Frank - O Caçador #62: "Escrito nas Estrelas"
Base Aérea
Um dos dois seguranças oficiais que faziam a vigilância noturna pensou ter chegado com uma antecedência digna de um aumento. Foi ao vestiário colocar seu uniforme azul e acendeu as luzes. Porém, o que viu após o iluminar do local o fez quase saltar para trás. Franziu o cenho numa semblante de confusão vendo seu colega sentado e encostado num armário e amarrado com cordas de aço e com uma bola de pano presa na boca com a qual apenas grunhia num apelo para que fosse salvo. Sem perceber, o segurança que chegara estava prestes a surpreende-lo vindo por trás logo na entrada do vestiário.
- Cara, o que foi isso? - perguntou ele ainda que sabendo que o colega estava incapaz de responder.
Levou um golpe na cabeça por um pé-de-cabra. O agressor veio na direção do seu refém, arrancando a bola da boca.
- Quem são vocês? Pelo que é mais sagrado, não me matem! Temos famílias que dependem de nós...
- Blá blá blá. Conheço esse papo. Mas quem faz as perguntas sou eu. - disse o agressor levando a ponta útil do pé-de-cabra ao olho esquerdo do segurança - Onde fica o interfone do comandante?
O segurança hesitou por alguns seguranças, tremelicando de medo.
- Você terá a noite toda se responder. Vamos, fale! Se não quiser usar tapa-olho daqui pra frente.
- Meu cartão de acesso... tá no meu bolso da camisa. Nele tem o número da sala de comunicação.
O agressor enfiou a mão esquerda no bolso da camisa do segurança, retirando o cartão verde.
- Obrigado. - disse ele, colocando de volta a bola de pano na boca dele. Mas antes de ir, retirou sua balaclava preta que ocultava seu rosto, mostrando-se uma cópia idêntica do segurança amarrado - Até mais, irmãozinho. - falou, sorrindo com zombaria. Perplexo, o segurança, vendo sua condição, tentou desatar os nós da corda de aço num esforço desesperado. O clone do segurança passou o cartão num leitor após descobrir o número da sala de comunicações entre funcionários e o comandante da base.
Aproximou sua boca ao alto-falante.
- Senhor comandante, está na escuta? Solicito uma autorização para que um técnico possa inspecionar o gerador. Hoje é dia de checagem em vez de manutenção. Poderia me informar a senha, por favor?
O comandante atendeu ao pedido, fornecendo a senha caractere por caractere. O clone do segurança amarrado deixou para seu parceiro, o clone do que fora golpeado pelo pé-de-cabra, assumir a próxima etapa. Descendo a escada de metal com uma lanterna, mostrava-se confiante no sucesso absoluto do plano. Digitou a senha no painel conforme seu comparsa lhe repassou. A robusta porta metálica deslizou-se para o lado abrindo passagem. O falso segurança adentrou fixando seus olhos na célula-matriz imergida num líquido verde dentro de um tubo. Foi até os controles da máquina que mantinha a sustentação da energia do tubo. O líquido se esvaziou e quando o tubo secara o segurança sacou uma arma atirando várias vezes para estilhaçar o vidro. A célula-matriz caiu, mas ele a pegara rápido.
Na volta para a instalação subterrânea da ESP, ambos vinham orgulhos pelo corredor em direção ao falso Frank trazendo a célula que estava dentro de uma maleta cinza sobre num carrinho de quatro rodas.
- Como os chefes satisfeitos dizem: Meus parabéns, fizeram um ótimo trabalho.
- E a recompensa, chefe? - perguntou um deles.
O ESP-47 baixou a cabeça passando a língua entre os dentes e sorrindo misteriosamente.
- Disse que acreditava piamente no potencial de vocês, não que os pagaria por isso.
O clone de Frank sacara uma pistola Beretta atirando nas cabeças de ambos as cópias que forjou através de manipulação genética em embriões cultivados pela fundação. Os dois falsos seguranças caíram mortos com buracos nas suas testas. O falso Frank abrira a maleta para contemplar a célula que emitia um brilho verde.
- Tenho certeza de que é mais esplêndida por dentro do que por fora. - disse ele sorrindo maravilhado.
_______________________________________________________________________________
CAPÍTULO 62: ESCRITO NAS ESTRELAS
Departamento Policial de Danverous City
Frank se indispunha a ter paciência sempre que Hoeckler o chamava para sua sala, sabendo que o superintendente colocaria em questão os mesmos assuntos de alta prioridade que os interessavam.
- Lá vem você de novo com a conversa sobre o meu clone E.T contando menos do que sabe. - disse Frank, entrando na sala aborrecido - Qual será a meia-verdade da vez? - perguntou fechando a porta.
- Dessa vez vou me mostrar muito mais aberto do que antes, por mais que não coloque sua mão no fogo por cada palavra que eu disser. - disse Hoeckler, virando-se para ele com as mãos nos bolsos da calça.
- E espera que eu passe a depositar 100% de confiança nas suas intenções? Pode ter me tirado daquele inferno, mas não significa que isso te abona, ainda mais porque mandou explodir aquela caverna onde viviam as larvas gigantes comigo lá dentro. Fala pra mim que não foi pensando em me tirar de cena?
