Capuz Vermelho #52: "Venha comigo se quiser viver"


"Não importa se é próximo ou distante, a minha sina é conhecer as piores versões do futuro."

                                                                      Trecho do segundo diário de Rosie Campbell - Pág 28.
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Mais um corpo havia sido deixado para trás naquele corredor com paredes de madeira vermelha junto aos demais igualmente perfurados em diversas partes. Se distanciando deles, pisando num longo tapete de mosaico, um homem caucasiano e esguio de terno azul escuro desfilava confiantemente após eliminar seus obstáculos e dando um sorriso fechado no seu rosto meio magro.

Avistou um senhor de meia idade saindo da sala no fim do corredor, o mesmo logo assustando-se com aquela presença ameaçadora que largou cadáveres de guardas. Ficara mais boquiaberto ao sentir algo entrando profundo no seu abdômen. Olhou abaixo e viu algo fino como um galho mas que perfurava seus órgãos internos. Era a unha daquele coletor que alongara-se. Ele continuava andando ao senhor até ganhar proximidade e unha voltar ao tamanho normal. Se agachou no mesmo instante em que ele se ajoelhou expelindo sangue pela boca.

- O que você é? - indagou o senhor, amedrontado - Um monstro que não existe nos livros?

- Livros são para lendas. - respondeu o homem - Alguém como eu não precisa disso. Diga-me... Gustaff Brienord fundou este lugar para futuramente preservar relíquias sagradas de seu clube do livro ultra-secreto, certo? Existe uma delas que certamente se encontra... aqui.

- Não ouse mencionar... o nome do meu velho amigo, seu...

- Ah, então você é do outro clube. - disse o coletor, sorrindo - Dos amigos confraternais reunidos nas mesas de bares trocando ideias que não podem ser ouvidas publicamente.

- O que... você quer?

- Só confirme pra mim que não sujei minhas garras desnecessariamente.

Grogue, o senhor ainda sofria com a dolorosa ferida.

- Você... chegou ao seu destino. - por fim, caíra para frente, falecido. O coletor aproveitou a porta entreaberta e visualizou a sala particular do homem. Ao dar três passos, fora surpreendido por uma garota vestindo um manto vermelho que se levantou após escondida na mesa.

- Mas quem é você? - perguntou o coletor, atônito.

- E eu que achava estar famosa com todos vocês. - disse Rosie - Melhor cancelar sua missão.

- Não me diga que é uma ladra profissional. - disse o coletor, olhando-a desconfiado, já preparando suas garras - Olhe, garota... vou avisa-la uma única vez: Saia por aquela porta gentilmente se não quiser terminar como os outros ali atrás, eu raramente sou complacente, mas agora que estou tão perto, não tenho porque me culpar de não ter rasgado-a em pedaços assim que a vi.

- Em primeiro lugar: Não sou ladra. - disse Rosie, saindo detrás da mesa - E em segundo: Você vai sair daqui de mãos abanando.

De repente, Hector viera por trás em supervelocidade agarrando-o com uma chave de braço. O coletor, ágil, o tirara, jogando-o contra uma parede. Rosie viera chutando-o e ambos começaram a trocar golpes. Hector pegara um castiçal e jogara, mas o coletor o destroçou com suas garras e em seguida tentou atacar Rosie com elas, mas o caçador viera superveloz e o empurrou contra a parede, derrubando vários livros.

- Cuidado! - disse Rosie, pulando sobre Hector, evitando que ele fosse ferido por uma garra que o coletor alongou caído no chão.

- Gostaria de saber como me acharam. - disse o coletor, limpando-se - Tiveram uma ajudinha especial?

- Tecnicamente, sim. - disse Rosie, levantando-se com Hector - Uma amiga que é sempre a primeira saber nos ligou de Oxford. Ela está com um amigo nosso que não quer nem pensar no objeto dentro do cofre caindo nas suas mãos sujas.

- Uma profetisa e subtende-se que o amigo de quem fala seja... um mago do tempo. E no sonho dela eu venci?

- Ela não tem exatamente o costume de nos falar suas visões completas - disse Hector -, mas o mistério de como acaba essa história não é maior do que a razão pela qual vocês coletores querem tanto o disco de Chronos. Mataram magos do tempo por gerações, tiveram oportunidades e me é estranho que só agora tenha surgido um interesse especial. Não pense que vamos deixar.

- Não fale como se pudessem. - disse o coletor, teletransportando-se em nanosegundos e sendo visto próximo ao cofre, logo retirando à força a porta com as duas mãos. Pegara o disco e o exibira - Vocês são verdadeiros ladradores. Agora venham. - sorriu cinicamente - O que foi?

- Rosie, podíamos tentar... - cochichou Hector.

- Não. - disse ela, virando o rosto - Nada de barganhas falsas.

- Eu ouvi isso. De qualquer forma, não funcionaria. - disse o coletor, não percebendo os símbolos entalhados no disco brilharem um à um até dispararem uma faísca que o queimara, fazendo-o largar. Ele olhou para a dupla um tanto surpreso e logo correra para fora da sala.

- Pegue o disco, ao que pareceu ele iria se teletransportar, mas não conseguiu, provavelmente a energia disparada pelo disco foi uma rejeição. - teorizou Hector - E isso o bloqueou. Vou aproveitar essa vantagem. - logo saiu para pega-lo.

- É uma boa ideia. - concordou Rosie, assentindo.

No meio do caminho, o coletor parou para verificar sua mão direita e entreviu uma luz amarela trêmula percorrendo sua mão que ia enfraquecendo-se aos poucos. Cresceu sua unha para certificar-se. A inutilização fora momentânea. Logo voltou seus olhos para uma porta pouco mais à sua direita e, com sua garra, cortara a palma esquerda para desenhar um sigilo com sangue.

Ao chegar no mesmo corredor, Hector não o encontrou, contudo um detalhe bastante expositivo lhe chamou atenção. Foi se aproximando com o cenho franzido à porta marcada com o sigilo, a mesma brilhando uma forte luz branca nas frestas. Ao abrir, sua visão fora invadida pela claridade. Rosie chegara lá, vendo-o ser atraído pela luz como um imã.

- Hector! - gritou ela, correndo e acabando por ser "engolida" ao se ver diante da luz.

A claridade foi diminuindo conforme um outro lugar tomava forma aos olhos de ambos. Um grande campo praticamente deserto, repleto de metal retorcido, alguns pedaços pegando fogo e uns prédios desabados e destruídos sob um escaldante sol.

- Onde estamos, afinal? - perguntou Rosie - Hector... Algo me diz...

O caçador interrompera ao apontar para a direção de onde vinha um objeto negro e robusto voando, parecendo um enorme besouro metálico.

- Também não faço a mínima ideia. Mas aquilo não me soa um comitê de boas vindas.

Do gigantesco "inseto", saíram inúmeros seres vestidos com armaduras e máscaras tecnológicas montando em espécies de motos flutuadoras disparando lasers de cor púrpura contra os novos visitantes.

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CAPÍTULO 52: VENHA COMIGO SE QUISER VIVER 

A enxurrada de lasers provocava pequenas explosões e levantava poeira do solo quente. Rosie e Hector mantinham-se juntos correndo freneticamente pelo espaço aberto na tentativa de não serem pegos, apesar da proximidade com a qual os ataques reverberavam. Os asquerosos seres agiam como abelhas vingativas, incessantemente disparando.

- Mas que loucura é essa? De onde vieram esses monstros? - se perguntou Rosie, se esquivando das explosões de fogo de poeira.

- Esse local... - disse Hector, cortando a fala por uma explosão próxima que o fez proteger o rosto -... me parece completamente inabitado! Não pare, Rosie! Tente visualizar um refúgio!

