Frank - O Caçador #55: "Dias de Luta, Dias de Glória"
INÍCIO 5ª TEMPORADA
Caminhando entre os cadáveres espalhados nos corredores, tanto de caçadores quanto de espers, o ESP-47, que havia sido liberto de seu confinamento, explorava a instalação subterrânea da fundação silenciosamente, deixando pegadas de sangue no piso branco. Nas mãos ainda gotejava sangues misturados de suas vítimas. Com um semblante austero, procurava uma saída, mas acabara encontrando uma sala cuja porta de aço lhe chamou atenção. Desferiu um soco na porta, amassando o metal. Em seguida, tomando ciência da extensão de força física, arrancou-a como o mais fino papel, largando-a no meio do corredor com retumbante barulho. Nesta sala em que adentrou havia monitores ligados e um largo painel de controle abaixo deles. Por alguma razão inexplicável para ele, começou a mexer em alguns botões, fazendo passar diversos arquivos de vídeo nas telas, avançando para um arquivo diferente. Seu foco reforçou-se ao parar numa gravação antiga.
Era um documentário que destrinchava a queda de um objeto voador não-identificado em Roswell, no Novo México, datada de julho de 1947. Passou os olhos atentos pelas imagens. Cada tela apresentava um trecho do documentário e podia assimilar todas as informações emitidas ao mesmo tempo, sua atividade cerebral operando em níveis sobre-humanos de absorção do conhecimento. Um cérebro funcionando como se fossem dez, para resumir. O incidente em Rosweel lhe desencadeou alguns flashes de lembranças nebulosas, lembranças que ele sabia terem estado retidas, porém bloqueadas.
Associando as memórias aos registros, mais se desbloqueavam, estas relacionadas ao experimento a que foi submetido onde introduziram no seu código genético o DNA do principal alvo da fundação ESP na época em que realizaram os procedimentos. A imagem do rosto de Frank Montgrow não era um reflexo do que ele pensaria ser seu verdadeiro rosto e sim uma duplicação descarada. "Quem eu sou, afinal?"
Olhou para um computador numa mesa à esquerda e começara a teclar pesquisando uma ficha com o nome do seu "gêmeo". Facilmente o nome de Frank encontrava-se no banco de dados da fundação.
A cópia assimilou tudo, desde dados pessoais até filmagens de câmeras escondidas nas salas do DPDC e nas ruas (por meio do Big Brother), facilitando que empreendesse uma imitação dos trejeitos do detetive em favor do plano que traçava. Mas enquanto via uma gravação de Frank conversando com Carrie sobre um caso corriqueiro, agentes da ESP percorriam o corredor armados e com lanternas presas aos capacetes. Ao notarem a porta da sala de arquivamento retorcida, pararam cautelosos.
- O conselheiro Hoeckler não especificou a ameaça... - disse um agente.
- Mas pelo que vemos, dá pra se ter uma ideia. - disse um outro que se colocou à frente do grupo para averiguar - Não tem como descobrir sem olhar, independente do quão impreciso foi o conselheiro.
- Estaremos bem aqui, de prontidão. - falou um outro - Ao primeiro sinal negativo, vamos agir.
A cópia ouvia ruídos de passos, mas ignorou completamente focadas nas gravações. Foco que não durou mais ao sentir o cano da metralhadora encostando atrás da sua cabeça.
- Não queremos machuca-lo, Montgrow. Então facilita nosso trabalho e se rende. Veste umas roupinhas também. Não sei o que te deu, mas... é bom se recompor. - disse o agente que entrou, pensando ser Frank - Muito bem, pessoal, fora de risco, podem vir. Já detive, não é o ESP-47, é... Frank Montgrow e... está pelado. - franziu o cenho, falando no rádio-transmissor colado ao seu colete.
- Você não entende que... dizendo que não quer me machucar... facilita o meu trabalho. - disse o clone, de repente virando-se. A metralhadora disparou para cima e o clone jogou o agente contra o painel de controle dos monitores e em seguida rasgou a garganta dele num golpe hábil. Respingos de sangue manchavam as telas, que ainda passavam o documentário sobre Roswell, a cada ataque que o ESP-47 usava para trucidar o agente.
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CAPÍTULO 55: DIAS DE LUTA, DIAS DE GLÓRIA
Três meses depois
Lá estava um desolado Frank sentado no banco dos réus do tribunal prestes a ser sentenciado num julgamento correndo em absoluto segredo de justiça. Uma estranha saudade de sua experiência com Radamanto consumiu ele numa nostalgia irônica. A diferença era que estava algemado e acusado de um crime pelo qual foi conduzido a cometer em virtude de uma armação orquestrada por Hoeckler.