- Esqueceu do motivo pelo qual movi mundos e fundos pra tira-lo da cadeia? - questionou Hoeckler, esboçando irritabilidade com a postura teimosa e ignorante do detetive - Desde o início queríamos você na nossa trincheira, você recusou, eu fiz besteira, você fez besteira e me obrigou a agir conforme voto unânime do Conselho de Segurança, embora sem saber que o esper-X já havia se retirado do jogo.
- Tá, você quis me libertar pra ser um quebra-galho na luta contra a minha cópia fajuta.
- Está enganado, é mais do que isso.
- Não fazia sentido antes se esforçar tanto pra me tirar da prisão como um jeito carinhoso de me querer do lado de vocês e não faz sentido agora que vocês mal tem bugiganga de última geração pra lidar com o desgraçado. - argumentou Frank com vontade de sair da sala - Hoeckler, no que você acredita que eu possa ser útil nessa guerra pra impedir um desastre de escala de filme do Roland Emmerich?
- De fato, o ESP-47 detém uma força destruidora. Mas não é invencível. Ele só estava fácil de conter na cela pelos gases inibidores de estamina. Quando chegou a crise provocada pela ocupação dos espers, o corpo dele se desacostumou aos gases, retornando à fibra original em uma questão de horas. Mas ele possui seu DNA correndo nas veias, é impossível escapar do destino que conecta vocês dois.
- OK, entendi o recado. O problema é que ele pode cortar minha cabeça fora com um chute. Se bem que você o queria pra me substituir depois de me ferrar. Com tanta tecnologia, o que deu errado?
- Tentamos instalar um chip de controle no cérebro dele, mas que dias depois falhou miseravelmente. O chip se dissolveu na massa encefálica, ele resistiu ao controle além do que prevíamos, daí nos limitados aos gases e aos sedativos. Foi a partir dessa falha que a alta cúpula decretou proibida a abertura da cela para testes, experimentos e soltura. E é exatamente com ele que lideramos hoje, Frank.
O detetive levantou uma sobrancelha, intrigado.
- Ele aprontou mais uma?
- Aprontou? Não, isso é pouco pra classificar a atrocidade que ele cometeu. - disse Hoeckler indo pegar um copo para beber uísque - As células-matriz... - abriu a garrafa - ... caíram em diferentes pontos do país. Nesta altura, ele possui duas. - derramou a bebida sobre o copo e virou-se para Frank, sério.
- Quer dizer que... ele invadiu a base aérea pra roubar a célula que eu tinha descoberto? Mas como?
- Provavelmente replicou o DNA dos seguranças usando o inseto robótico... - disse Hoeckler, logo dando um gole - Precisamos hoje mesmo buscar a última célula-matriz que resta. No Novo México.
- Ótimo, boa sorte pra vocês. Vão precisar e muito. - disse Frank, virando-se para ir embora.
- Frank, volte já aqui. - ordenou Hoeckler - Não o chamei só pra compartilhamento de informações. - tomou mais um pouco do uísque fazendo careta com a bebida descendo quente pela garganta - O que acha de vir conosco? Não tenha medo por ele ser fisicamente mais forte que você.
- Eu levei uma das maiores surras da minha vida quando peguei ele na minha casa fazendo a Carrie de refém. Sou um frangote perto dele, então de nada vou ser útil, pelo menos não na parte prática.
- Mas você não quer descobrir mais dos mistérios que envolvem o templo onde a célula se encontra? Pense bem, enriquecer seu conhecimento e quem sabe usa-lo para nos auxiliar em algum ponto.
Frank ficara meio pensativo avaliando as opções, mas tivera a sensação de um fardo jogado nas costas.
- Desculpe, acho que eu não devia... - disse Carrie quase entrando na sala - ... entrar sem permissão.
- Permissão concedida, Carrie. Afinal, você também está convidada. - disse Hoeckler.
- O quê? Quer envolver até a Carrie no meio do perigo?! Olha, quer saber de uma coisa? Prefiro viver um dia normal de trabalho do que viajar pro Novo México num passeio só de ida. - declarou Frank.
- Novo México?! Peraí, o que tá havendo? Sou convidada pra essa viagem também? - perguntou Carrie.
- Sim, pode dar o suporte que você normalmente dá ao Frank. - disse Hoeckler na tentativa de convence-la - Provavelmente o sinal de telefonia não tem uma cobertura muito extensiva.
- Dane-se, a Carrie fica. - contestou Frank.
- Mas você vai, não? - indagou Hoeckler.
- Pra quê vão pro Novo México? É mais uma aliança que o Frank está sendo obrigado a formar com a ESP?
- Se fosse uma obrigação, teríamos feito de um modo menos amigável, se é que me entende. É uma convocação. O ESP-47 não pode em hipótese alguma colocar as mãos naquela célula-matriz.
- Mas você me disse que da primeira vez não conseguiram entrar no templo. - relembrou Frank.
- Por conta de alguma mágica restritiva que só permite visitantes muito específicos. Tememos que o ESP-47 seja um deles. É muito provável que os feiticeiros morreram em decorrência do contato direto com a célula antes de lacra-la. A chave para romper a barreira pode ser encontrada lá.
- E se ele resolve aparecer pra fazer tudo dar com os burros n'água? O jogo tá mamão com açúcar pra ele. Se ele pode passar e nós não, acabou, não tem missão. - disse Frank - Você quer me forçar a ir pra satisfazer minha curiosidade, mas eu quero decidir que não pela minha vida.
