Frank - O Caçador #25: "Mortos-vivos reinventados"


Uma festa de aniversário que reunira um bom número de crianças que estudavam na escola primária tinha acabado por volta das onze horas da noite, porém apenas um convidado permaneceu isolado à espera dos responsáveis para busca-lo. Brenna aguentou esperar por meia hora além do término da festa e levantou-se de um dos poucos degraus da entrada da casa de Lori, a aniversariante que logo o percebeu saindo sem avisar e levando um chapéu de cone com alguns doces dentro.

- Espera! Não vai! - gritou ela, correndo até Brennan, seu vestidinho branco esvoaçando com o vento.

- O que é? - indagou Brennan, virando com cara enfezada - Quer que eu durma na sua casa?

- Quem está dando essa ideia é você, não eu. - retrucou ela, logo tomando-lhe o chapéu - E esses doces eram do Carl, eu vi você roubando e trocando por bolinhas de papel, seu trapaceiro!

- Dá isso aqui, pirralha! - disse Brennan, pegando de volta à força - E daí? Ele é burro mesmo. O mundo é dos espertos.

- Bem que me falaram pra não convida-lo. Além disso, não pode sair por aí sozinho, já tá tarde.

- É minha babá agora? Cai fora, faço o que eu quiser. - disse o garoto, desprezando-a e voltando à sua andança.

- Se não ficar e esperar seus pais, conto tudo pros pais do Carl!- disse Lori, em alto e bom som, as mãos entre a boca.

Em resposta, e bem mal-educada, Brennan mostrou o dedo do meio de costas, seguindo o trajeto. Lori bufou, revirando os olhos e voltando para casa, cansada de gastar palavras com o colega problemático. No meio do caminho, Brennan sentia-se exausto e um pouco sonolento, tendo a ideia de pegar um atalho pela floresta, desobedecendo a placa amarela de "Área restrita, não ultrapasse". A mata escura não continha muitas passagens iluminadas pela lua cheia. Brennan bocejou longamente e viu uma figura parada numa área onde havia mais luz natural, porém isso a deixava pouco convidativa em oposição aos gestos que ela fazia. Brennan visualizou o indivíduo fantasiado de coelho chamando-o entusiasticamente.

O coelho saltitou, provavelmente indo embora. Brennan se empertigou, resolvendo segui-lo, curioso e atraído. Procurou não gritar e ao encontrar o "coelho humano" o mesmo estava imóvel o encarando num canto próximo à uma árvore de tronco robusto. O estranho tirara a cabeça da fantasia, surpreendendo Brennan que derrubou o chapéu e os doces de tanta estupefação que o deixou boquiaberto. Não havia nada dentro da fantasia que inclinou-se para ele. Brennan encarou o vácuo escuro do interior da fantasia, tremendo. De repente, uma sucção parecia absorver seu rosto para dentro da fantasia.

O corpo do garoto caiu no solo, pálido na face e nos lábios. Após pôr de volta a cabeça de coelho branco, de olhos vermelhos e dentinhos salientes, pegara Brennan e o carregou pela floresta.

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CAPÍTULO 25: MORTOS-VIVOS REINVENTADOS

Nos últimos cinco dias, Frank vivera uma rotina menos produtiva do que gostaria, não deixando de fazer ligações insistentes e constantes para o escritório de Carrie para ficar atualizado quanto aos casos paranormais designados à Fred, o que começava a desgastar a paciência da assistente. A resposta era a mesma: Todo e qualquer caso de propriedades estranhas que Frank soube através da mídia impressa e digital já estava sob total controle do DPDC. No sexto dia, ele persistiu.

- Carrie, sou eu de novo. - disse Frank, vestindo um moletom cinza, sentando-se no sofá - Fiquei com medo de você perder o juízo e ignorar a chamada.

- Quem está perdendo o juízo é você, Frank. - rebateu ela, claramente incomodada - Aliás, é o que eu devia ter feito, até você parar com esse seu furor de curiosidade que já tá queimando meu pavio.

- Eu não recebi ainda a carta do superintendente pra comparecer a uma audiência formal e prestar meus esclarecimentos. Ele não pode mudar de ideia e desconsiderar minha palavra.

- Ah, e em que justificativa pensou? Ou melhor, qual desculpa? Frank, chega disso, não quero sentir pena de você. Tive três meses pra me adaptar, não pensa que foi moleza, por mais que o Fred seja um cara legal e tão incrível quanto você.

- Ele é um oportunista, isso sim. - disse Frank, desencostando-se do sofá - Não vem com essa de "tão incrível quanto", para de equiparar nossas forças e não é inveja da minha parte, se te interessa ouvir.

- Inveja ou não, uma coisa é certa: Está magoado. Mais com o Fred do que com o alto escalão. Sei que ele agiu precipitadamente semana passada, mas talvez você tenha que dar uma chance.

- Uma chance pra quê, Carrie? - perguntou Frank, fechando os olhos brevemente, odiando prolongar a conversa.

- Ao Fred. E principalmente a si mesmo. Passa pela sua cabeça o que vai dizer diante daqueles narizinhos empinados do Conselho de Segurança? Se disser a verdade, eu nem consigo imaginar o que seria da sua vida. Na verdade, eu até consigo, mas me apavora.