- Estão chegando perto! Ver um lugar seguro nessas condições é difícil! - disse Rosie, afoita, logo olhando para cima e avistando os inimigos sobrevoarem a área - Droga, nos alcançaram!

- Não diminua o ritmo! - aconselhou Hector, tendo que parar para avisa-la - Rosie! - repentinamente, uma explosão atrás dele o fez cair bruscamente.

- Hector! - desesperou-se Rosie, correndo para ajuda-lo, mas fora interceptada por dois outros ataques de lasers que explodiram à poucos metros dela, erguendo uma cortina de poeira. As "motos" voadoras aproximavam-se devagar, algumas ainda fazendo voos rondando as presas a certa distância. - Estamos cercados... - disse ela, olhando em volta, levantando-se. Estreitou os olhos, vendo algo numa velocidade estarrecedora vir naquela direção. - Mas o que é aquilo? Outro deles?

- Melhor nos rendermos, quem sabe tenham atirado para nos intimidar. - disse Hector, levantando as mãos. Percebera o mesmo que Rosie. - Não pode ser... Mas quem será agora?

A nave possuía basicamente o tamanho de um carro, fazendo um rasante próximo à algumas motos flutuadoras. Suas laterais acionaram armas que dispararam tiros convencionais de metralhadora, afugentando a maior parte dos invasores. Rosie e Hector assistiam atentos, porém temerosos. Em seguida, a nave parara até eles, fazendo subir grande quantidade de poeira para despista-los.

A porta enfim fora aberta e dela um homem cujo rosto era ocultado por uma máscara de gás os chamou urgentemente.

- Subam a bordo, forasteiros!

Sem opções, a dupla correra para embarcar na nave, deixando aquela região aparentemente inabitada.

Por fim, dera a partida, se distanciando a toda velocidade. Pouco à vontade, Rosie tentou achar o cinto de segurança. Hector, por outro lado, parecia se adaptar rápido à situação.

- Desculpa aí, o modelo dessa coisa veio com escassez de itens básicos. - disse o piloto misterioso.

- Espera... - disse Rosie, atordoada - Mas o que diabos está acontecendo? Quem é você? Onde nós estamos? Quem eram aqueles desgraçados que nos atacaram sem mais nem menos?

- Oh, calma aí, uma perguntinha de cada vez, princesa. - disse ele, erguendo o indicador. - Bem, digamos que é o meu trabalho salvar pessoas perdidas e metidas nas enrascadas. Estive dando um passeio de rotina para verificar a zona negativa e meu radar detectou assinatura infravermelha.

- Zona negativa? - indagou Hector - Perdão, mas... Nós não sabemos o que isso significa.

- Radiação. - respondeu ele, apertando uns botões - Para nossa sorte, essa área foi descontaminada.

- Chamou a gente de forasteiros. - disse Rosie - O que significa que você provavelmente sabe como e por que viemos parar aqui.

- Rosie, o que está insinuando? - perguntou Hector, olhando-a desconfiado. - Ele acabou de salvar nossas vidas, é parte deste mundo estranho, não tem nenhuma ligação com os coletores...

- Que papo é esse de coletores? Uma facção de Annunnakis?

- Annu o quê? - perguntou Rosie, franzindo o cenho - Será que dá pra explicar logo onde estamos enfiados antes que eu tenha um ataque de nervos? Não tô gostando nada disso, nem um pouco!

- Calma, Rosie. O deixemos explicar tudo. - disse Hector, logo voltando-se para o jovem - Por favor, nos diga quem é, tenha certeza de que somos bastante gratos pelo que fez.

O piloto retirara a máscara. Era um jovem de rosto relativamente fino e cabelos castanho claro. Sorriu para os acompanhantes.

- Prazer, sou o Kyle. - estendeu a mão à Hector que retribuiu - São forasteiros porque... - os olhou de baixo à cima - Não é o tipo mais comum de modelito. Vocês fazem cosplay?

- O-o... quê? - Rosie não entendia absolutamente nada.

- Cosplay. - disse Kyle, entusiasmado - Se fantasiar de personagens. Conheço vários eventos de cultura pop, só uma pena que hoje em dia estejam mais escondidos e menos animados.

- Não estamos fantasiados. - retrucou Rosie, aborrecida - Olha, eu agradeço por ter nos salvado...

- Você largou o volante? - perguntou Hector, olhando preocupado - Por que fez isso? Iremos cair!

- E estamos caindo, por acaso? Pus no piloto automático. - disse Kyle, estranhando ambos - Dura meia hora, mais da metade do tempo necessário para chegarmos ao QG. Sou líder da Resistência.

- Resistência... contra aqueles monstros que disparavam aquelas luzes? - perguntou Rosie, curiosa.

- Sim. Os Annunnakis. Não conhecem? - ela dera uma risadinha - De onde vocês são?

- Inglaterra. - respondeu Rosie.

- Meus ancestrais eram ingleses. Bem-vindos ao Kansas. - disse Kyle. - Ficarão seguros na base, isso eu garanto, podem confiar.

- Nós confiamos em você, Kyle. - disse Hector, intrigado - A questão é bem mais complexa do que imaginávamos. Façamos uma troca equivalente: Nós contaremos como chegamos aqui e você nos revela que espécie de conflito existe contra esses... Annunnakis. A propósito... em que ano estamos?

- 2028. - dissera Kyle, sem rodeios.

A informação soou como uma bomba para Rosie e Hector que entreolharam-se estupefatos.

                                                                                      ***

Já na base, Kyle os conduzira por um corredor revestido de metal sujo e arranhado. Em suma, o local aparentava ser uma grande instalação projetada para abrigar sobreviventes de alguma calamidade.

- Isso é... simplesmente demais. - disse o jovem, empolgado - Não consigo acreditar, duas pessoas vieram do passado acidentalmente e são sortudos por me encontrarem. Hoje é meu dia de sorte.

- O meu não. - disse Rosie, mantendo-se estressada.

- Muito menos meu. - disse Hector, andando lado a lado com ela. - É tão... estranho. Gostaria de acreditar que coletores são capazes de manipular ilusões conforme sua vontade.

- Se está difícil pra vocês, imaginem pra mim. - disse Kyle, passando por uma cortina até a sala de reunião - Muito bem, pessoal. Hoje temos visitas.

Uma garota de cabelo curto com pontas pintadas de roxo levantou-se da sua mesa, surpresa.

- A convenção de quadrinhos só é daqui à seis meses.

- Não os julgue pela aparência, Rachel. - disse Kyle, contente em apresenta-los - Eles não são bem o que normalmente pensaríamos.

- Eu sou a Rosie. - disse ela, acenando timidamente.

- E eu me chamo Hector. Acabamos chegando aqui por mero acaso e fomos salvos de um ataque massivo. Não somos daqui. E quando digo isso estou falando em níveis espaço-temporais.

- Espera... - disse um homem afro-descendente e careca de roupa preta com mangas ao lado de outro - Tá dizendo que... vieram do passado? Mas como?

- É uma longa história. - disse Rosie.

- Sem problemas. - disse Kyle, dando de ombros - Podem resumir em 20 palavras ou menos. Vocês prometeram. Troca equivalente, lembra?

Hector suspirou longamente antes de começar.

- Estávamos em missão contra um coletor, uma criatura vil e amoral capaz de atrocidades terríveis e sem piedade para com suas vítimas. Eles possuem uma habilidade de abrirem fendas para outros mundos e diversas linhas do tempo. Queríamos a todo custo evitar que ele roubasse o disco cronal, um artefato milenar...

- O quê?! - soltou Kyle, espantado - Você falou... disco cronal? Ouvi isso direito?

- Sim. - disse Rosie, suspeitosa - Por que a surpresa de repente?

Após uns segundos pensativo, Kyle andara à um armário puxando rápido uma gaveta contendo inúmeras pastas e retirou uma, logo colocando-a na mesa central e mexendo nos papéis.

