Capuz Vermelho #54: "Crianças malcriadas"
"É pedir demais um dia de folga decente?"
Trecho do segundo diário de Rosie Campbell - Pág 25.
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Escola Findsburg - Winchester, Condado de Hampshire
Na classe da segunda série do ensino fundamental era impossível não ouvir falatórios paralelos entre os alunos antes do sinal tocar e anunciar a chegada do professor. Mas havia outros que permaneciam em suas quietudes bem habituais, algo que lhes trazia uma desvantagem que não podiam controlar: serem alvos marcados do travesso e mesquinho Arnold, o temor até mesmo dos valentões das outras duas classes posteriores.
Ao ver que Bart deixou cair sua maçã, ele carregou sua grande arma: a intimidação. A maçã rolava pelo chão e Bart corria com postura inclinada para frente na tentativa de pega-la, entretanto um pé barrou a fruta, parando-a. Os olhos de Bart ergueram-se para a sombria figura de Arnold e seu perfil de "riquinho" e "garoto mal" privilegiado pelos pais. O aluno mais repudiante da classe vestia camisa branca com um short azul-marinho e sapatos pretos com meias brancas.
Seu rosto era caucasiano e o cabelo era preto de corte comum, penteado para a direita. Nos olhos azuis concentrava-se a facilidade com a qual coagia, humilhava, constrangia e incutia medo nos colegas mais frágeis as suas brincadeiras.
- Devolve. - disse Bart.
- O meu dever de casa primeiro e o seu lanche está livre. - disse Arnold, altivo. - O que vai ser, Bart chorão? Tem uma terceira alternativa: Você pode correr e contar na diretoria, não vai mudar nada. E aí? Vamos lá, escolha. - moveu o pé sobre a maçã.
- Não, por favor, não faz isso! - disse Bart, levantando-se - Eu só trouxe essa. Te suplico, não estraga meu lanche, por favor. Quando eu deixei de fazer tudo o que você me mandava hein? Você sempre consegue tudo o que quer! É claro que assim nada vai mudar.
- Isto é um sim? - perguntou Arnold, o que Bart respondeu com um meneio de cabeça. O encrenqueiro chutara a maçã marcada pela sujeira da sola do sapato. Bart a pegara, desconsolado.
- Não valeu. - disse Bart, insatisfeito, de costas para Arnold. Aquilo chamara atenção de uma parcela de alunos. - Você sujou! - acusou ele, virando-se para o rival. Arnold pegara um lápis segurando com firmeza e intencionando perfura-lo com ele. - Você é um monstro, eu te odeio! Todos te odeiam!
- Acha que eu ligo pra isso? Só tô me divertindo. - falou Arnold, se aproximando para desferir. Porém, para a salvação de Bart, o sinal tocara, fazendo todos sentarem-se nas carteiras imediatamente e esquecerem a briga. Enquanto Bart conversava com uns colegas, limpando sua maçã, Arnold passara pela carteira dele olhando para a tarefa já feita, depois dando uma olhadela maldosa para o garoto. Num segundo, Bart voltara-se para sua carteira e deparou-se com a folha do dever rabiscada, mas não havia nenhum lápis na mesa.
O professor de história, Sergel, chegara. Arnold o recebeu gentilmente:
- Bom dia, professor. - deu um sorriso amistoso, logo indo sentar nas carteiras do meio.
A maioria cochichava sobre o estado de humor do professor tão abatido e de andar lento. Seus cabelos castanhos estavam desgrenhados, a barba por fazer e os óculos tortos. Pondo a mala na mesa, ele ficou em silêncio por um tempo, olhando a classe com tristeza. Abrira a maleta, retirando um revólver que destravou logo. Direcionou o cano para a boca, fechando os olhos com desespero... e por fim apertara o gatilho. O estampido foi simultâneo com um respingo de sangue que banhou o quadro.
Aturdidas com o dantesco ato, as crianças correram frenéticas aos berros e choros para fora. O corpo do professor caiu duro sobre a mesa, encharcando-a de sangue. O único a permanecer na sala foi Arnold que andou ao professor com um semblante de calma. Com dois dedos, pegou um pouco do sangue e experimentou.
- Framboesa. - disse ele, sarcástico - Meu favorito. - sorriu sacanamente com olhar de puro mal.
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CAPÍTULO 54: CRIANÇAS MALCRIADAS
Área florestal de Raizenbool (duas semanas depois)
No seu quarto, Rosie. sentada na lateral da cama, folheava tranquilamente um álbum de fotografias que guardara com todo o seu afeto. Deu um sorriso fechado ao ver a foto onde posava com outras meninas vestidas de animadoras de torcida do time de futebol do colégio Findsburg. Todas elas trajavam uniformes vermelho escuro com regatas e saias, além dos pompons amarelos. Alguém subitamente bateu na porta.
- Pode entrar. - concedeu Rosie, sem tirar os olhos.
Era Hector vindo apenas para vê-la naquela manhã.
- Lembrei de bater antes de entrar. Estou progredindo? - perguntou o caçador, aproximando-se.
- Só precisa parar de bancar o supervisor quando o caso se torna difícil. - retrucou Rosie - Quando dá pra resolver na violência, não tenho problema. Eu sou os músculos da equipe ou não? Tá, sem querer diminuir sua importância, mas você como cérebro não é o mesmo que tutor ou guia nas horas ruins.
- É uma questão de experiência. - disse Hector, sentando-se ao lado dela - Tenho o dever de ensina-la alguns truques de caçada, ajudar ver a situação por ângulos diferentes. Nossas ideias vão se complementado, o que, querendo ou não, nos torna... a melhor dupla de caçadores da Legião.
- Pra quê fui abrir minha boca grande? - disse Rosie, voltando sua atenção ao álbum.
- O que foi? Meus discursos motivacionais não estimulam você?
- Não, é que... você, muitas vezes, é perfeccionista demais e isso de vez em quando me contagia. A gente pode fazer um trato: Não exigir mais de nós mesmos se o caso for nível Alfa ou Sigma.
