Frank - O Caçador #56: "O Inferno São os Outros"


O sono de Frank foi bruscamente interrompido pelo barulho alto da grade de sua cela abrindo-se. Coçando os olhos, o detetive viu turvadamente um policial jogar de forma agressiva dentro da cela e depois trancando-a. Um companheiro de prisão era tudo que Frank menos esperava... e menos gostaria. 

- Nem pra me dar uma satisfação. - disse Frank, reclamando do policial. Olhou para o detento - E você? 

- Deve estar se perguntando... porque ganhou um colega de quarto. - disse o rapaz de corpo esguio e magro. Levantou-se, limpando o seu uniforme azul de prisioneiro - Sou o Gavin. Caí aqui como lixo. Mas em compensação você parece ser um cara gente fina, então... acho que vou curtir uma vibe nova. 

- Não vai pensando que vou tolerar um acompanhante jogado na minha cela sem justificativa. 

- Nossa cela, a partir de agora. - disse Gavin que tinha um rosto fino e olhos grandes. 

- Eu não confio em ninguém, pra ser bem direto e honesto. - disse Frank, ranzinza. 

- Te dou todos os motivos do mundo pra você me aturar. Ou provavelmente... me ajudar. Eu fui expulso da minha cela, não sou um novato. A superlotação tá fazendo todos irem à loucura. Mas me tiraram de lá por uma razão que explica eu ver você como um possível protetor pra um cara tão indefeso. 

- Quer dar motivos pra te aturar, é? Primeiro tenta dar motivos pra eu ser seu guarda-costas, aí eu penso no assunto. 

Gavin fizera uma cara emburrada, incomodado com a resistência de Frank em depositar confiança. 

- Olha, eu participei de uma conspiração com meus ex-colegas de cela pra bolar um plano de fuga que eu mesmo sugeri. Estão achando que alguém vazou a informação e adivinha só de quem suspeitam. 

Frank não alterou seu olhar fuzilante de desconfiança. 

- Tá sendo ameaçado de morte? Por que os carcereiros teriam pena de um detento pra transferir? Os vagabundos podem pintar o sete nessa masmorra que nenhum deles liga pro que acontece, só querem saber de ficar passando o cassetete nas grades achando que são durões. - declarou Frank, enfezado. 

- Eu tô marcado pra morrer e eu vou morrer se acabar voltando pra lá se ainda sobrar alguns dos que me ameaçaram depois da transferência. - disse Gavin, a tensão estampada no seu rosto. 

- Até te daria uma força, mas não tô afim de ser escudo humano pra ninguém e muito menos me envolver em treta. Não te conheço, portanto eu não morreria pra te salvar de um esfaqueamento. 

- Já pensou em fugir daqui? 

- Quer planejar comigo a sua fuga? Esquece. - disse Frank, voltando a deitar no que chamava de cama.

- Não, é só uma pergunta. Nem que fosse uma vezinha... você não teve vontade de escapar daqui? 

- Não. É a maior prisão de segurança máxima da Califórnia. Contra fatos não há argumentos. 

- E se eu te disser que é possível fugir dessa merda sem respirar? 

Frank virou o rosto para Gavin levantando uma sobrancelha, ficando intrigado. 

- Aonde tu quer chegar? Como assim sair daqui sem respirar? 

- Tem um cara chamado Oswald, dizem que ele é um médium e pode fazer sua alma sair do seu corpo. 

- Uma projeção astral? - indagou Frank, sentando-se, um tanto interessado naquilo. 

- É, sabia que tinha um nome pra isso, só não sabia exatamente qual. O Oswald já prestou favores pra alguns caras bem durões que queriam muito a liberdade, nem que fosse por uma hora. Bem, disseram que uma hora é o tempo máximo que ele pode manter sua alma fora do corpo. Só que uns caras se deram mal... e nunca mais voltaram. Foram considerados mortos, claro. Eu conheço o Oswald de vista, mas poderia te apresentar ele. Se quiser uma chance de ter a sensação de liberdade temporariamente. 

Um pensamento dominou a mente de Frank por um instante. A questão que mais martelava: Como será que Carrie estaria seguindo em frente lidando com mais um desaparecimento de um amigo justo após a perda de outro? A reconsideração imediata sobrepôs-se à uma rejeição que não externou. 

