Capuz Vermelho #53: "Em busca do mestre"
Um ubíquo espaço de concreto cinzento servia como arena de luta para dois indivíduos anatomicamente iguais mas essencialmente distintos. Mas eram iguais de certa forma. Dois predadores implacáveis. Caçador e criatura. Se enfrentando no que parecia ser uma cela digna de solitária. O homem de camisa branca tentava golpeia-lo com seu facão afiado na mais alta velocidade que conseguia. O vampiro, por sua vez, esquivava-se com habilidade.
- Lento demais, amigo. - debochou o vampiro, logo usando de supervelocidade para desferir uma joelhada na barriga do caçador, empurrando-o. Dera outra e mais outra até coloca-lo à parede. O caçador revidara com uma cabeça na testa, em seguida dois cruzados, esquerda e direita.
Mas o vampiro barrou o último ataque, segurando firme o braço do oponente que grunhia de dor. Vira que ele não tinha soltado sua faca e decidiu empurra-lo violentamente à parede. Depois batera o braço direito no concreto duas vezes para faze-lo largar. O caçador atacou em mais um soco, em vão.
O vampiro o pegara pelo pescoço, jogando-o no chão. Ao levantar-se, o caçador posicionava-se.
- Não tão rápido. - disse ele, limpando sangue da boca. O vampiro sorriu torto, logo, agilmente, chutando a perna esquerda do caçador na altura do joelho cujos ossos fraturaram na hora. Ele gritara dolorosamente, caindo. Nisso o vampiro aproveitou a deixa, rapidamente mordendo-o no pescoço.
Alguém observava por uma janela retangular um pouco mais acima.
- Já basta, Terrence! - disse o homem - Ordenei categoricamente que não passasse do ponto. Entendo que a sede é irresistível, mas isso também é um desafio para vocês a controlarem e equilibrarem a racionalidade e o instinto.
- Entendi. - disse ele, a boca encharcada de sangue - Esse já era. Não interprete mal, ele ainda respira.
- OK. Sabe bem o que acontece com aqueles que vão além dos seus impulsos... certo?
- É claro. - disse o vampiro, fazendo um gesto com um polegar "cortando" sua garganta, demonstrando saber da punição para os que infringem a regra.
Três presenças se adicionaram ao recinto onde estava o chefe misterioso. Dois vampiros carregando um homem amarrado nos pulsos e com um saco de veludo na cabeça.
- Oh, já estava no aguardo de mais um. - dissera o chefe, saindo das sombras. Sua aparência emanava palidez e frieza em um rosto branco e jovem emoldurado por longos cabelos pretos e lisos. Suas vestes consistiam em um longo casaco azul escuro por cima de roupas pretas, além de botas de couro.
- Acabem logo com o sofrimento dele, parece temer a escuridão.
Os subordinados removeram o saco. O capturado vestia um sobretudo de couro marrom.
A face dele era de ninguém menos que... Hector Crannon.
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CAPÍTULO 53: EM BUSCA DO MESTRE
Área florestal de Raizenbool - 16 horas antes
Um telefonema inesperado do dia anterior impulsionou uma missão para Rosie e Hector no dia seguinte, os movendo para acordar cedo numa faxina ocasional para uma recepção decente aos tios do caçador que queriam revê-lo após conseguirem o número com alguém do Colégio de Caçadores.
Rosie esfregava o chão com um pano molhado, sentindo os joelhos torturarem-a. Hector revestia os móveis com contínuas passadas de óleo de peroba.
- Tenho uma sugestão. - disse Rosie, parando de esfregar - Ligar para eles e convida-los a jantar num restaurante quatro estrelas. Comparado a esse muquifo que não vale uma espanada é uma ideia bem menos constrangedora. O que espera da opinião deles?
- Se não ligaram até agora para dizer que mudaram de ideia... - disse Hector, passando um paninho no vidro da estante - ... é um bom sinal.
- Ah sim, um dos superiores do Colégio de Caçadores descreveu o nosso lar. Eles fizeram questão de ser aqui? Isso foi antes ou depois da ligação?
- Bem, telefonaram pouco depois do contato com um dos supervisores. Ao que indica, uma casa grande no meio da floresta soou aprazível e tranquilo pra eles. Parecem terem mudado um pouco. Antes eram mesquinhos, inflexíveis e exigentes. Sem falar que sou o único parente vivo da família que não é visitado há 8 anos. Mesmo com essa mudança de caráter, é bom ficarmos atentos.
- E se de repente surgir um chamado para a aventura? - especulou Rosie, levantando-se, mas logo queixando-se de dor - Au! - tocou na região baixa das costas.
- O que foi? - indagou Hector, indo até ela.
- Não é óbvio? Ficar esfregando esse chão que parece infinito atrofiou a minha coluna.
- Acho que só precisa esticar mais um pouco e relaxar, não é acostumada a trabalhos domésticos. - disse Hector, mais calmo - E respondendo a sua pergunta: Não vamos apostar em possibilidades remotas. Derek não nos chamaria para uma emergência que não pode esperar quando temos uma folga para aproveitar ao máximo. Nenhuma ameaça do nível de Mollock, felizmente, apareceu nos últimos 3 meses. Se duvidar, estamos vivendo os tempos mais pacatos desde...
- Desde que nos conhecemos. - disparou Rosie, dando um sorrisinho irônico - Olha, eu não quero desviar pra esse assunto...
O toque da campainha os pegara despreparados.
- Eu atendo. Não importa quem seja, sou grata pela interrupção. - disse ela, caminhando à porta. Ao abri-la, deparou-se com um carteiro de postura gentil entregando uma correspondência de envelope branco - Olá, eu posso ajudar?
- O destinatário é esse mesmo. - conferiu ele, olhando novamente - Sim, está correto. Mas não tem remetente. Você confiaria?
- Ahn... Claro. Não é a primeira carta sem remetente que recebo. - disse Rosie, pegando-a - Obrigada.
- Mais contas? - perguntou Hector.