"Não posso ir parar atrás das grades sem escorraçar aquele desgraçado.", pensou ele, ressentido.
- Sem o comparecimento da testemunha, me resta proclamar a sentença. - disse o juiz que fora informado de que a testemunha cancelou sua ida ao tribunal - Eu declaro Frank Montgrow, agente investigativo do Departamento Policial de Danverous City, culpado pelo crime federal de violação da segurança nacional pelo descobrimento indevido de um projeto sigiloso da área científica e militar.
- Ma-mas... Os seguranças, eles estão de prova. Me deram passagem porque provei ter sido autorizado pelo superintendente Hoeckler, e não é só isso, meritíssimo...
O juiz bateu com irritação o martelo.
- Silêncio! Cumprirá pena de 35 anos em regime fechado, haja vista que exerceu como autoridade de segurança pública. Considere isso uma regalia. - os olhos ferrenhos do juiz encaravam o detetive.
Um pesadelo se descortinava aos olhos de Frank. Sua vida deu uma guinada adversa. O detetive foi levado por policiais para uma penitenciária de segurança máxima. Frank, já uniformizado com a roupa padrão dos presidiários do local - um macacão azul escuro - se esforçou para não encarar os detentos que de dentro das suas celas zombavam por um homem da lei ver o sol nascer quadrado. Sentia-se estar atravessando antecipadamente o corredor da morte. Sua vida para ele encontraria fim inevitável ali.
Nas semanas que se passaram, Frank foi exposto a todo tipo de humilhação e tortura que poderia esperar dos detentos menos amigáveis. A pior delas sem dúvidas foi o distraírem enquanto ele tomava uma água, fazendo-o deixar o copo numa mesa e ir ver uma confusão de mentira que ocorria no pátio. A deixa perfeita para um dos comparsas do desprezível Tony Blindado, o peso-pesado mais temido dos detentos mais frágeis e até dos carcereiros, adicionar um líquido distinto na água. Após ver que não passava de uma "brincadeira", Frank voltou ao bebedouro e tomou o resto da água no copo descartável.
Passou horas dormindo como um bebê. Ao acordar, teve um susto de fazer sentir o coração querer saltar pela boca. Estava preso numa cadeira na sala de recreação cercado por detentos fazendo caretas maldosas e dando risadinhas infames. Um deles veio aproximando-se com uma máquina de raspar cabelo ligada no zero. A cabeça de Frank foi fortemente segurada enquanto a máquina raspava cada fio de cabelo, em sua maioria grisalhos, do detetive. Frank tentou gritar o mais alto que pôde, mas a mão que tapava sua boca era como uma focinheira que apertava sua mandíbula. Convenceu-se de que seu inferno astral reiniciara.
***
Um ano depois
Frank tentava paciente e insistentemente furar uma caixinha de suco com o canudo sentado num banco do pátio durante o horário matinal de lazer. Alguns detentos jogavam basquete na quadra. O detetive estourou seu pavio, cogitando abrir a caixinha com a mão à força. Chase, um jovem detentos de cabelo preto curto e uma barbicha destacada, fizera uma cesta no jogo e comemorou com seus colegas de cela. De repente, notou a presença de Frank na sua peleja e foi até ele falando para os demais que voltaria depois.
- Quer ajuda com o suquinho aí? - perguntou ele.
- Não, valeu, se quiser... - disse Frank, levantando-se - ... pode ficar pra você. - entregou a caixinha e o canudo para Chase - Minha sede tá pedindo uma bebida com sabor mais quente. Só pra ver se ameniza toda essa angústia que passo aqui.
- Que tal uma partida de basquete? Tava reparando em você faz um tempão e...
- Olha, eu não jogo nesse seu time, então posso aceitar brincar ali com vocês. - disse Frank, fazendo um julgamento precipitado.
Chase franziu o cenho, fazendo que não com a cabeça.
- Cara, não quis dizer isso que tá pensando. Deixei mulher e filho pequeno pra cair nesse inferno.
- O que te colocou aqui?
- Posse de drogas e tráfico de influência. Tudo armação de gente que adora ver os outros lambendo o chão que elas pisam e invejam o sucesso alheio. Minha carreira na empresa foi pro buraco. Sabe... As pessoas querem te ver bem, mas nunca melhores que elas, essa é a realidade do mundo. E você?
