Frank - O Caçador #86: "Destino Incerto"


A costa litorânea de Danverous City estava naquela noite sendo castigada por uma forte tormenta com incessantes raios e relâmpagos que iluminavam o mar revolto e turbulento. As águas sacudiam um barco pesqueiro que comportava 10 homens que travavam uma luta árdua pela sobrevivência, jogando fora objetos pesados para que pudessem seguir em frente com mais ritmo até o cais e atracar em segurança. O capitão Sandberg era um homem de meia-idade com espírito bravo que auxiliava a tripulação, mas que começou a notar algo contrariador ao sair para a borda da embarcação.

Ele olhou fixamente para o mar de tons preto-azulado que brilhava com os relâmpagos e ali pôde detectar o real problema. Voltou para seus homens tomando cuidado para não escorregar no chão molhado do convés.

- Escutem! - gritou ele o mais alto, mas mal sobrepondo-se ao barulho da chuva que abafava - Não é o mar! 

- O quê, capitão? - perguntou um dos tripulantes, um homem negro e forte. 

- A agitação do mar não é a única coisa que balança o navio! 

Os demais se ouriçaram escutando bem as palavras com a voz grave e retumbante de Sandberg. 

- Há algo abaixo de nós que está tentando nos afundar! 

- Deve ser uma baleia! - especulou outro. 

- Não! Eu vi com meus próprios olhos! É uma serpente! 

Os tripulantes se alvoroçaram espantados com a declaração convicta. Sandberg entrou no barco para chamar a guarda costeira a fim de mandarem uma equipe de resgate. O barco sofreu um baque forte por baixo que o inclinou para o lado. Sandberg correu para fora ficando mais próximo da proa enquanto seu grupo retirava a água que entrava inundando a parte interna. Ele apertou os olhos para ver melhor uma silhueta comprida na nebulosidade. Esbugalhou os olhos. 

A figura sombria da serpente marinha gigantesca se esclarecia. Um relâmpago clareou-a. Parecia um dragão marinho que cuspiria fogo pela sua bocarra alongada e encarava Sandberg com seus brancos olhos. O capitão gritou paralisado de terror enquanto a serpente avançava para abocanha-lo exibindo fileiras de dentes pontudos com uma saliva pegajosa. 

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CAPÍTULO 86: DESTINO INCERTO

Numa manhã ensolarada e amena, a escola primária de Danverous City celebrava o tão aguardado Dia da Cápsula do Tempo com vários crianças em torno do ponto onde o recipiente estava sendo desenterrado. Após uma salva de palmas ao diretor que segurava a cápsula em mãos e a mostrava para os alunos, o recipiente foi aberto e muitas crianças se aproximaram para pega-los. Nathan estava próximo observando o evento e avistou um garoto da 2ª série vindo com um envelope de carta. Anes que ele rasgasse para abri-lo, o caçador direcionou-se até ele que ergueu os olhos um tanto desconfiado.

- Oi, amigo, será que podemos fazer uma troca? - perguntou Nathan com uma face gentil. 

- O que você quer? - indagou o menino - Isso aqui? 

- Essa carta é muito importante, esperei lê-la há muito tempo. - disse Nathan que logo mostrou sua recompensa ao garoto para fazê-lo ceder ao acordo - Te dou 20 dólares por ela. Que tal?

O garoto focou-se na nota e deu um sorriso leve de contentamento. Nathan afastava-se do movimentado evento rasgando o envelope. Retirou a carta de papel amarelado que estava dobrada ao meio. Foi lendo com ansiedade, atentamente.

- Você sabe como fazer uma criança sorrir, hein, malandrinho. - disse Frank aproximando-se dele. Nathan fechara a cara e o ignorou seguindo a leitura - Eu teria feito a mesma oferta. Mas o que essa carta tem de tão especial? 

- Não é da sua conta. - disparou Nathan friamente. Frank revirou os olhos, procurando ter paciência - Você jogou a toalha, lembra? Agora que me achou, vai fazer discursinho emotivo pra tocar meu coração. Pelo menos admite que foi um imbecil.

- Foi pra isso mesmo que eu vim. - disse Frank, sério - Dei o número da placa do seu carro pra Carrie conferir no rastreamento. E aqui estou, arrependido e amargurado, até pensei que você tinha picado a mula de volta pro futuro.

Nathan permanecia silencioso lendo os últimos parágrafos. Boquiabriu-se um pouco.

- Me desculpa pela bronca das brabas, eu perdi a cabeça. Desde o instante que acolhi o Axel, a proteção dele foi uma prioridade, tanto que não o deixava sair de casa nem pra olhar a caixa do correio.

- O Axel era minha responsabilidade e eu falhei. - disse Nathan finalmente realizando um contato visual com Frank - O meu problema com você não tem nada a ver com o Axel. Foi você ter dado a entender que desistiu, não me deixou falar e virou as costas como se nada mais importasse. Sim, eu pensei muito bem no que me falou. Aliás, no que me mandou fazer. Mas não, eu desobedeci, eu ergui a cabeça, parei de chorar e reafirmei minha missão. Não seria covarde de me dar por vencido.

