Crítica - Yu-Gi-Oh!: Pirâmide de Luz


Uma trama que renderia uma boa saga no anime em vez de enxuta num filme.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Fazer filme de anime shounen não deve ser das mais simples missões. Eu me peguei a pensar ao término deste primeiro longa-metragem do garoto de cabelo estranho fissurado em duelos de monstros: O que é preciso para dar uma abordagem diferente para fugir do lugar comum no que se refere a filmes de animes? É uma condição inescapável de uma produção desse meio, que arca com recursos técnicos mais elevados, sair como um episódio esticado do anime de onde proveio. Os OVAs ficam à parte desse julgamento, pois são episódios especiais podendo conter uma duração maior e uma qualidade de animação relativamente superior. Mais além eu pensei: Yu-Gi-Oh! necessitava mesmo de um filme para trazer uma história inédita? O anime não poderia ser simplesmente encarregado disso? Ah sim, o filme é datado de 2004, acho que nessa época a série clássica já tinha finalizado sua transmissão e seu ciclo narrativo (o qual dois anos mais tarde ganharia uma continuidade extra chamada Capsule Monsters), a franquia estava às portas da então nova fase (nem amada e nem odiada) de Yu-Gi-Oh! GX. Mas ainda mantenho a ideia de que esse "arco" de Anúbis poderia ser mais extensivo do que 1h30.

Não digo que eles perderam uma chance valiosa, afinal o enredo não traceja algo de puro desenvolvimento narrativo, apesar da interligação profunda com o passado do protagonista (ou co-protagonista, já que o Yugi Muto e faraó Atem são diferentes entre si na personalidade e obviamente o Yugi é a peça central da história enquanto o faraó desmemoriado pode ser entendido como um acessório de apoio para fazer um link com a jornada dele, porém não menos importante - devo ressaltar -, mas fica sempre estranho quando, durante os duelos, os amigos se dirigem ao faraó como Yugi, mesmo que ambos compartilhem de uma ligação pelo destino) envolvendo uma figura da mitologia egípcia maligna (Anúbis, o deus da morte) que ressurge após 5.000 anos para destruir o mundo e ter sua revanche contra o faraó. O que não chega a causar tanto impacto, até porque o mundo já dependeu de duelos para evitar uma catástrofe de grandes proporções (Batalha na Cidade e Lacre de Orichalcos). Os duelos são uma parte intrínseca à obra, tal como as lutas em Dragon Ball, as batalhas pokémon, as disputas de beyblade e as digievoluções em Digimon, não tem como subtrair aquilo que fornece coerência existencial ao universo fictício estabelecido para sair total da mesmice, em casos de longa-metragem, correndo o risco de uma descaracterização. Nisso eu entendo. Contudo, por outro lado acarreta no problema que descrevi no parágrafo acima.

Kaiba continua na sua obsessão competitiva (e sendo o grande mau perdedor que é) ansiando derrotar Yugi a qualquer custo (tá, nem todo custo, não consigo imagina-lo numa barganha com o Pegasus apostando a propriedade da empresa num duelo contra seu maior rival em troca de uma carta possivelmente única para vence-lo, então é evidente que eles resolveriam isso num duelo) porque seu ego é do tamanho do poder dos três deuses egípcios juntos e não aceita ser passado para trás (pois é, ele é um exemplo bem significativo de um rival de shounen que deseja mais do que tudo superar o protagonista - ao lado do Vegeta, claro, esse sim dispensa comentários). E quem melhor a recorrer senão ao criador dos jogos de monstros de duelo (e ex-antagonista)? Antes disso, Yugi estava remontando o Enigma do Milênio, só que mal sabia que estava libertando o espírito do faraó assim como também o de Anúbis que passou três anos na busca para restituir seu corpo físico. O prólogo tem um suspense que quebra temporariamente, de forma leve, essa aparência de episódio alongado (e pensar que Yugi indiretamente foi responsável pelas mortes daqueles arqueólogos O_O). Era apenas questão de tempo até Kaiba conseguir seu trunfo e desafiar Yugi ao duelo acirrado. O artefato que dá título ao filme é um item crucial para Anúbis que implantou, como um humanoide invisível, uma carta, de mesmo nome no baralho de Pegasus e ao fim do duelo com Kaiba ele acaba entregando a carta prometida, mas sem perceber o mauricinho (como Joey adora chama-lo) pega outra que é a Pirâmide de Luz (que aprisiona ambos no campo de batalha) - um meio que Anúbis utiliza para desgastar as forças de Atem ao longo do duelo enquanto toma o lugar de Kaiba para concretizar sua vingança. Um enredo básico que caberia facilmente numa saga transitória de 20 a 30 episódios.

Como esperado, Yugi (após libertar-se do Enigma do Milênio para onde foi tragado juntamente aos seus amigos - tirando a Tea que foi de intrometida =P) e Atem derrotam Anúbis, desfazendo a profecia apocalíptica do seu retorno, graças ao foderoso Dragão Brilhante de Olhos Azuis parecendo uma versão cyber do Olhos Azuis que os fãs conhecem. De atrativo funcional, somente o verniz de animação bem feitinha com filtro de cores mais vibrante e sombramentos mais grossos (quem não aprecia muitos efeitos 3D, adorará a parte técnica e se fosse lançado hoje certamente o jatinho de Dragão Branco de Olhos Azuis do Kaiba seria todo coberto de CGI - argh, não ficaria bom mesmo). No tocante ao narrativo, é aquilo que via de regra acontece: Uma saga condensada em 1h30, o que pacientemente daria em usuais 23 minutos episódicos.

PS: Uma dúvida excruciante que ficou foi Joey e Tristan chegarem, de penetras, à Corporação Kaiba pouco tempo depois do Yugi entrar e pegar o elevador. E aí? Pegaram um táxi ou seguiram a limousine correndo? @_@

NOTA: 7,0 - BOM 

Veria de novo? Provavelmente sim. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://www.infoanimation.com.br/2018/02/primeiro-filme-do-anime-yu-gi-oh-sera.html

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