- Andou lendo o dossiê de criaturas do Derek, presumo. E trato feito.
- São 230 páginas de prolixidade e termos rebuscados nas descrições. Eu prefiro estar em campo arrebentando com os desgraçados.
- Pensando bem, eu concordo. - disse Hector, sorrindo leve. - O que está olhando? Fotos antigas?
- Ahn... - Rosie quase fechara o álbum - Anuário da escola. Meu terceiro ano... e o último da minha vidinha quase perfeita e totalmente normal. Olha... essa folga estendida merece um aproveitamento melhor. Não acha? Está tudo bem. Viajamos ao futuro, enfrentamos o lendário Drácula, resolvemos casos pequenos nas últimas duas semanas, felizmente o Derek não sabe de nada... Pensei em algo diferente, um passeio divertido. Não dê suas sugestões, por favor.
- Diferente do tipo... completamente distanciado de sobrenatural?
- O nosso diferente é o normal da sociedade. - disse Rosie, no bom humor - Eu quero sentir de novo algumas sensações. - levantou-se, pegando o capuz que estava sobre a cama - Hoje é dia da Rosie comum e simples, a caçadora está fora de contato. Vamos visitar a minha antiga escola hoje à tarde.
- Bem, nesse caso, já que a ideia é simplesmente esquecer que tem uma vida ligada ao sobrenatural... - disse Hector, levantando-se - Eu também me incluo nesse esquecimento temporário. Pode ir.
- Idiota. - disse ela, sorrindo - É claro que pensei em leva-lo.
- E é claro que não demonstrei interesse em ir. É um momento que deve ser somente seu.
- E que eu quero compartilhar com você. - declarou Rosie, tocando-o no ombro - Só não se envergonhe porque vou vestida assim. Minha avó transformou o uniforme em pano de chão.
- Seria bom também para esse "dia normal" uma roupa adequada. - sugeriu o caçador.
- A Êmina morreu e o fantasma dela possuiu você? Não tem problema ir com minha capa e se alguém olhar... que seja, é o meu estilo. Ah, com a Êmina é mais divertido quando o meu jeito de vestir é criticado, ela sabe brincar. Promete... não se acanhar?
Hector suspirou longamente.
- Não dê satisfação a quem olhar estranho.
- Assim que se fala.
***
Escola Findsburg - 14h30
A estrutura do colégio era ampla e sua fachada denotava simplicidade nos aspectos, algo que Rosie observava com brilho nos olhos andando à entrada, completamente em júbilo por tudo estar mantido.
- Caramba, eu nem posso acreditar. - disse ela, andando mais rápido - Praticamente nada mudou. Exceto pela bandeira do país. - olhou para a bandeira azul com cruz vermelha pendurada num mastro horizontal no alto da parede frontal - Deve ter sido roubada pelos vândalos.
- É o único item reconhecível. - disse Hector, meio que ficando para trás - Ao menos pra mim, claro.
- Óbvio que tudo aqui lhe parece estranho, você nunca precisou estudar em escola pública. Ah não, lembrei, os alunos com baixa renda não precisavam pagar. - disse ela, virando-se para o caçador.
- Está achando que fui um mauricinho metido a superior na escola? - perguntou Hector - Não... Eu agia bem diferente. Era vulnerável, pouco comunicativo, mas definitivamente aplicado.
- Aplicado em levar surras dos valentões?
- Tem esse detalhe também. E obrigado por perguntar, isso reacende muitas lembranças.
- Se viemos aqui para nos divertir e sair da rotina por pelo menos um dia, já que opções são poucas, temos que fazer um esforço e recordar nossos tempos colegiais sem memórias ruins atrapalhando.
- Quer fazer outro trato? Se nada der errado neste passeio, eu prometo leva-la para uma visita à minha escola muito em breve. O que acha?
- É bom que isso seja rápido, pois você sabe... pequenas férias para um grande trabalho. - disse Rosie, logo tendo um lampejo e virando-se para Hector com o cenho franzido - Ei, espera aí. Não é justo cancelar a visita à sua escola caso alguma coisa bizarra aconteça na minha.
- Recorrer a sinônimos para aquela palavrinha com "s" não adianta muito.
- Eu só quero evitar ao máximo, só isso. - disse ela, olhando ao redor - Veja quanta gente... Não parece um dia escolar comum, dá pra sentir uma vibração especial.
- Provavelmente algum evento. - teorizou Hector - Reparando bem, há muitas pessoas aparentemente da nossa idade vestidas à paisana. - ambos entraram no corredor lotado - É uma ocasião especial, sem dúvidas.
- Nossa, olha isso. - disse Rosie, caminhando aos armários cinzentos - Esse aqui era o meu armário. Que bom não terem apagado meu desenho do emblema dos White Tigers. Fui líder de torcida, deve ter visto nas fotos.
- Você não me deixou ver, pra começar. - disse Hector, levantando uma sobrancelha - Imagino quantos bons momentos você levou consigo daqui. Foi uma época certamente inesquecível. Agora sou eu quem estou com saudades. Dos bons aspectos, obviamente.
- Pois é. - disse Rosie, tocando no seu velho armário - Jamais vou esquecer dos amizades que construí nesse lugar. Se a Hanna estivesse aqui... - ela virara o rosto para sua direita e sua expressão alterou. - Também não dá pra esquecer das inimizades.
- O quê? A quem se refere? - indagou Hector, curioso.
Uma garota, aparentando ter vinte e poucos anos, com cabelos castanhos ondulados caindo em cascata nos ombros e um rosto em forma de "diamante" meio moreno com estonteantes olhos verdes aproximava-se da dupla com um semblante de deboche escrachado. Seu vestido verde escuro ia até os joelhos.