- Sim, eu... entendo perfeitamente. - respondeu Frank, desanimado - O preço da liberdade é a eterna vigilância.

- Exato. - disse Carrie, o tom igualmente abatido - Eu vou pedir só dessa vez: Não ligue mais, por favor. Pelo menos não enquanto estou trabalhando. Danverous City é repleta de coisas bizarras e surreais. Mais da metade delas geram casos que chamam nossa atenção. Você fica com o resto, mas não posso garantir, já que o Fred também é caçador.

- Ah claro, ele vai estar em todo lugar que houver indícios de paranormalidade, mesmo quando não é da alçada do departamento! Eu sou um legado, Carrie. E não vai ser um metidinho à besta como ele que vai me forçar a jogar a toalha sem cumprir meu propósito de levar essa vida até o meu último suspiro.

Desligara sem escutar o que Carrie teria a dizer. Ela teria muito a dizer. Tanto a dizer que as palavras entalaram na garganta, o que mais cedo ou mais tarde a sufocaria. Mas a assistente não tinha ressentimento algum, apenas sofria internamente.

                                                                                       ***

Saboreando um café bem quente no seu restaurante favorito para quase todas as manhãs, o detetive lutava contra a vontade enorme de dar uma espiadela no que passava na TV naquele instante quando estavam sendo veiculados os noticiários matinais. A resistência enfraqueceu quando ouviu a reportagem sobre desaparecimentos de crianças, alunos e alunas do colégio primário, e assistiu com os olhos vidrados sem sentir culpa. Desviu seu foco para uns três policiais do DPDC sentados à uma mesa próxima do balcão onde estava. Eles pareciam não ligar muito para o fato televisionado.

Frank deixou uma nota no balcão e dirigiu-se à eles. Todos os três pararam a conversa ao verem-o.

- Que mal pergunte, mas... Esse caso que acabou de passar agora tá nas mãos do agente especial? Sabem me dizer?

- O agente especial, sim. - disse um policial mais velho com um bigode grisalho - O que tá fazendo aqui? Por que não tá lá? Ah sim, não fazia referência à você. - soltou uma gargalhada junto aos demais.

- Só fiz uma pergunta. - disse Frank, engrossando o tom - Vamos de novo, espero que sejam maduros: O Fred está ou não cuidando desse caso? - fez uma pausa - Qual é, pessoal? Não lembro de me proibirem de falar com vocês.

- A questão não é você falar ou não conosco. - disse outro, mais truculento, porém mais jovem - Pra gente tanto faz. E concordamos em algo: Vale o mesmo pra sua ocupação no cargo. Sobre o Fred, ele já foi encaminhado. Gostamos mais dele também. Não querendo te desmoralizar, mas... Duas deserções vindas do agente mais bem pago, é pra se envergonhar.

- Pois é, Frank. - falou outro com um sorriso debochado - Devia ter enfiado sua cabeça num buraco ao invés de voltar pedindo desculpas. Você se provou uma vergonha, desgraça e humilhação não só para o DPDC, como também ao sistema geral.

O policial mais velho levantou-se austerizadamente.

- Seja lá qual for o proveito que queira tirar desse caso e de outros que o seu substituto estiver legalmente exercendo investigação... É melhor tomar cuidado ou senão vamos promover um abaixo-assinado pedindo a sua destituição total, sem conversinha com o superintendente. Acredite, íamos conseguir um bom volume de assinaturas. - deu uma risadinha mostrando seus amarelados dentes.

- Olha, eu tenho minhas dúvidas. Pela salva de palmas que recebi não pareceu que sou tão odiado assim

- Isso é porque seu fã-clube de capachos parece maioria, só que não é. O recado foi dado, se passar por cima disso, vamos tratora-lo em represália, quem sabe sirva de ensinamento pra outros vacilões incubados.

Frank tentou impedir o emocional de se abalar e controlou-se na reação ante aos olhares escarniantes.

- É desse jeito né? Agora ficou bem claro pra mim. Vocês podem ter razão quanto a me denunciarem à vontade se eu pisar na bola com a lei. Só que por essa postura, vejo que o DPDC tá carente de homem que honre a farda que veste. - disparou, logo saindo e esbarrando o ombro propositalmente no do policial que o ameaçou e o mesmo lhe lançou um olhar fulminante.

                                                                                 ***

Memorizando o endereço da casa da última vítima divulgada, Frank havia se direcionado até lá à despeito da ameaça dos policiais de entrega-lo ao "tribunal da segurança pública". A residência estava cercada de viaturas e o detetive tomava nota do relato dos pais de Brennan Coult, desaparecido na noite anterior ao retornar da festa de sua colega de classe Lori.

- Onde exatamente estavam durante a festa? Geralmente os responsáveis acompanham os filhos nessas ocasiões, é bastante normal. - disse Frank interrogando-os perto do alpendre.

- Fiquei em casa o tempo inteiro. - disse a mãe, uma mulher de cabelo castanho curto - Robert tomaria conta do nosso filho, se prestou a fazer companhia, mas acho que deu uma saidinha...

- Já disse mil vezes que não é nada do que tá pensando! - redarguiu o pai, um homem meio calvo com óculos de professor - Vamos colocar as ideias em ordem e focar no nosso filho, eu me importo.

