqui e ali, mas se não tivesse esse pequeno aspecto não seria algo totalmente voltado ao público infantil e na cabeça desse adulto rabugento que sou isso incomodou algumas vezes, embora nada que fizesse revirar os olhos e cogitar fechar o vídeo. Além do mais é divertido ver o Paddington se adaptando aos costumes da cidade dentro e fora da casa dos Brown gerando situações cômicas a partir da inocência do ursinho diante dos elementos modernos do mundo que forçadamente teve de desbravar pela exigência das circunstâncias. De causar uma enchente na casa dos Brown até deter um batedor de carteiras involuntariamente. À essa altura Paddington não devia mais nada em termos de provar seu valor como personagem principal, ele se consolida rapidamente como uma figura relativamente carismática e acho que a dublagem do Danilo Gentili tem grande papel nisso. Da família não tem muito o que se comentar: o pai faz o tipo super-protetor demasiado (tem boa contracenada com o Paddgnton, diga-se de passagem), a mãe é simpática e a única a de fato se importar com Paddington de primeira, o garoto parece estar ali só para fazer contraponto ao pai quanto a permanência de Paddington na casa e a garota é chatinha no início e estranhamente se mostrando contra a adoção (ela parece ser mais velha que o irmão, talvez em torno dos 12 ou 13 anos e creio que nesse ponto a infantilidade tem poucos resquícios, além de ser fato que mulheres amadurecem mais cedo, mas ainda assim é estranho ela não se encantar com a fofura do Paddington) mas que felizmente vai se afeiçoando a ele após a prisão do ladrão que ajudou a capturar numa ótima sequência pela cidade (porém ainda desconfio que ela só ganhou interesse pela fama que o urso obteve com seu feito pois se sentiria popular e não estranha).
Do lado sombrio da força temos a obcecada taxidermista Milicent e aqui é onde se centra mais internamente a suspensão de descrença que enfatizei na frase de introdução. Como uma taxidermista implacável e sem dó ela também é uma excelente agente secreta (se bem que numa cena com Paddington tentando escapar das garras dela há uma excelente referência a Missão Impossível com direito a trilha clássica da cinessérie protagonizada por Tom Cruise ainda que o núcleo da referência em si seja o quarto filme - que não achei toda essa maravilhosidade no que diz respeito a uma missão de fato "impossível" que é sempre no sentido de arduidade). Chega a parecer surreal a rapidez com a qual ela vai se aproximando do Paddington e a facilidade que é absurda, mas relevável visto que é uma obra de cunho meramente infantil e "complicar" as coisas para a vilã tendo em vista a duração não seria lá a melhor das saídas. Aparentemente se vê uma mistura sutil de alguns clássicos na forma de supostas referências, à parte da obviedade que foi com relação à Missão Impossível, e pude detectar traços de Dennis o Pimentinha (as travessuras de Paddington, especialmente com as escovas de dentes que põe nos ouvidos) e Esqueceram de Mim (quando ele é deixado sozinho em casa, se enrola todo com a fita adesiva e logo é atacado por Milicent - graças ao vizinho X-9 que levou pé na bunda depois e vira a casaca pra salvar o ursinho - e seus dotes artísticos de agente secreta numa sequência que faz recordar como o Kevin lidava com os bandidos). O terço final é cheio de organicidade e mostra a redenção do Sr. Brown ante ao seu posicionamento desfavorável a Paddington e realmente é possível torcer para que ele reveja sua visão acerca do ursinho por definitivo tal como o resgate do mesmo. A resolução contra Milicent novamente lembra Esqueceram de Mim com os pombos (no fim do segundo filme quando eles atacam os bandidos) e a vovó foi a responsável por acabar com a ameaça da filha do explorador (do jeito mais fácil e conveniente possível) que descobrira os ursos inteligentes e seguiu numa motivação tão convincente quanto extremada.
No fim, todos tiveram o que mereciam desde o início. Ao meu ver, não era Paddington que necessitava dos Brown, mas sim eles que necessitavam de Paddington.
Considerações finais:
As Aventuras de Paddington ao término dos 95 minutos de produção não prova nada mais e nada menos que ser uma jornada ingênua de alguém que busca por um lugar no mundo mesmo que essa mensagem seja sustentada por um texto simples demais. Mas não fosse pela própria simplicidade como força motriz para justificar as razões pelas quais Paddington é tão adorável, muito provavelmente não seria um filme que correspondesse à sua intenção.
PS1: Quem diabos se diverte de bobeira no trabalho com seu colega fazendo ele adivinhar os números das informações nutricionais do biscoito? É muita falta do que fazer...
PS2: Já quero crossover com Paddington e o Pequeno Urso porque caramba... Semelhança monstra!
NOTA: 8,0 - BOM
Veria de novo? Sim.
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: https://rd1.com.br/com-dublagem-de-danilo-gentili-as-aventuras-de-paddington-ganha-novo-trailer/
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