- Ora, ora, ora... - disse ela, a voz zombeteira, olhando Rosie dos pés à cabeça - E não é que encontrei a presença mais ilustre desse dia. Rosie Campbell. - juntou as mãos enquanto sorria falsamente. - Eterna amante do Christian, o esportista mais cobiçado das turmas. Uma garota de sorte merece um homem de sorte. - olhou para Hector que se retraiu com face de desconforto.
- Tiffany. - disse Rosie, controlando-se - Eterna rainha do baile. Há quanto tempo hein? O que tem feitos nos últimos anos? Não nos vemos desde a formatura.
- E foi até melhor assim. - retrucou ela - Honestamente, você foi a última pessoa que eu esperava reencontrar hoje neste nobre evento para veteranos que realmente valeram a pena nesse colégio.
- Eu não soube de nada. Recebeu uma carta, por acaso?
- Mas é claro, a nova direção dessa escola é a melhor da história. - disse Tiffany, orgulhosa - O Conselho Superior determinou que somente os pagantes assíduos das turmas antigas serão bem-recebidos, eu teria cuidado se fosse você, mas não esquenta, a taxa de visitação cabe no seu bolso.
- Eu acho que vou precisar me informar com a coordenação. Só vim visitar, não estou de penetra.
- Oh, então não sabia. Porém, não é desculpa para sair sem pagar.
- Tiffany, se essa história fosse verdade, haveriam seguranças na entrada pedindo informações. - o tom de Rosie já se engrossava. - E se o evento é tão nobre, o que faz aqui?
- Sou eu quem perguntaria isso, você sempre roubando minhas falas. Se fantasiou de chapeuzinho pra conseguir uma certa atenção?
Hector mostrava-se disfarçadamente tenso com o clima.
- Eu não tenho que dar satisfações, é o meu estilo, não tô querendo lançar moda e nem chamar atenção. Você, por outro lado, parece não ter mudado absolutamente em nada. A não ser por esse caroço na sua boca. - apontou para o próprio rosto, deixando a rival apreensiva.
- Como é? Caroço?! Claro que não. - retirou um espelho de mão - Voltei de uma viagem dos Estados Unidos, um antigo namorado está agora lutando nos campos de batalha e quis matar a saudade da família dele. Não teria beijado alguém lá e contraído uma doença. - voltou-se para Rosie - Como não sou de baixa renda, tive acesso privilegiado. E se quer saber... tenho muitas viagens programadas enquanto você, aparentemente, está numa constante festinha brega à fantasia.
- Viagens é? - indagou Rosie, os braços cruzados. - A Índia tá incluída na lista? Dizem que as vacas são sagradas por lá.
- O que disse? - zangou-se Tiffany, raivosamente chegando perto - Dobre sua língua, pobreton,,,
Rosie dera um tapa forte no rosto de Tiffany. Hector imediatamente evitou uma confusão maior.
- Melhor seguirmos em frente, Rosie. Não percamos mais tempo. - disse, conduzindo ela para longe.
- Tem sorte de eu não revidar, Campbell! Não quis estragar essas belas unhas pintadas! Foi salva pelo príncipe plebeu hoje, mas na próxima, se houver, eu, Tiffany Loston, irei vencer!
- Vadia superficial. - resmungou Rosie, andando a passos largos.
- Essa Tiffany parece guardar bastante rancor de você. - disse Hector, à direita dela - Tem a ver com a história do tal Christian?
- É sério que você tá me perguntando isso? É uma história complicada, deixa pra lá. Eu não ia ficar chutando cachorro morto com essa patricinha e aquele tapa não foi o primeiro. Se isso te deixa mais curioso, eu lamento. Parte do nosso plano foi por água abaixo. Ela tem fiéis seguidoras, talvez o melhor refúgio seja o pátio central. Vamos. - pegara na mão de Hector, conduzindo-o.
O pátio consistia num espaço confortavelmente aberto e naquele momento encontrava-se cheio de alunos, tanto atuais quanto veteranos interagindo. Uma fonte com a estátua de um anjinho que despejava água pela boca era um atrativo digno de uma primeira olhada assim que entra na área.
- De todos os locais, esse aqui foi o meu favorito nos intervalos. - disse Rosie, entusiasmada - Na quarta série jogávamos moedas na fonte por acreditarmos que ela concedia desejos. Na verdade, acreditávamos em anjos que concediam desejos.
Hector dera uma risadinha.
- É engraçado e bem ridículo quando se lembra. - fez uma pausa - Não tá funcionando né?
- Concentre-se no ambiente à sua volta. - aconselhou Hector, tocando-a no ombro ao seu lado - A perspectiva tem que ser o mais natural possível. Como você odeia fingir...
- Não, vou tentar me esforçar, a nostalgia está ganhando. A Tiffany foi um mau necessário.
- Olá, presumo que vieram para a maratona de palestras. - disse uma mulher indo até eles. Ela vestia um sobretudo bege claro abotoado, calças pretas apertadas e botas da mesma cor, além dos cabelos pretos amarrados em coque e o rosto meio redondo com lábios carnudos e olhos verdes.
- Não estávamos sabendo nada sobre palestras. - disse Rosie - Você deve ser...
- Sim, muito prazer, sou Guinevere Winston, coordenadora do ensino fundamental. - disse ela, apertando a mão de Rosie e depois a de Hector - Meu primeiro passo como recém-contratada foi organizar um evento no qual alunos veteranos palestrassem sobre suas experiências e encorajassem novos, mas isso vem com uma ficha de inscrição não-obrigatória para os que receberam o convite.
- Nenhum convite chegou no meu correio. - disse Rosie - Alguém me disse que é necessário pagar uma taxa de permissão de entrada para quem foi aluno de baixa renda. Isso é mentira né?
- Alguém que deu essa informação falsa com certeza não quis você presente. - disse a coordenadora - Podem me chamar de Gui, eu tenho recebido muitos pedidos para estender o evento. Vocês podiam participar, posso abrir uma exceção caso não tiverem sido pagantes.