- Se lhe importasse não o deixaria esperando. Que pretexto usou pra larga-lo? Posso pedir para os policiais checarem seu carro, quem sabe não encontram digitais além das suas que não sejam do Brennan.

Frank olhava para eles desconcertado, observando a discussão assumir natureza pessoal demais para interferir e saíra sem que percebessem. O detetive entrou na casa, mas travou assim que viu Fred se aproximando.

- Frank?! Tá fazendo o quê aqui? Foi mal, esse caso é todo meu, não vem perder tempo me dando sermão.

- Escuta, quando se trata de vidas inocentes, barreiras não existem pra mim.

- Nem mesmo uma lei oficial que restringe o seu acesso ao DPDC por deserção de segunda via? E isto apenas pelo fato de você ter sido um agente especial, imagine se não fosse. É uma pena branda.

- O que acha que eu devia estar fazendo? Um caçador profissional não pode fugir da sua luta.

- Você passou três meses fugindo, sabe-se lá por qual razão, então é bem hipocrisia sua dizer isso.

- Não é da sua conta o motivo que levou ao meu sumiço. - respondeu Frank, meio ríspido - E não tô afim de discutir com outro alguém do DPDC, já bastaram uns babacas engomadinhos me azucrinando, idiota fui em pedir informação à eles.

- Foram hostis com você? Na dúvida, sempre presuma demônios. - disse Fred, mostrando-se mais ameno - É meio estranho, muitos tinham bastante respeito por você e ainda tem...

- Eu não ligo mais pra aprovação de ninguém. - interrompeu Frank, franzindo o cenho - Tudo o que mais quero agora é valorizar o legado da família Montgrow, eu perco a minha paz se eu desistir.

- Realmente vai acabar perdendo se continuar se envolvendo naquilo que você foi desligado. Não quero te comprometer, Frank. Do fundo do meu coração, quero que você saia dessa e depois possamos nos tornar amigos, mas, querendo ou não, goste ou não... eu sou seu suplente. Você não é o único caçador dessa cidade, não pode monopolizar ao seu bel prazer.

- Acha que trabalho pra competir? Eu tive amigos caçadores, lutei com eles, sangrei com eles... Você não sabe nada sobre mim.

Logo que Frank virara as costas para o seu renegado parceiro de caçada, sirenes distintas às da polícia soaram do lado de fora. Ambos apressaram o passo e viram dois carros da equipe de busca e resgate parando. O chefe de operação, com seu uniforme marrom, vinha até os pais de Brennan com uma cara que indicava tudo, menos boas novas.

- Há pegadas suspeitas na área onde encontramos isto. - disse o chefe, mostrando o chapéu amarelo de aniversário com alguns doces que Brennan trazia consigo - Mandamos uma equipe alternativa pra seguir os rastros, fiquem tranquilos.

O pedido por calma não surtiu efeito e a mãe abraçou-se com o pai aos prantos. Fred era pura inquietação.

- Frank, vem comigo. - disse ele, baixinho.

- Como é? - indagou Frank, estranhando.

- Conversa franca e discreta no carro. Vem. - pediu, quase puxando-o.

O veículo próprio de Fred estava estacionado à alguns metros de distância atrás das viaturas. aproveitando a sombra das árvores. Frank sentou no banco do carona e o fitou com certa expectativa.

- Não tô gostando de como isso tá soando. - disse Frank - Tantos locais reservados e você me chama pra conversar logo dentro do seu carro. Meu nome saiu nos jornais hoje. Os repórteres vão vir daqui há pouco, se me virem do seu lado, complica mais pra ti do que pra mim. Então é melhor não enrolar.

- Quero você como parceiro. - disse Fred, exatamente do jeito que Frank pediu - Claro que eu não perguntaria, por isso achei melhor afirmar. Estou colocando meu emprego em risco pra não te deixar mal.

- Tá fazendo isso por piedade ou quê? Esse seu incentivo pode acabar ferrando com nós dois, sabia? Pensa direito no que tá sugerindo, não posso ser um colega-fantasma só por caridade.

- Não digo ser parceiro integral, apenas esporadicamente. - explicou Fred - É a chance que tô dando à você para pegar ou largar. Se pegar, prometo te acobertar nos relatórios. Se largar, terá que encarar os fatos, passar o bastão e seguir na vida independente de legado familiar ou promessas que fez pra si.

- Não sei... - respondeu Frank, encostando a cabeça no banco e fechando os olhos por uns segundos - Tá tudo uma loucura desde que eu voltei. Alguma coisa me diz que não posso confiar totalmente em você e a minha intuição é quase sobrenatural.

- Ainda é sobre o sequestro dos candidatos?! - disse Fred, expressando irritação. O celular dele tocara e ambos sabiam bem quem ligava - E aí, Carrie? O que me manda?

- Ei, essa fala é minha. - disse Frank, não contendo seu ciúme - Ou costumava ser... - entristeceu-se.

- OK, a gente vai averiguar isso de perto. Sim, a gente. - deu uma risada breve e meio nervosa - É que o Frank tá aqui comigo e... por favor, não surta e não conta pro diretor nem pra ninguém... tomei a liberdade de fazer dele meu parceiro. Por um dia.

A tensa olhadela de lado do novo colega instigou a mais profunda desconfiança de Frank.

- Espera, quer falar com ele? - perguntou Fred - Ah, não... Tudo bem, então sem problema. Valeu pelas informações. Tchau.