- Interessante que você não usava esse argumento de se resguardar quando teve que enfrentar o próprio diabo em pessoa. - retrucou Hoeckler, soando ríspido.
- A diferença é que tinha uma arma capaz de aniquilar com ele, espertão.
- Mas se conseguirmos uma única chance e nós podemos conseguir... Uma chance de sermos os primeiros da corrida, então teremos tempo de encontrar o meio de quebrar a barreira, apesar disso não garantir total eficácia, mas temos de arriscar. Já agendei a viagem pra daqui à uma hora e meia.
- Mas já?! - disse Carrie, espantada.
- É que meu clone roubou a célula que ficava na base aérea. São três ao todo, se ele junta-las recuperando as suas memórias, sabe-se lá o que pode acontecer com o mundo. - esclareceu Frank.
- Iremos num jatinho particular. Tudo de que preciso é da sua resposta. É sim ou não, Frank?
Frank respirou fundo para reduzir seu estresse.
- Podem contar comigo. - disse ele - Não é isso que você gostaria de ouvir?
- Mais ou menos. - disse Hoeckler plantando uma pequena dúvida em Frank. Um som de bipe no computador de Hoeckler quebrou o breve silêncio. Ele foi até sua mesa verificar - Vou ligar pro meu piloto urgente.
- O que foi que houve? - perguntou Frank.
- Vou pedir pra ele antecipar o voo. - disse Hoeckler digitando o número do piloto no celular - O ESP-47 acabou de se deslocar para uma rota que leva diretamente ao Novo México. Ele já sabe exatamente o caminho a seguir para a próxima célula.
***
O avião particular de médio porte comportava vários aparatos como paraquedas e armamentos. Frank segurava nos cintos junto aos agentes da fundação com os quais não estava muito a fim de se enturmar, mas num dado momento resolveu tentar jogar uma conversinha fora para quebrar o chato silêncio.
- Aí, tem mais um chicletinho desses? - perguntou Frank vendo um agente mascando chiclete.
- Era o último. - respondeu ele, logo fazendo uma bola que estourou rápido.
- Estão cientes de que o capitão designou vocês pra uma missão suicida, né? Não tem como vencer uma criatura vinda do espaço sideral que sem nenhum superpoder teve facilidade pra assassinar os espers.
- Se nossas armas não derem conta, vamos recuar. - disse um agente. - Simples assim.
- Simples assim, é? E como fica a missão? O conselheiro não foi alto e claro sobre não admitir falhas?
- Montgrow, ele compreende melhor do que ninguém o fato de estarmos em ampla desvantagem. - disse o agente Collins que Frank rapidamente reconheceu - É uma das missões que dependemos mais da sorte ao invés da provisão de recursos. Todos aqui estão com medo de perderem suas vidas hoje, não sou diferente e certamente você também não. Temos que ir em frente, conscientes de que perdas vão acontecer devido ao inimigo fugir do nosso controle. É a pior crise da fundação em décadas.
Frank pensou reflexivamente nas palavras de Collins acerca da certeza de sacrifícios ocorrerem.
- Se não temos as armas adequadas pra travar essa guerra, então só nos resta a fé de que cedo ou tarde as coisas virem ao nosso favor. - disse o detetive - A propósito, Collins, por que não avisou pro Hoeckler que eu estava na caverna das larvas antes de mandar bomba pra explodir tudo?
- Desculpa. Revelar pro conselheiro que deixamos você livre para entrar no buraco não só cancelaria a missão como também nos levaria a uma punição. Tivemos que decidir por sacrifica-lo.
- Ah tá. Até então pensei que ele tinha mudado de ideia sobre me querer de volta na ativa e resolveu chutar o pau da barraca e me tirar de cena permanentemente.
- Uma vez que o conselheiro Hoecler dá uma ordem ou ultimato, nunca se contradiz. - respondeu outro agente ao lado de Collins.
O jatinho pousara próximo à selva e os agentes saíram armados com metralhadoras de calibres potentes usando balas de metais especiais. Os homens trajados de preto se espalharam pela floresta em posição de tocaia para quando o ESP-47 estiver transitando por ali em direção ao templo. Frank e mais três agentes passaram pelo arco que representava a primeira entrada ao espaço semelhante a um pátio com piso quadriculado amarelo. O templo era arquitetonicamente inspirado na antiga Grécia. O primeiro a tentar entrar foi Frank, subindo os degraus da larga escada para cruzar a entrada definitiva para o interior.
Porém, o corpo do detetive foi barrado por uma "parede invisível". Ele insistiu mais vezes, inultimente.
- Caramba, parece que tem uma portão de aço invisível. - disse ele queixando-se de uma dorzinha no ombro esquerdo por uma das tentativas - É, eu sei, fui um idiota de fazer isso sabendo que não tem como entrar. E agora? O meu gêmeo do mal tá chegando e nem sabemos por onde começar.
- O conselheiro nos disse sobre haver alguma chave, não no sentido literal. - comentou um dos agentes.
- Eu sei, deve ser algum tipo de artefato ou recitamento que faça a barreira ceder. - disse Frank olhando ao seu redor minuciosamente - Tem que existir algo... - continuou olhando para cada parte.
- Além disso, o conselheiro também falou que espers como o Atticus também poderiam ultrapassar. - disse o agente que falara antes - Acontece que... eu tô quebrando um protocolo contando isso à você...
