Ele nunca sorriu
Eu acompanhei o parto da mamãe com imenso aperto no coração mas ao mesmo tempo eu podia sentir uma felicidade me contagiar, afinal era meu irmãozinho que estava de chegada ao mundo...
Ele é o Adam. O único problema, sendo eu a primeira a notar, era seu comportamento.
Não foi o tipo de criança endiabrada que revira a casa toda, mas sim apática... Diria que um pouco fria.
Adam não sorria nem para os desenhos na TV. Cócegas? Não. Caretas? Menos. Eu fazia de tudo.
Era sempre uma expressão única de seriedade a ponto de ninguém sentir vontade de pega-lo no colo.
O garoto só abria aquela boquinha fofa para comer. Como irmã mais velha, fiquei preocupada.
Com dois anos meus pais finalmente se convenceram de encaminha-lo a um psicoterapeuta infantil.
Com os resultados infrutíferos de várias consultas, se desesperam ao pensarem na escola.
De que forma poderíamos contornar a situação de Adam interagindo com os colegas daquele jeito?
Ele podia ser sério 24 horas por dia, não dar um único sorriso sequer, mas... no fundo o amava.
Nossa família mais feliz possível, nunca houve históricos de traumas que justificassem essa condição.
Sempre defendia o Adam dos que falavam que ele estava gravemente doente, que era anormal...
Com o fracasso monumental na ingressão da escola, Adam, aos cinco anos, fez homeschooling.
Era inteligente, educado e atencioso, o professor o elogiou por isso, exceto por aquele detalhe...
Pois é, o Adam se recusava a sorrir pra tudo e pra todos. Ao menos conversava, o que consolava-nos.
Nunca sorria para as fotos de aniversário, na festa de conclusão do ABC, nos passeios em família...
Eu não quero fazer papel de boba aqui, eu sempre soube que existia um problema.
Mas se nada podia fazê-lo dar uma risada, eu não tinha mais alternativas. Passou a me incomodar.
Numa noite resolvi levar Adam para passear comigo, ele tinha sete anos, e fomos comer algodão doce.
Surgiram dois caras encapuzados nos abordando pedindo pra passar a grana e ameaçando o garoto.
Recusei imediatamente e pedi pro Adam fugir. Os bandidos me derrubaram pra me violentar.
Fui humilhada e açoitada com golpes de pé-de-cabra nas minhas costas por um e o outro me chutava na barriga.
Enquanto aquele ferro batia com tudo na minha coluna... eu ouvi... pela primeira vez na minha vida.
Finalmente ouvia a risada do Adam.
---
Este conto foi escrito e publicado exclusivamente para o Universo Leitura. Caso o encontre em algum outro site com créditos e fonte ausentes, não hesite em avisar.
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: http://www.uaucance.com.br/depressao-infantil-e-coisa-seria/
Comentários
Postar um comentário
Críticas? Elogios? Sugestões? Comente! Seu feedback é sempre bem-vindo, desde que tenha relação com a postagem e não possua ofensas, spams ou links que redirecionem a sites pornográficos. Construtividade é fundamental.