- Ahn... Aonde ele costuma ficar na hora do recreio? - perguntou Frank. 

- Na sala de jogos, geralmente lendo um livro. O cara é na dele. - respondeu Gavin - E aí, você topa? 

- Acho que vou arriscar. - disse Frank - Tenho que checar como andam as coisas lá fora. 

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CAPÍTULO 56: O INFERNO SÃO OS OUTROS

Na época de preparativos iniciais do projeto que levaria à recriação da cápsula, os envolvidos haviam solicitado que construíssem uma sala exclusiva para testes. O falso Frank, trazendo a cápsula reformada num grande carro de puxar, acessara a ampla sala redonda de paredes pretas e com uma espécie de pista. Acendeu as luzes brancas, iluminando a pista de metal. Usando de sua força extraordinária, levantou a cápsula, que não possuía um peso tão significativo, embora um humano comum jamais pudesse ergue-la com a mesma facilidade, e levou-a para o ponto de largada. 

Adentrou na cápsula, ligando o motor potencializado pelo combustível esverdeado e fosforescente. No painel de pilotagem, completamente ímpar comparado ao de uma aeronave terráquea. Empurrou a alavanca de aceleração, dando a ignição necessária. Com expectativa, elevou o nível de velocidade. 

- Lar doce lar... aqui vou eu. - disse o ESP-47, otimista. 

A cápsula disparou como uma bala. O motor na parte traseira piscou uma luz verde intensa. Se alguém estivesse assistindo ao teste, veria nada mais que um ponto verde luminoso cruzar a pista num ritmo surrealmente veloz e desaparecer. Porém, o destino não foi o esperado. A cápsula irrompeu entre árvores altas de uma floresta que transpassou aterrissando desajeitadamente até que sua parte frontal rasgou o solo deixando uma trilha funda na terra por uns bons metros. Abrindo a cúpula de vidro para sair, o falso Frank não compreendia de início o que acarretou nas falhas. Desceu da cápsula, afastando-se e olhando o péssimo estado em que ficou com a queda feia. Arrependeu-se de não ter pego a cápsula que estava sob posse de Grant. Pôs as mãos na cabeça, entrando em desespero ao ver fumaça exalar. 

- O que aconteceu? - perguntou ele - Programei o destino corretamente, as coordenadas de retorno estavam traçadas pra serem seguidas à risca. Será que pode ter sido... - olhou para a parte de trás - Peças obsoletas? E o combustível? Não foi suficiente pra atravessar a barreira? - viu o combustível derramando sobre faíscas que salpicavam no motor avariado.

O contato do combustível com as faíscas causou uma explosão que o arremessou pelos ares. A nuvem de fogo emergiu densa, queimando algumas árvores. Em meio a alguns destroços pegando fogo, o falso Frank se levantava trôpego com o sobretudo chamuscado. A frustração o dominava. Se apoiou numa árvore, sentindo uma vontade imensa de destruir a instalação da ESP movida pela raiva do fracasso, mas tinha de considerar que mais material acerca de sua origem poderia estar lá arquivado. Não iria embora com o amargo sentimento de derrota por um ano desperdiçado. 

                                                                                   ***

Durante o recreio, a espaçosa sala de jogos estava um tanto lotada. Os detentos mais rebeldes tinham predileção pela quadra esportiva para sentirem o ar livre enchendo os pulmões e o sol nas suas peles. 

Numa mesa redonda, apenas um detento não curtia os passatempos mais preferidos como sinuca ou ping-pong. Oswald, um homem moreno calvo que usava óculos de grau pequeno, lia seu livro à frente do seu rosto para imergir no seu hiperfoco sem que a barulheira dos outro detentos atrapalhasse a leitura. Porém, se viu obrigado a interromper quando notou duas presenças diante dele e baixou o livro, encarando um rapaz esguio e um homem mais velho, corpulento de cabelo praticamente grisalho. 

- Essa atenção que estão me dando... - disse ele, consciente do que queriam - ... indica muito bem que estão desejando uma oportunidade para sentirem um gostinho de liberdade. Ou estou enganado?