- Não tá quebrando coisa nenhuma, desembucha logo. - disse Frank, ouriçado para escuta-lo.
- Uma esper com olhos iguais aos do esper-X já entrou nesse templo. Não sei de mais nada.
- Ou tá com o rabo muito preso pra falar. Mas não tem nada não, vou descobrir o final dessa história uma hora ou outra. - disse Frank logo retomando sua observação para detectar algo que sirva de pista.
Olhado para o piso, acabou vendo um quadrado que se diferenciava visivelmente dos demais. Aproximou-se e agachou-se visualizando as inscrições estranhas naquela parte do piso.
- O que significam esses caracteres aqui? Não é de nenhum dialeto morto... que seja desse mundo.
Sacando seu celular, o detetive fotografou as inscrições e enviara para o celular de Carrie.
- Só esperar minha assistente retornar pra ver o que ela tem a dizer sobre essas inscrições esquisitas aí.
- É desnecessário mandar pra ela. - falou o agente que até aquele momento não dado um pio - Manda a imagem pra esse número. - disse jogando o celular para Frank - É de um dos nossos especialistas que programa nosso supercomputador que é muito mais avançado e tem uma performance mais rápida.
- Podia ter falado antes, né? - disse Frank, enviando para o especialista analisar os códigos - Vou ter que me desculpar com a Carrie por tornar ela inútil. Espero que decifrem logo.
***
Os agentes da ESP permaneciam posicionados entre arbustos e árvores na esperança de estarem "camuflados" e ocultados o bastante para que o ESP-47 não os notasse logo de cara. Alguns mudavam de local avançando para áreas onde a floresta terminava e dava caminho direto para o templo. Um dos agentes não tivera sorte de passar despercebido. Alguém vinha em passos sorrateiros e cuidadosamente silenciosos e lentos. O agente foi pego por trás sendo arrancado de onde estava dando um grito que rapidamente foi cortado. Outros mais próximos escutaram muito bem, mas estavam em dúvida.
Enquanto isso, Frank, andando de um lado para o outro, ainda aguardava o retorno dos especialistas em decifração iconográfica e criptográfica. Os dois agentes demonstravam mais paciência.
- É talvez o supercomputador mais "super" da face da Terra e tá demorando mais de 10 minutos...
- Seja paciente, até porque as inscrições que estão gravadas aí são muito extraordinárias. - disse um dos agentes - Não é numa fração de segundos que ele vai decodificar uma coisa que pode guardar uma origem extradimensional.
O celular de Frank vibrara indicando ser uma nova mensagem.
- Tá aqui, já me retornaram. Significa: "O fim de um antigo mundo desencadeia o início de um novo". Ele ainda disse que pelo fato dos códigos serem muito específicos, o computador atingiu sua capacidade máxima para chegar à tradução mais fiel possível, ou seja, pode não ser totalmente correta.
- Não custa tentar. - disse um agente.
- Pelo menos você não subestimou o poder da nossa tecnologia.
- E vocês acham que eu teria outra opção se a Carrie estivesse ocupada? Na verdade foi um erro pedir pra ela fazer pesquisa de uma coisa que parece aleatória e complicada demais, ia gastar o tempo dela.
Tiros foram ouvidos ao longe. Os agentes ergueram suas metralhadoras olhando para a floresta.
- Montgrow, é melhor se apressar, a gente vai dar cobertura pro pessoal. - disse um deles.
- Pelo que tá parecendo o seu gêmeo do mal chegou arregaçando as mangas. - falou o outro.
- Vão lá, eu fico aqui tentando descobrir um jeito de usar os códigos decifrados pra entrar no templo.
- Não basta apenas dizer em voz alta? - perguntou o agente que falou antes.
Pensando nisso, embora desconfiado da simplicidade do método, Frank olhou para a entrada do templo que não possuía portas e direcionou-se subindo os poucos largos degraus da escada de pedra meio amarelada. Parou exatamente no ponto onde havia sido impedido e levou sua mão direita para a barreira.
Os dedos de Frank não bateram em nada e a mão atravessou inteira para muito além.
- Acho que deu certo. Sem parede invisível. - disse Frank olhando para a dupla por cima do ombro esquerdo - Não se preocupem comigo, podem ir e... boa sorte.
- À você também. - disse um deles. Os dois agentes correram rumo à floresta, as metralhadoras prontas.
Frank voltou sua atenção ao interior do templo que parecia vazio apesar da quase escuridão lá dentro.
- Bem, eu tinha falado meio que em voz alta... - disse Frank dando passos adiante - Hora da verdade.
Ao dar o terceiro passo, a percepção do detetive foi absurdamente desafiada. Frank, num piscar de olhos, via-se num mundo diferente parecendo um cemitério a céu aberto sob uma atmosfera fria. Um céu parcialmente anoitecido e nublado se destacava e correspondia ao clima tenebroso e gélido.
- Se eu der meia-volta, eu saio daqui... daí finjo que não aconteceu nada e tento de novo. - disse Frank.
- Eu sugeriria que ficasse. - disse um homem, vindo logo atrás de Frank, trajando uma túnica marrom com um capuz que cobria parte do seu rosto. Usava um cordão de ouro com um medalhão dourado - Você é o primeiro visitante sem estrita demanda a atravessar a barreira.
- Ganho um prêmio por isso? - indagou Frank.