- O que é tudo isso? - perguntou Rosie, aproximando-se.

- A senha do banco de dados global. - disse Kyle - Jason - o membro afro-descendente da Resistência -, liga o laptop, hora de invadir a toca do coelho pela primeira vez em muito tempo.

- O quê? Será que dá pra falar na nossa linguagem? Somos de 1942, somos como... símios numa máquina de escrever pra vocês daqui do futuro. - disse Rosie.

- Não seja tão dura consigo mesma. A humanidade se tornou inteligente em muitas coisas e mais estúpida em muitas outras. Eu sinto inveja das antigas gerações. - voltou-se para os companheiros - A senha Jason. "Hasta la vista baby".

- Agora é a sua vez de nos contar. - disse Rosie, cruzando os braços - Esses Annunnakis governam o mundo desse futuro horrível?

- O início da década foi conturbado pra todos. - disse Kyle, adotando seriedade - O advento da Inteligência Artificial Superior nos colocou à mercê de uma detonação em escala mundial. Foi pro um triz que mísseis de bomba H não foram lançados.

- Bomba H? - indagou Hector - O que quer dizer?

- Bombas de hidrogênio. Com potência destrutiva 300 vezes maior que a bomba atômica.

- Foi pra isso que a humanidade evoluiu? - lamentou Rosie - Pra alimentar mais sede por guerra?

- Se serve de consolo, os Aliados vencem em 1945. - revelou Kyle, despreocupado.

Ambos suspiraram aliviados.

- Mas testaram a bomba atômica. Isso custou duas cidades do Japão. Milhares de mortes. Voltando ao nosso assunto... A Inteligência é quem manda e a inicialização dela coincidiu com a vinda dos Annunnakis. Devem ter reparado numa "lua verde" visível a olho nu aos céus.

- Sim, cheguei a ver de relance. - disse Hector - Você não, Rosie?

- Estava ocupada demais correndo de monstros que voam em veículos estranhos.

- Dar de cara com a nave-mãe logo na chegada - disse Rachel, indo até eles - é como encarar o Tiranossauro Rex de primeira numa ilha de dinossauros. Costumam agir assim mesmo: atiram pra meter medo, depois querem negociar e uma vez que não esteja de acordo com os termos...

- É levado diretamente ao chefe do exército. - completou Kyle - Os Estados Unidos é o marco zero da operação de limpeza terráquea. Os Annunnakis promovem massacres diários em qualquer ponto. O plano de dominação global perfeito. A Inteligência se ligou à eles numa relação meio simbiótica, não sei se vocês entendem bem... Eu posso pular algumas partes, se não for incômodo.

- Nos contentamos com o essencial. A única coisa que queremos é arranjar um modo seguro de sairmos daqui. - disse Hector. - O que é o corpo celeste maior do que a lua?

- O planeta deles. - disse Kyle, sério - Por muito tempo foi chamado de Nibiru pelos cientistas... e agora está oficialmente em rota de colisão com a Terra.

- Isso é péssimo. - disse Rosie, aturdida pela informação - Co-como dormem à noite sabendo de um apocalipse iminente? Isso seria razão suficiente pra... assumir que tanta luta é inútil. Olha, não estou querendo desmoraliza-los ou convence-los a pensar como eu, mas o que vejo é...

- Tá tudo bem. - disse Rachel - De qualquer forma, todos irão morrer um dia. O mundo está uma merda lá fora e sobreviver a ele não tem sido fácil. O que importa... é nossa união fortalecida pelo espírito mútuo de batalha. A gente tá nessa pela emoção. A sobrevivência é só um biscoito de presente, não um troféu de vitória. Imagino como deve ser decepcionante vir de tão longe e lidar com o futuro assim tão... decadente.

- Não pense que nossa época é em qualquer aspecto melhor que esta. - disse Hector, quase dando uma risada nervosa - É uma comparação insignificante. Acredite, o nosso mundo já esteve à beira do colapso total.

- Ah é, entendo, o lance da segunda guerra e tudo mais... Se quiserem me dar uma aula de história, tô a disposição.

- Você não entendeu. - corrigiu Hector - O que já enfrentamos vai muito além dos temores da guerra. Vai além de qualquer ciência, qualquer lógica e qualquer crença. Mas ele ainda está inteiro graças aos nossos esforços. Nosso trabalho é similar ao de vocês. Também temos uma equipe.

- E se chama Legião dos Caçadores. - disse Jason, olhando no laptop - Confere?

- Como descobriu isso? - perguntou Rosie, curiosa e ao mesmo tempo confusa.

- Jason invadiu a rede, ahn... - disse Kyle, se segurando para não falar numa linguagem que fosse difícil aos visitantes - Bem, ele está usando um computador... óbvio que vocês não fazem ideia do que é, pois o primeiro modelo só veio a ser testado em 1946, então, pra simplificar: O Jason tem acesso ao banco de dados geral contendo informações do passado e do presente e o recurso principal trabalha com palavras-chave e com os resultados de busca a gente consegue puxar a ficha de qualquer coisa, seja pessoa, objeto, qualquer coisa mesmo. Fantástico, não é?

- Nossos dados achados por meio daquele pequeno aparelho... - disse Hector, maravilhado - Realmente o futuro me reserva surpresas.

- Por favor, a última coisa que eu quero é vocês se sentindo burros perto de nós. - disse Kyle - O resto da equipe está a trabalho. Até agora nenhum sinal de invasão. Posso apresenta-los à nossa sala de monitoramento?

- Se a intenção é nos deixar mais confortáveis, aceitamos. - disse Rosie. - Seja lá o que isso for.

                                                                                  ***

Uma porta dupla automática abriu-se com um silvo com Kyle indo na frente. No entanto, Rosie e Hector mantiveram-se parados, um tanto incertos.

- É impressão minha ou a porta abriu... magicamente? - perguntou Hector, incomodado.

Kyle não conteve uma risadinha irônica.

- Não esquentem com isso, não é nenhuma bruxaria. Eu bem que gostaria de explicar como tudo funciona, mas acontece que... vocês sabem, nosso tempo é curto, são nossa responsabilidade agora.

- Que bobagem, não precisa se sentir responsável por nós. - disse Rosie, entrando - E que bom, essa porta não fechou assim que entrei. Pode vir Hector, não tem perigo nenhum.

O caçador estranhou logo ao passar vendo a porta fechar-se.

- O futuro está cada vez mais me deixando impressionado. Ou eu diria assustado. - disse Hector, pondo-se ao lado de Rosie. - Então é aqui onde ocorrem as detecções de sinais indesejados.

- Com a ajuda da antena de rádio - disse Kyle, apontando para cima -, conseguimos rastrear facilmente qualquer coisa, tudo isso via satélite e aliado a uma conexão GPS.

- Traduza, por favor. - disse Hector, meio nervoso.

- Ahn... A tarefa é manda-los de volta para o passado, não dar uma aula de futurismo. - disse Kyle. Um dos membros da Resistência, Mark, um rapaz de estatura média e meio pálido apesar do bom físico, veio até ele para cochichar algo - Ah, esse aqui é o Mark, nosso tecnólogo... O que foi?

- Vem cá, Kyle. - chamou ele, o tom baixo - Vamos mesmo concordar em mante-los aqui até surgir um trabalho? Pra começar, nem deviam estar aqui, sabem muito bem que...

- Olha, Mark, sei exatamente onde quer chegar. E eu concordo. Épocas diferentes interagirem tão de repente assim não é certo... - coçou a cabeça - Isso pode virar uma bola de neve, eu acabei contando coisas importantes, eu dei spoilers da história... mas veja só, olha pra eles, estão reagindo com naturalidade à maioria das informações.