- Armação também. Mas meu caso é fora de série e bem mais grave, eu ia tomar seu tempo contando.
- Me conta direito depois. E aí, vamos nessa? - perguntou Chase, dando um sorriso de canto e convidando Frank para participar do jogo. A nova partida começava, mas nenhum detento de posse da bola queria passa-la para Frank que estava praticamente isolado no time de Chase - Passa pro coroa!
Seria um momento propício para Frank provar que seu vigor de quase 50 anos parecer com 20. O detetive pretensiosamente desviava dos adversários buscando fazer uma cesta. Porém, vendo que sua chance estava acabada, jogou a bola para outro da equipe de Chase, só que acertara um membro do time rival bem na cabeça. O jogo parou de repente com o detento que recebeu a bolada indo até Frank furioso. Chase e os demais se colocaram á frente de Frank para evitar confusão.
- Tony, calma aí, relaxa. - disse Chase falando para um homem grandalhão, robusto e afro-descendente considerado o detento mais problemático por ter obtido seguidores ali dentro. Todos o chamavam de Tony Blindado - Ele não fez por mal, é novato no esporte. Manda a sua galera parar de se aquecer.
- Sai da frente, magrelo. - disse Tony, empurrando Chase para o lado - Meu papo é com esse vacilão aí.
- Ele tá certo, joguei de mau jeito. - disse Frank - É o azar de principiante, acontece.
- Há quanto tempo você tá aqui mesmo? - perguntou Tony, seus lábios carnudos realçando sua face truculenta.
- Faz um ano. - respondeu Frank, hesitante, temendo que os comparsas de Tony partissem para cima.
- É claro, tinha que vir de um calouro. - disse Tony, dando uma risadinha - Azar de principiante, meu chapa, aqui nessa bagaça, é vir tirar uma com a minha cara. Tá pensando o quê, hein? - empurrara-o.
- Pára com isso, Tony. - disse Chase - Ou a gente vai ser obrigado a... sair do pátio.
- Não, você ia dizer: acabar com a raça de vocês. Não é isso? Pois então tá. Era isso que eu esperava.
Os amigos de Tony avançaram em Frank que se defendia dos socos e chutes, mas não conseguia barrar alguns golpes, levando no rosto ou na barriga e tendo que revidar. Socou um detento aleatório com o punho direito, deixando Tony mais aborrecido. Os membros do time de Chase também partiram para a briga, usando golpes bastante violentos. Enquanto lutava, mais na defensiva, Frank notara um detalhe assustador: Um detentos piscou seus olhos rapidamente e eles mostraram-se totalmente negros.
"Eu tô alucinando, né?", pensou ele, incrédulo. A surpresa foi uma distração para que dois comparsas de Tony golpeassem com cotoveladas no peito, derrubando-o. Os apitos dos guardas soou agudo nos ouvidos de todos. Tony mandou aos berros seu pessoal recuar para não se passarem como os vilões da briga. Chase estendeu a mão direita para levantar Frank que deu a sua confiando na amistosidade dele.
- Se os guardas não tivessem chegado, você talvez ia levar um sacode pra nunca esquecer. - disse Chase - Mas pra um cara na meia-idade, você até que ainda tem gás. - aquilo arrancou um sorriso de Frank.
- Quem era aquele grandão metido à besta? - perguntou Frank.
- É o Tony Quesada, um dos maiores assassinos da Filadélfia. A galera chama ele de Tony Blindado, mais por ter sobrevivido a cinco tiros na barriga do que pela montanha de músculos.
- Todo mundo circulando! - esbravejou um dos guardas - De volta pra cela, vamos, circulando!
- Vambora. - disse Chase,saindo às pressas.
Frank andava devagar não tirando da cabeça os olhos pretos que viu de relance. "Não foi imaginação".
***
Um ano antes
Carrie tomou um susto ao ver Frank entrando na sua sala sem avisar. A assistente quase derrubou o copo de café aberto na mesa. O detetive - na verdade, o ESP-47 - visualizava o interior do recinto.
- Frank... Nem me passou pela cabeça que você viria hoje. Enquanto estivermos nos sete dias de luto pelo diretor, o trabalho aqui ainda continua facultativo. E você costumava bater.
- Ahn... Desculpa, eu errei de sala. - disse o falso Frank, virando-se para sair. Carrie estranhou na hora.
- Espera, espera, espera. - disse ela, levantando-se e indo até ele - Que papo é esse?
- O quê? Do que você tá falando? - perguntou ele, voltando-se para ela.