- O prêmio seria... - disse um outro homem trajando uma túnica preta e usando uma medalhão prateado - ... a sua sobrevivência.
- Calma aí, não tô gostando do rumo que essa conversa quer tomar. Então sou um intruso pra vocês, né? Vou ser castigado por não atender aos requisitos? Eu só quero apenas uma coisa valiosa que guardam no templo. É difícil explicar bem do que se trata, mas... o destino do mundo tá em jogo se ela cair nas mãos de alguém que se enquadra nas suas demandas, alguém poderoso, capaz de barbaridades horríveis. Peço por favor, encarecidamente, que me entreguem esse objeto que ficou anos pegando poeira, juro que vou protege-lo de ser usado por quem quer que esteja disposto a um propósito do mal.
- Não temos obrigatoriedade de abdicarmos de um artefato que abriga tamanho poder. - disse um outro homem, este trajando uma túnica cinzenta e usando uma medalhão cobre - Você não tem mérito.
- Como posso ser merecedor se não confiam na minha índole? Eu sei que esse objeto acabou com suas vidas, por causa dele estão aqui como espíritos vivendo nesse mundo fora do plano físico...
- Espere. - disse o bruxo da túnica marrom - Tem uma noção prévia do que ocasionou nossa morte?
- Tenho informações um pouco rasas, mas... Acreditem em mim, por favor. É uma questão de vida ou morte.
- A questão de vida ou morte aqui se baseia na sua ousadia em entrar no nosso santuário. - acusou o bruxo de túnica preta - Nada pode absolve-lo. Cremos piamente que os inimigos de Keter tentarão frustrar seus planos e desígnios como falsos heróis. - disse ele, andando em volta de Frank.
- Keter? - indagou Frank - Deram um nome pro que está preso naquele casulo?
- Consideramos algo similar a uma divindade. - disse o bruxo de túnica cinza - Nos conferiu a visão de um futuro próspero e impecável. Se quer impedi-lo, terá que passar por nós. Mas não irá. O destino foi traçado. Quando os mundos convergirem suas energias, nada no universo será o mesmo em diante.
- Os planetas se alinharão a uma data próxima. - disse o bruxo da túnica marrom - A partir disso, um novo mundo nascerá.
Frank balançava a cabeça em negação.
- Isso é mentira. O que chamam de deus, Keter ou sei lá mais o quê... mentiu pra vocês descaradamente! Se tô alertando vocês que alguém tem um interesse maligno nisso, é porque obviamente quero evitar um desastre. Será que não fui claro? Vocês três, entendam, por favor.
- Mesmo que tenha bons princípios... - disse o bruxo da túnica marrom.
- Mesmo que sinta o desejo de boa vontade... - falou o da túnica cinza.
- E mesmo que seus atos cooperem para o bem... - disse o da túnica negra.
- Isso não o dignifica conforme as regras invioláveis que estabelecemos. - disse os três em uníssono.
***
O ESP-47 jogava o corpo ensanguentado de um agente como um lixo na entrada externa do templo.
- Tomara que os abutres não esperem apodrecer. - disse ele, olhando o cadáver com infame desprezo.
Limpando suas mãos como quem termina um trabalho pesado. o falso Frank se dirgia à entrada do templo ignorante à restrição que o favorecia. Adentrou no interior da estrutura, mergulhando na semi-escuridão do local. Dobrou para um corredor cujo fim indicava uma sala com mais iluminação natural.
No centro havia uma pedra de formato quadrado com uma espécie de quebra-cabeça cujas peças eram quadrados desorganizados para a imagem que deveria ser formada no encaixe total. Sua sensibilidade extra-sensorial lhe dizia que aquele era o cofre onde a célula-matriz estava armazenada. Começou a dispor as peças para montar o quebra-cabeça numa curiosidade ilimitada sobre a imagem enigmática.
Enquanto isso, Frank seguia numa peleja desgastante para convencer os três bruxos de suas intenções.
- Se vocês pudessem sair desse mundo sombrio, já que são fantasmas... veriam que não tô mentindo. - disse Frank - Aliás, se saíssem agora, a prova cabal estaria bem na frente de vocês. Mas pelo visto são três cabeças duras. O pior cego é aquele não quer ver, então não custaria dar uma chance à mim. Estão sendo precipitados me julgando como um inimigo, sou o completo oposto do que vocês pensam.
- Então nos prove. - disse o bruxo da túnica cinza.
- Sei que existe uma pessoa que certa vez entrou no templo cumprindo um dos requisitos. É uma mulher, se não me engano. Tinha olhos de duas cores diferentes, uma série de poderes paranormais...
Os três bruxos entreolharam-se por alguns segundos. A alegação de Frank mudara drasticamente tudo.
- Se existe alguém a quem podemos dignificar em prol da salvaguarda do casulo... - disse o bruxo da túnica preta - ... não existem dúvidas de que seja ela. Estão de acordo? Ela morreu com um ideal nobre.
- Ela tá morta?! Quem assassinou ela? - questionou Frank, sentindo-se meio frustrado com a revelação.
- Um grupo de homens cruéis e predatórios com armas letais do mundo moderno. - disse o bruxo da túnica marrom - A pobre moça chamada Virginia não resistiu às feridas e morreu dentro do templo. A enterramos na floresta não muito distante. Pensamos em revivê-la, mas isso a deixaria indefesa.