- Informações que eles carregarão e vão manter depois que voltarem. - retrucou Mark - Kyle, temos um problema aqui, um imenso problema. Como será contornado, aí é com você.

- O que você sugere? - indagou Kyle, aborrecido - O apagador de memória nem saiu da fase de teste...

- Então planejam desfazer nossas memórias antes de nos enviar de volta? - perguntou Hector, deixando-os estarrecidos.

- Como é? Você ligou sua superaudição?! - disse Rosie, repreendendo-o - É, dá pra ver o quanto você confia neles.

- Rosie, entenda. Não faz sentido eles esconderem informações relevantes de nós à essa altura, caímos aqui por mero acidente. Aliás, eu sou o culpado, abri a maldita porta, por minha causa estamos envolvidos numa guerra que não é nossa.

- Ei, calma aí. - disse Kyle, tentando amenizar o clima - Que negócio é esse de superaudição? Não me digam que são Annunnakis infiltrados se passando por gente do século passado e talvez estejam usando fones de captação a longa distância.

- Larga dessa paranoia, somos humanos. - disse Rosie, ríspida - Tecnicamente, ele é.

- Tecnicamente... você quer dizer...

- Sou sobrenatural. - disparou Hector, sem medo - Um lobisomem.

- E eu sou humana, mas este objeto, um brasão - disse Rosie, mostrando o colar -, aciona poderes de um deus que estão dentro de mim e posso usa-los para combater monstros e aberrações que armas humanas não podem matar. O que descobriram ao nosso respeito é somente a ponta do iceberg.

- Meu deus... - disse Kyle, perturbado - Que chocante. - deixou formar um sorriso - Esse dia não pode ficar mais melhor. Não me entendam mal, mas vejo que serão muito úteis.

- Kyle, tem certeza... - interviu Mark.

- Cala a boca. - retrucou o jovem - Olha, prestem atenção: Há um modo de envia-los de volta. O problema... é que ele não está disponível. Não pra Resistência. Por favor, se traí as expectativas, podem me xingar à vontade.

- Não somos tão ingênuos. - disse Hector, compreensivo.

- Um problema enorme desses não vem com uma solução fácil. - disse Rosie. - Inclusive, eu tô começando a achar que... viemos parar aqui por uma razão muito especial. - voltou-se para Hector - Você reparou no mesmo que eu? Na hora que o disco cronal reagiu ao toque do coletor. Aquela energia... foi como uma corrente elétrica transferida pra ele.

- Bem observado, acho bem curioso. - disse Hector - O sigilo desenhado a sangue... com a energia do disco acumulada nele... Agora sim faz sentido. - estalou os dedos - O disco cronal indiretamente nos enviou à esse futuro como um alerta, não partiu das intenções do coletor.

- Espera aí... - disse Kyle, tentando entender - Até onde eu sei, vocês queriam impedir o roubo do disco cronal num museu. Engraçado... É dele que precisam para voltar. E eu preciso recupera-lo a todo custo. Os dois lados tem que sair ganhando no final.

- Disse... recupera-lo? - perguntou Rosie, intrigada - O disco dessa época está em poder dos Annunnakis?

- Sim. O comandante do exército maior deseja usa-lo com os cristais quartzo, uma pedra sintetizada por cientistas poucos anos atrás, cuja radiação uma vez interpolada com a energia do disco cronal num fluxo impenetrável... cria um portal para outros mundos e outras linhas do tempo. O chefe Annunnaki tem quatro cristais de cinco.

- E onde está o quinto? - perguntou Hector.

- Não sabemos. Mas confiamos numa pessoa ligada a Resistência pra pega-lo antes dos aliens. Eu só quero mesmo é o disco. Herança de família.

- O quê? - soltou Rosie, arqueando as sobrancelhas - Isso significa que...

- Kyle... - disse Hector, atento - Você conhece a antiga Ordem dos Magos do Tempo?

- É claro. - respondeu ele, calmo - Meu bisavô atuou nela em meados dos anos 30.

À vários quilômetros daquela região, ocorria um confronto de quatro contra um na fortaleza dos Annunnakis que eles acreditavam ser impenetrável. Pela fisionomia, tratava-se de uma mulher - usando roupas pretas apertadas e uma capa com capuz de mesma cor.

Os aliens aderiram ao combate físico, mas pareciam em desvantagem ante às habilidades da garota.

Um deles veio à ela carregando uma lança, logo em seguida sendo derrubado com um chute no tronco. Outro veio por trás dela, agarrando-a com os dois braços o seu pescoço. A garota o retirou, jogando para frente e cair de costas, depois o chutando forte. Pegara uma lança e disparou o laser púrpura contra um que se reerguia, o mesmo caindo com faíscas crepitando no corpo.

- Não tem mais ninguém? - perguntou ela, confiante. Pegando-a de baixa guarda, um dardo a acertara no braço, fazendo-a cair inconsciente. Um dos Annunnakis aproximou-se para carrega-la puxando pela roupa. As luzes púrpuras do seu capacete brilhavam mais intensas.

No QG da Resistência, Kyle explicava resumidamente a verdade que deixara Hector e Rosie perplexos.

- É esse o nome do meu bisavô. - disse o jovem - Charlie. Meu sobrenome é Brienord. Inacreditável... - andou pela sala, pasmo - Muita coincidência estarem aqui. Isso tem um nome, é destino! Que outra explicação posso dar? É simplesmente maravilhoso ter ao meu lado as pessoas que conheceram meu bisavô, eu nunca o conheci e agora...

- Não Kyle, pense antes de falar. - disse Hector - Foque-se na missão, o fato de você ter sangue de mago do tempo é ótimo, mas é preciso se concentrar no seu objetivo a partir de agora.

- É verdade, não adianta ficar todo empolgado numa hora dessas. - disse Rosie - Parece que você se esquece dos problemas.

- Ele é assim mesmo. - disse Mark - Sempre preferindo a emoção.

- Vou tentar me controlar. - disse Kyle, respirando fundo - É tanta coisa... tanta coisa pra perguntar, tanta coisa que quero saber... Eu herdei, por direito, a maior parte dos artefatos da fraternidade. A minha favorita é a lança multi-utilitária. Posso me teletransportar, disparar raios com elas, uma porção de funções completamente iradas que fazem os Annunnakis parecerem bonecos de massa.

- O Charlie nos contou o essencial sobre os magos do tempo. - disse Hector - Ele passou por maus bocados nas mãos de um deus genocida e conquistador de mundos, mas ele passa bem, está estudando na universidade de Oxford.

- Caramba, fico mais louco de conhecer a época de vocês. - disse Kyle, sorrindo - Deuses, magia, lobisomens... Tem vampiros também?

- Sim, já enfrentamos muito deles. Sanguinários e hostis. - disse Rosie.

- Eles queimam no sol?

- Há duas espécie bem diferentes. Uma pode caminhar sobre a luz do dia e outra é vulnerável à luz solar e agem como predadores noturnos. - complementou Hector.

- E os que são imunes ao sol... não brilham, certo? - perguntou Kyle, fazendo cara de enojo.

- Brilhar? Do tipo brilho mágico e resplandecente? - questionou Rosie.

- Quase isso, digo... brilhar como glitter. Isso não acontece né?

- Claro que não. - disse Hector - De onde você tirou essa ideia? Isso não tem relação alguma com vampiros.

- Bem, é o que deviam avisar pra pessoa que escreveu o livro de onde saiu isso.

- Uma fonte não-consultável quando o assunto é vampiros. - disse Rosie.

- Verdade. O pior é que fizeram um filme.

- Imagino como ficou horrível usando essa proposta completamente estúpida.

- Nem me fale.