- Confundir minha sala com a sua, ué. O que tá havendo, Frank? Você não parece... no seu normal.
- Pode acreditar que nunca estive melhor. - disse Frank, dando um sorriso fechado.
- Ma-mas... Frank, você perdeu seu melhor amigo há dois dias. Já superou as cinco fases?
- Eu só refleti muito sobre... encarar os fatos e seguir em frente.
- Seguir em frente com a quase certeza de que o superintendente encomendou a morte do diretor?
O clone demonstrava sinais de impaciência.
- Eu não tô com cabeça pra pensar nisso agora. O que tem dizendo nas notícias da internet? - perguntou, indo para o computador de Carrie pesquisar casos possivelmente paranormais.
- Tem um caso supostamente fantasmagórico. - disse a assistente, estranhando a atitude do "detetive".
O falso Frank encontrou uma matéria a respeito de um OVNI caído num rancho da Baixa Califórnia.
- Vai ter que esperar. - disse ele como se não fosse nada - Peguei um caso menos trivial.
- Mas não é você quem se designa para os casos. O diretor interino não vai gostar lendo meu relatório.
- Sinto muito por ele, mas não posso deixar isso aqui passar em branco. Foi na Baixa Califórnia. Um homem se apropriou de um objeto voador não-identificado caído há duas semanas, ele é dono de um rancho e se recusa a dar satisfação pra imprensa e pra... homens de terno preto que vem incomoda-lo.
- Homens de preto, é? Será que já não foram lá novamente e conseguiram apagar a memória dele?
- É o que vou descobrir. - disse Frank, andando para sair da sala. Mas Carrie ficou irrequieta.
- Baixa Califórnia, Frank? Tem tanque cheio pra uma viagem dessas? E não é um caso que interessa às autoridades do DPDC! Você nem acredita nesse lance de extraterrestres e discos voadores!
- Eu quero acreditar. - disse o falso Frank, saindo sem fechar a porta. Despertava-se em Carrie uma suspeita em menor grau sobre aquele comportamento minimamente atípico de Frank.
***
Um ano depois
Na hora do almoço, os detentos faziam fila no refeitório para serem servidos. O prato do dia era uma sopa de galinha de sabor e aparência duvidosa. Frank fez cara feia ao olhar para a refeição.
- Isso aqui parece que sai do mesmo jeito que entra. - reclamou ele para o cozinheiro - Deu pra entender?
O funcionário não deu a menor consideração para a queixa. Inconformado, Frak se dirigiu para uma mesa, bem distante dos outros detentos dos quais não podia se aproximar mais do que 5 metros.
Na cozinha, um cozinheiro esvaziava no último prato de sopa um frasco de veneno com um rótulo branco estampando uma caveira com ossos cruzados. O mesmo sorria maquiavelicamente, os olhos inteiramente pretos como a mais profunda escuridão. Deixou pingar a última gota e levara o prato para o balcão, esquecendo do frasco na mesa. Frank pegou a colher e a mergulhou que parecia ter a consistência de um creme dental. Ele levantou a colher cada vez mais enojado com aquela gororoba pastosa e sem o menor apuro culinário, mas exatamente cabível para o nível de criminosos que acabavam lá.
- Essa sopa não é de comer, é pra pintar casa.
Repentinamente, um detento caiu sobre mesa sofrendo convulsões intensas e espumando pela boca. Logo em seguida, mais presos manifestaram as mesmas reações fatais, gerando um rebuliço entre os que não haviam degustado da sopa e cercavam os envenenados gritando alvoroçados por ajuda. Observando a comoção, Frank concluiu rápido que a sopa estaria envenenada. Mas havia a hipótese de nem todos os pratos estarem com veneno. O detetive, ainda assim, preferiu não arriscar nem uma colherada. Tirando proveito da algazarra com vários detentos xingando os cozinheiros de todos os nomes possíveis, Frank saiu impercebido do refeitório para a cozinha. Entrando, olhou minuciosamente. Notara o pequeno frasco de veneno na mesa, mas estava virado "de costas" para ele. O virou para visualizar a frente do rótulo com a caveira.
Dois carcereiros vieram, o flagrando com o frasco na mão.
- Ei, peraí, não é o que tá parecendo! - disse Frank erguendo de leve as mãos como um pedido para os homens não o agarrarem - Esse frasco aqui não me pertence, só tava averiguando. Devem saber que sou investigador, certo? Creiam na minha palavra, por favor. É a primeira vez que eu entro na cozinha.