- Olha, esquece, aquilo não foi bem uma ordem. Eu tava esquentado e você também. Na verdade, eu vim pra me desculpar, mas também pra te dizer uma boa notícia de bônus: O Axel fugiu do Nero. Voltou pra casa são e salvo sozinho.

O jovem caçador virou o rosto para o pai parecendo bastante tomado de surpresa. 

- Nossa... Nessa você me pegou desprevenido. Como ele escapou?

- Quando você passar lá, ele te conta os detalhes. Mas pra adiantar, o Nero não sabe lhufas do feitiço. 

- Ufa, imaginava que ele seria torturado pra afetar o medo que ele sente da maldição de gárgula e sob tanta pressão acabar dando com a língua nos dentes. O que facilitou tanto pra ele escapar vivo?

- Segundo ele, uma passagem secreta. Enfim, o que tem nessa carta? Quem escreveu?

- John Reese. - disse Nathan que gerou uma expressão de incredulidade em Frank - Não tô zoando. 

- Até onde eu sabia, John Reese era um viajante do tempo que fez sucesso na internet no começo do século dando umas previsões, não passava de uma lenda. 

- Ele não era um simples perfil de fórum de internet. - afirmou Nathan - Muito acima disso, foi meu mentor que me ensinou a base do que é ser caçador quando eu tinha 14 anos, em 2036.

- Peraí, minha memória tá tirando as teias de aranha... 2036 é exatamente o ano sobre o qual ele dizia ter vindo. - disse Frank, a mão direita no queixo - Caramba, você teve o viajante do tempo mais lendário do mundo como mestre. 

- Ele voltou no tempo usando uma areia mágica... 

- As areias do tempo. - disse Frank - Pois é, eu já experimentei, mas por acidente. Por que ele não usou o Expresso Temporal?

- Ele tinha a areia, era uma opção. A cápsula foi enterrada em 1972, ano em que ele voltou, escreveu a carta e entregou pra uma criança. 

- Ano do meu nascimento. Por que não voltar e entregar a carta diretamente à mim? 

- Ele julgou que estaria mais segura na cápsula, talvez as areias não o mandassem pra uma época recente demais. 

- Bem, ela me mandou pro Velho Oeste. 

- Pois é, provavelmente ele usou umas duas vezes, dependendo da sorte, chegar na época certa. No meio tempo até o dia de enterrar a cápsula ele escreveu a carta destinada à mim. Eu era novo demais, inexperiente demais, por isso não me avisou de antemão sobre... a cabeça da Medusa.

Frank o fitou com atenção. Era justo o item que Axel necessitava para que Nero cumprisse sua palavra.

- O Axel fez um acordo com o Nero pra entregar a cabeça dessa górgona confiando na promessa do desgraçado em não possuí-lo mais.

- Não, o Axel não vai entregar a cabeça de bandeja pra um livramento. Tô bolando um plano arriscado...

- Uma coisa que não entendi: Como o John sabia que a cápsula seria desenterrada justo no dia em que você está aqui ainda em 2022?

- Eu podia ser um aprendiz, mas peguei uns macetes avançados. John me falou do Expresso Temporal antes de partir pra nunca mais voltar. Disse que quando eu tivesse experiência suficiente, poderia embarcar numa viagem ao passado dois meses antes de uma cápsula do tempo ser desenterrada, ele não entrou em detalhes. Tudo o que ele escreveu aqui tô sabendo apenas agora. 

- E o que mais tem aí? Fala alguma informação valiosa sobre a Medusa?

- A cabeça dela tá preservada num local abaixo da terra. Os gregos que cultuavam as górgonas vieram pra esse território esconder a cabeça da Medusa, a mais reverenciada, ou seja, a América não foi descoberta pelos espanhóis.

- Ótimo, vamos até esse lugar e surrupiar essa cabeça pra gente ir bolando nossa estratégia. 

- Só tem um detalhe: A cabeça é guardada por um monstro chamado Basilisco. Uma serpente monstruosa que os gregos trouxeram para proteger a tão preciosa cabeça. 

- Por que não esconderam na Grécia mesmo? - indagou Frank franzindo o cenho. 

- Vai saber, eles estavam com tanto medo que o próprio país deles não era o local mais seguro. 

- Então... Estamos reconciliados? 

- Tudo bem, águas passadas. - disse Nathan, mais confiante - Bem-vindo de volta ao jogo. 

Frank dera uma risadinha e saiu com o filho colocando sua mão no ombro direito dele. 

                                                                         ***

Sozinho em casa, Axel bebia uma cerveja direto da garrafa indo até a sala pretendendo assistir TV, porém a campainha tocou lhe despertando atenção e curiosidade sobre quem visitaria Frank quando o detetive mal recebe pessoas frequentemente. Deixou a garrafa na mesinha do telefone fixo perto da poltrona e fora atender. Abrira a porta e reagira um tanto surpreso.

- O-olá... Eu posso ajuda-la? - indagou ele, nervoso. Lucy tirara um tempinho para uma visita à Frank.

A surpresa de Axel não comparava-se à dela que se mostrou mais escancarada. "Está vivo?!", pensou ela rememorando sua antiga paixão de quando aportou no vilarejo junto às suas irmãs. 

- Algum problema? - perguntou Axel - Parece assustada... Quem é você? 

