Frank - O Caçador #57: "Quebra de Prisão"


Um carcereiro estava no meio da madrugada tentando não bocejar vigiando cada cela no corredor escuro. A calmaria silenciosa e desestressante findou-se num instante. O carcereiro estacou ao ouvir um grito escandaloso pedindo por ajuda. Ele retirou seu cassetete do prendedor e se direcionou à fonte da barulheira. Ligou a lanterna para identificar melhor. As batidas na grade se intensificavam à medida que o aborrecimento do carcereiro também. Apontando o facho de luz para as celas nos dois lados, procurava o pedido de socorro do detento afligido. Finalmente o encontrara após de início apontar a luz para as mãos pálidas, frias e suadas que seguravam firmes as grades e em seguida iluminou o detento que ofegava. 

- O que você tem? - perguntou o carcereiro, rude - Vou logo avisando que no papinho de dor de barriga eu não caio mais. 

- Não é... só uma dor de barriga. - disse ele, mostrando a barriga extremamente inchada, arrancando uma reação de espanto do carcereiro - Tá vendo isso? Eu não tô resistindo mais... Tem uma coisa se mexendo, eu posso sentir! 

- Oh que lindo, ele vai ter um bebê. Quem é o pai? Já sabe que nome vai dar pro filhote?

- Filho da mãe! - xingou o detento afastando-se rastejando - Nem me aguento em pé... e você aí tirando onda! 

- Tá legal, vamos ver essa bizarrice mais de perto. - disse o carcereiro, destrancando a cela, abrindo-a e entrando - Vira aí, deixa eu dar uma olhada. - tocou na barriga que estava absurdamente dura. Pôde sentir algo movimentando-se.

- Começou desde ontem... - disse o detento, cerrando os dentes na sua resistência - Acho que... quer sair.

- Que diabos você comeu? - perguntou o carcereiro, recuando - Parece que tá com uma solitária. 

- Solitária o cacete! Isso aqui não é normal! Dá pra chamar um médico? Ou um exorcista?

A coisa dentro do abdômen movia-se mais depressa e era possível ver dedos pontudos querendo romper a pele. O crescimento anormal da barriga se elevou ao ponto culminante de explosão. A barriga do detento estourou, espalhando pele, carne, vísceras e sangue pelo chão e pelas paredes. O carcereiro levara um banho, ficando encharcado de sangue e pedaços. Limpou os olhos, horrorizado. 

Não dando mais nenhum sinal de vida, o detento jazia morto ao contrário do parasita alojado na barriga anteriormente. O carcereiro encarou incrédulo o ser preso numa carapaça levantar-se de dentro da sua antiga casa e engatinhar pelo chão. 

A criatura cavou um buraco profundo pelo qual desceu ao subsolo. 

Não controlando a ânsia de vômito, o carcereiro virou-se expelindo tudo completamente enojado. 

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CAPÍTULO 57: QUEBRA DE PRISÃO

As tentativas de Frank em cair num sono imperturbável se provavam cada vez mais vãs. O detetive virava-se para um lado, virava-se para o outro e nada de conseguir pregar os olhos. Teve que recorrer a atitude que parecia mais eficaz: lidar com o motivo da sua insônia para arranjar um modo de elimina-lo.

- Gavin, quer parar com esses gemidos, pelo amor de Deus? Madruguei aturando você reclamando do seu parasita. - disse Frank - Não é que eu esteja fazendo pouco caso, mas você precisa suportar. 

- Suportar até quando? - perguntou ele, sentando no chão com dores acentuadas. 

Frank olhou para o colega com certo dó. Decidiu por fim ao silêncio quanto ao verdadeiro problema. 

- Escuta aqui, o que você tem aí morando no seu intestino não é um parasita comum. 

- Do que tá falando? É pra fazer me sentir melhor? 

- Não, só quero abrir o jogo contigo. A verdade dói mais que essa dor. Eu sei bem o que realmente é porque já testemunhei muitos casos iguais. Essa coisa no seu corpo não quer mais brincar de casinha, tá na fase de crescimento pra sair livremente pelo mundo e se desenvolver até chegar na fase adulta. 

- Frank, para, chega! Não tá ajudando. 

- Não é pra te ajudar. Gavin, você tem um monstro querendo se libertar. E ele vai se libertar, é uma questão de tempo. Já ouviu falar de... caçadores de assombrações e monstros? 

- Sim eu ouvi? Tive amigos que falavam desses caras... mas pra mim são tão lendas quanto as coisas que caçam.

- Não Gavin, não são. Inclusive eu sou um deles. Posso te falar seguramente que um monstro está dentro de você louco pra explodir sua barriga. O seu corpo funciona como uma incubadora. Com certeza foi na comida do refeitório no dia do cardápio variado. No seu prato tinha uma larvinha do parasita. 

