Crítica - Terrifier
Média-metragem estendido de revirar as entranhas.
AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS (não que aqui isso seja importante).
O subgênero dos filmes de terror conhecido como Slasher já não tinha se tornado um espaço convidativo para a predileção desde a longínqua vez na qual assisti O Massacre da Serra Elétrica, a versão dos anos 2000, com apenas 10 anos de idade (e me traumatizado um pouco com o início do filme heheh). Sabendo bem do território onde estava me metendo, resolvi fuçar em algum site gratuito algum terror simplista que não saísse nada mais como um mero passatempo de fim de semana. O escolhido foi este, Terrifier, lançado no ano passado. O longa é baseado num curta-metragem homônimo e logo de cara já remete a uma produção do nível Trash e típico de filme B.
Produções desse estilo geralmente não cativam a audiência pela sua densidade narrativa (porque tudo, e inequivocamente neste em questão, é mais raso que piscina infantil) mas sim pela quantidade de derramamentos de sangue em litros exorbitantes. A coisa não é nada diferente aqui. A "história" é protagonizada por um palhaço com aspecto de mímico chamado Art que sem justificativa alguma sai por aí fantasiado na busca de vítimas para serrar, esfaquear, degolar e serrar. O objetivo do gênero é unicamente expor matanças desenfreadas na intenção de chocar o seu público e nada mais. E quem curte um bom gore e não tem estômago de papel, vai certamente tolerar as bizarrices brutais de Art.
De fato tem-se um trabalho minimamente cuidadoso no tocante aos efeitos práticos nas cenas de assassinato com um sangue que pareça o mais orgânico possível. Mas claro que há umas escorregadas aqui e ali, por vezes mostrando o sangue em cortes rápidos fazendo parecer que saiu Ki-Suco de uva da pessoa. No geral, a violência é potencial de fazer você virar o rosto numa cena e posso citar aqui a mais dantesca dentre todas que é onde Art mata a loira burra do filme (uma das duas amigas que saem meio bêbadas de uma festa e são praticamente as vítimas protagonistas) após captura-la e coloca-la de cabeça para baixo e executa o ato serrando-a a partir da vagina até literalmente parti-la ao meio. Certamente a cena adquiriria maior peso se a verba do filme tivesse maior incentivo e o filtro irregular de filmagem não fosse algo que fizesse lembrar um clipe musical. Porém, conseguiu ser agoniante ao seu modo. A outra amiga, que tenta escapar de Art em demoradas sequências de suspense (fraquejado, embora bastante presente) é também capturada e sua intérprete não convence. Só que a coisa piora quando a irmã dela, que a princípio viria busca-las por conta do pneu furado do carro com o qual foram à festa de Halloween, surge para ser adicionada à coleção do "palhaço" e exibe uma atuação que se não soa trágica ou dramática é realmente patética de tão artificial.
"Ah Lucas, você só viu o filme pra falar mal?! É isso?" Rasgar a seda para ele é que eu não faria jamais. A gente pega filmes ruins para assistir não na ignorância em não saber se é bom ou ruim, mas no sim no quanto ele é ruim. E às vezes um trash ruim (pleonasmo na área :P), de fazer você querer arrancar seus olhos, que envolva outros elementos bem produzidos à sua medida acabam sendo "bons" pois cumpriram sua proposta fulcral que é pura e simplesmente o entretenimento. Mas neste caso não é exatamente o típico "é tão ruim que no final das contas é bom". Pelo menos o trabalho de figurino e maquiagem está de parabéns na composição visual do Art, a estrela terrorífica do longa que é uma máquina mortífera persistente e disposta a não deixar um rastro de vida sequer para trás das vítimas. De longe, o melhor personagem. Por mais que ele aparente algo saído de uma pegadinha do programa do Sílvio Santos. Curiosamente ele é bem mais macabro nas imagens promocionais e sobretudo na capa do filme, tornando possível detectar um toque a la American Horror Story.
Considerações finais:
De todos os personagens (verdadeiras bestas quadradas), sobra o próprio Art como o condutor que estimule algum divertimento ao espectador em relação a sua capacidade implacável de matar, deixando o espetáculo do filme ao encargo das cenas brutais que fazem valer a espera ocasionada pelo suspense lento e quase insuportável (sem uma trilha sonora decente, inclusive). No geral, é um filme vazio como esperado de um gênero que põe assassinos psicopatas coletando vítimas a cada ato, se valendo somente do seu protagonista-vilão que perto dos demais indiscutivelmente faz diferença.
PS1: Não vá encarando previamente como um terror hollywodiano da categoria de Sexta-Feira 13 ou A Hora do Pesadelo, é um negócio bem mais limitado tanto narrativo quanto cinematograficamente. Numa analogia, é como uma tábua super-reta e de fina espessura que tem sua serventia, mas não é melhor do que várias outras tábuas mais grossas e longas.
PS2: A sobrevivente do Massacre do Condado de Miles era ninguém menos que a irmã de Tara (uma das amigas fúteis), Vicky, a mulher desfigurada (sério, que rosto aterrorizante, mais um ponto para a equipe de maquiagem e caracterização do filme, um dos poucos bons quesitos) que aparece no prólogo. Revelação que me pegou, confesso, nem desconfiava. E ela mata a entrevistadora falsiane do prólogo (numa conversa por celular ela ridiculariza a "plástica" de Vicky), dando a entender que a vítima, como efeito colateral da experiência traumática, absorveu e aderiu aos métodos do seu agressor.
PS3: Imagino que todo clichê de Slasher dita que todo personagem de destaque só terá um destino: A morte horrível. Um ou dois podem sobreviver, mas é certo que a maior parte vira presunto.
PS4: A mulher deficiente mental era a única que merecia uma chance a mais de sobrevivência (a filhinha-boneca dela até que é fofa). E eu que caí na ilusão de que ela se compadecer do Art e trata-lo como um filho tivesse algum resultado... Mentira, não tem como mudar cabeça de psicopata apenas com "carinho materno".
PS5: As principais vítimas são bastante... burras (na falta de um termo melhor/pior). Todas, SEM EXCEÇÃO, atacam o Art apenas com UM golpe quando tem oportunidade. É um padrão irritante.
PS6: Além de um excelente manejamento com objetos cortantes, Art também possui senso de humor. A cena dele usando a pele com os seios da mulher louca (morta após trata-lo como um bebê, a cena, diga-se de passagem, é tipo uma representação metafórica da forma que os esquerdistas tratam bandidos - "vítimas da sociedade" - nesse país) e os cabelos dela (arrancou o couro cabeludo da coitada o_o) imitando uma diva dançante é simplesmente hilária, não deu pra conter a risada. Se bem que dá para rir de quase tudo nesse filme, até da burrice tosca dos personagens.
PS7: Pra encerrar de vez, vou citar outra atitude brilhante de uma das vítimas: O cara que falava com Mike (segurança do local onde Tara pede para urinar - o banheiro faria minha mãe ter um surto x_x) e vem para encontra-lo fica parado um bom tempo feito um idiota tentando abrir a porta, volta para o carro e depois descobre que a maldita chave estava debaixo do tapete. Sério isso? E pra piorar ele acha a boneca da mulher louca largada, a apanha e fica contemplando o rostinho branco como porcelana dela até que o Art vem de fininho por trás e degola com uma serra até decapita-lo. Argh!
NOTA: 5,0 - RUIM
Veria de novo? Não.
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: https://horrorfreaknews.com/retro-trailer-extreme-clown-shocker-terrifier-lives-name/25050
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