Enquanto isso, na instalação Annunnaki, a garota fora levada para pessoalmente tratar dos assuntos com o chefe, segurada por soldados que a pegavam pelos braços rudemente. O chefe Annunnaki era corpulento e seu capacete-máscara, todo em metal, possuía linhas com luz púrpura e quatro "protuberâncias" que pareciam botões brilhando na cor. Caminhou na direção da capturada com as mãos para trás, exalando pompa e altivez dentre seus subordinados que curvavam-se à ele.

O lugar ao redor era bastante escuro, só tendo como iluminação a passarela por onde o chefe andava ao seu trono, tudo reluzindo em azul artificial.

Os guardas desocultaram o rosto da moça puxando o capuz. Ela tinha aspecto jovial, rosto meio redondo e caucasiano, olhos castanhos e grandes, além de cabelos da mesma cor e ondulados.

- Levantem-a. - disse o comandante, severo. Os guardas o fizeram. - Recentes rumores alegavam que você obteve algo que nos pertence. Baixamos os arquivos envolvendo as pesquisas do laboratório central desta cidade. - inclinou-se para ela - Eu não esperaria menos da filha do grande cientista que desenvolveu a sintetização do quartzo, o elemento-chave para um sonho anteriormente distante.

- Fiz como manda o protocolo. - disse a garota, amedrontada - Tarde demais pra me desculpar pelo atraso? É por isso que estão me tratando assim? Vim pacificamente, a recepção dos seus lacaios idiotas é desnecessária.

- Eles retribuíram da forma como acharam melhor, tendo em vista que estamos lidando com um membro da chamada Resistência. - disse o comandante. - Revistem-a.

Os soldados executaram a revista e um deles encontrou um cilindro pontudo enrolado num pano marrom de algodão. Ao desenrolar, constataram tratar-se de um cristal quartzo transparente.

- Oh, veja o que temos aqui... - disse o chefe, animado - Então viria pessoalmente à mim fazer a entrega...

- Não confunda as coisas. Esqueceu a razão de aceitar esse serviço sujo? Você me falou como funcionam as linhas do tempo. Voltar para o passado cria uma linha que existirá paralelamente a que não foi afetada. Não é assim? Portanto, eu acho bom cumprirem o acordo. - falou ela, desafiadora - Estou aqui para ver meu mundo livre da imundice que trouxeram. Vajam no tempo, libertam meus pais e doa todo o seu arsenal à Resistência para destruirmos o planeta X.

- Você foi extorquida. Agiu como uma boa soldada dupla. - disse o comandante - Entretanto, por ora, deverá estar sob nossa custódia. O que foi? Não imaginou que fôssemos libera-la para comemorar com seus amigos a garantia da minha parte. Também não posso prometer nada. - deu uma risada.

- Canalha. - disse ela, sendo novamente agarrada. - A Inteligência vai se mobilizar caso descumpra o acordo, seu filho da mãe! Lembrem-se que estão submissos à ela! Perderam a noção do perigo?

- Levem-a daqui. - ordenou o comandante Annunnaki.

Enquanto era conduzida à força, a garota discretamente apertara um botão de seu cinto e um minúsculo círculo vermelho acendeu-se no igualmente minúsculo aparelho acoplado.

No QG da Resistência, um bipe agudo soou vindo de Kyle que retirou um objeto similar a um gravador que emitia a luz vermelha piscante. Mark também exibiu o mesmo objeto.

- Que negócio é esse? - perguntou Rosie. - Não inspira coisa boa.

- O sinal de alerta. - disse Kyle, lívido, logo olhando para a dupla - Minha namorada, Layla, está em apuros. Fiz ela carregar um aparelhinho, todo mundo recebeu um desses, uma espécie de bipe, que ela apertaria o botão somente em caso de emergência que seria, por exemplo, uma missão furtiva na fortaleza dos Annunnakis.

- Por que ela invadiria um local projetado com segurança máxima? - perguntou Hector - Alguém sozinho seria incapaz, teoricamente.

- Mas esse era o plano. Layla ser pega justificaria uma nova invasão.

- E qual foi a última vez que vocês tentaram destruir o QG dos Annunnakis? - perguntou Rosie.

- Há dois anos e meio. Durante a trégua, ela teria tempo suficiente para achar o último cristal quartzo, ela tem acesso irrestrito aos arquivos do pai dela que foi cientista da organização.

- Então Layla invadiu hoje querendo reaver os cristais e o disco? - questionou Rosie.

- Não exatamente. - disse Kyle, meio desconcertado. Jason e Rachel entraram na sala, mostrando seus bipes piscando e zunindo.

- O dever nos chama. - disse Rachel. - Me passa a chave do arsenal.

Kyle retirou um molho de chaves e o jogou para a companheira.

- Vou preparar as naves. - disse Jason - Mark, vem comigo. Checagem rápida dos motores. Depois você contata o resto do pessoal, na verdade já devem estar se aprontando.

- Sempre eu... - disse ele, relutante, indo com o amigo.

- Temos um resgate a fazer. - disse Kyle para Rosie e Hector - Hora de mandar bala. Estão conosco?

                                                                                      ***

A opulenta fortaleza Annunnaki anteriormente fora uma penitenciária de alto requisito naquela região desolada. Uma metrópole inabitada fazia vizinhança com o complexo à alguns metros.

O sol da tarde refletia intenso nos vidros das quatro aeronaves robustas que eram dotadas de duas hélices e turbinas nas laterais e voavam num ritmo acelerado.

Um membro da Resistência se pôs para fora, carregando uma arma pesada, similar à bazuca. Mirara num espaço aberto, parecendo um pátio onde Annunnakis circulavam tranquilamente.

- Só cuidado pra não acertar o campo de concentração. - avisou o piloto. - Tem feito exame de vista?

- Qual é?! Não pareço tão enferrujado! - retrucou o soldado.

- Campo de concentração?! - disse Rosie, afetada pela informação. Estava de pé com Hector segurando-se em algumas alças. - Mantém pessoas em cativeiro e escravizadas?

- É lá que os pais da Layla estão. - disse Kyle, preparando armamento - Por isso parte do nosso trabalho é recolher pessoas para evitar de serem jogadas no campo. O deles é pega-las para mão de obra forçada e expandir o complexo. Os que descumprem a ordem são condenados a fuzilamento.

- Não é muito diferente do nosso tempo. - disse Hector.

- Pois é. O Fuhrer é o grande inspirador do chefão alien. Pega. - jogara uma metralhadora para Hector.

- Obrigado. Usando apenas minhas habilidades de lobo não bastaria. Sinto falta dos gatilhos.

- E você Rosie...

- Não, tudo bem, você ouviu o que falei, esse pequeno objeto contém grandes poderes.

- E com grandes poderes vem uma grande vantagem. E responsabilidades também. - disse Kyle.

O soldado da Resistência disparou. O projétil tinha formato de um cilindro e fazia um som agudo de "pi" que aumentava velocidade. Os Annunnakis aproximavam-se curiosos, seus braços equipados com suas armas a laser. Ao atingir o limite, o objeto causara uma explosão que devastou todo o pátio, levantando uma volumosa nuvem de fumaça preta com fogo, destruindo aliens que ali passavam.

Três naves pousaram imediatamente, logo abrindo-se as portas dando saída para um exército de homens e mulheres armados com fuzis e metralhadoras de alto calibre e equipados com roupas protetores pretas e máscaras com visores. Um blindado se posicionou diante do portão principal, destruindo a entrada e sendo recebido com lasers disparados por Anunnakis na frente de uma vasta retaguarda preparada para abrir fogo.

Do blindado saíra alguns soldados que lançaram saraivada de balas e a equipe das naves juntou-se à eles. Uma zona de guerra instalou-se, mas aquilo não passava de uma distração. A quarta nave pairava acima da cúpula do refeitório do antigo presídio. De lá desceram soldados presos à cordas, tendo Kyle incluído.