- Mais uma carta sem nome de quem enviou. - disse Rosie, fechando a porta e andando. Rasgara o envelope, logo retirando o papel no qual vira símbolos estranhos em colunas - O que... que diabos significa isso? - questionou, o cenho franzido - O carteiro não pode estar longe, vou devolver, talvez seja engano.
- Espere, me deixe ver. - pediu Hector, estendendo a mão. A jovem entregara e o caçador visualizou cada um dos símbolos desconhecidos... pelo menos não para ele - Isso... não pode estar acontecendo. - disse, passando a mão na boca num sinal preocupado - Não, é inacreditável.
- Por favor, me diz que isso é linguagem dos deuses e o Údon tentou nos fazer cair numa pegadinha.
- Rosie, isto está longe de ser uma pegadinha ou brincadeira. - disse Hector, mostrando a carta - Os caçadores de aluguel inventaram, já na época em que eu estava no alistamento, um alfabeto original como método de enviarem informações sigilosas, havia uma propensão enorme para rivalidades e tudo o que temiam eram sabotagens que ameaçavam terminar em sangue.
- Por isso são despachados do Colégio. - disse Rosie - Não possuem a conduta exigida.
- Alguns eram diferentes, como o Josh. Bem poucos estão na minha lista de contatos. Agora isto aqui... - olhou novamente - É uma codificação que apenas aqueles que entraram no Colégio de Caçadores podem decifrar. Não me espantaria que atualmente ainda esteja em uso.
- E o que diz aí? Você ficou pálido, com certeza é grave.
O caçador suspirou longamente.
- O meu mestre... Walter Vannoy, diretor do Colégio de Caçadores... foi sequestrado, de acordo com este texto. Muito provavelmente um dos caçadores da minha lista me mandou isso.
- Tem números aí não tem? Olhei rápido, achei que fosse algum número de contato.
- Não, são coordenadas. - disse Hector - Conheço bem, não tem erro. O mestre está na Transilvânia, à noroeste. Mas isso deixa uma semente de dúvida. Não faz sentido me enviarem uma carta relatando um sequestro e dando a localização no final. Obviamente, é alguém que está conivente com isso.
- Mas como saberiam o endereço? E por que você? Não faz sentido. - disse Rosie, pensativa - Em todo caso, o melhor a fazer é apurarmos um bom volume de informações antes de entrar nessa. Na pior das hipóteses, pode ser uma armadilha. Uma vez me disse que há muita corrupção nesse nicho de caçadores. Nada garante que eles não tenham sido influenciados por outros piores a conspirar contra você. Lembra do Edgar? É impossível não ter sido reportado e você ter saído como assassino justo depois de provar sua inocência de um assassinato que você realmente cometeu.
- Não tem nada a ver. É algo bem mais amplo do que apenas vingança, posso sentir. Acredito que muitos caçadores sabiam da natureza de Edgar, talvez colocaram sua cabeça à prêmio, mas isso não importa agora. Isso talvez seja um jogo valendo uma recompensa. Pode haver várias cópias desta carta enviadas a outros caçadores. O Mestre Vannoy tem uma esperteza invejável.
- E quanto aos seus tios? Que desculpa mais esfarrapada vamos bolar?
- Gostaria de dizer não, mas é difícil engana-los. Até pensei em ir sozinho e você cuidava dos preparativos e justificava minha ausência quando chegassem.
- Nada disso. Colégio dos Caçadores, né? Eu sou uma caçadora e falar isso num tempo atrás era impensável. Eu quero ajudar e você não vai me impedir. Me dá a carta, preciso saber se o General Holt tem conhecimento disso.
- Tudo bem. Mas tome cuidado com o Derek, ele é a terceira pessoa difícil de enganar que não queremos lidar hoje. Vou até o Colégio, tirar essa história a limpo de algum jeito.
- Vou por meu uniforme. - disse Rosie, direcionando-se ao corredor - Estou odiando ainda mais essa dor nas costas depois dessa notícia. Ao menos, essa casa foi limpa pela primeira vez... em anos.
Hector olhara a carta outra vez, não conseguindo desfazer-se da atenuante aflição.
***
QG Alternativo do Exército Britânico
O andar de Rosie dera uma acelerada após a jovem bater os olhos no General logo no corredor que levava ao aposento particular.
- Tem autorização? - perguntou um dos soldados, barrando a passagem.
- Eu tenho esse distintivo. - falou ela, mostrando a insígnia do DECASO - Se isso não basta...
- Campbell. - disse Holt, virando-se e caminhando até ela - O que a traz aqui à essa hora? - voltou-se ao soldado - Está tudo bem, soldado Traydon. Podemos afirmar que a líder da Legião... é de casa. - o soldado saíra, acatando a ordem.
- Quanta gentileza inesperada. - ironizou Rosie, sorrindo - A propósito, sugiro contratarem estagiários melhores. Não que me ache uma famosidade no meio do Exército, mas...
- Visitas sem hora marcada tendem a sofrer uma certa burocracia. Essa política não é de hoje. - disse ele, logo conferindo o relógio de pulso - Qualquer que seja o assunto, não tome meu tempo, tenho mais o que fazer. Algum problema envolvendo a relação entre vocês e o Derek?
- Por mais que ele aja como um chefe linha dura, ele se esforça pra lidar conosco da mesma forma que Hector e eu lidamos um com o outro. Isso é o de menos comparado à bomba que recebemos hoje. - disse ela, em seguida sacando a carta dobrada e entregando-a ao militar.
- Está brincando comigo? - indagou Holt, estranhando - Isso é algum tipo de jogo? O que significa?
- A carta foi mandada direto ao nosso endereço sem remetente. Esses... ideogramas desconhecidos são letras de um alfabeto que os caçadores criaram para compartilharem informações.
- E você imaginou que minha ligação com caçadores fosse tão incisiva ao ponto de conseguir ler isso? Pra mim não passam de rabiscos de criança ou uma criança que está aprendendo a escrever.