- É melhor não. - disse Rosie, sorrindo - Na verdade, eu sou a ex-aluna e ele... - o olhou - Meu acompanhante voluntário. Agradeço, mas não tô interessada, isso tudo é para experiências exemplares e a minha... digamos que tá um pouco distante. - a declaração aumentara a curiosidade de Hector em 200%.
- Tudo bem. Se me derem licença, preciso firmar as rédeas sobre um garoto na diretoria que tem causado problemas perturbadores para pais, professoras e colegas. Muitas palestras abordam sobre agressão psicológica e física na escola, eu ia manda-lo assistir, mas o Conselho não deu aval. - Guinevere baixou um pouco a cabeça - As coisas andam um tanto desgostosas ultimamente. Minhas duas primeiras semanas de novata não tem sido fáceis
- Aconteceu alguma coisa? - perguntou Hector - Não importa o que seja, pode nos contar.
- Há exatamente duas semanas, o professor de história do fundamental cometeu suicídio diante de todas as crianças presentes. - disse Guia, deixando a dupla atônita - Trouxe uma arma carregada pra sala e disparou contra a boca, isto por si só já indicaria suicídio. O quadro estava manchado de sangue, mas pareceu que a polícia ignorou alguns detalhes. Apenas pareceu. O Conselho, até onde sei, teve forte influência na tomada de decisões. É estranho que a repercussão não tenha chegado à imprensa a curto prazo. E por fim, Arnold, o garoto na diretoria e encrenqueiro número um da classe, foi o único a permanecer na sala após o suicídio, estava chorando num canto, enquanto as outras crianças saíram correndo. Não quero incitar conspiração, muito menos acusar... mas qualquer criança da mesma idade que ele teria a mesma reação.
Rosie e Hector entreolharam-se rápido bastante sérios.
- O Conselho deu algum jeito de não manchar a imagem da escola, mas o que me intriga mais é Arnold e sua suspeita permanência na sala, ainda que estivesse aos prantos...
***
"...não entendo porque com ele ocorreu diferente."
Rosie decidiria continuar o passeio sozinha enquanto Hector iniciava a investigação na sala de arquivos. A jovem andara pelos corredores, percebendo o número de pessoas diminuir, aparentando que o evento estava nos minutos finais. Seu pensamento não parava de focar na tragédia.
Mas ele fora cortado com um esbarrão súbito em ninguém menos que Arnold.
- Vê se olha por onde anda! - murmurou ele, ríspido - Fantasia ridícula. - deu um sorriso infame.
Rosie o olhou com repúdio misturado a inquietação.
- Desculpe, eu estava muito fora do ar. - ela já notara - Espera... O seu nome é Arnold?
- O que te importa? - perguntou ele, saindo dali.
A jovem o observou dobrar um corredor à esquerda.
- É, acho que responde a pergunta. - disse ela, logo decidindo segui-lo.
O vira entrar na diretoria. "Estranho deixarem a porta destrancada", pensou ela, escondida.
Cautelosamente, andara até a janela abrindo a persiana numa pequena brecha.
O flagrante foi imediato: Arnold quebrava os lápis do diretor ao meio com as mãos, um por um. Em seguida, derrubou-os, espalhando os pedaços por toda a sala com chutes. As dúvidas de Rosie sobre o garoto haviam sumido com o reflexo no espelho oval que exibia uma aparência de um ser vermelho e com pequenos chifres saindo das laterais da testa. "E lá se foi meu dia nostálgico.", pensou, frustrada.
Finalizou a espionagem fechando a brecha da persiana muito rápido... o bastante para Arnold se virar para a janela com expressão séria após perceber a presença de alguém.
***
Hector sacara a chave oferecia por Guinevere para adentrar na sala de arquivos localizada a uns bons metros de distância do maior volume de pessoas que ainda se via perambulando. Ainda assim era importante se certificar de todas as direções. Inseriu a chave, girou-a e entrara rápido.
Fora atraído pelo armário de metal quase do seu tamanho e puxou as gavetas começando da parte superior. Na primeira gaveta não havia nada relevante. Já na segunda a atenção do caçador se redobrou instantaneamente, logo ao ver pastas coloridas, cada cor correspondendo ao conteúdo indicado no papelzinho colado e ordenadas enfileiradamente. Passou os dedos por várias. "Matrículas... Provas... Ficha de funcionários...". Parou na vermelha, a última. "Incidentes".
Retirou a pasta e folheou cada página, verificando cada data. "Duas semanas atrás... Logo... 09 de Fevereiro, hoje são 23." Achara a data correta num instante. O documento relatava sobre uma tentativa de homicídio ao professor Paul Morgan em pleno início de aula, apresentando testemunhos de crianças cujos nomes mantiveram-se ocultos, logo todas foram referenciadas somente como "alguns alunos que presenciaram a fatalidade". No mínima estranho, pois os casos anteriores mencionavam nomes de qualquer envolvido.
- Nada sobre suicídio... - disse Hector, pasmo - Tem a assinatura da polícia local, reconhecido como documento oficializado, mas contendo provas plantadas para parecer um outro caso. O Conselho Superior... Gui tinha razão. - fechou a pasta, saindo da sala logo após guarda-la.
Enquanto isso, Arnold tinha saído da diretoria novamente no objetivo de seguir Rosie. Para incitar urgência, o pequeno demônio afetara as luzes acesas, fazendo-as piscar tremulamente.
Por sorte, Guinevere vinha de outro corredor ao lado e o parara.
- Posso saber o que está fazendo fora do castigo, mocinho?
- Ah, que droga. - reclamou Arnold - Vê se me erra, não fiz nada de errado.
- Não vou mais relevar seu atrevimento. Ouviu bem? A punição por maus tratos aos colegas é absoluta e inquestionável, então, pela sua permanência na escola, não faça nenhuma gracinha que desafie minha autoridade. Eu fui suficientemente clara, Arnold?
- Você é só um capacho do diretor. - disparou ele - Acha que tenho medo de você, sua velhaca?