- Essa Virginia foi perseguida por esses homens... - disse Frank imaginando quem seriam - Eles vestiam roupas pretas?
- Sim. - respondeu o da túnica cinza - Mesmo que Virginia tivesse jurado nunca utilizar seus poderes para ganho pessoal, eles a ameaçaram com a mesma desculpa sua de proteção ao casulo de Keter.
- Mas eu não sou nada como eles! Disso podem ter a mais absoluta certeza! - disse Frank categoricamente.
- Você jura protegê-la irrestritamente assim como o casulo? - perguntou o bruxo de túnica preta.
- Juro por tudo que é mais sagrado. Manter pessoas a salvo é parte do meu trabalho. - declarou Frank.
- Há mais uma coisa de que deva saber. - disse o bruxo de túnica cinza - Uma vez retirado o casulo de seu recipiente, o lacre que pusemos na entrada será definitivamente desfeito. Em nossa condição atual, a magia não tem um alcance para restituí-lo. Cometa um deslize que ponha a vida de Virginia em risco e nunca iremos perdoá-lo.
- Entendi. Eu protejo ela... ela protege o casulo... E eu me coloco em terceiro plano. É justo. - assumiu Frank mergulhado em alguns pensamentos tanto otimistas quanto pessimistas - Podem revivê-la?
***
No templo, o falso Frank sofria uma certa dificuldade para montar o quebra-cabeça que funcionava da seguinte forma: as peças quadradas precisavam ser movidas para vários cantos conforme à tentativa do jogador para completar a montagem. Aparentemente havia uma peça faltante, mas na verdade o quadrado vazio logicamente facilitaria a montagem que após completada deixaria um vazio em qualquer um dos vértices. O clone teve um acesso de fúria batendo seus punhos cerrados na estrutura. Mas respirou fundo e deu continuidade com menos pressa. Seu foco aumentou em contrapartida à ansiedade.
Tamanha imersão focada acelerou o processo de montagem.
- Finalmente. - disse ele, suspirando pela boca de cansaço, sensação que raramente o afetava.
A imagem mostrava uma pintura com vários círculos brancos de contornos azuis abaixo de um círculo maior, este sendo negro e contornado por um anel amarelo, basicamente remetendo a um eclipse solar.
A estrutura quadrada produziu um som e a parte de cima emergia, revelando o local de armazenamento da célula-matriz. O falso Frank passou a mão direita numa área oca e a socara destruindo de uma vez só. A célula-matriz estava ali, coberta de teias de aranha e uma espessa camada de poeira. Sorrindo vitorioso, o clone a pegara limpando-a com as mãos.
No entanto, uma estranha fumaça verde se alastrava pelo chão. O ESP-47 largou a célula de volta ao seu recipiente, voltando-se para a fumaça esverdeada que preencheu o chão. Um aroma familiar que lhe fez recair numa fraqueza instantânea ao ponto de cair de joelhos. Agentes da ESP vinham com metralhadoras apontadas e máscaras protetoras para cerca-lo.
- Deixem a célula onde está, não podemos toca-la sem o equipamento de manuseio. - disse um agente para os demais.
- Não... Não pode ser... - disse o clone de Frank caindo aos pés do agente - Mas eu sabia... que iriam apostar nesse truque sujo de novo. Quanto tempo acha que vai durar? - agarrou a perna esquerda dele.
O agente desferiu um forte chute no rosto do ESP-47 que a cada segundo sentia o gás inibidor de estamina o fragilizar mais.
- Não... Não... - resmungava o clone sendo carregado pelos braços e pelas pernas por quatro agentes - Miseráveis, me soltem! Não vão me pôr naquela cela! Não! - gritava ele, querendo debater-se - Não!!!
Frank estava de volta ao templo, porém perdido. Para sua estranheza, sentia muitas presenças.
- Olá... - disse uma voz feminina e tímida atrás dele. O detetive virou-se e tivera uma baita surpresa.
- Você deve ser... Virginia, certo? - perguntou ele, olhando aquela mulher de olhos heterocrômicos de cores verde e azul, cabelos loiros com uma franja e suja de terra de cima à baixo.
- Eu tô muito confusa. - disse ela, tensa - Em que ano estamos? Obviamente não é 1974.
- 2020. - respondeu Frank - Não fica assustada, eu vou te ajudar a se orientar, confia em mim...
- Olha, não sei se eu devo. Na verdade, nem sei se acordei num mundo real, eu... ressuscitei de repente.
- Imagino que você tenha tido um contato com os três bruxos que moravam nesse templo. Agradeça à eles.
- Agradecê-los? Eu devia continuar morta! Aqueles malditos ainda podem estar por aí caçando outros como eu! Por que? Por que eles tiveram que me trazer de volta? A minha missão aqui fracassou.
- Reviveram você pra que tivesse oportunidade de concluir essa missão. A hora é agora, vem comigo.
Repentinamente, um agente da ESP veio até eles encontrando-os após ouvirem suas vozes.
- Montgrow! - exclamou ele aproximando-se a passos rápidos - Sabia que era você. Quem é ela?
Virginia estremeceu ao ver o logotipo da fundação bordado na braçadeira do agente.
- Tenho uma pergunta melhor: Como é que você entrou aqui?
- Não faço ideia, sou da equipe de reforços, acabei de chegar. Todos os agentes que ficaram de tocaia pra impedir o ESP-47 foram mortos. - olhou para Virginia - E quem é ela? Não, espera um minuto...