- Resumo a tradução desses códigos com quatro palavras: Walter Vannoy foi sequestrado.
- O quê? Ma-mas... Bem, é certo que nossa relação tem ficado estreita, muito embora nossas reuniões aconteçam raramente, de uns tempos pra cá o contato diminuiu consideravelmente... eu...
- Não sabia né? Desculpe, pensei o contrário. Nada do Colégio dos Caçadores escapa aos olhos de águia do Exército. Mas agora vejo que é diferente quando se trata do diretor e fundador que possivelmente está num lugar da Transilvânia, de acordo com essas coordenadas aí embaixo.
- Transilvânia? Por que o levariam lá? Há muitas lacunas nessa história.
- Exatamente. O Hector tem uma teoria de que isso não passe de um jogo criado pelo próprio Vannoy para testar o potencial dos caçadores que ele selecionou. Isso me soa... simples demais. O senhor não recebeu nenhuma ligação sobre ele ter desaparecido?
- Não. Olhe, Campbell... - Holt entrara num estado de preocupação - Recentemente, lancei um programa de alistamento para caçadores de aluguel espalhados por todo o país. Tenho uma lista parcial com os primeiros 10 inscritos. Não obtive resposta de sete deles nos últimos quatro dias.
- Uma iniciativa com proposta tentadora ser rejeitada por esse tempo... - disse Rosie, focada - General, algo está acontecendo, precisamos de todo o apoio possível. Hector está no Colégio de Caçadores, é bem capaz de conseguir mais que eu. Só vim porque...
- Eu já sei. A questão é: Pretendem ir à Transilvânia para destrinchar melhor esse caso ou prefere que nós assumamos as rédeas, visto que estão em folga?
- Foi a primeira coisa que pensamos, mas desse jeito ia ser precipitado, nem sabemos o que nos espera por lá. O mestre de sete caçadores sumido e eles também... Não me inspira boa coisa. Queremos ajudar, é o fundador que ensinou aos outros membros da Legião tudo o que sabem.
- Seria rude da minha parte dizer que perdeu tempo. - disse Holt, pronto para encerrar - Prometo enviar uma tropa de membros do DECASO à noite para se certificar da natureza disso pro caso de uma armadilha vir à tona. De acordo?
- Plenamente. - respondeu Rosie, assentindo com a cabeça, confiante. - Obrigada.
***
Colégio de caçadores
Para sua sorte, o caçador encontrara num corredor o supervisor-chefe que ficara encarregado das funções de Vannoy por tempo indeterminado. A segurança o havia avisado sobre o assunto.
- Então você é o supervisor que assume as tarefas do mestre Vannoy? Muito prazer, Hector.
- Já ouvi falar de você. Liderou a Legião dos Caçadores por uns bons anos. - disse Earl num aperto de mãos - Lembro de ter visto seu histórico. Prodígios como você são uma espécie rara. Vamos entrar.
Um pesado livro fora colocado sobre a mesa de trabalho do diretor. Earl o abrira na exata página que gostaria de mostrar ao caçador, cuja imagem na parte de cima era de um castelo um tanto familiar.
- Viagem? - indagou Hector, cético - Sem nem ao menos avisar pra qual destino?
- Pois é. Ao que se supõe, de acordo com o que você me disse, é aqui mesmo. - disse Earl, apontando para a gravura do castelo de aspecto soturno - O diretor tem um ligação pessoal com esse lugar, mas sempre recusou contar a verdade para quem perguntasse. Nem posso imaginar o que ele foi fazer lá.
- Muitas coisas não batem nessa história. - disse Hector, andando pela sala com a mão no queixo - Transilvânia... Remete a uma antiga e famosa lenda sobre um vampiro chamado Drácula... - voltou-se à Earl - Não quero me basear num simples mito pra formar uma teoria plausível.
- Então, nesse caso, o jeito é você e sua parceira olharem mais de perto. E esse lance de sequestro...
- É o ponto mais discrepante. Não é do feitio do mestre soltar algo dessa forma, ele é inteligente, mas... não parece ser ele. Pronto, eu descarto a teoria da competição.
Earl demonstrava ter seu raciocínio pouco alinhado ao de Hector.
- Fosse mesmo um jogo, por que ele viajaria sem dar informações? Hector... Existem muitos caçadores de aluguel que se desvirtuam dos princípios morais e éticos propagados aqui em anos. São uma falha incorrigível. Eles, de certa forma, são uma falha nossa. Caso estejam por trás disso...
- Não. - interrompeu Hector - Caçadores de aluguel podem ter recebido cópias da carta. Não é jogo, é uma armadilha.
- É uma possibilidade. A identidade de quem enviou... pode vir do castelo. Não acha?
- É o que vamos descobrir. Mas a carta existe, eu garanto. Ela só não está comigo porque Rosie a levou como prova ao General. - fez uma pausa, angustiado - O mestre será salvo, nós o traremos de volta. Ele sabe cuidar de si mesmo... mas depois que isso chegou... tenho minhas dúvidas. Vou salva-lo, a todo custo, não importa o que saia desse mistério.
***
Transilvânia - 22h30
Em um bar de ambiente não muito elegante todo revestido pela predominante cor de marrom terra, haviam apenas quatro pessoas presentes: uma mulher trajando um manto negro ocultando seu rosto, um homem de longos cabelos brancos e com um comprido sobretudo preto e dois caras que o observavam com expressões maldosas. Eles foram aproximando-se da mesa.
Este homem era ninguém menos que Walter Vannoy, tomando uma sopa de galinha calmamente. Seu rosto magro magro, branco e com maçãs do rosto pontudas eram traços marcantes da fisionomia do diretor. Além disso, utilizava um pequeno óculos de grau. Se alguém fosse chutar, poderia dizer que ele teria em torno de uns 60 e poucos. A mulher sentada ao balcão notou a dupla que cercara Vannoy como valentões despudorados.
- Aí Martin, será que a gente não conhece esse velhote de algum lugar?