- Eu acho que no mínimo você merece um acompanhamento psicológico. Venha comigo. - disse Gui, na direção da sala. Virou-se para o garoto - Arnold, venha já ou o levarei à força! - o pegara pelo braço. - Não faça nenhum escândalo, venha. - o conduziu de volta à diretoria.
Rosie escutara tudo e resolvera seguir à diretoria, entretanto uma mão a tocara no ombro.
- Ah! - gritou ela, virando-se - Seu filho da mãe, não chega assim tão silencioso.
- Desculpe. - disse Hector, olhando para o caminho que levava a diretoria - A escola já está praticamente se esvaziando, precisamos esclarecer algumas coisas com a Gui.
- Não notou as luzes piscando? - perguntou Rosie - Antes disso, dei uma olhada na sala do diretor e vi o Arnold fazendo uma travessura, o que foi o de menos. Tinha um espelho e... o reflexo mostrou uma aparência demoníaca. Pele vermelha, chifres, até uma cauda... Achamos nosso monstro, aquele que não estávamos esperando para o belo dia de folga.
- Um demônio disfarçado de criança... Não estou tão surpreso.
- Uma criança-demônio disfarçada de humano, corrigindo. O tamanho era o mesmo. Ele é um verdadeiro diabinho que apronta altas confusões. A Gui tá em perigo, vamos ter de intervir.
- Não faremos nada precipitado. Temos sorte de só até agora ele ter feito luzes piscarem. - disse Hector, determinado - Encontrei na sala de arquivos um relatório da morte do professor. Todas as palavras, menos suicídio. A polícia assinou como oficial e as provas não batem com a declaração da Gui. Algo me diz que o Conselho Superior deste colégio não é dos mais confiáveis.
- Mas qual a correlação com o Arnold? - questionou Rosie - O Conselho tem o poder, o Arnold teve uma reação praticamente diferente da dos outros... Onde está o ponto que liga todas as evidências?
- Isso é algo que somente ele pode nos responder.
***
Uma medida radical que a princípio assustou o garoto traquina. Ser prendido por uma corda molhada na cadeira à frente da mesa do diretor ultrapassava os limites educacionais. Guinevere se posicionou auto-confiante a Arnold, com os braços cruzados numa postura autoritária. Ele rosnara.
- Grr... Meus braços... estão ardendo! Me solta! Vou gritar por ajuda... - abrira a boca para dar um berro de socorro, mas fora impedido pela mão esquerda de Gui tapando-a.
- É inútil, ninguém vai ouvi-lo. Enquanto você fazia bagunça, tratei de finalizar o evento. Fica quietinho. Prometo ser boazinha. Você causa problemas, mas já pesquei peixes bem maiores.
- Chama isso de ser boazinha? - reclamou ele, sentindo a ardência consumi-lo - O que é isso? Tá doendo! Vou te matar...
- Pra sua informação, um fluido ácido à base de ervas solúveis em água. Ideal contra todo... e qualquer demônio que existe. Agora se responder certo, o deixo livre e você nunca terá que me ver novamente. Pelo menos não numa sala como esta.
- Está mentindo. Por que?
- Meu tempo por aqui é curto. Você me atraiu, Arnold. Ou deveria dizer... Beau? O seu nome original, fiz muitas pesquisas por essas bandas. Morreu antes dos seus pais. Um menino mal que desejava ser mimado como um bebê, mas queria fazer coisas piores do que adultos malvados.
- Podemos falar sobre o professor Paul. Eu odeio a minha história. Odeio os meus pais. Odeio o lugar onde eu pertenço hoje. Todos os demônios odeiam. Aqui a diversão é infinita.
- Comigo na sua cola ela acaba mais rápido que doce na mão de criança. Diga o que realmente induziu o professor à morte. - sacou uma lâmina de irídio.
- Aponta isso pra lá, seu grande monte de bosta. - disse Arnold, fervoroso - O professorzinho foi meu fantoche, adorei brincar com ele. Hipnotizei todos a quem me seriam necessários. O professor... e todo o Conselho. O desgraçado não me dava permissão pra entrar na biblioteca, então o puni.
- O que existe lá tão valioso pro seu plano?
- Um antigo grimório... - a dor o incomodava - ... cheio de feitiços legais e o meu preferido convida pra festa uns amigos que fiz no Tártaro não faz muito tempo. Eles podem voar... e matar.
- Alademônios. - disse Guinevere, tensa - Mais uma coisa: A polícia viu um caso totalmente diferente do real. As crianças disserem veementemente que foi suicídio e foi. Mas nos jornais consta assassinato a mão armada. O bandido atirou na boca do professor. A janela foi quebrada pelo bandido, conforme diz a notícia que acreditou no conto dos membro do Conselho.
- Verdade. Eles armaram tudo... graças a mim. Eu disse que os hipnotizei. A janela? Eles quebraram. A arma? Puseram outra com digitais de uma pessoa aleatória que nem faço ideia. E aí, terminamos? Achei que isso não fosse atrair caçadores como você.
- Não foi o bastante. - disse Guinevere, saindo da sala para o desprazer de Arnold.
No meio do caminho, a coordenadora se deparou com Rosie e Hector em um canto do corredor.
- Sinto em dizer, mas está na hora de fechar o colégio. - disse ela gentilmente, aproximando-se - Vocês estão liberados, eu assumo daqui.
- Que conversa é essa? - indagou Rosie - Vai me desculpar, mas... não vamos a lugar nenhum.
- Felizmente a escola está praticamente vazia. - disse Hector - Não pode lidar com o que mantém sob castigo, estamos falando sério. Somos investigadores peculiares.
- Tudo bem, vamos por os pingos nos is. - disse Gui, suspirando - Não passo de uma infiltrada. Pra simplificar, sou uma caçadora especializada em demonologia.
- Você caça demônios?! - surpreendeu-se Rosie - Sabia o tempo todo da natureza do Arnold?