A expressão de Gavin denotava um terror absoluto e seu suor frio piorou bem como sua tremedeira. 

- Então não foi um delírio, né? Tô mesmo com uma coisa viva sendo gerada como um bebê... 

- Gavin, tenta relaxar, por favor. - disse Frank, apesar de saber que o estado do hospedeiro de um Ambroz era fatalmente irreversível - Quando tocar o sinal do intervalo, a gente vai pra ala médica. 

- Não! - gritou Gavin, levantando-se depressa - Frank, você tem um canivete, bisturi ou navalha?

- Peraí, o que deu em você? - perguntou Frank, alarmado, levantando-se da "cama" - Se acalma. 

- Me acalmar? Olha pra mim! Olha pra isso! - apontou para sua barriga anormalmente estufada. 

- Eu sei e pra ser honesto você tá com o pé na cova, não tem escapatória, desculpa ter que mandar a real te vendo assim tão desesperado! - disse Frank, lamentando não poder salva-lo - Se tivesse uma solução... 

- Tem que haver, Frank! - disse Gavin, tocando nos ombros do detetive aflitivamente - Por isso que eu quero arriscar uma cirurgia sem anestesia! E aí, tem uma faquinha com você? 

- Tá doido?! Pensa que isso se resolve arrancando o monstro dentro de você à força? Eu não vou fazer isso nem a pau. E não tenho faca nenhuma! Não faria diferença tirar o parasita e esperar que ele saísse. 

- Ótimo, então o plano B é eu me matar e talvez ele morra junto comigo. - disse Gavin, fora de si. 

- Gavin, para de histeria, tira as mãos de mim... 

- Frank, eu te peço encarecidamente, faz isso por mim, você é mais que um mero colega de cela... 

O detetive desferiu um cruzado de direita no rosto de Gavin, mostrando que sua paciência esgotara. 

- Aprendi uma lição dolorosa em toda minha carreira de caçador, uma lição que os próprios monstros me ensinaram. - disse Frank vendo Gavin chorar caído no chão - Às vezes não dá pra salvar a todos. 

O sinal para o intervalo soou retumbante no corredor. Um carcereiro vinha destrancar a cela de ambos.

- Ei, será que dá pra você levar ele pra ala médica. Tá passando mal faz horas. - disse Frank. 

- Mais um desses casos de parasita intestinal? Só tem uma vaga sobrando, pelo que eu sei. 

- Então que ele ocupe essa vaga! - disse Frank. O carcereiro olhou torto para Frank devido ao tom e pegou Gavin para carrega-lo até o hospital da penitenciária. Chegando lá, o detento foi colocado sobre uma cama num leito disponível. O médico viera logo para examina-lo saindo de outro leito. 

- Doutor, tem como o senhor tirar essa bomba do meu corpo antes que exploda. 

- Acalme-se, rapaz, está exagerando. Muitos como você se queixam dos mesmos sintomas. É provável que seja um parasita superdesenvolvido que desembarcou aqui no fornecimento de legumes. 

- Põe o estetoscópio na minha barriga. - pediu Gavin, aguentando com bastante esforço. 

- Mas por que... 

- Põe a merda do estetoscópio! - vociferou Gavin, assustando o médico que resolveu acatar. Colocou o ressonador sobre a barriga de Gavin e escutou ruídos semelhantes a grunhidos, além de ouvir sons baixíssimos de algo volumoso movendo-se. O médico desviou o olhar perplexo para o paciente e afastou-se aterrorizado saindo da sala. 

                                                                                 ***

Departamento Policial de Danverous city

Carrie lavava suas mãos na pia do banheiro feminino distraidamente quando uma inesperada queda da temperatura da água foi sentida. A água corrente ficou tão gelada que a assistente recuou de forma brusca as mãos. Ergueu o olhar para o espelho, intrigada, porém nada tranquila. O ambiente decaiu de temperatura largamente, quase emulando um clima invernal. O espelho ficou embaçado por inteiro como se várias lufadas de ar o atingissem numa velocidade impressionante. Carrie olhou em volta. 

- Quem está aí? - perguntou certa de que sinalizava uma manifestação fantasmagórica. 

No espelho uma mensagem era escrita e dizia na primeira frase "Sou eu, o Ernest".

Carrie quase engasgou-se com a saliva tamanho o baque. 

- Di-diretor? 

Outra frase escrevia-se: "Não diga nada. Apenas deixe que eu me comunique."

Mais uma frase Ernest formava abaixo da anterior: "Tem um impostor agindo como o Frank neste exato momento."

A assistente pôs as mãos no peito sentindo o coração palpitar. "Meu Deus, então é isso...", pensou ela. 