- Com certeza. Ei, fala conosco. - deu uma batidinha no ombro de Vannoy - Queremos uma conversinha séria. Nós somos caçadores e todos estão preocupados lá no colégio.
- Pois é, estão morrendo de saudades. O senhor saiu sem dizer pra onde.
- Perdão, mas... não devo satisfações a ex-alunos. - disse Vannoy, limpando a boca com guardanapo.
- Como é? - indagou um deles - Ex-alunos?! O que tá querendo dizer com isso?
- A decisão de retornar para meu lar... - direcionou um olhar frio à eles - ... parte unicamente de mim. Não fui claro quando os chamei de ex-alunos. Vocês foram enviados... do local onde está aquele que me deve boas explicações. Por que diabos ele quer tanto envenenar e destruir meu patrimônio? - perguntou, logo derrubando a mesa com o prato cheio de sopa e tirando de baixo uma bainha com espada similar a uma katana, a qual sacara em segundos, logo executando cortes horizontais em ambos os homens que caíram decapitados.
A mulher misteriosa empertigou-se com a performance incrível.
- Você! - disse Walter, apontando a espada para ela- Tire já esse disfarce. É uma ordem.
- Sou só uma espectadora, velho. Quero me distanciar de problemas.
- Não comigo por perto. Vou pedir mais uma vez: Revele-se já!
Sem escolha, ela cedera educadamente. A identidade da mulher era Tessa Armstrong, a vampira que aliou-se à Rosie e Êmina no caso Alastor e as estacas de carvalho vermelho roubadas. Seus cachos loiros caíram em cascata nos ombros.
- Ainda dá tempo de guardar essa espada, não sabe para quem está apontando.
- Não me ameace. - disse Walter, andando - Dificilmente um vampiro escaparia à minha intuição. Anos de experiência não foram inúteis.
- Eu juro pelo que é mais sagrado. Abaixa a espada. Você me convenceu. Estou impressionada, mas não com medo. O que vai ser? Tiramos no cara ou coroa?
- Ser pressionado por uma maldita vampira é desmoralizante. - disse Vannoy, baixando devagar a arma - Onde está o barman?
- Ele não disse que ia ao banheiro antes de trazer meu pedido?
- Disse... há 20 minutos.
- Boa memória para um velhote. É verdade, estranho ele ficar tanto tempo. Será que estava agitando o seu melhor amigo? Tive que dar uma olhadinha pra conferir. De repente, mudei de ideia sobre o bolo de carne e optei por algo mais.. nutritivo. - sorriu maliciosamente, fazendo Walter conferir atrás do balcão. O cadáver do barman estirado no chão, a face com olhos abertos manchada de sangue e o pescoço com dois buraquinhos fundos.
- Tática amadora. - disse Walter - O chão não tem uma poça tampouco resquícios de sangue, me levando a crer que você o carregou até aqui após mata-lo enquanto eu saboreava aquela deliciosa sopa desperdiçada. Gostaria que me dissesse o quanto sabe a meu respeito. Afinal, não o teria o convencido a ir para fora já que estava com tanta sede e se aproveitou da necessidade dele. Sabia que eu desconfiaria na hora.
- Bem, estou lidando com um profissional. É perspicaz, do jeitinho que me falaram. Não vou me desculpar pelo cara, estive ansiosa por esse momento e não posso morrer antes de faze-lo acontecer. - chegara perto dele - Você conhece o meu pai... Aliás, ele me fez um desenho seu. Um belo desenho, a propósito. Me contou absolutamente tudo sobre você e agora estou aqui para contar tudo sobre o plano dele. Se não quiser ouvir e resolver por conta própria, me mate à vontade.
- Está me oferecendo um desafio tentador. O que Vlad está realmente tramando?
- Vai ter que confiar em mim. Aqui é um péssimo local, outros vampiros podem acabar chegando, é história longa. Você está num rastro curto demais para não ser espionado, o que facilitou a minha entrada.
Walter ficara silencioso num instante.
- Eu escolho... trabalhar nisso sozinho. - determinou ele, movimentando sua espada para ataca-la.
Porém, Tessa fugira do bar em supervelocidade, escapando pelas trevas da noite.
Walter por outro lado, resolveu sair a passos tranquilos, como se a direção a seguir estivesse pré-determinada. Levou pouco tempo na sua andança em direção à floresta que fronteirava com a área montanhosa. Logo já estava pisando num solo repleto de folhas secas e terra úmida rodeado do breu noturno. Sacou sua espada, farejando a presa. Um vento lhe soprou os cabelos e na roupa, fazendo-o virar-se.
- Calma aí. - pediu Tessa, as mãos erguidas - Está disposto a perder sua única oportunidade prática de saber o que meu pai tanto quer com os caçadores?
- Reconheci aqueles jovens. Não faz muito tempo desde que foram reprovados do exame de qualificação para o grupo de elite. - disse Walter - Todos que conseguem uma pontuação média tornam-se caçadores a serem solicitados por pessoas vitimadas por ataques sobrenaturais. Vlad quer contamina-los com a praga que o fez cair na perdição né?
- Ele enviou cartas dizendo que você foi sequestrado. - revelou Tessa. - Numa linguagem estranha que só caçadores dessa laia podem compreender. - retirou um papel - Tome, aqui é uma amostra.
Walter tomara da mão dela, lendo o conteúdo.
- Miserável. Aposto que muitos imaginaram que fosse um teste para ver se não enferrujaram. Não é bem meu estilo. - disse, amassando numa bolinha. - Algo a acrescentar antes do seu fim?
- Provavelmente... ou muito certamente ele está liberando caçadores transformados para voltarem ao Colégio. Pense no lugar que você fundou como uma grande célula... prestes a ser invadida por um câncer poderoso e resistente. Quantos de vocês serão a cura?
- Explicado então. - disse Walter, meio desalentado, baixando a espada - Vlad almeja a soberania dos vampiros começando pelo meu patrimônio. A questão pendente é: Por que facilitou pra mim?