- Se o que diz for verdade, devia ter nos chamado ao invés de pegar no frasco. - disse um carcereiro - As digitais do culpado estavam nele. Pra limpar seu nome, teremos que ver no circuito interno.
- Venha, até que se prove o contrário terá que ficar na sala do diretor prestando depoimento. - disse o outro.
Frank foi levado para fora da cozinha sentindo-se novamente sendo enquadrado. O cozinheiro possuído estava atrás de uma parede ouvindo-os, deliciando-se com os rumos que sua travessura diabólica estava tomando. Na sala do diretor, o detetive repetia a explicação feita aos carcereiros, mas com mais calma e detalhes.
- Eu não tentei liquidar ninguém por vingança. - disse Frank - Acredito que todos os pratos foram envenenados, inclusive o meu. Tá certo que no meio de tantos vagabundos tinham os caras que me atazanaram, fizeram da minha vida um inferno aqui, mas nunca que eu pensaria em revidar assim.
Um policial chegara pedindo licença para dar uma informação relevante.
- Checaram o circuito interno? - perguntou o diretor, um homem gorducho com espessa barba cinzenta.
- Sim, senhor. - disse ele, olhando de relance para Frank - Comprovamos que ele não foi visto em momento algum antes do envenenamento. Ele é inocente. Mas a câmera da cozinha cortou o sinal durante quinze minutos sem mais nem menos, o que é bem estranho. Isso bem antes dele entrar.
- Está liberado. - declarou o diretor.
Retornando ao refeitório, Frank estacou ao ver comparsas de Tony Blindado aplicarem uma surra num detento que não tem menos que o dobro do tamanho dos agressores. Os cozinheiros estavam fora pois foram chamados para serem ouvidos pelo diretor que autorizou investigação para identificar o culpado.
- Vocês aí, pela-sacos! - gritou Frank em alto e bom som - Por que não pegam um saco de pancadas maior?
Os criminosos viraram-se para ele ao mesmo tempo e mostrando olhos completamente pretos.
- Ah não... Esse lugar tá infestado de demônio, suspeitei desde o princípio. - disse Frank, um pouco tenso por não dispor dos meios de se defender contra os seres verminosos do submundo.
Sua única opção viável foi correr por onde veio. Os demônios o perseguem, largando o homem que haviam escorraçado, o qual sangrava pelos hematomas inchados no rosto. Frank dobrou por muitos corredores, tentando achar Chase em qualquer ponto daquela masmorra. Tendo certeza que os despistou, o detetive se escondera na sala de recreação que transparecia ser um refúgio seguro.
Não viu Chase ali em nenhum canto. Mas a porta fechou-se sozinha. Não exatamente sozinha, aliás.
- Ah, você tá aí. - disse Frank - Tava escondido atrás da porta por que?
- Pra te fazer uma surpresinha. - disse ele, aproximando-se com um jeito marrento.
- Essa não, até você também?! Achei que tínhamos formado uma camaradagem, acabei de te conhecer.
- Não, somos conhecidos de longa data. - disse ele, piscando seus olhos que exibiram-se pretos.
Uma ponta de esclarecimento se fez presente na mente de Frank. Sabia que não era um demônio qualquer que destronava facilmente. Sua intuição bem guiada lhe dizia naquele instante sem equívoco.
- Saudades de mim, velho inimigo? - perguntou o demônio - Tô na área de novo. Não só eu, claro. Meus irmãozinhos gêmeos também. Você sempre caindo na minha teia. Parece que é o destino.
- O meu destino é te mandar pro limbo, seu desgraçado. - disse Frank - Tinha sacado que era você... Replicador.
O demônio trancara com sua telecinesia.
- É uma boa salinha de jogos pra gente brincar, não acha? - perguntou, sorrindo diabolicamente.
***
Um ano antes
O falso Frank conduzia um interrogatório de modo a conquistar a confiança do Sr. Grant, proprietário do rancho no qual cria vários animais saudáveis. O pseudo-detetive seguia Grant até o celeiro.
- Atitude sensata não mostrar a localização do objeto. - disse o falso Frank - Mas é meio estranho que não tenham deduzido. O que o senhor fez pra afugentar os enxeridos?
- Eles viram o cano da minha espingarda e meu dedo no gatilho sem medo de apertar. - disse Grant, um encorpado senhor de 65 anos de cabelo grisalho penteado para trás e que usava uma bengala por conta de um problema na perna esquerda - Na verdade, acabei atirando. Mas não neles.
- Não sei quem é mais corajoso. Eles de ficarem insistindo ou o senhor pra ter essa audácia de atirar pra intimidar. - disse o falso Frank - Não falaram de qual organização estavam a serviço?