- Admite logo: Você não tá muito seguro de que me tornar parceiro e guardar segredo vai dar certo.

- Não descobriremos se não vermos na prática. A Carrie me disse o seguinte: Outras quatro crianças, todas estudantes do colégio primário, desapareceram em curtos intervalos. O que elas tem em comum? Sumirem depois das festinhas de aniversário que participaram. Temos de ir à escola colher depoimentos, quem sabe cheguemos a uma mesma conclusão.

- É um bom caso pra dizer que ninguém é inocente até que se prove o contrário. - disse Frank.

- Essa é sua forma de responder que topa sermos uma dupla da pesada? Tipo naqueles filmes de comédia policial?

- Ótimo, me convenceu porque tenho fraco por crianças metidas nessas coisas. - declarou Frank - Toca pra frente. - olhou para Fred que esboçou uma face alegre ao ligar o carro e dar partida - Ela não te chamou de tigrão, né? - indagou.

                                                                               ***

Escola primária de Danverous City. 

Inicialmente a dupla enfrentou uma dura discordância sobre os procedimentos, mas para que nenhum tempo a mais fosse perdido resolveram forçar um consenso. Na entrada, Frank idealizou separarem-se, o que Fred repreendeu, pois considerava a possibilidade da fonte do problema estar presente na escola de alguma forma. Os detetives individualmente foram coletar respostas. Frank batera na porta da coordenação e um homem gordo de meia idade usando óculos abrira a porta.

- Olá, eu sou Frank Montgrow... - cortou sua fala sentindo um peso no coração ao saber que estava impedido de se apresentar como detetive - ... eu vim destrinchar o caso dos alunos que desapareceram recentemente.

- Já era hora. - disse o coordenador - Prazer, Doug Berman. - apertara a mão de Frank gentilmente - Tem sido dias atormentadores pra todos os funcionários, muitos pais comovidos, isso incluindo os que não foram afetados por esse horror.

- Eu baixei a lista de chamada da turma da quarta série por antecipação e, dando uma conferida, os nomes que estão no relatório preliminar são de crianças dessa classe. As aulas foram suspensas?

- Não, o conselho disciplinar é quem bate o martelo pra maioria das decisões e por unanimidade votaram pela continuidade das aulas. - disse o coordenador, mostrando um cansaço que indicava não estar muito feliz com o que foi decretado - Eu sinto a dor desses pais como se fosse minha também.

- Eu entendo, sei como deve ser uma barra bem pesada pra função que você desempenha aqui.

- Se existe um lado bom, a professora substituta o define.

- E o que houve com a professora anterior?

- É a Diane, ou, como gosto de chama-la, Sra. Pelron, entrou na licença-maternidade faz duas semanas. Além disso, foi ela quem contribuiu para as festas de aniversário de alguns alunos.

- Ela é dona de buffets de festas?

- Não exatamente, está mais pra contratação de animadores fantasiados pra entreter as crianças com jogos, brincadeiras ou truques de mágica, a atração normalmente mais pedida.

- Truques de mágica... - disse Frank, guardando sua suspeita - Isso encanta qualquer um deles.

- E as faz sorrirem. - disse Doug, meio pensativo - O estranho é que houveram casos de reclamações de pais que relataram descompromisso dos animadores e querem reembolso. E ainda mais estranho... São os desaparecimentos ocorrerem nas mesmas noites das festas... Estão tentando ligar à isso ao empreendimento da Sra. Pelron para tacha-la culpada. O que a levaria a encabeçar sequestros dos próprios alunos? Particularmente, acho que é coincidência.

"Pra mim isso é conivência", pensou Frank, tomando seriedade. Enquanto isso, Fred entrava na sala da quarta série e avistou uma menina sozinha numa carteira aparentemente cabisbaixa.

- Você é pai de alguém que sumiu? - perguntou ela num tom sereno.

- Não, eu... Sou o detetive encarregado de solucionar o mistério dos desaparecimentos dos seus amigos. Ou você não é dessa sala?

- Sim, estudo aqui. Mas não quero mais. - desabafou, a voz chorosa - O que tá havendo nessa cidade? Por que de tantas coisas ruins? Sinto falta deles, até do babaca do Brennan... É tudo culpa da Lori.

- O que a Lori fez? - questionou Fred, agachando-se para conversar com ela.

- Estão comentando que foi por causa dela que o Brennan sumiu porque não pediu pra ligarem pros pais dele virem busca-lo e ele ficou sozinho até tarde depois que todos foram embora.

- Talvez a Lori não tinha pensado nisso. - especulou Fred - O trabalho de apontar culpados é da polícia, então acho bom que isso não destrua a amizade que vocês tem, apesar de tudo. E vê se não chora. Vamos achar o Brennan e os outros.

Fred limpou uma lágrima que escorria lentamente do rosto da menina.

- A professora Pelron também faz falta. Foi graças à ela que tivemos festas de aniversários divertidas. Ela deve estar arrasada. Os caras fantasiados que trabalham pra ela são os melhores no que fazem.

- Quer dizer que a professora de vocês... tem um ganha-pão extra? Bom saber. - disse Fred, assentindo e sorrindo de canto já teorizando. O sinal ressoou e os alunos da quarta série corriam diretamente à sala. Fred saiu ás pressas, despedindo-se da garota, mas ficou observando pela janela.