Ernest escrevia outra frase: "O nosso amigo Frank está presos há 1 ano pelo crime de violação da segurança nacional". Uma nova frase redigia-se abaixo: "Vítima de uma armação do superintendente"

Carrie sentia-se tonta de tão estarrecedoras que eram as péssimas notícias. 

"O clone é um monstro saído de uma cela da ESP"

"Não cometa nenhuma besteira que arrisque sua vida. Aja naturalmente."

As mensagens pararam devido ao pouco espaço que restou no espelho. 

Na volta para a sua sala, Carrie tivera mais um susto, daqueles que a pessoa parece ter dado um pequeno pulo. O falso Frank estava sossegado sentado na cadeira giratória frente à mesa esperando-a. 

- Olha só ela, matando o tempo de trabalho por uma demora. Enfim, a hipocrisia. - disse ele. 

Carrie afastou uns fios de cabelo no rosto e se recompôs para não parecer que estava em pânico. 

- Estava no banheiro. Nem passou pela minha cabeça que estaria aqui me aguardando tão paciente. 

- O que você manda pra mim hoje? 

- Tenho ainda que ver com o diretor interino... 

- Tá sabendo que vão anunciar o substituto semana que vem?

- Não sabia. - disse ela, desconfiada - E você parece estar bem com isso. 

- Reclamou quando dois dias de luto foram essenciais pra que eu superasse a perda. Agora que passou um ano, você continua reprovando minha superação. Eu tenho que ficar chorando e deprimido? 

- Não, é claro que não. Nessa altura, talvez no mínimo receoso. Não te fiz uma crítica. 

- Tô te achando meio retraída. Aconteceu alguma coisa? 

- Retraída, eu? Mera impressão sua. - forçou um sorriso risonho - Acho que... insegura com um diretor novato mandando e desmandando na gente. Vou sentir falta até das broncas dele. Mas enfim, não vamos ficar aqui parados remoendo um luto que já deveria estar plenamente superado. É seguir em frente se adaptando às mudanças e pronto. Ahn... Frank, eu posso te visitar hoje à noite? Vai... estar em casa? 

O falso Frank estreitou os olhos com um sorrisinho breve e malicioso. 

- Se o caso de hoje não se estender até altas horas... De qualquer forma, eu te ligo pra dizer se dá certo.

- Tudo bem. - disse Carrie, assentindo - Fica aí que eu já volto. - a assistente não tirou os olhos dele enquanto vagarosamente se virava para a porta. Ela saíra da sala, deixando-o ali pensando num plano sórdido para tê-la na sua mão como um brinquedo que pudesse manipular à vontade. 

                                                                            ***

No pátio, Frank estava como sempre: solitário e sentado no banco vendo o jogo de basquete. 

Pensava na situação agravante de Gavin e dos demais infectados pelo Ambroz. Apoiou os cotovelos nas coxas passando as mãos no rosto vivendo uma sensação de desgaste emocional e mental. 

Alguns detentos confabulavam sobre uma vítima da infecção parasitária e Frank ouriçou-se. 

- O bucho do cara explodiu que nem um bolo. - disse um deles com ares de riso. 

Frank levantou-se interessado em participar da conversa. 

- Quem era esse cara? - perguntou Frank que imediatamente reconheceu as faces do detentos como sendo dos integrantes da gangue de Tony Blindado - Opa, acho melhor eu vazar... 

- Ei, coroa, tá ligado que você desceu o maior sarrafo na gente semana passada, né? 

- Sim, foi mesmo, bem lembrado. Mas e daí?

- O desgraçado ainda pergunta "e daí?"! - disse um outro estralando os dedos para agredir Frank. 

- Ei, ei, ninguém vai partir pra treta hoje. - disse Chase intervindo como numa ação para proteger Frank.

- Ih, olhem aí, pessoal, chegou o Sancho Pança do Dom Quixote. - disse outro, rindo infamemente. 

- Querem que a gente seja expulso mais cedo do intervalo? Acredito que não, então ralem peito daqui. - disse Chase. 

- Ou o bicho vai pegar pra gente? - perguntou o mesmo detento que fizera piada antes. Sacou um canivete ameaçando atacar Chase e Frank - Tô pagando pra ver. Qual dois dois quer levar furinho primeiro?

- Chega dessa palhaçada! - bradou Tony Blindado passando entre os comparsas - Quero trocar uma ideia contigo. - apontou para Frank que mostrou sua rejeição com o olhar - Soube do cara que explodiu feito panela de pressão na própria cela. Você que é um federal que adoraria voltar pra sua antiga vidinha e o seu parceiro aí que tem uma filha chorando toda dia e toda noite com saudade do papai, percebi que deixa-los de fora do plano ia ser mancada. Pode ser estranho, mas tô oferecendo uma chance de ouro pra uma trégua. 

- Que plano é esse? - perguntou Chase. 