- Disseram ser do FBI. O favorito dos falsários. O que felizmente não é seu caso.
Grant abriu a porta do celeiro e adentrou com o pseudo-detetive vindo atrás.
- Aqui está. A geringonça que vi cair do céu em plena manhã.
O ESP-47 estreitou os olhos, ansioso para que Grant removesse aquele pano que cobria o OVNI. Grant tirou o pano, revelando o objeto. A cápsula de cor prateada parecia uma pequena nave com espaço limitado para um único tripulante - ou um tubarão metálico - e possuía o formato de um submarino de pequeno porte usado por exploradores aquáticos. A porta de vidro era protuberante e pouco transparente. O falso Frank aproximou-se, os olhos fixados contemplando a cápsula da qual viera.
Tocou na lataria de matéria-prima desconhecida e passou os dedos da mão direita por inscrições que nenhum cérebro poderia decifrar. Mais flashes de memórias despertadas invadiu sua mente aos montes. Porém, essas memórias não foram tão nítidas quanto as anteriores na exposição aos arquivos da ESP.
- Está tudo bem, detetive? - perguntou Grant - Parece estar com dor de cabeça.
- Não, eu só... me perdi nos pensamentos. Essa coisa não era muito pesada pro senhor carregar?
- Tive uma ajudinha dos meus velhos amigos que moram aqui nas proximidades. Prometeram não abrirem seus bicos pra ninguém que batesse na porta deles perguntando a respeito. - respondeu Grant.
- Os símbolos desconhecidos... - apontou para as inscrições talhadas no metal da lateral da cápsula - Não consultou nenhum especialista de confiança pra tentar descobrir o que significam?
- Já disse e torno a repetir: Não falei com mais ninguém sobre isso que não fossem meus amigos. A propósito, eu receio que aqueles homens de terno vão voltar e dessa vez com armas em punho. Por duas noites eu vi carros pretos rondando o terreno, não tenho dúvidas de que são eles.
- Se não for incômodo, eu posso... ser seu cão de guarda. Que tal? Essa noite inteira, nem vou pregar os olhos.
- Eu ficaria muito agradecido, detetive Montgrow. Excelente ideia.
O falso Frank esboçou um sorriso fechado, mas pouco sincero. Uma chance valiosa estava prevista.
***
Um ano depois
O demônio Replicador, usando o corpo de Chase, empurrara Frank com sua telecinesia fazendo-o voar contra uma parede. Logo pegou um taco de sinuca e o partiu ao meio com as próprias mãos para improvisar duas estacas com as quais pudesse empalar Frank. O detetive reergueu-se, não fraquejando tão simplesmente. Avançou contra o demônio tentando desferir socos precisos, mas o inimigo esquivava-se e tratou de atacar com os tacos quebrados. Frank se defendeu agarrando a ponta do taco partido que o demônio segurava no braço direito, segurando com toda a força para não ter um dos seus olhos atingido. O Replicador o empurrou contra a parede e Frank continuou firmemente segurando a ponta até que suas costas bateram no limite. O demônio usou a outra estaca para golpeia-lo, mas Frank rapidamente a segurou. As farpas machucavam suas palmas, mas tinha que fazer sua força prevalecer.
- O que te leva a pensar que pode me vencer nesse duelo? Lembra daquela vez no hospital? Eu nunca cheguei tão perto de destroçar seu ego de caçador não dando brecha pra que salvasse uma mísera vida.
Os dentes de Frank estava cerrados e as veias na testa saltadas refletindo a intensidade com que tentava manter as pontas das estacas o mais distante possível do seu rosto contra a força esmagadora do demônio.
- O desafio é um pouco diferente agora. Minhas cópias possuem quantos humanos quiserem para causar danos que você não vai consertar enquanto está aqui comigo. A melhor parte disso tudo é que você está sem o seu kit de proteção anti-demônio. O sal, a água santa, as balinhas especiais... Quem é você sem isso... senão um mero humano que pode morrer com a mesma facilidade com que se pisa numa barata?
- Cala essa boca! - vociferou Frank, erguendo as duas estacas para que tivesse uma abertura e com ela pôde dar uma cabeçada impactante contra o demônio que recuou uns passos para trás.
Paralelamente, um carcereiro flagrara um detento, possuído por uma das cópias de Replicador, portando um galão de gasolina e espalhando o líquido pelo chão. Ao bradar ordem, o carcereiro levara um banho de gasolina do detento que se virou para ele o encharcando inteiro. Depois acendera um isqueiro e o jogara sobre o carcereiro que saiu aos gritos pelo corredor com as chamas se alastrando pelo seu corpo.