A professora substituta fez um anúncio que todos compreenderam igualmente.

- Bem galerinha, devido a esse triste caso envolvendo sumiços misteriosos de seus colegas nos últimos dias, a festa do Aaron, da terceira série, foi adiada para amanhã por respeito ao Brennan que como vocês devem saber está há pouco mais de 8 horas desaparecido. Vamos orar pelas famílias.

Fred assistia às crianças recitando a oração, mas algo não saía de sua cabeça: Sra. Pelron e sua ocupação alternativa. Frank andava de um lado para o outro num corredor sem decidir se ligava para Carrie ou considerava Fred um "intermediário" para os detalhes do caso. Fred o tocou, assustando-o.

- O que deu em você? - perguntou o substituto - Tá afoito, parece que vai explodir de ansiedade...

- Nada demais, só tô quase pirando com essa indecisão de ligar ou não para a Carrie. Mas eu sei que não posso ligar tratando ela como minha assistente.

- É melhor você pegar leve caso for ligar, pois senão não vai mais poder trata-la nem como amiga. Enfim... O que conseguiu?

- Um nome: Diane Pelron. Professora da quarta série, atualmente em licença-maternidade e que tem seu próprio negócio focado em fantasias para animar festinhas infantis. E você?

- O mesmo. Farão o aniversário de um garoto da terceira série amanhã que seria hoje. Já sei até proceder: Vou fazer com que me contratem para ser o fotógrafo, digo vou registrar tudo filmando com uma câmera infravermelho.

- Então também acha que a parte esquisita desse rolo tá nas fantasias, certo? - perguntou Frank, os olhos estreitados.

- Correto. Não falei que num momento iríamos pensar a mesma coisa? - disse Fred, entusiasmado, dando uma batidinha no ombro de Frank antes de virar-se e dirigir-se à saída. O ex-detetive do DPDC começava a respirar mais leve e a tolera-lo.

                                                                                ***

Diane Pelron, professora de cabelos castanhos prendidos num coque e lábios cobertos de batom violeta, passava a maior parte do seu tempo livre no compartimento "secreto" vizinho ao seu mostruário de fantasias, um recinto com piso em madeira e paredes tomadas por papel sépia cheio de detalhes, parecendo com um sótão organizado. Ela atendeu o telefone, impaciente com o toque.

- Alô? Oh, diretor Baxter, é um prazer falar novamente com o senhor após dias em trancafiada tendo que aguentar chutes na barriga e um marido super-protetor. - disse ela, rindo - Hum, um aniversariante da terceira série... - seu semblante mudou - Está bem, ainda hoje convoco um dos meus empregados, creio que ao menos um deles terá folga amanhã dos seus trabalhos fixos. Combinado. Amanhã mesmo, 10 horas, sem falta. Até mais.

Depois de terminada a ligação, Pelron dirigiu-se à uma porta de ferro num canto da sala e ao abri-la observou o corpo de Brennan deitado no frio chão do pequeno cômodo adjacente. Desviou o olhar para uma fantasia de coelho posta sobre uma mesa e sorriu feito alguém com vontade de aprontar.

Ao chegar o dia seguinte, a professora substituta preparava os alunos para irem à 3ª série aguardar o início da festa-surpresa e o animador que entreteria com seu carisma conforme fazia suas brincadeiras. Frank e Fred pararam o carro em frente à escola e discutiram os passos do plano.

- Não acho que é cedo pra um palpite. - disse Frank - Aposto alto em fantasma. Será que é outro estudante vingativo?

- Como assim outro? - perguntou Fred, ajustando o a câmera, vestindo um casaco preto de couro e usando um boné da mesma cor.

- Ah, é que no ano retrasado encarei o fantasma de um garoto da Danverous High School, ele buscava saciar uma vingança descontando em alunos do ensino médio. Tô com a sensação que é basicamente o mesmo impulso pra suas ações. Só não entendo a razão de um fantasma se esconder em fantasias e como isso se liga ao suposto envolvimento da Sra. Pelron.

- A gravação vai ajudar a descobrir. Vamos nessa. - disse Fred, saindo do carro. Ele continuou enquanto Frank descia - Peguei o relato de uma criança que disse ter sobrevivido a um ladrão de almas.

- Peraí, ladrão de almas? Quem é essa criança? E por que não contrariou minha teoria pra falar isso logo?

- Os pais não me forneceram a identificação - ambos caminharam juntos até a escola -, mas burlei as regras e entrei no quarto na maior furtividade. O menino tá recebendo acompanhamento psicológico, disse ter sido atacado pela fantasia sugadora de almas no dia que voltou de um aniversário.

- Vai saber né? Crianças mentem. Ele talvez inventou pra se preservar e não gostou de ser ouvido.

- E quanto à sua teoria... Bem, quis ver sua cara de espanto ao perceber sua teoria caindo por terra assim que eu revelasse minha entrevista com a única criança não-desaparecida. - disse Fred numa postura brincalhona.

- Ah sei... Muito esperto. - disse Frank, não disfarçando o sarcasmo - Isso que um bom detetive faz com o parceiro.