- Eu nem preciso ouvir tudo pra saber que é cilada das mais ferradas. - disse Frank. 

- Só é cilada se não quiser participar. - disse Tony, determinado - O diretor abafou o caso do cara que morreu com a barriga explodindo. Tem um monte no hospital com barriga inchada que parecem até que estão esperando neném. E o carcereiro saiu como maluco depois de falar que um bicho feio saiu da barriga do cara e cavou um buraco que nem uma toupeira. É aí que mora nossa oportunidade. 

- Tá dizendo que quer usar esse buraco ou túnel pra fugir daqui? - perguntou Frank - Tô fora dessa.

- Eu também. - disse Chase. 

- Pensa um pouquinho melhor, coroa. Parece que a coisa cavou bem fundo. Não só um túnel, mas vários. - disse Tony - A gente pula a cerca hoje à noite se entrarmos na cela e cairmos dentro. 

Frank manteve-se relutante por tempo suficiente para pensar na tentação que uma fuga daquelas instigava sobre ele. Chase estranhou a postura indecisa do detetive. 

- Frank, você não tá realmente em mudar de ideia, né? 

- OK. - disse Frank para Tony - Virei a casaca, tô dentro. Que horas começamos?

                                                                           ***

Na ala médica, as dores abdominais de Gavin pareciam não ter limites de piora. 

O jovem detento, suando fio e respirando com dificuldade, já via a vida passar diante dos seus olhos, acreditando que o parasita teria concluído sua incubação, tendo em vista sua barriga tremendo. Frank ia a passos largos visita-lo após a hora do almoço, mas parou no meio do corredor da ala médica ao ouvir um estrondo abafado que vibrou um pouco o chão. Ele correu até o leito onde Gavin estava, após uma procura que demorou mais do que ele gostaria, e se deparou com a cena dantesca. Gavin jazia falecido na cama com um buraco grotesco e enorme na barriga. O sangue manchou o branco do cobertor e vários pedaços de intestino e vísceras rodeavam a cama sujando o piso. Frank desviou o foco para o buraco profundo no chão. 

Desolado, Frank passou a mão esquerda no rosto tentando controlar sua aflição e saíra dali para avisar aos médicos. 

À noite, por volta das dez, Carrie estacionou seu carro na calçada em frente à casa de Frank. Dentro do seu sobretudo carmesim guardava uma pistola carregada com dez balas em caso das aparências se desfazerem. Saiu do veículo, indo direto para bater na porta. O falso Frank a atendera, ainda trajando o sobretudo de detetive. 

- Eu tinha por mim que você costumava tirar o sobretudo quando fosse dormir. - disse Carrie, irônica. 

- Você costumava isso, você costumava aquilo... Mudei tanto assim depois da morte do diretor? 

- A morte muda as pessoas de diferentes formas. - respondeu ela, levantando uma sobrancelha - Não vai me convidar a entrar?

- A casa é toda sua. - disse o clone, abrindo mais a porta deixando-a entrar. 

- Não acha que passou da hora de instalar uma campainha? - perguntou ela, deixando a bolsa no sofá - Tá bom, eu sei que você é convencional demais pra adotar coisas novas. 

- É que posso reconhecer se alguém é ou não confiável pela batida na porta. - disse o falso Frank, fechando a porta e andando para a cozinha - Não conhecia esse meu superpoder, né? 

- Incrível. - disse ela, forçadamente, sentando-se no sofá. Olhou-o de esguelha para a sua direita vendo ele indo à cozinha. 

- Você não diria "incrível". - disse o falso Frank abrindo a dispensa - Não para o verdadeiro Frank. - falou baixinho. Pegou um sachê de suco em pó - Quer um refresco? Acho que dá pra nós dois. 

- Um copinho d'água está bem. - disse Carrie. 

- Ah, vai, um refresquinho pra essa noite calorenta vai ajudar... - disse ele, colocando o pó num copo d'água e mexendo com uma colher - ... a aliviar o estresse de pegar no batente o dia todo. 

- Tá bom, se insiste... - aceitou Carrie, tirando a arma do sobretudo e escondendo-a atrás da almofada. 

O pseudo-Frank derramava o restante do suco em pó num outro copo d'água e na mistura adicionou um líquido suspeito, por fim mexendo com a colher. Carrie estudava as possibilidades, controlando os nervos. "Me sinto refém desde o momento em que o diretor veio me avisar. Larga de neurose, Carrie, ele não seria idiota de apelar pro truque defasado do veneno quando sua prioridade é manter o disfarce."

- Toma aqui. - disse o falso Frank trazendo os sucos, entregando o copo de Carrie, o qual continha o líquido extra na mistura - Era só o que tinha na dispensa. Digo, o que eu tinha de boa qualidade. Não ia oferecer bolachinha de água e sal murcha. - bebera um gole - Prova aí, não tá muito aguado. 