- Não tá não, Oswald, você acertou em cheio, parece que leu nossas mentes. - disse Gavin. 

- Só posso fazer com um de cada vez. - falou Oswald, categórico. 

- Não é pra mim, é só pro meu parceiro aqui, o Frank. Eu sou o Gavin, ouvi muito falar de você e acho você bom no que faz. 

Frank deu um aceno de leve com a mão direita e um sorrisinho educado. 

- Quem diria, eu tenho um fã. - disse Oswald, irônico. Olhou para Frank seriamente - Então você quer uma sessão astral? Tem certeza absoluta disso? Seu amigo aí não contou das experiências mal-sucedidas? 

- Sim, ele me falou sobre os detentos que não voltaram pros seus corpos. E ele não é meu amigo. 

Gavin fez uma cara tristonha para o detetive, mas engoliu em seco. 

- E-eu... vou deixa-los a sós. A gente se vê, Frank. Eu espero. - disse Gavin, se afastando. 

Frank colocou as mãos sobre a mesa para mais particularmente com Oswald. 

- É realmente um médium com capacidade de fazer projeção astral? Vai, perguntar não ofende.  

- Céticos como você são sempre muito engraçados. - disse Oswald, limpando seus óculos - Me procuram cheios de vontade, mas exigem que eu confirme com palavras e não com a ação. 

- Pra sua informação, eu não sou novo nessa experiência de vagar feito um fantasma errante. 

Ouvir aquilo surpreendeu o médium. 

- E como sobreviveu? Existe uma chance em um milhão de você ser engolido por espíritos do mal e ficar preso no plano metafísico para uma eternidade de sofrimento, perdição e trevas. 

- Não vem ao caso dizer como escapei mantendo minha essência, apesar de que não foi uma projeção astral propriamente dita. Quero mesmo é que você aperte o botão "Ejetar" da minha alma, preciso conferir as vidas dos meus amigos e da minha família, saber como estão. Não sou como seus outros clientes. 

- Já percebi que não. - disse Oswald, interessando-se. O sino da penitenciária tocou e os detentos saíam aglomerados da sala - Hora do almoço, mas podemos privar nossos estômagos. Deite naquela mesa. 

Oswald apontou para uma mesa de sinuca. Frank dirigiu-se à ela, colocando as bolas dentro dos buracos e logo deitando-se. 

- O tempo máximo que você pode me manter desencarnado é uma hora? Procede isso? 

- Infelizmente sim. - disse Oswald, arregaçando as mangas - Do fundo do meu coração, espero que volte são e salvo. Escapar com resquícios de corrupção vai recair em efeitos devastadores. Esteja ciente de que não estará visível e nem tangível. Não é bem uma morte. Seus órgãos internos continuarão funcionando. 

- Valeu pela aulinha, mas tô com pressa. Manda ver. - disse Frank, acomodando-se na mesa.

Oswald colocara sua mão direita sobre a cabeça cuidadosamente e fechou os olhos. Estabeleceu conexão com o plano astral psiquicamente e tremeu um pouco seu corpo. Frank num instante viu a si próprio deitado na mesa de sinuca com Oswald repousando sua mão na cabeça dele. 

- Muito bem, vamos nessa. - disse ele, andando para uma parede e atravessando-a. 

                                                                          ***

Departamento Policial de Danverous City

Carrie deu de cara com o falso Frank dobrando para o mesmo corredor que ela. A assistente estava indo rumo à sala particular do detetive para apresentar o caso do dia. Zangada, apertou o passo até ele. 

- Veja só quem resolve aparecer. O que foi? Não concluiu a investigação daquele caso dos cachorros amaldiçoados, encapetados ou sei lá o quê? Já vão fazer três dias! Não costuma demorar tanto! 

- Falando desse jeito tá parecendo que você é minha chefe. - disse Frank, devolvendo com aborrecimento.

"Isso é algo que o bom e velho Frank diria.", pensou Carrie, analítica nas expressões e trejeitos dele. 

O pseudo-Frank entrara na sua sala indo diretamente à sua mesa e ligou o computador. 

