Crítica - Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança
A sequência desengonçada que piorou a fama do caveiroso nos cinemas.
AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.
Praticamente 5 anos após o fraco debut do anti-herói nas telonas, a Columbia Pictures resolve investir numa segunda tentativa para emplaca-lo ante ao público num período em que os super-heróis da Marvel estão em nítida ascensão e os filmes do subgênero seguem firmemente se estabelecendo no mercado cinematográfico para no futuro tornarem-se fenômenos imbatíveis de bilheteria com apelo intensificado (para o horror de James Cameron hahaha). Talvez a principal motivação do estúdio em ressuscitar a franquia (particularmente, acho cinco anos um tempo considerável para lançar continuação direta de filme com personagem adaptado de quadrinhos) tenha sido por essa razão, pegando uma carona "nada oportunista" devido ao brilhante sucesso do então monofásico Universo Cinemático Marvel. Eles bem que podiam passar essa vergonha no crédito, né (assim como Transformers heheh)? O filme dirigido por Mark Neveldine e Brian Taylor parece mais um episódio avulso e sem importância narrativa para justifica-lo do que uma sequência de ligação sólida com o antecessor (impressão minha ou a cena em flashback do contrato foi totalmente modificada?). Da mesma forma que duas cabeças podem pensar melhor que uma, também podem fazer merda pior do que uma seria capaz (o que já basta).
No roteiro a situação é ainda mais grave, sendo três mentes "criativas" fazendo a lambança, incluindo a colaboração de David S. Goyer (os outros dois são Scott M. Gimple e Seth Hoffman) que não ajudou em absolutamente nada em prol de "melhorias" e acho que mesmo se esforçando um pouco mais teria a mesma eficácia de um copinho d'água para apagar um incêndio. Não chega a estranhar a sensação de que fizeram tudo no modo ligeiro e avexado (pelo jeito supetão que começa, tanto é que não há sequer um prólogo). Com uma duração menor que o anterior (1h35m) e um título extremamente redundante (porque falta de criatividade pouca é bobagem), a segunda aventura de Johnny Blaze é uma saga de redenção para o amaldiçoado motociclista auto-exilado na Romênia que descobre uma faceta adormecida dentro do espírito infernal que o habita, ou seja, existe um lado puro por trás do júri, juiz e executor sempre armado com sua corrente para punir almas pecaminosas e consumi-las. No centro do conflito está um garoto de 10 anos chamado daniel "Danny" Ketch (a terceira identidade do Motoqueiro Fantasma nos quadrinhos) alvejado por membros de uma seita que deseja entrega-lo ao seu líder que não é ninguém menos que Mefisto (Ciáran Hinds está meio caricato no papel, deu um pouquinho de saudades do Peter Fonda que tinha uma presença bem mais soturna para alguém que interpretava a encarnação máxima do mal), o diabão quer o moleque para se apoderar do seu corpo e obter uma fonte ilimitada de poder transformando-o no anticristo que trará o inferno à Terra. Sob a proteção de sua mãe, Nadya Ketch, que fizera um pacto com Mefisto em troca de sua vida (originando a condição sobrenatural de Danny), o garoto se refugia num mosteiro onde é atacado pelos servos do diabo que não passam de um bando de traficantes de armas (ao menos o Coração Negro tinha companheiros fortes e habilidosos).