- É, por isso que eu recusei, você é um desastre em preparar essas coisas. - disse Carrie, levando o copo à boca, mas parou hesitante. "Confio nos meus instintos. Se ele quisesse me dopar, a ideia da visita teria partido dele.", pensou ela, olhando-o de relance. O falso Frank terminava o seu copo. 

Carrie tomou um gole breve, passando a língua entre os lábios numa avaliação de sabor. 

- Podia colocar mais açúcar. - sugeriu ela. Repentinamente, sua visão se enturvou seguido de uma tontura. Deixou o copo escorregar na mão direita e cair despedaçando no chão. Caiu se apoiando no sofá, resistindo ao efeito do sossega-leão - O que você é? - perguntou, a voz enfraquecida. 

- Eu sou a razão pela qual esse mundo será transformado. - disse o ESP-47 - Até ia pedir um brinde, mas... seria muito forçado, vamos combinar. - deu uma risadinha zombeteira - Durma bem, Carrie. 

- O que você quer de mim? 

- Quero sua subserviência total à mim. Tudo que precisa fazer é concordar com meus termos. 

- Vai se ferrar, sua cópia barata. - disse Carrie, quase adormecendo, as pálpebras pesando. 

- O único que vai se ferrar em toda essa minha trama genial... é aquele cujo DNA está gravado no meu código genético. O seu querido Frank foi passado pra trás. Não consegui voltar pro meu povo, mas agora meus planos são diferentes e melhores. Nunca mais... Nunca mais volto pra um cativeiro. Ao contrário do meu clone que apodrecerá sozinho até que a morte o leve. Fim de jogo pra ele. Mas pra mim só tá começando. 

A assistente sucumbiu ao adormecimento total caindo deitada no sofá quase de bruços. 

                                                                             ***

Um policial passava por um corredor assoviando, mas parou a musiquinha ao escutar ruído vindos do teto. Naturalmente olhou para cima e entreviu algo no escuro do teto. Pegou sua lanterna e apontou o facho de luz ao ponto onde os ruídos estralavam, acabando por iluminar um Ambroz com seus braços pernas grudados no teto e salivando sua baba pegajosa que expelia entre os dentes pontudos sobre o rosto do policial que gritou de pavor. A criatura de pele cinzenta desgrudou as mãos para apanhar sua presa. A lanterna caiu no chão com sua luz tremendo e enfraquecendo até apagar. O grito do policial diminuía conforme o Ambroz devorava-o de cabeça aos pés. Sangue espirrava no chão abundantemente. 

Enquanto isso, Frank e Chase discutiam noutro corredor a respeito do duvidoso plano de fuga. 

- Não, Frank, é insanidade, cara. - disse Chase ainda avesso à ideia - Eu tô tão desesperado quanto você pra se ver livre e justiçado, mas cair de boca nesse plano é ser muito ingênuo e otário, me desculpa. 

- Eu não posso passar 30 anos vendo o sol nascer quadrado, tenho um trabalho mais do que importante a fazer lá fora. 

- Que trabalho é esse que você não pode desapegar? Sei que foi detetive do DPDC, mas fiquei com a impressão de que você tá preservando uma coisa sobre esse trabalho que você se nega a contar. 

- É bem mais importante do que ser apenas detetive. - disse Frank. 

- Sem rodeios, cara. Te conheço não faz muito tempo, mas te vejo como um...

- Um zé mané que leva porrada fácil de um bando de vagabundos. Mas nada bate mais forte que a vida. 

- Verdade, só que... eu ia dizer... amigo. 

Frank havia percebido algo um tanto incoerente. Não fazia sentido ocultar a verdade de Chase e falar abertamente para Gavin que conheceu há menos tempo. Ainda assim, preferiu se resguardar. 

- Foi mal, Chase. - disse Frank, tocando-o no ombro - A ignorância é uma benção. 

Frank saíra do corredor dirigindo-se à cela de Tony Blindado e seu grupo para uma reunião. 

- Enfim chegou ele. - disse Tony, empolgado - Fizemos uma votação e por unanimidade você foi o escolhido. 

- Escolhido pra quê? 

- De se encarregar da primeira parte do plano. - respondeu Tony, confiante - O carcereiro desse corredor deve tá por aí. Você apaga ele, pega as chaves e nos tira daqui. Moleza, não? 

- Eu nunca vi esse carcereiro, conheço o que abre minha cela. Dá pra descrever como ele é de face? 

Eis que o carcereiro em questão dobrava para o corredor. Frank virou o rosto, notando-o. 

- Aí vem ele. - disse o detetive, logo indo executar a tarefa. 

- Ei, o que tá fazendo fora da sua cela? - perguntou o carcereiro, ríspido. 

