Crítica - Motoqueiro Fantasma
Extração preguiçosa de potencial.
AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.
Eu posso parecer um defensor ferrenho (e até alienado) do filme do Demolidor estrelado pelo Ben Afleck perto dos haters que a desvalorizada produção (sim, isso mesmo que você leu, por favor não amaldiçoe minha pessoa =P) acumulou ao longo dos anos, o que nada significa eu não reconhecer as fraquezas de Mark Steven Johnson como diretor (ainda verei a versão que não ao cinema). Numa época bastante arriscada para impulsionar filmes adaptados de materiais preexistentes de conteúdos com certo grau de violência, claramente a história de Johnny Blaze não seria levada às telonas à risca do que os quadrinhos apresentavam e imagino que decepcionou medonhamente a fanbase por conta da classificação etária comum para filmes de super-heróis (algo que veio a ser "infringido" dois anos depois com o lançamento de Watchmen). Aliás, para decepcionar, o filme não precisa atingir quem acompanhou as aventuras do personagem nas páginas coloridas da Marvel Comics, o grande público leigo também tem seus motivos para desaprovar a forma de retratação do personagem-título. Quanto a mim, vou me ater ao filme e somente à ele como filme, pois me falta uma bagagem suficiente para tecer comparações com as raízes quadrinhescas do personagem (nunca li uma HQ dele).
Johnny Blaze é um motociclista famoso que em 1986 fazia dupla com seu pai nos números de acrobacias perigosas num parque de diversões e para salva-lo do câncer de pulmão faz um pacto com Mefisto, o diabo, em troca de sua alma, porém o demônio trapaceia e mata Barton Blaze, além de forçar Johnny a esquecer até mesmo de sua namorada, Roxanne Simpson - isto na primeira fase do longa que tem uma função mais intermediária. 21 anos se passam e Johnny ganha a fama como motociclista-acrobata, sendo reencontrado por Roxanne que tornou-se repórter e insiste por reconciliar-se com ela pelo gelo que deu. A rapidez do prólogo que expõe o Cavaleiro Fantasma em busca de recuperar o valioso contrato de San Venganza instiga o gosto de quero mais, sobretudo quando o enredo avança para 2007, pois foi aí que vi o quanto desperdiçaram da chance de realizar um filme do antigo servo de Mefisto ambientado no passado (uma pena a Sony estar dispondo do personagem, num mundo quase perfeito ele estaria nas mãos do Marvel Studios, integrado ao UCM, apesar do maior deleite ansiado pelos fãs hardcore hipoteticamente permanecendo negado, ainda assim seria melhor do que filme meia-boca ou filme nenhum). Nicolas Cage não se desvia muito do esperado da sua atuação (mediana, por sinal), patinando feio no alívio cômico (a cena de Blaze olhando no espelho um dia depois da primeira transformação em Motoqueiro Fantasma deu aquela vergonhazinha alheia - sinto que o forte dele é o drama e não a comédia). O humor empregado tenta intencionalmente arrancar risadas para quebra de tensão da história, mas apenas consegue obter auto-ridicularização involuntária.
Preciso falar dos efeitos? Até o Tocha-Humana de Chris Evans tinha chamas mais "críveis" com relação ao fogo que "incendeia" o rosto do caveiroso e nas rodas de sua moto turbinada. E por falar nela, em contrapartida, ganhou um design estiloso e contemplativo. Ao contrário do que inicialmente pensei, Mefisto não é o BBB (Big-Bad-Boss) do longa, o que não me descontentou, pelo menos até a performance de Coração Negro que já começa numa introdução xexelenta no objetivo de provocar susto no espectador (as imagens terroríficas não passam do grotesco, a ideia de assustar é executada de forma meramente artificial). O filho de Mefisto disputa com o pai a posse do contrato de Venganza e incumbe seu trio de anjos caídos, enquanto o diabo transforma Blaze no Motoqueiro Fantasma para derrota-los prometendo devolver sua alma uma vez cumprido o trabalho. O problema da ação está puramente no desprovimento de inventividade em cada sequência (os anjos caídos e suas diferentes habilidades são facilmente vencíveis contra Blaze) mas também não vou dizer que não existem momentos pontuais que valem a pena (a subida no prédio - testemunhada por Roxanne - foi bem enquadrada, assim como perseguição seguida do confronto com a polícia - e os efeitos sonoros "arrepiantes" conferem um ar sobrenatural nos instantes que são utilizados, principalmente durante as demonstrações do famoso Olhar da Penitência.
As versões jovens do casal Blaxanne parecem melhores personagens que as da atualidade. De Cage já falei, então resta avaliar a Roxanne Simpson de Eva Mendes. Ela tem uma postura meio Lois Lane e sua donzelice de mocinha em perigo passa para uma vibe meio Sarah Connor no clímax quando pega a espingarda de Blaze, oferecida pelo coveiro que o achou largado no cemitério (e coincidentemente diante da lápide do seu pai) no raiar do dia quando a maldição do Motoqueiro Fantasma perde efeito, e dispara contra Coração Negro (numa posição que lembra ligeiramente a mãe de John Connor), em contraste com seu par teve um desempenho mais aceitável. E não posso esquecer de comentar sobre o coveiro que fica amiguinho de Blaze e sabe tudo a respeito do que circunda a maldição e do antecessor de Blaze chamado Carter Slade, um patrulheiro texano que viveu no Velho Oeste no século 19 e que havia escondido o contrato. A presença do velho não é à toa e nem por menos, já que sua identidade é (surpresa!) o próprio Carter! A parceria é efêmera, mas rendeu uma boa cena de passeio pela estrada, uma confluência de gerações interligadas por uma sina diabólica (literalmente).
Considerações finais:
A primeira incursão cinematográfica do Motoqueiro Fantasma não proporciona a satisfação que procurava despertar, reduzindo o personagem para algo aquém das várias possibilidades que o seu cânone abrange, comprometido por um roteiro que não poupa forçações cômicas, tampouco se dando ao trabalho de desenvolver a ação criativamente (a classificação suave para o personagem acaba sendo o menor dos obstáculos para torna-lo gostável num todo). É o típico "dá pro gasto".
PS: Blaze revidou muito bem a paunocuzisse de Mefisto não devolvendo o poder do Motoqueiro Fantasma após ter sua alma de volta por querer proteger inocentes. A maneira mais prudente de vencer um demônio é sendo mais esperto que ele.
NOTA: 6,0 - REGULAR
Veria de novo? Provavelmente não.
*As imagens acima são propriedades de seu respectivo autor e foram usadas para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagens retiradas de: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/entretenimento/filme-do-motoqueiro-fantasma-salva-audiencia-da-globo/
http://blogofsnobs.blogspot.com/2007/03/motoqueiro-fantasma.html
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