A jovem mulher recuava, o medo estampado na sua face.
- Ela tem heterocromia... que nem o Esper-X. - constatou o agente que destravou sua metralhadora - Saia da frente, Montgrow. Ela é perigosa. Se quiser bancar o escudo humano dela, você também morre.
- Vambora! - disse Frank pegando pela mão esquerda e correndo. O agente atirou, os disparos pegando na parede após eles dobrarem para um corredor, e correu ao encalço deles. Frank e Virginia acessaram uma ampla sala sem saída onde havia uma rocha média e atrás dela se esconderam. O detetive pegou uma arma carregando com um pente novinho em folha - Não precisa desconfiar de mim só porque ele sabe meu nome. Aliás, aquele é meu sobrenome. Meu nome é Frank. - destravou a pistola.
- Não entendi nada do que ele falou. - disse Virginia - Esper-X? O que é isso? Ou melhor, quem é esse?
- História longa. Se sairmos dessa, você vai saber nos mínimos detalhes.
O agente entrara na sala procurando pelos dois.
- Que previsíveis vocês. - disse ele vendo a rocha - Saiam daí, não tem pra onde fugirem.
Ele disparou mais uma saraivada de balas no chão para intimida-los. Virginia tapou os ouvidos, apavorada. Frank mostrou-se à ele, usando a rocha como trincheira, atirando cinco vezes com sua pistola em contra-ataque. Os tiros atingiram o colete à prova de balas. Aproveitando que o agente estava absorvendo o impacto das balas, Frank agilmente correu até ele e logo pegara a metralhadora usando a coronha para dar um golpe no rosto que acertou direto no nariz. Virginia, num impulso de coragem, veio ajuda-lo, acertando um chute nas partes baixas do agente que o derrubou facilmente.
- Golpe baixo hein. Doeu até em mim. - disse Frank.
- Tenho habilidades muito maiores que essa, mas... prefiro me limitar só à minha força normal. Foi uma promessa.
- É, tô sabendo. Vamos antes que mais deles apareçam.
***
Os quatro agentes carregaram o ESP-47 para fora do templo como se fosse uma carga pesada.
- Depressa, senão os efeitos do gás... - disse um agente expressando cansaço - ... vão ser reduzidos.
- Tarde demais. - disse o falso Frank conseguindo soltar suas pernas e aplicar dois chutes certeiros e ágeis nos agentes que os pegavam. Em seguida soltara seus braços, caindo no chão, mas rapidamente levantando-se e desferindo golpes precisos nos pescoços dos agentes, cortando suas gargantas como movimentos de karatê. Os outros dois se aprontaram para atirar após recomporem-se, mas o clone os abateu pegando suas metralhadoras numa velocidade sobre-humana e virando-as para eles, mas ao invés de atirar as cravou nos corpos deles perfurando no tórax. Ambos caíram simultaneamente mortos.
Com as mãos sujas de sangue caminhou de volta ao templo ávido para se apropriar da célula sem que ninguém mais o impedisse. Mas exatamente na sala onde situava-se o recipiente da célula, Frank e Virginia chegavam, desacelerando ao observarem a estrutura de pedra quadrada. Virginia reagiu chocada.
- Eu nunca estive aqui, mas... nas visões que eu tinha sempre que eu sonhava eu me via nesse lugar resolvendo um tipo de jogo de quebra-cabeça. É aquele, mas parece que foi resolvido.
- E a célula tá bem ali dando sopa. - disse Frank, dando lentos passos à frente.
- Cuidado, não sabe que tipo de poder isso guarda. - avisou Virginia, temerosa - Acho que foi essa coisa que me deu poderes além da meu controle. Causei tantos estragos, matei pessoas... foi por isso que renunciei à esses poderes, pra me tornar um ser humano normal ou viver como um.
- É estranho demais. Como é possível quem montou o enigma simplesmente não pegar o prêmio?
O detetive levou suas mãos à célula, porém a mesma emitiu um brilho escarlate e realizou uma explosão de energia que atingiu Frank em cheio o fazendo voar contra a parede.
- Frank! - gritou Virginia, estupefata. Ela olhou de volta para a célula que tinha brilhos de energia passando por ela.
O detetive estava inconsciente e Virginia se agachou perto dele para verificar sua pulsação.
- Que bom, não morreu...
- Ainda não. - disse uma voz estranhamente conhecida atrás dela. Virou devagar para ver quem era e sentiu o coração querer saltar da boca. Uma figura idêntica à Frank, na aparência e nas vestes, estava de pé olhando-a com uma expressão austera e soberba. O falso Frank ergueu a mão esquerda dando uma bofetada forte em Virginia, tão forte que a fez desmaiar - Ele só tá vivo porque eu permito. Uma pena, Frank, você não assistir mais uma vitória minha completamente fraco, impotente e sem esperanças.
O clone se direcionou à célula pegando-a sem que ela soltasse sua energia para afasta-lo.
Após um tempinho, Frank despertou e logo se reergueu ao ver Virginia desacordada.
- Virginia, acorda. - disse ele, batendo de leve no rosto dela. Notou um machucado na maçã do rosto junto a uma mancha pequena de sangue. Olhou para a estrutura de pedra, não vendo mais a célula - É brincadeira... Aquele desgraçado... - Virginia estava acordando - Ei, olha pra mim, você tá bem?