Axel lembrou-se dela, mas não a reconheceu diretamente como Esteno, a górgona para a qual jurou perdidamente apaixonou-se. A memória mais vívida daquele rosto remetia à noite em que viu Frank na companhia dela no sofá assistindo a um filme e os espionou na escada. Mas logo lembrou que vagamente sentiu algo familiar.

- Me chamo Lucy, sou... uma amiga do Frank. Ele já saiu? 

- Sim, faz um tempo. - disse Axel olhando-a meio retraído - Se quiser deixar recado... 

- Com licença. - disse Lucy entrando rapidamente. Axel não tirou os olhos dela fechando a porta - Hoje é minha folga, nunca soube exatamente a que horas o Frank saía. Que pena ter vindo tarde. Iríamos conversar algo em particular.

- O que você exatamente deseja falar com ele? Não querendo ser intrometido, mas... 

- Sim, tudo bem, entendo. Você é o amigo que mora de favor com ele. Eu lembrei só agora, mas do seu nome esqueci.

- É Axel. Prazer, Lucy. O Frank tem sido meu porto seguro desde que resolveu me adotar. 

Lucy soltou uma risada leve de cabeça baixa. 

- Pra isso que servem os amigos, estender a mão pra nos tirar da areia movediça. 

- No meu caso tava mais pra uma fossa cheia de excremento. - disse Axel, bem-humorado, novamente arrancando um risinho da investigadora.

- Conhece o Nathan? - perguntou Lucy - Outro amigo do Frank... - evitou mencionar o fato do jovem caçador ser filho de Frank. 

- Sim, ele dá um pulo aqui quase todo dia. 

- Uma vez investigamos um caso onde homens de grande porte encapuzados andaram causando problemas e sendo avistados por diversas pessoas. Antes de ontem descobri que eles voltaram. Tive a chance de segui-los, parecia que um deles carregava alguém... Foram pra uma cabana, mas entraram num abrigo parecido com um alçapão. Por via das dúvidas, não segui adiante. Dois meses desse caso e não faço ideia de com o quê estou lidando. Mas de uma coisa tenho certeza: Não são humanos. 

- Você é uma caçadora? - questionou Axel - Investiga casos paranormais de monstros? 

- Vez ou outra me deparo com alguma coisa fora do comum. 

- Lucy, o que tenho pra te falar é o seguinte: A pessoa que esses caras levavam... era eu. 

- O quê? Ma-mas... 

- É, fui sequestrado por aquelas duas rochas humanas. Eles são gárgulas, o Frank também sabe deles.

- O Frank... é chegado a esse tipo de investigação? Um caçador de fantasmas e monstros?

- É a especialidade dele, ele lida com qualquer espécie de criaturas que dão pesadelos. Vocês já foram parceiros nessas caçadas?

Lucy estava tão carregada de perplexidade que as palavras se entalaram na garganta por um instante.

- Não, mas... compartilhamos algumas histórias envolvendo monstros. - disse ela que internamente elevava sua mágoa com o detetive em vista do segredo, já o considerando, àquela altura, seu ex-namorado.

                                                                              ***

Departamento Policial de Danverous City

- Negativo. - disse Giuseppe contra o pedido de Frank para que o isentasse dos serviços naquela dia a fim de ajudar Nathan a pegar a cabeça de Medusa bem como enfrentando o Basilisco. O diretor levantou-se para encara-lo.

- Por favor, é muito mais que um caso trivial da minha alçada. - disse Frank - Vou ter que ajoelhar e implorar?

- A menos que se aprofunde mais nas informações e justifique a urgência dessa missão, eu o libero. - destacou Giuseppe de modo severo - E eu que pensava que tínhamos superado as divergências. Nunca vamos terminar essa conversa?

- Eu não vou listar as diferenças entre você e o Ernest. Mas pra ser honesto, ele tinha cabeça mais aberta pra isso. O senhor não, infelizmente.

- Como eu não tenho? Por que se esforça tanto em solapar a verdade pra mim, Frank? 

- Eu... ainda tô aprendendo a confiar no senhor. Com o Ernest foi barra também, mas o tempo me ajudou a ficar mais confortável. 

- Eu assumi há um ano - rebateu Giuseppe categórico. 

- Com o Ernest demoraram dois anos. Um processo mais vagaroso que trânsito engarrafado. Além disso, nós simplesmente ficamos mais próximos, o que... não tá acontecendo entre nós dois.

Carrie interrompia a conversa pondo sua cabeça para dentro da sala. 

- Desculpem... Estava aberta... Ahn... Frank, pode vir aqui um instantinho? 

- Espera aí, eu vou já, só me deixa... 

- Está liberado, Frank. - disse Giuseppe - Essa é a primeira e última concessão que lhe dou. Resolva seja lá o que estiver acontecendo de tão sério por baixo dos panos. Afinal, é tão grave assim?

- É a cidade, diretor. A cidade tá correndo um risco de calamidade sem precedentes. - disse Frank não dando nenhuma pista.

- Vá. - disse Giuseppe assentindo - Não tenho razões pra duvidar da proporção alarmante disso se você, tão vocacionado nesse trabalho hercúleo, está me dizendo com tanta seriedade.

- Obrigado. - disse Frank apertando a mão dele. 