Às 10 horas, a festa tivera início e Aaron sorriu radiante com a surpresa calorosa da sua turma e da 4ª série reunidas alegremente. A sala estava enfeitada com balões coloridos e uma faixa de "Feliz Aniversário". Fred registrava o momento do parabéns pra você, mas de olho no animador trajado de coelho. A filmagem em infravermelho captava algo estranho no interior da fantasia. Passados trinta minutos, Frank, sentado numa das cadeiras de um corredor, presumiu que a festa teria acabado e levantou-se para verificar. Procurou por Fred na sala da 4ª série, mas não viu ninguém. Na da 3ª série ele também não estava, mas a festa parecia estar no fim e o sinal para a retomada das aulas tocaria a qualquer instante. Nenhum sinal do homem fantasiado contratado para agitar a comemoração.

Sua aflição aumentava à medida que Fred parecia ter sido abduzido sem deixar rastros. Passou por um depósito de objetos variados ao ouvir um barulho, parando para fita-lo com curiosidade. Frank estava à caminho do banheiro masculino esperando confirmar Fred se aliviando. Abriu a porta do depósito e deparou-se com a fantasia de coelho largada à sua direita.

- Olha só... - disse Frank, sorrindo de canto levemente - Deve ser um sufoco ficar nessa fantasia de coelho feioso se segurando pra não mijar nas calças. - voltou sua atenção para as coisas nas estantes de ferro do depósito e sacou um medidor de campo eletromagnético ligando-o ao puxar a anteninha - Aqui tá limpo. - disse, não constatando leitura.

No entanto, a fantasia moveu-se, pegando a cabeça de coelho e pondo no lugar. Enquanto o detetive mantinha-se de costas, o coelho-humano pegara um pé-de-cabra numa estante, mas Frank percebeu o ruído de ferro roçando e virou-se, logo sendo atacado pela fantasia que tentou golpeia-lo no rosto. Frank desviou abaixando-se e depois agarrou o pé-de-cabra que outra vez vinha direto contra ele, neutralizando um movimento. Tentou socar a fantasia, mas a mesma nada sentia e revidou com dois socos, respectivamente no nariz e no peito de Frank e por fim usou o pé-de-cabra conseguindo desferir um golpe contra o ombro esquerdo do caçador, derrubando-o. Antes que estivesse prestes a dar bater o ferro contra Frank, desta vez com intenção de mata-lo, o detetive sacara a pistola disparando contra o corpo do "coelho" que recuou, largando sua arma. A fantasia entrara em combustão de repente, surpreendendo Frank que logo pegou o extintor e despejou contra ela.

A fantasia queimada caíra dura no chão. Frank encarou intrigado, mas saiu do depósito ainda mais ávido por reencontrar Fred. O avistou com a câmera passando pelo corredor e veio até ele apressado.

- Onde você se enfiou? Fiquei te procurando quase pensando que você tinha sido sequestrado.

- E eu estava procurando você que deveria me esperar voltar da festa. Tá suado... Correu muito pra me achar?

- Acontece que acabei de lutar contra um coelho nada simpático. Um coelho que anda sobre duas pernas e sabe manejar muito bem um pé-de-cabra. - disse Frank, sentindo a dor no ombro - Antes disso, ouvi um barulho. Você o viu saindo?

- No momento das fotos o "animador" - fez aspas com os dedos - saiu de fininho da sala, a professora e as crianças notaram a ausência e ela, sem muita certeza, disse que ele foi ao banheiro.

- Foi ao depósito. E não é ele, não é ninguém. Podia jurar que a fantasia estava vazia e do nada ele ganha articulação e tenta me matar. É fantasma ou não é? - apontou para a câmera - E tem outra: Ela pegou fogo quando atirei.

Fred sentou-se num banco do corredor e converteu à filmagem ao seu laptop. Frank aproximou-se para ver o resultado. O play foi apertado e a gravação reproduzia no filtro infravermelho.

- É agora. - disse Fred, fixamente olhando o objeto flutuante dentro da fantasia - Tá vendo essa bolinha laranja pairando?

- Que diabos é isso? - se perguntou Frank - Na certa, essa coisa explica a origem das fantasias criarem vida própria, algum tipo de artefato místico, o que de uma forma bem superficial acaba explicando o fogo. Mas sumir com crianças de uma mesma sala... - ele cortou sua fala ao pensar - Fred, acho que saquei qual é a da professora, a Sra. Pelron. Com toda a certeza, a mente criminosa desse caso é ela. Vamos pegar a estrada e ir direto à casa dela fazer uma visitinha furtiva.

- Ei, espera aí. - reclamou Fred - Não fale como se você fosse o motorista. - levantou, alcançando-o.

                                                                             ***

Já pela tarde, o sedã preto de Fred cruzava solitário a rodovia rumo à casa de Diane Pelron que localizava-se numa área residencial fronteiriça. O recente contratado do DPDC mal acreditava no que Frank atestava.

- Uma bruxa?! - disse Fred, o cenho franzido - Tô precisando mesmo estudar, você bem que podia me dar aulinhas particulares, tipo um curso intensivo de como enriquecer seu conhecimento de caçador.

- Não tá falando sério né? - perguntou Frank - Não sobre te ensinar e sim essa sua reação porque falei que ela é uma bruxa.

- Frank, perto de você, eu admito, não passo de um principiante que teve sorte de lidar com coisas pequenas até agora sem ficar entre a vida e a morte numa cama de hospital. Faço isso há apenas três anos.