- Que cheiro é esse? - perguntou Carrie, entrando em seguida e fechando a porta - Tá vindo de você. - apurou seu olfato aproximando-se - Parece que tava no meio de um incêndio florestal. Acertei? 

- Eu sofri um acidente. - disse ele sem olha-la. A vaguidade de uma resposta nunca satisfaria Carrie. 

- É tudo que tem a dizer? "Eu sofri um acidente". Qualquer um que não tem nada a esconder jamais diria isso. 

O clone de Frank desviou o olhar para a assistente encarando-a com uma seriedade afiada. 

- O que você espera que eu diga? Desde quando devo satisfação pra uma assistente?

- Não fala assim comigo, Frank. - retrucou Carrie, irritada - Mais do que assistente, sou sua amiga. Quando foi que mantivemos um do outro? - ela fez uma pausa, relembrando algo - Ah sim, tem a besta de Vanderville. Escondeu de mim e do diretor que sua linhagem foi assassinada por ela e que estava com planos de caça-la sem nos avisar e sem se importar se sairia vivo ou morto. 

- Quer saber mesmo o que houve? Tim-tim por tim-tim? Hoje cedo eu salvei uma criança de um prédio pegando fogo. Foi por acaso. Os bombeiros estavam ocupados demais com o fogo e sobrava um resgate. A mão do garoto tava desesperada, eu tinha que tomar uma iniciativa porque é assim que sou. 

- Não enquanto está com um trabalho pendente. - rebateu Carrie cada vez mais desconfiada - O que tem havido com você nesse último ano? Nunca procrastinou num caso, especialmente sobrenatural. 

- Não sei... - disse o falso Frank, encostando-se na cadeira - A morte do diretor, volta e meia, me assombra de noite. Provavelmente ainda não superei nada. Ficar negando isso tem me atrapalhado. 

Carrie fizera que sim com a cabeça, mantendo a expressão séria. 

- Falando por mim, estou aguentando o tranco como sempre. Mas não vou usar a morte de um amigo como pretexto pra fazer corpo mole durante o trabalho, por mais que continue doendo. 

O Frank original, desfrutando de sua forma fantasmagórica, teletransportara-se para o mesmo corredor onde sua sala situava-se. Olhou para os lados procurando e quando achara atravessou imediatamente a parede. Porém, ao entrar, deu dois passos para trás com a embasbacante cena diante de seus olhos. 

- Não... Só pode ser brincadeira. - disse Frank sentindo náusea ao ver sua duplicata interagindo com Carrie como se fosse exatamente ele mesmo - O que tá acontecendo aqui? Quem é esse cara com meu rosto... minhas roupas... meu jeito de falar? - andou para mais perto do seu clone - De onde foi que saiu essa copiazinha fajuta? - ergueu a mão direita e a fechou dando um soco que atravessou o rosto do impostor, mais para expressar sua vontade de fisicamente fazer aquilo - Ah como eu queria estourar tua cabeça. Metamorfo não é. Que tipo de monstro é esse me plagiando? 

- Então está bem. - disse Carrie - Dessa vez não "se distrai" com nada. - fez aspas com os dedos. 

- Pode deixar, chefinha. - disse o falso Frank, levantando-se e saindo junto com ela da sala. 

- Carrie, volta aqui, esse cara é um farsante... Ah, dane-se, ela não pode me ouvir. - disse o genuíno Frank, atordoado. Uma hipótese passou pela cabeça - Um clone meu. Será que tem dedo do Hoeckler nisso? 

                                                                            ***

Num corredor, Frank andava de um lado para o outro, imaginando milhares de coisas a respeito do que aquela cópia sua usurpando seu lugar na vida pessoal e profissional. Ignorava as pessoas que passavam atravessando-o. 

- Não dá pra acreditar. Como se não bastasse aquele episódio do Stein que quase ferrou com a minha carreira, eu ganho outro irmão gêmeo do mal se passando por mim enganando todo mundo! Merda! 

Ergueu o punho direito cerrado para socar a parede, mas se deteve lembrando da sua condição. 