- Não só sabia como também esperei o momento certo para agir. - justificou Gui, segura - O tempo não está a nosso favor, então serei bem direta. A detenção do Arnold passou do limite e eu menti para os membros do Conselho, anteriormente hipnotizados pelo demônio, de que seus pais viriam busca-lo logo e fiquei encarregada de fechar a escola assim que o pegassem, o que obviamente é meu plano.
- Disse hipnotizados? - indagou Hector, desconfiado - Arnold... digo, o demônio é a mente por trás da morte do professor?
- Quem mais poderia ser? O próprio professor e o Conselho foram marionetes. A questão é: Como souberam que Arnold é um demônio?
- Eu o espiei pela janela da diretoria e vi pelo reflexo do espelho. - disse Rosie. - Mas fui perseguida, as luzes piscaram e você o abordou. Ele percebeu.
- Já eu bisbilhotei a sala de arquivos, como você me pediu, e achei detalhes incorrespondentes. - informou Hector - Até iríamos segui-la, mas pensamos bem e decidimos esperar.
- Ótimo. Era exatamente isso que Arnold queria: Uma longa detenção. Eu criei o evento para manter a escola segura e obter certeza absoluta. Os pais dele são meras ilusões. - disse Gui, olhando-os seriamente - Sigam-me, vamos à biblioteca. Lá se encontra o item crucial pra artimanha dele.
A dupla cedera ao pedido, caminhando diretamente à biblioteca que ficava entre a sala dos professores e a coordenação. Guinevere ligara o interruptor logo ao entrar, elucidando algumas teias de aranha no teto. O local dotava de um bom espaço de leitura com várias estantes de madeira.
- Deve estar por aqui... - disse Gui, passando os dedos nas lombadas dos livros.
- O que está procurando? - perguntou Hector.
- O grimório que ele almeja para algum feitiço de invocação.
- Talvez seja o Goétia. - disse Rosie.
- Já ouvi falar. Soube que há inúmeras cópias espalhadas. - salientou Guinevere. - O nome verdadeiro do demônio é Beau, ele deseja libertar uma horda de alademônios, uma espécie selvagem e primitiva, a única diferença com os bestiais é que possuem asas. - sua procura encerrara-se ao enxergar um pentagrama numa lombada preta - Será este? - pegou-o.
- Sim, é de fato uma cópia. - constatou Hector, olhando de perto - O que pretende fazer?
- Vamos queima-lo. - decidiu Guinevere, segurando-o bem - A motivação de Beau era a permissão do professor em acessar a biblioteca, sempre negada. Crianças com históricos sangrentos tem suas almas tragadas pelo Tártaro e estas tornam-se diabretes, também chamados de Imps.
- Como eu disse, uma criança-demônio. - falou Rosie para Hector.
- Os diabretes são como crianças travessas e muitos deles o foram enquanto humanos, mas com uma natureza arteira e maldosa multiplicada por mil. - explicou Guinevere, olhando para o Goétia - Precisamos destruir o livro, a corda com ácido líquido não vai mante-lo por mais tempo. Um de vocês tem isqueiro?
- Não, esperem... - interrompeu Hector, entre elas - Basta queimar a página com o feitiço específico que ele precisa. Você é perita em demônios e magia negra, não deve ser tão difícil acha-lo.
- Ahn... Talvez não entendeu bem, mas... Eu caço demônios, leio sobre demônios, prendo demônios... Objetos convenientes à eles não me interessam. O Goétia não é um guia de consulta, é uma arma.
- Será que posso dar uma olhada? - pediu Hector, educadamente - Aprendi o básico do latim.
Guinevere entregara-o e o caçador andou uns passos ficando de costas às duas, folheando um dos vários exemplares do maior livro de bruxaria da história.
- Arrancar a página do feitiço não é suficientemente estratégico. Pensemos grande. Será uma cópia a menos impedida de cair nas mãos de bruxos invocadores possivelmente infiltrados aqui e conheço os piores da pior espécie.
- Podemos leva-lo. - sugeriu Rosie - Se não acharmos um isqueiro, o mantemos guardado.
- É uma excelente ideia. - disse Hector, voltando-se à elas, empolgando-se repentinamente, o que fez Rosie estranhar. Devolvera o livro fechado à caçadora.
- Então nesse caso, vou distraí-lo... - a fala de Guinevere fora cortada com o piscar súbito das luzes antes que ela entregasse o Goétia nas mãos de Rosie - Ah não, merda...
No último piscar, Arnold aparecera como um fantasma entre duas estantes. Ergueu de leve a mão direita, empurrando Guinevere telecineticamente contra uma parede, o corpo da caçadora impactando forte.
- Vocês! Peguem! - disse Gui, jogando para a dupla as adagas de irídio. Porém, Arnold fora mais ágil, erguendo Hector com telecinesia e lançando-o contra um estante, quebrando-a e derrubando vários livros. Rosie fora tivera seus pés tirados do chão também e lançada contra o teto e o chão. Arnold teleportara-se diante de Guinevere enquanto ela levantava-se.
- Não pensaram que ia ser tão fácil se livrar de mim né?
A caçadora sacou uma adaga, mantendo o livro numa mão. Rosie reergueu-se, atirando a adaga que logo foi pega por Arnold por reflexo ao se virar. Guinevere aproveitou para golpeia-lo, mas o diabrete mostrou-se veloz fechando o punho direito e provocando asfixia nela, o que consequentemente a fez largar o Goétia e a adaga.
- Essa não... - disse Rosie - Gui!
- Nem mais um passo! - gritou Arnold, pegando o livro e depois lançando uma descarga de pulso vibratório pela mão que atingira violentamente os dois, empurrando-os para longe e despedaçando algumas estantes próximas. Teleportou-se com o livro, desesperando o trio.
- Vocês estão bem? - perguntou Guinevere, correndo para ajuda-los.
- As costas doem... - disse Rosie, levantando-se com Hector - ... e a minha testa também. Tamanho nunca é documento. Esse pestinha merece uma surra.
- Não vamos deixar levar pela aparência, acaberemos com ele. - disse Hector - Não deve ter ido longe...