Frank não mostrava sinal de rendição pelo plano do Replicador em curso.
- Doeu um pouquinho. - disse o Replicador, sarcástico - Mas aposto que doeu mais em você.
- Falei que ia te mandar pro limbo, né? Mas hoje só posso te mandar pra um outro lugar. - disse o detetive, tomando mais aproximação e pondo rapidamente sua mão esquerda sobre a cabeça de Chase. Frank recitou uma versão alternativa do exorcismo romeno que tinha por função expulsar o demônio e envia-lo direto para o inferno. O Replicador gritara estridente, os olhos e boca brilhando em amarelo fumegante. Com a neutralização total do Replicador, as cópias foram desfeitas simultaneamente. Um exorcismo que desencadeava em vários outros num efeito dominó extremamente veloz. Os detentos anteriormente possuídos ficaram bastante confusos ao se verem com galões de gasolina.
Frank saiu da sala de jogos, certo de que Chase ficaria bem e logo recobraria a consciência, para ver os danos que as cópias do Replicador teriam causado durante o tempo em que se ocupou em detê-lo. Encontrou o carcereiro rodopiando em pura agonia com o fogo que consumia sua carne. Avistou um extintor de incêndio, pegando-o rápido e logo despejando jatos de fumaça sobre o carcereiro. Apagado o fogo, Frank foi verifica-lo, mas ele foi ao chão gemendo de dores das queimaduras gravíssimas.
- Vou chamar ajuda. Resiste. - disse Frank com medo de que o carcereiro perdesse a vida com aquelas queimaduras horríveis. Porém, o carcereiro não resistiu à dor lancinante e executou o último suspiro.
Frank sentia-se tão péssimo quanto na ocasião em que enfrentou o Replicador no hospital. E novamente o monstro provara seu ponto que usava para pressionar Frank psicologicamente: Nem todos dá pra salvar.
***
Um ano antes
Agentes da ESP monitoravam cada passo dado pelo ESP-47 através da assinatura paranormal que ele deixava em qualquer rastro. Por essa razão, se dirigiam ao rancho de Grant. Os dois carros pretos e robustos estacionaram e os agentes saíam dos veículos pulando a cerca com suas armas nas costas.
O falso Frank vigiava pela janela da casa de Grant afastando um pouco a cortina.
- Eles vieram. - informou ele, deixando Grant nervoso - Você tem algum tipo de porão?
- Sim... - disse Grant - Só é um pouco difícil descer a escada por conta da minha perna.
- Então se esconda lá. Vou dar um jeito nesses intrusos.
- Você faz parecer tão fácil. - disse Grant.
- É porque será fácil. - disse o falso Frank, confiante.
Após apagar as luzes da casa, o pseudo-detetive saiu sem que fosse visto por um dos agentes e pegou um atalho para chegar ao celeiro primeiro. Os agentes preferiram não incomodar o Sr. Grant, crendo que as luzes se apagaram devido à recusa de ser importunado. Portanto, foram direto ao celeiro para se apropriarem do OVNI, cientes de que o ESP-47 estaria lá dadas as leituras de seus vestígios.
- O sensor está captando anomalia. - disse um agente segurando um aparelho similar a um iPad - É lá que ele está.
Seguiram para o celeiro e entraram cuidadosamente, as armas preparadas e municiadas.
- Ei, vejam. - disse um agente, apontando com o facho da lanterna presa ao seu capacete para a cápsula coberta pelo pano - O Objeto Voador Não-Identificado que o dono do rancho escondia.
- Tem certeza? - indagou outro - E se ele tiver enterrado? Talvez seja apenas um monte de coisas empilhadas.
Um vulto atravessou o facho da lanterna de um dos agentes que mirou sua arma.
- Temos companhia. - disse ele. O ESP-47 surgiu batendo neles com golpes pesados, letais e tão rápidos que sequer dava tempo de dispararem. Matou a todos brutalmente. Apenas um agente atirou com a metralhadora, mas o falso Frank se movimentou velozmente pelo escuro e logo pegara o agente desprevenido se segurando numa ripa de madeira grossa e dando um chute de dois pés contra ele que foi jogado para um monte de caixotes. O agente ficou assombrado quando sua lanterna ainda ligada iluminou o rosto raivoso do ESP-47 vindo sobre ele como um fantasma.