Frank não respondeu nada até ganhar maior proximidade. 

- Fiz uma pergunta! Por que tá fora da cela? 

Frank agilmente se colocou por trás dele, envolvendo o pescoço com seu braço direito para um Mata-Leão a fim de deixa-lo inconsciente. O rosto do carcereiro ficava vermelho devido à respiração fraca. 

Após finalmente coloca-lo para dormir, Frank roubara as chaves. 

- Consegui. - disse ele, abrindo a cela de Tony e seus comparsas que comemoraram barulhentos, mas o chefe pediu silêncio. 

Todos foram em direção à cela na qual o detento teve sua barriga explodida pelo parasita que ficava à dois corredores, podendo ser simplesmente identificada pelo buraco que não taparam. 

- Tá destrancada, galera, vamos nessa. - disse Tony - E os panacas esqueceram de tapar o buraco. 

Frank vinha mais atrás e percebeu um furdunço num outro corredor à direita de carcereiros se movimentando com urgência. Antes que Frank desse um passo para verificar a situação, um comparsa de Tony chamou sua atenção. 

- Você ainda tá aí?! Vambora, tá esperando o quê? 

- Tem um lance sinistro rolando ali perto. Diz pro chefão que eu debandei. 

- Como é que é? Tá pensando que pode pedir pra sair quando você quiser? Achou errado, imbecil. 

- Eu caio fora por outra via, não tem só aquele buraco! Avisa lá pra ele! 

Sem querer saber de discussão, Frank correu para se inteirar do que ocorria. Na verdade, a simpatia pelo plano de fuga se dissolveu numa vontade crescente de salvar quando relacionou o corre-corre de carcereiros a um pressuposto ataque de Ambrozes. O mais estranho sem dúvida foi imaginar que os monstros parasitários teriam crescido num ritmo fora do usual. Frank teorizou se tratar de uma nova espécie. Achou um rifle jogado no chão, logo pegando-o para si seguindo numa caçada. 

- De volta aos velhos tempos. - disse ele, a arma em riste - Como é bom tocar num gatilho de novo. 

Dobrando para um corredor, o detetive teve sua caminhada abruptamente interrompida quando o corpo de um carcereiro caiu do teto completamente mordido. Frank recuou levando um susto com o estado horripilante da vítima que sangrava em todas as partes que os dentes do Ambroz mordera. 

A criatura pulou do teto para o chão diante de Frank que atirava conforme recuava. 

As balas mal atingiam a pele praticamente impenetrável do monstro que fazia um som animalesco. Teve de agir com o último recurso. Pegou um isqueiro do bolso e o acendeu, logo jogando-o sobre o Ambroz que possuía um formato de cabeça diferente do que aquele que Frank enfrentou anos antes, parecendo dois chifres tortos e pontudos ao invés da cabeça com duas pontas grossas horizontais nos dois lados. O Ambroz foi inflamado pelas chamas que o tomaram rapidamente. Em agonia, o monstro perdeu a direção e Frank precisou desviar habilmente para que passasse por ele sem se ferir. 

Paralelamente, Tony e cia. encontraram a saída do túnel pelo qual um dos Ambrozes saíra. 

- Finalmente livres! - gritou ele. 

- Ué, e o papo de sermos sorrateiros e silenciosos? - questionou um dos capangas. 

A comemoração durou pouco. Os integrantes da gangue viram seu chefe ser engolido por um Ambroz que pulara sobre ele para abocanha-lo. Alguns que já haviam saído correram sem rumo e os que ainda sairiam voltaram pelo túnel amedrontados e gritando de medo. Quanto a Frank, o detetive dava continuidade na caçada pelo outro Ambroz, sem saber que haviam três - dois do lado de dentro e um fora. Foi ao banheiro masculino, entrando e disparando um tiro do rifle na parede. O Ambroz saíra de um box para o ataque. Frank novamente acendeu o isqueiro e o jogara certeiro no monstro que sentiu as labaredas assumirem seu corpo num instante. Por último, deu um tiro na cabeça dele tirando proveito da pele fragilizada pelo fogo, o que matara ele rapidamente. Um rastro de sangue podia ser visto na entrada do box. Indo averiguar, passando pelo Ambroz caído e incendiando, Frank baixou a arma. 

Ao ver o que estava dentro do banheiro, o detetive mal sentiu a arma cair de sua mão direita ao fixar sua visão naquela cena de embrulhar o estômago. A expressão de Frank se resumia a estupefação total.

Deixou-se encostar na parede e sentar deslizando as costas, pondo as mãos na cabeça terrificado. 

Na sua frente estava Chase brutalmente morto com várias marcas de mordidas sangrentas. 