- Mesmo sendo um fantasma que ninguém pode ver, ouvir e tocar, não tem como ficar desconfortável com essa gente toda que atravessa, é tão... esquisito. Melhor ir pra um local mais reservado, embora eu não precise. - disse ele, desaparecendo. Teleportou-se para um banheiro que não sabia se era masculino ou feminino e como necessitava de ter em mente um lugar para o qual migrar conhecia bem o interior dos banheiros de paredes com azulejos preto-azulados e luzes fluorescentes brancas - É, aqui parece bom. Mas e agora? Como é que eu intercedo pra abrir os olhos da Carrie?

- Frank? - indagou uma voz ligeiramente familiar. O detetive virou-se e arregalou os olhos não crendo em quem estava na sua frente. Abriu a boca, mas a reação de espanto travou sua voz - E essa cara aí? Parece até que está vendo... um fantasma. 

- Di-diretor?! - disse Frank finalmente conseguindo falar - É o senhor mesmo aparecendo pra mim?

- Quem mais seria? Abraham Lincoln? 

Frank diretamente foi abraça-lo, podendo toca-lo. Ernest retribuiu sorrindo contidamente. 

- Vamos, vamos, pare. - disse o ex-diretor - Faz apenas um ano desde que parti dessa pra melhor. 

- O senhor não tá numa melhor. Muito menos eu. - disse Frank, segurando as lágrimas. 

- Que roupas são essas? - indagou Ernest reparando no macacão azul que Frank trajava - Não, espera... - apontou para as vestes - Agora que reconheci. Esse é o uniforme dos detentos da penitenciária Roosevelt. - olhou para Frank bastante tenso - Frank, o que você fez de tão grave a ponto de parar naquele calabouço? 

- O Hoeckler armou pra cima de mim se aproveitando da minha curiosidade sobre um segredo do governo americano. - contou Frank, desalentado - O Atticus teve um sonho ligado à esse segredo. Ele acabou se matando pra criar uma dimensão em que os espers tivessem paz após a morte. Mas voltando ao Hoeckler: Ele me deu a droga de um cartão de acesso pra uma base aérea onde o tal segredo estaria guardado, cheguei lá me dizendo autorizado por uma autoridade governamental, cravei os olhos no que tinha de secreto e ainda tirei uma foto que com certeza já apagaram do meu celular confiscado. 

- Esse maldito passou dos limites com você. - declarou Ernest - Te incriminou de um delito que ameaça a segurança nacional. O golpe perfeito. Tudo pra deixar o terreno livre do último caçador que restava. Ele não mediu esforços pra te coibir. 

- E não pára por aí. Enquanto tô fora, tem a merda de um clone meu que tá iludindo a Carrie. 

- Um clone?! Literalmente um clone geneticamente idêntico à você? Oh céus... 

- Sem dúvida alguma o Hoeckler foi responsável por isso. Ele tem que pagar caro... E ele vai pagar. Pelo que fez comigo e ao senhor. Mandou te matarem, mandou me prenderem, soltou um impostor que não faço ideia do que é, mas eu sei que não é humano. - uma recordação foi destravada - Não... 

- O que foi? Quando faz essa expressão, é porque chegou à algum tipo de conclusão impactante.

- Na verdade, eu lembrei. Tinha uma cela na ESP em que trancaram uma coisa tão repugnante que não podia ser solta jamais. O Olson, o agente da fundação que veio falar comigo no mesmo dia da morte do senhor, chamou a coisa de ESP-47. O Atticus descobriu a senha que abria a cela, daí a coisa saiu pra matar os espers. - fez uma pausa, fortemente preocupado - É ele, diretor. A cópia barata. 

- Mais uma vez está provado que tudo saiu nos conformes para Hoeckler. - disse Ernest - Que derrota.

- Por enquanto. O que é dele tá guardado. Nem que eu precise participar de um plano de fuga.

- Você não seria louco de fugir... Peraí, o que está fazendo aqui? Você morreu? 

- Ah, só agora o senhor vem perguntar? Olha, é o favor de um cara lá da cadeia, um médium que fez projeção astral pra mim, eu tava sedento pra saber como a Carrie lidava com mais sumiço meu, mas daí... Me apareceu essa pedra no caminho que é esse clone. Antes de matar o monstro, tenho que matar primeiro seu criador. Não vou descansar até que o senhor seja vingado. E o senhor também não.