O detetive acompanhou Carrie até a sala da assistente para discutirem algo descoberto por ela.

- O que você tem pra me mostrar aí? - perguntou Frank vendo Carrie digitar velozmente olhando para a tela. 

- Soube do barco de pescadores que naufragou ontem à noite? Nem sei porque pergunto, você cancelou a assinatura que te fiz da Gazeta Danverous.

- É, mas pude saber graças ao noticiário na TV. Um sobrevivente, membro da tripulação, foi levado pra tratamento psiquiátrico depois de alegar que viu um monstro marinho semelhante a uma cobra gigante devorar o capitão. 

- Essa cobra marinha não é o único monstro tamanho-família que entrou no pedaço. - disse Carrie acessando um vídeo - Vem cá, essa gravação de um co-piloto de avião tá viralizando na internet toda. 

Frank colocou-se ao lado dela para assistir ao vídeo de quase um minuto. Carrie deu o play e a filmagem focava-se no céu noturno. Entre as nuvens densas e altas, viu-se a figura de um pássaro colossal voando a uma curta distância da aeronave. 

- As asas dessa ave bloquearam a luz da lua completamente. - disse Carrie, tensa.

- Behemoth... É isso, as três bestas bíblicas. O despertar do Behemoth atraiu as outras. A serpente marinha é o Leviatã e esse pássaro é o Ziz. E se o Nero estiver planejando controlar esses titãs da pré-história? Tá bem previsível, né?

- No futuro do Nathan isso já aconteceu, talvez. 

O celular de Frank tocara e era Nathan na chamada. O detetive atendeu prontamente.

- Fala aí, Nathan. O quê? O Axel? - fez uma pausa - Tudo bem, pode ir sozinho. Vou ver o que ele tem a dizer. Falou. - desligara - Nathan elaborou um plano pra tapear o Nero com a cabeça da Medusa.

- Aonde ele está? 

- Indo até o local onde a cabeça foi guardada. O Axel quer me contar a cilada que eles inventaram. A gente se vê.

- Boa sorte pro Nathan. - disse Carrie, no fundo bastante preocupada com o rumo dos esforços para impedir a concretização dos anseios nefastos e tirânicos de Nero.

                                                                                 ***

A caminhonete de Nathan balançava percorrendo o solo daquela floresta na qual se localizava a oculta passagem em direção ao covil da criatura carnívora que resguardava a cabeça de Medusa. Nathan desceu do veículo com uma pá e um medidor EMF.

Usando o dispositivo captador de atividade paranormal como seu guia, o filho de Frank seguiu um percurso que o levaria ao ponto exato de onde entraria. O aparelho emitiu leitura máxima, os tracinhos vermelhos no limite do visor. 

Nathan olhou para o ponto e agachou-se confirmando através do som que o aparelho produzia. 

- Bem, hora de cavar. - disse ele pronto para remover a terra que cobria a passagem ao local no subsolo.

Enquanto isso, Frank voltava para casa, ansioso para saber detalhes do plano organizado. 

- Axel, é bom que seja uma ideia genial pra baixar a bola do Nero. - disse ele entrando e fechando a porta rapidamente. 

- Na verdade, fui eu quem sugeri. - disse Axel que o estava o aguardando de pé na sala. Se deteve para comentar a visita inesperada de Lucy - O Nathan tem a estratégia dele e eu tenho a minha.

- Mas qual é a do Nathan? Pedi pra ser suspendido do trabalho por hoje pra ajuda-lo a pegar a cabeça da Medusa. Ele passou por aqui, depois me ligou falando que tinham pensado em algo pra desmantelar com a loucura do Nero envolvendo a cabeça da Medusa. Agora não dá mais pra fazer o diretor revogar minha suspensão. 

- Por que foi ao DPDC ao invés de ligar e pedir atestado? 

- Pois é, a força do hábito cegou minha inteligência. - disse Frank, arrependido. 

- Nathan queria que eu considerasse a ideia dele como a única saída, mas não é. Tive um lampejo refletindo sobre o que o Nero me contou dos poderes que ele tem. Eu te falei que ele foi picado por uma das cobras que saíram da Esteno.

- Sim, mas não respondeu minha pergunta. Que plano o Nathan elaborou sobre a cabeça da Medusa?

- Usa-la pro feitiço que quebra a maldição, mas matamos Euríale sem saber nada. 

- Então resta a outra górgona. - disse Frank, ciente de que aquilo poderia incomodar o hóspede. 

- Não, escuta a minha ideia. A cabeça de górgona é dispensável. Baseado no que aconteceu com o Nero, eu posso me colocar em pé de igualdade com ele. Quem sabe, até supera-lo. 

- Em outras palavras... - disse Frank estreitando os olhos o que por si só indicava reprovação - ... você quer que uma cobra de górgona te pique na esperança de que consiga os mesmos poderes do Nero. É maluquice, Axel. Ou pior, suicídio.

- Você tem uma garrafa de vinho de serpente guardada, não tem? Faz o favor de pega-la e... soltar a cobra. Nero e eu fomos vítimas da mesma maldição. A diferença é que a maldição em mim tá adormecida e latente. Enquanto eu mantiver minha humanidade, o veneno da cobra pode ser neutro e no decorrer do tempo eu posso ganhar as mesmas habilidades, como a possessão à distância. Nero despertou esses poderes depois que a maldição o atingiu. É como se o corpo fosse o motor e a maldição a alavanca. De qualquer forma, eu vou ter que me tornar gárgula novamente pra combate-lo emparelhado. 