- Onde está a minha cápsula? - perguntou ele, o tom duro.
- Dentro... Dentro da fundação. - respondeu o agente.
- Eu já sei! Em que parte exatamente?
- Os conselheiros guardaram num contêiner que está numa sala cuja porta tem um leitor infravermelho que requer impressão digital de um agente previamente gravada no sistema de reconhecimento.
A criatura pensara por uns segundos no que fazer.
- Não posso te obrigar a vir comigo pra me dar essa ajudinha, né?
- Se tá pensando que eu vou...
O pseudo-Frank pegara o braço esquerdo do agente e arrancara o polegar numa facilidade extrema.
O agente soltou um urro de dor enquanto o ESP-47 virava-se na direção da cápsula e guardou o dedo num bolso externo do sobretudo. Abriu o compartimento traseiro da cápsula retirando um cilindro lacradas por duas tampas, nas duas extremidades, parecidas com porcas de parafusos e contendo um líquido verde e fosforescente. Desacoplou o cilindro do motor da cápsula e andou para sair do celeiro.
Mas antes pegou o celular para telefonar para Grant.
- Sr. Grant? O senhor está bem? Não tropeçou na escada? OK, mas o senhor ainda precisa ficar por aí até a polícia chegar, os rapazes tentaram me matar e agi em legítima defesa. A polícia virá em dez ou quinze minutos. Inventa uma desculpa sobre os corpos aqui. Se cuida, não há de quê.
Encerrou a chamada e estudou o cilindro, mais precisamente o conteúdo dele, excitado para desvendar mais segredos do seu passado que sua memória ainda parcialmente bloqueada.
Retornou à instalação subterrânea da ESP, finalmente encontrando a sala que exigia impressão digital autenticada no leitor infravermelho. A porta deslizou para o lado e enfim adentrara, vendo o contêiner vermelho à sua frente na sala em que o mesmo ocupava mais da metade do espaço.
Abriu as duas portas do contêiner. A cápsula, o objeto que caíra em Roswell, estava ali, praticamente em pedaços, muito desgastada, ao contrário da que Grant armazenava num estado semi-perfeito.
Num canto da sala havia um armário com uma porta de ferro estreita. Abriu-a e descobrira papéis grandes de projetos relacionados a construção de um motor quântico para ser utilizado numa potência que faria a estrutura a que se vinculasse alcançar a velocidade da luz. Ele lera anotações num caderno. Os projetos de restauração da cápsula e da criação do motor não foram postos em prática.
- Velocidade da luz... - disse o ESP-47, considerando uma ideia que o manteria naquele local abaixo da terra por um bom tempo. Voltou para observar a cápsula que o trouxe à Terra - É, mãos à obra.
***
Um ano depois
Departamento Policial de Danverous City
Prestes a finalizar o expediente, Carrie fez uma ligação para Owen, seu amigo criptógrafo com quem podia contar para qualquer favor que pedisse, não importando o quão arriscado seria.
- E aí, Owen, qual a nova da vez?
- O carro dele desviou da trajetória de sempre. Ele não pára em casa, mas... numa localização bem diferente. Quer o endereço?
- O que você acha? - indagou Carrie, impaciente. Após receber a informação, pesquisou na internet pelo serviço de imagens de satélites em mapas e viu as fotos do local que Frank estava frequentando - Esse é o complexo industrial onde ele... Não, esquece, deixa pra lá, eu quase cometi uma violação.
- Violação do quê? Não me contar o que o Frank ia fazer nesse lugar? Fala sério, Carrie.
- Não é da sua conta, Owen.
- E nem da sua. Eu tô tão curioso quanto você, mas não dá pra entender que neura é essa sua.
- Eu tô lúcida o bastante pra desconfiar que o Frank não vem agindo como ele mesmo. Tem guardado um segredo. Mas se de minha vista ele pensa que sai... tá muito enganado. Te ligo amanhã, valeu.
Depois de desligar, Carrie apoiou os cotovelos na mesa passando as mãos no rosto e imaginando a possibilidade teorizada por ela de que uma duplicata de Frank assumiu seu lugar cada vez mais forte.
Enquanto isso, na ESP, o falso Frank retirava o pano que cobria sua obra-prima.
A cápsula aterrissada em Roswell completada novinha em folha num trabalho impecável de restauração.
- Hora de voltar pra casa. - disse ele, contentemente ansioso para testa-la.
-x-
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: https://thundercheats.com.br/misteriosa-bola-de-fogo-cruza-o-ceu-da-australia-veja-o-video/
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