- Posso não ser mais seu chefe... Mas me permita dar uma última ordem: Não vingue minha morte contra nenhum culpado. Não coloque sangue nas suas mãos, isso não fará justiça à minha memória. 

- Então se tá pouco ligando pro meu desejo de vingança, por que ainda é um fantasma errante? Não era pro senhor estar descansando tendo encontrado sua paz eterna? Se abre comigo, não reprime essa raiva que eu também tô sentindo do Hoeckler. 

Subitamente a dupla se via num espaço completamente diferente. Um corredor com papel de parede carmesim com um piso coberto por um tapete verde-escuro era o local onde se encontravam. 

- O que é isso? - perguntou Frank, esquadrinhando - A gente veio parar aqui do nada... 

Dois espíritos pálidos surgiram. Um atrás de Frank e outro atrás de Ernest. 

- Walter?! - disse Ernest, reconhecendo a figura do homem com uma idade próxima à sua vestindo jaqueta preta por baixo de uma camisa de flanela azul e usando boné - Não o vejo há tempos...

- Ei, você, detetive de araque! - disse o homem por trás de Frank - Temos umas continhas pra acertar.

- Te conheço? Refresca minha memória, por favor. 

- Leonard Gamble. - disse o homem truculento de cabeço quase raspado, com tatuagens nos braços e que trajava uma roupa preta sem mangas. - O cara que você mandou pra cadeia por comer umas meninas. 

- Tô quase lembrando... Você foi um pedófilo que sequestrava garotas pra sua casa da árvore. Olha pra minha cara de arrependido... por botar um verme feito você nas mãos da polícia. Só fiz meu trabalho.

- Frank, amigo, estamos com seríssimos problemas. - disse Ernest - Você ainda tem que voltar pro seu corpo. 

Aquele alerta somente elevou o nervosismo de Frank a um nível descontrolado. 

                                                                           ***

Três membros da gangue de Tony Blindado quase passaram direto pela sala de jogos. Um deles percebeu dois detentos permanecidos lá mais de meia hora depois do almoço e alertou os outros dois. 

- Olhem pra isso. - disse o que descobrira Frank e Oswald na sessão mediúnica - Sozinhos e dando a maior bobeira. Seria injusto só três de nós participando da brincadeira. Chama o resto da galera.  

Os outros capangas de Tony Blindado foram incentivados a se juntarem ao plano ardiloso. Com galões de gasolina, alguns jogaram sobre Frank. Oswald, para a surpresa deles, acabou caindo inconsciente. 

- O cara das paradas de fantasma também. - disse o comparsa que sugeriu a ideia de mata-los queimados - Dois parceiros nossos caíram no papo furado dele e nunca mais voltaram pra contar história. 

Oswald também levou um banho de gasolina pelo seu corpo inteiro. O médium sucumbiu à inconsciência devido á ultrapassagem do tempo-limite em que ancorava a alma de Frank. 

No plano espiritual, Frank tentava ao máximo não revidar os socos que Leonard lhe dava fortemente no rosto e no tórax. Ernest foi levantado pelo homem que matou a sangue frio no passado em legítima defesa pelas vidas de seus familiares. O ex-diretor do DPDC foi arremessado à parede. 

- Qual é? Reage! - provocou Leonard não cessando os socos dos quais Frank se defendia com os braços juntos - Onde foi parar... aquela valentia toda de policial durão hein? Apodreceu com seu cadáver? 

Ernest pegou um candelabro e defendeu-se dos golpes de seu algoz que atendia pelo nome de Jarrod. 

- Se disse amigo meu e tentou me apunhalar pelas costas! - disse Ernest, intencionando ataca-lo com o candelabro - Literalmente! - tentou golpeia-lo com os encaixes das velas, mas Jarrod esquivou-se até que Ernest conseguira atingi-lo com um chute na canela esquerda e depois com o candelabro no rosto. 

- Diretor! - gritou Frank, recuando de Leonard - Não podemos revidar contra esses caras, por mais que a gente queira encher eles de porrada! É isso ou vamos nos tornar como eles: amargos e corrompidos. 