Blaze se encarrega de ficar como "babá" de Danny, contando com o solícito auxílio de Moreau (Idris Elba - relevo, afinal todo mundo tem contas pra pagar =P), personagem original que é um monge pinguço que integra uma secreta organização religiosa e dá informações cruciais para Johnny sobre o espírito da vingança bem como a história que ele desconhecia. A história em questão narra a queda de Zarathos, o Espírito da Justiça, e o Cavaleiro Fantasma nada mais é que sua versão corrompida, mas seu poder "angelical" ainda vive trancado no Espírito de Vingança. Falei bastante da trama (que nem grande coisa é, tanto na premissa quanto na execução), pois dá canseira só de pensar em apontar os erros óbvios dessa joça. A ação é constante e tem desenvoltura um tiquinho melhor que o 1º filme no que diz respeito aos confrontos diretos do Motoqueiro Fantasma contra seus algozes, porém a câmera fica desajeitada de uma maneira bem irritante - aliás, a filmagem quase que num todo é assim, agitada excessivamente. Parte do design do Motoqueiro Fantasma teve um aprimoramento, a caveira bem tostadinha e escura (e mais fumacenta do que incendiada) ao invés do negócio "plástico" do filme anterior, dando um aspecto que se aproxima mais do caráter de terror, o que significa também uma evolução no CGI (nesse ponto, ressalto). Como Mefisto é muito "gentleman" para sair na mão com Blaze, inventaram, tardiamente, de tornar Carrigan, capanga do diabo, numa criatura demoníaca que deteriora qualquer coisa que toca (ele querendo comer os pãezinhos, mas tudo que se embolorava antes de enfiar na boca - é burrice, teimosia ou inocência?) e é oponente coadjuvante no clímax derrotado de forma ridiculamente fácil e o Motoqueiro Fantasma tem outro surto de "overpowerzação" no embate final contra Mefisto (mandando-o de volta para o Inferno). Mas nada consegue mostrar-se tão horrendo quanto a atuação de Nicolas Cage.
Idris Elba tenta se esmerar na transmissão de carisma (no que ele falha, porém a morte de Moreau pelo demônio oxigenado Carrigan/Blackout causa aquela tristezinha) enquanto Cage parece nem aí pra nada, ligado no piloto automático e forçando reações do personagem que demandam espontaneidade, como na cena em que Blaze salva a vida de Danny - morto no acidente provocado na perseguição na estrada - com a chama azul de Zarathos e sua interpretação ganha um tom bem retardado com o entusiasmo que ele expressa na hora. Além disso, as caras e bocas na transformação (pilotando a moto onde ele literalmente solta fogo pelas ventas) fazem virar o rosto, não de medo, mas de vergonha alheia. Se a intenção com a virada dos monges ameaçando matar Danny sob o argumento de que a morte é a única salvação para livra-lo das forças malignas foi a de surpreender, é muita ingenuidade dos roteiristas, pois nunca confiaria a vida de alguém com quem me importo que está no encalço de uma galera que trabalha pro diabo a um bando de fanáticos religiosos liderados por um monge sênior com a cara toda rabiscada. Tirando as tosqueiras, são apreciáveis os breves trechos em animação, pequenos consolos que, todavia, não amenizam a tamanha decepção com este conjunto de obra tão desconjuntado.
Considerações finais:
Em linhas gerais, Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança perdeu uma imensa chance de se vender como um trash proposital e desconexo ao primeiro filme (mais do que aparenta ser). Pautado num enredo que não mascara sua pobreza criativa, o longa é uma galhofa farofenta na qual o caveiroso não merecia estar submetido (nem Cage e nem o público).
PS1: Numa das poucas cenas em que dá pra levar esse trambolho a sério, Blaze confessa ter feito o pacto para satisfação própria, pois seu pai estava pronto para morrer e entregue ao inevitável destino. Um momento dramático que explora essa redenção, embora a amizade com Moreau tenha se limitado ao acordo com a revelação do segredo em troca de exorcizar o Espírito de Vingança em Blaze (redespertado por Danny porque o roteiro tem que se mover a favor do protagonista).
PS2: E o que foi aquele "Flame Shower"? Quiseram mesmo esculhambar com o personagem...
PS3: "Meu nome é Johnny Blaze. Eu sou o Motoqueiro Fantasma."
NOTA: 4,0 - RUIM
Veria de novo? Não.
*As imagens acima são propriedades de seus respectivos autores e foram usadas para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagens retiradas de: https://www.moto.com.br/videonoticias/conteudo/veja-o-trailer-de-motoqueiro-fantasma-2-45850.html
https://indiehoy.com/noticias/nicolas-cage-detesta-profundamente-los-memes-cara/
Comentários
Postar um comentário
Críticas? Elogios? Sugestões? Comente! Seu feedback é sempre bem-vindo, desde que tenha relação com a postagem e não possua ofensas, spams ou links que redirecionem a sites pornográficos. Construtividade é fundamental.