Todo esse grupo se movimentou para um corredor, não demorando a encontrarem aliens fazendo ronda por todas as partes, dando início ao confronto no interior da fortaleza. Kyle seguiu correndo sozinho por outra direção, a fim de achar a cela onde Layla estava confinada. Seu comunicador apitou.

- Kyle, aqui é o Jason! Apesar da fumaça, dá pra ver a nave-mãe vindo nessa direção!

- Ai caramba... - disse o jovem líder, desesperado. Um Annunnaki o pegara, mas ele atirou com a metralhadora mais velozmente, derrubando-o - O Hector se juntou ao pessoal?

- Ele e a Rosie estão separados! Que merda de trunfo é esse que ela tem hein?

- Confia nela, cara! Tenho certeza que com o poder que ela traz é capaz de fazer a nave-mãe em pedaços com uma força destrutiva maior do que qualquer bomba nuclear. Não houve tempo pra demonstração, mas... tô apostando minhas fichas, eles não estão aqui a toa, nem por acaso, eu acredito neles e acredito na vitória da Resistência!

- Será mesmo que ela dá conta? Eu pago pra ver! O Hector parece ter entrado e já atirando... Torça pra se esbarrarem... Estamos avançan--

- Jason! - a comunicação havia sido cortada. - Ah não... - Kyle imaginara o pior.

No lado de fora, Rosie fora a última a sair da nave, encarando os Annunnakis que vinham nas motos flutuadoras e desciam para combate.

- Apotheosis! - disse ela, tocando no brasão e passando por uma coluna ao transformar-se na fênix apoteótica. Não dera tempo para os inimigos atirarem. Ergeu levemente os braços com os dedos em forma de garra e materializara labaredas que cresciam até rodopiarem e virar um tornado flamejante que arrastou-os para consumirem suas carnes. Os olhos da jovem brilhavam em amarelo intenso e sue grito potente agia em conformidade ao aumento de poder. Por fim, Rosie desfez-se do enorme pilar baixando os braços bruscamente, assentando o fogo que se espalhou como uma onda infernal. Nenhum Annunnaki nas proximidades escapou de ser atingido.

Logo, a jovem visualizou o gigantesco "inseto mecânico" que viu mais cedo e correu superveloz para adquirir melhor distância. Enquanto isso, Hector apontava sua metralhadora nos corredores que passava, mantendo sua guarda. Um Annunnaki surgira na sua frente, mas o caçador disparou num segundo, mirando na cabeça - conforme avisado por Kyle, pois o capacete é a fonte de controle da I.A sobre eles. O alien caíra atirando laser no teto que fez despencar pedaços, fios e faíscas.

Hector seguiu, tomando cautela máxima. Rosie disparava raios de energia solar contra os Annunnakis que ousavam enfrenta-la, sua concentração na nave-mão inabalável.

- Tudo bem. - disse ela, esfregando as mãos - Desafio número dois. - fechou os olhos, emanando uma aura dourada que fizera o chão tremer. Canalizou energia nos punhos cerrados. Depois ergueu de leve os braços na direção da nave-mão e abrira as mãos, lançando o poderoso raio retilíneo que logo a acertara em cheio, provocando imensa explosão que a fez inclinar para um lado. Muitos Resistentes não deixaram de contemplar o feito. Porém, o ataque promoveu um efeito adverso em Rosie na forma de sangramento nasal. Mais tiros com explosivos vieram, abatendo duas torres e Rosie os viu cruzarem os céus ao se ajoelhar quase esgotada.

A explosão provocou tremores e na cela de Layla reverberavam fortes. Muita terra e pó caía no local de sua cela. "Não me dá outra escolha. Medidas drásticas agora.", pensou, olhando para os dois Annunnakis que faziam guarda e esticou seu braço direito, recitando palavras em latim...

Um deles começara a exibir labaredas no corpo e se desesperar.

Enquanto isso, Hector seguia por um caminho pouco iluminado a cada corredor. A instabilidade na fiação elétrica dificultava o percurso. Segurando firme a metralhadora, o caçador se beneficiou da sua superaudição, guiando-se através dela para alcançar uma área de certa importância.

"Podemos iniciar agora mesmo... Tenho orgulho da garota, só lamento pelo fim que essa aliança terá quando finalmente despertarmos a máquina do tempo definitiva... fronteiras devem inexistir para criaturas nobres como eu e convocarei meus soldados para glorificar a minha façanha."

A porta da sala central fora arrombada com um chute. Todos voltaram seus olhos para ela.

O chefe Annunnaki virou o rosto para um lacaio.

- O cristal, posicione-o.

Hector atirara como intimidação, o que não impediu do soldado repousar o quinto e último cristal. O disco cronal acendeu-se e ergueu do chão, logo em seguida os cristais ao redor dele realizando o mesmo e emitindo luz amarela.

- Pare já, agora! - disse Hector, autoritário. A metralhadora fez somente um click com o apertar do gatilho. - Droga...

- Resistência... Até quando preferem ver sangue derramando por esforços inúteis? - disse o chefe, estalando os dedos e apontando para Hector - Peguem-o.

O disco cronal se posicionou com o "buraco" para cima, logo recebendo feixes de energia dos cristais e enfim liberando o seu próprio feixe vertical que abrira um portal para outras linhas do tempo.

- Kyle nos contou tudo o que precisávamos. - disse Hector, afastando-se - Pretende invadir outras linhas temporais como modo de expansão do seu regime tirano. - largou a metralhadora, transformando-se em licantropo, o que chamou a atenção do chefe.

- Esperem! Parem! - ordenou ele - Reconheço essa face... - andou até Hector.

- Melhor ficar longe... - disse o caçador, rosnando.

O chefe o pegara pelo pescoço violentamente.

- O portal não será obstruído por seres de baixa casta. Mas você... chegou numa hora oportuna, meu amigo. Eu o vi em meditações profundas... conquistando, devastando e fazendo sangrar corpos indefesos. - removeu seu capacete, revelando um rosto parrudo e roxo - Você não é ele, embora tenha sido predestinado. Sua linha do tempo é diferente, uma ramificação... uma saída de emergência.

- Co-como... sabe de Abamanu? Como sabe do que ocorreu em 1944? Nós impedimos esse futuro!

- Suponho que não foi avisado como se deve. - disse o chefe, jogando-o contra a parede - Viajar no tempo era, a princípio, uma violação grave. Aos deuses. Quando se entra num passado ou futuro, uma divisão é feita: A linha que você altera... e aquela cujos eventos ocorrem sem a influência do viajante. Ficando a existir dois futuros distintos em paralelo. - aproximou-se de Hector ameaçadoramente.

- Quem é você, afinal? - perguntou o caçador, levantando-se - Fala com uma arrogância típica de...

- De uma divindade? Não está errado... mortal. - disse o chefe, sorrindo - A medalha de ouro é minha. Eu não voltarei para aquela maldita prisão.

- Espere... você é... - Hector estreitou os olhos - Chronos?! Mas como?

- Liberdade por bom comportamento. Porém, liberdade sem um custo é inadmissível aos protocolos padrões. - disse Chronos, as mãos para trás. O portal continuava aberto - Calculo que 95% do meu poder foi retirado e vaguei sem rumo me adaptando aos costumes humanos até a chegada desses seres de outro planeta e obtive minha chance pegando a melhor casca. Nada me restou como deus além do nome. Nem forças para uma nova geração de magos do tempo eu podia reunir. - falou, enraivecido. - Mas agora aí está o meu sonho imperdível. - apontou ao portal - Eu preciso do seu outro eu possuído pela quimera e quem sabe criarmos um vínculo que beneficie as duas partes, um contrato mútuo. O da sua linha encontra-se preso, infelizmente e ela já está problemática demais para ser interferida logo de primeira, então me restou o outro lado da história, o lado mais sombrio, como opção.