Frank pensava seriamente naquele cenário hipotético. Um teste com a serpente de Esteno valeria o risco?

- O que me diz, Frank? Quem não arrisca não petisca. Eu não conhecia essa expressão no meu tempo, vi num filme. 

- Beleza. - disse Frank, decidindo-se - Podemos testar isso. Mas a questão é: Tá pronto pras consequências se houverem?

- Pronto de corpo, mente e espírito. - disse Axel, a postura segura e firme. O detetive o olhou sério por uns segundos e logo em seguida foi à cozinha abrir a dispensa para pegar a garrafa que surrupiou do bar de Morgan após a aventura onírica ao passado de quando as três irmãs górgonas passaram uma temporada no vilarejo extinto do antigo território que ainda não fora nomeado de Danverous City. Frank trazia a garrafa com a bebida alaranjada e a serpente submersa nela.

O detetive retirara o telefone fixo da mesinha e quebrara a garrafa segurando-a pelo gargalo. A serpente foi agilmente apanhada por Frank que a jogou em Axel sentado na poltrona. O animal peçonhento de pele bege e manchas pretas rastejava pelo corpo de Axel que não tremia nem suava de tensão. Frank esperou em claro nervosismo a cobra dar seu bote. A serpente subiu ao antebraço esquerdo de Axel e não tardou em cravar suas presas venenosas que fechou os olhos suportando a dor da picada. Após injetar seu veneno, a cobra removeu os dentes e seguiu rastejando.

- Frank, tira ela... - disse Axel que apresentava sinais de suor frio e respiração difícil. O detetive a pegou cuidadosamente e a largou no chão, por fim dando um forte pisão na cabeça dela com o pé direito. Porém, ao voltar-se à Axel, desesperou-se.

- Essa não, não, não! - disse Frank vendo que Axel convulsionava intensamente e suando bastante - Axel! 

Não sabendo o que fazer, Frank esperou, atordoado, que a convulsão cessasse. A reação parou, mas Axel ficara desacordado, felizmente ainda vivo. Porém, o veneno da serpente estaria agindo silenciosamente o matando aos poucos.

- Axel, fala comigo. - disse Frank dando batidinhas no rosto - Eu bem que devia ter colocado juízo nessa tua cabeça oca em vez de concordar com essa ideia desmiolada! - pôs as mãos na cabeça em aflição - E agora? 

Havia apenas uma solução imaginável. Frank pensou nela e resolveu apostar que ela seria viável. 

- Adrael, dá uma passada aqui, por favor. - pediu ele com os olhos fechados - Não vai te custar energia. É num segundo, aliás, menos que isso... 

- Frank, estou aqui. - disse o anjo bem no meio da sala. Frank reabriu um olho e depois o outro, vendo-o na sua frente.

- Ah, finalmente você atende uma prece minha. - disse Frank - Quando eu tava debaixo da terra, sedento por um resgate, eu chamei por você, rezei, orei... e nada de você ouvir. 

- Estava ocupado com a ministração aos pequenos. - disse Adrael - Eu fui promovido a ensina-los. Me desculpe.

- Você dá aulas pros anjinhos padawans, que legal, não sabia. Enfim, nesse momento tô passando por um aperto com meu amigo aqui, o Axel. Foi picado por uma cobra. Será que você pode cura-lo ou seu poder é restrito a feridas? 

- Vejamos. - disse Adrael aproximando-se. O tocara e examinou-o sobrenaturalmente - A ação desse veneno é lenta, mas... irá consumi-lo em poucas horas. - pousou sua mão esquerda sobre o local da picada e uma luz branca refulgiu da palma. Axel abria os olhos devagar e os coçou - Ele está bem agora. 

- Valeu mesmo, Adrael. - agradeceu Frank, aliviado - No contexto atual você seria de grande ajuda, mas... é uma pena que anjos sejam proibidos de interferir nos problemas mundanos. 

- Mas não pense que por causa disso eu não fico a par do que acontece. - afirmou Adrael, o semblante sério para Frank - Eu sei tudo, Frank. O seu filho corre um sério perigo quebrando uma lei universal.

- Viajar no tempo... é tipo um crime grave? 

- Não estou dizendo que ele tenha uma probabilidade nula de sobrevivência, no entanto ele se expôs ao risco. O tempo não pode ser usado como um brinquedo de montar e desmontar para meros mortais ignorantes. 

- Mas o Nathan veio com a missão de salvar o mundo de uma catástrofe, além de me conhecer.

- Eu sei disso, Frank. A nobreza das intenções dele não muda o fato consumado de que... as leis universais não foram criadas para serem desrespeitadas. 

- Eu viajei no tempo uma vez e nada aconteceu. - retrucou Frank, incomodado. 

- É o número de infrações que determina a sentença. Espero que tenha sido a primeira e última vez do seu filho. Acho que devia conscientiza-lo. - disse Adrael fazendo o detetive pensar - Eu vou indo. Foi bom revê-lo. 