***
No pátio, Arnold... ou deveríamos dizer, Beau, caminhava para a área central com o livro aberto na página contendo o sigilo e o recitamento. O sol da tarde brilhava intenso. O pequeno demônio colocou o exemplar no chão e afastou-se alguns metros.
- Aperire sigillum exitum et ingressum. Conveniunt legionem per portam obviam bestialibus vocas!
Durante o recitamento, o piso sofreu danos com linhas que se cruzavam até formar um símbolo místico. Em seguida, uma ventania fizera as páginas do livro folhearem. O feitiço afetara o clima, evocando nuvens tempestuosas que relampejavam e trovoavam. Quatro raios de cor vermelha desceram do céu atingindo quatro mini-círculos nas laterais do círculo maior sequencialmente, iluminando as linhas do sigilo. Paralelamente, Rosie e Hector corriam na busca pelos corredores. Mas não importavam quantas portas queriam abrir, todas eram marcadas com o sigilo brilhando em vermelho e abriam-se sozinhas. A dupla se deparou com um mundo assustadoramente distinto do outro lado.
- Esse é o Tártaro? - perguntou Rosie, seu capuz esvoaçando com o vento soprado da dimensão que apresentava um solo rochoso e nuvens vermelhas como rubi e trovejantes.
- Ah não... - disse Hector, percebendo pontos negros em aproximação parecendo morcegos - Já estão vindo! Vamos, depressa! - voltou a correr em frenesi.
Pararam noutra porta, também marcada, sendo barrados pela abertura dela.
- Essa travessura de pentelho já tá me dando nos nervos! - disse Rosie, aborrecida. - Hector, ele só pode estar do lado de fora! Que tal nos separamos?
- Não sei bem ao certo. As opções estão se esgotando. Nesse ritmo ficaremos presos aqui! Cada porta é marcada consecutivamente. Com múltiplos portais sendo abertos... receio que a escola...
- Não há tempo pra teorias! - disse Rosie, pegando-o pelo braço e correndo - O único jeito é tentarmos ser mais rápidos que o feitiço!
Ao passo que a dupla seguia numa desenfreada tentativa de escapar, Guinevere, com um giz, desenhava um sigilo de proteção na porta da sala, nos dois lados, que escolheu para proteger-se. Logo correra pelo labirinto de corredores da escola.
- Rosie! Hector! - chamou ela em voz alta. As portas continuavam sendo marcadas e abrindo passagem para os alademônios cruzarem a fronteira. - Onde vocês estão?
Num corredor, ambos escutaram a voz abafada.
- Você ouviu? - perguntou Rosie - É a Gui! Nos separarmos dela pode ter sido um erro.
- Provavelmente sim. - disse Hector - Vamos.
- Provavelmente nada! É certeza. Ela talvez esconda um ás na manga.
Guinevere vendo-se cercada por portais, resolvera voltar à sala.
- Vocês estão próximos, virem à esquerda! - gritou ela, logo entrando. O fazendo, a dupla encontrara aberta a única porta que não estava afetada e correram.
- Rápido. - disse ela, fechando a porta - Por enquanto, esta sala é invulnerável. Desculpe apressa-los.
- Sem problemas. Confiamos na hipótese de ganharmos através dos seus métodos. - disse Rosie.
- O diabrete certamente está no pátio, escutei trovões e raios vindos da direção exata. - declarou Hector - O que quer que tenha em mente, Gui, é melhor agirmos depressa, estamos num beco sem saída. A escola continua sendo tomada por portais.
- Verdade, aparentemente mais da metade das portas foram lacradas com sigilos. - disse Guinevere, esfregando as mãos - Não tenho escolha. Dane-se, é um demônio, complacência nunca foi opção, não agora só porque é um garoto. Sinto muito, mas agora vamos precisar de um isqueiro.
- Rosie... - disse Hector, olhando-a com confiança, fazendo que sim com a cabeça.
A jovem não devolveu um olhar muito seguro para Guinevere.
- Como não há tempo pra explicar tudo, vou tentar resumir: Este amuleto, um brasão, me fornece poder necessário para acabar com qualquer criatura sobrenatural, mas é útil por apenas 5 minutos e ainda não consigo controla-lo, não me adaptei totalmente. Posso gerar fogo com ele. - fechou os olhos. O brasão emitiu luz e da mão esquerda de Rosie labaredas brotaram.
- Isso é... fantástico. - disse Guinevere, estupefata - Mantenha aceso. - direcionou-se ao armário, pegando um objeto circular similar a um cantil, depois pegando um frasco com óleo derramando-o - Pronto, jogue.
Rosie estalou os dedos, fazendo a labareda entrar no cantil.
- Segure. - disse Guinevere, entregando a Hector, imediatamente sacando uma adaga e cortando a palma direita - Isto servirá como uma bomba que uma vez lançada contra o diabrete o fará reverter a forma original por uma hora. Temos meia hora até a abertura se completar. - pingou o sangue dentro.
Fechara com tampa e a manteve com Hector.
- Agora vão.
- E quanto a você? - indagou Rosie.
- Me viro sozinha desde sempre. Mas uns parceiros de vez em quando me cai bem. Boa sorte...
***
"... e procurem-o por toda parte, ele voltará para o interior. As últimas portas a lacrarem-se serão as dos fundos e a principal, presumo."
Guinevere corria a toda velocidade em direção a porta que levava diretamente ao pátio. Ao atravessar, diminuiu o ritmo quando vira o sigilo brilhante com o livro no centro.
- Accenderet. - dissera ela. O Goétia consumiu-se em fogo num instante, revelando seu talento por manejar magia básica. Ainda assim, o feitiço persistia. A porta fora marcada para sua surpresa. - Não pode ser... E agora? O que deu errado? - voltou-se para o livro queimando. O sigilo apagara-se. O jeito era acreditar no êxito da bomba.
Pelos corredores, Hector trazia consigo um medidor EMF cujo ponteiro alcançava o máximo.