- Ai, parece que levei um soco... - disse ela sendo ajudada por Frank a levantar - Mas foi apenas um tapa. - desviou o olhar tenso para encarar Frank - Você não é ele, né? Apareceu um cara exatamente igual à você e... me bateu, daí desmaiei. Como posso saber que você não é ele disfarçado pra me iludir?
- Você deu um chutão no saco daquele cara que nos perseguiu. - disse Frank - E aí? Convencida?
Virginia esboçou um sorriso tímido para o alívio do detetive.
A dupla saiu pela floresta, mas Frank parecia estranhamente indisposto a andar.
- Peraí, uma pausa. - disse ele, apoiando-se numa árvore e tocando num ponto mais acima do seu peito esquerdo que estava dolorido.
- O que foi? Tá se sentindo mal? - perguntou Virginia - A célula liberou uma energia muito intensa... Pode ser que...
Vários agentes da ESP vieram com suas amas apontadas para Frank e Virginia.
- Não, por favor, parem, não machuquem ele! É a mim que vocês querem.
- Virginia, não. - disse Frank, recomposto - Esses caras não vão encostar um dedo em você. Ouviram bem? Ela merece ser livre, ter uma chance de descobrir um mundo novo! Sendo assim, abaixem as armas!
- Montgrow, afaste-se ou vamos abrir fogo. É pior pra você se insistir. Pra ela talvez nem tanto... - disse um agente.
- Eu não vou usar meus poderes! - disse Virginia - Acreditem, pra mim não passam de uma maldição!
- Ouçam ela, por favor. - disse Frank, endossando-a - Ela não é uma doente mental como o Atticus.
- Então, nesse caso, a palavra final será do conselheiro Hoeckler. - disse o mesmo agente.
- OK, o Hoeckler bate o martelo. Mas tem que avisa-lo de que ela garantiu nunca mais usar poder nenhum.
- Torça pra que ele não decida pela contenção dela. - disse o agente pegando um celular.
***
Felizmente, Hoeckler optou pela liberdade de Virginia para que redescobrisse o mundo e construísse uma nova vida. No fim da tarde, a esper e o detetive caminhavam por uma calçada, ainda no Novo México, até um ponto de ônibus no qual esperaria o transporte que a levaria de volta à Utah, sua terra natal.
- Bem, é aqui que dizemos adeus. - disse ela parando - É impressionante como tudo... mudou.
- Fica tranquila, você vai se adaptar, vai se encaixar... e vai recomeçar, principalmente. - disse Frank que segurava uma bolsa de viagem com roupas e suprimentos - Toma aqui, cortesia da fundação.
- Quem diria. A organização que queria minha cabeça me fornecendo condições de vida. O mundo evoluiu. Tenho que acompanhar esse novo ritmo, a mudança de um modo geral... absolutamente tudo.
- Evoluiu, mas nem tanto assim. - disse Frank dando de ombros - Os carros ainda tem rodas.
Virginia deu uma risadinha simpática colocando a alça da bolsa no seu ombro esquerdo.
- Ah, esqueci disso... - Frank tirou um celular novo do bolso e entregando à ela - Se quiser um tutorial básico, olha bem: É só você tocar na tela que todas as funções serão executadas, basta passar o dedo.
- Nossa, que prático. É incrível. - disse ela, surpreendida - Talvez eu venha a gostar do futuro... digo, o meu novo presente. Obrigada, Frank. O mínimo que eu devia fazer era retribuir com alguma coisa.
A esper retirou algo que escondia na blusa rosa.
- Que negócio é esse? - perguntou ele, analisando.
- O pedaço de um triângulo em que os bruxos talharam inscrições de um feitiço que seria crucial pra profecia.
- A profecia do alinhamento dos planetas?
- Não, disseram que haverá um arrebatamento. Falaram que o salvador que destravasse a célula vermelha encontraria as partes desse triângulo que estão espalhadas pelo país para cumprir a profecia. Eu vou continuar na minha busca pelas outras duas que faltam. Me dá pena deles, morreram tão ignorantes.
- A coisa dentro da cela vendeu a imagem do meu clone como um messias... - disse Frank, compreendendo - Ah, mas ele não põe as mãos nos outros pedaços disso aqui nem que a vaca tussa.
O ônibus de Virginia se aproximava e estacionou na parada. Virginia subira no ônibus, mas virou-se para acenar ao detetive que deu um joinha e uma piscadela. As portas do ônibus fecharam e o mesmo seguiu estrada. Frank ficou a estudar o pedaço superior do triângulo elaborando mil e uma teorias.
À noite, já em sua casa, após o banho, Frank se secava, mas subitamente uma dor lancinante veio. Foi ao espelho e no seu reflexo via uma cicatriz no mesmo ponto um pouco acima do peito esquerdo onde doera quando fugia com Virginia na floresta. Um temor assaltou seu bem-estar emocional ao ver claramente a cicatriz vertical brilhando em vermelho.
-x-
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: http://finnews.procoders.com.br/analistas-apontam-estrelas-cadentes-no-mercado-que-os-fundos-estao-vendendo/
Comentários
Postar um comentário
Críticas? Elogios? Sugestões? Comente! Seu feedback é sempre bem-vindo, desde que tenha relação com a postagem e não possua ofensas, spams ou links que redirecionem a sites pornográficos. Construtividade é fundamental.