- Digamos que... Seu grande rival e eu não estamos na melhor fase de relação. Vá em frente, entre no castelo, eu sei que consegue obrigar uns vampiros a abrir. Essa espada só é veloz porque você a tem.
- Meu acerto de contas com Vlad não lhe diz respeito. Prepare-se para morrer.
- Não cumpri minha cooperação totalmente. - disse Tessa, nervosa - Me fala, tem mais em jogo né? Dá pra ver no seu olhar, não vai entrar lá só pra dizer "deixa meu território em paz, eu vou te matar antes que seu plano comece".
- É a minha filha! - esbravejou Walter, ameaçador - O maldito do seu pai a tirou dos meus braços ainda recém-nascida. A chance para recupera-la é agora. Ele me prometeu que não traria nenhum tipo de maldição à ela. E quero arrancar dele a resposta do que o motivou a essa atrocidade.
- Então boa sorte em salvar a Rapunzel. - disse Tessa - Mas saiba que meu pai não dispensa uma boa barganha. - falou, indo embora em supervelocidade.
***
Já chegados à Transilvânia, Rosie e Hector se preparavam para um táxi ou ônibus se aproximar dali no meio daquela não tão movimentada rua. O caçador estava numa cabine telefônica conversando com seus tios numa luta para dar a desculpa perfeita.
- Tia Mary, por favor, não insista, é a última vez que eu peço. Não, não passe pro tio John... - ele revirara os olhos - Olá, tio John. Como vai?
Enquanto isso, Rosie esperava calmamente num ponto de ônibus. Porém, uma presença a fez sentir flertando com o perigo.
- E aí, Rosie? Sentiu saudades? - perguntou Tessa, sorrindo sacana.
- Você!? - surpreendeu-se Rosie, apreensiva - O que tá fazendo aqui? Como me achou?
- Transilvânia te lembra o quê? Unicórnios e ursinhos felpudos e coloridos? Você é carne muito fresca pra passar despercebida, querida.
- Não tenho tempo pras suas piadinhas. Diz logo porque veio até mim. E eu sei que essa cidade é muito convidativa pra vampiros, inclusive pra quem adora uma lenda urbana sobre um certo vampiro importante que tem status de conde e recebeu até um filme em homenagem.
- Meu pai já viu. Ele odiou. E é sobre ele que quero falar.
- Rosie. - chamou Hector, aproximando-se - Tudo certo. Os meus tios concordaram em eu visita-los nos próximos quatro dias. - olhou para Tessa - E você...
- Hector, ela...
- Deixa me apresentar. Sou Tessa, a vampira que fez um grande favor às suas duas amigas caçadoras.
- Isso é passado. - salientou Rosie - No final, deixou claro que se nos encontrássemos de novo não seria como aliadas. Considerando que estamos numa investigação num lugar repleto de vampiros para um possível resgate, a sua posição me diz que tá ligada a essa trama de cartas com códigos, caçadores desaparecidos...
- De certa forma, sim. - disse ela, dando de ombros - Mas antes que o seu amigo saque a estaca...
- Não duvide. Se Rosie e Êmina não tivessem me falado de você antes, eu nem hesitaria. Quer nos contar alguma coisa? Seja rápida.
- Lembra do que falei sobre meu pai? - se dirigia à Rosie - Presumo que sim. Ele e o diretor do Colégio de Caçadores possuem uma rixa de muitos anos. Vannoy quer resgatar a filha.
- O quê?! O Mestre... tem uma filha? - espantou-se Hector.
- Ou tinha. Não posso garantir nada. Mas eu o ajudei e chegou a vez de vocês. Eu dei a chave do castelo para Êmina. Me digam que a trouxeram.
- Hector, a Êmina entregou à você. - disse Rosie - Lembrou dela assim que leu a carta?
- Por que eu pensaria numa mera chave enquanto a possibilidade de meu mestre estar correndo perigo de vida me atormentava? - questionou, revirando os bolsos depressa. Um objeto duro foi sentido. - Esperem... Acho... que é esta. - retirou, mostrando-a. - Esteve comigo o tempo todo.
- Aí está. - constatou Tessa - Preciso que me sigam. Os levarei até lá.
***
Com um monóculo, Hector espiava as quatro torres do opulento castelo. O trio estava à bons metros de distância da entrada principal. O caçador virou-se para as duas moças.
- Muito bem, o plano é o seguinte...
- Espera, eu dou a colher de chá e você que é o líder? - questionou Tessa - Conheço esse lugar como a palma da minha mão. Me deixem continuar ajudando.
- Por via das dúvidas, acho melhor finalizarmos a sua serventia por aqui. - disse Rosie.
- Soa ameaçador. - retrucou a vampira, olhando-a séria.
- Como eu dizia... - insistiu Hector - Ou queria ter dito logo... A equipe DECASO virá daqui à pouco, logo nós precisamos entrar e se tivermos dificuldades no confronto com os vampiros podemos tirar a sorte grande se eles chegarem exatamente nesse instante, serão nossos reforços.
- Só tem um probleminha. - disse Tessa - Vannoy chegou primeiro, dificilmente meu pai não especularia que um grande exército viria para resgate. Nesse caso, em antecipação, ele pode misturar os caçadores transformados e os que não foram nas salas de confinamento.
- Bem, nunca houveram riscos que não estivemos dispostos a correr. - disse Hector, determinado - Por que agora seria diferente? Eu vou com você pra me certificar... - pegou a chave - ... caso a chave seja falsa e aí vou estar preparado. - a ideia aborreceu a vampira.
- Tudo bem, vou sozinha. - decidiu Rosie, andando - Não se preocupe, não vou trapacear.
- O que ela quis dizer com isso? - perguntou Tessa, franzindo o cenho. - Rosie treinou com Vannoy? O velho é sinistro, tinha que ver, nem parecia humano. Papai devia teme-lo.
- Chega de conversa, vamos. - disse Hector, seguindo.