- Ei. - disse Axel para o anjo - Obrigado por ter salvo minha vida. 

- De nada. - disse Adrael formando um leve sorriso, uma expressão que Frank jurou ter visto pela primeira vez no rosto dele. O anjo sumira teleportando-se de volta ao mundo celestial em milissegundos. 

- Frank, quem é ele? - perguntou Axel, curioso. 

- Um anjo. O nome dele é Adrael e o chamei pra consertar a burrada que você fez. 

- Meu Deus... Você queria me alertar, mas acabou se convencendo em jogar essa cobra maldita em mim. Peraí, anjos existem?!

- Olha, não há tempo pra falatório, eu tenho que voltar no DPDC e pelejar pro diretor revogar a suspensão. 

- Frank, tem algo que você precisa saber. Desde já, admito que foi mal esconder isso. 

- O que é? São tantos segredinhos que você e o Nathan guardam a sete chaves que não me aguento de curiosidade. 

- Uma amiga sua veio aqui hoje cedo. Lucy, é o nome dela. 

- O quê? A Lucy veio me visitar?! O que disse à ela? 

- Falei que você é um caçador de monstros que estava ciente dos capangas do Nero que perambulavam pela cidade à noite. Ela andava investigando, chegou até a segui-los enquanto me levavam. 

O detetive imaginou que pudesse ter um troço naquele instante com o que acabara de assimilar.

- Axel... Você cometeu um erro terrível. A Lucy e eu somos namorados! Ela é a mãe do Nathan! 

- Como é? Eu nem sabia, achava que ela fosse uma amiga sua, caçadora de monstros como você. 

Frank levou à mão direita à testa indicando que o hóspede acabou errando feio sem querer. 

- E tem mais: Eu sinto algo familiar vindo dela. - disse Axel o olhar meio tristonho, levantando-se da poltrona - Do fundo do meu coração, eu posso sentir. - fez uma pausa olhando fixamente para Frank - Eu acredito que... ela seja a Esteno. Uma vez, em um dos nossos momentos íntimos, ela me disse que as górgonas passam por ciclos de renovação quando atingem certas idades. Como uma serpente trocando de pele. Tudo bem se quiser duvidar de mim. Mas minha intuição... disparou quando eu a vi. 

Frank via-se numa imersão profunda de pensamentos, a expressão de mais completo assombro. 

- Eu tô quase certo de que é ela. - disse Axel.

Frank se dirigiu à porta emudecido, deixando Axel intrigado sobre o que iria fazer.

- Frank, aonde pensa que vai? No DPDC?

O detetive saiu a passos largos e rápidos fechando a porta com força fazendo um baque alto. 

                                                                                   ***

Nathan esgueirava-se pelo escuro covil do Basilisco após descer a escada que o direcionava até ali. Munido de uma lanterna, explorava o local absurdamente sujo com ratos gordos e baratas cascudas visíveis por toda parte passeando entre os cantos. Sua audição aprimorada captava sons de algo aproximando-se, não exatamente passos. Andou mais metros à frente e o facho de luz iluminou a cabeça de Medusa jazendo sobre um púlpito de mármore. Era bastante provável que os gregos refugiados apelaram para a magia negra a fim de determinar a tarefa do Basilisco preso no local.

Suas pupilas dilataram ao focar-se na cabeça decepada e petrificada de Medusa intacta. Bastariam alguns passos para pega-la e correr dali o mais rápido que suas pernas suportariam. Porém, Nathan virou-se por instinto ao ouvir um som grotesco bem próximo à sua direita e acabou movendo a luz da lanterna para tal direção. A grande serpente monstruosa surgia, seus olhos amarelos encarando Nathan. O corpo da criatura tinha escamas negras e seu tamanho se estendia a mais de 30 metros de comprimento. Nathan correra ao ver que o Basilisco abriu sua bocarra repleta de dentes pontudos para ataca-lo. A serpente rastejou perseguidora. Nathan jogou umas bombinhas de fumaça para dificultar sua visibilidade. O gás se espalhou pelo ambiente e o caçador se enveredou com a lanterna em punho procurando a área onde estaria a cabeça. 

No entanto, percebeu que a fumaça se dissipava rapidamente. Depois constatou que estava sendo tragada para as narinas do Basilisco que aspirou completamente. 

- Merda. - disse ele, atônito. Suas armas de fogo nada serviriam contra uma besta escorregadia daquelas. O Basilisco rastejou veloz contra ele avançando para devorar numa só abocanhada. Nathan viu várias pedras amontados atrás dele. Pulou sobre elas, gerando um impulso que o fez cair sobre a cabeça do Basilisco que enlouqueceu com seu alimento tentando domina-lo. Nathan conseguiu pegar na presa esquerda da serpente que se movimentava perturbada. Forçou-se para arranca-la no máximo de seu potencial físico ao ponto de fechar os olhos e cerrar os dentes. Nathan emitiu um grito que denotava sua força empreendida. A presa saiu arrancada e o caçador caiu para trás agarrando-a. O Basilisco tentou encurrala-lo cercando-o com seu longo corpo, mas Nathan, corajosamente, levantou-se e saltou para fora do círculo que a serpente estava prestes a fechar. Correu até a saída recuperando a lanterna, subindo a escada. O Basilisco travou sua mandíbula na abertura estreita. Nathan saiu com a presa em mãos, ao menos uma parte essencial ao seu plano.