- Posso te perguntar uma coisa pessoal? Qual foi sua maior influência pra seguir nessa vida maldita?

O celular de Fred tocou no instante que ele abrira a boca para responder. Carrie estava na linha.

- Diz aí, Carrie. - Fred pusera no viva-voz para Frank escutar.

- Bem, Fra... - a assistente cortou - Digo, Fred. Não foi difícil garimpar na internet a respeito desse objeto detectado pela assinatura térmica. O formato hexagonal bastou para descobri-lo. Se trata de um talismã milenar muito utilizado no ritualismo xamânico com a finalidade de conceder vida à objetos inanimados e principalmente reanimar cadáveres e até mesmo controlar almas. Esse troço canaliza uma magia muito poderosa para que o praticante use da maneira que bem entender. Parece que nossa professora malvada é fissurada em fantasias estranhas de coelhos. Será que ela é fã de Donnie Darko?

- A desgraçada controla o talismã de longe. - disse Frank - Tá na cara que a fantasia de coelho que me atacou nada mais era que uma arma pra em emboscar. Talvez nesse exato momento ela esteja nos observando sabe-se lá com o quê.

- Brigou com uma fantasia, Frank? Perdeu ou ganhou? - questionou Carrie.

- Sem meter uma bala nela, acho que eu ficaria com um galo na cabeça. E olha que nem pensei em levar armas pra escola devido ao aniversário do moleque lá, tomara que o tiro não tenha chamado atenção. Valeu pelas infor...

- Obrigado, Carrie. Nos vemos mais tarde, tchau, tchau. - interrompeu Fred, desligando rapidamente. Frank fez uma expressão indignada - O que foi? Essa fala não é mais sua.

Em sua casa, mais precisamente na sua saleta secreta, Diane, de olhos fechados, espionava os detetives tocando na sua bola de cristal com faíscas púrpuras dentro. Abriu os olhos e grunhiu bastante irritada.

- Miseráveis. Me acharam. - disse ela, logo  dirigiu-se ao sue livro de encantamentos sobre a mesa e recitou um feitiço para convocar sua coleção de fantasias, instruindo-as a se esconderem nos cantos escuros do cômodo onde ficavam para pegarem qualquer um deles em guarda baixa. Frank e Fred concordaram em entrar por pontos diferentes.

O ex-detetive do DPDC chegou ao ateliê das fantasias e retirou sua pistola, pondo-a em riste. Haviam duas luminárias de chão e Frank girou uma delas para levar o facho num dos cantos opacos. Deu de cara com uma fantasia de coelho azul vindo ataca-lo com um machado e acertou a luminária. Outras quatro fantasias - três "coelhos" e um arlequim - vieram para somar forças contra Frank que viu-se cercado. Mais apareceriam, porém desarmadas. Todas partiram para cima do detetive de uma vez só. Enquanto isso, Fred andava num corredor estreito e viu uma porta entreaberta, abrindo-a devagar depois.

Entrou velozmente apontando a arma para Diane que levantou as mãos rendida.

- Receio que veio pro lugar errado. - disse ela - Você e seu amigo tiveram uma péssima ideia.

- Ah, é claro, porque te peguei num flagrante. Esse livro aí por acaso não vende em livrarias comuns né?

- Que tolinho você. - disse Diane, debochada - Me referia ao plano de se dividirem. Pensando nisso, antecipei meu contra-ataque. O seu parceiro está agorinha enfrentando minhas adoráveis fantasias.

- Ele dá conta. Seja uma boa perdedora e vai me mostrando onde estão as crianças, todas elas!

- Todas elas não, infelizmente. - fingiu tristeza - Realmente quis pegar seu amigo numa armadilha, os vigiei desde ontem quando visitaram a escola, você até falou com uma pirralha chorona que defendeu um dos meus piores alunos.

- O Brennan? Afinal, o que quis dizer antes? O que fez com as crianças? Tem pais inocentes desesperados por te-las de volta! - reforçou sua posição ameaçadora.

- Seu amigo deu um tiro certeiro na fantasia que atingiu o talismã, por isso ela queimou. E por isso uma das crianças não pode mais ser revivida. O talismã abriga a alma após o feitiço absorve-la. Uma vez destruído, o recipiente se vai junto com a alma. Se não quiser que seu parceiro destrua mais almas de amáveis crianças - falou com enojo explícito - é melhor me deixar ir.

- Por que? Que motivação insana você teve pra causar sofrimento à famílias decentes?

- Decentes? Eu, como professora, me permito a quebrar regras éticas para mostrar aos pais inaptos dessas crianças onde eles falharam. Não era um simples castigo e sim o castigo. Eu cansei de ser desrespeitada diariamente, levando desaforo pra casa por causa de serzinhos malcriados e petulantes!

- Então mentiu pro coordenador e pro diretor pra conseguir licença-maternidade e não dar mais aulas?

- Nunca menti sobre isso, mas veio a calhar. A propósito, meu marido está chegando de viagem e ainda não lhe contei sobre nosso filho. Portanto, um pouquinho de sensibilidade não vai queimar seu coração.

- Frank, na escuta? Como está aí? - perguntou Fred pelo comunicador preso ao ouvido - Frank?