***
Na aproximação à entrada principal do castelo, Hector e Tessa andavam em passos cuidadosos na ponte de madeira segurada por cordas sobre um lago com piranhas.
- Vai, admite. Se descobrisse que a chave é falsificada, não pensaria duas vezes antes de me matar.
- Isso é uma confirmação? - perguntou Hector, terminando de atravessar a ponte. Retirou o objeto.
- Eu quero aquele trono pra mim. - confessou Tessa, logo atrás dele - A última conversa com meu pai foi o estopim para que lhe desejasse uma morte lenta e humilhante. Mas... nessa mesma conversa... - disse ela enquanto Hector chegava à porta para inserir a chave - ... ele me tentou como um demônio. Me fez uma oferta irrecusável.
A vampira erguera o punho direito fechado e golpeara Hector na nuca. O caçador caíra inconsciente.
- Levar Walter Vannoy e seus melhores alunos até ele. - disse ela.
Enquanto isso, Rosie caminhava por entre arbustos altos numa trilha de cascalho. Um remexer nas folhagens à sua esquerda ouriçou seus sentidos. Um vulto pulara do arbusto, pegando-a de surpresa, e a golpeou na testa com um porrete grosso, levando-a a inconsciência imediata.
***
O abrir dos olhos de Rosie fora pesado. A jovem foi recuperando os sentidos de 15 em 15 segundos, vendo-se num recinto de paredes cinzas iluminado por uma lâmpada amarelo-esverdeado no teto e sentada numa cadeira. Duas pessoas observavam-a.
- O que... tá acontecendo? - indagou, olhando aos lados, vendo seus braços com cateteres cujas agulhas perfuravam seus pulsos. Depois olhou para cima, à direita, vendo uma bolsa enchendo-se de sangue e presa num equipamento hospitalar - Já entendi... Não vão me livrar dessa sem um preço né?
- Eu quero que perceba a figura que está diante de você. - disse Vlad, aproximando-se - Preciso que desperte e reconheça a sua insignificância perante mim. - pegara no rosto dela, seus cabelos pretos encostando - Minha filha revelou o suficiente. Já foi vampira por um dia e hoje caçadora.
- Deixar eu adivinhar... Drácula? - disse Rosie - O vampiro influente... que rapta caçadores?
- Assim me faz sentir criminoso. Estou tornando-os melhores, evoluindo-os. Expandindo suas capacidades a um patamar que Walter não os faria chegar com seus ensinamentos heroicos. Você está na primeira etapa do meu teste. Todos os prisioneiros passaram dessa. Logo vou introduzi-la à segunda e mais divertida fase.
- É esse o plano? Incapacitar caçadores drenando o sangue?! Pra quê? Por que esse joguinho metódico? Se queria sangue, era só morder.
- Sou muito rigoroso com desperdícios. - disse Vlad, pegando uma bolsa cheia - Agora se me permite.. irei saborear pelo método menos convencional, a situação exige... mesmo querendo afundar meus dentes nesta jugular bem irrigada. Tessa, cuide dela. - saíra da sala.
- O que achou dele? Assustador né?
- Sua vadia, você me paga. Me tornei vampira por sua causa... agora tenho meu sangue roubado.
- Fica fria. Dá pra recuperar dois litros e meio. Além do mais, a parte divertida do jogo é uma luta de mano à mano entre caçador e vampiro. Ele simplesmente quer leva-los ao limite... os caçadores.
- Isso não é trapaça? O pior que são caçadores de aluguel... que mal se formaram. Estão pegando os mais amadores pra facilitar as coisas né? E eu pensando que ia jogar limpo conosco...
- Escuta aqui. - disse Tessa, ríspida, agarrando o rosto dela - Ganho minha liberdade definitiva se prejudicar os dois. Na nossa última briga... meu pai contratou uma bruxa que selou um feitiço para me impedir de cruzar o país. Não vou deixar que isso me escape agora. Sinto muito traí-los... só não quero ter nada a perder. Vou dar uma checada no seu amigo. Sua luta começa em... 15 minutos.
Hector estava confinado numa outra sala, ainda mais precária, um depósito de velharias. Tessa entrara, sorrindo ao vê-lo acordado e comportado.
- E aí, como está? Com certeza morrendo de vontade de cortar minha cabeça.
- Você não faz ideia. O que fizeram com Rosie? Cadê ela?
- Sendo preparada para o grande show. Um vampiro para cada caçador numa luta desproporcional. Regras do meu pai. Você será o próximo. Se ela perder, o dia que virou vampira irá reviver na sua mente como um fantasma do passado e dessa vez sem favores.
- Era apenas o que eu queria saber. - disse Hector, sereno - O jogo de vocês acabou.
- O que quer dizer?
Hector sorrira abertamente com determinação.
- Deveria ter usado... algemas de prata. - disse, mostrando-as quebradas ao meio. Transformara-se diante dela e se levantou, logo empurrando-a com toda a sua força. Tessa foi jogada contra uma estante de madeira que destruiu-se brutalmente com seu corpo. O caçador fugira dali em supervelocidade para achar a cela de Rosie.
Com o passar dos 15 minutos, a jovem fora largada no pequeno espaço reservado para os combates injustos assistidos por Drácula/Vlad, mas naquele momento o líder vampírico estava ausente.
- Vamos, levante-se. Ou vou aí e te pego à força. Seja uma boa menina. - disse o caçador-vampiro, estralando os dedos em aquecimento. Rosie demorou para se erguer. Assustou-se com o fechar abrupto da porta e se preparou no máximo que conseguia.
- O que acontece caso eu vença? - perguntou ela.
- O grande Drácula, é óbvio. Tem que agradece-lo sabia? A vida da filha do Vannoy depende da sua performance contra mim, ele te fez importante.
- Não ligo. Esse lance de filha do Sr. Vannoy... pra mim não passa de furada. E há quanto tempo está aqui? Você tornou-se caçador... pode resistir, repensando o que você deixará pra trás.
- Não tenho nada pelo que me importar. - disse ele, cínico - Dando o conselho errado para a pessoa errada, mocinha.