                                                                               ***

Ao chegar em casa, Lucy pensara em Axel e se aborreceu com a aparente falta de reconhecimento dele nem que fosse por um mísero detalhe capaz de provocar alguma lembrança como o jeito de falar.

Balançou a cabeça tentando esquecê-lo e foi ao seu quarto. Mal sabia ela que estava com visita... 

- Não... - disse ela, entrando no quarto boquiaberta com aquela presença. 

- Sabe, Lucy, devia ter mais cuidado com a porta, deixa-la aberta enfraquece a segurança da sua casa. - disse Frank sentado na cama com a uma gaveta tirada da cômoda no seu colo - Eu deveria chama-la de Lucy mesmo? Ou Katherine Watson? - perguntou ele segurando um papel que era um diploma de licenciatura - Ou Margaret Ross? - indagou ele pegando um recorte de jornal que trazia uma foto em preto e branco com várias mulheres num protesto sufragista. 

- Frank, o que está fazendo aqui? - perguntou Lucy, irritada - Com que direito você invade minha casa?

- Meu faro detetivesco me levou a cavoucar seu passado. Ou seus vários passados. 

- Larga isso, eu posso explicar. - disse ela aparentando desespero - Não sei se irá entender.

Frank deixou a gaveta sobre a cama e levantou-se. 

- Você não é Katherine, nem Margaret, muito menos Lucy... É uma górgona cujo nome é Esteno, irmã de Medusa e Euríale, muito famosas graças a mitologia grega. O Axel suspeitava que fosse ser você o grande amor da vida dele, ele finalmente reencontrou uma parte da sua história que pensou ter perdido. A verdade tinha que vir à tona, querendo eu ou não. 

- O Nathan, seu filho, não sabe nada a respeito, né?

- O Nathan é nosso filho! - disparou Frank, zangado. Lucy arqueou as sobrancelhas, perplexa - Veio do futuro pra me avisar de um evento quase apocalíptico que vai acontecer em Danverous City. Em todo esse tempo ele tentou fazer com que nada saísse dos trilhos. Mas olha onde chegamos, à beira do fim desse relacionamento que... pra ser sincero, nunca nem devia ter começado. 

- Mas e quanto ao Nathan? Ele não significa nada pra você? -- questionou Lucy, exasperada. 

O celular de Frank tocara. O detetive viu o nome de Nathan na tela e atendeu a chamada. 

- Alô, Nathan, diz aí. - disse Frank virando as costas para Lucy. Ficou em silêncio ouvindo o que o filho dizia - Aham, tá OK. Que pena. Tá, a gente se fala depois lá em casa. Tchau. - desligou. 

- Quem era? - indagou Lucy, desconfiada com a postura do detetive. 

- Nathan. - respondeu Frank friamente - Ele tinha ido buscar a cabeça de Medusa, mas não conseguiu. Você sabe como se reverte a maldição de gárgula, né? 

Os cabelos de Lucy se converteram em cobras como uma reação espontânea a um pressentimento de perigo extremo à sua vida. Frank sacava devagar do bolso interno do sobretudo um facão afiado. 

- Pra isso é necessária a presa do Basilisco, além da cabeça banhada com sangue humano formando o símbolo de ourobros. É preciso apunhalar a cabeça com a presa. - disse ela, recuando vagarosamente - Existe um outro método: usando uma cabeça humana petrificada, mas este requer encantamento verbal.

- Ele só conseguiu a presa. - disse Frank segurando o punho da faca firmemente - Com certeza não vai encarar a cobrona de novo sem saber se escapa inteiro com a cabeça da sua irmã. O bom é que tem sempre uma alternativa.

Frank subitamente virou-se para ela cortando duas serpentes do cabelo. Lucy teve o instinto de sobrevivência acionado e lutou para se defender. Segurou o braço direito de Frank que iria tentar um golpe de faca para decapita-la e aplicou uma cabeçada forte na testa dele. Porém, Frank, meio zonzo, deu um soco no meio do rosto da górgona com o punho esquerdo. Lucy o esbofeteou com a mão direita usando o dorso e em seguida dera um chute no peito que o fez voar contra a parede. 

Lucy - ou Esteno - aproximou-se dela o pegando pelo pescoço com as duas mãos. O ergueu roçando as costas dele na parede com certa fúria. Os olhos dela emitiam pontos brilhantes vermelhos. As serpentes na sua cabeça estavam agitadas.

- Acaba logo com isso... - disse Frank a voz rouca devido à força do aperto das mãos de Lucy no pescoço. Fechou os olhos esperando seu destino final. Porém, fora solto misericordiosamente.

- Não. - disse Lucy afastando-se, os cabelos voltando a serem fios - Não sou como Medusa. 

Frank pegava no pescoço recuperando o fôlego olhando para ela. Lucy sentou-se na beirada da cama, arrasada. 

- O mínimo que podíamos fazer agora é agir como caça e caçador. - disse Frank - Você é tão orgulhosa pra não sacrificar uma vida imortal em prol de salvar milhares? 