                                                                                ***

Na manhã seguinte, Frank recebera uma visita inesperadamente indesejada. Quando soube quem era, rejeitou educadamente, mas foi contrariado pelo carcereiro que ditava sobre detentos não terem autonomia de escolha sobre quais visitas poderia ou não receber. A contragosto, Frank entrou na sala, vendo um rosto que odiava toda vez que o mesmo aparecia nas suas lembranças. 

- Há quanto tempo, Frank. - disse Hoeckler, as mãos entrelaçadas na mesa - Como tem passado?

- Como eu tenho passado? É sério isso? - perguntou Frank, não cedendo ao impulso de agarra-lo pelo paletó por estar algemado - Na maior cara de pau você vem aqui depois de um ano... um ano inteiro... me perguntar como é que eu tenho passado nesse inferno em que você me jogou? 

- Eu vim prestar alguns esclarecimentos. - disse Hoeckler, estranhamente sério - Pra alegrar seu dia, começo dizendo que você... está livre. Não faça essa cara de incrédulo, estou falando sério. 

- Livre? Quer dizer que arranjou um jeito de me tirar da cadeia? Por que? Quis me remover da equação da forma mais branda possível, porque contratar alguém pra me matar era bem mais fácil na prática. 

- Faríamos isso se você saísse da linha ao ponto de nos oferecer perigo. Mas optamos por uma punição suavizada. Inicialmente, todos os conselheiros da ESP e da segurança pública da cidade concordaram que o melhor caminho para não termos problemas com os espers e seu líder seria tirando você do tabuleiro. Mas quando soube que a cela do ESP-47 foi aberta, o cenário se alterou. Eu subestimei a audácia do esper-X. Deliberadamente ele soltou a criatura que por décadas a fundação lutou para subjugar. 

- E agora ele tá lá fora usurpando o meu lugar, vivendo a minha vida. 

- Como descobriu? - indagou Hoeckler, surpreso. 

- Graças a um cara da penitenciária que manja de projeção astral. Bisbilhotei no DPDC e lá estava o impostor falando com a Carrie e eu sem poder fazer nada pra interferir. Como que foi isso? Pegaram meu DNA de que jeito e quando? 

- Desde a sua ingressão no DPDC, o Conselho de Segurança botou os olhos nas suas ações. Pra dizer a verdade, eles sabiam da sua vida dupla muito antes, apenas me repassaram e foi então que traçamos uma estratégia prevendo uma circunstância problemática. Asseguraram de que qualquer envolvimento de Frank nos interesses da fundação deveria ser acompanhado de perto. No que coube a nós da fundação, os melhores geneticistas desse mundo elaboraram um processo de replicação de código genético que a ciência popular só irá reproduzir daqui à aproximadamente 50 anos. 

- Não pedi aula de história e nem de ciência. Tenta ser mais direto, encurta mais essa história. 

- Que impaciente você hein. - disse Hoeckler, franzindo o cenho - Venho com a melhor das intenções te passar tudo em detalhes e você ainda reclama. Jamais vou ser bom o suficiente, né? 

- Tô cara à cara com o mandante da morte do meu melhor amigo. Já sabe a resposta. - disse Frank, a face austera - Mas fala logo o que fizeram pra me clonar e criar outro ser humano idêntico a mim. 

- Eis o detalhe arrebatador: Não é humano. E nem deste mundo. 

- O quê? Olha, eu até supus que fosse paranormal, mas depois a ideia de que não passasse de uma simples pessoa mal-intencionada fingindo ser eu me pareceu mais provável. Então o que ele é?

- Frank, colhemos seu DNA a partir de um inseto robótico, uma tecnologia que parece coisa de filme de ficção na maior parte do mundo, mas para a fundação é uma realidade praticamente datada. 

- Esse inseto-robô chupou meu sangue que nem um pernilongo, é isso? 

- E nos trouxe uma quantidade ideal para engatarmos o projeto. Introduzimos seu código genético reescrevendo o da cobaia, no caso o ESP-47. Ele respondeu incrivelmente bem à experiência, provavelmente em decorrência de termos feito quando ele atingiu a fase adulta pois o obtemos ainda recém-nascido. 

- Essa coisa tava com vocês desde que era um bebê?! E a mãe, o que houve com ela? 

- Conhece o evento de OVNI ocorrido em Roswell no ano de 1947? 

- Aham. - respondeu Frank, logo concluindo - Peraí... Se eu entendi direito... A mãe do meu clone é o E.T que caiu em Roswell? Todo aquele bafafá cheio de teorias dos especialistas foi porque vocês interviram? 

- Exato, não íamos deixar informações tão cruciais chegarem aos ouvidos de quem não sabe o valor de um silêncio. Os idiotas teóricos se limitaram ao campo do falatório chato e interminável. 