- Pelo visto, ele quer ser achado. Se prepare. - avisara a Rosie.
Arnold surgira diante deles sem aviso, a expressão sacana.
- Não sairão daqui vivos. Eu tenho uma festa e vocês não foram convidados.
- Sentimos informar, mas não vai rolar nenhuma festinha de Halloween fora de época. - disse Rosie, sacando a adaga.
- Não te disseram que é crime espancar crianças?
- A lei serve para humanos. - disse ela, tentando ataca-lo, mas ele os afastou com telecinesia.
Rosie colidiu com uma parede enquanto Hector deslizou no chão. Arnold novamente ergueu Rosie, sufocando-a. Hector transformara-se em licantropo para ataca-lo de surpresa.
- Por que não briga com alguém do seu tamanho? - ele apertara mais o punho.
- Te-tem toda... a razão... - disse Rosie, sofrendo - ... É difícil... esfaquear um baixinho feito você.
- Largue-a! - disse Hector, vindo superveloz para quebrar o pescoço dele. Rosie caíra na hora. - Como se sente? - andou até ela.
- Não se preocupe... - disse Arnold, reerguendo-se rápido - Vou manda-los direto para o Tártaro.
Rosie investira contra ele, tentando esfaqueá-lo, logo optando por esmurra-lo e chuta-lo com toda força de modo a faze-lo parar na lata de lixo.
- Só estou pegando leve com você. - disse ele, posicionando como um animal para pega-la.
- Agora Hector! - disse Rosie. O caçador aproveitou o exato momento em que o diabrete saltara contra ela para enfim lançar a bomba que efetivamente explodiu contra o rosto dele.
Ele gritara de dor, seu corpo fumaçando intensamente. A forma original se esclareceu. Um magro e infantil ser vermelho com cauda e chifres pequenos. Os fuzilou com os olhos.
- Malditos! Filhos da pu...
Fora pego por Rosie pelo pescoço até ser colocado contra a parede com violência.
- Desfaça o feitiço agora! Chega de se esconder ou fugir, estamos um passo à frente.
- Sugiro uma abordagem mais intimidante. - disse Hector, devolvendo a adaga.
- Desembucha. - disse Rosie, efetuando um corte no rosto dele que queimou levemente.
- Rosie, depressa... - preocupou-se Hector. Os alademônios estavam próximos demais, voando como morcegos gigantes. Os olhos dessas criaturas fumegavam em amarelo e suas presas eram pontudas.
- O próximo golpe é uma facada bem no seu coração... Vai encarar? - ameaçou Rosie.
- Está bem! - cedeu o diabrete, estalando os dedos. A atmosfera mudou num segundo. Todas as portas fecharam a tempo e desmarcadas.
- Acabou. - disse Hector, comprovando pelo EMF, mostrando-o à Rosie.
Guinevere veio correndo e observando a situação, pegou suas algemas de irídio.
- Bom trabalho. E você, pestinha... Vai direto pra detenção. Permanente.
***
No lado de fora da Findsburg, Rosie e Hector orgulhavam-se do sucesso da missão, partilhando a satisfação com uma confiante Guinevere.
- Eu realmente não tenho palavras... - disse ela após trancar a gaiola com o diabrete preso - Definitivamente, foram os heróis do dia.
- Era pra ser um dia conforme nosso planejado. - disse Rosie - Sem monstros, magia, riscos... No final das contas, valeu a pena. Salvei de uma aberração mística o lugar que eu frequentava na minha época como pessoa normal. Mais irônico impossível.
- O que importa é o nosso trabalho em equipe. - disse Hector - Você foi o motor-chave, arrisco dizer.
- Para de ser puxa-saco. - disse Rosie, rindo. - E você, Gui... Obrigada mesmo.
- E vê se põe uma coleira nesse danadinho. - disse Hector - Obrigado também. Ficamos te devendo.
- Não estão em débito. Tenho que ir, foi um prazer enorme conhece-los. Este diabrete necessita de proteção, ao contrário do que pensavam.
- Como é? Por qual motivo? - perguntou Rosie.
- Homens poderosos ligados a uma fraternidade misteriosa conhecida como Caosfera veem nesses traquinas uma mina de ouro. - fechou o porta-malas do carro - Reza a lenda que alguns preferem beber do seu sangue que é... um fortificante. Em troca, os vendedores recebem quantias imensas.
- Caosfera... Esse nome é familiar. - disse Hector, intrigado.
- Bem, vou indo nessa. Não querem carona?
- Não, pode deixar, você tá carregando um monstro que precisa ser mantido longe de mãos perversas, então... estamos bem, pediremos um táxi.
- Ok. - disse Guinevere, dando uma piscadela - Espero revê-los um dia. Até mais.
- Até. - disseram ambos em uníssono e acenando.
- Agora me fala... Te soou familiar ouvir o nome Caosfera. Por que? - questionou Rosie.
- Mollock me avisou no dia em que fui visita-lo pela primeira vez. Tudo o que ele comentou sobre essa sociedade secreta... me pareceu um alerta. Temos enfrentado um bom número de demônios.
- Pois é. No mais, melhor conseguirmos mais detalhes. - disse Rosie - Tem visitado o QG do Exército com mais frequência né?
- O quê? Como deduziu isso?
- Fácil demais. O horário que você sempre sai é as cinco da tarde. Horário padrão das reuniões. Tem sido tão difícil faze-lo falar pra ir tantas vezes?
- De certo modo... sim. - disse Hector, inseguro. - Vamos pra casa, estou exausto.
- Ótimo, vou ver se encontro um táxi estacionado por aqui. - disse Rosie, caminhando.
Vendo que ela havia distanciado-se, o caçador retirou do bolso interno do sobretudo uma folha dobrada e arrancada do Goétia... na biblioteca quando ele pedira à Guinevere para olhar. Visualizou seu conteúdo: Um feitiço invocatório para bestiais.
CONTINUA...
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de:
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