- Então não é caçador? Me enganou direitinho. - falou ela, a postura meio fraca. - Estou vendo dois de você e não sei qual é o verdadeiro.
- Aí que mora a vantagem. - disse o vampiro, bofetando-a com a dorso e dando o mesmo ataque com outra mão. Rosie tentou defender-se do último golpe com o antebraço esquerdo, mas recebeu um chute forte no abdômen e depois uma joelhada no rosto que a derrubou.
Paralelamente, a destemida figura de Walter Vannoy caminhava num corredor segurando uma espada cuja lâmina encontrava-se ensanguentada. Vários corpos de vampiros decapitados viam-se largados.
Vlad assustou-se com o lento abrir da porta dupla de seu salão.
- Ainda custo a acreditar que não se candidatou a prefeito desta cidade. - disse Vannoy, entrando.
O líder vampírico deliciava-se com uma taça cheia de sangue até a borda e só olhou para Vannoy após um gole demorado.
- Ah... Refrescante. De uma qualidade ímpar. Walter... A quem devo a honra da sua visita?
- Patético fingindo não me notar. Veja, eu trouxe minha espada... justamente para furar o seu ego.
- E veja, estou saboreando um sangue que nenhum paladar antes teve o prazer de sentir.
- Vamos direto ao assunto. - disse Vannoy, apontando a espada - Onde... está... a minha filha?
Vlad o fitava com certo escárnio, depositando a taça num braço do trono.
- Já parou pra pensar... que ela pode ser como eu à essa altura?
- Pare de me testar, sua monstruosidade! Prometeu não sucumbi-la às trevas em respeito aos nossos bons tempos, mas quero saber... Por que? Por que Vlad? A família Armstrong é um ninho de cobras ou você era a serpente entre os justos?
- Não quero falar do passado, Walter. Mas sim de negócios. Infelizmente, sua filha rendeu-se à minha natureza há muito tempo. Você nem imagina quem é. - aproximou-se - Sou superior à você... e vou provar.
Já na cela, Rosie permanecia em dificuldade. Fora empurrada à parede, levando socos no rosto sequencialmente. Ela revidava num número de vezes baixo demais.
- Não vale nem o esforço. - zombou o vampiro.
- Se está entediado... Me morde. - desafiou Rosie, limpando sangue da boca - Acaba logo com isso.
- Você manda. - disse ele, rapidamente tacando as presas no lado esquerdo do pescoço dela. Rosie apertou os olhos e cerrou os dentes pela dor. Logo dera uma cotovelada na testa dele, depois com um chute no tórax seguido dum cruzado de direita potente. - Sua força aumentou...
- A sua vantagem me fez ganhar tempo. Não tenho porque explicar.
A porta fora arrebentada com impacto tremendo. Hector apareceu detrás da derrubada, transformado.
Superveloz, investira contra o vampiro, empurrando sua cabeça contra a parede e esmagando-a, logo depois decepando-a com algo similar a um shuto uchi*.
- Está tudo bem?
- Me recuperando aos poucos. E a Tessa?
- Nocauteada... creio. - de repente ouviu-se barulhos de cima - Está ouvindo? - apontou para o teto.
- Podem ser os membros do DECASO. Melhor usar seu faro para acharmos Drácula. - idealizou Rosie.
No salão do vampiro, uma luta psicológica ocorria a todo vapor.
- Encare logo os fatos, velho amigo. - disse Vlad - Não há nada que você ame tanto... que não possa ser subvertido e consequentemente melhorado por mim. Ainda acredita em esperança?
- Eu acredito no poder do meu patrimônio de mudar o mundo. Você quer intoxica-lo porque virei uma ameaça ao seu pseudo-reinado. Não sou o que sou hoje por sua causa, Vlad. Mas o destino nos quer opostos, então aceitemos sem questionar. Quero minha filha de volta, a última coisa que resta de família para o amigo que você abandonou injustificadamente. Diga seu preço. - a lâmina da espada cintilava perigosamente.
As portas alternativas foram abertas. Rosie e Hector entravam apressados.
- O que estão fazendo aqui? - perguntou Vannoy, rude - Hector...
- Sr. Vannoy, deve ter ouvido falar de mim, sou Rosie Campbell... atual líder da Legião.
- Mestre, por favor, não ceda à nenhuma proposta que ele fizer. - recomendou Hector.
- Mas que impertinentes! - reclamou Vlad - Interrompendo um encontro pessoal. Francamente, vou decidir joga-los às piranhas. Vieram participar do resgate? Sinto frustra-los, mas a donzela não sai desse castelo senão por meu consentimento absoluto.
- O que realmente aconteceu entre vocês dois? - questionou Hector.
- Vlad e eu éramos colegas de faculdade. Oxford, pra ser exato. - contou Vannoy - No final do século XVIII... minha esposa deu à luz às pressas e muito em cima da hora, o maior presente das nossas vidas nasceu num corredor qualquer. Neste momento, nós dois resolvemos ficar após a reunião de professores. Eu saí por razão óbvia. Mas Vlad permaneceu... e ateou fogo na sala que se alastrou ao corredor onde estávamos. Ele a salvou bem como as pessoas que a amparavam. Não dava tempo de escapar do incêndio segurando a criança, então ele se ofereceu para protege-la. Quando voltei sem sucesso para achar um extintor, encontrei Vlad em meio ao fogo com a bebê nos braços. Me disse que era uma causa maior e não iria deixar que nenhum mal a acontecesse. E se foi, levando-a de mim.
- Que tristeza. - disse Rosie, comovida.
- Infelizmente, a mulher de Walter não sobreviveu ao incêndio. - disse Vlad - Isso importava? Alguém muito mais relevante estava ansiosamente esperando. Não rescindo pactos por sentimentalismo. O grande Lestat, aquele que tudo começou, esperava uma criança recém-nascida para transformar-se na primeira prole da linhagem. Ele me escolheu pela influência da minha família. Mas não fui o único a guardar segredos. Walter... é sua vez.