- Caramba, eu que não acreditava nessas coisas... De tudo que é sobrenatural, desconhecido e surreal, alienígenas era a única exceção na minha crença. Agora... eu não sei o que pensar... Tô sobrecarregado.

- Pense na recuperação de sua antiga vida. Terá tempo de se reajustar, cumpriu bem menos da metade da sua pena e se cumprisse metade com um bom comportamento ganharia liberdade condicional.

- Quer dizer que tô 100% livre? Nada de tornozeleira? 

- Você continua algemado, mas quando encerrarmos essa conversa sua vida de cão nessa masmorra terá acabado. Devia estar mais do que grato. Usei de um recurso pra recorrer à sentença limpando seu nome.

- Se podia me tirar daqui com esse recurso, pra quê esperou um ano todinho? 

- Com a soltura do ESP-47, estudamos cenários e possibilidades. Tentamos caça-lo seguindo seus rastros, mas tivemos muitas baixas. No último ano, ele agiu exatamente como você, indicando que se preocupava em passar uma imagem autêntica de Frank Montgrow para todos que o rodeavam. 

- Gostaria de saber como ele se tornou um excelente imitador. 

- Ele ocupou a instalação subterrânea da fundação, deve ter tido acesso a arquivos de vídeo do banco de dados além do próprio caso Roswell. Perdemos nossa principal base operacional. Migramos pra uma alternativa, mas a estrutura não cobre nossas despesas, muito menos nossas demandas de contenção. Falhamos. 

- Quer que eu sinta pena? Acho é pouco. 

- Despeje sua raiva à vontade, Frank, só não esqueça que a segurança mundial contra as anomalias é um dever mais nosso do que seu e da sua classe quase extinta. Não te desmereço, você até tem um crédito. 

- Tá legal, vamos acabar de uma vez com esse papo cheios de más notícias. O que ele é? 

- Não sabemos com precisão. - disse Hoeckler, baxando a cabeça, pensativo - Mas sabemos do seu grau de periculosidade. Lembra do segredo governamental que eu não pedi pra que você descobrisse? 

- Como assim não pediu? Você me deu a merda do cartão de acesso pra cair na armadilha. 

- Pois é, mas não conscientemente. O esper-X controlou minha mente porque queria que você estivesse lá. 

- O Atticus entrou na sua cabeça pra te manipular feito boneco ventríloquo, OK. Se bem que ele queria que eu descobrisse o segredo do governo por conta do pesadelo dele. Mas ele não pensaria que isso trouxesse risco de consequência. 

- Ah, ele pensou sim. Não exatamente ele. Afinal, o esper-X não tinha habilidades totalmente espontâneas, elas foram fornecidas. E o que estava naquele tubo explica toda a relação de causa e efeito. 

- A coisa presa naquele tubo que parecia uma semente? O que diabos é aquilo? 

- Chamamos de célula-matriz. A que armazenamos na base aérea veio trinta anos depois à queda do objeto em Roswell. E a que caiu no Novo México é a que nós pegamos primeiro. Descobrimos que há três no total. A última está selada num templo no Novo México localizado numa selva inóspita onde dizem as lendas que bruxos profetizaram um grande evento celestial que marcaria o destino da humanidade. Evento este ligado às três células. O ESP-47 está de posse de uma... por enquanto. 

- Eu que não vou deixar ele completar a coleção e fazer sabe-se lá o quê que vai ameaçar o mundo. 

O tempo de visita expirou com um sinal agudo de um aparelho de som. 

- Aproveite a liberdade, Frank. - disse Hoeckler, tando soar simpático, mas Frank permanecia zangado e um pouco ingrato por ter sido ajudado por um inimigo que lhe prejudicou seriamente e ainda por cima encomendou a morte de um amigo seu. O sentimento de vingança não se atenuou nem um pouco. 

                                                                           ***

Ao chegar em casa, vestindo um casaco preto por cima de uma blusa azul e calças jeans, Frank se deparou com algo que não estava mentalmente preparado para se desafiar a lidar. 

Viu Carrie deitada no sofá algemada e seu clone a beijando na boca. 

- Sai de perto dela, desgraçado! - disse Frank, sacando sua arma. 

- Ah não, eu tenho que parar de ser tão confiante. - disse o ESP-47 - Você tinha que sair justo agora. 

- É, o teu pior pesadelo chegou pra acabar com a tua festa. - disse Frank, mirando a arma. 

- Quer arriscar tanto? - perguntou o clone, sacando sua arma e apontando-a para Carrie - Vai em frente.

- Não se atreve.... 

O falso Frank firmou seu dedo no gatilho. 

- Me atrevo sim, com todo o prazer. - disse o clone, sorrindo de uma forma que Frank até sentira um certo medo sobre o quão malévola podia ser uma expressão que seu rosto seria capaz de esboçar. 

                                                                         -x-

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

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