- O quê? O que diabos é isso? Por que Abamanu desse futuro é tão importante aos seus planos?

- Eu preciso do último mago do tempo vivo... e só então intervir nos eventos da sua linha para toma-lo para mim antes da quimera exaurir boa parte do conhecimento que dei através do meu disco.

- Então é isso? Charlie é peça-chave, planeja possuí-lo... pois é o remanescente e com ele mantendo a integridade conseguirá reaver a sua. - compreendeu Hector - Só tenho a avisa-lo... de que sua vitória não está totalmente ganha.

Um raio amarelo fora disparado de algum ponto, acertando Chronos em cheio.

Era Kyle, surgindo de um canto opaco portando a lança de mago do tempo e apontada à Chronos. A ponta fumaçava indicando que o tiro partiu dela.

- Kyle! - chamou Hector - É melhor que fuja, ele...

- Eu já sei. - disse o jovem, sério - Ouvi absolutamente tudo. E quer saber de uma coisa? Vou mandar esse miserável pro inferno por jogar no lixo todos os princípios da ordem que a minha família fez parte! - preparou-se para atirar novamente - O que você quer? - chegou próximo a Chronos.

- Kyle, eu sugiro que você...

- Hector, deixa comigo! - disse ele, logo chutando Chronos na barriga - Anda, desembucha! Você traiu a ordem... Um lixo como você merece apodrecer na prisão. Como pôde?

Chronos desatou a rir cinicamente, enquanto tentava levantar-se. Os soldados Annunnakis apontavam suas armas laser aguardando permissão para atirar.

- Não acha... que está inflando um pouco demais o seu ego, rapaz?

- Não muda de assunto, canalha. Vou fechar esse portal, a lança...

- Sua lança de nada serve! - vociferou Chronos - Pensa ter moral para me afrontar desse jeito... considerando que você não é legitimamente um mago do tempo? Estou olhando pra uma piada.

O deus dera uma rasteira em Kyle, derrubando-o e em seguida chutando a lança para longe. Pegou-o pelo pescoço, apertando a mandíbula com outra mão.

- Você tem o sangue, mas não tem o poder. Não lhe faz diferença? Patético.

- Kyle! - disse Hector, querendo intervir, mas os Annunnakis mantinham sua postura ameaçadora.

- O caçador! Despachem-o no portal. - ordenou Chronos, afligindo a Kyle. - Eu cuido desse pequeno estorvo. O lider da Resistência humana ser um legado de mago do tempo... Estou surpreso. Irei me apossar de seu querido bisavô... e o resto dos deuses terá olhos para mim e quero que todos venham com suas armas mais letais... eu não terei piedade. - o discurso fizera Kyle derramar uma lágrima - Por último... será a vez do meu outro eu ser liberto. E juntos formaremos uma aliança que destronará todo o panteão num golpe só. Minha nobre foice será de grande ajuda. Os coletores a levaram nesta linha, mas lá ela se encontra intocada. Podem destruir esse lugar à vontade, já tenho... tudo.

- Kyle! - gritava Hector, sendo levado à força pelos Annunnakis ao portal - Não... Não! Me larguem!

Enquanto isso, Rosie seguia por vários corredores à procura de um sinal que indicasse estar próxima da cela de Layla ou do restante da equipe que adentrou no complexo. Seus passos se aceleravam.

- Mas o que... - disse ela ao se deparar com uma trilha de corpos de Annunnakis carbonizados.

- Quem está aí? - pergunto uma voz feminina vinda de dentro dum armário com porta enferrujada. Pelas finas fissuras a pessoa via Rosie parada observando os cadáveres. Bateu enquanto falava. - Por favor, responda! Quem é você?

- Fica calma... - disse Rosie, abrindo o armário tentando remover a chave - Ótimo... pode sair.

Layla saiu arquejando para respirar ar puro. Olhou para Rosie com agradecimento.

- Está tudo bem, você se salvou. - disse Rosie, tocando-a nos ombros - É a Layla, certo?

A garota fez que sim com a cabeça.

- Não conte ao Kyle sobre o que eu fiz. - ela chorava. - Por favor. Sei quem você é, está acompanhada de um caçador, o nome dele é Hector e o seu é Rosie... Vieram de um passado distante.

- Ma-mas... como você sabe? - disse Rosie, mas logo achou a resposta na mente - Ah sim... Vo-você é... uma profeta, digo, profetisa?! Nós viemos de outra linha do tempo... alteramos essa, o que significa que existe uma outra onde você não se salvou.

- Todos morreram nessa outra realidade. - disparou Layla - Sem restar nada. O planeta X colidiu. A previsão era para daqui à 13 anos... mas Kyle e os outros morreram antes do impacto. O plano de Chronos é terrível, insano e ambiciosamente egoísta. Ele possuiu o chefe Annunnaki desde o início d invasão.

- Mas Chronos... não estava preso?

- Sua liberdade foi concedida por bom comportamento. Agora está entre nós, desejando vingança contra os deuses e os humanos também serão afetados. Todas as linhas do tempo correm perigo.

- E quem fez isso contra os Annunnakis? - perguntou Rosie, olhando para os corpos queimados.

- Fui eu. - disse Layla, surpreendendo-a - Tenho uma outra condição sobrenatural... uma ajuda a outra constantemente. - ela suspirou - Sou uma bruxa. Mas o Kyle não sabe, não pode saber.

- Por que não? - indagou Rosie, mostrando-se amigável - Olha pra mim... Eu já senti na pele o que é se desiludir com alguém quando se tem um segredo guardado. Segredos só arruínam relações. Ele não parava de falar sobre você no caminho. Se você o ama de verdade... a coisa certa é ser honesta.

Layla ficara pensativa por uns segundos.

- Tem razão. Eu prometo contar, Rosie. Obrigada por me encorajar, eu precisava... há muito tempo.

- De nada. Agora preciso que fuja depressa. Use sua magia e acabe com qualquer alien que vier.

- Ou podemos fugir juntas. - disse Layla, pegando-a pela mão e andando.

- O quê? Mas Layla... Hector, Kyle e os outros...

- Confie em mim, por favor. Vamos. - apressou Layla, correndo com a jovem.

Na sala central,algo estranho começava a ocorrer com o disco cronal. O porta se expandia gradualmente, um efeito incomum. Chronos jogara Kyle contra a parede usando telecinesia.

- Acabou. - disse ele.

Repentinamente, a pesada porta de entrada fora explodida do outro lado, causando estragos.

- O que estão esperando? Joguem-o! - disse Chronos, entrevendo pela fumaça a equipe da Resistência chegando armada.

Percebendo que estavam distraídos, Hector os golpeou com os cotovelos e se livrara.

- Só tem dois aqui?! - disse Rachel, com uma metralhadora - Que sorte a nossa.

Os outros membros foram ajudar Kyle, mas ele recusou-se a seguir para um local seguro.

- Ei, espera, o que você tá querendo fazer? - disse um deles.

- Me deixa. Essa luta é entre mim e ele. - disse Kyle, logo olhando para o portal - Essa não. - um semblante de preocupação se formou no rosto. - Vocês precisam fugir daqui, sem olhar pra trás. Tem que confiar em mim, é sério! Fujam todos! - esticou o braço direito e a lança voou até ele - O portal se instabilizou. Levem todos que puderem.

- Tem uma equipe cuidando disso. - informou um deles.

- OK. Foi um prazer trabalhar com vocês, rapaziada.

- Ei, Kyle, o que tá pensando?

Chronos grunhira raivoso e telecineticamente empurrara os membros da Resistência contra a parede.

Hector também não escapou e se colidiu com um painel de vidro contendo artefatos Annunnaki.

O deus fechou as mãos, sufocando-os com seu poder.