- Me julgue à vontade. Górgonas nunca colocam os outros acima dos seus interesses. Por que eu seria diferente? Só porque me apaixonei verdadeiramente por dois homens? Os únicos homens que amei em toda minha vida. Eu não consigo, Frank, lamento. Aquela adolescente sonhadora e cheia de planos que você conheceu no colegial e nutria um amor oculto... morreu diante dos seus olhos. Eu devia ter apagado cada vestígio das minhas antigas vidas. Mas valorizo o passado. 

Frank andou em direção à ela guardando o facão. A fitou com certo desprezo. 

- Quem vai sofrer mais com isso é o Nathan... sabendo que o pai e a mãe tentaram matar um ao outro. 

- Ele ainda pode obter a cabeça de Medusa. - disse Lucy derramando lágrimas - Isso se aprender a dominar o olhar de petrificação. Como meu filho, ele pode ser perfeitamente capaz disso. 

Frank a encarou por mais alguns segundos, depois virou o rosto baixando a cabeça indicando uma tristeza e frustração dolorosas pelas coisas terem alcançado aquele ápice violento e dramático. 

- Adeus, Lucy. - disse ele indo embora. Lucy debulhou-se em lágrimas, baixando sua cabeça aos joelhos com as mãos no rosto. 

                                                                             ***

Nathan voltava para a casa de Frank encontrando Axel sentado no sofá vendo TV. O hóspede pegou o controle remoto e desligou a televisão ao vê-lo chegar, levantando-se depois. 

- E então, como foi com o Basilisco? 

- Nada de Medusa. - disse Nathan - Mas em compensação, arranquei uma das presas dele. - mostrou o dente da serpente. 

- Meu acordo com o Nero já era. Por que você não pegou a cabeça, Nathan? 

- De que vale a droga desse acordo ainda? Pra te livrar da possessão? Só está pensando em você, Axel? Qual sua ideia brilhante pra podemos derrotar o Nero?

- Eu pedi pro Frank soltar a cobra no vinho que ele tinha. O Nero conseguiu os poderes pela picada de uma cobra saída da Esteno depois do feitiço que a Medusa lançou nela por descobrir nossa relação. Eu quis fazer com que o mesmo acontecesse comigo. Mas não deu muito certo, o veneno tava agindo no meu corpo. Olha, vê se me entende, eu queria que conseguisse a cabeça da Medusa porque... 

Frank chegou interrompendo a fala de Axel. 

- Porque Lucy é a górgona que ele amou. - disse ele batendo a porta ao fecha-la. 

- Frank, pra onde você foi? - perguntou Axel. 

- Colocar a Lucy contra a parede e desmascarar a farsa dela. Nathan ligou pra mim enquanto estive lá contando a notícia ruim e a boa. Daí parti pro tudo ou nada, medida desesperada. Eu lutei contra a Lucy. 

- Tentou matar a Esteno?! - disse Axel, abismado. 

- Tá preocupado? Volta correndo pros braços dela então. Faz um híbrido com ela. - redarguiu Frank 

- Pai, você... rompeu com ela?! - disse Nathan parecendo incrédulo com o que estava acontecendo - Primeiro você descobre toda a verdade, depois perde o controle, vai lá e estraga tudo!

- Não passa na minha cara, você não conseguiu a cabeça, então não me restou opção! - rebateu Frank apontando o dedo ao filho - Mas não tô zangado com você. - amenizou o tom - Não vou te renegar pelo fato de ser meio-humano. Você é meu filho, não teve culpa de nascer. E também não é a primeira pessoa ligada a mim, sangue do meu sangue, que é metade humano e metade monstro. Eu sinto muito, Nathan. Sinto muito por botar tudo a perder.

Nathan passou as duas mãos no rosto em sinal de inquietação. 

- Ainda tem um jeito. O que acha de... voltarmos no tempo pelo Expresso Temporal? Levo a presa do Basilisco para o você do passado que não sabe nada sobre minha mãe ou o que eu sou. Mas você teria que se matar pra apagar essa linha do tempo que depende da existência do viajante. É uma regra estrita do Expresso Temporal.

- Não. - disse Frank - A resposta é não, Nathan. Eu convoquei um anjo pra curar o Axel do veneno da cobra. Ele me avisou que você corre perigo viajando no tempo. Então vamos nos focar só em... impedir o Nero a qualquer custo. 

Nathan balançou a cabeça negativamente e virara as costas. 

- Espera aí, não vai... - disse Frank com medo de que ele estivesse cogitando desistir. 

- Preciso de ar. - falou Nathan num tom duro, saindo da casa. 

O jovem caçador passara o resto do dia sem dar sinal de vida para Frank e Axel. Ele se dirigia à uma ferrovia na calada da noite fria com uma mochila. No solo desenhou o sigilo de invocação que traria o Expresso Temporal para que embarcasse rumo ao período do passado em que retornou antes.

Jogou um fósforo aceso no sigilo que queimou. Um nevoeiro denso formava-se à uma certa distância na linha ferroviária. Irrompia da névoa um trem robusto fazendo sons característicos do meio de transporte. Nathan o encarou confiantemente.

- Foi mal, pai. Aqui vou eu. - disse ele, decidido a reestruturar a linha do tempo de forma que seu nascimento estivesse em plena garantia.

                                                                                -x-

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.

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