- Ainda tem essa?! O sobrenatural é mais regrado do que pensei! - disse Ernest não sabendo mais o que fazer. A situação piorou drasticamente com aparições em massa de espíritos malignos de ambas as direções do corredor - Parece que chamamos atenções... bem indesejadas. Estamos encurralados. Ferrou pra nós dois. 

Os diversos espíritos violentos, crianças e adultos, se aproximavam ameaçadoramente. Dentre a horda de fantasmas hediondo salivando ectoplasma, Frank fixou os olhos numa mulher vestida de preto e usando um véu da mesma cor quase transparente que segurava uma vela acesa soltando uma risada zombeteira e escarniante. Os lábios negros dela formavam um largo sorriso de dentes sujos e horrendo. 

Leonard continuava batendo em Frank violentamente. Frank se levantou após tomar um soco que tirou ectoplasma da sua boca, o que não era um bom sinal. O detetive limpou a boca e viu o fluido no dorso da mão esquerda. Um senso de urgência o impulsionou para tomar uma atitude de resolução rápida. 

- Diretor, vem comigo! - disse Frank, levantando Ernest - No três! Vamos! Um, dois... Três! 

Segurando seu ex-chefe, Frank correu em disparada entre os fantasmas ouvindo sussurros e gritos para chegarem à porta que ele torcia para que os levassem de volta ao plano material. Ambos pularam para fora do corredor e caíram no chão do estacionamento do DPDC. Frank afastou-se de Ernest ficando de quatro ao vomitar ectoplasma. 

- Frank, você não tá nada bem. Não se preocupe comigo, volte já pro seu corpo. - disse Ernest. 

- O Oswald pode ter ido além da conta. - disse Frank, ofegando - Diretor, antes de ir, quero que me responda com toda a honestidade. Não saio daqui até saber mesmo que minha alma... apodreça. 

- Mas que teimoso! Vá depressa! - disse Ernest, levantando-se - Sei o que quer tanto saber. Uma resposta honesta? Aqui está ela: Não guardo rancor do superintendente! Eu infringi uma lei! Por isso mesmo não tratei disso com você naquela nossa conversa na sua casa. Ia reagir com quatro pedras na mão se eu dissesse que pretendia tornar pública a existência de monstros pela cidade. 

- Eu ficaria bem bravo. - disse Frank - Até convenceria o senhor a desistir. Mas eu conheço Ernest Duvemport o suficiente pra ter certeza de que uma vez tomada uma decisão ele não volta atrás. 

Enquanto isso, na penitenciária, os lacaios de Tony Blindado, sem o aval do mesmo, divertiam-se sadicamente prestes a incendiar os corpos de Frank e Oswald. Um deles acendeu um isqueiro e agachou-se encostando a chama na perna direita do detetive em meio a risadas perversas dos demais. 

A projeção espiritual de Frank sinalizava que desapareceria. Ernest franziu o cenho vendo o ex-empregado tremer como um holograma. As mãos de Frank ficaram transparentes. 

- Efeito colateral? - perguntou Ernest. 

- Não da projeção astral. - respondeu Frank - O ectoplasma foi porque eu tava encarando um fantasma ruim. Se eu tô sumindo aos poucos, tem alguma coisa acontecendo com meu corpo. 

- Então o que está esperando? Terminamos essa conversa outro dia. - fez uma pausa olhando tristemente para Frank - Sabe quando disse ter pensado em torna-lo meu sucessor? Esse sonho acabou. Mas sua vida não pode acabar aqui. 

- Na hora que aquele monitor cardíaco fez aquele barulho maldito, eu me arrependi de não ter falado mais coisas.

- É capaz de você se arrepender mais caso não salve sua vida. Estarei olhando por Carrie. Dominei as técnicas fantasmagóricas, posso assustar quem eu quiser. Até mesmo protege-la do seu usurpador se ele vier a machuca-la. Agora vá. Salve-se. Não perca mais tempo com lamentações. Cumpri minha missão. Não deixe a sua incompleta. 