O detetive que outrora foi o número 1 do DPDC sofria nas mãos das fantasias que socavam-o incessantemente.

- Pelo visto, ele está bem ocupado. - disse Diane - O que vai ser? Ele ou eu? Aliás, as crianças ou seu amigo?

Fred destravou a arma, a mão ensopada de suor gelado.

- Tá mentindo. Não tem bebê nenhum aí dentro. É apenas um subterfúgio sentimental, não vou cair nessa. - disse ele, não pensando duas vezes antes de atirar. O disparo acertou a barriga de Diane, manchando a blusa carmesim da bruxa. Diane recuava, sentindo a dor da ferida e caiu agonizante. Ela fez um último esforço para abrir, com sua magia, a gaveta de uma cômoda atrás de Fred.

- Ali... - apontou ela, ofegando e pressionado a ferida - Veja. Tem uma foto do ultrassom.

Fred, sentindo-se contrariado, deu uma conferida no papel, vendo a impressão da ultrassonografia do feto de 1 mês. Uma torrente de culpa e arrependimento o tomou e piorava a cada soluço e balbucio doloroso de Diane. Largou a folha, abalado. Virou-se para a professora-bruxa só para vê-la morrer com a imparável perda de sangue.

- Eu sinto muito. - disse ele, tristemente.

- Vai pro inferno. - redarguiu Diane, meio que num sussurro, um segundo antes de vir a óbito.

No ateliê, todas as fantasias simultaneamente foram ao chão, totalmente imóveis. Frank cobrira seu rosto com os braços protegendo-se da onda de socos, mas não demorou a perceber que as fantasias voltaram a ser inanimadas. Partiu para encontrar Fred na saleta com a arma em punho.

- Fred! - disse ele, entrando invasivamente - O que aconteceu? Você... - baixou os olhos para a arma que ele segurava e em seguida visualizou o corpo de Diane - Cara, deixa eu te falar uma coisa...

- Não. - disse Fred, fungando e limpando lágrimas - Ampara as crianças, eu te espero no carro.

Frank escutava vozes abafadas e agitadas no compartimento adjacente e andou para verifica-lo, mas sua preocupação com o estado de Fred não podia ser facilmente ignorada. Ainda assim, foi dar uma olhada nas crianças, todas aterrorizadas ao não saberem onde estavam. No entanto, somente uma delas não havia despertado. Frank identificou Brennan como o único desaparecido morto.

                                                                                  ***

Dentro do carro, Fred esperava por Frank que vinha para conversar acerca de algo que um caçador principiante deveria ouvir. Algo relacionado a sacrifícios. Frank adentrou no carro, sentindo o peso do clima e suspirou.

- As crianças estão bem. Comportadas e pacientes na sala só aguardando a polícia chegar. - disse Frank, olhando-o - Quero ter um papo sério, e bem sério, contigo, de caçador pra caçador.

- A única coisa que quero é responder por homicídio doloso. Frank, eu matei uma mulher grávida!

- Pensou que ela estava mentindo pra se afastar da escola e dos seus alunos né? Isso foi natural.

- Eu tô ouvindo isso mesmo?! Não foi legítima defesa, ela não podia fazer mágica pra me ferir por conta da gravidez e confiei no instinto errado. Toda punição que eu merecer ainda será pouca.

- Para de sentir pena de si mesmo! - disse Frank, aborrecido - Ela estar grávida é um detalhe, você tem que considerar as circunstâncias. Só que nem sempre acaba bem. Sabe que tô falando por experiência própria. O que aconteceria se você a deixasse lá pra me salvar? E também você não ia conseguir obriga-la a desfazer o feitiço. Eu atiraria nas fantasias sem saber que as almas iam pro saco, mas ainda bem que vieram um montão delas me esmurrar que nem valentões de escola.

- OK, isso ajuda a fazer me sentir menos culpado. Essa é a maldição de todo caçador? Carrega essa fardo há tantos anos?

- Pois é. Tem situações que nos colocam num beco sem saída pra nos provar que não somos tão bons assim. E só termina de um jeito bem doloroso e sangrento. É cometendo falhas e quebrando a cara com os instintos que a gente aprende.

- O que vai fazer pra limpar minha barra?

- Na verdade, já fiz. Plantei uma arma, coloquei na mão dela, tirei e pus no chão. E outra sem digitais, um pouco mais longe, pra esclarecer que foi uma invasão domiciliar criminosa. Provavelmente vão suspeitar de algum dos pais, mas...

- Nem sei o que vou dizer aos pais do Brennan. Frank, pela primeira vez... me vejo dependente de você.

Sirenes de viaturas ecoavam por várias direções e as crianças olhavam pela janela.

- Se abaixa. - pediu Fred - Me deseje sorte.

- Vai que é tua. - disse Frank, logo abaixando-se para não ser visto pelos policiais. O detetive, após Fred sair, entreviu a ponta de um papel no porta-luvas e puxou. Uma foto antiga de Fred na infância com um tiranossauro verde de brinquedo. Frank sorriu de leve - Engraçado... Também tive um desses.

                                                                                 -x- 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Cena do filme "Coelho, a Coisa Assassina"

*Imagem retirada de: https://bocadoinferno.com.br/cinema/2016/03/18-coelho-a-coisa-assassina-e-pura-perversao-sexual/

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