- Sem mais obstáculos. O túmulo de vocês será aqui.

Hector lutava contra a asfixia pujante.

- Deixa eles em paz, Chronos. - disse Kyle, destemido - Meus amigos ninguém machuca. Sua briga não é com eles.

- Não fique se achando.

Ambos correram um ao outro. Chronos segurou a lança cuja ponta emitia um brilho tremeluzente.

O disco cronal entrara em sobrecarga e estralava energia com um pulso, alterando as propriedades do portal. O imprevisto fez com que uma singularidade fosse criada e alguns pedaços de objetos na sala começavam a ser absorvidos pelo portal.

- Fujam! - gritou Kyle para o pessoal. A extensão do portal os arrastava lentamente para consumi-los.

- Solte a lança, mortal. Ou seremos engolidos!

- Então você sabia que tudo ia se ferrar?

- Não! Mas se tenho que aceitar a derrota... será levando você comigo!

- Vamos! Por aqui! - disse Jason, numa saída alternativa, chamando a todos ao ver a gravidade da situação. Hector se juntara à eles na fuga. O portal devoraria tudo ao redor em questão de poucos minutos e se estenderia além da área despovoada, o que levaria a danos mais significativos.

O ponto crítico não demorou a chegar. Raios perigosos despejaram-se do disco e dos cristais como amostra do efeito adverso da conexão. Chronos e Kyle continuavam a ser puxados ao portal.

No lado de fora, Rosie e Layla correram na direção de Hector e os demais.

- O que tá acontecendo? Cadê o Kyle? - perguntou Rosie.

- O tempo se esgotou, ao que parece o portal ficou instável e se transformou num imã...

- Como a estrela que Yuga criou pra destruir o planeta?

- Exato. Toda essa extensão será consumida em poucos minutos. A Resistência vai evacuar a área.

- Mas e o Kyle... - disse Layla, aflita.

- Eu sinto muito. Decidiu ficar e lutar contra Chronos, a todo custo. - disse Hector, desalentado. - Depressa, vamos! - correra com ambas.

No tempo esperado, a fortaleza fora devorada pela voraz singularidade. Porém, o disco cronal extrapolou seu limite e se auto-destruíra numa explosão pulsante que varreu as proximidades.

Nesse período, a Resistência havia conseguido distanciar-se na área urbana. Layla caíra de joelhos, aos prantos, sendo consolada por Rosie. Os corajosos membros enxergavam na grande fumaça da explosão a perda irreparável de alguém que prometeu guiar uma parcela de humanos na direção da honra e sobrevivência. Todos, exceto Layla, lamentavam em silêncio. Rachel chorava com a mão cobrindo a boca. Jason e Mark abraçavam-se comovidos.

- Hector... E agora? - perguntou Rosie, frustrada, ao lado da profetisa - Não... Eu me recuso a acreditar que tenha acabado desse jeito. Ainda podemos voltar... Até porque estamos num futuro onde a tecnologia evolui a passos largos, talvez haja uma máquina, alguma coisa que...

- Não. - interrompeu Layla - Todos perderam. Guerras como a que travamos nunca reservam vencedores. Está tudo acabado. Kyle se foi... junto com nossa esperança.

- Layla... - disse Rosie, tentando acalma-la. Um dos membros apontou numa direção com veemência.

- Ali! Olhem com atenção! Tô vendo, hahah! - disse ele, animando-se. Layla se levantou, incrédula.

Uma luz de esperança reacendeu. Kyle caminhava diretamente aos seus bravos companheiros segurando a lança cronal e seu longo casaco marrom coberto de poeira.

Layla o abraçara em meio a aplausos calorosos da Resistência.

- Sentiu saudades? - indagou ele, brincalhão.

Sua namorada rira, batendo de leve no seu ombro.

Rosie e Hector sorriam orgulhosos do casal, tendo suas expectativas renovadas.

- Ainda temos uma missão pendente. - disse Layla.

- Só um instante, eu preciso contar o que houve lá. - disse Kyle, olhando para todos - É péssimo dizer isso, mas somente uma pequena fração dessa guerra foi vencida. - fez sinal com os dedos indicando pequenez - Eu empurrei o Chronos pro portal assim que o disco alcançou o ápice. E depois... não sei como explicar em palavras, mas... fui envolvido por uma energia, na hora da explosão, que jamais vou esquecer. - andou até Rosie e Hector - O disco não deu ponto sem nó. É como se ele fosse uma entidade viva. Sobrevivi graças à ele, reconheceu meu valor... e vocês também. Todos vocês. Muito obrigado, pessoal, de coração. E quanto a vocês dois... tá na hora de dar tchau. - apertara a mão de Hector que expressou confusão.

- Não dá pra entender... Como planeja nos enviar de volta?

- Você parece meio diferente. - disse Rosie - Mais confiante, determinado... O que aconteceu?

- Verdade, algo mudou em você. - disse Layla.

- Nenhum escombro me feriu, mas a explosão me presenteou com... todo o potencial de mago do tempo despertado numa tacada só. O disco cronal é repleto de mistérios. No mais, adorei conhece-los. Todo o poder que agora tenho é mais que suficiente pra manda-los de volta. - ergueu os dedos indicador e anelares das duas mãos e tocou nas têmporas de ambos - Sei que não afeta em nada dizer coisas do futuro a pessoas do passado... mas por via das dúvidas não contem de mim pro meu bisavô. - deu uma risadinha - Adeus. Valeu mesmo. - fechou os olhos e uma luz emanou da dupla que tivera seus olhos brilhando antes de voltarem.

Finalmente retornados, Rosie e Hector verificaram o espaço ao redor. O museu onde o disco cronal mantinha-se preservado a sete chaves.

- E voltamos? - perguntou Rosie, incerta - O cheiro do futuro está impregnado no meu olfato.

- De fato, estamos em casa. - disse Hector, lembrando do medidor de EMF que trouxera - Nenhuma leitura. Pelo visto, nos livramos do coletor. Temporariamente.

- Desencana, ele não vai mais chegar perto do disco nem se tiver perdido a razão. O que aconteceu no futuro fica no futuro. - disse Rosie, andando para sair do corredor - Você não vem? O que foi?

- Nada, é que... - o caçador achara graça - Você acabou de falar uma expressão comum no futuro.

- Eu falei? Nossa, melhor não aderir ou vamos criar uma treta do caramba na história, não quero arcar com esse tipo de consequência.

- Viu só? Você fez de novo. - disse Hector, acompanhando-a para sair.

- Ah, tá bom, parei. Vamos combinar algo? Não tocar nesse assunto com o Derek.

- Com certeza não vamos. - concordou Hector. Ambos dobraram o corredor.

                                                                                        ***

2028 - Bunker da Resistência 

- É isso aí, Kyle. - disse Rachel num corredor da base com Jason e outros dois membros - Hoje à noite, duas rodadas por minha conta. Não se atrasa hein.

- Eu me conformaria com três. - disse Kyle, bem-humorado - O Jason fica com a terceira.

- Mas nem ferrando. - disse Jason, logo rindo - Não vem conosco?

- Não, eu... tenho que organizar umas paradinhas no meu quarto - apontou com o polegar para trás - Vejo vocês mais tarde, talvez na Taverna.

- OK. Falou, até mais. - disse Jason, dando um joinha. - Queremos brindar nosso herói nessa noite.

Kyle ficara parado como se esperasse que se afastassem. Até que as sombras dos amigos não fossem mais vistas na parede curva do corredor, ele não alterou a expressão.

- É uma pena ver que não sabem... que heróis morrem. - disse ele, formando um sorriso malicioso e um olhar interesseiro cujas pupilas e íris brilharam uma luz amarela tremeluzente.

                                                                                    CONTINUA... 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://www.hipercultura.com/e-possivel-viajar-no-tempo/

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