Frank fechou os olhos com lágrimas descendo e se teleportou. Ernest soltou um suspiro longo, porém de uma das narinas começou a escorrer um filete de ectoplasma. Tocou com o dedo indicador da mão direita e olhou para o fluido, não reagindo com temor ou preocupação àquele sinal alarmante. 

Frank despertou no seu corpo sobressaltando com labaredas espalhando-se na sua perna. Reergueu-se da cintura para cima, batendo freneticamente com as mãos para pagar o fogo que apenas chamuscava o macacão. Os bandidos se surpreenderam com o acordar súbito do detetive que logo pegou um taco de sinuca para ataca-los. Com o bastão improviso, Frank levava certa vantagem sobre eles para defesa e ataque. Contudo, virou o rosto para um detento que segurava o isqueiro aceso e ainda não tinha apanhado do taco. Esse detento cruelmente jogou o isqueiro sobre o corpo de Oswald, coisa que eles já fariam a seguir se Frank não tivesse acordado inesperadamente. As chamas alastraram-se pelo corpo do médium. 

- Não! - disse Frank, logo sendo agarrado nos braços por dois capangas de Tony Blindado antes que retaliasse. O detetive levara um chute fortíssimo na barriga com o joelho de um deles e caiu ajoelhado. 

Os carcereiros chegaram com seus cassetetes para restabelecer a ordem, mandando todos voltarem para suas celas aos berros autoritários, chegando a empurrar e agredir alguns que consideravam audaciosos. 

Frank sabia que o esforço dos carcereiros em apagar o fogo que consumia Oswald se mostraria inútil para salva-lo. O detetive, largado no chão, assistia com lágrimas querendo jorrar a tentativa deles. 

Ouvir que o médium foi declarado morto após uma avaliação de sinais vitais o devastou por dentro. 

                                                                           ***

Na instalação subterrânea, o ESP-47 remexia nas gavetas de um armário à procura de mais arquivos reveladores de sua chegada ao planeta. A busca que parecia desenfreada e ineficiente parou ao achar um rolo de fita com dizeres "ESP-47 - O Nascimento". Ao pegar um projetor, pusera a fita para rodar e sentou numa cadeira dentro de um laboratório para assistir ao vídeo. Nas imagens um cientista narrava as particularidades de um parto normal do ser que verdadeiramente caiu em Rsowell em 1947. 

O falso Frank ouvia o cientista referir-se ao ser como "mãe" e novas memórias eram desbloqueadas. 

No final, o bebê de cor verde chorava num tom extremamente fino. Todavia, a mão não sobrevivera ao difícil parto, sofrendo complicações fatais. Em contrapartida , o rebento veio saudável e sem traumas. 

- Fiquei 12 anos... dentro dela... - disse o falso Frank, mal acreditando - Eu estive desde o início... mas ainda tão fraco... que podia ser esmagado. Eles me deixaram nascer. - pela primeira vez em toda sua vida, o ESP-47, apesar de manter a expressão rude olhando o vídeo, derramava uma lágrima. 

Na cadeia, Gavin queixava-se de dores no estômago e batia na grade clamando que permitissem ele de ir ao banheiro. 

- Carcereiro! Carcereiro! Será que posso ir no banheiro um instantinho! 

- Ei, Gavin, tá se sentindo bem? - perguntou Frank que não estava muito ciente do problema do colega. 

- Não é nada demais, devem ser só gases. - disse ele fazendo caretas de dor - Ou uma bomba, sei lá.

Frank levatou da cama e se aproximou dele para verificar. 

- Peraí, deixa eu dar uma olhada. 

Gavin baixou o zíper do macacão mostrando a barriga altamente inchada uma simples constipação. 

- Tá dura que nem uma rocha. - disse Frank, batendo com dois dedos. 

- Talvez o estrogonofe da cantina não caiu bem. - disse Gavin com dificuldades para falar. 

Frank manteve a visão compenetrada na barriga de Gavin e captou detalhes elucidativos. Protuberâncias pequenas que se moviam dentro do abdômen. O detetive expressou tensão na face. 

- Não Gavin, não tem nada a ver com a comida horrível daqui. 

Frank relutava em dizer, mas internamente concluía que significava um Ambroz em pleno desenvolvimento. 

                                                                             -x-

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.

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