- O quê? - dissera Tessa, aparecendo surpreendentemente - Pai, por favor... Não me diz que... o bebê que roubou... sou eu? - olhou para Walter, atônita - Não pode ser...
- Lisandre. - disse Walter - É o nome... que eu e sua mãe escolhemos. Quando Vlad falou que já era tarde para te-la de volta... eu compreendi.
- Vo-você... - disse Tessa á Vlad - Mentiu esse tempo todo? Simplesmente sou adotada!?
- Eu não lhe dei a palavra! - vociferou Vlad.
- Pra mim chega, vou embora. - disse Tessa, virando-se para sair, mas acabando por ser parada por dois vampiros que a seguraram. - Me larguem!
- Não a deixem fugir, ela precisa saber... algo sobre seu real pai. - disse Vlad - Ele é um dampiro.
- Ouvi direito? - indagou Rosie - Disse vampiro?
- Dampiro. Um vampiro que pode facilmente viver como humano, é como se sua mente fosse uma rede de filtragem do que serve e o que não serve. Em outras palavras, um dampiro executa um treinamento psicológico intensivo para manter afastada a sua essência vampírica e assumindo o poder de controlar o que pode ou não sentir. Dampiros são vampiros que rejeitam a natureza selvagem. Raros são os que chegam a tal ponto. Ele é mesmo um caçador.
- Não tiro a razão dele, acreditem. - confirmou Walter.
- Por isso derrotou aqueles vampiros tão fácil. - disse Tessa - E quanto à vocês? Como escaparam? Digo... como você escapou, Rosie? Estava fraca demais, não tinha como vencer. - notou algo no pescoço - Espera aí...
- Oh, o que temos aqui? - Vlad percebera o mesmo - Uma autêntica mordida. Mas não vejo a sede - perguntou, logo indo à Rosie supervelozmente e pegando-a para morde-la, as presas bem próximas do lado sem feridas. - O seu sangue é especial, minha cara. Não trocaria por nada.
- Então aproveita já que percebeu que sou imune. - disse Rosie, enojada.
- Lute contra Tessa. Se perder, ela fica. Você vence... - lambera o pescoço de Rosie - ... e ela vai.
- Fechado. - concordou ela. Vlad recompôs sua postura.
- Como espera que ela lute com minha filha se possui ampla vantagem? - perguntou Walter.
- Na verdade, Sr. Vannoy... Eu não tenho. - disse Rosie, logo desferindo uma cotovelada em Vlad.
- Menina mentirosa! Pagará caro! - disse ele, iniciando uma luta contra Rosie. Ela não conseguira acertar tantos golpes, preocupando Walter e Hector.
- Mestre, venha! - chamou Hector - Deixe que Rosie cuide de tudo, por favor!
O diretor do CDC acompanhou-o, mas os dois vampiros que antes prendiam Tessa barraram a passagem. Sem titubear, Walter realizou movimentos cortantes com a espada num curta distância.
A dupla vampírica perdera as cabeças em poucos segundos. O ataque espantou Hector que logo correra na frente.
- Incrível. Como esperado do mestre. Agora venha, depressa!
Porém, Walter estacara antes de sair, preferindo retornar.
Antes que Drácula desse um golpe fatal em Rosie, duas estacas lhe atingiram pelas costas.
Era Tessa num ímpeto de salvamento.
- Como pôde?! Atacar seu próprio pai?!
- Meu pai? Você? - ela balançou a cabeça - Por que respeitaria um pai que fez da minha vida uma completa mentira? Não vou agradecer por me deixar confusa sobre meu futuro.
- Tudo o que fiz... foi pro seu bem, Tessa.
- Pro inferno com o seu instinto paternal... Vlad.
O vampiro fechara os olhos usando seu sonar para contactar os demais.
- Pare de bloquear meu sonar!
- Quem me dera. - disse Tessa.
De súbito, uma conhecida espada transpassou o peito de Vlad que vagarosamente caiu, seu rosto adquirindo um tom de cinza com veias saltadas.
- Isso o matou? - perguntou Rosie, levantando-se.
- Temporariamente. - respondeu Walter - Prata neutraliza coração de vampiro, uma vez atingido. - seu olhar desviou para Tessa - Me desculpe, eu...
- Não, não precisa... se explicar. Será que podemos... precisar de um tempo?
- Mas é claro. O tempo que precisar. Vou estar esperando de braços abertos.
- Não liga pro fato de eu ser vampira? Uma aberração que você odeia é sua carne e sangue. Como conseguiria lidar com isso?
- De todas as formas possíveis. - disse Walter, abrindo os braços - Antes de partirmos para caminhos diferentes de novo... eu quero sentir um conforto típico de família.
Emocionada, Tessa foi ao abraço de Walter. Rosie sorriu leve, assistindo ao desfecho mais espantoso daquele resgate.
***
Num restaurante, Rosie e Hector estavam reunidos com Walter Vannoy para uma conversa de caráter seriamente particular na mesa localizada no ponto mais discreto.
- Temos uma dívida com o senhor por ter parado Drácula quando teve chance. - disse Hector, à direita de Rosie - E sobre a Tessa... sei o quão difícil será superar o fardo dessa paternidade estranha.
- Agradeço o apoio que tem me oferecido. - disse Vannoy, fatiando um bife - São minhas joias raras.
- Não exagere. - disse Rosie, quase rindo - Mas e então? Por onde começamos?
- Do ponto que quiserem. Apenas digam tudo o que o safado do Holt me escondeu.
- Aqui é um ótimo lugar para desentalar coisas que não podem ser ditas na presença dele. - disse Hector.
- Bem... - disse Rosie, pronta - Que tal começarmos falando sobre como o General perdeu o olho esquerdo? Aposto que ficará de queixo caído.
Walter ergueu o olhar incisivo à dupla.
- Bom começo. Podem mandar. - enfiou o bife na boca.
CONTINUA...
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*imagem retirada de:
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